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HISTOLOGIA E

EMBRIOLOGIA

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Sistema endócrino
Lucimara Rodrigues Carobeli

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Caracterizar a função das glândulas endócrinas que compõem o sistema


endócrino (tireoide, paratireoide, adrenal, hipófise, pineal e pâncreas en-
dócrino).
> Identificar os componentes histológicos de cada glândula endócrina.
> Diferenciar as glândulas endócrinas quanto às suas regiões, estruturas,
localização no organismo e hormônios sintetizados.

Introdução
O sistema endócrino é composto principalmente por glândulas macroscópicas com
localização e função definidas. As glândulas endócrinas têm sua importância na
regulação e integração de diversos processos biológicos, por meio da produção
e secreção de mensageiros químicos, os hormônios.
Os hormônios, por sua vez, podem ser constituídos por diferentes biomoléculas,
como lipídios, proteínas e aminoácidos, principalmente a tirosina. Sua ação se dá
de forma genérica, regulando diferentes órgãos, ou de forma específica, quando
um hormônio é produzido para atuar em células de um órgão em particular.
Neste capítulo, você vai conhecer quais são as principais glândulas que com-
põem o sistema endócrino, bem como suas localizações no corpo humano, estru-
turas, origem embriológica, organização histológica e os hormônios produzidos
por cada uma delas.

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2 Sistema endócrino

Componentes do sistema endócrino


O corpo humano possui dois principais tipos de glândulas, as exócrinas e as
endócrinas. As glândulas exócrinas secretam seus produtos em ductos que
os transportam para uma cavidade interna ou para a superfície externa do
corpo, como ocorre com as glândulas salivares. Por outro lado, nas glândulas
endócrinas ocorre a produção e liberação de hormônios no líquido intersticial,
que em seguida passam para a corrente sanguínea e são distribuídos para
todo o corpo. A partir de então, aquelas células que possuem receptores
específicos para os hormônios em questão responderão de acordo com sua
ação (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
O sistema endócrino é composto por hipófise, glândula pineal, tireoide,
paratireoides, adrenais (também chamadas suprarrenais) e pâncreas, que
figuram como glândulas endócrinas. Além disso, órgãos como hipotálamo,
timo, ovários, testículos, fígado, intestino e tecido adiposo, apesar de não
serem órgãos essencialmente endócrinos, contam com células que secretam
hormônios e compõem este sistema. A Figura 1 apresenta um panorama
geral dos principais órgãos que compõem o sistema endócrino de homens
e mulheres.

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Sistema endócrino 3

Glândula pineal
Hipófise

Paratireoide

Tireoide

Glândula
adrenal

Pâncreas

Ovários

Testículos

Figura 1. Representação esquemática da localização dos principais órgãos endócrinos do


corpo humano.
Fonte: Adaptada de OpenStax & Tomáš Kebert & umimeto.org (2020, documento on-line).

É evidente a grande abrangência e complexidade do sistema que rege a


homeostasia corporal, envolvendo inclusive glândulas cerebrais como a pineal,
a hipófise e o hipotálamo, sendo que este último exerce o maior controle
sobre o funcionamento das demais glândulas. O sistema endócrino inclui
até mesmo órgãos reprodutores, que atuam na secreção de hormônios que
exercem papéis importantes e diferenciados em cada fase da vida.

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4 Sistema endócrino

Além das glândulas endócrinas, que serão estudadas com detalhes


neste capítulo, os testículos masculinos e ovários femininos, chama-
dos de gônadas por serem produtores de hormônios e gametas, exercem funções
endócrinas importantes, principalmente relacionadas ao desenvolvimento
sexual. Os testículos produzem a testosterona, responsável pela formação
embrionária dos órgãos reprodutores masculinos e desenvolvimento de ca-
racterísticas corporais masculinas. Enquanto isso, nas mulheres os ovários são
responsáveis pela produção do estrogênio e da progesterona. O primeiro atua
principalmente no desenvolvimento dos órgãos reprodutores femininos e na
síntese de colágeno, enquanto o segundo atua na preparação do útero para a
gestação e das mamas para a lactação.
Para saber mais sobre a endocrinologia reprodutiva masculina e feminina,
consulte, respectivamente, Hirsch (2021) e McLauglin (2022).

Estrutura e formação das glândulas


endócrinas
Entender a origem dos tecidos e quais células os constituem é essencial para
compreender seu funcionamento normal e as consequências de suas disfun-
ções. A seguir, você verá como os órgãos glandulares do sistema endócrino
se originam ainda na fase embrionária e quais são os tipos celulares que os
formam e são responsáveis pelas suas funções endócrinas. Além disso, serão
abordadas as principais características dessas células que nos permitem
identificar e analisar tais tecidos com coloração histológica adequada e o
uso da microscopia de luz.

Origem embriológica
Durante o desenvolvimento embrionário, a ectoderme neural origina o tubo
neural, que dará origem ao sistema nervoso central. Conforme representado
na Figura 2, na porção dorsolateral do tubo neural surge uma população de
células que formam a chamada crista neural. Essas células se desprendem do
tubo neural e migram para diferentes regiões do embrião, originando, além do
sistema nervoso periférico, um conjunto variado de células não neurais, que
incluem células que formarão órgãos endócrinos como tireoide, paratireoide
e parte da glândula adrenal (NAZARI; MULLER, 2011).

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Células que vão dar origem ao


sistema nervoso periférico

Crista neural
Ectoderme
Células que vão dar origem
Tubo a órgãos endócrinos
neural

Figura 2. Representação esquemática da origem neural das células endócrinas.

A glândula adrenal apresenta duas regiões com origens embriológicas


diferentes: seu córtex, que tem origem no epitélio mesodérmico, e a medula,
que se origina de células da crista neural, e portanto, tem origem neuroec-
todérmica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).
O pâncreas é formado a partir dos brotos dorsal e ventral, brotamentos
endodérmicos do intestino primitivo, próximo à formação do duodeno. Com a
rotação do estômago, a parte inicial do duodeno se desloca e o broto ventral
se aproxima do broto dorsal. A fusão de ambos originará a cabeça do pâncreas,
e o restante do órgão se forma a partir do broto dorsal.
Completando a origem das principais glândulas endócrinas, a hipófise
é formada a partir da ectoderme. Mais especificamente, a adeno-hipófise
se origina da ectoderme superficial, enquanto a neuro-hipófise é formada
diretamente do tubo neural, compartilhando a origem embriológica com
outras estruturas como encéfalo, medula e retina (NAZARI; MULLER, 2011).

Organização histológica
Em relação à organização histológica, os tecidos glandulares se formam a partir
do epitélio de revestimento pela proliferação de suas células, que invadem
o tecido conjuntivo subjacente e se diferenciam de acordo com suas funções
celulares. Quando as células se mantêm conectadas à superfície epitelial, um
ducto é formado, e a secreção é direcionada para a superfície através desse
ducto, o que caracteriza uma glândula exócrina. Quando as células perdem
essa conexão, a secreção é liberada para os vasos sanguíneos, formando o
que chamamos de glândula endócrina (MONTANARI, 2016).

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6 Sistema endócrino

As glândulas endócrinas podem ser classificadas em foliculares ou cor-


donares, de acordo com a conformação das células epiteliais que as formam.
Conforme Junqueira e Carneiro (2013), no arranjo folicular as células se apre-
sentam em folículos ou vesículas, onde se acumula o produto de secreção
da glândula. Este é o caso da tireoide, composta por milhares de folículos
tireoidianos, constituídos por um epitélio simples, que contém uma substância
gelatinosa chamada coloide em seu interior (Figura 3).

Figura 3. Corte transversal corado em hematoxilina e eosina (HE) evidenciando folículos


tireoidianos preenchidos com coloide (*), substância precursora do hormônio tiroxina. À
direita, observa-se o tecido da glândula paratireoide, disposto em cordões densos ao redor
de capilares
Fonte: Adaptada de vetpathologist/Shutterstock.com.

Outro tipo celular encontrado na tireoide é a célula parafolicular, que


geralmente aparece em agrupamentos isolados entre os folículos tireoidianos.
A glândula é revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo que envia
septos para o parênquima. Os septos se tornam gradualmente mais delgados
ao alcançarem os folículos, que são separados entre si principalmente por
fibras reticulares.
Por sua vez, o arranjo cordonal é caracterizado quando as células se dis-
põem enfileiradas, formando cordões separados por capilares sanguíneos.
As células secretoras das glândulas paratireoide, adrenal e adeno-hipófise
apresentam conformação cordonal (MONTANARI, 2016).

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A paratireoide é na realidade composta por quatro pequenas glândulas,


geralmente localizadas nos polos superiores e inferiores da face dorsal da
tireoide. O parênquima da paratireoide é formado por células epiteliais dis-
postas em cordões separados por capilares sanguíneos (Figura 2). Dois tipos
celulares distintos são encontrados: as células principais e as células oxífilas.
As primeiras são as predominantes, pois secretam o paratormônio, assumindo
forma poligonal, núcleo vesicular e citoplasma fracamente acidófilo. Já as
células oxífilas aparecem na infância e aumentam sua quantidade progres-
sivamente. São poligonais, maiores e mais claras que as células principais
(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).
A glândula adrenal é, na realidade, formada por duas glândulas menores
com forma piramidal, localizadas logo acima de cada rim. De modo geral, a
adrenal é recoberta por uma cápsula de tecido conjuntivo e gordura, com
septos, nervos, vasos sanguíneos e linfáticos que penetram no interior do
órgão (TORTORA; DERRICKSON, 2017). A região interna da adrenal é dividida
em córtex e medula. A medula é bastante homogênea, contendo células de
coloração basófila, com citoplasma granular onde são armazenados seus
hormônios baseados em peptídeos. Essa região também contém muitos
canais venosos que drenam o sangue do córtex, passam pela medula e fluem
para a veia medular.
A região cortical das glândulas adrenais possui células especializadas
na produção de hormônios esteroides, que são derivados de lipídios. Por
isso, contém grande quantidade de retículo endoplasmático liso, já que é
nessa organela que ocorre a síntese dos hormônios esteroides. Ali também
são encontradas mitocôndrias, que, além de possuírem enzimas envolvidas
na síntese, fornecem energia para todo esse processo. A abundância dessas
organelas membranosas torna o citoplasma das células do córtex da adrenal
eosinofílico. Outra característica observável na microscopia, é a presença de
gotículas de lipídios precursores dos hormônios, que conferem um aspecto
vacuolizado ao citoplasma.
Conforme observa-se na Figura 4, além de sua cápsula e da medula, o
córtex da adrenal pode ser subdividido em três camadas concêntricas: zona
glomerulosa, zona fasciculada e zona reticulada.

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Cápsula Zona glomerulosa Zona fasciculada Zona reticulada Medula

Figura 4. Corte histológico da adrenal (coloração HE) evidenciando as transições entre a


cápsula, as regiões do córtex e a medula.
Fonte: Adaptada de Bowen (2022, documento on-line).

Eis as características principais de cada uma dessas camadas (JUNQUEIRA;


CARNEIRO, 2013).

„ Zona glomerulosa: mais externa, onde são secretados os mineralo-


corticoides por células dispostas em aglomerados ovoides irregulares
circundados por trabéculas que contêm capilares.
„ Zona fasciculada: região intermediária do córtex adrenal, onde células
dispostas em cordões, circundadas por fios finos de tecido de susten-
tação, secretam glicocorticoides.
„ Zona reticulada: camada mais interna, que secreta hormônios andró-
genos e pequenas quantidades de glicocorticoides. Contém células
pequenas, com pouca reserva de lipídios e dispostas em cordões
irregulares que formam uma rede anastomosada.

A glândula pineal, localizada na extremidade posterior do terceiro ventrí-


culo, contém basicamente dois tipos celulares, pinealócitos e astrócitos. Em
cortes corados por hematoxilina e eosina (HE), os pinealócitos adquirem cito-
plasma basófilo e núcleos de perfil irregular, contendo nucléolos evidentes.
Representando 95% das células da pineal, os pinealócitos são responsáveis
pela produção da melatonina. Por sua vez, os astrócitos apresentam núcleos
alongados e mais escuros, com prolongamentos citoplasmáticos e grande
quantidade de filamentos intermediários (TAPP; HUXLEY, 1972).
A hipófise, encontrada na base do cérebro, com cerca de 1 cm de diâmetro,
é composta de tecido neural (neuro-hipófise) e glandular (adeno-hipófise),
vistos na Figura 5. A maior parte da adeno-hipófise é formada pela pars
distalis (parte distal), tecido com cordões de células epiteliais cercadas por
vasos sinusoides. Tecidos corados com HE evidenciam três tipos celulares
epiteliais que refletem diferentes conteúdos hormonais: acidófilos, com
citoplasma vermelho ou laranja e contendo os hormônios polipeptídicos;
basófilos, com citoplasma azulado e contendo os hormônios glicoproteicos; e

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cromófobos, com citoplasma fracamente corado, pois não contêm hormônios


(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Figura 5. Corte sagital da hipófise unida ao hipotálamo (parte superior, rosa claro), corado pela
técnica de aldeído-tionina para mostrar a neurossecreção, que evidencia a adeno-hipófise
(em roxo, à esquerda) e a neuro-hipófise (parte inferior, laranja e rosa).
Fonte: Adaptada de Jose Luis Calvo/Shutterstock.com.

A neuro-hipófise, também chamada pars nervosa (parte nervosa), é com-


posta por cerca de 100 mil axônios não mielinizados de neurônios neuros-
secretores hipotalâmicos, que secretam ocitocina e hormônio antidiurético.
Além dos axônios, a neuro-hipófise contém células gliais chamadas pituícitos.
Os depósitos de neurossecreções formam estruturas conhecidas como cor-
pos de Herring, áreas dilatadas na porção terminal dos axônios visíveis ao
microscópio de luz (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).
Também é importante saber que existem glândulas chamadas mistas,
pois apresentam funções ao mesmo tempo exócrinas e endócrinas, como o
pâncreas, por exemplo. Sua porção exócrina acinosa, composta por células
serosas, libera o suco pancreático no duodeno, enquanto a porção constituída
pelas ilhotas de Langerhans são glândulas endócrinas cordonais, em volta das
quais existe uma rede de capilares sanguíneos e uma fina camada de tecido
conjuntivo que envolve a ilhota e a separa dos demais tecidos pancreáticos.
O pâncreas possui mais de 1 milhão de ilhotas de Langerhans, ou apenas
ilhotas pancreáticas, constituídas de células poligonais ou esféricas, com
cromatina pouco compactada e citoplasma róseo quando corado com HE,
contrastando com os ácinos serosos adjacentes. Como mostra a Figura 6, as

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células Alfa (α) estão na periferia da ilhota e secretam o hormônio glucagon.


As células Beta (β) são as mais abundantes e responsáveis pela secreção de
insulina e amilina. Por fim, as células Delta (δ) estão em menor quantidade
e produzem somatostatina (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013).

Ilhota de Ácinos
Langerhans pancreáticos

Célula
delta

Célula
alfa
Hemácias
Célula
beta

Figura 6. Anatomia fisiológica de uma ilhota de Langerhans, correspondente à unidade


formadora da porção endócrina do pâncreas.
Fonte: Adaptada de periyanayagam/Shutterstock.com.

Funções hormonais
Você já aprendeu que o sistema endócrino envolve diversos órgãos e estru-
turas corporais e que os hormônios produzidos pelas glândulas endócrinas
regulam funções primordiais para a nossa sobrevivência. A partir de agora,
serão apresentadas em detalhes as funções dos hormônios que cada glândula
endócrina produz e os principais prejuízos à saúde relacionados às suas
disfunções.

Tireoide
A tireoide fica localizada abaixo da laringe e acima da traqueia, assumindo
forma semelhante a uma borboleta, sendo composta por dois lobos, direito
e esquerdo. Nesta glândula, são produzidos os hormônios tiroxina (T3), tri-

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-iodotironina (T4) e calcitonina, sob regulação dos sinais de produção ou


inibição gerados pela hipófise, por meio do hormônio tireoestimulante (TSH).
Os hormônios T3 e T4 são sintetizados a partir do aminoácido tirosina e do iodo
obtido pela alimentação. Esses hormônios estimulam a síntese proteica e o
consumo de oxigênio no organismo, aumentando a quantidade e a atividade
das mitocôndrias. Além disso, promovem maior absorção de carboidratos no
intestino e regulam o metabolismo de lipídios. Os hormônios tireoidianos
também influenciam o crescimento corporal e o desenvolvimento do sistema
nervoso durante a vida fetal. À medida que o hormônio T4 entra nas células,
é convertido em T3 pela remoção de um átomo de iodo, sendo essa a confor-
mação mais ativa dos hormônios tireoidianos (TORTORA; DERRICKSON, 2017).

Quando ocorre falta de iodo na dieta, a funcionalidade da tireoide em


produzir os hormônios T 3 e T4 é afetada. Nesses casos, a glândula fica
edemaciada, formando o bócio. A fim de prevenir essa deficiência alimentar no
Brasil, desde 1982 o iodo é adicionado ao sal de cozinha conforme recomendação
da Organização Mundial de Saúde, o que levou a uma redução significativa dos
problemas de saúde ocasionados pela deficiência de iodo, especialmente em
gestantes e crianças (MELLO et al., 2016).

A calcitonina, secretada pelas células parafoliculares quando há aumento


da concentração de cálcio do plasma, atua na regulação dos níveis de cálcio no
sangue por meio do aumento da absorção de cálcio pelos ossos, que resulta
na diminuição dos seus níveis séricos (MELLO et al., 2016).

Paratireoide
A paratireoide produz o hormônio paratireoideano (PTH), que atua na regula-
ção dos níveis de cálcio, magnésio e fósforo no organismo. Quando ocorre a
diminuição destes íons nos fluídos corporais, o PTH promove a diminuição da
excreção de cálcio na urina e ativação dos osteoclastos, células ósseas que
removem cálcio e fosfato dos ossos para a corrente sanguínea. Além disso,
o PTH atua juntamente com a vitamina D para aumentar a absorção de cálcio
pelo trato gastrintestinal. Vale ressaltar que o PTH e a calcitonina agem de
forma antagônica sobre a concentração de cálcio no sangue, promovendo
seu equilíbrio (MELLO et al., 2016).

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Adrenal
As glândulas adrenais, ou suprarrenais, em referência à sua localização ana-
tômica, produzem hormônios com composições e funções distintas, de acordo
com seu local de secreção. A medula da suprarrenal secreta na corrente
sanguínea os hormônios epinefrina e norepinefrina, também chamados,
respectivamente, de adrenalina e noradrenalina. Tais hormônios produzem
efeitos semelhantes à estimulação dos nervos simpáticos em todo o corpo,
ou seja, regulam funções que preparam o organismo para situações de emer-
gência, sendo ativados em condições de hemorragia, hipoglicemia, hipóxia,
dor, exercícios intensos, medo e raiva. Com o aumento da frequência cardíaca
e da força de contração, a epinefrina e a norepinefrina aumentam a potência
de bombeamento do coração e, consequentemente, a pressão sanguínea.
Também aumentam a irrigação sanguínea de diversos órgãos como coração,
fígado, músculos e tecido adiposo, dilatam as vias respiratórias e aumentam
os níveis de glicose e ácidos graxos no sangue (HALL, 2017).
A região cortical das glândulas adrenais produz vários grupos de hormônios
esteroides chamados mineralocorticoides, glicocorticoides e andrógenos.
A aldosterona é o principal hormônio mineralocorticoide e atua na home-
ostase mineral, ou seja, na regulação de eletrólitos como sódio e potássio
nos líquidos extracelulares. A secreção de aldosterona é regulada pela via
renina–angiotensina–aldosterona e induzida em situações de desidratação,
deficiência de sódio ou hemorragia, que diminuem o volume de sangue e a
pressão sanguínea. A pressão sanguínea baixa estimula a secreção da enzima
renina pelos rins, que induz a formação de angiotensina I. Na sequência, a
enzima conversora de angiotensina (ECA) nos pulmões converte a angiotensina
I no hormônio angiotensina II, que estimula o córtex da glândula adrenal
a secretar aldosterona, que irá atuar nos rins para promover o retorno de
sódio e água para o sangue, normalizando a pressão sanguínea (TORTORA;
DERRICKSON, 2017).
Os hormônios cortisol e corticosterona são glicocorticoides naturais que
afetam a homeostasia de glicose e exercem efeitos multissistêmicos, visto
que praticamente todas as células expressam receptores de glicocorticoi-
des. Os glicocorticoides afetam o metabolismo intermediário, estimulam a
proteólise e a gliconeogênese, inibem a síntese das proteínas musculares
e aumentam a mobilização dos ácidos graxos. Além disso, modulam a res-
posta imune, ao aumentarem a síntese de citocinas anti-inflamatórias e ao
diminuírem a síntese de citocinas pró-inflamatórias, exercendo assim um
efeito anti-inflamatório. No sistema nervoso central, os glicocorticoides

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modulam a percepção e a emoção e podem produzir alterações acentuadas


no comportamento (MOLINA, 2021).
Já os andrôgenios suprarrenais são hormônios sexuais que são conver-
tidos em androstenediona e, em seguida, em androgênios ou estrogênios
potentes nos tecidos periféricos. Produzidos no córtex das adrenais de ho-
mens e mulheres, contribuem para o desenvolvimento de caracteres sexuais
secundários, e quando em excesso podem causar efeito masculinizante. Nas
mulheres, os androgênios suprarrenais também podem contribuir para a
libido (MELLO et al., 2016).

Hipófise
A hipófise secreta hormônios que desempenham funções importantes na re-
gulação de praticamente todos os aspectos do crescimento, desenvolvimento,
metabolismo e homeostasia (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Os hormônios da
adeno-hipófise desempenham papeis relevantes no controle das funções
metabólicas em todo o organismo, secretando, entre outros, hormônios
do crescimento, prolactina, folículo-estimulante e hormônio luteinizante
(MELLO et al., 2016).

Apesar de não sintetizar hormônios, a neuro-hipófise é a glândula


responsável por armazenar e liberar o hormônio antidiurético (ADH)
e a ocitocina.

Confira no Quadro 1 os principais hormônios secretados pela hipófise,


em suas subdivisões, bem como seus efeitos nos mais diversos sistemas do
corpo humano.

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14 Sistema endócrino

Quadro 1. Hormônios produzidos ou secretados pela hipófise e seus prin-


cipais efeitos

Hormônio Efeitos

Adeno-hipófise

Hormônio do crescimento humano Multiplicação e diferenciação celular,


(hGH) síntese proteica, reparo tecidual,
decomposição de triglicerídeos e
elevação dos níveis de glicose no
sangue

Hormônio tireoestimulante (TSH) Controla a secreção de hormônios


pela glândula tireoide

Hormônio folículo-estimulante (FSH) Secreção de estrógeno,


desenvolvimento folicular,
estimulação da maturação
espermática

Hormônio luteinizante (LH) Ovulação, formação do corpo lúteo,


secreção de progesterona, secreção
de testosterona

Prolactina Produção de leite pelas glândulas


mamárias

Hormônio adrenocorticotrófico Secreção de glicocorticoides


(ACTH) (principalmente cortisol) pelo córtex
da glândula suprarrenal, afetando o
metabolismo de glicose, proteínas e
gorduras

Hormônio melanócito-estimulante Aumenta a síntese de melanina


(MSH)

Neuro-hipófise

Ocitocina Contrações do trabalho de parto e


ejeção do leite

Hormônio antidiurético (ADH) Reabsorção de água, elevação do


volume e pressão sanguíneos

Fonte: Adaptado de Tortora e Derrickson (2017).

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Glândula pineal
A glândula pineal, que tem este nome devido à sua forma de pinha, sintetiza
a melatonina (N-acetil-5 metoxitriptamina), neuro-hormônio promotor do
sono, a partir do aminoácido triptofano. Depois de sintetizada, a melatonina
é secretada na corrente sanguínea para ajudar a modular o ciclo sono–vigília,
desempenhando um papel essencial no nosso organismo pelo estabeleci-
mento do relógio biológico do corpo (MOLINA, 2021).
Graças a receptores de luminosidade presentes na retina ocular, nosso
corpo percebe alterações de luminosidade, que geram sinais para a indução
ou inibição da produção da melatonina. Desse modo, mais melatonina é
liberada no escuro, durante o sono, e menos melatonina é liberada durante
o dia sob a luz do Sol. A melatonina liberada atua no tronco encefálico, região
de controle do ciclo sono–vigília (MELLO et al., 2016).

Pâncreas
A função endócrina do pâncreas é realizada pelas ilhotas pancreáticas, que
secretam os hormônios glucagon, insulina e somatostatina. A insulina esti-
mula a entrada de glicose nas células, especialmente nas fibras musculares
esqueléticas, que a utilizam para suprir a alta necessidade de geração de
energia. Por diminuir os níveis de glicose no sangue, a insulina é chamada
hormônio hipoglicemiante. A insulina também acelera a síntese de glicogênio
a partir da glicose e aumenta a captação de aminoácidos pelas células, e,
consequentemente, a síntese de proteínas. Desse modo, percebemos o papel
importante da insulina em tecidos que estão se desenvolvendo, crescendo
ou sendo reparados (TORTORA; DERRICKSON, 2017).
O glucagon diminui a oxidação da glicose, agindo principalmente so-
bre os hepatócitos, ao ativar as enzimas responsáveis pela degradação do
glicogênio em glicose (glicogenólise) e pela síntese de glicose a partir de
lipídios e aminoácidos (gliconeogênese). Trata-se, portanto, de um hormônio
hiperglicemiante, agindo de forma oposta à insulina.
Por fim, a somatostatina atua como neurotransmissor, exercendo um efeito
inibitório nas funções gastrintestinais e do pâncreas exócrino e endócrino,
inibindo a liberação da insulina e do glucagon. A liberação de somatostatina
é estimulada por refeições ricas em gordura, carboidratos e proteínas, e
inibida pela insulina (MOLINA, 2021).

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16 Sistema endócrino

A avaliação laboratorial em endocrinologia é complexa, pois os hormô-


nios estão presentes no sangue em quantidades muito pequenas, pelo
menos 1 milhão de vezes menor que as demais moléculas. Outro fator complicador
é que a concentração de um determinado hormônio pode variar rapidamente
devido a estímulos externos e pela variação biológica. Questões pré-analíticas
e analíticas, como uso de medicamentos, preparo do paciente e armazenamento
da amostra, contribuem ainda mais para a variabilidade nos resultados.
Para saber mais sobre os aspectos laboratoriais inerentes a execução, libe-
ração e interpretação dos resultados de dosagem hormonal, recomendamos a
leitura do Capítulo 52 (“Testes laboratoriais e funcionais em endocrinologia”)
do livro Rotinas em endocrinologia (CAMARGO et al., 2015).

Neste capítulo, você aprendeu a identificar histológica e funcionalmente


os principais órgãos endócrinos que fazem parte do corpo humano. Estes
conhecimentos irão permitir o avanço no entendimento dos mecanismos
subjacentes à fisiologia endócrina normal, que são essenciais para identificar
a transição do estado de saúde para o estado de doença, bem como os fun-
damentos biológicos e racionais envolvidos nas intervenções farmacológicas,
cirúrgicas e laboratoriais.

Referências
BOWEN, R. Adrenal histology: the big picture. [S. l.]: VIVO Pathophysiology, [2022].
Disponível em: http://www.vivo.colostate.edu/hbooks/pathphys/endocrine/adrenal/
histo_bigpic.html. Acesso em: 11 fev. 2023.
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