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TEMA 4 – Fisiologia do Sistema Hormonal

1 – Os Hormônios

Primeiros mensageiros químicos do sistema endócrino. São mensageiros químicos produzidos


por células especializadas de glândulas e outros tecidos, que desempenham papel-chave na
regulação de praticamente todas as funções do organismo, incluindo o controle do
metabolismo, os processos bioenergéticos, a síntese de proteínas, o crescimento, o
desenvolvimento, o equilíbrio hidroeletrolítico, a reprodução e o comportamento.

- Classificação

De acordo com a natureza ou estrutura química da molécula. Existem três classes gerais em
função da estrutura química do composto:

1. Hormônios peptídicos
São de origem proteica, formados a partir de sequências de aminoácido. Conservam as
mesmas propriedades das proteínas. São compostos por sequências de aminoácidos
menores.
A maioria dos hormônios está nessa categoria e podem variar muito de tamanho.
 Proteínas – geralmente tem mais de 100 aminoácidos.
 Hormônios peptídicos – menos de 100 aminoácido.
Em geral são solúveis em água e ainda incluem outros hormônios, dentre eles a
insulina e o glucagon produzidos pelo pâncreas, os hormônios secretados pela hipófise
anterior, como o hormônio antidiurético e o hormônio do crescimento (GH),
adipocinas, como a adiponectina e a leptina.

- Síntese
1. Primeiro ocorre a transcrição gênica do núcleo, que consiste na cópia de um trecho
do DNA conhecido como gene e resulta na formação de um RNA mensageiro (RNAm)
2. Em linhas gerais, atravessa a carioteca, que é o envelope nuclear, através de poros
nessas membranas e geralmente é direcionado ao retículo endoplasmático rugoso.
3. Em seguida, por meio da ação dos ribossomos, irá passar pelo processo de tradução
gênica, quando os ribossomos decodificam o RNAm e constroem uma cadeia de
aminoácidos correspondente.
É comum que esses hormônios sejam produzidos como proteínas maiores, sem
atividade biológica, conhecidos como pré-pró-hormônios, que, ainda dentro do
retículo, serão quebrados e transformados em pró-hormônios. Empacotados em
vesículas, serão exportados ao aparelho de Golgi, onde serão acondicionados em
vesículas secretoras na presença de enzimas que quebrarão os pró-hormônios em
hormônios no estado ativo.
As vesículas produzidas pelo aparelho de Golgi podem ficar armazenados no
citoplasma ou aderidas à membrana plasmática. A secreção dos hormônios na corrente
sanguínea geralmente é do tipo regulada, ou seja, para que os hormônios peptídicos
sejam secretados, há a necessidade de a célula receber algum sinal que provoque a
liberação. Normalmente, esses sinais envolvem a modificação dos níveis de cálcio no
ambiente intracelular que, por sua vez, induz a exocitose do conteúdo dessas vesículas.

2. Hormônios esteroides
Inclui os produzidos e secretados pelo córtex adrenal, como o cortisol e a aldosterona,
hormônios sexuais produzidos pelos ovários e placenta, como o estrogênio e
progesterona, além da testosterona produzida pelos testículos. São derivados do
colesterol e, por terem natureza química lipídica, são hidrofóbicos.

- Síntese:
A matéria-prima é o colesterol, portanto, a estrutura molecular é semelhante. São
lipossolúveis e não se misturam na água facilmente. Não ficam armazenados nas
células secretoras. São secretados em um mecanismo chamado de secreção
constitutiva, que pode ser compreendido como uma secreção imediata à síntese, ou
seja, são produzidos quando necessários, sendo logo em seguida secretados no
sangue. Embora não fiquem estocados, as células são capazes de armazenas grandes
depósitos de ésteres de colesterol em vacúolos no citoplasma, que podem ser
rapidamente mobilizados para a síntese hormonal.

3. Hormônios derivados do aminoácido tirosina


A tirosina é um aminoácido que serve de matéria-prima para a síntese dos hormônios
da tireoide, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) bem como das catecolaminas que reúnem
a epinefrina, norepinefrina (ou adrenalina e noradrenalina) e dopamina.
 Catecolaminas – hidrossolúveis.
 Hormônios tireoidianos – hidrofóbicos.
- Síntese
A tirosina é um aminoácido que pode dar origem a dois grupos distintos de hormônios:
tireoide e catecolaminas. Em ambos os casos, a transformação desse aminoácido em
hormônio depende de reações químicas catalisadas por enzimas nos compartimentos
celulares, especialmente no retículo endoplasmático liso.
 Na tireoide, os hormônios T3 e T4 são produzidos e incorporados a uma proteína
chamada tireoglobulina, que atua armazenando esses hormônios em grandes folículos
dentro da glândula. Quando há necessidade de secreção, os hormônios são separados
dessa proteína e secretados na corrente sanguínea. Uma vez no sangue, esses
hormônios se associam a uma proteína globular que atua transportando e
gradualmente liberando esses hormônios para os tecidos-alvo.
 Na região da medula da glândula adrenal, as catecolaminas, epinefrina e
norepinefrina são formadas através de reações enzimáticas específicas, com uma
produção de epinefrina cerca de quatro vezes maior e ficam armazenadas em vesículas
secretoras até que haja o estímulo para a liberação, de forma semelhante aos
hormônios peptídicos. Ao chegarem à circulação sanguínea, boa parte das
catecolaminas são transportadas na forma livre, no plasma, até atingirem os tecidos-
alvo.

- Início da secreção e duração da ação hormonal

O início da liberação e ação hormonal pode variar entre os diferentes hormônios. A


estimulação provocada pelo sistema nervoso simpático sobre a medula adrenal estimula a
liberação de epinefrina e norepinefrina de forma muito rápida e, poucos segundos após a
liberação, esses hormônios já são capazes de atingir seus efeitos completos.
Você pode perceber isso quando toma um susto; nesse caso, o seu sistema nervoso autônomo
interpreta o susto como uma situação de perigo e ativa o sistema de luta e fuga que envolve a
liberação de adrenalina.
Dentre as ações da adrenalina, sabemos que ela é capaz de promover o aumento da frequência
cardíaca e, se você se lembrar da última vez que tomou um susto, muito provavelmente vai
saber que seu coração dispara quase imediatamente, ou seja, a ação da adrenalina ocorre de
forma rápida após sua liberação. Outros hormônios como a tiroxina (T4) e o hormônio do
crescimento, por outro lado, podem levar meses para atingir um efeito fisiológico completo.

Concentração plasmática de hormônios

Controle da secreção por retroalimentação negativa (ou feedback negativo)


Um dos principais mecanismos de controle da secreção hormonal. Outros fatores: estado
alimentado, jejum e estresse.
Geralmente, depois que um hormônio é liberado, atua nos tecidos-alvo e seus efeitos
provocam várias respostas. Quando esses efeitos são satisfatórios para o organismo, ou seja,
quando a ação do hormônio atinge a necessidade fisiológica, sinais de retroalimentação são
percebidos pela glândula endócrina que reduz a taxa de secreção hormonal.
Os mecanismos de feedback negativo podem atuar controlando a síntese do hormônio, a
expressão gênica das enzimas envolvidas na síntese hormonal e nos mecanismos da exocitose.

Controle da secreção por retroalimentação positiva (ou feedback positivo)


Tem efeito semelhante e um ciclo vicioso, onde a liberação de um hormônio provoca uma
resposta no tecido-alvo. Este, por sua vez, estimula ainda mais a liberação do hormônio em
uma espécie de surto, em que quanto maior a ação hormonal, maior, também será a sua
liberação.
Exemplo: a liberação da ocitocina pela hipófise posterior durante o trabalho de parto. Nesse
caso, o papel da ocitocina é provocar as contrações uterinas que empurram o bebê contra o
colo do útero. Essa ação mecânica de estiramento do colo uterino é interpretada pelo
hipotálamo e provoca a liberação de mais ocitocina, potencializando as contrações uterinas,
até que haja o nascimento do bebê.

Liberação hormonal controlada por variações cíclicas


Variações do ciclo diário – que incluem um ciclo de claro e escuro, o estado do sono e vigília, o
repouso e o exercício, o estado alimentado e o jejum – se sobrepõem aos mecanismos de
feedback e influenciam a liberação de hormônios ao longo do dia.
Vários exemplos se enquadram nessa situação. O hormônio de crescimento é liberado de
forma acentuada durante a primeira fase do sono e diminui nos estágios posteriores, além
disso, em situações de hipoglicemia o hormônio do crescimento também é liberado para
promover a degradação do glicogênio hepático.

- Transporte plasmático
Existem duas formas, que são explicadas pela natureza química do composto.
 Os hormônios peptídicos e as catecolaminas são hidrossolúveis, portanto, se dissolvem
facilmente em água. Assim, já que o plasma sanguíneo é feito à base de água, esses hormônios
se solubilizam e são transportados até as células-alvo livremente.
 Em contrapartida, os hormônios hidrofóbicos, como os esteroides e os hormônios da
tireoide, não se diluem em água e por essa razão precisam se associar a transportadores para
chegarem aos seus alvos, mais ou menos como se essas substâncias precisassem pegara uma
carona. As proteínas plasmáticas representam esses transportadores.

- Depuração de hormônios
Existem diferentes maneiras de depuração dos hormônios do plasma, incluindo a
metabolização pelos tecidos, quando a própria célula-alvo pode realizar a endocitose do
complexo receptor-hormônio e degradar o hormônio por meio da ligação com estruturas
celulares, inativando-o, através da excreção renal pela urina ou hepática, através da bile.
O tempo entre a liberação e a depuração também varia entre os hormônios:
 Hormônios hidrossolúveis – em geral têm meia vida curta, que, em alguns casos, pode
durar menos de um minuto.
 Hormônios que se associam às proteínas transportadoras – podem ficar na circulação
por várias horas ou até mesmo dias.
 Esteroides – ficam na circulação por 20 a 100 minutos.
 Hormônios tireoidianos – podem ficar na circulação por até seis dias.

Produção e transporte de hormônios – vídeo

A premissa básica para que um hormônio possa exercer efeito em uma célula é a presença ou
expressão de um receptor nesse tecido ou nessa célula. Sem um receptor presente na célula
não há ação hormonal. É como um sistema de rádio, no qual é necessária uma antena
receptora, o sinal de rádio é propagado e a antena receptora vai captar esse sinal e, além disso,
deve existir um sistema de interpretação ou transdução desse sinal para que se possa
amplificar o som na caixa de som e, assim, ouvir a música. Portanto, pode-se traçar um paralelo
com a ação hormonal. Existem receptores nas células-alvo que são capazes de perceber, se ser
sensibilizados pela ação hormonal.

O hormônio é o sinalizador, é o mensageiro químico. Existem células que não expressam


receptores para determinados hormônios e, assim, elas não respondem a esses hormônios; e
outras que expressam receptores para aquele mesmo hormônio, então, ela será capaz de ser
sensibilizada pela ação desse hormônio.

Primeiro há a necessidade de uma interação física entre o hormônio, o ligante, a molécula


sinalizadora e o seu receptor na célula-alvo e, para isso, temos um segundo ponto importante
que deve ser mencionado, que diz respeito à localização do receptor nessa célula-alvo. A
localização está muito atrelada à natureza química do hormônio. Sabemos que existem
hormônios de diferentes naturezas químicas e, assim, alguns podem ser solúveis em água,
como é o caso dos hormônios peptídicos, por exemplo, a insulina. Por outro lado, existem os
hormônios lipossolúveis, que são hidrofóbicos, como é o caso dos hormônios esteroides,
como a testosterona, derivada do colesterol, como hormônio lipossolúvel. E eles são muito
distintos em relação à natureza química. Quando eles chegam em uma célula-alvo, a célula
também terá uma organização estrutural que vai ser diretamente relacionada, ou vai estar de
acordo com a natureza química desse hormônio. Como a insulina é solúvel em água, ela é
impermeável à membrana plasmática, e se ela precisa se ligar fisicamente ao receptor, ela só
vai ser capaz de mediar um efeito se o receptor for localizado na membrana plasmática.
Então, os receptores de hormônios solúveis em água são proteínas integrais de membrana, já
receptores de hormônios lipossolúveis, como é o caso da testosterona, até podem ser
proteínas de membrana, mas, também, podem ser proteínas intracelulares, na medida em que
essas substâncias são lipossolúveis e, assim, elas são permeáveis à membrana. Assim, a
testosterona pode encontrar um receptor dentro do núcleo celular, do citoplasma, ou,
também, na membrana.

Uma vez que haja a interação entre o ligante, entre o hormônio e o seu receptor, estaremos
sensibilizando a célula e, agora, esse sinal será interpretado por essa célula. Essa interpretação
envolve uma série de cascatas de sinalização, como em uma corrida de bastão, em que a
mensagem, ou bastão, vai passando de um intermediário para o outro até que uma resposta
celular possa acontecer. Esse tipo de mecanismo é muito importante porque garante a
diversificação e amplificação das respostas celulares. Mas, ele pode ser muito diverso e vai
depender, muitas vezes, do mecanismo de ação do receptor.

Os receptores serão classificados de acordo com o tipo de mecanismo de ação que ele exerce.
Os receptores de adrenalina são proteínas de membrana, a adrenalina também é solúvel em
água, são proteínas que atravessam a membrana de cinco a sete vezes, ou seja, a cadeia
polipeptídica tem alças transmembranas que atravessam a membrana sete vezes, tem um
domínio extracelular onde a adrenalina vai se ligar e tem um domínio intracelular que está
acoplado a um sistema proteico chamado de proteína G. A proteína G será ativada quando
esse receptor for sensibilizado e vai ativar uma enzima na membrana plasmática chamada
adenilato ciclase, que é capaz de produzir em grande quantidade uma substância chamada
AMP cíclico, que atua como segundo mensageiro, que vai espalhar o sinal hormonal, agora no
ambiente intracelular. Então, o tipo de receptor, que é dito receptor acoplado à proteína G.
Temos esse mecanismo de ação atribuído à adrenalina, ao glucagon, à serotonina. São
hormônios que, classicamente atuam dessa forma.

Existem hormônios intracelulares, como é o caso do hormônio testosterona, que pode estar
acoplado a fatores de transcrição do próprio núcleo, e esse hormônio vai ativar a transcrição
gênica e, depois, a tradução e a síntese de proteínas. Existem receptores de membrana que
são canais, quando o ligante se associa, esses canais se abrem. A insulina atua sobre um tipo de
receptor especial, um receptor que, quando está ligado com a insulina, ele, na verdade, é
composto de duas unidades proteicas, que se juntam e se autoestimulam. O domínio
intracelular dessa proteína tem atividade enzimática intrínseca e se autofosforila em resíduos
de um aminoácido conhecido como tirosina, e, depois, essa fosforilação, de novo, como em
uma corrida de bastão, esse fosfato vai sendo passado adiante pelos seus intermediários
metabólicos.

Hoje, o estudo sobre a ação dos hormônios permite que compreendamos uma série de
doenças, como é o caso da resistência à insulina. Sabemos que a resistência à insulina é um
quadro clínico que envolve um prejuízo ou a falta de uma ação correta da insulina, que leva a
um quadro clínico chamado de diabetes tipo 2. A etiologia, a origem, da resistência à insulina
não é completamente compreendida, mas temos o entendimento de vários fatores que podem
estar envolvidos para explicar essa não ação da insulina, inclusive, fatores associados aos
mecanismos de interpretação do sinal hormonal. Sabemos, por exemplo, que a resistência à
insulina acontece simultaneamente com o acúmulo de peso, de massa gorda. Sabemos,
também, que o tecido adiposo é um tecido vivo, no sentido endócrino. Ele é capaz de produzir
várias substâncias que são conhecidas como adipocinas e essas substâncias têm uma
concentração na corrente sanguínea proporcional à quantidade de tecido adiposo que um
indivíduo tem no corpo. Essa inflamação sistêmica, provocada pelo acúmulo de gordura é
proveniente, justamente, da liberação excessiva de adipocinas. Então, teremos um excesso de
adipocinas proporcional al excesso de gordura corporal.

Temos o exemplo do TNF Alfa, que é uma das adipocinas pró inflamatórias, que é capaz, por
exemplo de controlar, no tecido muscular e no próprio tecido adiposo, a sinalização
insulinêmica. Sabemos, por exemplo, quando a insulina interage com o receptor de insulina,
ela estimula o receptor, que, por sua vez, ativa uma proteína conhecida como IRS, que é o
substrato para o receptor de insulina. O receptor de insulina vai transferir fosfato em resíduos
de tirosina do IRS e o IRS estará ativo e vai mediar toda a cascata de sinalização insulinêmica. O
TNF alfa é capaz de inibir o IRS, ele vai fosforilar essa proteína em outro resíduo de
aminoácido, inibindo essa proteína e, assim, iremos interromper o sinal insulinêmico, ou, se
alguma forma, diminuir a ação da insulina, mesmo que seja parcialmente. Voltando à analogia
do sistema de rádio, é como se tivéssemos o rádio, temos a antena, mas entre a antena e o
rádio temos um fio cortado. Então, temos um sistema quase todo completo, mas, em algum
momento ali a informação vai se perder ou estará suprimida, e assim, temos uma resistência à
ação desse hormônio.

Temos outros fenômenos que também vão explicar essa resistência à insulina, como, por
exemplo, uma disfunção na própria liberação da insulina, uma redução dos níveis do GLUT4,
que é uma proteína transportadora de glicose, sabemos que em um quadro inflamatório
sistêmico existe uma redução na expressão de GLUT4, especificamente no músculo esquelético
e no tecido adiposo, quanto menos GLUT4 existe nesses tecidos menor a capacidade desses
tecido de captar glicose e, assim, essa glicose acaba acumulando na corrente sanguínea
criando um quadro de hiperglicemia, que é marcante no quadro de diabetes tipo 2, em função
da resistência à insulina.

Assim, conseguimos observar a integração entre a ação do hormônio através da presença


tecido específica de receptores, o que determina que uma célula seja alvo para a ação do
hormônio, bem como os mecanismo de interpretação e decodificação, transdução desse sinal
através de cascatas de sinalização, levando a uma resposta metabólica, que leva, em última
análise a uma resposta fisiológica, que vem, então, integrando o sinal hormonal com a
resposta celular para que se possa ter, então, corretamente o controle sobre o metabolismo.

MÓDULO 2 – As funções fisiológicas e ação hormonal

O metabolismo é determinado por um conjunto de proteínas presentes em tecidos específicos,


nas mais variadas células. Esse conjunto de proteínas é representado principalmente pelas
enzimas, por proteínas da membrana, como os receptores, canais, bombas e transportadores e
pelas proteínas da comunicação celular. As células possuem limites bem definidos pelas
membranas plasmáticas e são unidades funcionais independentes, onde as funções podem ser
gerais ou extremamente específicas para cada tipo celular.

Essa independência não significa autonomia, ou seja, é como se nossas células soubessem
como fazer suas funções, porém sem saber em que extensão devem fazer, ou até mesmo
quando trabalhar e quando parar de trabalhar.
Essa falta de autonomia é resolvida em boa parte pelas funções do sistema endócrino,
mediada pela ação dos hormônios.

O metabolismo é o mesmo que funcionamento celular, que é determinado pelo conjunto de


proteínas presentes em uma célula de forma tecido-específica. Existem variados tipos celulares
no nosso corpo, como os neurônios, os miócitos, os hepatócitos do fígado, os eritrócitos no
sangue etc.; e, naturalmente, cada uma dessas células tem uma função específica para a
manutenção das funções fisiológicas.

Exemplo: A capacidade do nosso corpo em metabolizar alguns nutrientes, como os açúcares e


as gorduras. Sabemos que o excesso de “açúcar” na dieta pode ser transformado em ácidos
graxos e, em seguida, em triglicerídeos, que pode ser estocado como forma de reserva de
energia, principalmente no tecido adiposo. A esse processo, damos o nome de síntese de
ácidos graxos, podendo depois ser degradado em outro processo chamado de β-oxidação, para
que algumas células obtenham energia desse composto.

Se fizermos uma comparação entre hepatócitos, miócitos e eritrócitos, veremos o seguinte:

 Hepatócitos – são capazes de sintetizar e degradar as gorduras.


 Miócitos – são capazes apenas de degradar gorduras.
 Eritrócitos – não fazem nem síntese, nem degradação das gorduras.

Essa diferença metabólica é explicada pelo fato de que as enzimas responsáveis pela
degradação estão presentes no fígado e no músculo. As da síntese, só o fígado possui e o
eritrócito não expressa nenhum dos dois conjuntos enzimáticos.

É possível associar as funções celulares à presença ou expressão tecido-específica de proteínas


nas células e, consequentemente, extrapolar essas funções para o nível dos órgãos e tecidos.
Assim, o metabolismo celular é dado pela expressão tecido-específica de proteínas, que são,
então, consideradas o “maquinário metabólico” celular. É justamente essa característica que
nos permite dizer que as células são unidades funcionais, como pequenas “fábricas”
independentes.

- Coordenação das funções fisiológicas por mensageiros químicos

O metabolismo é tecido-específico em função da presença do maquinário metabólico e de


responsabilidade das unidades celulares. Agora, é importante discutirmos que todo esse
funcionamento deve servir ao nosso organismo, no sentido de manter os parâmetros
fisiológicos em homeostase.

Agentes que controlam as funções do metabolismo: são os mensageiros químicos, em especial,


os hormônios.

A inter-relação dos mais variados sistemas de mensageiros químicos é capaz de controlar as


múltiplas atividades das células e tecidos-alvo, de forma integrada e coordenada, onde em
diversas vezes um hormônio é capaz de atuar no controle de funções de diferentes tecidos,
com resultados que se completam. Em outros casos, diferentes hormônios atuam juntos, de
forma sinérgica ou antagônica, mas sempre tornando o controle do metabolismo uma resposta
que faz sentido, lógica e harmoniosa.
- Célula-alvo

Os hormônios só são capazes de exercer efeitos sobre o metabolismo das células-alvo e que
uma célula só é alvo para a ação dos hormônios, quando esta expressa ou possui receptores
específicos para captar o sinal hormonal.

Os hormônios são considerados os primeiros mensageiros do metabolismo e são capazes de


induzir respostas em células, tecidos e órgãos-alvo. Para ser considerado um “alvo” para a ação
dos hormônios, os tecidos devem expressar receptores hormonais, que, em geral, são
proteínas específicas, onde os hormônios se ligam e sinalizam suas mensagens biológicas.
Pode-se dizer que o princípio básico para a ação dos hormônios é a presença de receptores
celulares.

Hormônios de ação endócrina

Os hormônios de ação endócrina são aqueles secretados para a corrente sanguínea e que
através da circulação podem mediar efeitos sobre o funcionamento de alvos metabólicos,
distantes do local de produção. Esse sistema de comunicação é a forma que denomina esse
sistema fisiológico.

A maior parte dos hormônios atua dessa forma, por exemplo, o cortisol é secretado pelo córtex
adrenal. Através da corrente sanguínea ele é capaz de controlar funções no fígado, tecido
adiposo e músculo esquelético.

Hormônios de ação parácrina

Nem todos os hormônios liberados por um tecido precisam ser levados através da corrente
sanguínea para atingirem seus alvos. As células-alvo, em alguns casos, são células vizinhas e,
quando um hormônio atua controlando o funcionamento de células vizinhas, você pode
denominar essa ação de atividade parácrina.

Exemplo: muitos hormônios produzidos pela mucosa gástrica atuam em outras células da
própria mucosa, sem a necessidade de entrar na circulação sanguínea. Outro exemplo é a ação
dos neurotransmissores nas sinapses químicas que atuam em células vizinhas.

Hormônios de ação autócrina

Sugere a capacidade de autorregulação. Ocorre quando um hormônio é capaz de controlar a


própria célula que o produziu e o secretou, como acontece com a insulina que é capaz de
estimular a própria célula β pancreática que a produziu e a liberou a responder aos seus sinais,
levando a captação de glicose por essas células.
- Receptores hormonais

Geralmente são proteínas grandes expressas de forma tecido-específica, ou seja, eles podem
estar presentes em um tecido e ausente em outro.

Estima-se que uma célula possua de 2.000 a 10.000 receptores. Cada receptor é altamente
específico para um único tipo de hormônio, assim, podemos correlacionar a expressão do
receptor à ação hormonal. É a presença de um receptor específico, em um tecido, em
particular, que irá determinar que tipo de hormônio é capaz de sinalizar sua mensagem.

A quantidade de receptores não é fixa e pode variar minuto a minuto. Os receptores podem
ser destruídos, inativados de forma transiente ou definitiva, podem ser sequestrados para o
interior celular ou sua produção pode diminuir.

Por outro lado, a síntese de receptores pode ser estimulada e o número dessas proteínas pode
crescer, aumentando também a sensibilidade da célula ao hormônio.

Os receptores podem ser proteínas localizadas na membrana, no citoplasma ou até mesmo no


núcleo. A localização dos receptores nas células é determinada pela natureza química dos
hormônios. Os receptores dos hormônios hidrossolúveis são proteínas presentes na superfície
celular, pelo fato desses hormônios serem impermeáveis às membranas.

Dentre os diversos hormônios que atuam em receptores localizados na membrana, temos os


grupos dos hormônios peptídicos, proteicos e das catecolaminas, como a insulina e glucagon,
que são hormônios peptídicos, ou a adrenalina, uma catecolamina. Já os hormônios
hidrofóbicos, capazes de atravessar a membrana, podem sinalizar através de receptores
intracelulares. Os hormônios esteroides, como a testosterona, atuam principalmente através
de receptores localizados no citoplasma, enquanto os hormônios da tireoide são encontrados
no núcleo, associados aos cromossomos.

Especificidade dos receptores hormonais


As respostas obtidas através dos sinais hormonais dependem do tipo do receptor expresso nas
células-alvo não só quanto aos diferentes hormônios, que se ligam a receptores seletivos, mas
também em função da sinalização mediada muitas vezes pelo mesmo hormônio.

Exemplo: o efeito da adrenalina sobre os vasos sanguíneos – Durante uma sessão de exercícios
físicos, as glândulas suprarrenais são estimuladas a secretar adrenalina na corrente sanguínea.
Essa adrenalina tem diversas funções que incluem o aumento da frequência cardíaca, a
degradação do glicogênio hepático e o controle do fluxo de sangue para os músculos
esqueléticos.

Nesse contexto, é razoável pensar que os músculos esqueléticos ativados para sustentar o
exercício irão necessitar de mais oxigênio, nutrientes e ouras substâncias, entregues pela
corrente sanguínea e, de forma lógica, podemos deduzir que é necessário aumentar o aporte
de sangue a esse tecido. Acontece que todo o sangue no nosso corpo está dentro do sistema
circulatório, que é fechado, de forma que, tecnicamente, não existe uma reserva de sangue.
Assim, para ser possível aumentar o fluxo sanguíneo para uma região, é necessário diminuir de
outra.

É exatamente aí que entra a ação da adrenalina que é capaz de promover a vasodilatação na


região do sistema muscular, ao mesmo tempo em que é capaz de induzir vasoconstricção do
trato gastrointestinal e, dessa forma, redirecionar o fluxo de sangue do sistema digestório para
o musculoesquelético.

Isso só é possível em função da expressão de receptores de adrenalina de tipos diferentes,


chamados de isoformas. Para um mesmo hormônio, o corpo pode expressar diferentes tipos de
receptores. É como se uma chave pudesse abrir mais do que uma fechadura, embora essas
fechaduras só pudessem ser abertas por essa mesma chave.

Nesse caso específico, a presença de receptores β-adrenérgicos nos capilares musculares


provoca o aumento do diâmetro desses vasos, enquanto a presença da isoforma α-adrenérgico
provoca o efeito contrário, diminuindo o diâmetro e o fluxo do sangue do vaso sanguíneo do
trato digestório.

Mecanismo de ação dos receptores hormonais

E certa forma, os receptores são “antenas” nas células que captam o sinal hormonal e, assim,
reforçamos a ideia de célula-alvo apresentada anteriormente.

Um hormônio se liga e ativa um receptor seletivo, que, por sua vez, desencadeia uma resposta
de interpretação ou transdução e amplificação desse sinal.

Os mecanismos de ação dos receptores e os mecanismos de transdução do sinal são muito


variados:

 Receptores ligados a canais iônicos – são típicos nas sinapses químicas. Uma das
características de uma sinapse química é o fato de que a comunicação é feita pela ação
de um mensageiro químico, chamado de neurotransmissor, que apresenta as mesmas
propriedades dos hormônios.
Praticamente todos os neurotransmissores, como a norepinefrina, a dopamina e a
serotonina atuam através desse tipo de receptores. Receptores acoplados a canais
iônicos atuam como comportas que podem ser abertas ou fechadas, a partir da
recepção do sinal. A abertura ou fechamento desses canais envolve a mudança na
forma da proteína receptora e, assim, altera a permeabilidade da membrana para
determinados íons.
Geralmente, os canais iônicos são específicos aos íons que podem ser canalizados
através do receptor, como canais de sódio, cálcio ou potássio. Quando fechados,
impedem a passagem desses íons e, quando são abertos, permitem a passagem do íon
correspondente sempre a favor do gradiente de concentração, ou seja, do lado mais
concentrado para o lado menos concentrado da membrana, em um tipo de transporte
conhecido como transporte passivo facilitado.
 Receptores ligados à proteína G – A ciência já descreveu mais de 1000 receptores
acoplados à proteína G, que sinalizam suas mensagens dessa forma e que podem ser
ativados por diversos hormônios, como a epinefrina, a glucagon, a serotonina e outros.
Existem duas formas básicas dessa proteína:
 A estimulatória (Gs)
 A inibitória (Gi)
A estrutura desses receptores é descrita como uma cadeia de proteínas com sete alças
transmembrana. Uma cadeia única de aminoácidos que atravessa a membrana sete
vezes em direção, ora ao citoplasma, ora ao meio extracelular, com algumas partes em
protrusão para cada lado da membrana. No ambiente extracelular, o ligante se associa
a uma região do receptor para sinalizar seus efeitos.
No ambiente intracelular, a cauda dessa cadeia de aminoácidos encontra-se associada
a uma proteína G. Essa proteína é composta por três subunidades (α, β e γ). No estado
inativo, essa proteína está ligada a uma molécula de difosfato de guanosina (GTP). Esse
evento é capaz de provocar o destacamento e deslocamento de subunidades α da
proteína G, através da membrana, para que outras proteínas sejam ativadas.
Esse mecanismo pode abrir canais iônicos, ativar ou inibir outras proteínas
intracelulares da comunicação celular, como a Adenil ciclase e as fosfolipase, para que
os hormônios exerçam seus efeitos.
 Receptores ligados a enzimas – Esse tipo de receptor também é conhecido como
aquele com atividade enzimática intrínseca; quando ele é ativado se comporta e
funciona como uma enzima. Neste caso, o receptor é capaz de se ligar a outras
proteínas intracelulares que são consideradas substratos para sua ação e, assim, passa
adiante a sua mensagem.
Esses receptores são proteínas que geralmente têm uma estrutura que atravessa a
membrana apenas uma vez, apresentando um domínio ou região extracelular onde o
hormônio se liga e a porção intracelular é exatamente a região que atua de forma
enzimática. O receptor de insulina se enquadra nessa família de proteínas e, dessa
forma, a insulina é capaz de mediar seus efeitos em células-alvo.
Em outros casos, o receptor em si não atua como uma enzima, mas está diretamente
acoplado com alguma enzima intracelular que tem atividade enzimática. Existem
alguns exemplos de proteínas que atuam, dessa forma, como é o caso da sinalização da
leptina, um hormônio liberado pelo tecido adiposo que controla o apetite e o balanço
energético. Esse mecanismo foi descrito em células de câncer de mama, onde a
serotonina é capaz de ativar seu receptor que está acoplado a essa mesma enzima
chamada Janus quinase (JAK), que, por sua vez, pode desencadear os efeitos
hormonais que incluem o deslocamento de sinais até o núcleo celular e controlar a
expressão de proteínas.
 Receptores intracelulares – A classe de receptores intracelulares está associada à
ativação mediada por hormônios de natureza química lipossolúvel, pois assim eles
podem atravessar a membrana plasmática e atuar sobre alvos intracelulares, como no
caso dos receptores dos hormônios esteroides e tireoidianos.
A partir da interação do hormônio com o receptor, muitos dos sinais estão envolvidos
na ativação da transcrição de genes e, consequentemente, regulam a síntese das
proteínas. Assim, esses receptores podem ser encontrados no citoplasma ou até
mesmo no núcleo associado a regiões promotoras da transcrição nos cromossomos.

- Sinalização celular

As principais características do processo de sinalização ou comunicação celular são que, em


geral, as mensagens são passadas adiante em forma de sequência, em um efeito cascata de
sinalização que pode ser comparado a uma brincadeira de telefone sem fio, onde a mensagem
passa de um ao outro em uma sequência de eventos.
Essa cascata pode envolver vários intermediários e possui duas outras características muito
importantes:
 A possibilidade de diferentes alvos intracelulares serem ativados, garantindo a
diversificação do sinal, o que explica a capacidade dos hormônios em controlarem
diferentes respostas a partir de um único sinal.
 A amplificação do sinal, à medida que os intermediários são ativados.

É comum observarmos que cada um deles pode passar adiante o sinal para mais de um
intermediário nessa cascata de eventos. É como se um intermediário ativasse dois ou mais
intermediários na fila. Essa característica é muito importante e explica por que os níveis
hormonais são tão baixos; graças a esse mecanismo é possível amplificar de forma muito
importante a resposta a partir do sinal hormonal.

Exemplo: a ação da epinefrina sobre a degradação do glicogênio hepático, estima-se que para
cada molécula de epinefrina que ativa o hepatócito são liberadas 10.000 moléculas de glicose,
ou seja, o sinal é amplificado dez mil vezes.

Segundos Mensageiros

Os hormônios são os primeiros mensageiros químicos do sistema endócrino. Quando os sinais


hormonais ativam seus receptores, muitos deles envolvem a produção dos segundos
mensageiros.

Ao longo das cascatas de sinalização, a maioria dos intermediários envolvidos na transdução do


sinal são proteínas com atividade enzimática. Entretanto, em muitos casos pequenos,
compostos de diferentes naturezas químicas são produzidos ou liberados em grandes
quantidades, atuando como segundos mensageiros que irão passar adiante os sinais
hormonais, desencadeando seus efeitos. Nestes casos, você pode dizer que a única coisa direta
que o hormônio faz em uma célula é ativar o receptor e o segundo mensageiro fará o resto. Os
principais exemplos de segundo mensageiro são:

 O AMPc derivado do ATP.


 Os íons cálcio em um sistema acoplado à proteína calmodulina.
 Os fosfolipídios de membrana, que podem ser transformados em outros compostos no
meio intracelular.

Sistema da adenilato ciclase-AMPc


A enzima adenilato ciclase é uma proteína inserida na membrana plasmática que é ativada pela
proteína Gs, que catalisa a conversão do ATP em AMPc que, por sua vez, irá ativar a proteína
quinase dependente de AMPc (PKA), desencadeando a cascata de sinalização. Quando a
proteína Gi é ativada, sua ação inibe a enzima adenilato ciclase. Os hormônios que atuam
através de adenilato ciclase-AMPc são:

 Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH);


 Angiotensina II;
 Calcitonina;
 Serotonina;
 Catecolaminas (reeptor β);
 Glucagon;
 Hormônio luteinizante (LH);
 Secretina;
 Somatostatina;
 Paratormônio (PTH);
 Hormônio tireoestimulante (TSH).

Sistema das fosfolipase

Também são proteínas inseridas nas membranas que podem ser ativadas ou inibidas pela
proteína G. Existem diferentes isoformas de fosfolipase, cuja função envolve principalmente a
quebra de fosfolipídios de membrana, especialmente o fosfatilinositol bifosfato (PIP2), em dois
segundos mensageiros.

 Diacilglicerol (DAG) – o DAG é capaz de ativar a proteína quinase C (PKC).


 Inosol trifosfato (IP3) – IP3 mobilizará íons cálcio da mitocôndria e do retículo
endoplasmático para o citosol, onde o cálcio irá atuar como segundo mensageiro.

Exemplos de hormônios que atuam através da fosfolipase:

 Catecolaminas (células α).


 Hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH).
 Hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH).
 Hormônio liberador do hormônio tireotrópico (TRH).
 Ocitocina.
 Serotonina.

Sistema Cálcio-Calmodulina

A entrada do cálcio na célula ou a mobilização a partir do retículo endoplasmático levam ao


aumento dos níveis de cálcio intracelulares. A entrada do cálcio pode ocorrer:

 A partir da despolarização da membrana, levando à abertura de canais de cálcio


voltagem dependente.
 Ou por meio da ação de hormônios que promovam a abertura de canais de cálcio
ligante dependente.

Quando três ou quatro íons cálcio se ligam à proteína calmodulina, essa proteína é ativada e
pode atuar controlando vários intermediários da comunicação celular, resultando no controle
de várias respostas metabólicas.
- Controle dos alvos metabólicos e resposta celular

As enzimas são os agentes do metabolismo e representam o maquinário metabólico. Dessa


forma, quando um hormônio controla o funcionamento celular, esse controle incide sobre o
conjunto de enzimas presentes no tecido-alvo.

A maioria dos hormônios é capaz de controlar a atividade de enzimas-chave das vias


metabólicas. Isso quer dizer que as reações enzimáticas podem ser controladas, ativando ou
inibindo a capacidade catalítica das enzimas e, assim, controlar as respostas metabólicas. Esse
tipo de controle leva a respostas rápidas que incidem em um conjunto de enzimas presente nas
células.

As alterações enzimáticas envolvem a regulação alostérica, modificações covalentes na enzima,


mudanças na estrutura quaternária ou quebra de uma pró-enzima para seu estado ativo.

Alguns hormônios, como os esteroides, os fatores de crescimento e os da tireoide provocam


efeitos metabólicos, controlando a expressão de proteínas; eles são capazes de controlar os
processos de transcrição e tradução gênica, aumentando a síntese proteica. A consequência
dessa ação é o aumento do número de uma determinada proteína que pode ser enzima,
receptor, proteína da comunicação celular ou estrutural. Esse tipo de regulação é lenta e
requer tempo, dias e até meses, para que as mudanças sejam percebidas.

Em síntese, perceba que os hormônios são mensageiros químicos do sistema endócrino, que
atuam em alvos específicos a partir da interação com receptores seletivos, cuja localização
celular depende da natureza química do hormônio. A partir da formação do complexo
hormônio-receptor, a célula é capaz de interpretar os sinais hormonais por meio de uma
cascata de sinalização, que garante a diversificação e amplificação de respostas, culminando
com o controle do metabolismo, através do controle da atividade ou expressão de enzimas-
chave de diferentes vias metabólicas.

- Mecanismo de ação dos receptores hormonais

Os hormônios são de diferentes naturezas químicas, temos hormônios classificados como


hormônios esteroides, peptídicos, derivados de aminoácidos, derivados de amina, como a
serotonina, que é derivada do triptofano, os hormônios tireoidianos e as catecolaminas, que
são derivadas da tirosina. Assim, teremos um roteiro diferente, ou mecanismos diferentes,
particulares para cada uma dessas condições, na medida em que temos matérias-primas
próprias e produtos finais particulares para cada processo.

De um modo geral, o principal grupo de hormônios, em termos quantitativos é representado


pelos hormônios peptídicos, que são hormônios caracterizados como pequenas proteínas. São
cadeias de aminoácidos. Podemos dar como exemplo a maioria dos hormônios hipofisários. Os
hormônios da adeno-hipófise são, de um modo geral, hormônios peptídicos, como o ACTH, a
ocitocina, que é produzida pela neuro-hipófise, como o hormônio anti-diurético ou
vasopressina, o hormônio do crescimento.

Há muitos hormônios recentemente descobertos, como a irisina, que é uma miocina produzida
pelo músculo, algumas adipocinas produzidas pelo tecido adiposo, como a leptina,
adiponectina, são hormônios peptídicos e, enquanto hormônios peptídicos, cadeias de
aminoácidos, eles são sintetizados como qualquer proteína, ou seja, toda proteína precisa
passar pelas etapas de transcrição gênica e tradução, para que ela possa ser sintetizada e
assim, também, podemos entender isso para a síntese dos hormônios peptídicos. Todo aquele
conteúdo que discutimos em relação à síntese de proteínas podemos extrapolar para a síntese
dos hormônios peptídicos. Assim, vamos depender de uma ativação gênica, que vai envolver a
transcrição de uma sequência no DNA, a que chamamos de gene e essa transcrição leva à
formação de um RNA mensageiro, esse é um processo que acontece no núcleo celular. O RNA
mensageiro sai do núcleo através dos poros presentes na carioteca, vai para o retículo
endoplamático, onde com a ação dos ribossomos, no retículo endoplasmático rugoso vai haver
a tradução desse RNA mensageiro em cadeia poilpeptídica, contendo 3, 8, 10 aminoácidos. Por
exemplo, o hormônio antidiurético tem 8 aminoácidos na sua cadeia, a insulina humana tem
51 aminoácidos em sua cadeia. Então, o número de aminoácidos pode variar entre esses
hormônios. Uma vez que eles tenham sido produzidos, eles serão processados e podem ficar,
em alguns casos, armazenados em vesículas intracelulares antes de serem secretados.

Os hormônios esteroides são derivados do colesterol. Eles não passam pelo mecanismo de
transcrição e tradução gênica. Ainda assim, o colesterol, que é a matéria-prima para fazer
cortisol, testosterona, estrogênio, precisa ser transformado através de reações enzimáticas
nesses compostos e assim teremos, então, processos enzimáticos ocorrendo, normalmente no
retículo endoplasmático liso, e aí não há a dependência dos ribossomos, mas depende da ação
de enzimas para que o colesterol seja transformado em hormônios esteroides. A mesma coisa
acontece para hormônios derivados de aminoácidos. A síntese da serotonina envolve três
reações enzimáticas para que o triptofano seja transformado em serotonina e depois no
produto que será metabolizado e eliminado depois do uso da serotonina. Então, teremos o
envolvimento de reações enzimáticas e geralmente esse é um processo que acontece no
retículo endoplasmático.

Uma vez que os hormônios tenham sido sintetizados, eles serão processados pelo aparelho de
Golgi, serão empacotados em pequenas vesículas e estarão prontos para serem secretados.

A secreção pode ser de dois tipos: secreção constitutiva, cujo exemplo mais clássico são,
essencialmente, os hormônios esteroides, como o cortisol e a testosterona. Nesta secreção, tão
logo o hormônio esteja pronto, ele é imediatamente secretado. Então, essa vesícula se desloca
para a membrana plasmática e no mecanismo de exocitose ela libera o conteúdo na corrente
sanguínea, mas a vesícula não fica armazenada para que esse hormônio seja secretado em um
momento específico. Ele é normalmente produzido e, tão logo ele seja produzido, ele será
secretado. O outro tipo de secreção é a regulada, que também passa pelo processamento no
aparelho de Golgi, o empacotamento em vesícula, só que essas vesículas armazenam
hormônio pronto e esse hormônio fica armazenado no ambiente intracelular até que haja um
sinal para que ele seja, então, secretado, como é o caso da maioria dos hormônios peptídicos.
Eles são pré fabricados, ficam armazenados, e quando vem um sinal qualquer, por exemplo, a
insulina está pronta nas células β pancreáticas, o sinal para que ela seja secretada é a elevação
da glicemia, que acaba refletindo em uma entrada de glicose nas células β pancreáticas, a
entrada de glicose vai ser consumida pelas células β pancreáticas, vai haver a síntese de ATP, o
aumento dos níveis de ATP intracelular vão inibir uma bomba específica da membrana
plasmática das células β pancreáticas, que vão alterar a voltagem no ambiente intracelular,
abrindo canais de cálcio voltagem dependente, o cálcio entra nas células β pancreáticas e vai
deflagrar a exocitose. Então, o cálcio vai ser, essencialmente, o motor primário para que as
vesículas que contém insulina se desloquem para a membrana e a exocitose resulte na
secreção desse hormônio.

Uma vez que esses hormônios tenham sido secretados, eles serão transportados na corrente
sanguínea e o transporte dele também é dependente da natureza química do hormônio.
Hormônios peptídicos são hidrossolúveis, então se misturam no plasma sanguíneo e são
transportados livremente no plasma. Hormônios esteroides são lipossolúveis, não vão se
misturar muito bem no plasma, então vão depender de mecanismos de transporte. Hormônios
como a testosterona e estrogênio precisam se associar a proteínas transportadoras para serem
transportadas através da corrente sanguínea.

Dessa forma, temos processos de armazenamento, secreção e, eventualmente, podemos ter


disfunções associadas a isso. Uma disfunção que pode acontecer, por exemplo, com o
hormônio do crescimento pode ser, normalmente, fruto de um adenoma hipofisário, uma
espécie de tumor na hipófise, especialmente nas células produtoras somatotróficas, as células
produtoras do hormônio do crescimento, que pode implicar em um aumento ou diminuição
desse hormônio na corrente sanguínea. Quando existe um aumento da secreção do GH na
corrente sanguínea, teremos uma potencialização dos seus efeitos, se essa condição clínica,
que é uma condição rara, acometer o indivíduo na infância e na primeira fase da adolescência
poderemos observar um quadro conhecido como gigantismo, em que a pessoa cresce demais
e atinge estaturas muito elevadas. Quando esse adenoma hipofisário acomete uma pessoa
após a idade adulta, entre os 20 e 40 anos, a pessoa não terá mais condição de aumentar a
estatura e vai marcar sinais e sintomas associados ao crescimento dos ossos da face, das mãos,
nariz, orelha em um quadro conhecido como acromegalia. Esses dois quadros clínicos estão
associados ao aumento da produção do hormônio do crescimento. Se existe uma situação
contrária, sobretudo na primeira infância, de redução dos níveis do hormônio do crescimento,
teremos o efeito contrário. Enquanto o excesso do hormônio leva a um excesso dos seus
efeitos, a falta do hormônio leva à falta dos seus efeitos. E o hormônio do crescimento é o que
garante o crescimento dos ossos, a maturação fisiológica, associada a esse tipo de resposta. A
ausência do hormônio do crescimento vai levar a um quadro conhecido como nanismo, em
que a criança acaba não atingindo uma estatura média da população de origem e pode atingir
estaturas muito baixas. O diagnóstico desses quadros, independente dele, passa pela
mensuração dos níveis hormonais na corrente sanguínea, por radiografias, que podem ser
feitas na mão, nos ossos da face para observar esses desvios, disfunções que são marcadas e o
tratamento pode ser feito com a supressão do nível hormonal, eventualmente com a
radioterapia para tratar o tumor adeno-hipofisário ou com administração exógena do GH no
caso do nanismo.

MÓDULO 3

- A glândula hipófise é controlada pelo Hipotálamo

O hipotálamo recebe sinais vindos de várias partes do sistema nervoso, que podem estar
associados à fome, saciedade, dor, pressão, volemia (volume sanguíneo), concentração de
nutrientes no sangue e vários outros estímulos que requeiram ajustes fisiológicos. Neste
sentido, o hipotálamo pode ser considerado como um centro de controle o bem-estar interno
do organismo, controlando diversos aspectos do equilíbrio fisiológico.
A partir desses sinais, o hipotálamo libera hormônios ou fatores hipotalâmicos, liberadores ou
inibidores, que irão controlar respostas na glândula hipófise, estimulando ou inibindo a
liberação dos hormônios hipofisários na corrente sanguínea. Praticamente toda excreção
hipofisária é controlada pelo hipotálamo e essa comunicação representa um eixo de ligação
neuroendócrina, capaz de controlar inúmeras funções fisiológicas.

Hormônios hipotalâmicos

Neurônios especializados no hipotálamo sintetizam e secretam hormônios, onde suas funções


são controlar a liberação de outros hormônios na hipófise, especialmente a adeno-hipófise. Em
alguns casos, os neuro-hormônios produzidos no hipotálamo, como a ocitocina e o hormônio
antidiurético são secretos diretamente na corrente sanguínea através da hipófise posterior.

- Glândula hipófise

A hipófise é uma pequena glândula, com cerca de 1 centímetro de diâmetro, que pesa entre
0,5 e 1 grama. Também conhecida como glândula pituitária, está localizada na base do cérebro
e ligada ao hipotálamo através do pedúnculo hipofisário. Fisiologicamente, a hipófise pode ser
dividida em duas porções:

 Hipófise anterior – também chamada de adeno-hipófise.


 Hipófise posterior – conhecida como neuro-hipófise.
Neuro-hipófise

Também chamada de hipófise posterior, é derivada de tecido neural a partir do próprio


hipotálamo. Biologicamente, a neuro-hipófise é composta por axônios de neurônios, cujo
corpo celular está localizado no hipotálamo. Assim, pode-se dizer:

1. Os neuro-hormônios dessa porção são produzidos no hipotálamo;


2. Conduzidos até a neuro-hipófise;
3. E ficam armazenados nos terminais dos axônios até serem liberados por exocitose, na
circulação sanguínea.

Hormônios da neuro-hipófise e suas funções

São secretados dois hormônios:

1. Ocitocina;
2. Hormônio antidiurético (ADH) – também conhecido como vasopressina.

Ambos são hormônios peptídicos muito semelhantes, contendo nove resíduos de aminoácidos
cada um, dentre os quais apenas dois são diferentes e todos os iguais estão exatamente na
mesma posição da cadeia.

Uma das funções fisiológicas do ADH para contrapor essas mudanças é o seu controle sobre a
diurese renal. Os túbulos e ductos coletores dos néfrons são quase impermeáveis à água,
contudo, o ADH é capaz de provocar a exocitose de vesículas contendo poros de água
chamados de aquaporinas, que se deslocam para as membranas, provocando a reabsorção de
água do filtrado glomerular e exercendo seu efeito antidiurético, que contribui para a
manutenção da volemia e da pressão arterial.

Simultaneamente, a vasopressina tem um potente efeito vasoconstrictor sobre o sistema


arterial, provocando a contração das arteríolas que levam ao aumento da pressão arterial.
Note que ambos os efeitos são lógicos e levam ao mesmo propósito no controle da
homeostase.

O hormônio ocitocina estimula de forma potente a contração uterina da mulher grávida,


especialmente nos últimos meses de gestação, tendo um papel fundamental no trabalho de
parto. A ocitocina também tem uma função importante durante a lactação. A própria sucção
do bebê no mamilo é percebida pelo hipotálamo, através do sistema sensorial, levando à
liberação de ocitocina na neuro-hipófise e, em menos de um minuto depois do início da
sucção, o leite começa a fluir.

Adeno-hipófise
É também conhecida como hipófise anterior e, embriologicamente, suas células são
desenvolvidas a partir da invaginação embrionária do tecido faríngeo e, assim, apresentam
uma composição epitelioide. Essa porção é altamente vascularizada e quase todo sangue que
chega a essas células passa primeiro pela porção inferior do hipotálamo, onde os fatores
hipotalâmicos são secretados. Esse sistema é conhecido como porta hipotalâmico-hipofisário.

A adeno-hipófise é uma glândula formada por vários tipos celulares diferentes e cada
hormônio é produzido e secretado por uma célula específica. Seis hormônios proteicos ou
glicoproteicos são produzidos e secretados pela adeno hipófise, na circulação sanguínea, em
resposta aos fatores hipotalâmicos:

- Funções fisiológicas do hormônio do crescimento

O GH ou somatotropina, é uma molécula proteica com 191 aminoácidos que, ao contrário dos
demais hormônios da adeno-hipófise, não age indiretamente por meio de outras glândulas,
mas age diretamente sobre quase todos os tecidos do organismo. Apesar disso, ele também
exerce efeitos indiretos ao estimular a liberação de fatores de crescimento semelhantes à
insulina (o IGF, ou somatomedinas) no fígado, que exercem grande parte das funções do GH.

O GH e o IGF, juntos, controlarão diversos efeitos metabólicos, promovendo não só o


crescimento dos tecidos, mas também a multiplicação e a diferenciação de algumas células.
Um dos efeitos mais notáveis do GH ocorre durante a infância e a adolescência, com o estímulo
à deposição de massa mineral e proteínas em diferentes células, nas epífises de crescimento
dos ossos longos, resultando no aumento da estatura do indivíduo. Na idade adulta, essas
epífises estão calcificadas e, por isso, você para de crescer quando chega a essa fase.
Para sustentar esse crescimento durante a infância e a adolescência, o GH aumenta o
transporte de aminoácidos através da membrana e estimula a transcrição e tradução de
proteínas, ao mesmo tempo em que o catabolismo de proteínas é inibido. Como esse efeito
anabólico requer energia, o GH estimula a utilização de gorduras como fonte de energia,
aumentando a mobilização de ácidos graxos no tecido adiposo.

O GH também controla vários aspectos do metabolismo de carboidratos, incluindo os efeitos


inibitórios sobre a captação de glicose pelos músculos e tecido adiposo, o estímulo à
degradação do glicogênio e gliconeogênese e a liberação de insulina. Essas ações provocam um
efeito de resistência à ação da insulina sobre o músculo e tecido adiposo, contribuindo para o
aumento e manutenção da glicemia. Essa disponibilidade de glicose no sangue será essencial
para que o GH e o IGF promovam seus efeitos de crescimento nos demais tecidos.

Controle de secreção de GH

A liberação de GH é controlada pelo GHRH do eixo hipotálamo-hipófise, mas esse eixo é


controlado por diversos fatores que determinam uma secreção pulsátil.

Fatores relacionados ao estado nutricional, estresse ou ciclo circadiano controlam a liberação


de GH:

 A redução dos níveis de glicose, ácidos graxos livres e proteínas no sangue, o jejum, o
exercício físico, outras situações de estresse e o sono profundo promovem a liberação
do GH.
 Por outro lado, o aumento da glicemia, dos ácidos graxos livres no plasma, a
obesidade, o envelhecimento, a somatostatina e o uso de GH exógeno, como no
doping, reduzem a liberação de GH.

- Eixo adrenocorticotrófico

O eixo neuroendócrino de regulação dos hormônios adrenocorticais envolve a integração


comandada pelo hipotálamo, a partir da secreção de corticotropina (CRH), no sistema porta
hipofisário, que irá atuar sobre o metabolismo dos corticotropos – as células que, em resposta
ao CRH, secretam o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) na circulação sistêmica, para
exercer seus efeitos sobre as glândulas suprarrenais.

Glândulas adrenais

As glândulas suprarrenais estão localizadas na região superior dos rins e são formadas por duas
partes distintas:

1. Córtex – produz e secreta outro grupo de hormônios conhecido como corticosteroides.


Esses hormônios são produzidos a partir do colesterol e são divididos em dois grupos
principais:
a. Glicocorticoides – cortisol.
b. Mineralocorticoides – aldosterona.
Além desses dois grupos, uma pequena quantidade de hormônios andrógenos,
com funções semelhantes à testosterona, também é secretada pelo córtex
adrenal.
2. Medula Adrenal – Parte mais interna das glândulas, é controlada pelo sistema nervoso
autônomo e, em resposta à ativação do sistema nervoso simpático, secreta adrenalina
e noradrenalina na circulação sanguínea, para potencializar os efeitos do próprio
sistema simpático sobre os mesmos órgãos-alvo.

Mineralocorticoides

A aldosterona é responsável por 90% da atividade mineralocorticoide das glândulas


suprarrenais. O efeito potente desse hormônio é fundamental para a manutenção da
homeostase e age para evitar a queda da pressão arterial.

A secreção da aldosterona é regulada pela elevação da concentração de íons potássio no


líquido extracelular, enquanto a elevação de íons sódio reduz discretamente sua secreção.
Secreção esta, que também é estimulada de forma discreta pelo ACTH, proveniente da adeno-
hipófise. Entretanto, o sistema renina-angiotensina-aldosterona representa o eixo de
integração, com efeito mais acentuado sobre a secreção da aldosterona.

Sistema renina-angiotensina-aldosterona

 A redução da volemia leva a uma diminuição da taxa de filtragem glomerular nos


néfrons do sistema renal.
 Assim, o volume do filtrado glomerular também diminui.
 Essa diminuição leva a uma redução do fluxo através dos túbulos renais.
 A redução é percebida por um conjunto de células granulares nos rins que, então,
liberam a renina.

A renina tem atividade enzimática e, na circulação sanguínea, ela catalisa a conversão do


angiotensinogênio em angiotensina I. O angiotensinogênio é um pró-hormônio, ou seja,
encontra-se inativo, produzido constantemente pelo fígado, tendo sua ativação mediada pela
ação da renina. A angiotensina I no plasma ainda vai passar por outra modificação, pela ação
da enzima conversora de angiotensina (ECA), presente no endotélio vascular, sendo
transformada em angiotensina II, que terá efeitos potentes para controlar a queda da pressão
arterial, incluindo o estímulo e a liberação de aldosterona.

As principais ações da aldosterona ocorrem a partir da ligação com receptores citoplasmáticos,


que controlam a expressão gênica e o aumento do número de canais de sódio nos túbulos
renais. Em função disso, há um aumento da reabsorção do sódio nos rins, que resulta também
em aumento da reabsorção de água e controle da volemia, para evitar a queda da pressão
arterial.

Esse sistema é capaz de atuar através de outros mecanismos, incluindo os efeitos da


angiotensina II em promover a sede, aumentando a ingestão de água; provocar a
vasoconstrição de arteríolas; aumentar a resposta cardiovascular e promover a liberação de
ADH pela neuro-hipófise.

O organismo envolve vários sistemas, órgãos, tecidos e respostas para controlar a pressão
arterial e como todas elas, em conjunto, se somam, cada qual contribuindo para o equilíbrio
fisiológico. Esse é um ótimo exemplo de integração fisiológica.
Glicocorticoides

O cortisol é responsável por 95% da atividade glicocorticoide. O restante dos efeitos é mediado
principalmente pela corticosterona. A secreção do cortisol é estimulada pelo ACTH da adeno-
hipófise que, por sua vez, é secretado em resposta ao CRH do hipotálamo.

O cortisol é regulado por diferentes tipos de estresses fisiológicos, como um trauma, uma
infecção, calor ou frio intensos, o jejum, o exercício físico, o estresse mental, levando à
secreção de ACTH que pode elevar os níveis de cortisol em até 20 vezes. Outro fator de
controle dos níveis de cortisol é o ritmo circadiano, as taxas de CRH, ACTH e cortisol podem ser
até quatro vezes maiores no início da manhã em comparação com o final da noite.

A natureza química esteroidal do cortisol garante a ele a permeabilidade através a membrana


e, assim, seus efeitos são mediados através de receptores intracelulares. Boa parte das ações
do cortisol ocorre através do controle gênico do metabolismo, estimulando a síntese de
proteínas-chave nos processos metabólicos em que ele exerce efeito.

Funções do cortisol sobre a disponibilidade de nutrientes

Assim como todos os controles hormonais, as ações do cortisol são extremamente lógicas e
harmônicas, seus efeitos fazem todo sentido quando analisados em conjunto e ainda em
função das condições em que o eixo endócrino é estimulado. A liberação do cortisol ocorre em
diferentes situações de estresse fisiológico; uma característica comum dessas situações é a
necessidade de manter o equilíbrio da disponibilidade de nutrientes. Tanto o jejum quanto o
exercício físico, ou até o estresse mental, de alguma forma, sobrecarregam o seu organismo,
seja pela escassez ou pelo aumento da necessidade energética que impõem um controle mais
fino sobre a disponibilidade dos nutrientes. Veja a seguir.

 Sobre o metabolismo de lipídeos, o cortisol irá provocar a mobilização de triglicerídeos


no tecido adiposo, resultando em aumento dos níveis de ácidos graxos e glicerol na
corrente sanguínea. De forma semelhante, o cortisol é capaz de mobilizar aminoácidos
de tecidos, especialmente, os músculos, através do catabolismo de proteínas,
aumentando os níveis plasmáticos de aminoácidos.
 Esses efeitos são extremamente importantes para explicar as ações do cortisol sobre o
metabolismo hepático. No fígado, o cortisol irá estimular a cetogênese, uma via
metabólica que resulta na formação de corpos cetônicos, substâncias que são
produzidas como fontes de energia alternativa para o coração e o cérebro. A formação
desses compostos é feita a partir da transformação de ácidos graxos e aminoácidos,
através de reações enzimáticas.
 O estímulo à gliconeogênese é o efeito metabólico mais conhecido do cortisol que
pode ser aumentado em até 10 vezes. Essa via metabólica ocorre predominantemente
no fígado e consiste na formação de novas moléculas de glicose, a partir de substratos
não glicídicos, incluindo os aminoácidos, o glicerol e o lactato. Os mecanismos de
ativação dessa via pelo cortisol envolvem o aumento da expressão gênica hepática das
enzimas da gliconeogênese e a mobilização dos aminoácidos.

Um efeito suporta o outro. Ao mesmo tempo em ele “manda” construir algum produto, ele
também “manda” buscar e entregar a matéria-prima para essa produção. Adicionalmente, os
efeitos sobre a gliconeogênese, a cetogênese e a mobilização de triglicérides se completam, no
sentido de manter a disponibilidade energética para o organismo superar o estresse fisiológico.

Efeitos anti-inflamatórios do cortisol

A atividade anti-inflamatória do cortisol se dá através de dois efeitos básicos. Inicialmente, o


cortisol bloqueia estágios iniciais do processo inflamatório e pode até mesmo impedir que a
inflamação ocorra. Nos casos em que a inflamação já tenha se iniciado, o cortisol é capaz de
inibi-la e acelerar a regeneração tecidual.

Os efeitos anti-inflamatórios do cortisol ocorrem através de diferentes mecanismos que


incluem:

 Estabilização das membranas dos lipossomos, impedindo que as enzimas digestivas


atuem na degradação tecidual.
 Redução da formação de prostaglandinas e leucotrienos, que leva à redução da
permeabilidade dos capilares, reduzindo a perda de plasma, e também à menor
migração de leucócitos para as áreas inflamadas e de fagocitose das células lesionadas.
 Supressão do sistema imune, reduzindo a reprodução de linfócitos e, assim, a
produção de anticorpos na área inflamada.
 Redução, finalmente, da liberação de interleucina-1 a partir dos leucócitos, atenuando
a febre.

- Hormônios metabólicos da tireoide

Glândula Tireoide

A glândula tireoide está localizada imediatamente abaixo da laringe e anteriormente à


traqueia. É uma das maiores glândulas endócrinas, pesando de 15 a 20 gramas, sendo
responsável pela produção de dois hormônios:

 Tiroxina (T4) – representa 93% da produção.


 Triiodotironina (T3) – com os 7% restantes.

Apesar disso, no plasma, uma grande parte de T4 é deionizado, ou seja, perde um iodo e, assim,
é transformado em T3.

A manutenção dos níveis normais da atividade metabólica requer uma quantidade precisa
desses hormônios e esses níveis são controlados por mecanismos específicos de feedback no
hipotálamo e na hipófise. Dessa forma, são os próprios níveis plasmáticos de T3 e T4 que
controlam o eixo neuroendócrino.

Quando os níveis tendem à redução, o hipotálamo irá secretar o hormônio tireotrópico (TRH)
que, por sua vez, estimula os tireotropos – células adeno-hipofisárias que secretam o
hormônio tireoestimulante (TSH), também controlado por feedback que, então, irá atuar na
glândula tireoide. De forma oposta, os níveis satisfatórios desses hormônios inibem a atividade
hipotalâmica-hipofisária em um mecanismo de feedback negativo.

Produção e armazenamento de T3 e T4

Os hormônios tireoidianos são formados a partir do aminoácido tirosina, mas requerem iodo
para sua produção, que deve ser obtido pela alimentação. O retículo endoplasmático e o
complexo de Golgi das células da tireoide secretam uma grande glicoproteína chamada
tireoglobulina, que contém cerca de 70 resíduos de tirosina. Esses aminoácidos serão
combinados ao iodo para a formação dos hormônios T 3 e T4 na própria tireoglobulina. Ao final
do processo de síntese, cada tireoglobulina contém, aproximadamente, 30 moléculas desses
hormônios, que podem ficar armazenados por até três meses.

A liberação no sangue dos hormônios T3 e T4 se dá após a quebra da tireoglobulina, que


ocorre ainda no interior das células da glândula tireoide. Após a liberação para o plasma, a
natureza química desses hormônios implica na necessidade de associação à proteínas de
transporte, como a globulina ligadora de tiroxina, produzida pelo fígado, para que haja a
distribuição para todos os sistemas fisiológicos.

Mecanismo de ação dos hormônios tireoidianos

Os efeitos fisiológicos de ambos os hormônios é praticamente o mesmo, exercendo controle


sobre a taxa metabólica de praticamente todos os tecidos.

Contudo, os efeitos de T3 são até quatro vezes mais potentes do que os de T4 e o tempo de
permanência na corrente sanguínea também é maior.

O mecanismo de atuação dos hormônios tireoidianos se dá através do controle de receptores


nucleares que ativam a expressão de inúmeros genes através da transcrição do RNAm e, em
seguida a tradução ribossomal. A consequência dessa ação é o aumento de inúmeras enzimas,
receptores, proteínas de transporte e estruturais.

Efeitos metabólicos dos hormônios tireoidianos

A consequência do aumento da expressão de proteínas em praticamente todos os tecidos gera


crescimento da taxa metabólica de todo o corpo e isso irá acarretar uma série de modificações
metabólicas. Esses efeitos incluem:

 A ampliação da biogênese mitocondrial, aumentando o tamanho e número de


mitocôndrias.
 A capacidade de produção celular de ATP.
 Maior transporte ativo de íons através das membranas celulares, aumentando,
também, a produção de calor.

Os hormônios tireoidianos ainda alteram vários aspectos do metabolismo energético, atuando


sobre quase todos os processos do metabolismo de carboidratos, promovendo o crescimento
da captação tecidual de glicose, estimulando a glicólise (processo de quebra anaeróbia da
glicose para produção de energia), estimulando a gliconeogênese hepática e a absorção
gastrointestinal de carboidratos:

 Há um estímulo à mobilização dos lipídeos no tecido adiposo, reduzindo o acúmulo de


gordura e aumentando os níveis sanguíneos de ácidos graxos.
 Por outro lado, ocorre uma redução dos níveis plasmáticos de colesterol, fosfolipídios e
triglicerídeos, além de um aumento de excreção fecal de colesterol através da bile.

O crescimento da taxa metabólica basal requer uma série de outros ajustes fisiológicos, que,
mais uma vez, nos serve de exemplos interessantes da harmonia no controle das funções
fisiológicas.

Efeitos fisiológicos dos hormônios tireoidianos

Com a ampliação do metabolismo, há uma maior produção de energia e, assim, maior


consumo de oxigênio e produção de metabólitos, além do crescimento na produção de calor.
Para se adequar a essas necessidades, os hormônios tireoidianos aumentam:

 O débito cardíaco;
 A frequência cardíaca;
 A força do miocárdio.

Isso garante a distribuição do fluxo sanguíneo sem aumentar a pressão arterial, em função de
uma redução da resistência vascular periférica, o que tem dois efeitos importantes: o primeiro,
garantir que o fluxo de sangue atinja todos os tecidos e, o segundo, ampliar a troca de calor
para manter a temperatura corporal em um cenário em que está havendo acréscimo da
termogênese.

Adicionalmente, a frequência respiratória e o volume corrente são aumentados, garantindo


maior troca gasosa que leva à melhor oxigenação para atender às necessidades metabólicas e à
eliminação de CO2, cuja produção foi expandida graças ao aumento da taxa metabólica dos
processos bioenergéticos.

Os hormônios T3 e T4 ainda exercem efeitos sobre o sistema digestório. Além disso, exercem:

 Crescimento das secreções digestivas e da mobilidade intestinal.


 Efeitos excitatórios sobre o sistema nervoso central.
 Aumento dos níveis de atenção, exercendo efeitos sobre o sono e sobre outras
glândulas endócrinas.
 Ampliação da taxa de secreção da maioria das outras glândulas endócrinas.

Eixo gonadotrópico
O hipotálamo, através da liberação do hormônio liberador da gonadotropina (GnRH), regula a
liberação dos hormônios luteinizantes (LH) e o folículo estimulante (FSH) pela adeno-hipófise.
Estas duas gonadotropinas são glicoproteínas com duas subunidades (α e β) que regulam a
função secretora das gônadas.

Gônadas masculinas

Os testículos são responsáveis pelas funções reprodutoras masculinas, através da


espermatogênese, e pela secreção de testosterona. A própria testosterona é capaz de
estimular a síntese de espermatozoides, agindo em conjunto com FSH, estrógenos e o GH em
diferentes fases e processos da espermatogênese.

Hormônios sexuais masculinos

Vários hormônios são secretados pelos testículos e são coletivamente denominados de


androgênio, em que a testosterona é o mais abundante em termos de secreção. Porém, a
maioria é convertida em diidrotestosterona (DHT) nos tecidos-alvo, que é mais ativa.

A testosterona é produzida pelas células intersticiais de Leydig (células localizadas nos


testículos) e, após a sua secreção, é majoritariamente ligada à albumina plasmática ou a uma
β-globulina para ser transportada através da circulação, já que, por se tratar de um hormônio
esteroide, é lipossolúvel.

Função da testosterona

A testosterona é responsável pelas características que diferenciam o corpo masculino.

Durante o desenvolvimento fetal, por volta da sétima semana de gestação, o cromossomo


masculino induz a secreção de testosterona e promove o desenvolvimento dos órgãos genitais
masculinos, incluindo a formação do pênis, do saco escrotal, da próstata, das vesículas
seminais e ductos genitais, enquanto inibe a formação dos órgãos genitais femininos. Entre a
vigésima sexta e trigésima oitava semana de gestação, a testosterona é responsável por
promover a descida dos testículos para o saco escrotal.

As células de Leydig são praticamente inexistentes durante a infância, porém, durante a


puberdade, o número dessas células aumenta de forma expressiva, repercutindo no
crescimento gradual da secreção da testosterona, que determina o amadurecimento sexual
masculino, com o desenvolvimento dos órgãos genitais e as características sexuais secundárias,
que diferenciam os homens das mulheres e incluem:

 Efeitos sobre a distribuição de pelos.


 Redução do crescimento do topo da cabeça, que pode resultar em calvície.
 Timbre grave da voz, em função da hipertrofia da mucosa da laringe.

Adicionalmente, a testosterona promove a retenção de cálcio e aumenta a matriz óssea e a


espessura e força dos ossos, além de estimular a eritropoiese, o que explica o maior número de
hemácias nos homens em comparação com as mulheres.

A testosterona é um potente ativador da síntese de proteínas musculares promovendo a


hipertrofia muscular e o aumento de massa magra e força muscular. Os efeitos anabólicos
podem explicar o efeito da testosterona sobre a ampliação da taxa metabólica basal. Por essa
razão, a testosterona ou análogos são usados para fins desportivos ou estéticos, associados à
melhoria do desempenho físico, mas os efeitos adversos podem ser muito nocivos à saúde.

Mecanismo de ação da testosterona

A natureza química da testosterona garante sua permeabilidade através da membrana e, após


entrar na maioria dos tecido-alvo, ela é metabolizada e convertida em diidrotestosterona, que
se liga a um receptor no citoplasma e, então, é deslocado para o núcleo onde o complexo
hormônio-receptor irá desencadear seus efeitos.

1. Controle da expressão gênica.


2. Aumento da produção de RNAm para muitas proteínas.
3. Ampliação da expressão de diversas proteínas em praticamente todos os tecidos
corporais.

Gônadas femininas
Na mulher, os ovários são estimulados da mesma forma que os testículos masculinos, através
do eixo hipotálamo-hipófise, por meio da ação dos hormônios LH e FSH e, assim,
desempenharão suas funções reprodutivas, como a ovulação e a secreção dos hormônios
ovarianos, estrógenos e progestinas.

As gonadotrofinas, LH e FSH controlam a liberação hormonal em homens e mulheres, já quanto


à produção de gametas, espermatogênese e ovulação, ambos apresentam efeitos positivos em
mulheres, enquanto nos homens apenas o FSH é capaz de induzir a formação de gametas.

Hormônios ovarianos

Os ovários são responsáveis pela produção de dois tipos de hormônios:

 Estrogênios – um grupo de hormônios que tem o estradiol como principal composto.


 Progestinas – tem como representante principal a progesterona.

Ambos são hormônios esteroides e, pela mesma razão que a testosterona, requerem
transportadores plasmáticos e atuam através de receptores intracelulares.

O controle das taxas de secreção hormonal feminina é determinado pelo ciclo sexual mensal
feminino, um ciclo que dura em média 28 dias e tem a função primordial de produzir um único
óvulo por mês, além de preparar o endométrio uterino para a implantação do óvulo fertilizado.

Função dos estrogênios

A função primária dos estrogênios é controlar a proliferação de várias células e a maturação


sexual através do crescimento dos órgãos sexuais. O aumento da secreção de estrógenos na
puberdade promove o desenvolvimento dos ovários, trompas de Falópio, útero e vagina.

Os efeitos dos estrógenos sobre o metabolismo ósseo passam pela inibição da atividade dos
osteoclastos, estimulando o crescimento ósseo. Por outro lado, os estrógenos têm um potente
efeito na calcificação das epífises dos ossos longos e, após rápido crescimento em estatura
durante a puberdade, a mulher para de crescer. Em comparação com a testosterona nos
homens, esse efeito é mais potente, o que justifica a menor estatura média das mulheres em
relação aos homens.

Durante a menopausa, a interrupção quase total na produção de estrógenos permite maior


atividade dos osteoclastos com consequente redução da matriz óssea, levando à maior
incidência de osteoporose em mulheres.

Vários efeitos metabólicos dos estrógenos são semelhantes aos relatados para a testosterona,
porém, com menor potência, como é o caso do efeito anabólico sobre a síntese de proteínas e
o aumento da taxa metabólica basal, que resulta em uma ligeira redução da gordura corporal.
De forma parecida, os efeitos sobre a distribuição de pelos são menores e mais restritos às
áreas do corpo.

Funções da progesterona
Durante a última metade do ciclo sexual feminino mensal, o endométrio uterino sofre
mudanças em suas propriedades secretórias para preparar o útero para a implantação do
óvulo fertilizado.

Essa função é estimulada pela progesterona e você pode considerar como a função mais
importante desse hormônio. Nessa fase, a progesterona reduz as contrações uterinas,
contribuindo para aumentar a chance de fixação do óvulo implantado.

Em combinação com os estrógenos, a progesterona também tem efeito no desenvolvimento


das mamas. No caso da progesterona, ela estimula o desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos
das mamas através da proliferação e aumento dessas células, para que adquiram natureza
secretora.

- Pâncreas endócrino

O pâncreas pode ser fisiologicamente dividido em exócrino e endócrino. Os ácinos são células
que secretam o suco digestivo no duodeno e representam o pâncreas exócrino, enquanto as
ilhotas de Langherans secretam, principalmente, insulina e glucagon na circulação sanguínea e,
assim, você tem a porção endócrina da glândula. Há também outros fatores hormonais, como a
amilina, a somatostatina e o polipeptídeo pancreático.
Controle da secreção da insulina

A secreção da insulina ocorre em duas fases:

Na primeira fase ela aumenta entre 5 e 10 vezes, em um intervalo de 3 a 5 minutos, após a


elevação aguda da glicemia, a concentração de glicose no sangue. Essa secreção é fruto da
liberação de insulina pré-formada e armazenada nas células β-pancreáticas. Em seguida, há
uma redução da liberação de insulina que torna a aumentar após 15 minutos, com uma taxa de
secreção ainda maior que a primeira fase, até atingir um platô depois de 2 a 3 horas.

Na segunda fase secretora é atribuída à ativação enzimática da síntese de novas moléculas de


insulina.

A concentração de glicose no sangue é um fator que estimula a liberação de insulina,


entretanto, na presença simultânea de glicose e alguns aminoácidos, essa secreção pode
aumentar de forma expressiva.

Hormônios gastrointestinais, como a gastrina, secretina, colecistocinina e o peptídeo inibidor


gástrico, provocam aumento moderado de insulina e têm um efeito antecipatório, uma vez que
são liberados depois que você ingere alimentos. Outros hormônios como o GH e o cortisol
também podem induzir a secreção de insulina.

Efeitos metabólicos da insulina

A insulina é um hormônio associado a um ambiente fisiológico de abundância, em geral fruto


de ingestão alimentar. Suas funções mais bem compreendidas controlam respostas sobre o
metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas, fundamentalmente, no sentido de
promover as reservas energéticas e determinar os substratos prioritários. Isto se dá através do
controle de enzimas-chave em diversas vias metabólicas de vários tecidos, atuando
especialmente no fígado, tecido adiposo e nos músculos.
Efeitos da insulina sobre o metabolismo dos carboidratos

Após uma refeição balanceada, a quantidade de glicose no sangue aumentará e a primeira


ação da insulina para normalizar a glicemia é promover a captação tecidual da glicose.

Esses efeitos da insulina incidem, principalmente, sobre as células do tecido adiposo


(adipócitos), sobre o tecido muscular (miócitos) e sobre os hepatócitos.

Os adipócitos e miócitos, em condições de normoglicemia, são pouco permeáveis à molécula


de glicose, porém, com a elevação da glicemia, tornam-se capazes de captar a glicose em um
mecanismo que depende do efeito da insulina. A glicose é muito solúvel em água. Portanto,
para atravessar as membranas biológicas, ela depende da ação de proteínas transportadoras.

No caso dos adipócitos e mielócitos, o tipo de transportador presente, o GLUT4, encontra-se


internalizado, ligado à membrana de vesículas no citoplasma. Quando estimulados por insulina
sofrem exocitose, integrando-se à membrana plasmática, garantindo a captação de glicose
nesses tecidos.

Os hepatócitos apresentam outro tipo de transportador de glicose: o GLUT2, que se encontra


permanentemente na membrana plasmática. Ainda assim, outros efeitos da insulina sobre o
metabolismo do fígado aceleram a utilização da glicose no ambiente intracelular, que também
favorece a captação de glicose no fígado.

Uma vez que a glicose tenha sido internalizada nesses tecidos, ela será metabolizada por meio
do estímulo da insulina sobre o controle de várias vias metabólicas. Nesse sentido, a insulina
provoca o aumento da síntese de glicogênio no fígado e no músculo, para promover os
estoques de glicose nesses tecidos.

Efeito da insulina sobre o metabolismo dos lipídeos

O corpo tem uma capacidade limitada de armazenamento de energia na forma de glicogênio.

O nosso organismo é fruto de dezenas de milhares de anos de evolução e, apenas nos últimos
150 a 200 anos, temos acesso a alimentos em cada esquina e ainda alimentos hipercalóricos.
Dessa forma, nosso organismo desenvolveu estratégias metabólicas de armazenar todo o
excedente da dieta.

É aqui que entra o papel da insulina sobre o controle do metabolismo de lipídeos. Veja, a
seguir, o processo:

 A insulina inibirá a gliconeogênese hepática e ativará a glicólise.


 Ao final da glicólise são formadas duas moléculas de piruvato.
 As moléculas são desviadas para as mitocôndrias na forma de acetil-CoA e, em excesso,
acabam acumulando no ciclo de Krebs.
 Esse acúmulo ativa a síntese de ácidos graxos

Esse mesmo efeito de estimulação da síntese de ácidos graxos a partir de glicose ocorre no
tecido adiposo. Entretanto, o fígado não armazena a gordura que produz, assim, esses ácidos
graxos são associados a lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e exportados para a
circulação, levando os ácidos graxos a serem estocados no fígado. Para você ter uma ideia, os
níveis de VLDL no sangue aumentam mais após uma dieta rica em açúcar, do que após uma
dieta rica em gorduras.

Efeitos da insulina sobre o metabolismo das proteínas


A insulina também estimula o transporte tecidual de aminoácidos, porém, além desse efeito,
ela é capaz de desencadear o aumento da transcrição e tradução gênica, inibir o catabolismo
de proteínas e contribuir na conservação dos níveis de aminoácidos, que são os principais
substratos gliconeogênicos. Em conjunto, a insulina tem efeitos anabólicos sobre o
metabolismo das proteínas.

Controle da secreção do glucagon


O principal fator que estimula a secreção de glucagon é a redução dos níveis de glicose de
forma inversamente proporcional, quanto menor a glicemia, mais potente o efeito sobre a
secreção de glucagon.

Outros fatores, como o exercício físico extenuante e a elevação plasmática de aminoácidos,


também estimulam a secreção do glucagon, como também fazem para a secreção de insulina.
Contudo, é importante que se saiba que o propósito final é diferente:

 A insulina estimulará a captação de aminoácidos para a síntese de proteínas e a


bioconversão em gorduras.
 O glucagon agirá estimulando a gliconeogênese a partir dos aminoácidos.

Funções do glucagon

As ações do glucagon estão associadas a um ambiente fisiológico específico, entretanto, ele


tem ação contrária à maioria dos efeitos da insulina. O glucagon e a insulina são, portanto,
hormônios antagônicos.

O papel do glucagon sobre a disponibilidade de nutrientes ocorre em um ambiente fisiológico


de escassez, como no jejum, quando há uma tendência para que ocorra a hipoglicemia. Assim,
as funções do glucagon incidirão sobre um conjunto de enzimas-chave, presentes em tecidos
específicos para garantir a homeostase.

Efeitos do glucagon sobre o metabolismo

O glucagon é recrutado em situações de hipoglicemia e os seus principais efeitos são:

1. Promover a degradação do glicogênio hepático.


2. Inibir a síntese de glicogênio.
3. Estimular a gliconeogênese.

Os mecanismos de ação do glucagon iniciam a partir da interação com um receptor de


membrana, acoplado ao sistema de comunicação celular da proteína G e adenilato ciclase, que
leva à produção do segundo mensageiro AMPc. Este, por sua vez, ativa a PKA para então ativar
todas as enzimas-chave das vias metabólicas da degradação e síntese do glicogênio e
gliconeogênese, provocando seus efeitos metabólicos.

Ao contrário da ação sobre os estoques hepáticos de glicogênio, o glucagon não é capaz de


atuar sobre os estoques do músculo esquelético. Um dos motivos é o fato do músculo não ser
um tecido-alvo para glucagon, pois não possui os receptores específicos.
O glucagon ainda é capaz de promover a mobilização de ácidos graxos, no tecido adiposo, ao
estimular a enzima lipase que degrada os triglicerídeos e libera os ácidos graxos e glicerol na
circulação.

Doenças da tireoide – Vídeo

Integração metabólica mediada pela ação dos hormônios

Temos um entendimento, hoje, na endocrinologia, que, praticamente todos os tecidos do


nosso corpo são capazes de produzir substâncias químicas que atuam como hormônios.
Classicamente, conhecemos as glândulas, porque elas são especialistas em fazer isso. Temos as
suprarrenais, as gônadas, a hipófise, a tireoide, o pâncreas, que são glândulas clássicas. Mas
sabemos, hoje, que o estômago, o intestino, a pele, os ossos, os vasos sanguíneos, os átrios
cardíacos, o músculo, o tecido adiposo, todos participam do sistema endócrino e, através dos
hormônios, todos se comunicam. Através dessas comunicações conseguimos estabelecer,
didaticamente, eixos de integração metabólica.

Uma das glândulas mais estudadas é o pâncreas, que tem um conjunto de células, que pode
ser dito pâncreas-endócrino, que atribui a ele a capacidade endócrina, na medida que células
pancreáticas localizadas nas ilhotas de Langerhans são capazes de produzir substâncias
químicas que atuam de forma sistêmica, são secretadas na corrente sanguínea e vão atuar de
forma sistêmica. Basicamente o pâncreas endócrino é compreendido por células que secretam
insulina, glucagon e somatostatina, que vão atuar em praticamente todos os tecidos do nosso
corpo.

Um outro eixo muito clássico de estudo da fisiologia endócrina é o eixo entre o hipotálamo e a
hipófise e vários órgãos-alvo periféricos. O hipotálamo é capaz de receber sinais periféricos de
diversas fontes, diversas origens, como sinais envolvendo o controle de homeostase, de
pressão arterial, de volemia, de osmolaridade, de fome e saciedade e, através dessas respostas
que ele recebe, ele percebe a necessidade fisiológica e, na medida em que ele percebe essa
necessidade, ele exerce efeito sobre a hipófise, que é uma pequena glândula localizada na base
do cérebro, imediatamente abaixo do hipotálamo e é dividida em duas porções: a
adenohipófise ou hipófise anterior e a neurohipófise ou hipófise posterior. A adenohipófise é
formada por células endócrinas e é irrigada por uma rede de capilares especiais que é
proveniente da circulação hipotalâmica. Quando o hipotálamo recebe esses sinais periféricos,
como, por exemplo, um sinal de estresse, o indivíduo está em jejum e o jejum, em função da
tendência à redução da glicemia vai ser percebido pelo hipotálamo que vai liberar um fator
capaz de cair no sistema circulatório próprio, chamado de porta-hipofisário, o fator CRH ou
hormônio liberador de corticotrofina, e esse hormônio cai na circulação porta-hipofisária, vai
atuar na adenohipófise, especificamente em células especializadas em secretar outro fator
hormonal, conhecido como ACTH ou hormônio adrenocorticotrófico. Esse fator vai cair na
corrente sanguínea sistêmica e vai atuar sobre o córtex da suprarrenais promovendo a
liberação do cortisol, que, caindo na corrente sanguínea sistêmica pode contribuir para evitar
que essa glicemia tenda a uma redução, a uma hipoglicemia, provocando, no fígado, por
exemplo, um estímulo sobre a gliconeogênese, sustentando essa gliconeogênese através do
catabolismo de proteínas no tecido muscular, ou seja, ele estimula o tecido muscular a quebrar
as suas proteínas para liberar aminoácidos, que são destinados ao metabolismo hepático e as
enzimas da gliconeogênese, que estão sendo estimuladas pelo próprio cortisol vão transformar
esses aminoácidos em glicose e assim conseguimos manter a glicemia mesmo em períodos de
jejum muito longos. E, dessa forma, temos um ótimo exemplo de integração metabólica em
que temos o hipotálamo controlando a hipófise, por sua vez controlando uma glândula
endócrina periférica e essa glândula endócrina secreta um fator hormonal, o cortisol, que atua
em diferentes tecidos para garantir a homeostase fisiológica.

Esses são eixos de integração metabólica.

Um terceiro exemplo é associado ao controle da glândula tireoide. Da mesma forma, sinais


periféricos, que incluem mecanismos de feedback negativo e positivo podem ser percebidos
pelo hipotálamo. Os hormônios produzidos pela tireoide são os hormônios T 3 e T4 ou
triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). Esses dois hormônios têm níveis que devem ser mantidos
em equilíbrio na corrente sanguínea. Quando os níveis desses hormônios estão tendendo a
uma redução, o hipotálamo percebe, secreta um fator, o hormônio liberador de tireotropina,
que cai na circulação porta-hipofisária, atua em células especializadas na adenohipófise,
liberando o hormônio tireoestimulante, que cai na corrente sanguínea e estimula a tireoide a
produzir e liberar os hormônios T 3 e T4. E assim é mantido um equilíbrio constante, uma
manutenção de homeostase dos níveis dos hormônios T 3 e T4. Quando esse equilíbrio é
perdido podemos desenvolver quadros clínicos como o hipertireoidismo e hipotireoidismo. No
caso do hipertireoidismo é possível que uma pessoa desenvolva um aumento na produção
desses hormônios. Isso muitas vezes pode ser explicado por doenças autoimunes, que
acometem as células da tireoide que ficam superativas, produzindo muito hormônio T 3 e T4 e
os níveis hormonais na corrente sanguínea ficam elevados. Quanto maior é o nível hormonal,
mais potente é o seu efeito de um modo geral. O que vamos observar no hipertireoidismo é
uma potencialização dos efeitos dos hormônios tireoidianos. Esses hormônios promovem a
termogênese, aumentam o nível de atenção, que aceleram a frequência cardíaca, aumentam o
gasto calórico. Em uma pessoa com hipertireoidismo observamos quadros como perda de
peso, agitação, taquicardia, insônia, ela pode alterar algumas respostas fisiológicas, alterando
quadros inflamatórios, pode desenvolver inflamação na órbita ocular e isso leva à exoftalmia,
onde a inflamação nas órbitas empurra os olhos para fora e pode ser um indicativo de
gravidade da doença em função da evolução desse quadro. Já em uma situação oposta, o
hipotireoidismo, que não é um quadro muito comum, é normal que o hipotireoidismo venha
acompanhado de uma deficiência nutricional de iodo, porque esses hormônios da tireoide são
derivados do aminoácido tirosina, mas têm iodo em sua composição. O hormônio T 3 tem três
átomos de iodo e o hormônio T4 tem quatro átomos de iodo. E sem iodo na composição
alimentar, para formação desses hormônios, não teremos a síntese desses hormônios de forma
adequada. Isso pode criar um quadro oposto ao quadro do hipertireoidismo, na medida em
que a falta desses hormônios vai levar à falta dos seus efeitos, assim, teremos uma pessoa que
pode estar letárgica, mais vagarosa, com menor nível de atenção, muito mais sonolenta,
tendendo ao acúmulo de peso, a um metabolismo mais desacelerado, uma taxa metabólica
basal mais baixa, o que leva a todas essas consequências. Nesse caso, pode ocorrer um quadro
chamado de bócio, que é a hipertrofia da glândula tireoide. Isso acontece justamente porque o
mecanismo de feedback negativo sobre o hipotálamo não é desligado nunca. Quando os níveis
de T3 e T4 estão diminuídos, o hipotálamo é capaz de perceber e vai ativar o eixo liberando o
hormônio liberador de tireotropina, que por sua vez atua na adenohipófise, liberando o
hormônio tireoestimulante, que vai atuar na tireoide estimulando a síntese de T 3 e T4. Só que
nesse caso, a síntese de T3 e T4 não acontece, porque não tem iodo, então os níveis de T3 e T4
na corrente sanguínea permanecem baixos e, assim, o hipotálamo continua permanentemente
estimulando a adenohipófise, que por sua vez continua estimulando a tireoide, que não resolve
o problema. Então, o mecanismo de feedback negativo não consegue atuar, não consegue
desligar o hipotálamo e a hipófise e, assim, a glândula tireoide fica sendo estimulada
continuamente, hipertrofia, aumenta de volume e aí teremos aquele aumento de massa na
região anterior do pescoço, que é conhecida como bócio.

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