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FISIOLOGIA DA

ATIVIDADE MOTORA

André Osvaldo
Furtado da Silva
Introdução ao sistema
endócrino
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar as características e as funções do sistema endócrino.


„„ Descrever o processo de produção e regulação hormonal.
„„ Identificar os diferentes hormônios do sistema endócrino.

Introdução
No nosso corpo, o sistema endócrino é responsável por coordenar uma
série de ações químicas para que se mantenha a homeostase em nosso
organismo. Para isso, esse sistema atua nos demais órgãos e células do
corpo humano com a finalidade de regular as suas ações e reações por
meio de estímulos hormonais, que ocorrem a todo tempo no nosso
organismo.
Essas regulações causadas pelo sistema endócrino produzem alte-
rações das mais variadas e são causadas pelos mais diversos estímulos.
A sensação do coração bater mais forte e até mesmo sentir o corpo tremer
sob uma situação de estresse elevado, ou, ainda, a sensação de prazer
durante e após a realização de uma atividade física ou do seu esporte
favorito, são ótimos exemplos de reações que são causadas no organismo
por uma atuação e regulação do sistema endócrino.
Neste capitulo, você vai entender as principais características do
sistema endócrino e seus componentes. Você também vai ver como
funciona o processo de produção, regulação e liberação hormonal pelo
sistema endócrino e, por fim, vai compreender as diferentes classificações
dos hormônios e exemplos de hormônios que fazem parte do sistema
endócrino.
2 Introdução ao sistema endócrino

Sistema endócrino
Podemos começar o nosso estudo do sistema endócrino buscando a etimologia
da palavra endócrino, de origem grega, em que endo significa dentro, interno
e krino significa secretar ou secreção, logo, podemos imaginar que o sistema
endócrino é um sistema do corpo humano responsável pela secreção de al-
guma coisa para dentro do nosso organismo. Mas quem faz essa secreção? O
que é essa alguma coisa? E por que “dentro” do nosso organismo? Pois bem,
a resposta dessas e outras questões serão o conteúdo-chave deste capítulo
(VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2017).
Uma vez introduzida a função básica do sistema endócrino, precisamos
compreender suas estruturas, sendo que o sistema endócrino é um dos sistemas
do corpo humano composto por diversas estruturas, cada uma com suas particu-
laridades específicas chamadas de glândulas endócrinas. Dentre as glândulas
que compõem o sistema endócrino, podemos citar a glândula hipófise, também
chamada de pituitária. Ela é considerada a glândula mestra do organismo
humano, pois tem a função de coordenar as funções que alguns órgãos e até
mesmo outras glândulas endócrinas realizam. A hipófise tem as suas ações
reguladas juntamente com o hipotálamo, numa interface conhecida como eixo
hipotálamo-hipofisário ou hipotálamo-hipófise (SILVERTHORN, 2017).
É por meio desse eixo que as mensagens nervosas são recebidas e se emite
sinais para que hajam respostas químicas no nosso organismo. São exemplos
de glândulas e órgãos regulados pelo eixo hipotálamo-hipófise as glândulas
mamárias, as paredes uterinas, os rins, regulando o processo de filtração que
ocorre nos néfrons, os ossos, auxiliando na regulação dos níveis de cálcio no
nosso organismo, a glândula suprarrenal, a glândula tireoide auxiliando na
regulação do equilíbrio do organismo e as gônadas que auxiliam na regulação
da reprodução.
Outro exemplo de glândula bastante estudada no campo da endocrinologia
são as glândulas suprarrenais, que se localizam sobre os rins e atuam em
resposta ao estresse, por meio da secreção de hormônios corticosteroides e
catecolaminas, como o cortisol e a adrenalina, respectivamente, e também
atuam na regulação do funcionamento dos rins por meio da aldosterona,
que, embora seja secretada pelas glândulas suprarrenais, como mencionado
anteriormente, tem sua produção e secreção regulada pelo eixo hipotálamo-
-hipófise. Veja a Figura 1.
Introdução ao sistema endócrino 3

Hipotálamo
Glândula
Hipófise pineal

Tireoide Paratireoide
(parte
Timo posterior da
tireoide)

Suprarrenais
Pâncreas
(ilhotas)
Ovários
(feminino) Testículos
(masculino)

Figura 1. Principais tecidos e glândulas endócrinas.


Fonte: Vanputte, Regan e Russo (2017, p. 571).

Embora o formato anatômico, a composição celular e o funcionamento


fisiológico das glândulas sejam diferentes, elas têm em comum a capacidade de
produzir e secretar os hormônios, que são mensageiros químicos que viajam
a partir de sua fonte secretora pela corrente sanguínea até locais específicos,
que são chamados de tecidos-alvo ou, ainda, de células-alvo. São nesses alvos
que os hormônios irão atuar, regulando suas funções por meio de estímulos
excitatórios ou inibitórios (SILVERTHORN, 2017).
4 Introdução ao sistema endócrino

É importante diferenciar nesse momento as glândulas exócrinas das glân-


dulas endócrinas. As glândulas exócrinas, como indica o prefixo exo, indica
a ideia de exterior (algo externo, como no exoesqueleto, a parte flexível e
resistente que cobre o corpo de muitos animais), e crino, novamente, remete
à secreção, logo, pode-se imaginar que as glândulas exócrinas são aquelas que
produzem e secretam suas substâncias para forma do corpo, por meio de ductor
e canais específicos, como as glândulas lacrimais, que produzem e secretam
as lágrimas no canal lacrimal, que termina no olho, em que as lágrimas irão
lubrificar e limpar esse órgão. Outro exemplo de glândula exócrina são as
glândulas salivares, responsáveis por produzir e secretar a saliva diretamente
no interior da boca, onde ela irá atuar umidificando o alimento e já iniciando
a digestão dos carboidratos.
Já as glândulas endócrinas, como vimos, o prefixo endo é recorrente na
fisiologia humana, que significa para dentro ou de dentro, como no endomé-
trio e no endocárdio, isto é, a mucosa que cobre a parte interna do útero e o
revestimento interior do miocárdio. Endócrino significa que todo o material
secretado por essas glândulas são secretados no interior do nosso organismo
diretamente na corrente sanguínea, uma rede de vasos sanguíneos que percorre
todo o interior do nosso corpo, levando o sangue com seus nutrientes, células
e também hormônios.
Por fim, existem ainda as glândulas que são consideradas mistas ou anfí-
crinas, em razão de sua atuação e secreção das duas formas, como as gônadas
masculinas localizadas nos testículos, que são responsáveis por produzir e
secretar a testosterona diretamente na corrente sanguínea (característico de uma
glândula endócrina), mas também são responsáveis por produzir e secretar os
espermatozoides, nos tubos seminíferos e consequentemente na uretra, canal
por meio do qual esse produto é secretado para fora do corpo (característico
de uma glândula exócrina).
Essa diferenciação é extremamente importante e está diretamente relacio-
nada com a atuação das regulações realizadas pelos hormônios produzidos e
secretados pelo sistema endócrino. Por exemplo, a glândula mamária, localizada
nas mamas, tem a responsabilidade de produzir e secretar o leite materno,
material biológico extremamente importante, cuja função primordial é nutrir o
recém-nascido, logo, diante dessa função e do objetivo dessa glândulas, faz todo
o sentido biológico que a sua secreção seja em um ponto específico do corpo
humano, tendo em vista que isso facilita bastante o processo de amamentação.
Por outro lado, o pâncreas é um órgão que, dentre outras funções, é res-
ponsável por produzir e secretar a insulina, um hormônio que tem função
de metabolizar o açúcar presente no sangue por meio de uma facilitação do
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transporte dessas moléculas de glicose que estão na corrente sanguínea para


o interior de diferentes células, como as do tecido muscular ou do fígado para
armazenamento e produção de energia, ou seja, é extremamente importante e
faz todo sentido biológico que essa sinalização e “captação” da glicose ocorra
em praticamente todas as partes do nosso corpo. Entretanto, como isso é feito?
Através da corrente sanguínea, que tem vasos sanguíneos espalhados por todo
corpo, e, justamente por isso, essa forma de distribuição do hormônio é tão
importante fisiologicamente para o sistema endócrino.

Você sabia que não é somente os hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas
que assumem um papel de regulação do organismo? Outros órgãos, não endócrinos,
também realizam a produção de hormônios, como o coração que produz o peptídeo
atrial natriurético, que atua na regulação da pressão arterial; os rins e o fígado, que
produzem o calcitriol, que é responsável pelo aumento na absorção de cálcio pela
via intestinal; o trato gastrointestinal, que produz a gastrina, hormônio que atuas
nos processos digestivos, estimulando a secreção do suco gástrico e estimulando a
motilidade do estômago.

Assim, podemos observar que o sistema endócrino pode ser visto como
um serviço de entrega de cartas criptografadas, que, distribui cartas para toda
uma cidade, porém somente quem tem o código específico pode entender sua
mensagem e produzir uma resposta. Assim, as interações do sistema endócrino
podem ser descritas por meio de três componentes básicos que o constituem,
descritas a seguir.

„„ Glândulas endócrinas: composto por células de tecido epitelial es-


pecializada que se encontram espalhadas por todo o corpo. São as
responsáveis por secretar seus produtos químicos (hormônios) no espaço
intersticial ou diretamente na corrente sanguínea.
„„ Hormônios: os produtos químicos liberados por uma célula, geral-
mente em quantidades muito pequenas acabam sendo mensurados em
microgramas (10-6 g), nano gramas (10-9 g) e pictogramas (10-12 g),
porém, com grande capacidade de exercer suas ações, sendo que os
efeitos que um determinado hormônio exerce no organismo relaciona-se
diretamente com a forma que ele está concentrado no plasma sanguíneo.
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Sendo assim, essa concentração plasmática do hormônio é condicionada


por seguintes como a taxa de secreção hormonal na glândula endócrina,
a taxa metabólica ou de excreção do hormônio, a quantidade de proteína
transportadora (nos casos que têm) e a alterações no volume plasmático.
„„ Órgão-alvo: órgão que contém células com receptores específicos para
determinados hormônios. É nesses receptores que os hormônios irão se
ligar e produzir suas respostas biológicas (RAFF; LEVITZKY, 2012).

Além do sistema endócrino, que assume um papel bastante importante de


regulação do organismo, o sistema nervoso também é responsável por atuação
regulatória e coordenação das atividades de todas as estruturas essenciais do
corpo para manter a homeostase e, por vezes, atuam juntos, pois compartilham
diversas semelhanças, como estruturas associadas com o cérebro, como o
hipotálamo, que, ao mesmo tempo que é uma área de grande importância para
o cérebro, no qual é responsável por identificar diferenças na temperatura
corporal e atuar tanto estimulando o aquecimento e o resfriamento do corpo,
também atua no sistema endócrino, secretando hormônios para estimular a
produção da hipófise e até mesmo produzindo e secretando hormônios, como
o hormônio antidiurético e a ocitocina (GUYTON; HALL, 2017).
Outro ponto em comum de ambos os sistemas é que eles atuam em con-
junto para regular processos cruciais do corpo e, por vezes, utilizando as
mesmas substâncias como neurotransmissores (no caso do sistema nervoso)
e como hormônios (no caso do sistema endócrino), como podemos ver com
a adrenalina, que é tanto secretada na fenda sináptica, atuando como um
neurotransmissor e produzindo uma resposta específica (apenas naquelas
células-alvo que receberam a sinapse) e imediata, como também é secretada
pela glândula suprarrenal na corrente sanguínea, onde ela atua de modo mais
geral (todas as células com receptores adrenérgicos irão ser estimulados) e
com uma resposta mais duradoura.
No entanto, além dessas semelhanças, o sistema nervoso e o sistema en-
dócrino têm diversas diferenças, enquanto o sistema endócrino é dependente
de um meio de transporte, isto é, a corrente sanguínea, o sistema nervoso
funciona transmitindo mensagens por meio de sinapses entre neurônios e
também entre neurônios e células-alvo, por meio da qual são secretados os
mensageiros do sistema nervoso, os neurotransmissores.
Assim, por meio dessa diferenciação na forma de transporte dos seus
sinalizadores, o sistema nervoso promove, de modo geral, uma resposta mais
rápida do que a produzida pelo sistema endócrino, uma vez que o estímulo
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neural direto sobre a célula-alvo passa por número muito menor de interme-
diadores do que o sistema endócrino.

É importante ressaltar que, embora a resposta do sistema nervoso seja rápida, é incorreto
dizer que a resposta do endócrino seja lenta ou devagar, ele apenas responde mais
devagar quando comparado ao sistema nervoso. Neurotransmissores, como acetilcolina,
são direcionados às células-alvo e iniciam a produção da resposta em questão de
milissegundos, enquanto alguns hormônios chegam às células-alvo em questão de
segundo, ou seja, mesmo sendo mais devagar que o sistema nervoso, o transporte
dos mensageiros endócrinos é bastante rápido. (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2017).

Embora a velocidade da resposta produzida pelo sistema nervoso seja mais


rápida, ela também tem duração de tempo menor, pois, em geral, o sistema
nervoso mantêm atividade sobre as células-alvo apenas durante o envio do
potencial de ação, já no sistema endócrino, a resposta tende a ser mais dura-
dora, tendo em vista que os hormônios permanecem na corrente sanguínea
por minutos, dias e até mesmo semanas e, assim, ativam suas células-alvo
durante todo esse tempo.

O controle da homeostase corporal se dá tanto pelo sistema endócrino como pelo


sistema nervoso, que têm particularidades em sua forma de regulação e resposta.
Em uma situação de estresse emocional, como durante a participação em uma final
de campeonato de alguma modalidade esportiva, um atleta que estava no banco de
reservas e não estava participando do jogo é chamado pelo treinador. Nesse instante
ocorre a liberação imediata do neurotransmissor adrenalina, que promove respostas
como aumento da frequência cardíaca e pequenos tremores nos músculos. Ao mesmo
tempo, a adrenalina é liberada pela glândula suprarrenal na corrente sanguínea, que
levará alguns segundos até atingir todas as células-alvo e começar a produzir a resposta,
porém, permanecerá mantendo o sujeito em um estado de alerta enquanto ela estiver
circulando na corrente sanguínea, causando a sensação de euforia e estado anímico
elevado, mesmo após a finalização da partida.
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Como vimos, a atuação do sistema endócrino por meio dos hormônios


produzidos e secretados pelas glândulas endócrinas é bastante ampla e ex-
tremamente importante para regulação de diversos processos fisiológicos em
nosso organismo, porém, antes de compreendermos e estudarmos mais afundo
suas particularidades, é preciso entender os processos fisiológicos relacionados
com a estimulação e inibição da produção desses hormônios.

Produção e regulação hormonal


Os hormônios, após secretados, produzem respostas em todo o corpo humano,
regulando os processos de homeostase por meio de suas células-alvo, porém,
é importante compreender que para produzir tais respostas, esses hormônios
primeiro precisam ser secretados pelas suas glândulas, por meio de estímulos
específicos.
Antes de discutir esses estímulos, é preciso discutir os mecanismos de
retroalimentação. A taxa de secreção hormonal na glândula endócrina depende
sempre da magnitude do estímulo e se a função é de estimular ou inibir. Nesse
sentido, uma das formas que ocorre é a retroalimentação negativa, que tam-
bém pode ser chamada de feedback negativo. Essa retroalimentação ocorre
quando há a diminuição do estímulo que informa a necessidade de liberação
ou inibição de hormônios. Como um exemplo de retroalimentação negativa ou
feedback negativo, podemos utilizar os níveis de cálcio na corrente sanguínea.
Quando os níveis de cálcio estão elevados no nosso sangue, é estimulada na
glândula tireoide a produção de calcitonina. A calcitonina estimulará que o
cálcio seja depositado nos ossos e que haja uma eliminação de cálcio pela
urina. Esse hormônio também inibirá que o intestino absorva o cálcio pelo
intestino. Assim, a taxa de cálcio no sangue irá diminuir. Quando os níveis de
cálcio estão baixos no nosso sangue, a secreção da calcitonina é inibida e as
glândulas paratireoides são estimuladas a produzir o paratormônio que tem
a função inversa da calcitonina, ou seja, ele libera o cálcio dos ossos para o
sangue e estimula o intestino a absorver cálcio, além de diminuir a eliminação
dele pelos rins (SILVERTHORN, 2017).
Já a retroalimentação positiva, ou feedback positivo, acontece quando é
amplificado o estímulo que informará a necessidade de liberação ou inibição
de hormônios. Como exemplo de feedback positivo, podemos citar a situação
quando o bebê está prestes a nascer e ele força a parede do útero, o que gera um
estímulo forte. Assim, as células nervosas presentes na parede uterina geram
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sinais nervosos que são conduzidos por uma via aferente até o hipotálamo, que,
por seu controle neuroendócrino sobre a glândula hipófise, envia mensagens
para que a neurohipófise libere um hormônio que é chamado ocitocina. A
ocitocina tem a função de auxiliar no parto e irá causar a contração no útero.
A contração uterina aumentará a força que o bebê exerce sobre a parede do
útero, reforçando a sinalização nervosa descrita anteriormente, formando um
ciclo. Assim os estímulos vão se tornando cada vez mais fortes um após o
outro, até que o parto seja realizado e haja o nascimento (SILVERTHORN,
2017). Veja a seguir a Figura 2.
Compreendidos os mecanismos de feedback positivo e negativo, podemos
discuti-los por meio de três tipos de estímulos específicos: humoral, neural
e hormonal.

Estímulo humoral: este estímulo se dá por moléculas que circulam na cor-


rente sanguínea, geralmente derivadas de células do sangue. Recebem o nome
de estímulo humoral porque a palavra humor refere-se a fluidos corporais,
como o sangue. Os hormônios que são controlados por estímulo humoral são
sensíveis às concentrações plasmáticas de substâncias como glicose, cálcio
e sódio, logo, quando os níveis sanguíneos dessas moléculas se alteraram, o
hormônio é liberado em resposta a essa alteração. No entanto, além do estí-
mulo humoral, é importante destacar que a inibição também ocorre, muitas
vezes, em resposta ao mesmo estímulo humoral. Geralmente, essas respostas
ocorrem em hormônios que têm ação antagônica, isto é, quando o hormônio
A se opõe ao hormônio B. Como exemplo dessa regulação humoral, podemos
citar a relação insulina-glucagon, ambos hormônios secretados pelo pâncreas.
Após o aumento da glicemia, característico do período pós-prandial, a grande
quantidade de açúcar no sangue estimula a liberação da insulina, que irá me-
tabolizar esse açúcar e estimular a captação e o armazenamento deste como
reserva de energia, ao mesmo tempo, ocorre uma inibição do glucagon, porém,
em uma situação oposta, como após uma sessão de exercício aeróbico e/ou
após horas em jejum, é natural que se observe uma redução na quantidade de
açúcar do sangue. Essa hipoglicemia, ao mesmo tempo que inibe a ação da
insulina, estimula a secreção do glucagon, um hormônio que irá estimular a
gliconeogênese, isto é, a degradação das reservas de glicose do fígado (gli-
cogênio hepático) para ofertar glicose para a corrente sanguínea, mantendo
os valores adequados.
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Adene-hipófise Adene-hipófise
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Introdução ao sistema endócrino

Hormônio trófico Hormônio trófico

Retroalimentação 3 Retroalimentação 3
negativa positiva
Célula Célula-alvo
Alvo endócrina- Alvo
endócrina
2 -alvo 2
Hormônio
(a) Retroalimentação negativa pelos hormônios (b) Retroalimentação positiva pelos hormônios
1 A glândula adeno-hipófise secreta o hormônio trófico que 1 A glândula adeno-hipófise secreta o hormônio trófico que
viaja pelo sangue até a célula-alvo endócrina. viaja pelo sangue até a célula-alvo endócrina.
2 O hormônio da célula-alvo endócrina viaja até o alvo. 2 O hormônio da célula-alvo endócrina viaja até o alvo.

3 O hormônio da célula-alvo endócrina também possui um 3 O hormônio da célula-alvo endócrina também possui um
efeito de retroalimentação negativa sobre a efeito de retroalimentação positiva sobre a
adeno-hipófise e o hipotálamo. adeno-hipófise e o hipotálamo.

Figura 2. Retroalimentação negativa e positiva.


Fonte: Vanputte, Regan e Russo (2017, p. 579).
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Estímulo neural: esse tipo de regulação envolve o estímulo neural sobre as


glândulas endócrinas, por meio da liberação de neurotransmissores na fenda
pós-sináptica. Em alguns casos, esse neurotransmissor estimula as células
a aumentar a produção e secreção de seus hormônios, em outros casos, os
neurônios secretam neuropeptídios diretamente no sangue, que irão estimular a
secreção hormonal de outras células endócrinas, sendo chamados de hormônios
liberadores. Ao mesmo tempo, também é possível ocorrer a inibição neural,
neste caso, os neurônios inibem seus alvos da mesma forma como se estivessem
estimulando, porém, com um neurotransmissor diferente, fazendo com que
a glândula não libere seu hormônio, ou, ainda, podem promover a inibição
secretando neuropeptídios diretamente na corrente sanguínea, e neste caso são
chamados de hormônios inibidores. Com exemplo, podemos citar o estímulo
do sistema nervoso simpático sobre as glândulas suprarrenais para secretar
adrenalina, ou a liberação de GHrH e GhiH, neuropeptídios secretados pelo
hipotálamo na circulação porta para estimular ou inibir, respectivamente, a
secreção do hormônio do crescimento pela glândula hipófise.

Estímulo hormonal: esse mecanismo se dá quando um hormônio é secretado


e, então, ele mesmo estimula a secreção de outros hormônios. A inibição
nestes casos se dá quando a secreção de um hormônio inibe a secreção de
outros e ambos os mecanismos são comuns na regulação hormonal. Tal es-
tímulo é bastante comum na regulação da adeno-hipófise — uma porção
da glândula hipófise — por meio da liberação de hormônios tróficos. Esses
hormônios tróficos são liberados pelo hipotálamo, que estimula a liberação de
um hormônio trófico hipofisário que irá atuar e estimular a secreção de uma
terceira glândula e um terceiro hormônio. Por exemplo, o hipotálamo produz
o hormônio tirotropina-estimulante, conhecido como TRH, que é liberado na
adeno-hipófise, estimulando a produção do hormônios estimulante da tireoide,
o TSH. O TSH estimula a tireoide a produzir e secretar seus hormônios, a
tiroxina (T4), que é convertida a triiodotironina (T3), esse sim, responsável
por estimular e acelerar o metabolismo corporal. Ao mesmo tempo, os hor-
mônios tireoidianos podem controlar os próprios níveis sanguíneos, inibindo
a liberação de hormônio trófico hipofisário, assim, sua liberação é inibida.
12 Introdução ao sistema endócrino

Uma vez compreendido os processos de regulação, produção, estimulação


e inibição das glândulas endócrinas, para termos uma completa noção do
funcionamento do sistema endócrino, é necessário discutir e compreender
melhor os diferentes tipos de mensageiros que são secretados pelo nosso
corpo, os hormônios.

Tipos de hormônios e sua função


Os hormônios foram visualizados pela primeira vez no ano de 1902 por dois
fisiologistas britânicos, Ernest Starling e William Bayliss, esses fisiologistas
demonstraram que uma substância que existia no interior do intestino poderia
ser injetada em um cão para estimular o pâncreas a produzir outro fluído. Essa
substância foi nominada por eles como secretina e a denominaram como sendo
um hormônio. A palavra hormônio tem origem grega, sendo que hormo significa
“pôr em movimento”, logo, são substâncias que colocam o corpo em movi-
mento. Assim, podemos dizer que os hormônios são as substâncias químicas
que agem transferindo informações e instruções entre as células. Eles também
podem ser chamados de mensageiros químicos do nosso organismo, pois são
responsáveis por regular o crescimento e o desenvolvimento do nosso corpo,
além de controlar as funções dos órgãos e auxiliar na função reprodutiva e de
regular o metabolismo. É importante salientar que os hormônios fazem parte
da via de informações químicas do nosso organismo sendo ele um mensageiro
do sistema endócrino. Confira no Quadro 1 outros tipos de mensageiros que
atuam na regulação da homeostase corporal.
Os mensageiros do sistema endócrino, os hormônios, podem ser classi-
ficados em duas categorias químicas, lipossolúveis e hidrossolúveis. Essa
classificação é feita com base no comportamento químico, pois lembre-se
que a membrana plasmática é formada por uma bicamada fosfolipídica que,
por sua composição química, permite a passagem de moléculas lipossolúveis,
mas não permite a passagem de moléculas hidrossolúveis, portanto, toda
a interação do hormônio com sua célula alvo depende prioritariamente da
natureza química do hormônio. A seguir, veremos algumas particularidades
dessas duas classes de hormônios.
Quadro 1. Classe dos mensageiros químicos

Mensageiro químico Descrição Exemplo Ilustração

Autócrino São mensageiros que Eicosanoides, como prostaglandinas,


são secretados e atuam tromboxanos e leucotrienos agem como Mensageiro químico
na mesma célula reguladores de funções fisiológicas Autócrino

Parácrino Produzida por diversos Histamina, liberada por células


tecidos e secretada no danificadas da pele que torna os Mensageiro químico
líquido extracelular, tendo capilares sanguíneos dos locais
efeito nas células vizinhas lesionados mais permeáveis Parácrino
aos leucócitos e anticorpos

Neurotransmissor É produzido pelos Acetilcolina, um neurotransmissor


neurônios e são que atua no sistema nervoso
secretados na fenda somático e autônomo
sináptica, causando efeito
nas células pós-sinápticas Neurônio Neurotransmissor

Endócrino Secretado no sangue por Testosterona e estrogênio, secretados


Hormônio
células especializadas, pelas gânadas e responsáveis pelas
percorrendo boa características sexuais secundárias
distância até chegar
em suas células-alvo Endócrino

Fonte: Adaptado de Vanputte, Regan e Russo (2017).


Introdução ao sistema endócrino
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14 Introdução ao sistema endócrino

Hormônios lipossolúveis: os hormônios lipossolúveis são não polares e in-


cluem hormônios esteroides — todos à base de colesterol, como testosterona,
que atua na reprodução e manifestação das características sexuais secundárias
e aldosterona, que relaciona-se com o controle eletrolítico —, hormônios
tireoidianos — derivados de aminoácidos e atuam acelerando o metabolismo
corporal — e derivados de ácidos graxos, como as prostaglandinas, respon-
sável por aumentar a permeabilidade capilar. Esses hormônios são pequenos
e têm baixa solubilidade em fluidos aquosos como o sangue, por isso esses
hormônios são transportados na corrente sanguínea por proteínas carregadoras,
que garantem uma vida útil maior, que pode durar de dias até semanas. Esses
hormônios lipossolúveis geralmente têm um padrão de secreção crônico, no
qual se mantém relativa estabilidade de sua concentração, como é o caso do
hormônio da tireoide ou padrão episódico, com variação regular dentro de
espaços de tempo, como a flutuação mensal que ocorre com os hormônios
sexuais femininos.

Hormônios hidrossolúveis: os hormônios hidrossolúveis são moléculas polares;


incluem-se hormônios proteicos — como o hormônio do crescimento, GH ou so-
matotrofina, que estimula o crescimento celular do tecido muscular e ósseo —,
peptídicos — como a insulina, responsável pela metabolização do açúcar na
corrente sanguínea — e, na sua maioria, os derivados de aminoácidos, como a
adrenalina — responsável por promover respostas de luta ou fuga no organismo.
Em razão da sua solubilidade, muitos circulam como hormônios livres, sendo
que muitos dissolvem-se diretamente no sangue e chegam a suas células-alvo
sem nenhum tipo de proteína de ligação para esse fim, sendo utilizadas apenas
em casos de hormônios pequenos, aos quais a proteína transportadora serve
como uma proteção para que não seja filtrada para fora do sangue. Ao mesmo
tempo, as moléculas maiores, embora não precisem de um transportador,
geralmente difundem primeiro para os espaços extracelulares e de maneira
mais lenta. Esses hormônios hidrossolúveis têm uma meia-vida mais curta,
pois são degradados com maior rapidez em razão de ações enzimáticas, as-
sim, esses hormônios têm concentrações que mudam rapidamente no sangue
e tendem a regular as atividades com início rápido e curta duração. Nesses
hormônios são observados um padrão de secreção aguda, pois a concentração
desses hormônios é bastante irregular e muda de forma drástica de acordo
com cada estímulo, como o hormônio derivado de aminoácido, adrenalina,
que é influenciado pelo estresse ou pela atividade física.
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Como vimos, os hormônios são lançados na corrente sanguínea de modo


que chegam a todas as partes do corpo humano. Parte desses hormônios cir-
culam intactos na corrente sanguínea, já outros necessitam de uma substância
para serem transportados, por meio de uma molécula de proteína, para que
consigam se manter dissolvidos no sangue. Essas substâncias também podem
ter o objetivo de reservatório de hormônio, o que garante que seja mantida
a concentração hormonal, assim mantendo constantemente a concentração
hormonal e protegendo esse hormônio contra uma possível decomposição
química no decorrer do tempo (SILVERTHORN, 2017).

Veja no link da revista Trip como os hormônios podem


influenciar na nossa rotina e nas nossas atitudes.

https://goo.gl/4pHjpy

Portanto, são nas glândulas endócrinas, como hipotálamo, hipófise, ti-


reoide, pâncreas, entre outras, que na maioria das vezes são secretados os
hormônios, elas são responsáveis por produzir e fazer com que essa produção
seja aumentada ou diminuída. A homeostase é, em parte, regulada no nosso
organismo por conta dos hormônios que são os mensageiros químicos que
regulam a ação do órgão ou sistema. Os hormônios são transmitidos pelo
organismo através do sangue que o conduz até o local dentro do organismo
onde ele deve exercer um efeito. Pelo sangue, é possível que um hormônio
passe por todo o organismo, no entanto, ele causará efeito somente em alguns
órgãos. Portanto, o sistema endócrino age pelos hormônios e é por meio deles
que o sistema realiza a função de auxiliar na manutenção da homeostase.
16 Introdução ao sistema endócrino

GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
RAFF, H.; LEVITZKY, M. G. Fisiologia médica: uma abordagem integrada. Porto Alegre:
AMGH, 2012.
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VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. Porto Alegre: AMGH,
2017.

Leituras recomendadas
CERRONE, L. A. et al. Diabetes Mellitus tipo 3 e exercício físico: relações entre obesidade,
resistência insulínica e distúrbios cognitivos. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade,
Nutrição e Emagrecimento, v. 12, n. 71, p. 336-345, 2018. Disponível em: <http://www.
rbone.com.br/index.php/rbone/article/view/706/541>. Acesso em: 10 dez. 2018.
PRESTON, R.; WILSON, T. E. Fisiologia ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2014.
SANTOS, D. C. N. As repercussões da prática de exercício físico sobre o diabetes mellitus tipo
ll: um estudo de revisão. 2016. 18 f. Monografia (Graduação em Educação Física) —
Centro Desportivo, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2016.
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