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Fisiologia dos sistemas endócrino e

digestório

O sistema endócrino, junto com o sistema nervoso, é o responsável pela integração


entre as funções corporais. Por meio da secreção de hormônios na corrente
sanguínea, eles são distribuídos por todo o corpo e agem como sinalizadores,
coordenando diversos processos como metabolismo, crescimento, reprodução e
aleitamento.

O sistema digestório encarrega-se de obter os nutrientes necessários para o


funcionamento celular. A geração de energia a partir de alimentos envolve uma série
de reações bioquímicas, conhecidas em seu conjunto como metabolismo. As vias
metabólicas são finamente reguladas pelo sistema endócrino que, por meio de seus
hormônios liberados pelas glândulas endócrinas, regula o metabolismo dos lipídios,
glicídios e carboidratos.

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Integrar o modo de ação dos hormônios e o controle dos


níveis hormonais com a regulação dos processos
fisiológicos e metabólicos.
• Descrever a função dos órgãos integrantes do sistema
digestório no processo de digestão e absorção de
alimentos.
• Interpretar as alterações orgânicas decorrentes dos
principais distúrbios endócrinos.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - Princípio da fisiologia endócrina e mecanismos de


regulação hormonal
• Tema 2 - Função secretora do sistema digestório
• Tema 3 - Digestão e absorção no tubo gastrointestinal
A diabete mellitus gestacional é uma
condição causada poro distúrbio no
metabolismo da mãe durante o período
gestacional. É um fator de risco,
aumentando as chances dessa mãe
vir a tornar-se diabética posteriormente.
Os bebês nascidos apresentam alto peso
corporal, devido à ação de hormônios
placentários que interferem com a
concentração de glicose no sangue
Fonte: http://www.jandaiadosul.ufpr.br (glicemia). Esses bebês correm o risco
de apresentar malformações.
Tema 1
Princípio da fisiologia endócrina e mecanismos
de regulação hormonal

Por que um paciente em uso crônico de anti-


inflamatórios do grupo dos corticosteroides não pode
suspender abruptamente a medicação?
O sistema endócrino é o responsável pela secreção de hormônios pelas glândulas
endócrinas e sua ação sobre tecidos-alvo. As glândulas endócrinas secretam seu
produto, os hormônios, na corrente sanguínea, para que ocorra a distribuição por todo
o organismo, enquanto as exócrinas lançam suas secreções para o meio externo. Os
hormônios são mensageiros químicos secretados no sangue por células endócrinas ou
por neurônios especializados. Os processos corporais encontram-se sob controle
hormonal, incluindo crescimento e desenvolvimento, metabolismo e reprodução.

Diferença entre glândulas endócrinas e exócrinas.


Adaptado de: SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2017.
As células que respondem a um hormônio específico são as células-alvo
para esse hormônio. A resposta da célula-alvo ao hormônio depende do
receptor hormonal na célula.

Comunicação célula-a-célula

A sinalização intercelular pode se dar por sinais elétricos, como já visto anteriormente,
ou químicos. Os sinais químicos são moléculas secretadas por células para
comunicação com sua(s) célula(s)-alvo.

1. Sinal endócrino: uma substância química é secretada por células endócrinas


no sangue para ser transportada a uma célula-alvo distante.

2. Sinal neurócrino: uma substância química é secretada por neurônios


especializados no sangue para ser transportada a uma célula-alvo distante.

3. Sinal parácrino: uma substância química é secretada por uma célula no fluido
extracelular para atuar sobre células-alvo próximas.

4. Sinal autócrino: uma substância química é secretada por uma célula no fluido
extracelular para atuar sobre ela própria.

Tipos de sinalização intercelular.


Adaptado de: ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Classificação química dos hormônios

Baseado em sua estrutura química, hormônios podem ser divididos em três grupos:

1. Hormônios esteroides: são derivados do colesterol e produzidos por três


tecidos: córtex da glândula adrenal, que secreta aldosterona, cortisol e
androgênios; gônadas (testículos e ovários) — secretam hormônios sexuais
como estrogênio, progesterona e testosterona; e a placenta.

2. Hormônios derivados de aminoácido (aminas): a molécula do hormônio


origina-se a partir de um único aminoácido. Esse grupo inclui melatonina,
originada a partir do triptofano; catecolaminas, que são um grupo de hormônios
produzidos pela medula da glândula adrenal: adrenalina e noradrenalina; e
dopamina, e originam-se da tirosina; e os hormônios da tireoide (triiodotironina-
T3 e tiroxina-T4), também originados da tirosina.

3. Peptídeos ou proteínas: são compostos por diferentes aminoácidos.


Exemplos de hormônios proteicos: Insulina, glucagon, ocitocina, ADH,
hormônios da adeno-hipófise.

Transporte e ligação com receptores

Tanto o transporte dos hormônios no sangue quanto sua ligação a receptores


celulares depende de suas características de hidro ou lipossolubilidade: os hormônios
hidrossolúveis, como peptídeos e catecolaminas, dissolvem-se no plasma, sendo
transportados em sua forma livre. Hormônios lipossolúveis como os esteroides e da
tireoide associam-se a proteínas transportadoras no plasma:

Em relação à sua ligação a receptores, os hormônios hidrossolúveis ligam-se a


receptores na superfície da membrana plasmática, enquanto os esteroides e
tireoidianos ligam-se a receptores intracelulares (no citoplasma ou no núcleo).

Hormônios hidrossolúveis e lipossolúveis e seus receptores.


ALBERTS, B. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
Controle da liberação hormonal

A secreção dos hormônios pelas glândulas deve obedecer a estímulos com uma
regulação bastante sofisticada, uma vez que eles são responsáveis pela coordenação
de funções integradas entre os sistemas. Há três tipos de estímulos que controlam a
secreção hormonal:

1. Mudança na concentração plasmática de nutrientes. Exemplo: o aumento


da concentração de glicose no sangue estimula a liberação de insulina pelo
pâncreas. Uma vez liberada, a insulina promove a entrada da glicose nas
células, diminuindo sua concentração no plasma e, consequentemente,
reduzindo o estímulo para a secreção do hormônio.

2. Controle por neurotransmissores. Exemplo: os hormônios da medula da


glândula adrenal são liberados mediante um estímulo parassimpático.

3. Controle por hormônios. Exemplo: hormônios do eixo hipotálamo-hipófise,


que serão discutidos em seguida. Aqui, cabe a definição de hormônio trófico:
qualquer hormônio que controla a secreção de outro hormônio.

A retroalimentação (feedback) negativa desativa os estímulos. A resposta da via


hormonal inibe a própria via (feedback negativo).

Exemplos

• Diminuição da concentração da glicose no sangue provocada pela


liberação de insulina interrompe a secreção da insulina.
• Inibição do eixo hipotálamo-hipófise pelo último hormônio da via,
diminuindo a secreção dos hormônios tróficos.

Eixo hipotálamo-hipófise

Existe um importante eixo de controle da secreção de glândulas espalhadas pelo


nosso organismo, por meio de hormônios tróficos, que é o eixo hipotálamo-hipófise
localizado no sistema nervoso central, no encéfalo. A regulação ocorre por hierarquia
desse eixo sobre as glândulas secretoras periféricas, como tireoide, ovários, fígado.

Esse eixo é composto pelo hipotálamo, pela hipófise (ou pituitária) e por uma glândula
secretora. Os hormônios hipotalâmicos (primários) e hipofisários (secundários)
funcionam como hormônios tróficos para regular a secreção do hormônio da glândula
secretora (terciários).

O hipotálamo é a parte do diencéfalo que se encontra localizada ventralmente ao


tálamo e forma o assoalho do terceiro ventrículo. Exerce comando diretamente sobre a
hipófise e indiretamente sobre outras glândulas, pois os neuro-hormônios secretados
pelo hipotálamo controlam a liberação dos hormônios da hipófise anterior, estimulando
ou inibindo a sua secreção. São chamados de neuro-hormônios, pois não são
produzidos por células endócrinas, mas por neurônios especializados.

A glândula hipófise, situada abaixo do hipotálamo, com quem se comunica a partir de


vasos sanguíneos, é composta por duas partes distintas:

1. Hipófise anterior 2. Hipófise posterior


ou adeno-hipófise ou neuro-hipófise

Formada por tecido endócrino, É uma extensão do tecido neuronal


sintetiza e secreta hormônios do encéfalo, secreta neuro-
peptídicos. hormônios.

Neuro-hormônios da hipófise posterior

A hipófise posterior é um local de armazenamento e liberação de dois neuro-


hormônios sintetizados por neurônios, cujos corpos celulares encontram-se no
hipotálamo. São eles: vasopressina ou hormônio antidiurético (ADH) e ocitocina. Ver
figura a seguir.

Síntese, armazenamento e liberação dos hormônios da hipófise posterior.


Adaptado de: SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017..
Hormônios da hipófise anterior

A secreção desses hormônios é regulada a partir da liberação dos hormônios tróficos


hipotalâmicos. Esses hormônios são levados à adeno-hipófise por vasos sanguíneos
que compõem o sistema porta hipofisário-hipotalâmico.

Vamos usar o exemplo do eixo que controla a secreção do hormônio cortisol pela
glândula adrenal para ilustrar a regulação do eixo sobre a glândula periférica. Diversos
estímulos, tais como sono, infecções, hipoglicemia, fazem com que o hipotálamo
secrete o CRH ou Hormônio Liberador de Corticotrofina. O CRH cai nos vasos
sanguíneos que drenam o hipotálamo, sendo levado às suas células-alvo, na hipófise
anterior, que possuem receptores para ele. Devido a esse estímulo, as células
hipofisárias respondem secretando o ACTH, ou adrenocorticotrófico, que, pelo sangue,
vai estimular as células da adrenal a liberarem cortisol no sangue, realizando suas
funções em seus tecidos-alvo.

Quando a concentração plasmática do cortisol alcança determinado nível, ocorrem


duas alças de inibição de sua própria secreção: uma alça curta, que inibe a liberação
do ACTH pela hipófise, e uma alça longa, que inibe a secreção do CHR pelo
hipotálamo, constituindo o mecanismo de feedback negativo.

Controle da liberação do cortisol pelo eixo hipotálamo-hipófise.


Adaptado de COSTANZO, L. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2018.
Para uma revisão sobre o sistema endócrino, acesse o vídeo Corpo
Humano: Órgãos e Sistemas - Aula 21 - Aspectos Anatomofuncionais
do Sistema Endócrino.

Para aprofundar seu conhecimento acerca do sistema endócrino acesse a


Minha Biblioteca e leia o Capítulo 7 do livro: SILVERTHORN,
D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017. ISBN: 9788582714041.

Vídeo

Para saber mais sobre desequilíbrios hormonais causados por disfunção


do hipotálamo, da hipófise e das glândulas periféricas, assista ao vídeo
Distúrbios Endócrinos, publicado na unidade da disciplina no
Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Tema 2
Função secretora do sistema digestório

Qual o objetivo das cólicas que sentimos por ocasião


de uma intoxicação alimentar?
O sistema digestório consiste em um tubo oco que se estende da boca até o ânus,
entrando em contato com o meio externo e sua função principal é a utilização do
alimento como fonte energética. É composto por diversos órgãos e glândulas, cujas
secreções irão auxiliar no processo digestório: o alimento ingerido passa pela boca,
esôfago, estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), intestino grosso (ou
cólon) e sai pelo ânus. As glândulas acopladas são fígado, pâncreas e glândulas
salivares. A vesícula biliar participa como reservatório da bile produzida pelo fígado.

Para que as funções do tubo gastrintestinal (TGI) sejam realizadas são necessários os
processos de motilidade, secreção, digestão e absorção. Neste tema abordaremos a
motilidade e a secreção.

Motilidade do TGI

Uma parte importante da digestão consiste no movimento do alimento ao longo do


TGI. Enquanto a mastigação na boca rompe o alimento para facilitar a deglutição, são
os movimentos esofagianos que promovem a descida do alimento até o estômago.
Para receber o alimento, o estômago inicialmente faz um relaxamento receptivo, para
depois iniciar os movimentos de mistura, com fortes contrações do músculo liso. A
motilidade do intestino segue três padrões: complexo motor migratório, que funciona
como uma “faxina”, para retirar restos alimentares; peristaltismo, para promover a
passagem do alimento ao longo do trato; e contrações segmentares, para agitar o
conteúdo do tubo.

Para conhecer mais sobre a anatomia e motilidade do TGI, acesse o


vídeo: Fisiologia - Princípios Gerais da Função Gastrointestinal
(Capítulo 63/62) PARTE 1/2 │ GUYTON.

Secreções digestivas

Para digerir e absorver os nutrientes, são produzidas secreções com diferentes


composições ao longo do TGI para auxiliar nos diferentes estágios do processo
digestivo.

A maior parte dessas secreções é formada em resposta à presença de alimento no


TGI e hormônios. Os tipos de alimentos promovem a secreção de diferentes enzimas:
amilases para carboidratos, proteases para proteínas e lipases para lipídios.
O TGI é recoberto, em toda sua extensão, por um muco, uma secreção espessa
formada por água, eletrólitos e glicoproteínas. É lubrificante e protetor da parede
intestinal porque prende-se à superfície do alimento, permitindo seu deslizamento;
recobre a mucosa, evitando lesões; forma a massa fecal; e resiste à digestão pelas
enzimas do TGI.

1. Secreções salivares:

A saliva é um líquido hipotônico, em relação ao plasma, produzido pelas glândulas


salivares, que são três pares de glândulas exócrinas com ductos que levam a
secreção para o interior da cavidade oral: parótidas, submandibulares e sublinguais. A
saliva é composta por dois tipos de secreção: uma secreção serosa, contendo a
ptialina (amilase salivar); e uma secreção mucosa, contendo a mucina.

A estrutura glandular é formada por ácinos, que se conectam aos ductos. A secreção
consiste de duas etapas: os ácinos secretam uma solução primária com ptialina ou
mucina e íons. Posteriormente, os ductos modificam a concentração de íons dessa
secreção por transporte ativo.

A saliva tem diferentes funções, como a saúde da boca por conter substâncias
bacteriostáticas, além de ser alcalina e impedir a erosão passiva dos dentes; facilita a
deglutição, pois o muco umedece os alimentos; e inicia a digestão de amidos e
substâncias que dão o sabor.

A regulação nervosa dessa secreção é realizada pelo sistema nervoso autônomo


proveniente dos núcleos salivares, que são estimulados pela presença de alimentos
na boca, odor ou visão de alimentos.

2. Secreções esofágicas:

O esôfago possui dois tipos de glândulas: glândulas mucosas simples, que secretam o
muco para lubrificação; e glândulas mucosas complexas, responsáveis pelo muco que
protege contra a digestão pelos sucos gástricos que refluem.

3. Secreções gástricas:

Glândulas do estômago Tipos celulares Produto secretado

Mucosas Muco

Pépticas ou Principais Pepsinogênio


Oxínticas
Parietais Ácido Clorídrico

Fator intrínseco
Muco

Pilóricas Pepsinogênio

Gastrina

A secreção do pepsinogênio é necessária para a digestão das proteínas. O


pepsinogênio, em contato com o HCl do suco gástrico, é ativado em pepsina, uma
enzima proteolítica com ação em pH=1.8 até 3.5. A secreção do fator intrínseco é
essencial para a absorção da vitamina B12.

A regulação da secreção gástrica é feita por mecanismos nervosos e hormonais.


Os estímulos para a secreção de ácidos são:

• Estímulo nervoso: é dado ou pelo nervo vago ou por reflexos iniciados no


estômago causados por distensão do estômago, ou estímulos táteis na
superfície da mucosa ou estímulos químicos (aminoácidos).
• Estímulo pela gastrina: os sinais nervosos promovem a secreção do hormônio
gastrina, que estimula as células parietais a secretarem HCl.
• Estímulo pela histamina: cofator que aumenta a produção de HCl na presença
da acetilcolina e gastrina, simultaneamente.

A regulação da secreção de pepsinogênio ocorre em resposta a dois sinais:

• Estímulo pela Ach dos nervos vago ou entéricos sobre as células pépticas.
• Presença de ácido no estômago estimula as células pépticas.

4. Secreções pancreáticas:

O pâncreas é uma glândula composta formada por ácinos, que secretam as enzimas
digestivas, e ductos, que secretam uma solução de bicarbonato de sódio. O produto
flui pelo ducto pancreático, que se une ao ducto hepático antes de desaguar no
duodeno na papila de Vater.

O pâncreas secreta enzimas proteolíticas (tripsina, quimiotripsina e


carboxipolipeptidase), enzimas que digerem gorduras (lipase pancreática, esterase de
colesterol e fosfolipase) e amilase pancreática, para carboidrato.

A indução da secreção pancreática é feita por três estímulos:


Ach Colecistocinina (CCK) Secretina

Pela entrada de
alimento muito
Liberada pelos
Liberada pelos nervos ácido no intestino
nervos vago ou
vago ou entérico. delgado. Produzida
entérico.
pela mucosa do
duodeno e jejuno.

A Ach e a CCK estimulam as células acinares a produzirem enzimas digestivas e a


secretina estimula as células ductais a produzirem solução de bicarbonato.

A produção de secretina é ativada pelo ácido que passa do estômago para o intestino,
é absorvida pelo sangue e induz o pâncreas a secretar NaHCO3. Esse mecanismo é
importante porque com pH<4.5 há estímulo para a secreção da secretina, aumentando
a secreção de NaHCO3 que neutraliza o ácido, prevenindo úlceras na mucosa. Além
disso, a secreção de bicarbonato proporciona um pH = 8.0 adequado para a ação das
enzimas pancreáticas.

5. Secreção de bile pelo fígado e funções da árvore biliar

A bile é produzida pelo fígado e é armazenada na vesícula biliar, até que esta esvazia
seu conteúdo quando alimentos gordurosos entram no duodeno. Uma vez secretada
pelos hepatócitos, passa pelo sistema de ductos, que termina no ducto biliar comum e
segue para o duodeno ou para a vesícula biliar. Durante a passagem pelos ductos, a
secreção é acrescida de uma solução de bicarbonato e água.

Os ácidos biliares auxiliam na digestão e absorção de gorduras, pois degradam as


grandes partículas de gorduras em pequenas partículas, que podem sofrer a ação da
lipase intestinal e transportam os produtos da digestão da gordura até a mucosa.

O principal estímulo para a contração da vesícula e liberação da bile é dado pela CCK,
liberada pela mucosa duodenal para o sangue quando entram alimentos gordurosos
no duodeno.

6. Secreções do intestino delgado:

As glândulas de Brunner são glândulas mucosas localizadas no duodeno, onde os


sucos pancreáticos e a bile desaguam. Secretam muco alcalino em resposta a
estímulos táteis e irritantes na mucosa, a estímulo vagal e a hormônios como a
secretina. Sua função é proteger a parede duodenal da digestão pelo suco gástrico.

Existem pequenas depressões ao longo da superfície do intestino, chamadas de


criptas de Lieberkühn, onde se formam as secreções com pH 7.5 a 8.0. Essas
secreções são absorvidas pelas microvilosidades, ocorrendo uma circulação de líquido
que fornece um veículo aquoso para a absorção de substâncias.

As enzimas aqui secretadas encontram-se nas células epiteliais das microvilosidades,


e não nas secreções, para digerir os alimentos enquanto são absorvidos. São
peptidases, dissacaridases e lipase intestinal.

A principal forma de regulação se dá por reflexos nervosos iniciados por estímulos


táteis ou irritativos, como a presença de quimo no intestino.

7. Secreções do intestino grosso:

Aqui também há cristas de Lieberkühn, mas não há vilosidades, e as células epiteliais


são revestidas por células mucosas que secretam muco. A regulação da secreção do
muco é feita por estímulos táteis e reflexos nervosos. O muco protege as paredes
contra escoriações e é um meio aderente para manter a matéria fecal unida.

Inervação do TGI

A regulação neural é feita pelo sistema nervoso autônomo, tanto pelas divisões já
discutidas anteriormente e conhecidas como componente extrínseco, a divisão
Simpática e Parassimpática, mas também pelo componente intrínseco, o sistema
nervoso entérico, formado pelos plexos submucoso e mioentérico.

A inervação neural intrínseca localiza-se no interior na parede intestinal. O plexo


mioentérico controla a atividade muscular: tônus, ritmo e intensidade de contrações. O
plexo submucoso é responsável pela secreção, absorção e contração da muscular da
mucosa.

Os neurotransmissores usados por esse sistema são Ach, Noradrenalina, ATP,


serotonina, dopamina, VIP (peptídeo intestinal vasoativo), substância P, CKK,
somatostatina.

Para aprofundar seu conhecimento acerca da inervação e das secreções do


TGI, acesse o vídeo: Fisiologia - Princípios Gerais da Função
Gastrointestinal (Capítulo 63/62) PARTE 2/2 │ GUYTON.
Tema 3
Digestão e absorção no tubo gastrointestinal

Questão Norteadora 3 - Por que a intolerância à lactose


causa diarreia?
Os três tipos principais de nutrientes, que são as proteínas, os lipídios e os
carboidratos, não podem ser absorvidos nessas formas pelo TGI. Eles devem ser
digeridos e transformados nas pequenas unidades de que se constituem para serem
absorvidos.

Digestão dos nutrientes

A hidrólise é o processo básico de digestão para os três nutrientes. Nesse processo, a


enzima digestiva usa uma molécula de H2O na seguinte reação de hidrólise:

R’’ – R’ + H2O → R”OH + R’H

Dessa forma, os monossacarídeos são separados dos polissacarídeos, os


triglicerídeos são separados em ácidos graxos e glicerol e as proteínas são separadas
em aminoácidos.

1. Digestão dos carboidratos:

As três principais fontes de carboidratos são: sacarose, o dissacarídeo do açúcar da


cana; lactose, um dissacarídeo do leite; e amidos, que são grandes polissacarídeos
presentes em quase todos os alimentos.
Os amidos são inicialmente hidrolisados até maltose, que, juntamente com os
dissacarídeos lactose e sacarose, são hidrolisados até os monossacarídeos glicose,
galactose e frutose.

A hidrólise dos amidos é feita na boca pela amilase salivar ou ptialina. Posteriormente,
pelo ácido clorídrico do estômago, mas a maior parte da hidrólise ocorre na porção
superior do intestino delgado pela amilase pancreática.

Há quatro enzimas — lactase, sacarase, maltase e dextrinase — localizadas nas


microvilosidades da borda em escova das células epiteliais intestinais. Os produtos da
digestão são absorvidos pelo sangue porta.

2. Digestão dos lipídios:

Os triglicerídeos (TG) são o tipo mais comum de lipídio da dieta. Também há


fosfolipídios, colesterol e ésteres do colesterol. De 95 a 99% da digestão dos lipídios
ocorre no intestino delgado pela ação da lipase pancreática.
A primeira etapa na digestão dos lipídios é a fragmentação dos glóbulos de gordura
em partículas menores para que as enzimas digestivas possam agir sobre a superfície
dos glóbulos. É a emulsificação das gorduras, que ocorre pela ação dos sais biliares
secretados pelo fígado na bile. Os movimentos gastrintestinais auxiliam nessa
fragmentação.

Sob a influência da lipase pancreática, a maior parte dos lipídios é decomposta em


monoglicerídeos e ácidos graxos.

Os sais biliares têm tendência a formar micelas, que são glóbulos contendo esses
sais. A parte lipossolúvel dos sais fica no interior das micelas, enquanto sua parte
polar, ou hidrossolúvel, recobre o glóbulo, permitindo que as micelas se dissolvam nos
líquidos digestivos. Na digestão dos TG, os monoglicerídeos e ácidos graxos
dissolvem-se na parte lipossolúvel do interior das micelas, removendo esses produtos
e permitindo que a digestão prossiga.

As micelas também transportam os monoglicerídeos e ácidos graxos até a borda em


escova das células epiteliais intestinais, onde serão absorvidos.

Emulsificação das gorduras pelos sais biliares.


Adaptado de: WIDMAIER, E.P., RAFF, H., STRANG, K.T. Vander: Fisiologia Humana.14. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
3. Digestão das proteínas:

Quase a totalidade das proteínas presentes na dieta são provenientes de carne e


vegetais, sendo digeridas principalmente no estômago e na porção superior do
intestino delgado.

De 10 a 20% da digestão proteica se dá no estômago pela ação da pepsina, que


decompõe as proteínas em proteoses, peptonas e polipeptídios. A pepsina é
particularmente importante pela sua capacidade de digerir o colágeno, um importante
constituinte do tecido fibroso presente na carne. É necessária a digestão do colágeno
para que outras enzimas digestivas possam digerir o resto da carne.

As proteínas são então digeridas no intestino delgado pela ação das enzimas tripsina,
quimiotripsina, carboxipolipeptidase e proelastase, resultando em pequenos peptídeos
e aminoácidos.

As células epiteliais das vilosidades do intestino delgado contêm peptidases que


convertem os pequenos peptídeos em tripeptídeos, dipeptídeos e aminoácidos, que
são absorvidos por essas células. No interior dela, são formados os demais
aminoácidos. Cerca de 98% das proteínas transformam-se em aminoácidos e 2% são
excretados nas fezes.

Absorção dos nutrientes

Uma vez digeridos os alimentos, tendo sido transformados em unidades menores,


essas partículas agora têm que ser capazes de atravessar as barreiras entre a luz do
TGI e a corrente sanguínea, para que possam ser distribuídas para todas as células.

A maior parte da absorção ocorre no intestino delgado devido à sua mucosa


pregueada, com vilosidades e microvilosidades, o que aumenta de modo significativo
sua superfície de contato com o alimento e, consequentemente, sua absorção.

As vilosidades são pregas na mucosa, no formato de dedos, que se projetam para o


interior do lúmen do intestino. São cobertas por células epiteliais colunares, os
enterócitos, que apresentam borda em escova, contendo as microvilosidades. Logo
abaixo dessas células, no interior das vilosidades, encontram-se os vasos sanguíneos
e linfáticos, para onde serão levados os nutrientes após a digestão.
Estrutura da mucosa do intestino delgado com vilosidades e microvilosidades.
Adaptado de: SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.

1. Absorção de carboidratos:
Sua absorção se dá, basicamente, no duodeno e no jejuno. Os monossacarídeos
glicose e galactose são transportados por uma proteína cotransportadora de sódio
presente na superfície apical das células epiteliais, por transporte ativo secundário, da
luz do intestino para o interior das células, e daí por difusão facilitada pela superfície
basal, para a corrente sanguínea. A glicose e a galactose competem pelo mesmo
transportador, competindo pela absorção. Veja a figura a seguir.
Absorção de glicose através das células intestinais.
Adaptado de: SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.

2. Absorção de proteínas:

As proteínas foram clivadas em aminoácidos e pequenos peptídeos, cujo transporte


deve ocorrer contra um gradiente de concentração, de modo que é necessário o
transporte ativo acoplado ao transporte do íon sódio, de forma semelhante ao
transporte da glicose. Há diversos transportadores específicos para os diferentes
aminoácidos.

3. Absorção de lipídios:

A absorção dos lipídios difere da dos outros nutrientes hidrossolúveis, como os


aminoácidos e carboidratos. Por serem lipossolúveis, não podem ser absorvidos
diretamente para a corrente sanguínea. As gotículas formadas pelas gorduras e sais
biliares são degradadas pela ação das lipases, liberando monoglicerídeos e ácidos
graxos, que serão absorvidos pela borda em escova das células epiteliais.

No interior das células serão formados os quilomícrons, partículas formadas pelos


lipídios que ficam no interior e são recobertos por colesterol, proteínas e fosfolipídios.
Esses quilomícrons serão exportados através da membrana basolateral da célula,
entrando no sistema linfático e, uma vez retornando ao sangue venoso, chegam à
circulação sistêmica.
Absorção dos lipídios a partir da emulsão pelos sais biliares.
Adaptado de: WIDMAIER, E.P., RAFF, H., STRANG, K.T. Vander: Fisiologia Humana.14. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

4. Absorção de água:
O TGI absorve 99% da água que chega até ele. Essa absorção é determinada por
transportadores, bem como por difusão pela via transcelular, através de membranas,
ou por via paracelular, entre as junções que unem células adjacentes. Essas junções
são mais permeáveis no jejuno e mais firmas no cólon.
O TGI recebe cerca de 9 L/dia de água, mas perde apenas entre 50-100ml nas fezes.
O processo é estimulado pela presença da bomba Na+-K+ ATPase nas membranas
basolaterais e laterais das células epiteliais que, ao retirar o Na+, gera um gradiente
de concentração. O líquido próximo ao lúmen torna-se hipertônico em relação aos
líquidos corporais, permitindo a absorção de água.

Para revisar a fisiologia do sistema digestório, acesse os vídeos: Corpo


Humano: Órgãos e Sistemas - Aula 18 - Aspectos Anatomofuncionais
do Sistema Digestório e Corpo Humano: Órgãos e Sistemas - Aula 19 -
Digestão e absorção dos alimentos.

Para aprofundar seu conhecimento acerca do sistema digestório acesse a


Minha Biblioteca e leia o Capítulo 21 do livro: SILVERTHORN,
D.U. Fisiologia Humana: uma abordagem Integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017. ISBN: 9788582714041.
Encerramento

Por que um paciente em uso crônico de anti-


inflamatórios do grupo dos corticosteroides não pode
suspender abruptamente a medicação?

Porque pelo controle por feedback negativo do eixo hipotálamo-hipófise, a


administração exógena de cortisol leva à suspensão da produção endógena do
hormônio cortisol. Com a suspensão abrupta, a glândula atrofiada não consegue repor
o hormônio, levando a um quadro de insuficiência adrenal.

Qual o objetivo das cólicas que sentimos por ocasião


de uma intoxicação alimentar?

Em uma intoxicação alimentar ocorre o aumento do peristaltismo com o objetivo de


expulsar as bactérias e toxinas indesejadas, o que causa dor, pelas fortes contrações.

Por que a intolerância à lactose causa diarreia?

Quem possui intolerância à lactose não possui a enzima que a digere em glicose e
galactose. Esses carboidratos permanecem na luz intestinal, sem conseguir ser
absorvidos, provocando maior osmolaridade nesse compartimento, atraindo água e,
consequentemente, lavando a um quadro de diarreia.

Resumo da Unidade

O estudo dos diferentes órgãos e sistemas nos permitiu perceber as contribuições


de cada um deles para a manutenção da homeostase.

O sistema endócrino, a partir da liberação dos hormônios, tem a capacidade de


regular funções dos sistemas corporais, integrando a ação de vários órgãos para
um mesmo fim. Por exemplo, o metabolismo é influenciado por hormônios como
insulina e glucagon, que interferem com a distribuição de lipídios, proteínas e
carboidratos. Sendo assim, interfere nas funções digestivas. O sistema digestivo,
por sua vez, é o encarregado de prover nutrientes para todas as células e realiza
essa função por meio de estímulos provenientes dos sistemas nervoso e hormonal,
que são os grandes coordenadores das funções orgânicas.

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