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br Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA

FISIOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.

FISIOLOGIA DO SISTEMA ENDÓCRINO

O funcionamento do sistema endócrino é baseado em um mecanismo de regulação hormonal totalmente voltado


à adaptação do corpo ao meio ambiente, onde quer que esteja o indivíduo. Este sistema engloba estruturas anatômicas
que, interagindo diretamente com o sistema nervoso, secretam produtos químicos de funções reguladoras bastante
precisas. O sistema nervoso pode fornecer ao sistema endócrino informações sobre o meio externo, enquanto que o
sistema endócrino regula a resposta interna do organismo a esta informação. Dessa forma, o sistema endócrino, em
conjunto com o sistema nervoso, atua na coordenação e regulação das funções corporais.
O sistema endócrino é formado por glândulas secretoras de hormônios controlados por eixos hormonais. A título
de informação, eixo hormonal constitui a sequência de sinais inter-relacionados até a ativação de uma glândula.

HORMÔNIOS
Os hormônios são substâncias bioquímicas ativas que apresentam ritmos de secreção e quantidades
fisiológicas, com padrão de secreção pulsátil, diurno, cíclico, dependente da presença de substâncias circulantes. Eles
operam obedecendo a sistemas de controle de retroalimentação (mecanismo de feedback) afetando apenas as células
que apresentam os seus receptores específicos. São inativados pelo fígado, que os torna mais solúveis para excreção
renal.
Os hormônios são liberados em resposta a alterações no meio ambiente celular ou no intuito de manter regulada
a concentração de determinadas substâncias ou outros hormônios. A sua secreção é regulada por fatores químicos
humorais, hormonais ou neurais.

TRANSPORTE HORMONAL
Os hormônios são liberados no sistema circulatório pelas glândulas endócrinas. Os hormônios hidrossolúveis
circulam livres, na forma não-ligada à proteínas plasmáticas. Já os hormônios lipossolúveis circulam
fundamentalmente ligados a uma proteína plasmática – proteína transportadora.
Esta proteína pode ser a albumina, mas quase sempre é uma glicoproteína da classe das globulinas, específica
para a classe do hormônio: globulina transportadora de hormônios sexuais, globulina transportadora de testosterona.

MECANISMO CELULAR DA AÇÃO HORMONAL


O mecanismo de ação celular dos hormônios consiste, basicamente, em duas etapas: (1) reconhecimento por
uma proteína receptora (ou receptores hormonais, cuja conformação espacial deve ser compatível com a estrutura
conformacional do hormônio) localizada na membrana plasmática ou no compartimento intracelular da célula alvo e, em
seguida, (2) ativação ou inibição celular, a depender da natureza do hormônio.
Dependendo da natureza do hormônio, temos os seguintes mecanismos de ação:
 Hormônios hidrofílicos: apresentam alto peso molecular e não atravessam a membrana plasmática. Por este
motivo, são chamados de primeiro mensageiro e participam de um mecanismo de transdução de sinal
intracelular. Desta forma, estes hormônios produzem, no interior da célula, por meio de um evento bioquímico
coordenado, moléculas chamadas de segundo mensageiro que realizam uma grande amplificação do sinal
inicial. Os principais segundos mensageiros são: monofosfato de adenosina cíclico (AMPc), IP3, Cálcio,
Diacilglicerol (DAG).
 Hormônios hidrofóbicos: atravessam a membrana plasmática e ligam-se aos receptores citosólicos ou
nucleares. Estes hormônios apresentam baixa solubilidade em água e são transportados no sangue por
proteínas plasmáticas. Eles atravessam a membrana plasmática e ligam-se aos receptores intracelulares. O
complexo hormônio-receptor liga-se a sequências específicas no DNA, chamadas de elementos responsivos
aos hormônios que induzem uma modificação da expressão gênica, por ativarem/inibirem RNA polimerase e/ou
a maquinaria celular de transcrição e tradução do DNA. Os hormônios esteroidais seguem este padrão.

EIXO HIPOTÁLAMO-HIPOFISÁRIO-GLÂNDULA ENDÓCRINA


O eixo hipotálamo-hipofisário-glândula endócrina é o principal eixo de regulação hormonal do organismo humano
devido à variedade de respostas fisiológicas que controla. Este eixo é composto por núcleos hipotalâmicos produtores e
secretores de hormônios que atuam na hipófise, levando a estimulação da liberação de hormônios que iram atuar nas
diversas glândulas endócrinas distribuídas no organismo.

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HIPOTÁLAMO ENDÓCRINO
O hipotálamo tem apenas conexões eferentes com
a hipófise, sendo estas conexões geralmente associadas à
síntese e secreção de hormônios. O hipotálamo endócrino
é constituído por núcleos de neurônios especializados em
secretar hormônios peptídicos através dos tractos
hipotálamo-hipofisário e túbero-infundibular.
Estes neurônios apresentam as mesmas
propriedades elétricas das outras células nervosas,
deflagrando potencial de ação gerado no corpo celular que
trafega pelo axônio, induzindo a abertura de canais de
cálcio voltagem dependente e secreção de vesículas
contendo os hormônios.
As secreções hipotalâmicas são hormônios
estimuladores/inibidores da hipófise anterior
(andenohipófise) ou hormônios que são armazenados na
hipófise posterior (neurohipófise) para que, só depois,
sejam secretados por esta glândula.
Desta forma, podemos destacar os dois tractos que
comunicam o hipotálamo endócrino e os dois lobos da
hipófise da seguinte forma:
 Tracto túbero-infundibular: é constituído de fibras neurossecretoras que se originam em neurônios pequenos
(parvicelulares) do núcleo arqueado e áreas vizinhas do hipotálamo tuberal. Seus axônios convergem para a
região hipotalâmica chamada de eminência mediana e na haste infundibular, onde vários hormônios são
secretados diretamente no sistema porta-hipotálamo-hipofisário. São hormônios secretados por esta via: GRH,
TSH, ACTH, etc.
 Tracto hipotálamo-hipofisário: é formado por fibras que se originam nos grandes neurônios (magnocelulares)
dos núcleos supra-óptico e paraventricular, e terminam na neuro-hipófise (hipófise posterior). As fibras deste
tracto constituem os principais componentes estruturais da neuro-hipófise, sendo elas ricas em neuro-secreção.
As células do núcleo supra-óptico produzem o hormônio antidiurético (ADH), enquanto que as células do núcleo
paraventricular produzem a ocitocina.

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Portanto, os neurônios hipotalâmicos que se relacionam com a neuro-hipófise constituem o sistema


magnocelular. Fazem parte deste sistema neurônios distribuídos nos núcleos supra-ópticos e paraventricular.
Destes núcleos, partem axônios que se projetam pela haste hipofisária até o lobo posterior da hipófise onde os neuro-
hormônios são armazenados e liberados para a circulação sistêmica pela própria hipófise.
Já os neurônios hipotalâmicos que se relacionam com a adeno-hipófise constituem o sistema parvicelular ou
túbero-infundibular. Fazem parte deste sistema neurônios difusamente distribuídos nos núcleos arqueados do
hipotálamo. Um sistema vascular especializado conecta a eminência mediana à adeno-hipófise – o sistema porta
hipotálamo-hipofisário, onde os hormônios chegam em alta concentração antes de entrarem na circulação sistêmica
mais diluídos.
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OBS : Note que, existem duas linhas de hormônios hipotalâmicos:
 Hormônios produzidos pelo hipotálamo (GRH, TRH, etc.) que estimulam ou inibem a secreção de hormônios da
adeno-hipófise (GH, TSH, ACTH, etc.) via sistema porta-hipotálamo-hipofisário;
 Hormônios produzidos pelo hipotálamo, mas secretados pela neuro-hipófise (ADH e ocitocina).

Os sistemas parvicelular e magnocelular estão sob influência de várias regiões do SNC. As aferências
noradrenérgicas originam-se principalmente do bulbo e ponte; as aferências serotonérgicas originam-se principalmente
do núcleo da rafe do mesencéfalo, as aferências colinérgicas originam-se do sistema límbico pelas vias córtico-
hipotalâmica da amígdala e do tálamo. A aferência dopaminérgica origina-se do núcleo arqueado para a eminência
mediana, de modo que a dopamina exerce controle sobre a secreção dos hormônios adeno-hipofisários.

HORMÔNIOS HIPOTALÂMICOS
 Hormônio liberador de tirotrofina (TRH):
o Funções: Estimular a secreção de TSH. A expressão dos seus receptores é estimulada estrógenos e
inibida por hormônios da tireoide e corticoides. A morfina inibe sua secreção.
o Ações centrais: altera padrão do sono; produz anorexia; libera noradrenalina e dopamina; aumenta
pressão arterial; opõe-se a ação do etanol, fenobarbital, diazepam, clorpromazina sobre o tempo do
sono e hipotermia.

 Hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH):


o Funções: estimular a secreção de LH e FSH; as inibinas inibem a liberação do FSH; a morfina inibe sua
liberação.
o Outras ações: mediador estimulante do impulso sexual.

 Hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH ou GRH)


o Funções: estimula a liberação do GH; as endorfinas, serotonina, e durante a fase do sono de ondas
lentas estimulam a liberação de GRH; é inibido pela somatostatina (hormônio inibidor da liberação do
GH).

 Hormônio liberador da prolactina (PRH):


o Funções: Estimula a liberação da prolactina; o TRH também é um potente estimulador da prolactina
após sucção mamária; os fatores de inibição da prolactina (PIF) inibem a secreção da prolactina.

 Hormônio liberador de corticotrofina (CRH):


o Funções: Estimula a expressão do gene POMC (pró-opiomelanocortina, que também origina o hormônio
melanotrófico); Leva a produção de ACTH, MSH, beta-endorfinas; estresse, hipovolemia e dor são
potentes indutores de sua liberação via Ach, serotonina e NA; no terceiro terço do sono noturno,
precedendo a vigília ocorre um pico de liberação; sua inibição ocorre pelos corticoides.

 Ocitocina: hormônio produzido pelo hipotálamo, mas sendo armazenado e secretado pela hipófise posterior.
Tem a função de promover as contrações musculares uterinas durante o parto e a ejeção do leite durante a
amamentação.

 Hormônio antidiurético (ADH) ou vasopressina: também produzido pelo hipotálamo, mas secretado pela
neuro-hipófise, o ADH tem a função de conservar a volemia (manter os líquidos do organismo) diminuindo a
excreção de água pelos rins (atua nas aquaporinas do túbulo contorcido distal, impedindo que a água seja
eliminada pelo ducto coletor), sendo secretado, principalmente, em resposta a traumas ou hipovolemia. Este
hormônio é chamado de vasopressina, pois aumenta a pressão sanguínea ao induzir uma vasoconstrição
moderada sobre as arteríolas do corpo. O álcool (do consumo de bebidas alcóolicas) suprime a produção do
ADH, aumentando a diurese.

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HIPÓFISE
A hipófise humana, pequena glândula endócrina conectada ao hipotálamo e situada no assoalho do III ventrículo
encefálico, divide-se basicamente em duas porções: a hipófise anterior (adeno-hipófise) e a hipófise posterior (neuro-
hipófise).

HIPÓFISE ANTERIOR
Histologicamente, as células da hipófise anterior organizam-se em cordões irregulares que recebem um intenso
fluxo sanguíneo. Ela pode ser dividida em relação a resposta de suas células a determinados corantes, e portanto em 03
áreas distintas:
 Acidófilas (tireotróficas, gonadotróficas, corticotróficas): coram com eosina;
 Basófilas (somatotróficas, lactrotróficas): coram com eosina, hematoxilina;
 Cromófoba: com baixa coloração citoplasmática. As células cromófobas são células que apresentam alta
secreção hormonal, sem grandes estoques de hormônios e pouca afinidade por corantes.

 Hormônio tireoide estimulante ou tirotrofina (TSH): hormônio glicoproteico, formado por duas cadeias: alfa
e beta.
o Função: Estimula a síntese e secreção dos hormônios tireoidianos – Tiroxina (T4), Triiodotironina
(T3); efeito trófico sobre a glândula da tireoide;
o A inibição da síntese é feita pelos hormônios tireoidianos e o controle hipotalâmico negativo.

 Gonadotrofinas (LH, FSH): Hormônio glicoproteico, formado por duas cadeias: alfa e beta
o FSH: Maturação folicular e ovulação, preparação da mama para lactação; Espermatogênese,
trofismo testicular e peniano.
o LH: Ovulação, síntese do estradiol, e progesterona; Síntese de testosterona.
o A inibição é feita em feedback pelos hormônios gonadais.

 Hormônio do crescimento: é um hormônio proteico que atua primariamente estimulando a produção dos
insulin growth factors (IGF-1), cujos receptores estão expressos em todos os tecidos.
o Funções do IGF-1: proliferação celular e estímulo da síntese de colágeno em nível da placa epifisária
óssea – Crescimento; Aumento da captação de aminoácidos e síntese proteica – Metabolismo
proteico; Aumento da lipólise – Metabolismo dos lipídeos; Aumento do consumo de glicose no
músculo cardíaco, acúmulo de glicogênio nos músculos do diafragma, mas diminuição na captação
de glicose pelo músculo esquelético – Metabolismo dos carboidratos.

 Prolactina: é um hormônio proteico que tem importante papel no processo de lactação, exercendo ações
fundamentais na preparação e manutenção da glândula mamária para secreção do leite.
o Funções: inibe a função reprodutora por suprimir o GnRH; inibe o impulso sexual; sua secreção é
inibida pelo PIF.

 Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH): é derivado de um único gene – POMC.


o Funções: estimula a síntese de cortisol pela adrenal; sua secreção é controlada pelos corticoides; o
MSH leva a estimulação da síntese de melanina depositada nos folículos pilosos e na derme; as
endorfinas têm papel analgésico, portanto nos mecanismos de percepção dolorosa.

HIPÓFISE POSTERIOR
A hipófise posterior não produz hormônios, mas apenas armazena e secreta dois hormônios produzidos por
núcleos hipotalâmicos: o ADH e a Ocitocina.
 ADH: Produzido pelo N. supra-óptico, promove a reabsorção de água pelos túbulos coletores renais.
 Ocitocina: contração da musculatura do útero, ejeção do leite durante a lactação.

CORRELAÇÕES CLÍNICAS
Doenças hipotalâmicas: Lesões nos núcleos paraventriculares, supra-óptico, e ventromedias podem levar ao pan-
hipopituitarismo, diabetes insipidus central, obesidade hipotalâmica. As doenças hipotalâmicas podem ser congênitas,
cromossomiais, neoplásicas.

Distúrbios congênitos do hipotálamo: São as síndromes da linha mediana – tratos óptico e olfativo, fibras que ligam os
dois hemisférios cerebrais como o corpo caloso, o septo pelúcido, comissura anterior. O mais comum é: o lábio leporino.

Síndrome de Prade-Willi: ocorre uma microdeleção do cromossomo 15. A doença é caracterizada por: hipotonia muscular;
hiperfagia hipotalâmica; hipogonadismo hipoganadotrófico (criptorquidismo, micrófalo); alterações crânio-faciais
(dolicocefalia, olhos de amêndoa); mãos e pés pequenos, retardo mental; deficiência de GnRH, GH.
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Síndrome de Kallman: há um distúrbio genético ligado ao X. A doença é caracterizada por: anosmia ou hiposmia;
hipogonadismo hipoganadotrófico; Indivíduo com hábito eunuco: alta estatura, microcefálico, testículos pré-puberais, voz fina;
deficiência da proteína que auxilia a migração dos neurônios produtores de GnRH e dos neurônios do bulbo olfatório.

Craniofaringeoma: é um tumor pouco comum do SNC que se caracteriza por lesão expansiva do crânio, causando um
quadro de cefaleia, vômitos e distúrbios visuais. Além disso, pode causar: diabetes insipidus; pan-hipopituitarismo;
hiperprolactatemia; déficit de crescimento na infância, hipogonadismo no adulto, hipotiroidismo, hipoadrenalismo. A
característica mais marcante é a tendência a calcificação e infiltrações de cristais de colesterol. A correção deve ser feita por
cirurgia de ressecção e/ou radioterapia.

Adenoma hipofisário: é a causa


mais comum de doença hipofisária.
Tais neoplasias podem se
comportar como secretantes (isto
é: produtores de GH, PRL, ACTH,
TSH, LH e FSH) e não
secretantes. A manifestação
clínica causada pelo tumor
depende do tamanho, do tipo
histológico e do hormônio que ele
tende a secretar. Por exemplo:
amenorreia e galactorreia nos
adenomas produtores de PRL; nos
tumores secretantes de GH termos
gigantismo nas crianças e
acromegalia nos adultos; Síndrome
de Cushing nos tumores produtores
de ACTH; alterações metabólicas
nos tumores produtores de TSH. O
tumor pode causar ainda sintomas
relacionados com efeito em massa:
cefaleia e defeitos de campo visual
(hemianopsia bitemporal).

Apoplexia hipofisária: É definida como uma hemorragia da hipófise que evolui para necrose, levando ao pan-
hipopituitarismo súbito. Os sinais são: forte cefaleia, náuseas e vômitos, com queda do estado de consciência, choque
refratário à reposição volêmica e hiponatremia grave. Pode ocorrer compressão de estruturas peri-hipofisárias (quiasma
óptico, nervos cranianos). A principal causa é o sangramento por macroadenomas com infarto tumoral.

Hipopituitarismo:
 Deficiência de GH: causa nanismo hipofisário. Nos adultos, é assintomática.
 Deficiência de LH/FSH ou GnRH: hipoganadismo hipogonadotrófico secundário (hipófise), terciário (hipotálamo).
 Crianças: puberdade tardia
 Mulheres: amenorreia, atrofia mamária, dispaureunia, perda da libido, osteoporose
 Homens: redução da massa muscular, perda da libido, redução dos pelos corporais, fraqueza, osteoporose.
 Deficiência de TSH ou TRH: hipotireoidismo secundário (hipófise), terciário (hipotálamo). Semelhante ao
hipotireoidismo primário.
 Deficiência de ACTH ou CRH: insuficiência suprarrenal secundária (hipófise), terciária (hipotálamo). Anorexia,
fraqueza, fadiga, hipotensão arterial, hipoglicemia, hiponatremia, náuseas, vômitos – hipocortsolismo. Não ocorre
hiperpigmentação cutânea – ACTH
 Diagnóstico: TC ou RNM – aumento da sela túrcica (sela vazia) e/ou calcificações supra-selares.
 Testes de função hipofisária:
 Teste da insulina – obter glicemia e GH
 Teste do GnRH – dosar LH, FSH, testosterona e estradiol
 Dosar TSH e T4
 Dosagem do ACTH

Prolactinoma: é o tumor hipofisário mais frequente com hiperprolactinemia. Manifestações clínicas: em mulheres,
amenorreia, galactorreia, infertilidade, perda da libido; em homens, impotência, infertilidade, hipogonadismo, galactorreia.
Diagnóstico: dosagem da prolactina (150ng/ml), TC ou RNM. Para excluir hipotireoidismo, dosa-se TSH e T4.

Acromegalia: os adenomas hipofisários hipersecretores de GH correspondem a 10 – 15% dos adenomas hipofisários. Na


criança causa gigantismo; no adulto, acromegalia. Manifestações clínicas: aumento da mandíbula, nariz, lábios,
macroglossia; aumento acrais; hiperhidrose, pele oleosa, aumento das pregas cutâneas; hipertensão arterial, hipertrofia
ventricular; Intolerância a glicose.

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TIREOIDE
A glândula tireoide está localizada na porção superior da
traqueia, próximo do terceiro anel traqueal. A tireoide é
constituída por dois lobos (direito e esquerdo) unidos por um
istmo. Posteriormente aos lobos da glândula tireoide,
encontramos quatro glândulas paratireoides: duas superiores (de
localização mais fixa) e duas inferiores (de localização menos
fixa). A glândula recebe essa denominação por sua semelhança a
um escudo greco-romano.
O suprimento arterial é realizado pelas artérias tireóideas superiores e inferiores. A drenagem venosa é feita
pelas veias tireóideas superior, média e inferior. O nervo laríngeo superior se relaciona com A. tireoide superior e o nervo
laríngeo recorrente (responsável por inervar a maioria dos músculos laríngeos da fonação, o que explica a rouquidão
apresentada por pacientes com tireoide aumentada) passa rente à A. tireoide inferior.
As doenças da tiroide afetam cerca de 750 milhões de pessoas em todo o mundo. A cirurgia da tireoide é
procedimento mais realizado por cirurgiões de cabeça e pescoço.

HISTOLOGIA DA TIREOIDE
Do ponto de vista histológico, dizemos que a unidade funcional da tireoide é o folículo tireoidiano: células
epiteliais cuboides (epitélio folicular) que envolvem um lúmen preenchido por um coloide (constituído por grande
concentração de tireoglobulina - TGB). Os folículos ativos são cilíndricos e responsáveis pela síntese dos hormônios
tireoidianos.
As células parafoliculares (células C) são células do folículo tireoidiano que não participam da produção da
tireoglobulina, mas secretam calcitonina em resposta aos altos níveis de cálcio ionizado no soro.
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OBS : O coloide, região circundada pelo epitélio folicular da
tireoide, nada mais é que uma ampla região de armazenamento
da grande glicoproteína tireoglobulina (TGB). Cada molécula de
tireoglobulina tem aproximadamente 140 resíduos de um único
aminoácido: a tirosina. Este aminoácido é secretado pelas
células foliculares adjacentes ao coloide e armazenado neste
coloide. Este coloide, portanto, funciona como um reservatório de
tireoglobulina.

FISIOLOGIA DA TIREOIDE
A função primária da tireoide é a produção e secreção dos hormônios tireoidianos. A produção dos hormônios
tireoidianos pela glândula normal é regulada pelo hormônio pituitário TSH.
 A tiroxina (T4) é o hormônio primário liberado. T4 só é convertido em T3 nos tecidos periféricos;
 A triiodotironina (T3) é pelo menos 10 vezes mais biologicamente mais ativo.

Esses hormônios tireoidianos são os únicos hormônios do corpo que utilizam o mineral iodo (I) que, como todo
mineral, não é produzido pelo nosso organismo. Portanto, deve ser ingerido junto a alimentos e, para que ele seja
- -
absorvido, além de ter que se apresentar na forma de iodeto (I ), é dependente da concentração de cloreto (Cl ) na luz
+
intestinal (e dependente do gradiente de sódio – Na – sanguíneo para a produção da tireoglobulina). Por isso que o sal
de cozinha é o alimento preferencial para o enriquecimento com iodo, uma vez que na dieta comum, não o iodo não se
apresenta na forma de iodeto.
A membrana basal da célula folicular, que está em contato direto com os capilares sanguíneos (que inclusive, a
glândula tireoide é uma das glândulas endócrinas mais irrigadas do corpo), apresenta uma proteína transportadora de
membrana do iodeto que o capta quando este circula pelo sangue. Acontece que este transportador também transporta
sódio para a luz da célula folicular (sendo esta proteína transportadora, portanto, responsável por realizar uma simporte
iodeto-sódio). Como a concentração de sódio deve ser maior fora da célula, este Na+ que entrou (juntamente ao iodeto)
na célula folicular deve ser lançado fora, função esta desempenhada pela bomba Na+/K+ ATPase. Portanto, a absorção
de iodo para a célula folicular é totalmente dependente de Na+ e, mesmo que nesse primeiro processo não haja gasto
de energia (por se tratar de um simporte ou co-transporte), diz-se que o transporte de iodo para a célula folicular é ATP-
dependente, pois a bomba de sódio-potássio é dependente desse ATP para manter as concentrações plasmáticas de
Na+.
Já na membrana luminal da célula folicular (membrana voltada para o lúmen), há a presença de outro complexo
- 0
proteico denominado peroxidase, responsável por oxidar o iodeto (I ), transformando-o em iodo metálico (I ). É só nesta
forma oxidada (ou metálica) que o iodo pode ser incorporado aos resíduos de tirosina.

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A própria peroxidase é responsável por introduzir o iodo metálico a molécula de tirosina, realizando uma reação
denominada de organificação, ou seja, incorporação de um elemento inorgânico a uma molécula orgânica. Se a
molécula de tirosina receber duas moléculas de iodo, formará a diiodotirosina (DIT), mas se receber apenas uma
molécula, formará a monoiodotirosina (MIT), que se acumularão no coloide.
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OBS : O Perclorato e o Tilcianato, utilizados para o tratamento de hipertireoidismo, bloqueiam a captação de iodo,
diminuindo a produção de T3 e T4. Porém, essas drogas quase não são mais utilizadas na prática médica, sendo elas
substituídas pelo Propiltiouracil (PTU) e Metimazol, que bloqueiam o complexo peroxidase, inibindo, portanto, a
organificação da TGB, reduzindo a produção do T3 e T4.

Quando dois DIT se acoplam, há a formação da tiroxina (T2+T2 = T4). Se um MIT se acopla a um DIT, há a
formação da triiodotironina (T1+T2=T3). Acontece que o complexo peroxidase é muito mais eficiente em formar DIT do
que MIT, tanto que a relação fisiológica é de 20 moléculas de DIT para 1 de MIT.
Como vimos, o hormônio que regula a produção de T3 e T4 é o TSH hipofisário (produzido pela hipófise
anterior sob estímulo do TSH hipotalâmico), induzindo os seguintes fatores: o TSH aumenta a síntese de TGB; induz a
divisão e o desenvolvimento das células foliculares (que de cuboides, passam para um formato cilíndrico, aumentando
em volume e em número); aumenta a ação das peroxidades; aumenta a quantidade de transportadores de iodeto na
membrana basal das células foliculares. Os hormônios T4 e T3 atuam como controle negativo (feedback) para liberação
do TSH hipofisário.
O TRH atua na hipófise por meio de receptores específicos. Estes
2+
receptores, por meio do Ca como segundo mensageiro, ativa a PKC,
responsável por ativar RNAm que levam a transcrição do TSH.
O TSH, portanto, liga-se ao seu receptor na membrana basal da
célula folicular e, por transdução de sinal, aumenta os níveis de AMPc.
Quando há a ligação do TSH com o seu receptor, este sofre uma mudança
conformacional que ativa a proteína G que, por sua vez, ativa uma adenilato
ciclase responsável por converter ATP em AMPc. Este ativa a PKA que por
diversos mecanismos induz:
 A síntese e ativação do transporte do iodeto
 A síntese da tireoglobulina (TGB)
 A síntese da tireoperoxidase
 A liberação dos hormônios T4/T3
 Efeito trófico na glândula tireoide: Hipertrofia e hiperplasia das
células foliculares

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OBS : Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide: o TRH (hormônio liberador de tireotrofina) a liberação de TSH (hormônio
estimulante da tireoide), o qual estimula, por meio do AMPc, a produção de T4 e T3 (que agem no metabolismo basal
corporal), sendo estes responsável por inibir a hipófise (principalmente esta) e o hipotálamo de secretarem seus
respectivos hormônios.
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OBS : Distúrbios da Tireoide:
 Primário: o distúrbio é em nível da glândula tireoide.
 No caso de hipertireoidismo primário, por exemplo, encontramos concentrações plasmáticas de T4 e T3
elevadas, mas o TSH está em taxas menores que o nível basal.
 No hipotireoidismo primário, o T3 e T4 estão mais baixos que o normal, e o TSH nas alturas.
 Secundário: o distúrbio é em nível da hipófise.
 Um hipertireoidismo secundário apresenta, além de grandes concentrações plasmáticas de T4 e T3, o
TSH também se encontra elevado. As principais causas de hipertireoidismo secundário são os tumores
de hipófise hipersecretores de TSH, que realizam uma secreção autônoma que não é suprimida pelos
níveis de T4 e T3.
 Um hipotireidosimo secundário, associado geralmente a um hipopituitarismo (necrose hipofisária), não
há produção de TSH, estando seus níveis baixos assim como o T3 e T4.
 Terciário: o distúrbio está relacionado ao hipotálamo.

HORMÔNIOS TIREOIDIANOS
Como vimos, a produção de T4 é 20 vezes maior que a
de T3. Porém, este é o hormônio tireoidiano biologicamente
ativo e funcional, e é oriundo, nos tecidos a partir do T4. Se
fosse o contrário, o ser humano viveria em quadros de
hipertoxicose permanente (tempestade tireoidiana). De fato, isso
não ocorre pois o T4, que é produzido em proporções bem
maiores que o T3, só é convertido neste em nível tecidual
periférico.
O TSH, ao se ligar ao seu receptor na célula folicular,
induz a produção da tireoglobulina (TGB). Esta é secretada por
exocitose vesicular no lúmen para formar o coloide para ser
armazenada. A peroxidase é responsável por realizar a
iodinação dos resíduos de tirosina da TGB.
Na secreção dos hormônios, há o processo inverso ao armazenamento
do coloide: primeiramente, parte desse coloide é endocitada, forma-se uma
vesícula e funde-se com os lisossomos. As proteases dos lisossomos quebram
as ligações peptídicas da TGB, liberando DITs e MITs no citoplasma. Estes
reagirão e produzirão T4 e T3 (em uma proporção de 20:1). O T4, na realidade, é
um pró-hormônio que será convertido, na região tecidual, em T3.
O T3 e T4 são hormônios hidrofóbicos e não podem circular de maneira
livre na corrente sanguínea, sendo transportados por proteínas globulinas
específicas, como a TBG (Tiroxin Binding Globulin). Aproximadamente 99,98%
do T4 está ligado a 3 proteínas séricas:
 A TBG ~ 75%
 A Pré-Albumina ligadora de tiroxina (TBPA) ~ 15 – 20%
 Albumina ~ 5 – 10%
 Apenas ~ 0,02% do T4 total é o T4 livre
 Apenas ~ 0,4% do T3 total é livre

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OBS : Devemos reparar, porém que, embora a fração livre dos hormônios tireoidianos seja mínima, ela está em
equilíbrio com a fração ligada, de modo que sempre haverá as duas frações no plasma, mesmo que seja em
quantidades desproporcionais um com relação à outra. Isto é, toda vez que um hormônio tireoidiano livre é captado para
o tecido, um hormônio previamente ligado à proteína sérica é liberado para circular e interagir com os tecidos da mesma
maneira, mantendo uma relação equilibrada.

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METABOLISMO DO T3 E T4
Como vimos, a tireoide produz o
hormônio T4 em maiores quantidades quando
comparado ao hormônio biologicamente ativo
T3. Porém, esse T4 é transformado em T3 nos
tecidos periféricos à tireoide. Há uma perda de
um iodo do anel externo do T4, resultando
em T3 biologicamente ativo, por uma enzima
denominada desionidase. Porém, se a
desionidase retirar o iodo do anel interno do
T4, haverá a formação do T3 reverso (rT3),
que por ser inativo, não tem função biológica.
O iodo resultante dessa conversão
pode ser reutilizado ou é excretado. A forma
de eliminação dos hormônios da tireoide é na
forma de T2.
Existem três desiodinases que catalisam a formação do hormônio bioativo e seu produto inativo: as D1 e D2
geram T3 bioativo por retirarem um átomo de iodo do anel externo; a D3 gera o T3r, que é inativo, por retirar o iodo do
anel interno.
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OBS : Um paciente pode ser considerado hipotireoideo só por apresentar uma hiperatividade da enzima D3, a qual
produzirá muito mais T3r. Este, por ser inativo, não realiza nenhuma função comum dos hormônios tireoidianos,
caracterizando o hipotireoidismo periférico, porém, haverá taxas de TRH e TSH normais e dos hormônios tireoidianos.

MECANISMO DE AÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS


Os hormônios T3 e T4 atuam como hormônios
hidrofóbicos, ligando-se a um receptor de membrana e
estimulando este a gerar sinais que façam com que o
núcleo da célula produza mais RNAm.
Estes hormônios (em especial o T3) são
responsáveis por aumentar o metabolismo basal.
Quando a célula é estimulada pelo T3, que é o
hormônio bioativo, na realidade, ela é induzida a
aumentar seu metabolismo: duplica o número de
mitocôndrias, aumentam a expressão da Na+/K+
ATPase, estimulam a lipólise e o catabolismo dos
carboidratos, aumenta a expressão dos receptores β1
adrenérgicos (que realizam um efeito inotrópico e
cronotrópico positivo). As ações dos hormônios
tireoidianos, de um modo geral, são:
 Aumento do número de mitocôndrias
+ +
 Aumento da expressão da Na /K ATPase
 Aumento dos receptores beta-adrenérgicos no
coração
 Aumento do metabolismo basal
 Aumento da lipólise
 Aumento da captação de glicose pelos tecidos
 Aumento da proteólise

Com isso, conclui-se que defeitos do hormônio T3, têm-se um grave caso de subdesenvolvimento corporal. A
carência congênita de T3, faltando inclusive da vida fetal, cria um quadro chamado de cretinismo, em que há uma
inadequada formação óssea, muscular e nervosa. Abortos de repetição podem ser causados, inclusive, por
hipotireoidismo.

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA TIREOIDE


 Dosar TSH – 0,5 – 5 μUm/mL, sendo este o exame fundamental para avaliação da tireoide;
 Dosar T4 livre – 0,75 – 1,80 ng/dL;
 Dosar T3 Total – 70 – 190 ng/mL (este não deve ser dosado rotineiramente, apenas nas suspeita de
tireotoxicose por T3).

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CORRELAÇÕES CLÍNICAS
De um modo fisiológico, no que diz respeito à função endócrina da glândula, podemos classificar, de um modo
geral, os distúrbios da tireoide como hipertireoidismo ou hipotireoidismo, a depender dos níveis dos hormônios T3 e T4:
 Hipertireoidismo: altos níveis de T3 e T4. Clinicamente, caracteriza-se por nervosismo, perda de peso,
intolerância ao calor, palpitações, tremores, fraqueza, sudorese, inquietação, pele quente e úmida, diarreia,
insônia, exolftalmia, mixedema pré-tibial, bócio.
 Hipotireoidismo: baixos níveis de T3 e T4. O paciente apresenta-se com as seguintes manifestações clínicas:
letargia, rouquidão, perda auditiva, pele seca e espessa, constipação, intolerância ao frio (pois não produz ATP),
dificuldade de perda de peso, sonolência, bradicardia, amenorreia, perda da libido, disfunção erétil, bócio, etc.

Podemos ainda classificar o tipo de distúrbio tireoidiano, a depender do local onde está havendo a difunção:
 Primário: o distúrbio é em nível da glândula tireoide.
 No caso de hipertireoidismo primário, por exemplo, encontramos concentrações plasmáticas de T4 e T3
elevadas, mas o TSH está em taxas menores que o nível basal.
 No hipotireoidismo primário, o T3 e T4 estão mais baixos que o normal, e o TSH elevados.
 Secundário: o distúrbio é em nível da hipófise.
 Um hipertireoidismo secundário apresenta, além de grandes concentrações plasmáticas de T4 e T3, o
TSH também se encontra elevado. As principais causas de hipertireoidismo secundário são os tumores
de hipófise hipersecretores de TSH, que realizam uma secreção autônoma que não é suprimida pelos
níveis de T4 e T3.
 Um hipotireidosimo secundário, associado geralmente a um hipopituitarismo, não há produção de TSH,
estando seus níveis baixos assim como o T3 e T4.
 Terciário: o distúrbio afeta o hipotálamo e envolve o TRH.
 Subclínico: ocorre quando, mesmo diante de níveis normais de T4 livre, o TSH apresenta-se alterado. Desta
forma, temos:
 Hipertireoidismo subclínico: embora os níveis de T4 livre estejam normais, os níveis de TSH estão altos.
 Hipotireoidismo subclínico: embora os níveis de T4 livre estejam normais, os níveis de TSH estão
baixos.

Hipotireoidismo: hipotiroidismo ou hipotireoidismo é um estado doentio causado pela produção insuficiente


de hormônio tiroide. O exame físico baseia-se nos seguintes sintomas e fases da doença:
 Doença branda/moderada: Letargia, rouquidão, perda auditiva, pele seca e espessa, constipação,
intolerância ao frio (pois não produz ATP), dificuldade de perda de peso, sonolência, bradicardia,
amenorreia, perda da libido, disfunção erétil
 Doença severa (Coma mixedematoso): Coma, hipotermia refratária, bradicardia, derrame pleural,
distúrbios eletrolíticos, convulsões.
O hipotireoidismo pode ser classificado nos seguintes tipos:
 Hipotireoidismo primário: o acometimento se dá na tireoide (    TSH, T4/T3)
o Doença de Hashimoto: Doença autoimune que é a principal causa de hipotireoidismo em nosso
meio. Dosagem dos auto-anticorpos: anti-microssomal (Anti-TPO), anti-tireoglobulina encontram-
se elevados na doença de Hashimoto.
o Causas iatrogênicas: cirurgias, tratamento inadequado de reposição hormonal, ablação com
radioiodo, amiodarona (um antiarrítmico cardíaco), iodeto em excesso.
 Hipotireoidismo secundário: o paciente apresenta hipopituitarismo ( TSH,  T4/T3)
 Hipotireoidismo periférico: Resistência a T3. Causado por mutação no gene c-erb-A do cromossoma 17
e 3, que codifica o receptor celular hormonal.

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o Hipotireoidismo juvenil: Normalmente devido a um defeito da síntese dos hormônios da tireoide


devido a mutação do gene c-erb-A. Caracterizado por bócio, maturação retardada, aumento
testicular/menarca precoce. Recuperação dos sintomas com tiroxina.
 Hipotireoidismo neonatal (congênito): carência de hormônios tireoidianos na vida intrauterina.
o Cretinismo: Hipotireoidismo severo o neonato. Exame físico: protuberância abdominal, pele
amarela, constipação, letargia, dificuldade de alimentação, retardo mental, fácies sindrômica.
Endêmica: Bócio presente. Anticorpo materno, ou medicação anti-tireoidiana. Esporádica:
agenesia da tireoide.

Tireotoxicose: Estado no qual os tecidos respondem quando expostos a um excesso de T4/T3. Exame físico:
nervosismo, perda de peso, intolerância ao calor, palpitações, tremores, fraqueza, sudorese, inquietação, pele
quente e úmida, diarreia, insônia, exolftalmia, mixedema pré-tibial.
 Doença de Graves: doença autoimune causada quando as IgG se voltam contra
receptores do TSH. Pode ser estimulatório (a grande maioria) ou inibitório. Sinais
clínicos: bócio geralmente presente; desenvolvimento da exolfalmia (devido à
presença de um edema retro-ocular por acúmulo de mucopolissacarídeos, o que
gera uma extrusão do globo ocular e uma compressão do nervo óptico);
mixedema pré-tibial (edema com aspecto de casca de laranja); baqueteamento
dos dedos (dilatação das extremidades digitais). Tratamento: medicamentoso
(Iodeto; PTU, Metimazol, beta-bloqueadores), RAI (rádio-iodo ablação com Iodo-
131) e cirurgia.

 Adenoma tóxico: Conhecida como Doença de Plummer, onde apresenta um único nódulo tireoidiano
hiperfuncionante que secreta quantidades suprafisiológicas de T4/T3. Ocorre mutação somática nos
receptores TSH de um grupo de células foliculares, tornando-o mais biologicamente ativo. Diagnóstico por
cintilografia tireoidiana que mostra um nódulo “quente” (que capta muito isótopo), usualmente maiores que
3 cm.
 Bócio Multinodular Tóxico: O BMT predomina em idosos, onde o paciente pode apresentar sinais de
tireotoxicose. O bócio pode atingir grandes dimensões, o que pode levar efeitos compressivos como
disfagia, rouquidão, dificuldade respiratória. Diagnóstico pela cintilografia tireoidiana que apresenta
múltiplos nódulos.
 Tempestade tireoidiana: Níveis excessivamente altos de hormônios da tireoide. Normalmente precedida
de estresse, infecção, cirurgia, RAI ablação, intoxicação por amiodarona. Causa insuficiência cardíaca,
respiratória, coma e hipertermia.

Tireoidite: Doenças tireoidianas caracterizadas pela infiltração de leucócitos, fibrose da glândula ou ambas. São
de dois tipos:
 Hashimoto: é a forma mais comum de tireoidite e a principal causa de hipotireoidismo. É uma típica
doença autoimune, mas envolve uma susceptibilidade genética com herança poligênica.
 Quervain: O histórico do paciente relata intensa dor álgica associada após relatos de doenças virais
(caxumba, varíola, rubéola). Apresenta-se como hipertireodismo seguido de hipotireoidismo e por fim
eutireoidismo cerca de 3 meses após.

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Cretinismo: O T3 é fundamental para o desenvolvimento ósseo e muscular. É essencial também para o


desenvolvimento normal do cérebro e regula a sinaptogênese, integração neural, migração celular e
mielinização. Cretinismo é definido para todos os sintomas desenvolvidos por hipotireoidismo congênito ou
neonatal não tratado. Durante o desenvolvimento do recém-nascido a ausência da tiroxina, um dos hormônios
da tireoide, impede o amadurecimento cerebral normal. Na maior parte das vezes é decorrência de um defeito
na formação da glândula, mas pode ser devido a uma deficiência enzimática em um dos passos no processo de
síntese do hormônio. A incidência da doença é em torno de 1:3000 nascimentos. A identificação da doença se
faz pelo teste do pezinho, processo de triagem neonatal, a partir de uma gota de sangue retirada do calcanhar
da criança. Não apresenta sinais nos primeiros meses de vida, o que torna o processo de triagem fundamental
para a prevenção de uma deficiência mental. Um recém-nascido sem glândula tireoide pode ter aparência e
função normais, isso porque foi suprido com certa quantidade de tiroxina pela mãe enquanto no útero. Contudo,
algumas semanas após o nascimento, se o caso não for descoberto e tratado com urgência, este bebê
possivelmente começará a apresentar lentidão nos movimentos, retardo do crescimento físico e deficiência no
desenvolvimento mental.

ADRENAL (SUPRARRENAL)
A adrenal é um a glândula localizada acima do pólo superior dos rins (daí a designação suprarrenal), em
situação retroperitoneal, sendo ela de extrema importância para a vida humana. Encontram-se ao nível da 12ª vértebra
torácica, e são irrigadas pelas artérias suprarrenais.

HISTOLOGIA DA GLANDULA ADRENAL


Cada glândula é composta por duas regiões histologicamente distintas, que recebem aferências moduladoras do
sistema nervoso: o córtex e a medula.
 Córtex da adrenal: parte externa da
glândula que apresenta coloração
amarelada devido à grande quantidade
de colesterol aí encontrada. Ela é
responsável por realizar a
estereidogênse (síntese dos hormônios
esteroides, tendo eles como precursor
comum o colesterol). Os hormônios
produzidos no córtex de adrenal
recebem a designação de esteroides.
Tem origem embrionária na mesoderme.
Subdivide-se em três regiões, devido à
diferença de aspecto histológico:
o Zona glomerulosa: produtora
de aldosterona, desoxi-
corticosterona (DOCA ou DOC)
e corticosterona.
o Zona fasciculada: produtora de
cortisol.
o Zona reticulada: responsável,
princpalmente, pela produção
dos estrógenos e andrógenos.
Os principais produtos desta
camada são: Estradiol,
Testosterona, Androstenediona
e DHEA.

 Medula da adrenal: porção mais interna da glândula, de coloração vermelho-escuro ou cinza. Deriva,
embriologicamente, da crista neural (neuroectoderme) e funciona como neurônio pós-ganglionar do sistema
nervoso simpático. Desta forma, a medula da adrenal recebe uma longa fibra pré-ganglionar (diferentemente das
curtas fibras pré-ganglionares do restante do SN simpático) que faz com que suas células (células cromafins)
secretem, na corrente sanguínea, catecolaminas (na proporção de 20% de noradrenalina e 80% de adrenalina,
e ainda, uma pequena quantidade de dopamina).
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OBS : As gônadas também são responsáveis pela produção de parte dos hormônios sexuais, uma vez que, nestas
estruturas, estão presentes enzimas que participam da biossíntese dos esteroides. Desta forma, os testículos produzem
testosterona e os ovários, estradiol.

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MECANISMO DE AÇÃO DO ACTH


O ACTH, ao chegar às células da adrenal, liga-se a um receptor de membrana. Esta sofre uma mudança
conformacional para ativar uma proteína G, que ativa a adenilato ciclase, responsável por produzir o AMPc que ativa
uma proteína quinase. Esta converte algumas proteínas inativas para a sua fase ativa, sendo nesta fase, responsável
por liberar ésteres de colesterol armazenados que servirão para a síntese dos hormônios corticoides.

EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-ADRENAL
A partir de um estímulo neuronal, o sistema parvocelular secreta o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), o
qual chega a hipófise por meio do sistema porta. Nas células corticotróficas da adeno-hipófise, por meio do estímulo do
CRH O hipotálamo, há a liberação do ACTH. Este hormônio estimula a secreção de hormônios pela adrenal. Os níveis
plasmáticos de cortisol são os responsáveis por inibir a secreção de ACTH (alça curta) e de CRH (alça longa).

BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES


Os hormônios corticoides são aqueles esteroides produzidos no córtex de adrenal. Cada região do córtex é
responsável por produzir corticoide diferente, sendo todos eles oriundos de transformações do colesterol. A síntese dos
hormônios da adrenal é mediada por inúmeras enzimas importantes cuja deficiência pode gerar quadros sindrômicos
específicos, como a hiperplasia adrenal congênita.

 Na zona glomerulosa (responsável pela síntese da aldosterona), o colesterol sofre ação de uma primeira enzima
denominada de desmolase, que o converte em um composto chamado de pregmenolona. Este sofre ação de um
complexo enzimático composto por duas enzimas conjugadas (complexo isomerase: 3-β-hidroxi-esteroide-
desidrogenase-δ-5,4-isomerase) e é convertido em progesterona (que já é um hormônio sexual, fundamental
durante o período da gravidez). A progesterona sofre ação de uma terceira enzima chamada de 21-hidroxilase que
a transforma em um composto chamado de 11-desoxi-corticosterona. Esta sofre ação de uma quarta enzima, a
11-hidroxilase, convertendo-se em corticosterona que sofre ação, por sua vez, de uma quinta enzima, que na
realidade é um outro complexo enzimático (complexo 18: 18-hidroxilase-18-β-hidroxi-esteroide-desidrogenase,
com atividade restrita na zona glomerulosa), transformando-se, finalmente, em aldosterona. O aldosterona é
responsável por promover a reabsorção de sódio e excreção de potássio e hidrogênio e sua secreção é estimulada
pela angiotensina II.

 Na zona fasciculada (região produtora de cortisol), o colesterol sofre ação do complexo desmolase, sendo também
convertida em pregmenolona. Esta sofre ação do complexo isomerase e é convertida em progesterona. Daí,
temos a diferença: só na região fasciulada, há atividade da enzima 17-hidroxilase (com atividade restrita a zona
fasciculada e zona reticulada), responsável por hidroxilar a progesterona no carbono 17, produzindo a 17-hidroxi-
progesterona. Esta, por sua vez, sofre ação da enzima 21-hidroxilase, formando um composto chamado 11-
desoxi-cortisol, que sofre ação da enzima 11-hidroxilase e é convertida finalmente no composto chamado de
cortisol. O cortisol é um glicocorticoide ligado ao metabolismo dos carboidratos. Este cortisol inibe a secreção do
ACTH.
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 Na zona reticulada (região produtora de andrógenos, hormônios sexuais masculinizantes), o colesterol sofre ação
do complexo desmolase, sendo também convertida em pregmenolona. Esta sofre ação do complexo isomerase
e é convertida em progesterona. Daí, temos a diferença: só na região fasciulada, há atividade da enzima 17-
hidroxilase (com atividade restrita a zona fasciculada e zona reticulada), responsável por hidroxilar a progesterona
no carbono 17, produzindo a 17-hidroxi-progesterona. Porém, nesta zona, a 17-hidroxi-progesterona sofre ação
da enzima 17-liase, formando androstenediona (que já é um andrógeno, com ação semelhante a testosterona).
Nesta zona, há a alta atividade da 17-hidroxilase, que converte a pregmenolona em 17-hidroxipregmenolona,
que se sofrer ação do complexo 17-liase, haverá a formação do dehidroepiandrosterona (DHEA), de extrema
importância agindo também como um andrógeno. Nos testículos, nas células de Leydig, a síntese até este ponto é a
mesma. Porém, neste local, há ação exclusiva de uma penúltima enzima chamada de 17-β-hidroxi-esteroide-
desidrogenase que converte androstenediona em testosterona, que é responsável por todas as características
masculinizantes secundárias. No ovário, a síntese é exatamente a mesma, mas nesse local, a testosterona sofre
ação da enzima aromatase, convertendo-se em estradiol ou estrona (estrógenos), sendo estes dois os principais
estrógenos femininos.
A testosterona, hormônio responsável por todas as características masculinizantes secundárias (como o aumento
da massa óssea e muscular, aumento da espessura das pregas vocais, aumento peniano, espermatogênese, etc.),
ela é transformada perifericamente, nos homens, em estradiol, importante por estimular o impulso sexual pelo sexo
oposto ao aromatizar o hipotálamo. A testosterona, além de se transformar em estradiol, é convertida pela enzima
5-α-redutase, transformando-se no mais potente andrógeno conhecido: diidro-testosterona.

HORMÔNIOS ESTEROIDES
Em resumo, temos:
 Aldosterona: é um hormônio esteroide (da família dos mineralocorticoides) sintetizado na zona glomerulosa
do córtex das glândulas suprarrenais. É responsável pela regulação do balanço de sódio e potássio no sangue e,
consequentemente, controla o volume vascular circulante (homeostase dos fluidos). Em resumo, suas principais
funções são:
 Transporte ativo de sódio da célula tubular renal para o espaço extracelular.
 Reabsorção passiva de sódio do filtrado urinário.
 Secreção de ions de hidrogênio para o filtrado urinário, com consequente aumento do pH do sangue (alcalose).
 Aumento de reabsorção de água, com consequente aumento da pressão arterial e da volemia (volume de sangue
circulante).
O controle da produção de aldosterona é estabelecido pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona (graças à
ação da angiotensina) que, quando ativado, é responsável por: diminuição da pressão na artéria renal aferente;
diminuição de potássio; diminuição de sódio; estímulo nos nervos renais.

 Cortisol: é um hormônio da família dos glicocorticoides sintetizado na zona fasciculada da glândula adrenal. É
considerada a principal secreção da adrenal. Sua produção é mediada pelo ACTH, produzido pelo lobo anterior
da hipófise (adeno-hipófise), cuja síntese é diminuída pela própria ação em feedback do cortisol (por esta razão,
doenças que cursam com síntese diminuída de cortisol apresentam altos níveis de ACTH e uma glândula
adrenal aumentada). É um hormônio essencial para a sobrevivência humana, e suas principais funções são:
 Metabolismo da glicose (sua atuação no organismo é antagônica à insuliza, porconseguinte sendo
análoga à do glucagon) e lipídios.
 Ação inotrópica no coração
 Diminui a formação e aumenta a reabsorção óssea
 Diminui síntese de colágeno
 Débito cardíaco, tono capilar, permeabilidade vascular
 Diminui filtração glomerular
 Estimula a maturação fetal
 Antagoniza respostas imunológicas e inflamatórias
 Inibe a secreção de ACTH

 Adrenalina (epinefrina): assim como a noradrenalina e a dopamina, a adrenalina é uma catecolamina


secretada pela medula da glândula adrenal em resposta ao estímulo feito pelo sistema nervoso autonômico
simpático (ativado em situações de dor, estresse, frio, trauma, hipoglicemia, etc.). Além da medula da adrenal,
outros locais podem ser sítio de sua síntese, tais como cérebro e todas as terminações adrenérgicas. Suas
principais funções são:
 Vasodilatador arteriolar;
 Aumento de débito, contratilidade e frequência cardíaca;
 Lipólise;
 Inibição de insulina no pâncreas;
 Mecanismo de “fuga”.

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Como todo hormônio hidrofóbico (pois são derivados do colesterol), os esteroides atravessam a membrana
celular e agem com um receptor intracelular. Este receptor vai para o núcleo e induz uma transcrição gênica. Defeitos
nos receptores desencadeiam uma falta de efeito dos hormônios. Isso acontece com indivíduos geneticamente homens
(pois apresentam XY) e níveis de testosterona normais, mas devido ao fato da carência de receptores e a existência da
aromatase (que passará a degradar o excesso de testosterona em hormônios femininos como o estradiol e estrona),
haverá apenas a expressão de estrógenos, o que faz com que esses indivíduos desenvolvam características fenotípicas
feminilizantes: apresentam genitália masculina pouco desenvolvida e ambígua, nunca tiveram a semenarca (primeira
ejaculação), etc.
9
OBS : Indivíduos que apresentam altos níveis de testosterona e grande atividade da 5-α-redutase, apresentam como
consequência altas taxas de diidro-testosterona, que é bem mais potente que a testosterona. Em geral, esses indivíduos
apresentam hipertricose e quase sempre, desenvolvem calvície. A droga Finasteride é uma droga que inibe a 5-α-
redutase, sendo importante no tratamento ou retardo da calvície. Contudo, seu uso crônico tende a diminuir os níveis de
diidro-testosterona e, consequentemente, diminuindo um pouco mais a libido.
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OBS : A androgênese adrenal é importante para o homem, mas é muito mais importante para a mulher. Isso porque a
capacidade do ovário de produzir androstenediona e DEA é baixa e, portanto, o ovário está sempre necessitando de
andrógenos adrenais para convertê-los em estrona ou estradiol. Suponhamos, então, que uma paciente do sexo
feminino tenha deficiência da enzima 21-hidroxilase (responsável por converter progesterona em 11-desoxi-
corticosterona), teria uma dificuldade de produção de aldosterona (hipoaldosteronismo, apresentando hiponatremia e
hipercalemia) e de cortisol (responsável por aumentar a glicemia e inibir a ACTH), e a paciente apresentaria quadros de
hipoglicemia. Apresentaria hipotensão, tontura, fraqueza e arritmia. Portanto, o bloqueio dessas duas vias faz com que
haja desvio de substratos para a zona reticulada que é responsável pela produção de andrógenos, uma vez que o
ACTH continua funcionando (pois o cortisol está baixo) e estimulando cada vez mais a produção da adrenal. Com isso,
há uma hiperplasia congênita da adrenal, e esse excesso na produção de andrógenos, gera o desenvolvimento de
uma genitália ambígua (com hipertrofia clitoriana).
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OBS : Modificação Pós-Traducional do gene POMC. Na hipófise, o gene que codifica o ACTH é denominado de pro-
opiomelanocortina (POMC). Quando ele é traduzido, sofre uma modificação pós-traducional. Entre as proteínas que este
gene produz, estão o ACTH e o MSH (Hormônio Estimulador de Melanócitos). Percebe-se, então, o porquê que os
pacientes com hipersecreção de ACTH apresentam hiperpigmentação da pele. Além do ACTH e MSH, o POMC produz
também endorfinas, que promovem sensações de analgesia.

GLICOCORTICOIDES – CORTISOL
O fato de a síntese do mineralocorticoide aldosterona e do glicocorticoide cortisol compartilhar das mesmas
enzimas (na sua maioria) justifica as funções semelhantes e recíprocas de ambos os tipos de hormônios. Nas
concentrações fisiológicas os glicocorticoides:
 Ajudam no controle da pressão sanguínea (estabilidade cardiovascular). O cortisol, como já foi dito, apresenta
uma síntese muito semelhante à da aldosterona. Com isso, ele passa ainda a apresentar funções endógenas
semelhantes como a reabsorção de sódio nos rins. Percebe-se, então, o porquê que indivíduos que fazem uso
de corticoides apresentam uma grande retenção hídrica.
 Controlam a glicemia (homeostase metabólica), sendo ele hiperglicemiante, uma vez que aumenta a produção
hepática de glicose (gliconeogênese). Por esse fator, o excesso de corticoides desencadeiam um excesso de
glicose circulante, a qual vai ser estocada e causa ganho de peso ao indivíduo.
 O controle da disposição corporal (manutenção da integridade das funções do SNC).
 O controle da temperatura (resposta ao estresse).

A secreção de cortisol se dá de maneira cíclica, tendo seu maior pico às 8 horas da manha, sendo este o
período ideal para a coleta de avaliação da cortisolemia de um paciente. O menor pico de cortisol se dá a noite (por volta
da meia noite), estimulando a secreção de CRH e ACTH. Durante a madrugada, os níveis de ACTH e CRH vão
aumentando concomitantemente ao de cortisol, o qual, ciclicamente, atinge seu pico às 8 horas.
O transporte de cortisol no sangue se dá pela globulina ligadora de corticosteroides (CBG), uma
glicoproteína ácida com PM 52.000 produzida pelo fígado, pulmões, rins e testículos. Ela regula a liberação do cortisol
para os tecidos. Desse modo, temos duas frações de cortisol: uma fração livre (biologicamente ativa) e uma fração ligada
que, estando em equilíbrio, formam, juntas, o cortisol total plasmático.
Para impor o seu mecanismo de ação, o cortisol, ao entrar no núcleo, liga-se ao seu receptor específico. Este
passo desloca uma proteína co-repressora que faz com que o RNA polimerase e a proteína ativadora se associe ao
DNA e produza RNAm para produzir proteínas. Com isso, conclui-se que o efeito dos corticoides é um efeito mais
demorado, porém mais efetivo e persistente.
O cortisol é o protótipo dos glicocorticoides, tendo efeito direto no metabolismo dos carboidratos. Os efeitos
metabólicos dos glicocorticoides são em geral opostos aos efeitos da insulina: enquanto que a insulina promove a
captação de glicose pelo tecido muscular e adiposo (tecidos dependentes de insulina para a captação de glicose), os
glicocorticoides inibem a captação de glicose. O cortisol aumenta a captação hepática de glicose e diminui a
sensibilidade à insulina dos tecidos periféricos.

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OBS : Pacientes que apresentam síndrome de ovário policístico (SOP) tendem a ter uma resistência à ação da insulina,
pois os esteroides da adrenal (que estão em altas concentrações), de uma maneira geral, inibem a captação de glicose
pelos tecidos. Esses pacientes são tratados com Metformina, que é uma droga que aumenta a captação de glicose pelos
tecidos, diminuindo a resistência à insulina e, assim, a hiperinsulinemia.

O cortisol também influencia no metabolismo das proteínas. A insulina realiza anabolismo proteico, causando
aumento da síntese proteica e diminuição da liberação de aminoácidos. Já o cortisol, por ser um hormônio
hiperglicemiante, necessitará de aminoácidos para a gliconeogênese, realizando o catabolismo e degradação das
proteínas (inclusive as musculares) e aumento da liberação dos aminoácidos. Esse fato explica a fraqueza muscular
apresentada por indivíduos com hipercortisolemia.
Com relação ao metabolismo dos lipídios, o efeito cortisólico também é o contrário da insulina. Esta, realiza o
anabolismo e o aumento da síntese dos lipídeos, diminuição a liberação dos ácidos graxos. Já o cortisol realiza o
catabolismo dos lipídios, aumento da lipólise e aumento da liberação dos ácidos graxos. O cortisol provoca uma
redistribuição do tecido adiposo pelo cortisol. Indivíduos com hipercortisolemia apresenta uma distribuição centrípeta da
gordura corporal.
O cortisol é um agente extremamente anti-inflamatório. O cortisol inibe a resposta inflamatória por inibir a
produção de mediadores pró-inflamatórios, que são eles: os metabólitos do ácido aracdônico (prostaglandinas e
leucotrienos); fator de ativação das plaquetas (PAF); fator de necrose tumoral (TNF); Interleucina – 1 (IL-1); é ativador de
plasminogênio; promove a estabilização das membranas lisossomais e destruição dos eosinófilos. Um paciente com
hiporcortisolemia tende a apresentar, mais facilmente, infecções oportunistas. Em geral, quando se faz uso de
corticoideterapia, pode-se fazer uso associado de antibióticos. Em contrapartida, os corticoides são extremamente
indicados para o tratamento de asma crônica devido a sua ação destruidora de eosinófilos, diminuindo a descarga
histamínica na asma.
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OBS : Principais usos clínicos dos corticoides: Os medicamentos anti-inflamatórios esteroidais (corticoides,
corticosteroides ou glicocorticoides) são drogas que agem semelhantemente ao cortisol endógeno (glicocorticoide).
Estes medicamentos apresentam as mesmas funções que os medicamentos antiinflamatórios não-esteroidais (MAINEs)
exercem, sendo adicionada a ação imunossupressora. Alguns exemplos são: Hidrocortisona, Dexametasona,
Prednisolona, etc.
 Terapia de reposição: para suprir a carência de hormônios na insuficiência adrenal.
 Ação anti-inflamatória: tratamento de doenças autoimunes, processos inflamatórios granulomatosos,
processos inflamatórios pulmonares (ASMA, por exemplo), etc.
 Imunossupressão: úteis para diminuir a resposta imunológica após transplante de órgãos ou em doenças
autoimunes.
 Supressão androgênica: em caso de síndromes masculinizantes.
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OBS : No feto, o cortisol favorece a maturação do SNC, retina, pele, tracto gastrointestinal e, principalmente, o sistema
pulmonar. O cortisol auxilia a diferençiação da mucosa intestinal do fenótipo fetal para o fenótipo adulto, o que permite à
criança usar dissacarídeos presentes no leite materno. No pulmão passa-se algo semelhante, a velocidade de
desenvovimento alveolar e do epitélio respiratório é acentuada pelo cortisol; e, mais importante, nas últimas semanas de
gestação os glicocorticoides aumentam a síntese de surfactante (sendo usados para induzir a maturidade pulmonar em
recém-nascidos prematuros), sendo útil a sua administração até, aproximadamente, a 34ª semana de gestação.

MINERALOCORTICOIDE – ALDOSTERONA
A aldosterona é o protótipo dos
mineralocorticoides, sendo estimulada a sua secreção
pela Angiotensina II. Seu mecanismo de ação
primário ocorre nos túbulos renais: a aldosterona
aumenta a reabsorção de sódio e excreção de
potássio e hidrogênio. O efeito primário é o aumento
da natremia e diminuição da calemia, e a água segue
o íon sódio. Ela induz ainda a expressão aumentada
da Na-K-ATPase, de canais de sódio e da síntese de
ATP mitocondrial. Além disso, a aldosterona aumenta
a excreção de amônia.
Tem como tecidos alvos: Rins, glândulas salivares e sudoríparas, osso, trato GI, músculos. A aldosterona
estimula ainda a proliferação de miócitos cardíacos. Pacientes que apresentam insuficiência cardíaca congestiva tendem
a evoluir uma hipertrofia ventricular esquerda. Quando o mesmo faz uso de fármacos inibidores de ECA (como o
Captopril ou Enalapril), seus níveis de aldosterona tendem a cair juntamente aos de angiotensina II.

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CORTICOIDES: ESTRUTURA-FUNÇÃO
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Assim como vimos previamente na OBS , os principais corticoides do mercado são: Hidrocortisona (com
estrutura similar ao cortisol endógeno, apresentando, portanto, potencia 1); Prednisolona (apresenta uma ligação dupla a
mais que a anterior); Metilprednisolona (apresenta um radical metil a mais que a anterior); Cortisona (apresenta uma
molécula oxigênio a mais que a anterior); Prednisona (com uma ligação dupla a mais que a anterior); e Dexametasona
(apresenta flúor adicionado a sua estrutura assim como mais um grupo metil), sendo esta cerca de 25 vezes mais
potente que a hidrocortisona. A dexametasona tem seu efeito mineralocorticoide totalmente abolido, sem ter função
nenhuma de reter sódio.

Pacientes com deficiência de aldosterona são tratados com 9-α-fluorocortisone, pois este é um potente
corticoide, mas com ação mineralocorticoide, apresentando capacidade para reter sódio. Isso acontece porque
adicionando um grupo flúor na posição 9-α, há um aumento da atividade mineralocorticoide do corticoide.
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OBS : Potência glicocorticoide: Dexametasona > Prednisona > Cortisol

EFEITOS COLATERAIS DA HIPERCORTESOLEMIA


Como os corticoides influenciam todo o metabolismo corporal, podem ocorrer alterações em vários níveis
orgânicos, tais como:
 Metabolismo ósseo. Os efeitos colaterais de uma hipercortesolemia, em longo prazo, no metabolismo ósseo,
são caracterizados por uma diminuição da atividade osteoblástica, aumento da atividade osteoclástica,
diminuição da absorção do cálcio intestinal e aumento da secreção do PTH. Isso gera, portanto, uma
desmineralização óssea, tornando o osso trabecular em osso poroso.
 Resistência à insulina. O uso crônico de glicocorticoides produz uma resistência periférica à insulina e induz o
fígado a realizar gliconeogênese, tudo no intuito de realizar uma hiperglicemia. A hipercortisolemia pode levar a
um quadro de diabetes denominado de diabetes medicamentosa.
 Sistema nervoso central. A terapia crônica com corticoides tem influência extremamente importante no sistema
nervo central. Pode ocorre morte ou atrofia neural, sendo as principais estruturas afetadas o hipocampo e os
núcleos da base. Os sintomas neuropsiquiátricos são: cognitivos (memória, aprendizado); humor (irritabilidade,
depressão, ideação suicida, ideação paranoica); sono (insônia).
 Aparelho gastrointestinal. A terapia crônica com corticoides influencia também na função gástrica. O uso
prolongado de corticoides pode induzir na função gástrica: aumentando a secreção do HCl e diminuindo a
produção de mucinas que fazem a proteção da mucosa gástrica. Conclui-se, então, que o uso de corticoides
pode aumentar o risco de desenvolvimento de úlceras gástricas (sendo este risco muito menor do que o causado
pelos anti-inflamatórios não-esteroidais).
 Insuficiência adrenal. Como complicação principal para o uso crônico de corticoides exógenos, tem-se o
bloqueio do eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal. Isso faz com que a secreção de ACTH fique cada vez menor,
diminuindo concomitantemente, a produção endógena de cortisol. Na maioria dos casos, a falta do estímulo pelo
ACTH faz com que a glândula adrenal atrofie e esgote a produção de cortisol endógeno. Esse é o motivo para o
qual o fim de tratamentos com corticoides não pode ser interrompido da uma hora para a outra: a posologia deve
ser ajustada gradativamente até que a produção endógena de cortisol volte a ser regulada. Caso contrário, o
paciente entra em quadro de insuficiência adrenal.

CORRELAÇÕES CLÍNICAS
Insuficiência Adrenal: quadro em que ocorre uma
secreção inapropriadamente baixa de esteroides da
adrenal, apresentando: insuficiência de aldosterona,
insuficiência de cortisol e insuficiência de esteroides
sexuais. A insuficiência adrenal pode ser classificada em
primária (se afeta a glândula adrenal), secundária (se
afeta a hipófise) e terciária (se ela afeta o hipotálamo).

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 Insuficiência adrenal primária (Doença de Addison): Doença descrita primeiramente por Thomas Addison
(1793-1860). Na insuficiência primária, as adrenais são destruídas, e a aldosterona é igualmente afetada.
Como há uma produção carente de cortisol, o
gene POMC será transcrito exacerbadamente,
produzindo, além do ACTH, grandes
quantidades de hormônio melanocítico (o que
explica o escurecimento cutâneo característico
da Doença de Addison). Em 80% dos casos de
Doença de Addison, a etiologia se dá por uma
doença autoimune, afetando todas as regiões da
adrenal. Entre outras causas, temos: infecções
(tuberculose, citomegalovírus, fungos); vascular
(hemorragia, trombose, arterite); metástases (em
pacientes com câncer); adrenoleucodistrofia (em
homens jovens).
Os sinais e sintomas são: perda de peso,
anorexia, desidratação (devido ‘a presença de
sódio nos túbulos renais), fraqueza muscular,
hiperpigmentação da pele, hipotensão, etc. A
falta de aldosterona (hipoaldosteronismo) leva a
tontura pela hiponatremia, além de causar
hipotensão e hipercalemia.
 Insuficiência adrenal secundária e terciária: disfunções na hipófise (sem secreção de ACTH e de cortisol,
com aumento do CRH) e no hipotálamo (sem secreção de nenhum dos hormônios), respectivamente. As
principais causas são: doenças vasculares (necrose Pós-Parto, chamada de Síndrome de Sheehan); doenças
infiltrativas (Sarcoidose, compressão tumoral); Pós-cirurgia ou radioterapia; Tratamento crônico com
corticoides. Os níveis de aldosterona estão normais por ser ela estimulada pela angiotensina II,
diferentemente da insuficiência adrenal primária, na qual a aldosterona é comprometida pois todo o córtex da
adrenal é comprometido. Sintomas: fadiga, indisposição moderada, fraqueza muscular proximal. Sinais: Não
ocorre hiperpigmentação, nem hipotensão postural.

Adrenoleucodistrofia/Adrenomieloneuropatia: doença enzimática


ligada ao cromossomo X, afetando apenas homens. O paciente
apresenta insuficiência adrenal na infância, hipogonadismo
hipergonadotrófico na puberdade, paraparesia, desmielinização na
vida adulta. A fisiopatologia está relacionada à mutação na proteína
Adrenoleucodistrofia (ALPD). A função desta ALD é funcionar como
uma proteína âncora de transporte peroxisomal para Acil-CoA
sintetase de cadeia muito longa. Verificam-se ésteres de colesterol
com ácidos graxos de cadeia longa. Tratamento: Reposição de
cortisol; Óleo de Lorenzo (ajuda na reposição dos níveis séricos dos
VLCFA – mas sem benefício clínico após em média 3 anos livre da
doença).

Crise adrenal: a crise adrenal geralmente é causada pela retirada de corticoide exógeno abruptamente. O
paciente apresenta hiperpigmentação, hiponatremia, hipercalemia, hipoglicemia, hipotensão resistente a
catecolaminas. Se não tratada imediatamente, a crise adrenal pode levar o paciente a morte. Pode ser causada,
por exemplo: por hemorragias (doença tromboembólica ou terapia anticoagulante); drogas que diminuem a
produção de glicocorticoides (cetoconazol, metirapone); drogas que aumentam a produção de GC (fenobarbital,
rifomicina).

Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC): Há um defeito genético na síntese do cortisol e aldosterona, resultando
em insuficiência adrenal primária. As causas mais prevalentes da HAC é deficiência da enzima 21-hidroxilase.
Ocorre um aumento de CRH e ACHT. O ACHT aumentado estimula a adrenal e resulta no desvio de precursores
para síntese de outros hormônios. ACTH estimula o crescimento (hiperplasia) das adrenais.
A 21-hidroxilase da zona fasciculada (converte 17-hidroxi-progesterona em 11-desoxi-cortisol) é uma hidroxilase
mais branda. Seu defeito causa uma HAC não-perdedora de sal (pois a produção de aldosterona estaria normal
na zona glomerulosa). O paciente apresentaria quadros de hipoglicemia devido à carência na produção do
cortisol.
A forma mais grave da doença ocorre quando a defeitos na enzima 21-hidroxilase das duas zonas mais externas
do córtex da adrenal, fazendo com que o paciente tenha carência tanto de cortisol quanto de aldosterona,
desencadeando uma HAC perdedora de sal. O paciente apresenta uma desidratação severa. Como não há

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conversão de subprodutos para a produção do cortisol e aldosterona, há um desvio para a produção de


andrógenos pela camada mais profunda. Isso repercute, para as mulheres, em um processo de masculinização
(pseudo-hermafroditismo), ocasionando cliteromegalia e hirsuitismo (presença de barba).

Síndrome de Cushing: A síndrome de Cushing ou hipercortisolismo ou hiperadrenocorticismo é uma


desordem endócrina causada por níveis elvados de cortisol no sangue. O cortisol é liberado pela glândula
adrenal em resposta à liberação de ACTH na glândula pituitária no cérebro. Níveis altos de cortisol também
podem ser induzidos pela administração de drogas. A doença de Cushing é muito parecida com a síndrome de
Cushing, já que todas as manifestações fisiológicas são as mesmas. Ambas as doenças são caracterizas por
níveis elevados de cortisol no sangue, mas a causa do cortisol elevado difere entre as doenças. A doença de
Cushing se refere especificamente a um tumor na glândula pituitária que, por lançar grandes quantidades de
ACTH, estimula uma secreção excessiva de cortisol na glândula adrenal. Foi descoberta pelo médico americano
Harvey Cushing (1869-1939) e descrita por ele em 1932.
 Síndrome de Cushing ACTH dependente: apresenta hipercortisolemia devido a grande produção de
ACTH (em casos de tumor de hipófise hipersecretor de ACTH). Pode haver ainda hipercortisolismo de
produção ectópica de ACTH ou CRH por um tumor (carcinoide brônquico, Oat cell carcinoma,
Feocromocitoma, CA medular de tireoide). Se esse tumor é ACTH dependente mas não é da hipófise, ele
não sofre regulação do eixo hipotálamo-hipofisário. Nesses casos, ocorrerá hiperpigmentação.
 Síndrome de Cushing ACTH independete (Cushing da Adrenal): tumores de glândula adrenal
hipersecretores de cortisol, em que há níveis elevados de cortisol no sangue independentemente do
ACTH. Geralmente se dá de maneira unilateral, o que gera uma atrofia da adrenal do lado oposto ao local
do tumor. Haverá associação de excesso de andrógeno (hisurtismo, acne, menstruação irregular, calvície).
Manifestações clínicas: Aumento do catabolismo proteico (estrias, déficit de cicatrização, desgaste e fraqueza
muscular), produção aumentada de glicose (DM), redistribuição do tecido adiposo (obesidade centrípeta),
fragilidade óssea (por uma atividade osteoclásticas, gerando osteoporose), síntese aumentada de catecolaminas
(hipertensão), anti-inflamatória (infecções oportunísticas), inibição do eixo HPG (amenorreia, impotência),
depressão e dificuldade na memória (comprometimento do sistema límbico).
Diagnósticos: Há dois testes que podem ser feitos como diagnóstico:
 Supressão com baixa dose de Dexametasona: dá-se ao paciente baixas doses de dexametasona, um
potente inibidor do eixo hipotálamo-hipofisário. Baixa dose de dexametasona suprime a secreção de
ACTH em pacientes normais ou com hipercortisolismo “fisiológico” (Estresse). A baixa dose de
dexametasona não suprime a secreção de ACTH em pacientes com Síndrome de Cushing ACTH
dependente (adenoma hipofisário ou produção ectópica de ACTH por tumores) e em pacientes com
Síndrome de Cushing ACTH independente (tumores de adrenal).
 Supressão com alta dose de Dexametasona: Alta dose de dexametasona suprime a secreção de ACTH
em pacientes com Síndrome de Cushing ACTH dependente (Adenoma hipofisário). Isso ocorre pois, por
ser tão alta a taxa de dexametasona, o tumor é inibido de secretar ACTH. Alta dose de Dexametasona
não suprime a secreção de ACTH em pacientes com Síndrome de Cushing ACTH dependente
(produção ectópica de ACTH por tumores), pois a dexametasona não é capaz de suprimir a secreção de
ACTH por tumores ectópicos.

Hipoaldosteronismo: baixas taxas sanguíneas de aldosterona, havendo pouca reabsorção de sódio com baixos
índices de natremia (índices de sódio no sangue), ou seja, hiponatremia com hipercalemia (elevadas taxas de
potássio), implicando pois, nos seguintes sintomas: disritmias cardíacos (alterações no ECG devido a altas
concentrações de potássio), hipotensão (devido a baixas taxas de sódio sanguíneo).
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OBS : De um modo geral, temos:
 Hipoaldosteronismo  Hipotensão, Hipercalemia e Hiponatremia
 Hipocortisolismo  Fadiga, Hipotensão, Hipoglicemia
 Causas de hipercortisolismo: causas fisiológicas (gravidez, estresse e exercício excessivo); causas patológicas
(Síndrome de Cushing, Diabetes Melitus, Hipertireoidismo, Anorexia nervosa, Síndrome do pânico, Transtorno
Obsessivo-compulsivo, Corticoides exógeno).
 Deficiência de DHEAS  no macho (fadiga, alteração do humor); nas fêmeas (fadiga, alteração do humor,
disfunção sexual).

DIAGNÓSTICOS PARA DOENÇAS DA ADRENAL


Devem ser feitos teste de triagem:
 Dosar o cortisol às 08:00 h (5 – 25 μg/dL)
 Se alto – Hipercortisolemia
 Se muito baixo – Diagnóstico

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Porém, mesmo sendo feito os testes de triagem, a maioria dos pacientes apresentam valores “borderlines” (sem
muita especificidade). Faz-se, necessário, portanto, o uso de testes específicos. Um dos mais utilizados teste de
estimulação com ACTH, que consiste em aplicar doses de ACTH em pacientes com suspeita e observar resultados. Se
o paciente for normal, o ACTH será capaz de estimular a síntese de cortisol, aumentando a sua concentração
plasmática. Caso contrário, se não houver aumento do cortisol, o paciente é acometido de insuficiência adrenal primária.
O teste a tolerância à insulina pode ainda ser realizado. A insulina, ao estimular a hipoglicemia, estimula o eixo
Hipotálamo-Hipófise-Adrenal para que o cortisol seja produzido e aumente a glicemia plasmática. Dá-se então insulina
ao paciente e espera, após a queda da glicemia do paciente, o aumento do cortisol e a diminuição do ACTH. Baixos
níveis de cortisol após a hipoglicemia, tem-se insuficiência primária.

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