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ANIMAIS DOMÉSTICOS
Introdução
O sistema reprodutivo dos mamíferos é regulado por dois sistemas: o sistema hormonal e o
sistema nervoso. Cada um destes sistemas, tem um funcionamento específico, e a interação entre
os dois é fundamental para o conjunto de eventos/fenómenos fisiológicos que resultam na
reprodução.
Sistema hormonal
As hormonas são substâncias fisiológicas, orgânicas e químicas, sintetizadas e armazenadas em
células especializadas ou glândulas anatomicamente definidas. Estas hormonas são libertadas
para a corrente sanguínea e transportados (geralmente associadas a proteínas específicas) para
um órgão ou células onde estimulam ou inibem o seu funcionamento ou atividade.
Hipotálamo
O hipotálamo é uma região do cérebro, situado no diencéfalo. E limitado anteriormente pelo
quiasma óptico e posteriormente pelos corpos mamilares, dorsalmente pelo tálamo e
ventralmente pelo osso esfenóide. E um centro importante de regulação e integração de vários
processos orgânicos, tais como: apetite, frequência cardíaca, temperatura corporal, sede,
comportamento sexual, actividade neuroendócrima, centro da actividade das glândulas, entre
outras. O hipotálamo actua como um centro de processamento e integração da informação
recebida que a transforma em sinais neurohormonais que vão evocar uma resposta fisiológica
específica. A informação chega ao hipotálamo por duas vias: (i) estímulos externos, através dos
órgãos dos sentidos, e (ii) estímulos internos, representados pelas hormonas e impulsos nervosos.
Dentro dos estímulos externos, são muito importantes aqueles que chegam pelo sentido do
olfacto. (por exemplo as ferohormonas, substâncias que são produzidas por glândulas/ células
glandulares, que tem influencia no comportamento sexual). Também pelo sentido da visão,
chegam os estímulos luminosos de grande importância, nas espécies de ciclicidade estacionária.
Os estímulos internos mais importantes, são dados por ex., pelas hormonas do ovário
(estrogénios, androgénios e progesterona), que intervêm na fêmea na regulação do ciclo estral,
mediante mecanismos de retroalimentação positiva ou negativa.
Hormonas do hipotálamo.
GnRH
Na reprodução, a hormona mais importante produzida pelo hipotálamo é a hormona de libertação
das gonadotrofinas (Gonadotrophin Releasing Hormone, GnRH), que actua na hipófise anterior
estimulando a produção da FSH e da LH.
Oxitocina e Vasopressina.
Estas hormonas, são produzidas pelas células nervosas dos núcleos supraópticos e
paraventriculares do hipotálamo e transportados através dos axónios até ao lóbulo posterior da
hipófise. A hormona mais importante para a reprodução é a oxitocina. A oxitocina é um
octopéptido, é, contém na sua estrutura oito aminoácidos. A oxitocina também pode ser
produzida pelo C.L. da vaca, da ovelha e da mulher. Esta hormona provoca contrações do útero
(miómetro) durante o parto e da musculatura do oviducto e é responsável pela libertação do leite.
A libertação da oxitocina, ocorre por via reflexa na altura do parto, possivelmente devido a
pressão no cérvix uterino que leva a um reflexo estimulante no hipotálamo e a subsequente saída
da oxitocina que origina as contrações uterinas. O efeito de saída do leite, é devido á acção da
oxitocina nas células mioepiteliais da glândula mamária. Estas células, sofrem contrações
quando estimuladas pela oxitocina. Os estímulos provocados pela sucção ou mungição, activam
os nervos sensitivos que conduzem esta sensação ao hipotálamo, originando a saída da oxitocina
do lóbulo posterior da hipófise. As contrações uterinas provocadas pela oxitocina, servem
também para o transporte dos espermatozoides ate oviducto após a cópula. A sensibilidade do
miométrio à oxitocina aumenta quando há uma grande quantidade de estrogênios no sangue. A
oxitocina (produzida e libertada de forma pulsátil também no corpo lúteo), também participa na
libertação da PGF2alfa a partir do endométrio.
Prolactina.
É uma hormona de origem protéica (polipéptido). A função mais importante da prolactina nos
animais domésticos é a de estimular o desenvolvimento da glândula mamária e manutenção da
lactação. Mantém a actividade do corpo lúteo, isto é, exerce acção luteotrófica nas espécies como
a rata, cobaia e provavelmente na ovelha. Noutras espécies domésticas, esta acção é menos
importante e é assumida pela LH. É responsável também pelo comportamento materno (instinto
materno) e participa na actividade matabólica do organismo.
Placenta
Hormonas da placenta
Durante a gestação, a placenta dos animais domésticos, elabora substâncias que podem ter
actividade biologicamente activa idêntica a das outras hormonas. Pode-se considerar então a
placenta como uma glândula endócrina. Na placenta, são produzidas as seguintes hormonas:
PMSG ( Pregnant Mare Serum Gonadotrophin) ou eCg ( equine corionic gonadotrophin); hCG
(human Corionic Gonadotrophin ); PL ((Lactogenio Placentário) e a Proteina B.
PMSG (eCG)
É uma glicoproteína produzida pelas capas endometriais da égua prenha. Pode ser isolada
no sangue por volta dos 40 dias (com as máximas concentrações entre 60-70 dias) e permanecem
até mais ou menos 85-90 dias de gestação. A sua acção é idêntica a da FSH. Portanto, estimula o
crescimento dos folículos acessórios no ovário durante a prenhez na égua. Muitos destes
foliculos ovulam, mas alguns luteinizam devido ao efeito desta hormona. Os foliculos
luteinizados, produzem depois progeserona que é muito importante para a gestação. Pode ser
isolado no sangue e não na urina, devido ao tamanho das suas moléculas que não podem
atravessar as cápsulas dos glomérulos renais.
hCG
E uma glicoproteína produzida pela placenta da mulher. Ao contrário da PMSG, esta pode
ser encontrada na urina. Fisiologicamente tem acção idêntica a da LH, mas com uma vida
biológica muito mais longa, devido ao maior conteúdo em carbohidratos (glicidos). A presença
desta hormona na urina da mulher, pode ser detectada apartir dos 16 dias pós fecundação,
alcançando o pico de produção entre os dias 30 e 60 de gestação.
O conhecimento das características das hormonas da placenta, tem grande importância prática. A
sua deteção e quantificação, permitem realizar o diagnóstico da gestação, para além de que, a
obtenção mais fácil e em grandes quantidades, permitem o seu processamento para serem
utilizadas como terapia de substituição em diversos transtornos hormonais na mulher e nas
fêmeas domésticas.
Proteina B
Tem sido isolada na placenta dos bovinos e pode ser detectada no sangue 22 dias depois da
concepção. Não se isola na urina nem no leite. Tem uma certa importância no fenómeno do
reconhecimento materno da gestação.
Útero
Hormonas do útero.
Prostaglandinas (PG)
São chamadas parahormonas. Diferem das outras hormonas porque: (i) Não são produzidas
por nenhum tecido específico ou glândula; (ii) muitas actuam no seu local de produção, mas
também podem ser transportadas pelo sangue para actuarem em células distantes e específicas.
Do ponto de vista químico, existem vários tipos de prostaglandinas com várias funções
orgânicas. As PG têm na sua estrutura química, 20 carbonos e pertencem ao grupo dos ácidos
gordos insaturados. São percursores do ácido aracnóide. As PGs relacionadas com a reprodução
são duas: PGE2 e PGF2alfa.
A PGF2alfa tem um grande efeito luteolítico. A vida média no sangue da prostaglandina F2α é
de aproximadamente oito minutos, sendo metabolizada uma grande proporção nos pulmões. A
forma em que a PGF2α exerce a sua função luteolítica ainda é discutida. No entanto parece ser
que é uma mistura de acção de restrição do fluxo sanguíneo (causa constrição dos vasos
sanguíneos) e de estimulação e activação de padrões enzimáticos. A síntese de PGF2α começa
no útero e termina no próprio ovário. Os precursores uterinos da PGF2α, atingem o ovário por
um mecanismo a contracorrente desde a veia uterina ate a artéria ovárica, devido a justaposição
destes vasos. A PGF2alfa estimula a contração do útero e ajuda no transporte dos
espermatozoides no tracto genital masculino e feminino.
A PGE2 estimula a contração do útero, dilata os vasos sanguíneos e não tem efeito luteolítico.
Ovários
Hormonas dos ovários
Os ovários produzem 4 tipos de hormonas: os estrogênios, a progesterona, a relaxina e a
inibina.
Estrogénios
O Estradiol e o principal estrogênio produzido pela teca interna do folículo de Graaf. Este
tecido é rico em estrogênios e atinge a sua actividade máxima durante a fase estrogénica do
ciclo. O fluido folicular também é rico em estrogênios. Há muitas substâncias com actividade
estrogénica tanto no reino animal como no reino vegetal. O ovário segrega dois tipos de
estrogênios: Estradiol e a estrona. O mais importante é o Estradiol 17B. O estriol e outros tipos
de estrogénio (como a equilina e a equilenina na égua) são produto da degradação do estradiol e
a estrona. As vias de eliminação dos estrogênios são a urina e as fezes.
A maior parte dos estrogénios circula no sangue em forma conjugada a proteínas específicas
(estroproteínas conhecidas também como SBP pelas siglas em Inglês de Sex Binding Proteins), o
que tem una grande importância para o seu transporte e para a própria actividade biológica destas
hormonas. Esta propriedade de associação a proteínas, também tem um grande interesse para a
determinação quantitativa dos estrogénios. A libertação dos estrogênios é estimulada pelas
gonadotrofinas do lóbulo anterior da hipófise e a sua secreção é regulada pelo mecanismo de
retroalimentação.
Os estrogênios têm as seguintes actividades biológicas: causam a proliferação do endométrio
assim como do miométrio; estimulam as contrações uterinas, por potenciar os efeitos da
oxitocina e da PGf2alfa, (importante para o transporte do ovócito e do zigoto e no momento do
parto).
Na vagina os estrogênios estimulam o crescimento do epitélio vaginal e potenciam a
actividade muscular do oviducto. Durante o cio, os estrogênios permitem a dilatação do colo
uterino e a secreção do muco cervico-vaginal (muco estral). Estimulam a dilatação da sínfise
púbica e o aumento do tamanho do ligamento interpúbico durante o trabalho de parto. É
responsável pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias. Participa no
metabolismo dos minerais. Estimulam o crescimento do ductus lactífero da glândula mamária e
induz o comportamento de cio.
Os estrogênios jogam, ademais, um papel importante nos mecanismos neuro-endócrinos de
regulação da actividade sexual nas fêmeas (retroalimentação).
Progesterona
É uma hormona esteroidal, é segregada pelo corpo lúteo, pelas adrenais e pela placenta. A
progesterona prepara o endométrio para a implantação do ovo e manutenção da gestação por
causar a sua proliferação e estimular a actividade glandular. No miométrio, ao contrário dos
estrogênios e da oxitocina, inibe as contrações uterinas. Actua em conjunto com os estrogênios
na indução do comportamento de cio. Participa na actividade anabólica do organismo.
Conjuntamente com os estrogênios, actua na glândula mamária e favorece o seu crescimento.
Os níveis altos desta hormona, inibem a libertação de gonadotrofinas hipofisária.
Na vaca, os níveis de progesterona no sangue durante o ciclo estral, aumentam com o
desenvolvimento do corpo lúteo. Nos primeiros 5 dias após o cio, as células da granulosa
transformam-se em células luteínicas, dando inicio a produção de progesterona que atinge o seu
máximo por volta do 14º ao 16º dia. Em vacas, o nível de progesterona mantem-se constante até
por volta do 8º mês de gestação, baixando rapidamente na altura do parto.
Relaxina
É um polipéptido solúvel em água , composto por duas cadeias de aminoácidos. É segregado
pelo corpo lúteo durante a prenhêz. Em algumas espécies é a placenta e possivelmente o útero
que a segregam. A acção da relaxina esta relacionada principalmente com o parto. A sua
relação está intimamente também ligada aos estrogénios. Em condições fisiológicas, muitos dos
seus efeitos são obtidos somente após uma pré sensibilização pelos estrogênios. A relaxina
provoca a separação da sínfise púbica em algumas espécies depois de ter sido sensibilizada pelos
estrogênios, isto facilita a saída do feto. Provoca a dilatação do cérvix e relaxamento dos
ligamentos sacroiscquiáticos no momento do parto na porca e na vaca em sinergismo com os
estrogênios e progesterona. Inibe tanto a actividade do miométrio com as contrações uterinas.
Aumenta a quantidade de água no útero e em conjunto com os estrogênios, provoca o
crescimento do útero. Na glândula mamária, causa o seu crescimento.
Inibina
é uma hormona de origem proteica produzida pelas células de Sertoli no macho e da
granulosa na fêmea. Desempenha um papel importante na regulação hormonal da
foliculogenese durante o ciclo estral. Inibe a libertação da FSH sem alterar a secreção de LH.
Deve ser a responsável pela libertação diferenciada de FSH e LH pela hipófise. Regula também a
função das células de Leydig.
Adrenal e Tiróide
A adrenal e a tiroide, produzem hormonas que de certa forma afetam o processo reprodutivo. A
tiroide, sob estimulação da hipófise, produz a Tiroxina (T4) e a Triiodothyronina (T3). O modo
de acção destas hormonas, é idêntico ao dos esteróides hormonais. Algumas das funções das
hormonas da tiroide: (i) maturação do sistema nervoso do embrião; (ii) estimula a produção da
prolactina e da hormona de crescimento pela hipófise; (iii) estimula a produção de enzimas
importantes para a produção de leite.
Testículos.
Androgénios
Os testículos são o local de produção de androgênios. O androgênio mais importante é a
testosterona. Além de hormonas os testículos produzem espermatozoides. Quantidades muito
pequenas de androgênios também são produzidas pelo córtex das adrenais. Os androgênios são
produzidos pelas células intersticiais de “Leydig” e no organismo encontram-se ligadas ás
substâncias proteicas especiais que são glubulinas específicas de transporte conhecidas com a
sigla ABP – Androgen Bindig Protein.
A libertação da testosterona é regulada pela hormona LH. A acção da testosterona é
particularmente evidente na estimulação do aparecimento das características sexuais secundárias.
Para além disso estimula a espermatogêse. Prolonga a vida dos espermatozoides no epidídimo.
Estimula o aparecimento das características sexuais secundárias que são específicas do
macho tais como: a configuração do corpo, vocalização etc. É responsável pelo comportamento
sexual do macho (libido). Promove o desenvolvimento e actividade dos órgãos sexuais
acessórios.