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Fisiologia do Sistema Endócrino

Conteudista: Prof.ª Dra. Tábata de Paula Facioli Marinheiro


Revisão Textual: Esp. Camila Colombo dos Santos

Objetivo da Unidade:

Compreender o funcionamento fisiológico básico do sistema endócrino,


além de proporcionar o conhecimento das principais respostas desse
sistema diante das exigências físicas.

ʪ Contextualização

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
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ʪ Contextualização

A Fisiologia do Sistema Endócrino dedica-se a compreender os hormônios, substâncias


secretadas por glândulas especializadas, que, quando lançados na corrente sanguínea,
apresentam ação local ou sistêmica.

Imagine que você saiu para trabalhar e esqueceu a janela do quarto aberta. Então começou a
chover! Você precisa fechar a janela, mas não está em casa. O que você faz? Pega o telefone, liga
para a sua mãe e pede para ela fechar a janela. Os hormônios, substâncias liberadas por
glândulas presentes em diversas regiões do nosso organismo, agem como o telefone dessa
pequena história, transmitindo informações entre órgãos, tecidos e células, controlando
diversas funções corporais.

É isso que acontece, por exemplo, durante a infância, em que o hormônio do crescimento atua
passando a informação de que “é necessário crescer” para as células de todo o corpo, ou então,
após uma sessão de treinamento, em que substâncias como a testosterona atuam na
contribuição do aumento de força a partir do aumento de massa muscular.  O sistema endócrino
atua na produção, na secreção e na regulação desses mensageiros químicos, a fim de manter o
equilíbrio entre dose e resposta no organismo. Portanto, o entendimento desse sistema em
repouso e diante situações de maiores exigências físicas é relevante para os profissionais de
saúde intervirem de forma apropriada e eficiente em face das respostas hormonais do corpo
humano.
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ʪ Material Teórico

Introdução à Fisiologia Endócrina


O sistema endócrino é o sistema que compreende os hormônios, que são substâncias formadas
por proteínas, aminoácidos ou esteroides e secretadas por glândulas especializadas; quando
lançados na corrente sanguínea, os hormônios apresentam ação local ou sistêmica. Eles atuam,
juntamente do sistema nervoso, controlando diferentes respostas do organismo, como função
reguladora, homeostática, de desenvolvimento, de reprodução, dentre outras. Mas, antes, para
entender melhor esse sistema, precisamos aprender sobre os mecanismos de regulação.

O organismo animal é uma complexa rede de sistemas que funcionam simultaneamente. O


funcionamento de cada órgão é denominado fisiologia. Para manter as condições constantes e
equilibradas no organismo (homeostasia), existem três sistemas de regulação: feedback
negativo, feedback positivo e feed foward. O feedback negativo atua inversamente proporcional ao
organismo, ou seja, atua inibindo a sua função. Por exemplo, se um hormônio está em alta
concentração na corrente sanguínea, o feedback negativo trabalha inibindo a produção desse
hormônio. Por outro lado, o feedback positivo trabalha de modo a potencializar a função, agindo
proporcionalmente ao organismo. Isso acontece, por exemplo, durante as contrações uterinas
que vão se intensificando com o decorrer do tempo. O feed forward trabalha como uma
prevenção ao erro, controlando-o antes de acontecer. É essa regulação que age quando estamos
andando e perdemos o equilíbrio. Nessa situação, antes de cair, nós conseguimos, de alguma
forma (colocando outro pé na frente, saltando), recuperar o equilíbrio e manter a estabilidade a
partir do feed forward controlado, nesse caso de ação motora, pelo cerebelo. Esses mecanismos
não só regulam controle motor e outros aspectos, mas também a produção e a secreção dos
hormônios. Essa regulação também pode acontecer por ritmos biológicos, como o ciclo
circadiano, que varia no tempo de 24 horas.
Você Sabia?
A ingestão exagerada do álcool faz com que o feed forward do
organismo não funcione adequadamente, é por isso que pessoas
bêbadas tendem a perder o equilíbrio ao andar e podem cair facilmente.

Hormônio
Existem três classes gerais de hormônios: (i) hormônios formados por proteínas e
polipeptídios, (ii) formados por esteroides e (iii) formados por derivados de aminoácidos de
tirosina. Os hormônios são produzidos em diversos órgãos (Figura 1) e possuem diversas
funções (Quadro 1). Nesse sentido, os hormônios endócrinos são liberados por glândulas ou
células especializadas no sangue e influenciam a função das células-alvo em outro local do
corpo; os hormônios neuroendócrinos são secretados por neurônios no sangue e influenciam a
função de células-alvo em outro local do corpo; os autócrinos são secretados por células no
líquido extracelular e afetam a função das mesmas células que os produziram; os parácrinos são
secretados por células também no líquido extracelular, porém, diferentemente dos autócrinos,
afetam células-alvo vizinhas de tipo diferente.
Figura 1 – Localização anatômica das principais glândulas
e órgãos produtores de hormônios
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011

Quadro 1 – Principais hormônios, estrutura química, local de produção e função


Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011
Quando o hormônio chega à célula-alvo específica, ele se liga a um receptor específico, ou seja,
um hormônio só se ligará ao seu receptor, por isso cada hormônio atua em um tecido particular
(células de diferentes tecidos possuem diferentes receptores), essa ligação funciona como
chave e fechadura. Quando o hormônio se liga ao seu receptor específico, inicia-se uma
sucessão de reações na célula, sendo o produto final a função principal do hormônio. Cada etapa
dessas reações potencializa ainda mais a célula, deixando-a mais sensível. Devido a esse efeito
potencializador, até pequenas concentrações hormonais podem desencadear um efeito potente.
Esses receptores podem estar localizados em distintos espaços celulares e dependem da
estrutura química dos seus hormônios específicos: receptores para hormônios proteicos e
peptídicos normalmente estão localizados na membrana celular; receptores para hormônios
esteroides se encontram, geralmente, no citoplasma das células; enquanto os receptores para
hormônios da tireoide estão localizados no núcleo da célula.

Glossário
Membrana Celular: é a membrana que envolve a célula, delimitando-a
e protegendo-a;
Citoplasma: é o espaço interno da célula, onde estão localizadas as
principais organelas das células, como a mitocôndria, e o núcleo;
Núcleo Celular: é o compartimento celular onde as informações
genéticas são armazenadas.

Independentemente do receptor, a consequência dessa ligação hormônio-receptor é a ativação


celular. Os hormônios que sinalizam via receptores na membrana plasmática geram respostas
fisiológicas distintas: ativação de enzimas, alteração da membrana plasmática, estímulo à
síntese de proteínas, estímulo à secreção celular e à alteração do metabolismo. Por outro lado, os
hormônios que sinalizam via receptores presentes no citoplasma e núcleo têm como resposta
celular a síntese proteica (proteínas estruturais e reguladoras) e a síntese de enzimas.

Função Endócrina do Hipotálamo


O hipotálamo é uma estrutura cerebral que possui função endócrina graças à influência que
exerce sobre a hipófise. A hipófise é uma glândula pequena (possui aproximadamente 1
centímetro de diâmetro e pesa de 0,5 a 1 grama), situada na base do cérebro e conectada ao
hipotálamo pelo pendúnculo hipofisário (Figura 2). Fisiologicamente, a glândula hipófise pode
ser dividida em duas partes: a hipófise anterior (conhecida também como adeno-hipófise) e a
hipófise posterior (conhecida também como neuro-hipófise). A secreção efetuada pela região
anterior da hipófise é controlada por hormônios, chamados de hormônios liberadores e
hormônios (ou fatores) hipotalâmicos inibidores, secretados pelo próprio hipotálamo, e esses
hormônios são levados à hipófise anterior por meio de pequenos vasos sanguíneos. Por outro
lado, a hipófise posterior é controlada por sinais neurais oriundos do hipotálamo e terminam na
região hipofisária posterior. Seja por secreção de hormônios, seja por estímulos neurais, o
hipotálamo é capaz de controlar a hipófise e, por isso, é uma importante porção do sistema
endócrino.
Figura 2 – Anatomia da glândula hipófise
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011

A Glândula Hipófise

Hipófise Anterior
A hipófise anterior é responsável por secretar seis hormônios peptídeos que desempenham
papéis importantes no controle das funções metabólicas do organismo e outros hormônios de
menor importância. Os seis hormônios de maior importância são:

Hormônio do crescimento (GH): é responsável pelo


crescimento de todas as células do organismo, promove a
formação de proteínas e a multiplicação e diferenciação
celular;

Adrenocorticotropina (Corticotropina): é responsável por controlar a secreção de


hormônios adrenocorticais que afetam o metabolismo da glicose, das proteínas e
das gorduras;

Hormônio estimulante da tireoide (Tireotropina): como o próprio nome diz, esse


hormônio controla a secreção de hormônios da tireoide (tirosina e tri-iodotironina)
e controla a velocidade da maioria das reações químicas intracelulares;

Prolactina: controla o crescimento da glândula mamária e a


produção de leite;

Hormônio folículo estimulante e hormônio luteinizante (hormônios


gonadotrópicos): são responsáveis por controlar o desenvolvimento e o
crescimento dos ovários e dos testículos, bem como as atividades reprodutivas
(Figura 3).
Figura 3 – Hormônios secretados pela hipófise anterior,
órgãos de atuação e funções
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011
Hormônio do Crescimento (GH)
O hormônio do crescimento merece um pouco mais de atenção, porque, ao contrário dos outros
hormônios, que exercem seus efeitos principais por meio do estímulo de glândulas-alvo, o
hormônio do crescimento exerce seus efeitos diretamente sobre todos ou quase todos os
tecidos do organismo e seu efeito diversificado depende do tipo celular. Além de seu efeito geral
de provocar o crescimento, o GH possui também efeitos metabólicos específicos como: (i)
aumento da síntese proteica na maioria das células do organismo, (ii) aumento da mobilização
dos ácidos graxos do tecido adiposo, aumento da concentração de ácidos graxos no sangue e a
utilização deles como fonte de energia e (iii) redução da utilização da glicose como fonte de
energia no organismo.

Para aumentar a síntese proteica, o GH potencializa vários mecanismos celulares que estão
ligados ao crescimento, aumentando o transporte de aminoácidos para dentro das células. Além
disso, o GH apresenta também capacidade de aumentar a síntese de proteínas pelos ribossomos,
porque aumenta a transcrição nuclear do DNA e, consequentemente, a formação de RNAm. A
produção de proteínas, se aliada a fontes de energia, vitaminas e outros requisitos, promove o
crescimento. Em resumo, o GH promove a captação de aminoácidos, aumenta a síntese proteica
e reduz a destruição das proteínas.

Saiba Mais
Os aminoácidos são essenciais na produção de proteínas, as quais são
uma junção de diversos aminoácidos, organizados estruturalmente.

Para que uma nova proteína seja produzida, é necessário que a parte do
DNA que codifica essa proteína, isto é, a parte do DNA que formará essa
proteína, seja ativada para formar RNA mensageiro (RNAm). O RNAm
irá para o ribossomo onde será transcrito e a proteína será formada.

Descobriu-se também que o GH faz com que o fígado forme diversas proteínas pequenas,
chamadas de somatomedinas. Essas proteínas apresentam o potente efeito de aumentar todos
os aspectos do crescimento ósseo. Até hoje, quatro tipos diferentes de somatomedinas foram
descobertas, a mais importante dela é a somatomedina C.

Você Sabia?
Os pigmeus, povo da África, apresentam uma incapacidade congênita
de produzir quantidades significativas de somatomedina C, e isso não
está ligado à produção do GH, já que esse povo possui concentrações
normais do hormônio, mas, aparentemente, há baixas quantidades de
somatomedina C no plasma.
Saiba Mais
Algumas pessoas têm problemas na produção do hormônio do
crescimento e, por isso, têm o desenvolvimento comprometido.
Cientistas editaram a informação genética de um tipo de bactéria para
esta passar a produzir e secretar o hormônio do crescimento. Esse
hormônio é, então, administrado para essas pessoas, e elas podem
fazer a reposição hormonal, evitando o comprometimento no
desenvolvimento.

A regulação da secreção do GH é mediada por diferentes fatores, mas os mecanismos ainda são
desconhecidos (Quadro 2).

Quadro 2 – Fatores que estimulam ou inibem a secreção de GH

Estimulam a Secreção do Inibem a Secreção do Hormônio


Hormônio do Crescimento do Crescimento

Diminuição da Glicose no
Glicose Sérica Aumentada
Sangue

Diminuição dos Ácidos Graxos Aumento dos Ácidos Graxos


Livres no Sangue Livres no Sangue
Estimulam a Secreção do Inibem a Secreção do Hormônio
Hormônio do Crescimento do Crescimento

Aumento dos Aminoácidos no


Envelhecimento
Sangue (Arginina)

Privação ou Jejum, Deficiência


Obesidade
de Proteínas

Traumatismo, Estresse, Hormônio Inibidor do Hormônio


Excitação do Crescimento (Somatostatina)

Hormônio do Crescimento
Exercícios
(Exógeno)

Somatomedinas (Fatores de
Testosterona, Estrogênio Crescimento Semelhantes à
Insulina)

Sono Profundo (Estágios II e IV)

Hormônio Liberador do
Hormônio do Crescimento

Grelina

Fonte: Adaptado de GUYTON; HALL, 2011

Hipófise Posterior
A hipófise posterior é responsável pela liberação de apenas dois hormônios: a vasopressina e a
ocitocina. A vasopressina (também conhecida como hormônio antidiurético ou ADH) é
responsável pela reabsorção de água na filtração renal e, por isso, controla a quantidade de água
nos líquidos corporais. A ocitocina é um hormônio que estimula a ejeção de leite pelas mamas,
além de possuir importante papel no final da gestação e durante o parto por estimular as
contrações da musculatura lisa do útero. Esse último ocorre devido à posição do feto durante o
trabalho de parto, o que estimula o colo uterino, causando dilatação. Essa dilatação desencadeia
a liberação de sinais neurais que se dirigem para o hipotálamo e causam aumento da secreção de
ocitocina, levando ao aumento nas contrações (processo de feedback positivo). Por sua vez, o
efeito da ocitocina sobre a ejeção de leite ocorre por meio do estímulo mecânico gerado quando
o bebê suga e morde o mamilo, estimulando o hipotálamo, que, consequentemente, manda
sinais para a hipófise secretar ocitocina, a qual agirá nas células musculares galactóforas,
causando a liberação do leite.

A Glândula Tireoide
A tireoide é uma das maiores glândulas do organismo, pesa de 20 a 30 gramas e está localizada
abaixo da laringe, ocupando as regiões lateral e anterior da traqueia (Figura 1). A principal
função dessa glândula é controlar (aumentar) o metabolismo do corpo, por meio da secreção
dos hormônios tiroidianos tiroxina e tri-iodotironina (usualmente chamados de T3 e T4). A

produção e a liberação desses hormônios são, principalmente, reguladas pelo hormônio


estimulante da tireoide (TSH ou tireotrofina), secretado pela hipófise anterior. A tireoide é
responsável também por um hormônio importante para o metabolismo do cálcio, a calcitonina.

Para a formação da quantidade normal de tiroxina, é necessária a ingestão de iodo na forma de


iodeto. O iodeto ingerido é absorvido no trato gastrointestinal para a corrente sanguínea, que
transportará parte desse iodeto até os folículos da tireoide, a outra parte será excretada pelos
rins. Uma vez na tireoide, o iodeto permanecerá na estrutura denominada coloide (Figura 4). A
entrada do iodeto nas células da tireoide acontece através da bomba de iodeto, presente na
membrana basal da célula. A atividade da bomba de iodeto é influenciada por diversos fatores,
dos quais o mais importante é o hormônio TSH.

Além disso, as células epiteliais da tireoide podem também secretar tiroglobulina para o folículo
que contém aminoácidos de tirosina a que o iodeto vai se ligar. Nesse sentido, o retículo
endoplasmático e o aparelho de Golgi produzem e secretam a glicoproteína tireoglobulina nos
folículos. Essa proteína apresenta grande quantidade de tirosina, molécula que se ligará ao iodo e
formará os hormônios tireoidianos. Após a entrada de iodeto na célula, ele precisa ser
convertido na forma oxidada do iodo. A ligação entre a molécula de tirosina e a forma oxidada do
iodo é chamada de organificação, em que o principal produto é a tiroxina.

Ademais, a tireoide tem a capacidade de armazenar hormônios, a tireoglobulina acumulada nos


folículos contém aproximadamente trinta moléculas de tiroxina e algumas de tri-iodotirosina, e
são nessas formas que os hormônios tireoidianos são armazenados nos folículos.

Importante!
Em resumo, a liberação de hormônios pela tireoide acontece da
seguinte maneira: o hipotálamo produz o hormônio estimulador de
TSH, que estimula a tireoide a secretar o hormônio tiroxina (T4), que é

convertido em tri-iodotirosina (T3), o hormônio ativo que estimula o

metabolismo.
Figura 4 – Corte histológico da tireoide, demonstrando os
diferentes compartimentos da glândula
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011

Os efeitos biológicos dos hormônios T3 e T4 são diversificados e incluem o aumento da

quantidade de mitocôndrias, da gliconeogênese e da glicólise, da síntese proteica e da


mobilização lipídica. Os hormônios tireoidianos também possuem efeitos biológicos no sistema
circulatório. Eles atuam acelerando o metabolismo nos tecidos, o que ocasiona aumento na
liberação de produtos que normalmente causam vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo e
do débito cardíaco. No sistema muscular, os hormônios tireoidianos atuam aumentando a
velocidade muscular, sendo que, em pequenas concentrações, os hormônios tireoidianos fazem
com que os músculos reajam com vigor; e, em grandes concentrações, os músculos ficam
enfraquecidos. Durante o desenvolvimento fetal, os hormônios tireoidianos atuam na
multiplicação neuronal, nas sinapses e no desenvolvimento de dendritos e axônios. Por fim, no
sistema respiratório, contribuem para o desenvolvimento e a manutenção alveolar.

Glossário
Gliconeogênese: produção de energia por meio da lipólise e proteólise
(quebra de lipídeos e de proteínas) que acontece no fígado.

A tireotropina (hormônio estimulante da tireoide) possui diferentes mecanismos para estimular


a produção de tiroxina e tri-iodotironina: ela aumenta a proteólise de tireoglobulina, a atividade
da bomba de iodeto, a iodização da tirosina e da atividade secretora das células da tireoide e pode
também estimular o aumento das células tireoidianas. A produção dos hormônios tireoidianos
precisa ser extremamente controlada; se esses hormônios forem secretados em maior ou em
menor quantidade, eles podem causar duas patologias distintas: o hipertireoidismo e o
hipotireoidismo. As duas condições podem causar efeitos no metabolismo corporal, a primeira
acelerando-o e a segunda desacelerando-o.

Glândulas Adrenais
As glândulas adrenais (suprarrenais) estão localizadas no interior do rim, mais especificamente
em seus polos superiores. Cada glândula se divide fisiologicamente em duas partes: medula
adrenal e córtex adrenal e cada uma possui uma função fisiológica diferente (Figura 5). A medula
adrenal funciona como uma glândula neuroendócrina e é funcionalmente relacionada com o
sistema nervoso simpático. Nesse sentido, a medula secreta hormônios da classe de
catecolaminas, como adrenalina e noradrenalina, que atuam de forma independente em
resposta ao estímulo simpático. Enquanto a adrenalina atua no mecanismo de defesa, a
noradrenalina está relacionada com o raciocínio e as emoções. Por sua vez, o córtex produz
hormônios denominados corticosteroides, que são sintetizados a partir do colesterol esteroide
e, por isso, possuem estrutura química parecida, mas desempenham papéis diferentes no
organismo.

Figura 5 – Corte histológico do rim, evidenciando as


diferentes zonas renais
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011
Os hormônios corticosteroides podem ser divididos em três tipos diferentes:
mineralocorticoides, glicocorticoides e, em pequena quantidade, os hormônios androgênicos.
Os mineralocorticoides têm essa denominação porque agem especificamente nos minerais
presentes nos líquidos extracelulares, especialmente sódio e potássio. O principal
mineralocorticoide é a aldosterona, que atua na reabsorção de água e na secreção de potássio
nos túbulos glomerulares. Se a aldosterona for secretada em concentrações acima do
necessário, há desequilíbrio da homeostasia eletrolítica do líquido extracelular porque haverá
muita reabsorção de sódio e pouca de potássio. De modo contrário, a falta da aldosterona causa a
perda exagerada de sódio e a absorção exagerada de potássio. Esse desequilíbrio eletrolítico pode
causar aumento da pressão arterial, fraqueza muscular e alcalose. A secreção de aldosterona
pode ser estimulada por redução de sódio no citoplasma da célula, diminuição do volume
sanguíneo e da pressão arterial.

Já os glicocorticoides recebem esse nome por exercerem efeitos importantes que aumentam a
concentração sanguínea de glicose. O principal hormônio glicocorticoide é o cortisol. Esse
hormônio produz efeito hiperglicemiante, ou seja, aumenta a hiperglicemia porque impede que
a glicose entre na célula; além disso, o cortisol também é um importante estimulador da
gliconeogênese. O cortisol possui diferentes mecanismos para estimular a gliconeogênese:
estimula o aumento de enzimas hepáticas responsáveis pela transformação de aminoácidos em
glicose nas células hepáticas e provoca a mobilização de aminoácidos a partir de tecidos extra-
hepáticos (principalmente o músculo hepático). Outra função importante do cortisol é seu papel
anti-inflamatório, isso acontece porque o cortisol (i) impede que enzimas que provocam
inflamação sejam liberadas pelas células lesionadas, (ii) altera a permeabilidade dos capilares,
evitando a perda de plasma para os tecidos (e consequentemente o edema), (iii) reduz a
migração de leucócitos para o tecido inflamado, (iv) suprime a proliferação de linfócitos (em
especial o linfócito T) e, com isso, suprime também as reações teciduais que causam inflamação
e (v) diminui a febre. Outro glicocorticoide que existe é a cortisona, que, assim como a
aldosterona, atua na reabsorção de água, porém em um nível muito menor.
Glossário
Hiperglicemia: aumento de glicose no sangue.

Os hormônios androgênicos são hormônios sexuais masculinos ou femininos. Os hormônios


sexuais masculinos (por exemplo: testosterona) são continuamente secretados pelo córtex
adrenal, especialmente durante a vida fetal, enquanto os hormônios sexuais femininos,
progesterona e estrogênios, são secretados em quantidades minúsculas. Contudo, o papel
específico desses hormônios ainda permanece obscuro.

Os hormônios produzidos pela glândula suprarrenal, como mencionado, têm como composição
química o colesterol. O colesterol ingerido por intermédio da alimentação chega ao córtex
suprarrenal por meio da corrente sanguínea. O colesterol é armazenado em pequenas vesículas
de colesterol que são transportadas para a mitocôndria quando é necessária a produção de
mineralocorticoides. É na mitocôndria que diversas atividades enzimáticas acontecem e é nela
que ocorre a transformação de colesterol em hormônio. Para que a vesícula de colesterol entre
na mitocôndria, são necessários dois hormônios: o hormônio liberador de corticotrofina (CRH)
e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O primeiro é produzido pelo hipotálamo e estimula a
hipófise a produzir o ACTH, este, então, permite o transporte do colesterol do citoplasma para a
mitocôndria.

O Pâncreas Endócrino
O pâncreas, assim como os rins, possui mais de uma função principal. As principais funções do
pâncreas são produzir as enzimas necessárias para a digestão dos alimentos e produzir dois
importantes hormônios, a insulina e o glucagon. Por ter duas funções principais, o pâncreas é
dividido fisiologicamente em duas partes também, digestório e endócrino, e é formado por dois
tipos principais de tecidos, os ácinos e as ilhotas de Langherans. O primeiro é responsável por
secretar suco pancreático; e o segundo, por secretar insulina e glucagon no sangue. As ilhotas
de Langherans possuem três tipos celulares principais, as células alfa, beta e delta, que se
distinguem entre si pelas suas características morfológicas (Figura 6). As células beta secretam
principalmente insulina e amilina, as células alfa secretam glucagon, enquanto as células delta
secretam somatostatina.

Figura 6 – Anatomia do pâncreas e das ilhotas de


Langerhans
Fonte: Adaptada de GUYTON; HALL, 2011

A insulina tem papel vital no transporte de glicose para o citoplasma celular e no


armazenamento da glicose no tecido muscular (glicogênese). Em síntese, a insulina tem papel
fundamental na administração da glicose. A insulina passa por alguns processos até ser
sintetizada: primeiro, é produzida no retículo endoplasmático da célula beta uma substância
denominada pré-pró-insulina, que será, ainda no retículo endoplasmático, clivada e formará a
pró-insulina. A insulina é então formada a partir da clivagem da pró-insulina no complexo de
Golgi.

Após ser liberada na corrente sanguínea, a vida média da insulina dura aproximadamente seis
minutos. A insulina que não se ligar ao receptor nas células-alvo será degradada pela enzima
insulinase. Essa degradação ocorre principalmente no fígado, mas também, em menor
quantidade, nos rins e músculos e, menos ainda, em outros tecidos. Após a ligação da insulina
ao seu receptor específico, a célula responde ao sinal e (i) aumenta a sua captação de glicose em
até 80% (a glicose é fosforilada, gerando substratos para o metabolismo de carboidratos); e (ii) a
membrana celular fica permeável, aumentando a entrada de aminoácidos, íons de potássio e
fosfato na célula.

Após a ingestão de carboidratos, a secreção de insulina é aumentada (devido à absorção de


glicose para o sangue), o que causa a captação, a utilização e o armazenamento de glicose em
todas as células do organismo, principalmente pelas células do tecido muscular, adiposo e
hepático. O hormônio insulina facilita o transporte da glicose para as células musculares e, se a
entrada de glicose na célula for maior que a necessidade energética, a glicose é armazenada no
músculo em forma de glicogênio, o qual poderá ser usado posteriormente pelo músculo.

Você Sabia?
A reserva de glicose em forma de glicogênio é especialmente útil em
momentos de necessidade energética extrema como, por exemplo,
durante o pico de energia anaeróbica.
Por outro lado, durante a maior parte do dia, o tecido muscular utiliza a glicose e outra fonte de
energia, os ácidos graxos. Isso ocorre, porque, em estado de repouso, os níveis de insulina são
baixos e as células são apenas ligeiramente permeáveis à insulina. Porém, quando a quantidade
de glicose é superior à capacidade do fígado de produzir glicogênio, a insulina promove a
transformação de glicose em ácidos graxos, que serão, posteriormente, transformados em
triglicerídeos. O triglicerídeo é, então, armazenado em forma de gordura no tecido adiposo.

Durante o período entre as refeições, a concentração de glicose decresce, causando (i)


diminuição na produção de insulina e (ii) diminuição na produção de glicogênio, principalmente
no fígado. Como resultado, essa baixa concentração de insulina leva à ativação da enzima
fosforilase, que resulta na clivagem de glicogênio em glicose fosfato e, finalmente, na
transformação da glicose fosfato em glicose livre na corrente sanguínea. Dessa forma, o fígado
captura glicose da corrente sanguínea quando ela está em grande quantidade no sangue e
devolve-a para a corrente sanguínea quando a concentração diminui, funcionando como um
grande reservatório de energia.

Saiba Mais
Diferentemente das células de outros tecidos, as células do sistema
nervoso não precisam de insulina para o transporte de glicose porque
são altamente permeáveis à glicose. Porém, essas células utilizam a
glicose como fonte de energia principal e, em pouca quantidade, a
gordura. Se a concentração de glicose cair muito, começam a se
desenvolver os sintomas do choque hipoglicêmico, como a
irritabilidade nervosa progressiva, resultando na perda de consciência
(em casos mais graves, até coma).
Além de promover o armazenamento da glicose, a insulina também promove o armazenamento
de proteínas e gorduras que estão em grande quantidade na corrente sanguínea logo após as
refeições. Em relação às proteínas, o papel da insulina no seu armazenamento não é totalmente
elucidado, mas sabe-se que a insulina estimula o transporte de aminoácidos para o citoplasma
celular, inibe o catabolismo das proteínas e também diminui a gliconeogênese.

Como já descrito anteriormente, o principal estímulo para a liberação da insulina é a


concentração de glicose na corrente sanguínea, mas esse fator não é único. O Quadro 3 sumariza
os principais estímulos para a secreção ou inibição da insulina.

Por outro lado, a secreção do glucagon ocorre quando a concentração da glicose na corrente
sanguínea diminui. Os principais efeitos do glucagon são a quebra do glicogênio hepático e a
gliconeogênese no fígado, ou seja, o papel do glucagon é inversamente proporcional ao da
insulina. A insulina trabalha armazenando a glicose e tirando-a da corrente sanguínea,
enquanto o glucagon trabalha fornecendo glicose e liberando-a na corrente sanguínea. Em
geral, a insulina trabalha logo após as refeições e o glucagon durante o jejum, a fim de promover
o fornecimento de glicose para o organismo o tempo todo, mantendo, assim, a homeostase.

Quadro 3 – Fatores que estimulam ou inibem a secreção da insulina

Aumento da Secreção de Diminuição da Secreção de


Insulina Insulina

Diminuição da Glicose
Aumento da Glicose Sanguínea
Sanguínea

Aumento de Ácidos Graxos


Jejum
Livres no Sangue
Aumento da Secreção de Diminuição da Secreção de
Insulina Insulina

Aumento de Aminoácidos no
Somatostatina
Sangue

Hormônios Gastrointestinais
(Gastrina, Colecistocinina,
Atividade α-adrenérgica
Secretina, Peptídeo Inibidor
Gástrico)

Glucagon, Hormônio do
Leptina
Crescimento, Cortisol

Estimulação Parassimpática;
Acetilcolina

Estimulação -adrenérgica

Resistência Insulínica;
Obesidade

Medicamentos do Grupo
Sulfonilureia (Glyburide,
Tolbutamida)

Fonte: Adaptado de GUYTON; HALL, 2011


Importante!
A glicogênese e a gliconeogênese são processos diferentes, o primeiro é
o processo de armazenamento da glicose no tecido muscular, enquanto
o segundo é a formação de glicose a partir de fontes de proteína e
lipídeo.

Sistema Endócrino e Exercício


Durante a prática de exercício físico, a homeostase do organismo é quebrada, e então os
hormônios trabalham para que essa homeostasia seja restabelecida. A seguir, discutiremos os
efeitos da prática de exercício físico na secreção dos principais hormônios abordados nesta
unidade.

A liberação de GH em resposta ao exercício físico é dependente da duração e da intensidade do


esforço (quanto maior a intensidade e maior a duração, maior a secreção desse hormônio), do
condicionamento físico e de fatores ambientais, tais como nutrição (dietas ricas em gordura
inibem a secreção) e temperatura (quanto maior a temperatura, maior a concentração).
Resumidamente, o GH, durante e logo após o esforço, estimula a lipólise e a oxidação de ácidos
graxos, assim como aumenta a sensibilidade à ação das catecolaminas (noradrenalina e
adrenalina) no tecido adiposo. Além disso, o GH, assim como a insulina, também apresenta,
durante o treinamento de força, o processo de síntese de proteínas, reparo e regeneração
muscular, ou seja, o GH tem a função não só de redução de tecido adiposo, como também de
aumento de massa muscular.

O cortisol é liberado em qualquer situação em que a homeostase é perturbada e, como o exercício


físico afeta a homeostase, pode-se observar o aumento da secreção desse hormônio. O cortisol
estimula a lipólise no tecido adiposo e a degradação de proteínas nos músculos periféricos e a
síntese proteica. Essa ação resulta no aumento de ácidos graxos e aminoácidos na circulação
sanguínea. Agudamente, a secreção de cortisol tende a diminuir com o treinamento físico, ou
seja, quanto mais treinado, menor será a liberação desse hormônio no organismo.

Em relação às catecolaminas (noradrenalina e adrenalina), elas aumentam durante o esforço


físico, o que resulta, principalmente, na elevação da frequência cardíaca, do débito cardíaco e do
nível de açúcar no sangue.

Além disso, exercícios físicos de longa duração e com intensidade alta induzem uma maior
produção dos hormônios da tireoide, os quais possuem ação na mobilização e na oxidação de
ácidos graxos durante o exercício prolongado.

Assim como a insulina, o exercício físico estimula a captação de glicose (por isso recomenda-se
o esforço como tratamento para diabéticos e indica-se comer apropriadamente antes da
prática), a síntese proteica, a hipertrofia e o crescimento de músculos esqueléticos. Durante o
exercício físico, a secreção de glucagon também é aumentada, intensificando a quebra do
glicogênio, isto é, as respostas de ambos os hormônios ocorrem de modo coordenado para
manter os níveis de glicose no sangue apropriados para o exercício físico.

Além de todos esses efeitos mencionados, a atividade muscular também promove o


aquecimento do corpo e, consequentemente, o aumento da sudorese. A sudorese causa um
desequilíbrio entre a concentração de água e de íons no plasma sanguíneo (aumento da
osmolaridade), que é percebida pelo hipotálamo. A consequência final é a liberação de
concentrações ainda maiores de vasopressina na corrente sanguínea, causando maior taxa de
reabsorção de água nos túbulos néfricos.
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ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Vídeos  

Controle Hormonal e Insulina


Eixo Hipotálamo-hipófise

Medicina do Esporte – Hormônios e Exercícios Físicos

Medicina do Esporte - Hormônios e Exercicios Fisicos


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ʪ Referências

CURI, R.; ARAÚJO FILHO, J. P. Fisiologia Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

PITHON-CURI, T. C. Fisiologia do Exercício. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.

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