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Distúrbios Hormonais

Índice
Sistema Endócrino e Hormônios ____________________________________ 02
Distúrbios da Hipófise ____________________________________________ 06
Distúrbios da Tireóide ____________________________________________ 16
Distúrbios das Adrenais __________________________________________ 26
Diabetes Mellitus _______________________________________________ 34
Hipoglicemia __________________________________________________ 42
Síndromes da Neoplasia Endócrina Múltipla _________________________ 46
Síndromes de Deficiência Poliglandular _____________________________ 49
Carcinóide ____________________________________________________ 51

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Sistema Endócrino e Hormônios
O sistema endócrino é constituído por um grupo de órgãos (algumas vezes referidos
como glândulas de secreção interna) cuja função principal é produzir e secretar
hormônios diretamente no interior da corrente sangüínea. Os hormônios atuam como
mensageiros para coordenar atividades de várias partes do corpo.

GLÂNDULAS ENDÓCRINAS
Os principais órgãos do sistema endócrino são o hipotálamo, a hipófise, a tireóide, as
paratireóides, os testículos e os ovários. Durante a gravidez, a placenta também atua
como uma glândula endócrina além de suas outras funções. O hipotálamo secreta vários
hormônios que estimulam a hipófise: alguns desencadeiam a liberação de hormônios
hipofisários e outros a suprimem. Algumas vezes, a hipófise é denominada glândula
mestra por controlar muitas funções de outras glândulas endócrinas. Alguns hormônios
hipofisários produzem efeitos diretos, enquanto outros simplesmente controlam a
velocidade com que outros órgãos endócrinos secretam seus hormônios. A hipófise
controla a velocidade de secreção de seus próprios hormônios através de um circuito de
retroalimentação (feedback) no qual as concentrações séricas (sangüíneas) de outros
hormônios endócrinos a estimulam a acelerar ou a alentecer sua função. Nem todas as
glândulas endócrinas são controladas pela hipófise. Algumas respondem de modo direto
ou indireto às concentrações de substâncias presentes no sangue:
• As células pancreáticas secretoras de insulina respondem à glicose e aos ácidos
graxos.
• As células paratireoídeas respondem ao cálcio e ao fosfato.
• A medula adrenal (parte da glândula adrenal) responde à estimulação direta do sistema
nervoso parassimpático. Muitos órgãos secretam hormônios ou substâncias similares
aos hormônios, mas, geralmente, eles não são considerados parte do sistema endócrino.
Alguns desses órgãos produzem substâncias que atuam somente na área próxima de sua
liberação, enquanto outros não secretam seus produtos na corrente sangüínea. Por
exemplo, o cérebro produz muitos hormônios cujos efeitos são limitados basicamente
ao sistema nervoso.

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HORMÔNIOS
Os hormônios são substâncias liberadas na corrente sangüínea por uma glândula ou
órgão e que afetam a atividade de células de um outro local. Em sua maioria, os
hormônios são proteínas compostas de cadeias de aminoácidos de comprimento
variável. Outros são esteróides, substâncias gordurosas derivadas do colesterol.
Quantidades muito pequenas de hormônios podem desencadear respostas muito grandes
no organismo. Os hormônios ligam-se aos receptores localizados sobre a superfície da
célula ou no seu interior. A ligação de um hormônio a um receptor acelera, reduz ou
altera a função celular de uma outra maneira. Em última instância, os hormônios
controlam a função de órgãos inteiros. Eles controlam o crescimento e o
desenvolvimento, a reprodução e as características sexuais. Eles influenciam a maneira
como o organismo utiliza e armazena a energia. Além disso, os hormônios controlam o
volume de líquido e as concentrações de sal e de açúcar no sangue. Alguns hormônios
afetam somente um ou dois órgãos, enquanto outros afetam todo o organismo. Por
exemplo, o hormônio estimulante da tireóide é produzido na hipófise e afeta apenas a
tireóide. Em contraste, o hormônio tireoidiano é produzido na tireóide, mas afeta células
de todo o organismo. A insulina, produzida pelas células das ilhotas pancreáticas, afeta
o metabolismo da glicose, das proteínas e das gorduras em todo o organismo.

CONTROLES ENDÓCRINOS
Quando as glândulas endócrinas funcionam mal, as concentrações séricas dos
hormônios podem tornar-se anormalmente altas ou baixas, alterando as funções
orgânicas. Para controlar as funções endócrinas, a secreção de cada hormônio deve ser

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regulada dentro de limites precisos. O organismo precisa detectar a cada momento a
necessidade de uma maior ou menor quantidade de um determinado hormônio. O
hipotálamo e a hipófise secretam seus hormônios quando detectam que a concentração
sérica de um outro hormônio por eles controlado encontra-se muito alta ou muito baixa.
Os hormônios hipofisários então circulam na corrente sangüínea para estimular a
atividade de suas glândulas alvo. Quando a concentração sérica do hormônio alvo é a
adequada, o hipotálamo e a hipófise deixam de produzir hormônios, uma vez que eles
detectam que não há mais necessidade de estimulação. Este sistema de retroalimentação
regula todas as glândulas que se encontram sob controle hipofisário.
Determinados hormônios que são controlados pela hipófise variam de acordo com
programas previstos.
Por exemplo, o ciclo menstrual de uma mulher envolve flutuações mensais da secreção
do hormônio luteinizante e hormônio folículoestimulante pela hipófise. Os hormônios
ovarianos (os estrogênios e a progesterona) também apresentam flutuações mensais.
Ainda não está claro como o hipotálamo e a hipófise controlam esses biorritmos. No
entanto, sabe-se com certeza que os órgãos respondem a algum tipo de relógio
biológico. Existem outros fatores que também estimulam a produção de hormônios. A
prolactina, um hormônio secretado pela hipófise, faz com que as glândulas mamárias
produzam leite. O lactente, ao sugar o mamilo, estimula a hipófise a secretar mais
prolactina. A sucção também aumenta a secreção de ocitocina, a qual provoca a
contração dos canais lactíferos, conduzindo o leite até o mamilo para alimentar o
lactente. As glândulas que não são controladas pela hipófise (p.ex., ilhotas pancreáticas
e paratireóides) possuem seus próprios sistemas para determinar quando é necessária
uma maior ou uma menor secreção. Por exemplo, a concentração de insulina aumenta
logo após as refeições, pois o organismo precisa processar os açúcares dos alimentos.
Entretanto, se a concentração de insulina permanecesse elevada, a concentração sérica
de açúcar diminuiria perigosamente. Outras concentrações hormonais variam por razões
menos óbvias. As concentrações de corticosteróides e do hormônio do crescimento são
mais elevadas pela manhã e mais baixos no meio da tarde. As razões dessas variações
diárias não são totamente conhecidas.

A Função dos Transmissores


Embora todas as células respondam aos transmissores e a maioria delas os produzam, os
seus efeitos são comumente agrupados em três sistemas principais (o nervoso, o imune
e o endócrino) essenciais para a coordenação das atividades do organismo. Esses três
sistemas têm muito em comum e cooperam entre si.
Seus transmissores são compostos por proteínas ou derivados das gorduras. Alguns
transmissores percorrem somente uma curta distância (inferior a 2,5 cm), enquanto
outros percorrem distâncias consideráveis através da corrente sangüínea para atingirem
seus alvos. Os transmissores ligam-se às suas células alvo utilizando proteínas
receptoras específicas localizadas sobre a superfície celular ou no interior da célula.
Alguns transmissores alteram a permeabilidade das membranas celulares para
determinadas substâncias (p.ex., a insulina altera o transporte da glicose através das
membranas celulares). Outros transmissores, como a adrenalina (epinefrina) e o
glucagon, alteram a atividade de seus receptores, fazendo com que eles produzam outras
substâncias que atuam como transmissores secundários. Eles afetam a atividade do
material genético da célula, alterando a produção celular de proteínas ou a atividade das
proteínas que já se encontram no interior da célula. O efeito de um transmissor
específico depende de seu local de secreção. Por exemplo, a noradrenalina
(norepinefrina) eleva a pressão arterial quando as adrenais a secretam no sangue. No

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entanto, quando ela é liberada no sistema nervoso, a noradrenalina estimula apenas a
atividade das células nervosas próximas, sem afetar a pressão arterial.

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Distúrbios da Hipófise
A hipófise é uma glândula com o tamanho de uma ervilha localizada em uma estrutura
óssea (sela túrcica) na base do cérebro. A sela túrcica protege a hipófise, mas, em
contrapartida, deixa muito pouco espaço para a sua expansão. Quando a hipófise
aumenta de tamanho, ela tende a comprimir as estruturas que se encontram em sua parte
superior, freqüentemente pressionando as zonas do cérebro que transmitem os estímulos
visuais, podendo acarretar cefaléia (dor de cabeça) ou comprometimento da visão. A
hipófise controla a função da maioria das outras glândulas endócrinas e, por sua vez, ela
é controlada pelo hipotálamo, uma região do cérebro localizada imediatamente acima da
hipófise. A hipófise possui duas partes distintas: o lobo anterior (adenohipófise) e o
lobo posterior (neurohipófise). O hipotálamo controla o lobo anterior (adenohipófise)
através da liberação de fatores ou substâncias similares a hormônios através de vasos
sangüíneos que conectam diretamente as duas estruturas.
A hipófise, uma glândula do tamanho de uma ervilha localizada na base do cérebro,
produz vários hormônios, cada um deles afetando uma parte específica do organismo (o
órgão-alvo). Como a hipófise controla as funções da maioria das outras glândulas
endócrinas, ela é freqüentemente denominada glândula mestra. Hipófise: A Glândula
Mestra.

Ele controla o lobo posterior (neurohipófise) através de impulsos nervosos. O lobo


anterior produz (secreta) hormônios que, em última instância, controlam a função da
tireóide, das adrenais e dos órgãos reprodutores (ovários e testículos), a produção de
leite (lactação) nas mamas e o crescimento corpóreo.
Ele também produz hormônios que fazem com que a pele escureça e que inibem a
sensação de dor. O lobo posterior produz hormônios que regulam o equilíbrio hídrico
(da água), estimulam a saída do leite das mamas de mulheres que estão amamentando e
estimulam as contrações uterinas. Através da detecção das concentrações dos hormônios
produzidas pelas glândulas controladas pela hipófise (glândulas alvo), o hipotálamo ou
a hipófise podem determinar quanta estimulação ou supressão a hipófise necessita para
ajustar a atividade de suas glândulas alvo. Nem todos os hormônios produzidos pela
hipófise (e pelo hipotálamo) são secretados continuamente.

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A maioria é liberada em explosões, em períodos de uma a três horas, alternando
períodos de atividade e de inatividade. Alguns desses hormônios como, por exemplo, a
corticotropina (controla as adrenais), o hormônio do crescimento (controla o
crescimento) e a prolactina (controla a produção de leite), seguem um ritmo circadiano,
isto é, as suas concentrações aumentam e diminuem de modo previsível durante o dia,
geralmente atingindo o máximo um pouco antes do despertar e caindo aos níveis mais
baixos um pouco antes da hora de dormir. As concentrações de outros hormônios
variam de acordo com outros fatores. Por exemplo, nas mulheres, as concentrações do
hormônio luteinizante e do hormônio folículoestimulante,
(controlam as funções reprodutivas), variam durante o ciclo menstrual. A secreção
excessiva
- ou insuficiente de um ou mais hormônios hipofisários acarreta uma ampla gama de
sintomas.

FUNÇÃO DA HIPÓFISE ANTERIOR


O lobo anterior da hipófise representa 80% do seu peso. Ele libera hormônios que tanto
regulam o crescimento e o desenvolvimento físico normais como estimulam a atividade
das adrenais, da tireóide e dos ovários ou dos testículos. Quando o lobo anterior secreta
quantidades excessivas ou insuficientes de seus hormônios, as outras glândulas
endócrinas também produzem seus hormônios em quantidades excessivas ou
insuficientes. Um dos hormônios secretados pelo lobo anterior é a corticotropina
(hormônio adrenocorticotrópico ou ACTH), a qual estimula as adrenais a secretar o
cortisol, um hormônio similar à cortisona e que mantém a vida, e diversos esteróides
similares à testosterona (androgênios). Sem a corticotropina, as adrenais atrofiam e
param de secretar o cortisol, acarretando insuficiência das adrenais.
Vários outros hormônios são produzidos simultaneamente com a corticotropina. Eles
incluem o hormônio estimulante dos betamelanócitos (o qual controla a pigmentação da
pele), as encefalinas e as endorfinas (as quais controlam a percepção da dor, o humor e a
atenção).
O hormônio estimulante da tireóide, também produzido pelo lobo anterior, estimula a
tireóide a produzir os hormônios tireoidianos. Muito raramente, um excesso deste
hormônio provoca uma secreção hormonal excesssiva por parte da tireóide e,
conseqüentemente, o hipertireoidismo. Por outro lado, a estimulação deficiente faz com
que a tireóide produza uma quantidade insuficiente e acarreta o hipotireoidismo. Dois
outros hormônios produzidos pelo lobo anterior, o hormônio luteinizante e o hormônio
folículoestimulante (ambos gonadotropinas), estimulam os ovários e os testículos
(gônadas). Nas mulheres, esses dois hormônios estimulam a produção de estrogênios e
de progesterona e a liberação mensal de um óvulo de um dos ovários (ovulação). Nos
homens, o hormônio luteinizante estimula os testículos a produzir testosterona, e o
hormônio folículo-estimulante os estimulam a produzir espermatozóides. Um dos
hormônios mais importantes secretados pelo lobo anterior é o hormônio do crescimento,
o qual estimula o crescimento dos músculos e dos ossos e auxilia na regulação do
metabolismo.
O hormônio do crescimento pode aumentar acentuadamente o fluxo de açúcar para o
interior dos músculos e da gordura, estimula a produção de proteínas pelo fígado e pelos
músculos e retarda a produção de tecido adiposo (gordura). Os efeitos mais prolongados
do hormônio do crescimento – bloqueio da captação e utilização dos açúcares, fazendo
com que ocorra uma elevação da concentração sérica de açúcar, e aumento da produção
de gorduras e da concentração sérica de gorduras – parecem contrabalançar seus efeitos
imediatos. Essas duas ações do hormônio do crescimento são importantes, pois o

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organismo deve adaptar-se à falta de alimento quando submetido ao jejum. Juntamente
com o
cortisol, o hormônio do crescimento ajuda a manter a concentração de açúcar no sangue
destinado ao cérebro e mobiliza as gorduras, tornandoas disponíveis para as outras
células do corpo, criando uma fonte alternativa de energia. Em muitos casos, o
hormônio do crescimento parece atuar ativando vários fatores de crescimento, dos quais
o mais importante é o fator de crescimento similar à insulina.

FUNÇÃO DA HIPÓFISE POSTERIOR


O lobo posterior da hipófise secreta apenas dois hormônios: o hormônio antidiurético e
a ocitocina. Na realidade, esses hormônios são produzidos por células nervosas do
hipotálamo. Essas células nervosas possuem projeções (axônios) que se estendem até a
hipófise posterior, onde os hormônios são liberados.
Ao contrário da maioria dos hormônios hipofisários, o hormônio antidiurético e a
ocitocina não atuam estimulando outras glândulas endócrinas. Os seus excessos ou
deficiências afetam diretamente seus órgãos-alvos. O hormônio antidiurético (também
denominado vasopressina) promove a conservação da água pelos rins. Ele auxilia o
organismo na retenção de uma quantidade adequada de água. Quando um indivíduo
encontra-se desidratado, receptores especiais localizados no coração, nos pulmões, no
cérebro e na aorta estimulam a hipófise a produzir mais hormônio antidiurético.
As concentrações séricas dos eletrólitos (p.ex., sódio, cloreto e potássio) devem ser
mantidas dentro de limites estreitos para que a função celular seja normal. As -
concentrações altas de eletrólitos, as quais são detectadas pelo cérebro, estimulam a
liberação desse hormônio. A dor, a tensão, o exercício, a concentração sérica baixa de
açúcar, a angiotensina, as prostaglandinas e determinados medicamentos
(p.ex., clorpropamida, medicamentos colinérgicos e medicamentos utilizados no
tratamento da asma e da enfisema) também estimulam a liberação do hormônio
antidiurético. O álcool, determinados esteróides e algumas outras substâncias suprimem
a produção do hormônio antidiurético. A falta desse hormônio acarreta o diabetes
insipidus, uma condição na qual os rins excretam água em excesso. Algumas vezes, o
hormônio antidiurético é produzido em excesso. Isto ocorre na síndrome da secreção
inadequada do hormônio antidiurético, na qual a concentração de hormônio
antidiurético encontra-se excessivamente elevada, provocando a retenção de água e a
redução da concentração sérica de alguns eletrólitos (p.ex., sódio).
A síndrome da secreção inadequada do hormônio antidiurético ocorre em indivíduos
com insuficiência cardíaca e, em casos excepcionais, naqueles que apresentam uma
doença hipotalâmica. Algumas vezes, o hormônio antidiurético é produzido fora da
hipófise, sobretudo por alguns cânceres pulmonares. Por essa razão, quando o médico
detecta uma concentração sérica elevada de hormônio antidiurético, ele deve investigar
a função da hipófise e a presença de um câncer. A ocitocina provoca a contração uterina
durante e imediatamente após o parto para impedir o sangramento excessivo. Ela
também estimula a contração de certas células das mamas que circundam as glândulas
mamárias. A sucção do mamilo estimula a hipófise a liberar a ocitocina. As células das
mamas contraem, movendo o leite do local de produção (no interior da mama) para o
mamilo.

SÍNDROME DA SELA VAZIA


Na síndrome da sela vazia, a sela túrcica (estrutura óssea na base do cérebro)
caracteristicamente aumentada aloja uma hipófise de tamanho normal ou pequena. A
síndrome da sela vazia é mais comum em mulheres com sobrepeso ou com hipertensão

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arterial. Aproximadamente 10% dos indivíduos com a síndrome da sela vazia
apresentam hipertensão intracraniana (aumento da pressão do líquido existente no
interior do crânio), e cerca de 10% apresenta um corrimento nasal crônico.
Ocasionalmente, o indivíduo apresenta um pequeno pequeno tumor hipofisário (quase
sempre benigno) que secreta hormônio do crescimento, prolactina ou corticotropina.
A radiografia simples do crânio, a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância
magnética (RM) podem revelar uma sela túrcica aumentada. Geralmente, a síndrome da
sela vazia não necessita de tratamento. Entretanto, um aumento da sela túrcica também
pode indicar a presença de uma hipófise aumentada de volume. A tomografia
computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) podem auxiliar o médico a
diferenciar a síndrome da sela vazia das outras causas de aumento da sela túrcica. Por
exemplo, um tumor maligno ou benigno (adenoma) pode aumentar o tamanho da
hipófise, afetando- a ou o hipotálamo. Uma hipófise aumentada de volume pode
produzir sintomas como, por exemplo, cefaléias (dores de cabeça) e perda da visão (em
decorrência da compressão do nervo óptico provocada pela glândula aumentada). A
perda da visão é peculiar, afetando, no início, apenas os campos visuais laterais
(externos) de ambos os olhos.

HIPOPITUITARISMO
O hipopituitarismo (uma glândula hipófise hipoativa) é definido como a perda parcial
ou total da função do lobo anterior. Como o hipopituitarismo afeta a função das
glândulas endócrinas estimuladas pelos hormônios produzidos pela hipófise anterior, os
sintomas variam de acordo com os hormônios hipofisários deficientes. Embora,
algumas vezes, os sintomas iniciem de modo súbito e dramático, eles geralmente
começam gradualmente e podem permanecer despercebidos durante um longo período.
O indivíduo pode apresentar deficiência de um, vários ou todos os hormônios
produzidos pela hipófise anterior. As deficiências de gonadotropinas (deficiências do
hormônio luteinizante e do hormônio folículo-estimulante) em mulheres na pré-
menopausa produzem amenorréia (interrupção dos períodos menstruais), infertilidade,
ressecamento da vagina e perda de algumas características sexuais femininas.
Nos homens, as deficiências das gonadotropinas acarretam impotência, atrofia dos
testículos, redução da produção de espermatozóides, com a conseqüente - infertilidade,
e perda de algumas características sexuais masculinas (p.ex., crescimento dos pêlos
corpóreos e faciais).

Quais São as Causas da Hipoatividade da Hipófise?


Causas que afetam principalmente a hipófise (hipopituitarismo primário)
• Tumores hipofisários
• Suprimento sangüíneo inadequado à hipófise (devido ao sangramento intenso, a
coágulos sangüíneos, à anemia ou a outras causas)
• Infecções e doenças inflamatórias
• Sarcoidose ou amiloidose (doenças raras)
• Irradiação
• Remoção cirúrgica
• Doença auto-imune

Causas que afetam principalmente o hipotálamo, o qual então afeta a hipófise


(hipopituitarismo secundário)
• Tumores hipotalâmicos
• Doenças inflamatórias

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• Traumatismos crânio-encefálicos
• Lesão cirúrgica da hipófise ou de vasos sangüíneos ou nervos que se dirigem à ela
As deficiências de gonadotropinas também ocorrem na síndrome de Kallmann. Os
indivíduos com esta síndrome também podem apresentar fenda labial ou palatina,
daltonismo e incapacidade de discernir odores. Nos adultos, a deficiência de hormônio
do crescimento comumente produz poucos ou nenhum sintoma. Nas crianças, ela reduz
a velocidade de crescimento e, algumas vezes, causa o nanismo. A deficiência do
hormônio estimulante da tireóide acarreta o hipotireoidismo (hipoatividade da tireóide),
a qual produz sintomas como a confusão mental, a intolerância ao frio, o ganho de peso,
a constipação e a pele seca. A deficiência isolada de corticotropina é rara. Ela acarreta
hipoatividade adrenal, a qual produz fadiga, hipotensão arterial, concentração sérica
baixa de açúcar e baixa tolerância ao estresse (p.ex., traumatismo importante, cirurgia
ou infecção). A deficiência isolada de prolactina é uma condição rara, mas ela pode
explicar a razão pela qual algumas mulheres são incapazes de produzir leite após o
parto. A síndrome de Sheehan é uma complicação rara e é comumente decorrente do
sangramento excessivo e do choque durante o trabalho de parto, resultando na
destruição parcial da hipófise. Os sintomas incluem a fadiga, a perda dos pelos pubianos
e axilares e a incapacidade de produzir leite.

Diagnóstico
Como a hipófise estimula outras glândulas, uma deficiência nos hormônios hipofisários
reduz a quantidade de hormônios produzidos por essas outras glândulas. Por essa razão,
o médico aventa a possibilidade de uma disfunção hipofisária ao investigar uma outra
deficiência glandular (p.ex., da tireóide ou das adrenais). Quando os sintomas sugerem a
hipoatividade de várias glândulas, o médico deve suspeitar imediatamente do
hipopituitarismo ou da síndrome de deficiência poliglandular.
Geralmente, a hipófise é avaliada através de uma tomografia computadorizada (TC) ou
de uma ressonância magnética (RM) para identificar alterações estruturais. Os exames
de sangue são utilizados para mensurar as concentrações hormonais. A TC ou a RM de
alta definição pode revelar áreas localizadas de crescimento de tecido anormal, assim
como um aumento ou uma atrofia da hipófise. Os vasos sangüíneos que suprem a
hipófise podem ser examinados através de uma angiografia. No futuro, a tomografia por
emissão de pósitrons poderá prover informações ainda mais completas sobre a função
da hipófise.
A produção de hormônio do crescimento pela hipófise é de difícil avaliação, pois não
existe um exame que a mensure de forma confiável. Como o organismo produz o
hormônio do crescimento em várias explosões diárias (a maioria delas ocorrendo
durante o sono), a concentração sérica em qualquer momento não indica se a produção é
normal. Freqüentemente, o médico acha útil mensurar a concentração do fator de
crescimento similar à insulina I (IGF-I) no sangue, pois a concentração desse hormônio
tende a alterar lentamente e em proporção com a quantidade total da secreção do
hormônio do crescimento pela hipófise. A avaliação de uma deficiência parcial do
hormônio do crescimento é particularmente difícil. Além disso, a concentra- ção de
hormônio do crescimento encontra-se baixa quando existe uma redução da função da
tireóide ou das adrenais. Como as concentrações de hormônio luteinizante e de
hormônio folículo-estimulante oscilam com o ciclo menstrual, a interpretação de sua
mensuração nas mulheres pode ser difícil.
No entanto, nas mulheres que se encontram na pós-menopausa e que não fazem uso de
estrogênios, as concentrações de hormônio luteinizante e de hormônio folículo-
estimulante estão elevadas. Nos homens, as concentrações não oscilam muito. Alguns

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distúrbios podem inibir temporariamente a hipófise e, conseqüentemente, podem
assemelhar-se ao hipopituitarismo. A inanição prolongada (p.ex., a que ocorre na
anorexia nervosa) é uma das causas de inibição da função da hipófise. Os homens com
cirrose hepática após consumo abusivo prolongado de bebidas alcoólicas apresentam
sintomas semelhantes aos do hipopituitaismo (p.ex., aumento das mamas, atrofia dos
testículos, alterações cutâneas e ganho de peso).
Um tumor hipofisário que secreta prolactina é uma causa comum de deficiência de
hormônio luteinizante e de hormônio folículoestimulante. À medida que o tumor cresce,
ele pode destruir a hipófise em decorrência da compressão, acarretando diminuição da
produção do hormônio do crescimento, do hormônio estimulante da tireóide e da
corticotropina.

Tratamento
O tratamento é centrado na reposição dos hormônios alvos deficientes e não na
reposição dos hormônios hipofisários deficientes. Por exemplo, os indivíduos com
deficiência de hormônio estimulante da tireóide recebem hormônio tireoidiano, aqueles
com deficiência de corticotropina recebem hormônios adrenocorticais e os com
deficiência de hormônio folículo-estimulante recebem estrogênios, progesterona
ou testosterona. O hormônio do crescimento pode ser administrado às crianças, mas,
geralmente, os adultos não necessitam de reposição. Um tumor hipofisário que causa
hipopituitarismo deve ser tratado.
Quando o tumor é pequeno e não secreta prolactina, a sua remoção cirúrgica através do
nariz é o tratamento preferido pela maioria dos especialistas. Os tumores produtores de
prolactina podem ser tratados com o medicamento bromocriptina. A destruição do
tumor também pode ser realizada com a utilização da supervoltagem ou da irradiação
com feixe de próton. A remoção dos tumores grandes e daqueles - daqueles que se
estenderam além da sela túrcica pode ser impossível apenas com a cirurgia.
Quando isto ocorre, o médico utiliza a irradiação com supervoltagem após a cirurgia
para eliminar as células tumorais remanescentes. A irradiação da hipófise pode reduzir
lentamente a sua função, seja parcial ou completa. Portanto, a função das glândulas alvo
é geralmente avaliada a cada 3 a 6 meses durante o primeiro ano e, em seguida,
anualmente.

ACROMEGALIA
acromegalia é o crescimento exagerado causado pela excessiva secreção de hormônio
do crescimento. A secreção excessiva de hormônio do crescimento, a qual é quase
sempre causada por um tumor hipofisário benigno (adenoma), produz alterações em
muitos tecidos e órgãos. Por exemplo, muitos órgãos internos aumentam de tamanho,
incluindo o coração, o fígado, os rins, o baço, a tireóide, as paratireóide e o pâncreas.
Certos tumores raros do pâncreas e dos pulmões também podem causar a produção
excessiva de substâncias similares ao hormônio do crescimento, com conseqüências
semelhantes.

Sintomas
Na maioria dos casos, a secreção excessiva de hormônio do crescimento inicia entre os
30 e os 50 anos de idade, muito tempo após o fechamento das superfícies de
crescimento (cartilagens de crescimento) dos ossos. Conseqüentemene, os ossos
tornam-se deformados ao invés de tornarem-se alongados. Os traços faciais do
indivíduo tornamse mais grosseiros e as mãos e os pés aumentam de tamanho. O
indivíduo passa a necessitar de anéis, luvas, sapatos e chapéus maiores. Como as

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alterações ocorrem lentamente, elas geralmente passam despercebidas durante anos.
Ocorre um aumento de pêlos corporais grossos à medida que a pele torna-se mais
espessa e, freqüentemente, torna-se mais escura. As glândulas sebáceas e sudoríparas da
pele aumentam de tamanho, o que causa excessiva transpiração e cheiro desagradável
no corpo. O crescimento excessivo da mandíbula (maxilar inferior) pode acarretar
protrusão da mesma (prognatismo).
A cartilagem no aparelho fonador (laringe) pode espessar, tornando a voz grave e rouca.
A língua também pode aumentar de volume e tornar-se mais sulcada. As costelas
podem espessar e o tórax passa a apresentar o aspecto de um barril. A dor articular é
comum. Após muitos anos, pode ocorrer uma artrite degenerativa incapacitante. O
coração geralmente aumenta de volume e a sua função pode ser tão gravemente
comprometida a ponto de desencadear uma insuficiência cardíaca. Algumas vezes, o
indivíduo sente sensações estranhas e fraqueza nos membros superiores e inferiores à
medida que o espessamento tissular comprime os nervos. Os nervos que transmitem
estímulos dos olhos ao cérebro também podem ser comprimidos, com conseqüente
perda da visão, sobretudo dos campos visuais laterais (externos). Além disso, o tumor
hipofisário pode causar cefaléias intensas.
Quase todas as mulheres com acromegalia apresenta irregularidade do ciclo menstrual.
Algumas produzem leite apesar de não estarem amamentando (galactorréia) em
decorrência do excesso de hormônio do crescimento ou de um aumento associado de
prolactina. Cerca de um terço dos homens que apresentam acromegalia torna-se
impotente. Em situações muito raras, a secreção excessiva de hormônio do crescimento
inicia na infância, antes que as cartilagens de crescimento dos ossos longos tenha
fechado.
Como os ossos continuam a crescer até que as suas cartilagens de crescimento fechem,
esta situação acarreta um crescimento exagerado dos ossos e uma altura anormal
(gigantismo hipofisário). Embora as crianças apresentem um crescimento acelerado, os
seus ossos não deformam. Entretanto, os tecidos moles em torno dos ossos incham e
alguns nervos podem aumentar de volume. Pode ocorrer retardo da puberdade e os
órgãos genitais podem não se desenvolver totalmente.

Diagnóstico
Como as alterações causadas pela concentração alta de hormônio do crescimento
ocorrem lentamente, a acromegalia freqüentemente é diagnosticada muitos anos após o
aparecimento dos primeiros sintomas. As fotografias seriadas (realizadas ao longo de
muitos anos) podem ajudar o médico a estabelecer o diagnóstico. A radiografia do
crânio pode revelar espessamento dos ossos, aumento dos seios nasais e aumento ou
erosão da sela túrcica (estrutura óssea que envolve a hipófise). As radiografias das mãos
revelam o espessamento dos ossos sob as pontas dos dedos e edema tissular em torno
dos ossos. Muitos indivíduos com acromegalia apresentam concentração sérica alta de
açúcar. Os sintomas sugerem o diagnóstico de acromegalia e ele é confirmado através
de uma concentração alta de hormônio do crescimento ou de fator de crescimento
similar à insulina I (IGF-I) em uma amostra de sangue. Quando o resultado do exame
apresenta um valor limítrofe, é administrada uma grande quantidade de açúcar ao
indivíduo para se observar se a concentração de hormônio do crescimento cai, como
deveria ocorrer em um indivíduo que não apresenta acromegalia. Em um indivíduo com
acromegalia, tanto a concentração sérica de açúcar como a de hormônio do crescimento
permanecem elevadas.

Tratamento

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Para interromper ou reduzir a produção excessiva de hormônio do crescimento, o tumor
é removido ou destruído através da cirurgia ou da radioterapia. A radioterapia consiste
no uso da irradiação com
supervoltagem, a qual é muito menos traumática que a cirurgia e, geralmente, não afeta
a produção dos demais hormônios hipofisários. Contudo, este tipo de tratamento pode
não conseguir fazer com que todas as concentrações hormonais retornem ao normal por
vários anos. Em um esforço para acelerar os resultados, os médicos vêm tentando outras
formas de radioterapia. A redução da concentração de hormônio do crescimento não é
fácil, mesmo com a utilização conjunta da cirurgia e da radioterapia. As injeções de
octreotida podem ajudar a bloquear a produção do hormônio do crescimento. Uma outra
droga, a bromocriptina, também pode ser útil.

GALACTORRÉIA
A galactorréia é a produção de leite pelas glândulas mamárias tanto em homens como
em mulheres que não estão amamentando. Em ambos os sexos, a causa mais freqüente
da galactorréia é um tumor hipofisário que produz prolactina (prolactinoma).
Geralmente, os prolactinomas são muito pequenos no momento do diagnóstico. No
entanto, eles tendem a ser maiores nos homens que nas mulheres. A secreção excessiva
de prolactina e o desenvolvimento da galactorréia também podem ser induzidos por
medicamentos como por exemplo, as fenotiazinas, determinados medicamentos
antihipertensivos (especialmente a metildopa) e narcóticos. Uma outra causa possível é
o hipotireoidismo, isto é, a hipoatividade da tireóide.

Sintomas
Embora a produção do leite possa ser o único sintoma de um prolactinoma, muitas
mulheres param de menstruar ou passam a apresentar irregularidade menstrual. As
mulheres com prolactinoma freqüentemente também apresentam fogachos e
ressecamento vaginal, o que causa desconforto durante a relação sexual. Os homens
com prolactinoma comumente apresentam cefaléias ou perda da visão
periférica. Aproximadamente dois terços dos homens perdem o interesse sexual e
tornam-se impotentes.

Diagnóstico
A descoberta da causa de uma produção anormal de leite geralmente envolve uma
combinação de exames de sangue e a tomografia computadorizada (TC) ou a
ressonância magnética (RM). Os sinais de deficiência de estrogênio são evidentes ao
exame físico. O médico mensura a concentração sérica da prolactina e de outros
hormônios (p.ex., hormônio luteinizante e hormônio folículoestimulante). A TC ou
a RM de alta definição podem revelar a presença de prolactinomas. Quando o tumor é
grande, o oftalmologista investiga os campos visuais do indivíduo em busca de
possíveis efeitos do tumor sobre a visão.

Tratamento
Os prolactinomas são tratados de diferentes maneiras. Quando a concentração de
prolactina do indivíduo não é extraordinariamente alta e a TC ou a RM mostra apenas
um tumor hipofisário pequeno ou não revela qualquer tumor, o médico pode prescrever
a bromocriptina ou pode não aconselhar qualquer tratamento. Nas mulheres, a
bromocriptina tem a vantagem de aumentar a concentração de estrogênios, os quais
freqüentemente estão baixos nas mulheres com uma concentração alta de prolactina, e,

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conseqüentemente, as protege contra a osteoporose. A bromocriptina também pode
possibilitar a gravidez às mulheres com prolactinoma e ajuda a interromper a secreção
embaraçosa de leite através das mamas. O estrogênio ou contraceptivos orais contendo
estrogênios podem ser administrados a mulheres com prolactinomas pequenos, já que
não existem evidências de que os estrogênios façam com que os tumores pequenos
cresçam mais rapidamente que o normal.
A maioria dos especialistas recomenda a realização anual de uma TC ou de uma RM
anualmente, pelo menos durante 2 anos, para garantir que o tumor não está aumentando
de maneira significativa.
Geralmente, após realizarem uma investigação minuciosa do sistema endócrino, os
médicos tratam os indivíduos com tumores maiores (macroadenomas) macroadenomas)
com bromocriptina ou com cirurgia.
O tratamento é coordenado por um endocrinologista, um neurocirurgião e um
radioterapeuta. Se a bromocriptina reduzir a concentração de prolactina e os sintomas
desaparecerem, a cirurgia pode ser desnecessária. Caso ela seja necessária, a
bromocriptina pode ser prescrita para auxiliar na redução do tamanho do tumor antes da
sua realização. Embora a cirurgia possa reduzir no início a concentração de
prolactina à concentração normal, a maioria dos prolactinomas acabam recorrendo. A
radioterapia somente é utilizada quando os sintomas agravam e o tumor aumenta de
volume apesar do tratamento com bromocriptina. As concentrações dos outros
hormônios hipofisários podem diminuir durante vários anos após a radioterapia.

DIABETES INSIPIDUS
O diabetes insipidus é um distúrbio no qual a concentração insuficiente de hormônio
antidiurético acarreta polidipsia (sede excessiva) e poliúria (produção excessiva de uma
urina muito diluída). O diabetes insipidus é resultante da diminuição da produção de
hormônio antidiurético (vasopressina), o qual limita naturalmente a produção excessiva
de urina pelo organismo. O hormônio antidiurético é único pelo fato de ser produzido
pelo hipotálamo e, em seguida, ser armazenado e liberado na corrente sangüínea pela
hipófise posterior. O diabetes insipidus também pode ocorrer quando a concentração
sérica de hormônio antidiurético encontra-se normal, mas os rins não respondem
normalmente a ele (uma condição denominada diabetes insipidus nefrogênico).

Causas
O diabetes insipidus pode ter várias causas. Uma possibilidade é a disfunção (mau
funcionamento) do hipotálamo com produção de uma quantidade muito pequena de
hormônio antidiurético. Uma outra possibilidade é a da hipófise não conseguir liberar o
hormônio na corrente sangüínea. Outras causas incluem a lesão cirúrgica do hipotálamo
ou da hipófise, uma lesão cerebral (sobretudo a fratura da base do crânio), um tumor, a
sarcoidose ou a tuberculose, um aneurisma ou uma obstrução as artérias que suprem o
cérebro, alguns tipos de encefalite ou de meningite e a histiocitose X (doença de Hand-
Schüller- Christian), a qual é rara. Em casos raros, o indivíduo apresenta sintomas
psicológicos de sede excessiva, resultando em uma grande ingestão de líquido e na
micção excessiva. Esses sintomas assemelham-se aos do diabetes insipidus, exceto pelo
fato do indivíduo geralmente não despertar durante a noite para urinar.
Ao longo do tempo, a ingestão excessiva de líquido acarreta uma diminuição da
responsividade ao hormônio antidiurético.

Sintomas

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O diabetes insipidus pode iniciar gradualmente ou subitamente em qualquer idade.
Freqüentemente, os únicos sintomas são a sede excessiva e a produção exagerada de
urina. O indivíduo pode ingerir volumes enormes de líquido (4 a 40 litros por dia) para
compensar a perda de líquido na urina. Quando a compensação não é possível, ocorre
uma instalação rápida da desidratação, acarretando hipotensão arterial e choque. O
indivíduo continua a urinar grandes quantidades durante a noite e com uma grande
freqüência.

Diagnóstico
O médico suspeita do diabetes insipidus nos indivíduos que produzem grandes
quantidades de urina.
Primeiramente, o médico analisa a concentração de açúcar na urina, para descartar o
outro tipo de diabetes (diabetes mellitus). Os exames de sangue revelam concentrações
anormais de muitos eletrólitos.
Para o diabetes insipidus, o teste da privação de água é o mais simples e confiável.
Como o indivíduo não deve ingerir líquido durante o teste e devido à possibilidade dele
desidratar, o teste deve ser realizado em consultório médico ou em outro serviço
médico. Durante várias horas, a produção de urina, as concentrações séricas de
eletrólitos (sódio) e o peso são regularmente mensurados. Assim que a pressão
arterial cai, a freqüência cardíaca aumenta ou o peso corpóreo é reduzido em mais de
5%, o teste é interrompido e é administrada ao indivíduo uma injeção de hormônio
antidiurético. O diagnóstico do diabetes insipidus é confirmado quando, em resposta ao
hormônio anti-diurético, a micção excessiva cessa, a pressão arterial aumenta e o ritmo
cardíaco torna-se mais normal.

Tratamento
Sempre que possível, a causa subjacente do diabetes insipidus deve ser tratada. A
vasopressina ou o acetato de desmopressina (formas modificadas do hormônio
antidiurético) podem ser administados sob a forma de spray nasal, várias vezes ao dia,
para manter uma produção de urina normal. Contudo, o uso excessivo desses
medicamentos pode acarretar retenção líquida, edema e outros problemas. Geralmente,
são administradas injeções de hormônio antidiurético aos indivíduos com diabetes
insipidus submetidos à cirurgia ou que se encontram inconscientes. Em algumas
situações, o diabetes insipidus pode ser controlado com medicamentos que estimulam a
produção do hormônio antidiurético como, por exemplo, a clorpropamida, a
carbamazepina, o clofibrato e vários diuréticos (tiazídicos). É improvável que essas
drogas aliviem totalmente os sintomas dos indivíduos que apresentam um diabetes
insipidus grave.

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Distúrbios da Tireóide
A tireóide é uma pequena glândula que mede aproximadamente 5 cm de diâmetro
localizada no pescoço, sob a pele, abaixo do pomo de Adão. Os dois lobos (metades) da
tireóide estão conectadas em sua parte central (istmo), o que confere à glândula a forma
da letra “H” ou de uma gravata borboleta. Normalmente, ela não pode ser visualizada e
é dificilmente palpada. No entanto, quando ela aumenta de volume, o médico poderá
palpá-la facilmente e uma protuberância proeminente (bócio) pode aparecer abaixo ou
lateralmente ao pomo de Adão. A tireóide secreta os hormônios tireoidianos, os quais
controlam a velocidade com que as funções químicas do organismo ocorrem (taxa
metabólica). Os hormônios tireoidianos influenciam a taxa metabólica de duas
maneiras: através da estimulação de quase todos os tecidos do corpo para que eles
produzam proteínas e através do aumento da quantidade de oxigênio utilizado pelas
células. Quando as células trabalham mais intensamente, os órgãos do corpo trabalham
mais rapidamente. Para produzir os hormônios tireoidianos, a tireóide necessita de iodo,
um elemento existente nos alimentos e na água. A tireóide capta o iodo e o processa
para produzir os hormônios tireoidianos.
À medida que os hormônios tireoidianos são utilizados, parte do iodo neles contido
retorna à tireóide e é reciclado para produzir mais hormônios tireoidianos. O corpo
possui um mecanismo complexo de ajuste da concentração dos hormônios tireoidianos.
Em primeiro lugar, o hipotálamo (localizado no cérebro, logo acima da hipófise),
secreta o hormônio liberador de tireotropina, que faz com que a hipófise produza o
hormônio estimulante da tireóide. Como o nome sugere, o hormônio estimulante da
tireóide estimula a tireóide a produzir hormônios tireoidianos. Quando a quantidade de
hormônios tireoidianos circulantes no sangue atinge uma determinada concentração, a
hipófise reduz a produção do hormônio estimulante da tireóide e vice-versa. Trata-se de
um mecanismo de controle por retroalimentação (feedback) negativa. Os hormônios
tireoidianos são encontrados sob duas formas. A tiroxina (T4), a qual é a forma
produzida na glândula tireóide, tem apenas um efeito discreto (quando o tem) sobre o
aumento da taxa metabólica do organismo. No fígado e em outros órgãos, ela é
convertida na forma metabolicamente ativa, a triiodotironina (T3). Esta conversão
produz aproximadamente 80% da forma ativa do hormônio.
Os 20% restantes são produzidos e secretados pela própria tireóide. Muitos fatores
controlam a conversão de T4 em T3 no fígado e em outros órgãos, inclusive as
necessidades do organismo a cada momento. A maior parte de T4 e T3 encontra-se
firmemente ligada a determinadas proteínas do sangue e os hormônios somente são
ativos quando não se encontram ligados a essas proteínas. Desse modo notável, o corpo
mantém a quantidade correta de hormônios tireoidianos necessária para a manutenção
de uma taxa metabólica estável. Para que a tireóide funcione normalmente, muitos
fatores devem atuar em conjunto e adequadamente: o hipotálamo, a hipófise, as
proteínas ligadoras dos hormônios tireoidianos do sangue e a conversão de T4 para T3
(no fígado e em outros tecidos).

Exames laboratoriais
Para se determinar o quão bem a tireóide está funcionando, os médicos utilizam vários
exames laboratoriais. Um dos mais comuns é a dosagem da concentração de hormônio
estimulante da tireóide no sangue. Como esse hormônio estimula a tireóide, a
concentração encontra-se alta quando a glândula está hipoativa (e, conseqüentemente,
necessita de uma maior estimulação) e baixa quando ela está hiperativa

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(e, conseqüentemente, necessita de uma menor estimulação). Quando a hipófise não está
funcionando normalmente (embora isto raramente ocorra), a concentração de hormônio
estimulante da tireóide isoladamente não reflete de modo acurado a função da tireóide e
o médico então mensura a concentração de T4 livre. Geralmente, a mensuração da
concentração de hormônio estimulante da tireóide e a de T4 circulante no sangue são
suficientes. No entanto, a concentração da globulina ligadora da tiroxina também
pode ser mensurada, pois a concentração anormal desta proteína pode acarretar uma
interpretação errônea da concentração total de hormônios tireoidianos. Os indivíduos
com nefropatia (doença renal), com determinados distúrbios genéticos, com algumas
doenças ou aqueles que fazem uso de esteróides anabolizantes apresentam
concentrações mais baixas da globulina ligadora da tiroxina.

Localização da Glândula Tiróide

Por outro lado, a concentração dessa globulina pode estar aumentada em mulheres
grávidas ou que fazem uso de contraceptivos orais ou outras formas de estrogênios, em
indivíduos que apresentam estágios iniciais de hepatite ou outras doenças. Alguns
exames podem ser realizados na própria glândula. Por exemplo, quando o médico
detecta um aumento da tireóide, ele pode solicitar a realização de uma
ultrassonografia. Este procedimento utiliza ondas sonoras para determinar se o tumor é
sólido ou se o seu conteúdo é líquido. A cintilografia da tireóide utiliza o iodo ou o
tecnécio radioativo e um dispositivo para produzir uma imagem da glândula que
revelará qualquer alteração física. A cintilografia da tireóide também pode auxiliar o
médico a determinar se a função de uma área encontra-se normal, hiperativa ou
hipoativa em comparação com o restante da glândula. Em raras ocasiões, quando o
médico não tem certeza se o problema está localizado na tireóide ou na hipófise, testes
de estimulação funcional podem ser solicitados. Um desses testes consiste na injeção
intravenosa do hormônio liberador da tirotropina e, em seguida, na realização de exames
de sangue para mensurar a resposta da hipófise.

SÍNDROME DO DOENTE EUTIREOIDEU


Na síndrome do doente eutireoideu, os resultados dos exames da tireóide são anormais,
embora a glândula apresente uma função normal. A síndrome do doente eutireoideu
geralmente ocorre em indivíduos que apresentam uma doença grave que não seja a
doença da tireóide. Nos indivíduos doentes, desnutridos ou que foram submetidos a uma

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cirurgia, a forma de T4 do hormônio tireoidiano não é normalmente convertida na forma
de T3. Ocorre um acúmulo de grandes quantidades de T3 reversa, uma forma inativa
do hormônio tireoidiano. Apesar dessa conversão anormal, a tireóide continua a
funcionar e a controlar normalmente a taxa metabólica do organismo. Como a tireóide
não apresenta problema, nenhum tratamento é necessário. Uma vez curada a doença
subjacente, os exames laboratoriais revelam resultados normais.

HIPERTIREOIDISMO
O hipertireoidismo, uma condição na qual a tireóide encontra-se hiperativa, ocorre
quando a glândula produz um excesso de hormônios. O hipertireoidismo possui várias
causas, incluindo reações imunológicas (possível causa da doença de Graves). Os
indivíduos com tireoidite (inflamação da tireóide) comumente apresentam um período
de hipertireoidismo. No entanto, a inflamação pode lesar a glândula, de modo que a
hiperatividade inicial é o prelúdio de um hipotireoidismo (hipoatividade) transitório
(mais comum) ou permanente. Algumas vezes, os nódulos tireoidianos tóxicos
(adenomas), que são as áreas de crescimento tissular anormal no interior da tireóide,
escapam dos mecanismos que normalmente controlam a glândula e produzem
hormônios tireoidianos em grandes quantidades. Um indivíduo pode apresentar um ou
múltiplos nódulos.
O bócio multinodular tóxico (doença de Plummer), um distúrbio no qual existem muitos
nódulos, é incomum em adolescentes e adultos jovens e tende a aumentar com a idade.
No hipertireoidismo, independentemente de sua causa, as funções orgânicas aceleram.
O coração bate mais forte, mais rapidamente e pode apresentar um ritmo anormal,
acarretando a percepção dos batimentos cardíacos (palpitações). A pressão arterial pode
aumentar. Muitos indivíduos com hipertireoidismo sentem calor mesmo em um
ambiente frio. A sua pele pode tornar-se úmida, pois eles tendem a transpirar
profusamente. Além disso, eles podem apresentar leves tremores nas mãos. Muitos
indivíduos sentem nervosismo, cansaço e fraqueza, mas apresentam maior nível de
atividade; maior apetite, mas perdem peso; dormem mal; e evacuam freqüen-temente,
ocasionalmente com diarréia.
Os indivíduos idosos com hipertireoidismo podem não apresentar esses sintomas
característicos, mas apresentam o que algumas vezes é denominado hipertireoidismo
apático ou mascarado. Eles simplesmente tornam-se fracos, sonolentos, confusos,
isolados e retraídos. No entanto, os problemas cardíacos, sobretudo as arritmias
cardíacas (ritmos cardíacos anormais), são observados mais freqüentemente nos
indivíduos idosos com hipertireoidismo. O hipertireoidismo pode causar alterações dos
olhos: edema em volta dos olhos, aumento da produção de lágrimas, irritação e uma
sensibilidade incomum à luz. O indivíduo parece olhar fixamente. Esses sintomas
oculares desaparecem assim que a secreção dos hormônios tireoidianos é controlada,
exceto nos indivíduos com doença de Graves, a qual causa problemas oculares
especiais. O hipertireoidismo pode adotar a forma da doença de Graves, do bócio
nodular tóxico ou do hipertireoidismo secundário.

DOENÇAS DE GRAVES
Acredita-se que a doença de Graves (bócio difuso tóxico) seja causada por um anticorpo
que estimula a tireóide a produzir quantidades excessivas de hormônios tireoidianos. Os
indivíduos com doença de Graves apresentam os sinais típicos do hipertireoidismo e
três sintomas adicionais característicos. Como toda a glândula é estimulada, ela pode
apresentar um aumento de volume acentuado, acarretando uma protuberância no
pescoço (bócio). Os indivíduos com doença de Graves também podem apresentar

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exoftalmia (olhos proeminentes) e, menos comumente, elevação da pele da porção
inferior da face anterior das pernas. A protuberância dos olhos ocorre devido ao
acúmulo de uma substância que se acumula na órbita. Essa protuberância associa-se ao
olhar fixo e outras alterações oculares do hipertireoidismo. Os músculos que
movimentam os olhos tornamse incapazes de funcionar adequadamente, tornando difícil
ou mesmo impossível movimentar ou coordenar normalmente os olhos, acarretando
visão dupla. As pálpebras podem não fechar completamente, expondo os olhos à lesão
por partículas estranhas e pelo ressecamento.
Essas alterações oculares podem iniciar anos antes de qualquer outro sintoma de
hipertireoidismo, fornecendo um indício precoce para a doença de Graves; ou elas
podem não ocorrer até que sejam percebidos outros sintomas. Os sintomas oculares
podem mesmo surgir ou piorar após a secreção excessiva de hormônios tireoidianos
tiver sido tratada e controlada. A elevação da cabeceira da cama, a aplicação de colírios,
dormir com tampões oculares e, ocasionalmente, o uso de diuréticos podem auxiliar
no alívio dos sintomas oculares. A visão dupla pode ser corrigida com o auxílio de
prismas corretores. Por último, pode ser necessária a administração de corticosteróides
pela via oral, a aplicação de raios X nas órbitas ou uma cirurgia oftalmológica. Na
doença de Graves, uma substância similar à que é depositada atrás dos olhos pode
acumular na pele, geralmente sobre a porção inferior da face anterior das pernas. A
área espessada pode ser pruriginosa, pode tornar-se vermelha e é dura à palpação
digital. Assim como os depósitos atrás dos olhos, este problema pode iniciar antes ou
após outros sintomas do hipertireoidismo terem sido observados. Os cremes ou
pomadas de corticosteróides podem ajudar a aliviar o prurido e o endurecimento
cutâneo. Sem razão aparente, o problema desaparece sem tratamento meses ou anos
mais tarde.

BÓCIO NODULAR TÓXICO


No bócio nodular tóxico, um ou mais nódulos da tireóide produzem uma quantidade
excessiva de hormônios tireoidianos e não se encontram sob controle do hormônio
estimulante da tireóide. Os nódulos são tumores tireoidianos benignos
hiperfuncionantes verdadeiros e não estão associados à exoftalmia e aos problemas
cutâneos da doença de Graves.

HIPERTIREOIDISMO SECUNDÁRIO
Raramente, o hipertireoidismo pode ser causado por um tumor hipofisário que secreta
uma quantidade excessiva de hormônio estimulante da tireóide, o qual, por sua vez,
estimula a tireóide a produzir uma quantidade excessiva de hormônios tireoidianos.
Outra causa incomum de hipertireoidismo é a resistência da hipófise aos hormônios
tireoidianos, a qual acarreta a secreção de quantidades excessivas de hormônio
estimulante da tireóide pela hipófise. As mulheres com mola hidatiforme também
podem apresentar hipertireoidismo, pois a tireóide é estimulada demasiadamente pela
concentração sérica de gonadotropina coriônica. Após a interrupção deste tipo anormal
de gravidez e do desaparecimento da gonadotropina coriônica do sangue, o
hipertireoidismo desaparece.

Complicações
A tempestade tireoidiana, uma hiperatividade extrema e súbita da tireóide, pode
produzir febre, fraqueza extrema e perda da força muscular, agitação, oscilações do
humor, confusão mental, alteração do nível de consciência (inclusive o coma) e
aumento do fígado com uma icterícia discreta. A tempestade tireoidiana

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é uma emergência potencialmente letal que exige tratamento imediato. Uma grave
sobrecarga cardíaca pode provocar arritmias cardíacas potencialmente letais e choque.
Geralmente, a tempestade tireoidiana é causada por um hipertireoidismo não tratado ou
inadequadamente tratado e pode ser desencadeada por uma infecção, um traumatismo,
uma cirurgia, um diabetes mal controlado, medo, gravidez ou trabalho de
parto, interrupção do uso de medicações para a tireóide ou outras formas de estresse. Ela
é rara em crianças.

Tratamento
Geralmente, o tratamento do hipertireoidismo pode ser medicamentoso, mas as outras
opções incluem a remoção cirúrgica da tireóide ou o tratamento com iodo radioativo.
Cada tipo de tratamento apresenta vantagens e desvantagens. A tireóide necessita de
uma pequena quantidade de iodo para funcionar adequadamente. No entanto, uma
grande quantidade de iodo reduz a quantidade de hormônio produzido
pela glândula e impede que ela libere o excesso de hormônio tireoidiano. Por essa razão,
o médico pode utilizar doses altas de iodo para interromper a secreção excessiva de
hormônio tireoidiano. O tratamento com iodo é particularmente útil quando o médico
necessita controlar o hipertireoidismo rapidamente (p.ex., tempestade tireoidiana ou
antes de uma cirurgia de emergência). No entanto, o iodo não é utilizado
no tratamento de rotina ou prolongado do hipertireoidismo. O propiltiouracil ou o
metimazol, os medicamentos mais comumente utilizados no tratamento do
hipertireoidismo, reduzem a função tireoidiana reduzindo a produção hormonal pela
tireóide. Esses dois medicamentos são administrados pela via oral.
O tratamento é iniciado com doses elevadas, as quais, posteriormente, são adaptadas de
acordo com os resultados de exames de sangue dos hormônios tireoidianos. Geralmente,
esses medicamentos controlam a função tireoidiana de 6 semanas a 3 meses, mas as
doses mais altas dos medicamentos podem controlála mais rapidamente, mas com um
risco maior de efeitos adversos. Esses efeitos adversos incluem reações alérgicas (mais
comumente, erupções cutâneas), náusea, perda do sentido da gustação e, raramente,
depressão da produção de células sangüíneas na medula óssea. A depressão da medula
óssea pode acarretar depleção da quantidade de leucócitos no sangue, criando uma
situação potencialmente letal na qual o indivíduo torna-se vulnerável à infecção.
Embora esses dois medicamentos sejam comparáveis sob muitos aspectos, o uso do
propiltiouracil em mulheres grávidas pode ser mais seguro que o do metimazol
porque uma menor quantidade do mesmo atinge o feto. O carbimazol, um medicamento
amplamente utilizado na Europa, é convertido em metimazol no corpo.
Os agentes beta-bloqueadores (p.ex., propranolol) ajudam a controlar alguns dos
sintomas do hipertireoidismo. Esses medicamentos são úteis por reduzirem a freqüência
cardíaca alta, assim como os tremores e a ansiedade. Por essa razão, os médicos
consideram os beta-bloqueadores particularmente úteis para os indivíduos com
tempestade tireoidiana e para aqueles com sintomas desagradáveis ou perigosos
cujo hipertireoidismo ainda não foi controlado por outros tratamentos. Entretanto, os
beta-bloqueadores não controlam a função tireoidiana anormal. O hipertireoidismo
também pode ser tratado com iodo radioativo, o qual destrói a tireóide. O iodo
radioativo administrado pela via oral introduz muito pouca radioatividade no organismo
como um todo, mas uma grande quantidade na tireóide. O médico tenta
ajustar a dose de iodo radioativo para destruir somente o suficiente da tireóide de modo
a fazer com que a produção hormonal retorne ao normal, sem reduzir demasiadamente a
função tireoidiana. Entretanto, na maioria das vezes, o tratamento com iodo radioativo

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acaba produzindo um hipotireoidismo (hipoatividade da tireóide), uma condição que
exige a terapia de reposição de hormônio tireoidiano.
Os indivíduos que necessitam deste tipo de terapia tomam diariamente um comprimido
de hormônio tireoidiano durante o resto da vida para repor o hormônio natural que não é
mais produzido em quantidade suficiente. Aproximadamente 25% dos indivíduos
apresentam hipotireoidismo um ano após o tratamento com iodo radioativo, mas a
porcentagem aumenta de modo constante nos 20 anos seguintes ou mais. O possível
efeito cancerígeno do iodo radioativo não foi confirmado. O iodo radioativo não é
utilizado em mulheres grávidas, uma vez que ele atravessa a placenta e pode destruir a
tireóide do feto.
Em uma tireoidectomia, a tireóide é removida cirurgicamente. A cirurgia é uma opção
válida sobretudo para os indivíduos jovens com hiper-tireoidismo e também para os
indivíduos que apresentam um bócio muito grande, para aqueles que são alérgicos aos
medicamentos ou que apresentam efeitos colaterais graves produzidos pelos
medicamentos utilizados no tratamento do hipertireoidismo. O hipertireoidismo é
controlado de modo permanente em mais de 90% dos indivíduos que escolheram essa
opção. Alguns pacientes apresentam um certo grau de hipotireoidismo após a cirurgia,
os quais devem então ser submetidos à terapia de reposição hormonal durante o resto da
vida. As complicações raras incluem a paralisia das pregas vocais e a lesão das
paratireóides (as pequenas glândulas localizadas atrás da tireóide que controlam a
concentração sérica de cálcio).

HIPOTIREOIDISMO
O hipotireoidismo é uma condição na qual a tireóide encontra-se hipoativa e a produção
de hormônio tireoidiano é baixa. O hipotireoidismo muito grave é denominado
mixedema. Na tireoidite de Hashimoto, a causa mais comum de hipotireoidismo, a
tireóide freqüentemente encontra-se aumentada e o
hipotireoidismo comumente manifesta-se anos mais tarde, pois as áreas funcionais da
glândula são destruídas gradualmente. A segunda causa mais comum de hipotireoidismo
é o tratamento do hipertireoidismo. Tanto o tratamento com iodo radioativo quanto a
cirurgia tendem a produzir hipotireoidismo. A causa mais freqüente de hipotireoidismo
em muitos dos países subdesenvolvidos é a carência crônica de iodo na dieta, a qual
acarreta aumento de tamanho da tireóide e redução de sua atividade (hipotireoidismo
bociogênico). No entanto, esta forma de hipotireoidismo desapareceu nos
Estados Unidos desde que os fabricantes começaram a adicionar iodo ao sal de cozinha
e desde que começaram a ser utilizados desinfetanes contendo iodo para esterilizar os
ubres das vacas. Outras causa mais raras de hipotireoidismo incluem alguns distúrbios
herdados, nos quais uma anomalia enzimática das células da tireóide impede que ela
sintetize ou secrete uma quantidade suficiente de hormônio
tireoidiano. Em outros distúrbios raros, o hipotálamo ou a hipófise não conseguem
secretar uma quantidade suficiente do hormônio necessário para estimular a função
tireoidiana.

Sintomas
A insuficiência de hormônio tireoidiano faz com que as funções orgânicas tornem-se
mais lentas.
Contrastando acentuadamente com o hipertireoidismo, os sintomas do hipotireoidismo
são sutis e graduais e podem ser confundidos com os de um quadro de depressão. As
expressões faciais são grosseiras, a voz é rouca e a fala é lenta, as pálpebras caem e os
olhos e a face tornam-se inchados.

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Muitos indivíduos com hipotireoidismo ganham peso, tornam-se constipados e
apresentam intolerância ao frio. Os cabelos tornam-se escassos, grossos e ressecados e a
pele torna-se áspera, ressecada, descamativa e espessa. Muitos indivíduos apresentam a
síndrome do túnel do carpo, a qual produz formigamento ou dor nas mãos. A freqüência
de pulso pode diminuir, as palmas das mãos e as plantas dos pés podem
apresentar uma discreta coloração laranja (carotenemia) e a parte lateral das
sobrancelhas caem lentamente. Alguns indivíduos, sobretudo os idosos, podem
apresentar confusão mental, esquecimento ou demência, sinais que podem ser
facilmente confundidos como os da doença de Alzheimer ou de outras
formas de demência. Quando não tratado, o hipotireoidismo poderá acabar acaretando
anemia, temperatura corpórea baixa e insuficiência cardíaca. Essa condição pode evoluir
para a confusão mental, estupor e coma (coma mixedematoso), uma complicação
potencialmente letal na qual a respiração tornase lenta, o indivíduo apresenta convulsões
e o fluxo sangüíneo cerebral diminui. O coma mixedematoso pode ser desencadeado
pela exposição ao frio e também por uma infecção, um traumatismo e drogas que
deprimem a função cerebral (p.ex., sedativos e tranqüilizantes).

Tratamento
O hipotireoidismo é tratado pela reposição do hormônio tireoidiano deficiente, usando-
se uma das várias preparações orais disponíveis. A forma preferida é o hormônio
tireoidiano sintético, T4. Outra forma, a tireóide seca, é obtida de tireóides de animais.
Geralmente, os médicos consideram a tireóide seca menos satisfatória devido à
dificuldade para se ajustar a dose e porque os comprimidos possuem quantidades
variáveis de T3. O tratamento de um indivíduo idoso é iniciado com pequenas doses de
hormônio tireoidiano, pois uma dose muito alta pode produzir efeitos colaterais graves.
A dose é aumentada gradualmente até a concentração sérica de hormônio estimulante da
tireóide retornar ao normal.
Normalmente, o indivíduo deverá utilizar o medicamento durante o resto da vida. Em
emergências (p.ex., coma mixedematoso), o médico pode administra o hormônio
tireoidiano através da via intravenosa.

TIREOIDITE
A tireoidite, uma inflamação da tireóide, produz um hipertireoidismo temporário que é
freqüentemente seguido por um hipotireoidismo temporário ou por nenhuma alteração
da função tireoidiana. Os três tipos de tireoidite são a tireoidite de Hashimoto, a
tireoidite granulomatosa subaguda e a tireoidite linfocítica silenciosa.

TIREOIDITE DE HASHIMOTO
tireoidite de Hashimoto (tireoidite auto-imune) é o tipo mais comum de tireoidite e é a
causa mais comum de hipotireoidismo. Por razões desconhecidas, o corpo volta-se
contra si próprio em uma reação autoimune, produzindo anticorpos que atacam a
tireóide. Este tipo de tireoidite é mais comum em mulheres idosas e tende a ocorrer em
famílias. O distúrbio ocorre oito vezes mais freqüentemente em mulheres que
em homens e pode ocorrer em indivíduos com determinadas anormalidades
cromossômicas, como as síndromes de Turner, de Down e de Klinefelter.
Freqüentemente, a tireoidite de Hashimoto começa com um aumento indolor da tireóide
ou com uma sensação de plenitude no pescoço. Quando o médico palpa a
glândula, ele comumente percebe um aumento de volume da mesma, com uma textura
de borracha, mas não dolorosa à palpação.

22
Algumas vezes, ele palpa nódulos. A tireóide encontra- se hipoativa em
aproximadamente 20% dos indivíduos no momento do diagnóstico da tireoidite de
Hashimoto. O restante apresenta uma função tireoidiana normal. Muitos indivíduos com
tireoidite de Hashimoto apresentam outros distúrbios endócrinos como, por exemplo, o
diabetes, a hipoatividade adrenal, a hipoatividade das paratireóides e outras doenças
auto-imunes (p.ex., anemia perniciosa, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren ou lúpus
eritematoso sistêmico). O médico solicita provas da função tireoidiana em amostras de
sangue para determinar se a glândula está funcionando normalmente, mas o diagnóstico
da tireoidite de Hashimoto é baseado nos sintomas, no exame físico e na presença de
anticorpos que atacam a glândula (anticorpos antitireóide), os quais podem ser
facilmente dosados em um exame de sangue. Não existe um tratamento específico
disponível para a tireoidite de Hashimoto. A maioria dos indivíduos acaba apresentando
hipotireoidismo e devem manter a terapia de reposição hormonal pelo resto da vida. O
hormônio tireoidiano também é útil para reduzir o aumento de volume da tireóide

TIREOIDITE GRANULOMATOSA SUBAGUDA


A tireoidite granulomatosa subaguda (de células gigantes), a qual é provavelmente
causada por um vírus, inicia muito mais abruptamente que a tireoidite de Hashimoto.
Freqüentemente, a tireoidite granulomatosa subaguda ocorre após uma doença viral e
começa com o que muitas pessoas chamam de inflamação da garganta, mas que, na
realidade, é uma dor no pescoço, localizada na tireóide. A tireóide torna-se cada vez
mais dolorosa e, normalmente, o indivíduo apresenta uma febre baixa (37,2 a 38,3 oC).
A dor pode deslocar- se de um lado a outro do pescoço, irradiar para a mandíbula e para
os ouvidos e pode aumentar de intensidade quando a cabeça é rodada ou com a
deglutição. No início, a tireoidite granulomatosa subaguda é freqüentemente confundida
com um problema dentário ou com uma infecção da garganta ou do ouvido.
Comumente, a inflamação faz com que a tireóide libere uma quantidade excessiva de
hormônio tireoidiano, acarretando hipertireoidismo, o qual é quase sempre seguido por
um hipotireoidismo temporário. Muitos indivíduos com tireoidite granulomatosa
subaguda apresentam uma fadiga extrema. A maioria dos indivíduos recupera-se
completamente desse tipo de tireoidite. Geralmente, o problema desaparece
espontaneamente em alguns meses. Algumas vezes, no entanto, ele recorre ou, mais
raramente, ele produz uma lesão da tireóide suficiente para causar um hipotireoidismo
permanente. A aspirina ou outros antiinflamatórios não esteróides (p.ex., ibuprofeno)
podem aliviar a dor e inflamação.
Nos casos muito graves, o médico pode prescrever corticosteróides (p.ex., prednisona),
cuja dose deve ser reduzida progressivamente ao longo de 6 a 8 semanas. Quando o uso
de corticosteróides é interrompido abruptamente, os sintomas freqüentemente retornam
com força total.

TIREOIDITE LINFOCÍTICA SILENCIOSA


A tireoidite linfocítica silenciosa ocorre mais freqüentemente em mulheres, tipicamente
logo após o parto, e faz com que a tireóide aumente de tamanho sem provocar dor. Em
um período que varia de várias semanas a vários meses, o indivíduo afetado apresenta
hipertireoidismo seguido por hipotireoidismo, antes da função da tireóide finalmente
normalizar. Essa condição não requer tratamento específico, embora o hipertireoidismo
e o hipotireoidismo possam exigir tratamento por algumas semanas.
Freqüentemente, um betabloqueador (p.ex., propranolol) é o único medicamento
necessário para controlar os sintomas do hipertireoidismo. Durante o período de

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hipotireoidismo, pode ser necessária a administração de hormônio tireoidiano,
normalmente por apenas alguns meses. O hipotireoidismo tornase
permanente em aproximadamente 10% dos indivíduos com tireoidite linfocítica
silenciosa.

CÂNCER DE TIREÓIDE
Existem quatro tipos principais de câncer de tireóide: papilar, folicular, anaplásico ou
medular. O câncer de tireóide é mais comum em indivíduos submetidos à radioterapia
da cabeça, do pescoço ou do tórax, muito freqüentemente por problemas benignos
(embora, atualmente, o tratamento radioterápico para distúrbios benignos não seja mais
realizado). Ao invés de provocar um aumento de toda a tireóide, o câncer normalmente
produz pequenas tumorações (nódulos) no interior da glândula. A maioria dos
nódulos da tireóide não são cancerosos e os cânceres de tireóide geralmente podem ser
curados.
Freqüentemente, os cânceres de tireóide apresentam uma capacidade limitada de captar
o iodo e de produzir hormônio tireoidiano. No entanto, muito raramente, eles produzem
hormônio suficiente para causar hipertireoidismo.
Os nódulos apresentam maior probabilidade de serem cancerosos quando é detectada a
presença de apenas um nódulo ao invés de vários, quando a cintilografia da tireóide
revela que o nódulo não é funcionante, quando o nódulo é sólido e não com conteúdo
líquido (cístico), quando o nódulo é duro ou quando ele cresce rapidamente. Uma
proeminência indolor no pescoço é normalmente o primeiro sinal de câncer de tireóide.
Quando o médico detecta a presença de um nódulo na tireóide, ele solicita vários
exames. A cintilografia da tireóide determina se o nódulo é funcionante, uma vez que
um nódulo não funcionante apresenta maior probabilidade de ser canceroso do que um
funcionante. A ultrassonografia é menos útil, mas ela pode ser realizada para determinar
se o nódulo é sólido ou se o seu conteúdo é líquido. Comumente, é realizada a coleta de
uma amostra do nódulo através de uma punção biópsia com agulha fina para exame
microscópico, a melhor maneira de se determinar se o nódulo é canceroso.

CÂNCER PAPILAR
O câncer papilar representa 60 a 70% de todos os cânceres de tireóide. As mulheres
apresentam o câncer papilar duas a três vezes mais que os homens. No entanto, como os
nódulos são mais comuns nas mulheres, um nódulo em um homem sempre levanta uma
maior suspeita de câncer. O câncer papilar é mais comum nos indivíduos jovens, mas
cresce e dissemina mais rapidamente nos indivíduos idosos. Os indivíduos submetidos a
radioterapia do pescoço, geralmente para tratar uma condição benigna na
lactância ou na infância ou por um outro câncer na vida adulta, apresentam maior risco
de desenvolver câncer papilar. O tratamento do câncer papilar, o qual algumas vezes
dissemina para os linfonodos vizinhos, é cirúrgico.
Os nódulos que possuem menos de 2 cm de diâmetro são removidos juntamente com o
tecido tireoidiano circunjacente, embora alguns especialistas recomendem a remoção de
toda a glândula. Quase sempre a cirurgia cura esses pequenos cânceres. Como o câncer
papilar pode responder ao hormônio estimulante da tireóide, são administradas doses
suficientemente elevadas para suprimir a secreção do hormônio
estimulante da tireóide e para auxiliar na prevenção da recorrência. Quando um nódulo
é maior, é realizada a remoção da maior parte ou de toda a glândula e o iodo radioativo
é freqüentemente administrado na esperança de que qualquer tecido tireoidiano ou
câncer remanescente que disseminou além da tireóide capte essa substância e seja

24
destruído. Uma outra dose de iodo radioativo pode ser necessária para se assegurar a
destruição de todo o câncer. O câncer papilar é quase sempre curado.

CÂNCER FOLICULAR
O câncer folicular representa aproximadamente 15% de todos os cânceres de tireóide e é
mais comum entre os indivíduos idosos. O câncer folicular também é mais comum em
mulheres que em homens. No entanto, assim como no câncer papilar, um nódulo em um
homem apresenta maior probabilidade de ser canceroso. Muito mais agressivo que o
câncer papilar, o câncer folicular tende a propagar-se através da corrente sangüínea,
disseminando células cancerosas a várias partes do corpo (metástases). O tratamento
do câncer folicular exige a remoção do máximo possível da tireóide e a subseqüente
destruição do tecido tireoidiano remanescente, incluindo as metástases, com iodo
radioativo.

CÂNCER AMAPLÁSICO
O câncer anaplásico representa menos de 10% dos cânceres de tireóide e ocorre mais
comumente em mulheres idosas. Ele cresce muito rapidamente e, normalmente, produz
um grande tumor no pescoço.
Aproximadamente 80% dos indivíduos com câncer anaplásico morrem em um ano. O
tratamento com iodo radioativo é inútil porque os cânceres anaplásicos não o absorvem.
Contudo, o tratamento com drogas antineoplásicas e radioterapia antes e depois da
cirurgia tem produzido algumas curas.

CÂNCER MEDULAR
No câncer medular, a tireóide produz quantidades excessivas de calcitonina, um
hormônio produzido por certas células tireoidianas. Como o câncer medular também
pode produzir outros hormônios, ele pode causar sintomas incomuns. O câncer medular
tende a disseminar (produzir metástases) através do sistema linfático até os linfonodos e
através do sangue até o fígado, os pulmões e os ossos. O câncer medular pode
ocorrer juntamente com outros tipos de cânceres endócrinos na chamada síndrome da
neoplasia endócrina múltipla. O tratamento exige a remoção total da tireóide. Uma
cirurgia adicional pode ser necessária para permitir ao médico determinar se houve
disseminação do câncer para os linfonodos. Mais de dois terços dos indivíduos cujo
câncer medular da tireóide faz parte da síndrome da neoplasia endócrina múltipla vivem
por pelo menos mais 10 anos.
Quando o câncer medular de tireóide ocorre isoladamente, as chances de sobrevivência
não são tão boas.
Como o câncer medular de tireóide algumas vezes ocorre em famílias, os familiares
consangüíneos devem der examinados, investigando-se a existência de uma anomalia
genética que é facilmente detectada nas células sangüíneas. Quando o resultado da
investigação é negativo, é quase certo que o familiar não desenvolverá câncer medular.
Quando ele é positivo, o familiar apresenta ou apresentará um câncer medular e a
cirurgia de remoção da tireóide deve ser aventada mesmo antes da manifestação dos
sintomas e do aumento da concentração sérica de calcitonina. A concentração sérica alta
de calcitonina ou uma elevação exagerada da concentração após testes de estimulação
também ajudam o médico a prever se alguém apresenta ou irá apresentar câncer
medular de tireóide. A detecção de uma concentração
incomumente alta de calcitonina levará o médico a sugerir a remoção da tireóide, uma
vez que o tratamento precoce provê a melhor chance de cura.

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Distúrbios das Adrenais
O corpo possui duas glândulas adrenais, situadas próximas ao topo de cada rim. A
medula (parte interna) das adrenais secreta hormônios como a adrenalina (epinefrina)
que afetam a pressão arterial, a freqüência cardíaca, a sudorese e outras atividades
também reguladas pelo sistema nervoso simpático. O córtex (parte externa) secreta
vários hormônios diferentes, incluindo os corticosteróides (hormônios semelhantes
à cortisona), os androgênios (hormônios masculinos) e os mineralocorticóides, os quais
controlam a pressão arterial e a concentração de sal e de potássio do organismo. As
adrenais fazem parte de um sistema complexo que produz hormônios interatuantes. O
hipotálamo produz o hormônio liberador da corticotropina, estimulando a hipófise a
secretar corticotropina, a qual regula a produção de corticosteróides pelas adrenais. As
adrenais podem parar de funcionar quando a hipófise ou o hipotálamo deixa de produzir
quantidades suficientes dos hormônios adequado. A produção insuficiente ou exagerada
de qualquer hormônio adrenal pode acarretar uma doenca grave.

HIPOFUNÇÃO DAS ADRENAIS


A doença de Addison (insuficiência adrenocortical) ocorre quando as adrenais
hipoativas produzem quantidades insuficientes de corticosteróides. A doença de
Addison afeta aproximadamente 4 em cada 100.000 indivíduos. Ela pode manifestar- se
em qualquer idade e afeta igualmente ambos os sexos. Em 30% dos indivíduos com
doença de Addison, as adrenais são destruídas por um câncer, pela amiloidose,
por uma infecção (p.ex., tuberculose) ou por uma outra doença não identificável. Nos
70% restantes, a sua causa não é conhecida, mas os cientistas suspeitam fortemente que
as adrenais sejam destruídas por uma reação auto-imune. As adrenais também são
suprimidas em indivíduos que utilizam corticosteróides (p.ex., prednisona).
Comumente, a dose dos corticosteróides é reduzida lentamente antes de seu uso ser
interrompido totalmente. Quando o corticosteróide é interrompido abruptamente após
ter sido utilizado durante um mês ou mais, as adrenais podem ser incapazes de produzir
corticosteróides em quantidade suficiente durante várias semanas ou meses, dependendo
da dose utilizada e da duração do tratamento.
Determinadas drogas como, por exemplo, o cetoconazol que é utilizado no tratamento
de infecções fúngicas, também podem bloquear a produção natural de corticosteróides e
acarretar uma insuficiência adrenal. A deficiência de corticosteróides pode acarretar
muitos problemas. Por exemplo, quando existe uma falta de corticosteróides, o
organismo excreta grandes quantidades de sódio e retém potássio, acarretando uma
baixa concentração de sódio e uma alta concentração de potássio no sangue. Os rins são
incapazes de concentrar a urina e, por essa razão, quando um indivíduo com deficiência
de corticosteróide ingere muita água ou perde muito sódio, a concentração sérica de
sódio cai. Em última instância, a incapacidade de concentrar a urina faz com que o
indivíduo urine excessivamente e desidrate. A desidratação grave e a concentração
sérica baixa de sódio reduzem o volume sangüíneo e podem culminar no choque.

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Sintomas
Assim que a doença de Addison se instala, o indivíduo sente fraqueza, cansaço e tontura
ao ficar em pé, após ter permanecido sentado ou deitado. A pele escurece e o
escurecimento pode ser semelhante ao bronzeado, mas ele ocorre tanto nas áreas
expostas ao sol quanto nas não expostas. Pode ocorrer a formação de sardas pretas na
testa, na face e nos ombros e uma alteração da cor (para o negro-azulado) em torno dos
mamilos, dos lábios, da boca, do reto, da bolsa escrotal ou da vagina. A maioria dos
indivíduos apresenta perda de peso, desidratação, inapetência, dores musculares, náusea,
vômito e diarréia. Muitos tornam-se intolerantes ao frio. A menos que a doença seja
grave, os sintomas tendem a tornar-se evidentes somente durante os períodos de tensão.
Quando a doença não é tratada, o indivíduo pode apresentar dores abdominais intensas,
fraqueza acentuada, hipotensão arterial grave, insuficiência renal e choque,
especialmente quando o organismo é submetido a um estresse (p.ex., traumatismo,
cirurgia ou infecção grave). A morte poderá ocorrer rapidamente.

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Diagnóstico
Como os sintomas iniciam lentamente e podem ser sutis e como não existe qualquer
exame laboratorial definitivo, o médico freqüen-temente não suspeita da doença de
Addison no princípio. Algumas vezes,um estresse importante (p.ex., um acidente, uma
cirurgia ou uma doença grave) torna os sintomas mais evidentes e desencadeia uma
crise. Os exames de sangue podem revelar uma deficiência de
corticosteróides, especialmente de cortisol, e também uma concentração sérica baixa de
sódio e alta de potássio. As mensurações da função renal, como as concentrações séricas
de nitrogênio uréico de creatinina, habitualmente indicam que os rins não estão
funcionando bem. As concentrações de corticosteróides, normalmente dosadas após
uma injeção de corticotropina (um teste de provocação), podem ajudar o médico a
diferenciar a insuficiência adrenal da insuficiência hipofisária. Quando se trata desta
última, uma injeção de hormônio liberador de corticotropina revela se a causa do
problema é uma insuficiência hipotalâmica.

Tratamento
Independentemente da causa, a doença de Addison pode ser letal e deve ser tratada
primeiramente com corticosteróides. Normalmente, o tratamento pode ser iniciado com
a administração de prednisona pela via oral. No entanto, os indivíduos gravemente
doentes podem receber inicialmente cortisol através da via intravenosa e, em seguida,
comprimidos de prednisona. A maioria dos indivíduos com doença de Addison
também necessita tomar diariamente 1 ou 2 comprimidos de fludrocortisona para
auxiliar na restauração da excreção normal de sódio e de potássio do organismo.
Finalmente, a fludrocortisona pode ser reduzida ou interrompida em alguns indivíduos.
No entanto, eles deverão tomar a prednisona diariamente pelo resto da vida. Doses
maiores de prednisona podem ser necessárias quando o corpo é submetido a um
estresse, especialmente de uma doença. Embora o tratamento deva ser continuado por
toda a vida, as perspectivas de uma duração de vida normal são excelentes.

HIPERFUNÇÃO DAS ADRENAIS


As adrenais podem produzir uma quantidade excessiva de um ou mais hormônios. A
causa pode ser uma alteração das próprias adrenais ou uma estimulação excessiva pela
hipófise. Os sintomas e o tratamento dependem de quais hormônios (esteróides
androgênicos, corticosteróides ou aldosterona) estão sendo produzidos em excesso.

HIPERPRODUÇÃO DE ESTERÓIDES ANDROGÊNICOS


A hiperprodução de esteróides androgênicos (testosterona e hormônios similares) é um
distúrbio que causa virilização, isto é, o desenvolvimento de características masculinas
exageradas em homens ou mulheres. A hiperprodução moderada de androgênios é
comum, mas tem como único efeito o hirsutismo (aumento do crescimento de pelos). A
verdadeira doença virilizante é rara, afetando apenas cerca de 1 ou 2 em cada 100.000
mulheres. A incidência da doença virilizante nos homens é quase impossível de ser
quantificada.

Sintomas
Os sinais de virilização incluem o aumento da pilificação facial e do corpo, a calvície, a
acne, o engrossamento da voz e o aumento da musculatura. Nas mulheres, o útero
atrofia, o clitóris aumenta de tamanho, as mamas diminuem de tamanho e a menstrução
normal é interrompida. Tanto os homens quanto as mulheres pode apresentar um
aumento do desejo sexual.

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Diagnóstico
A combinação das alterações do corpo faz com que a identificação da virilização seja
relativamente fácil.
Um exame pode determinar a concentração de esteróides androgênicos na urina.
Quando essa concentração encontra-se elevada, o teste de supressão com dexametasona
pode auxiliar a determinar se o problema é um câncer, um tumor não canceroso
(adenoma) ou um aumento das partes produtoras de hormônios no córtex adrenal
(hiperplasia adrenal). Neste teste, a dexametasona (um corticosteróide) é administrada
pela via oral. Quando o problema é uma hiperplasia adrenal, a dexametasona impede
que as adrenais produzam esteróides androgênicos. Quando o problema é um adenoma
ou um câncer das adrenais, a dexametasona reduz apenas parcialmente a produção de
esteróides androgênicos ou não ocorre qualquer redução. O médico também pode
solicitar uma tomografia computadorizada (TC) ou uma ressonância magnética (RM)
para obter uma imagem das adrenais.

Tratamento
Os adenomas produtores de androgênios e os cânceres das adrenais normalmente são
tratados através da remoção cirúrgica das glândulas. Para a hiperplasia adrenal,
pequenas quantidades de corticosteróides (p.ex., dexametasona) geralmente reduzem a
produção de esteróides androgênicos, mas essas drogas também podem causar sintomas
da síndrome de Cushing quando administradas em doses excessivamente altas.

HIPERPRODUÇÃO DE CORTICOSTERÓIDES
A exposição exagerada aos corticosteróides, seja pela hiperprodução pelas adrenais ou
pela administração de doses excessivas por um médico, acarreta a síndrome de Cushing.
Uma anomalia na hipófise (p.ex., um tumor) pode fazer com que ela produza grandes
quantidades de corticotropina, o hormônio que controla as adrenais. Os tumores
hipofisários que produzem quantidades excessivas de corticotropina afetam
aproximadamente 6 em cada 1 milhão de indivíduos. O carcinoma de células pequenas
do pulmão e outros tumores extra-hipofisários também podem produzir corticotropina
(uma condição denominada síndrome da produção ectópica de corticotropina). Esta é a
causa mais comum da função excessiva do córtex adrenal, a qual é observada em pelo
menos 10% dos indivíduos com carcinoma de células pequenas do pulmão, um tipo
comum de tumor. Algumas vezes, a adrenal produz um excesso de
corticosteróides mesmo quando a concentração de corticotropina é baixa. Normalmente,
isto ocorre quando existe um tumor benigno (adenoma) na adrenal. Os tumores
benignos do córtex adrenal são extremamente comuns. Metade dos indivíduos com
idade em torno dos 70 anos o apresentam. Apenas uma pequena fração desses tumores
benignos é ativa; a incidência de adenomas que causam doença é de aproximadamente 2
em cada 1 milhão de indivíduos. Os tumores cancerosos do córtex adrenal são
igualmente comuns, mas os cânceres que causam doença endócrina são muito raros.

Sintomas
Como os corticosteróides alteram a quantidade e distribuição da gordura corpórea, um
indivíduo com síndrome de Cushing normalmente apresenta uma face grande e redonda
(moon face ou cara de lua).
Ocorre um acúmulo excessivo de gordura no torso, sobretudo nas costas (“giba de
búfalo”). Os dedos das mãos, as mãos e os pés normalmente são finos em comparação
com o tronco espessado. Os músculos perdem volume e o indivíduo apresenta fraqueza
muscular. A pele torna-se delgada, apresentando equimoses fáceis e dificuldade de

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cicatrização de contusões e feridas. Por último, são observadas estrias de cor púrpura no
abdômen, semelhantes a marcas deixadas por elásticos. No decorrer do tempo, a
concentração alta de corticosteróide acarreta aumento da pressão arterial,
enfraquecimento dos ossos (osteoporose) e diminição da resistência às infecções.
Ocorre um aumento do risco de cálculos renais e de diabetes. O indivíduo pode
apresentar distúrbios mentais, incluindo a depressão e alucinações.
Comumente, as mulheres com síndrome de Cushing apresentam irregularidade do ciclo
menstrual. As crianças com síndrome de Cushing apresentam um crescimento lento e
uma baixa estatura final. Em alguns indivíduos, as adrenais também produzem grandes
quantidades de esteróides androgênicos, acarretando um aumento da pilificação facial e
corporal, calvície e um aumento do desejo sexual.

Diagnóstico
Frente à suspeita da síndrome de Cushing após observar os sintomas, o médico solicita a
dosagem da concentração sérica de cortisol, o principal hormônio corticosteróide.
Normalmente, a concentração de cortisol encontra-se elevada pela manhã e diminui
durante o dia. Nos indivíduos com síndrome de Cushing, a concentração de cortisol
encontra-se muito elevada pela manhã e não diminui no decorrer do dia como seria o
esperado. A dosagem da concentração de cortisol na urina pode ser útil, pois exames
realizados com um intervalo de algumas horas podem indicar quanto cortisol foi
produzido durante esse período. Quando a concentração de cortisol encontrase elevada,
o médico pode solicitar um teste de supressão com dexametasona. Este teste baseiase na
capacidade da dexametasona de inibir a hipófise e, conseqüentemente, de reduzir a
estimulação das adrenais. Inicialmente, é realizada a dosagem da concentração de
cortisol de uma amostra de urina. Em seguida, é administrada uma dose de cortisona e a
concentração de cortisol é mensurada em uma outra amostra de urina. Quando a
síndrome de Cushing é causada por uma estimulação hipofisária, a concentração de
cortisol cai. Quando ela é causada por uma estimulação de uma outra fonte que não a
hipófise ou por um tumor adrenal, a concentração de cortisol na urina permanece
elevada. Os resultados de um teste de supressão com dexametasona podem não ser
muito precisos. Pode ser necessária a realização de outros exames laboratoriais para
ajudar na determinação da causa exata da síndrome. Juntamente com esses exames,
pode ser realizada uma tomografia computadorizada (TC) ou uma ressonância
magnética (RM) da hipófise ou das adrenais e uma radiografia ou uma tomografia
computadorizada dos pulmões.

Tratamento
Dependendo da causa do distúrbio, o tratamento é direcionado à hipófise ou às adrenais.
A cirurgia pode ser necessária para a remoção ou destruição de um tumor hipofisário.
Os adenomas adrenais freqüentemente podem ser removidos cirurgicamente. Quando
esses tratamentos não forem eficazes ou quando não existe um tumor presente, pode ser
necessária a remoção de ambas as adrenais. Qualquer indivíduo que teve ambas as
adrenais removidas e muitos que tiveram partes das adrenais removidas
devem tomar corticosteróides pelo resto da vida. Aproximadamente 5 a 10% dos
indivíduos submetidos à remoção de ambas as adrenais apresentam a síndrome de
Nelson. Nesta síndrome, a hipófise aumenta de volume e produz grandes quantidades de
corticotropina e de outros hormônios (p.ex., hormônio estimulante dos beta-
melanócitos, o qual provoca escurecimento da pele). Quando necessário, a síndrome
de Nelson pode ser tratada através da radioterapia ou da remoção cirúrgica da hipófise.

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HIPERPRODUÇÃO DE ALDOSTERONA
O hiperaldosteronismo (hiperprodução de aldosterona) pelas adrenais é um distúrbio
que afeta as concentrações séricas de sódio, potássio, bicarbonato e cloreto, acarretando
hipertensão arterial, fraqueza e, raramente, períodos de paralisia. A aldosterona, um
hormônio produzido e secretado pelas adrenais, estimula os rins a excretar menos sódio
e mais potássio. A sua produção é parcialmente regulada pela corticotropina (produzida
pela hipófise) e parcialmente por um mecanismo de controle renal (sistema
reninaangiotensina- aldosterona). A renina, uma enzima produzida nos rins, controla a
ativação do hormônio angiotensina, o qual estimula as adrenais a produzirem
aldosterona. O hiperaldosteronismo pode ser causado por um tumor (habitualmente não
canceroso) da adrenal (uma condição denominada síndrome de Conn). Algumas vezes,
o hiperaldosteronismo é uma resosta a certas doenças. Por exemplo, as adrenais
secretam grandes quantidades de aldosterona quando a pressão arterial encontrase muito
elevada ou quando ocorre uma estenose da artéria que supre o rim.

Sintomas
A concentração alta de aldosterona pode acarretar uma concentração baixa de potássio,
produzindo fraqueza, formigamentos, espasmos musculares e paralisia. O sistema
nervoso pode não funcionar adequadamente. Alguns indivíduos apresentam sede
excessiva e urinam freqüentemente e alguns apresentam alterações da personalidade. Os
sintomas do hiperaldosteronismo também estão relacionadas ao consumo de alcaçuz, o
qual contém uma substância química muito similar à aldosterona. Em raros
casos, indivíduos que consomem grandes quantidades de doces contendo aromatizantes
naturais de alcaçuz podem apresentar todos os sintomas do hiperaldosteronismo.

Diagnóstico e Tratamento
Quando um médico suspeita que a hipertensão arterial ou sintomas relacionados são
causados pelo hiperaldosteronismo, ele pode solicitar a dosagem da concentração sérica
de potássio e de sódio. Ele também pode solicitar a dosagem da concentração de
aldosterona e, quando esta encontra-se elevada, ele pode prescrever a espironolactona,
uma droga que bloqueia a ação da aldosterona, para observar se a concentração retorna
ao normal. Normalmente, não há necessidade de se realizar outros exames. Quando
existe uma produção excessiva de aldosterona, o médico investiga a existência de um
adenoma ou de um câncer de adrenal. Embora a tomografia computadorizada (TC) ou a
ressonância magnética (RM) possam ajudar, a realização de uma cirurgia exploradora é
freqüentemente necessária. Quando o cirurgião localiza um tumor, este comumente
pode ser removido. Em 70% dos casos, quando é realizada a remoção de um
adenoma simples, a pressão arterial normaliza e os demais sintomas desaparecem.
Quando nenhum tumor é encontrado e toda a glândula encontra-se hiperativa, a
remoção parcial das adrenais pode não controlar a hipertensão arterial e a remoção
completa das mesmas produz insuficiência adrenal, exigindo um tratamento durante o
resto da vida. No entanto, normalmente, a espironolactona consegue controlar os
sintomas e os medicamentos antihipertensivos são prontamente disponíveis. Raramente
é necessária a remoção de ambas as adrenais.

FEOCROMOCITOMA
O feocromocitoma é um tumor que se origina nas células cromafins das adrenais e que
causa uma secreção excessiva de catecolaminas, as quais são hormônios potentes que
produzem hipertensão arterial e outros sintomas. Em aproximadamente 20% dos
feocromocitomas, as células cromafins crescem fora de sua localização normal (nas

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adrenais). Apenas 5% dos feocromocitomas que crescem no interior das adrenais são
cancerosos, mas 30% dos feocromocitomas localizados fora das mesmas o são. A
incidência do feocromocitoma é de menos de 1 em cada 1.000 indivíduos. Ele pode
ocorrer em homens ou mulheres de qualquer faixa etária, mas é mais comum entre os 30
e 60 anos. Normalmente, os feocromocitomas são muito pequenos. Raramente, esses
tumores causam sintomas em decorrência da compressão ou da obstrução por eles
causadas e, comumente, não são detectados ao exame físico. Entretanto, mesmo um
feocromocitoma pequeno pode produzir uma quantidade substancial de catecolaminas
potentes, as quais produzem muitos sintomas. As catecolaminas incluem hormônios
como a adrenalina (epinefrina), a noradrenalina (norepinefrina), a dopamina e a dopa.
Todas elas aumentam a pressão arterial. As catecolaminas também desencadeiam outros
sintomas, os quais são normalmente associados a situações ameaçadoras que provocam
crises de pânico. Alguns indivíduos com feocromocitoma apresentam uma
condição hereditária rara, a neoplasia endócrina múltipla, a qual os predispõe ao
desenvolvimento de tumores de várias glândulas endócrinas (p.ex., tireóide,
paratireóides e adrenais). Os feocromocitomas também podem ocorrer em indivíduos
com a doença de von Hippel-Lindau, na qual ocorre um crescimento anormal de vasos
sangüíneos que formam tumores benignos (hemangiomas), e naqueles com
neurofibromatose (doença de von Recklinghausen), na qual ocorre a formação de
tumores carnosos sobre os nervos.

Sintomas
O sintoma mais proeminente de um feocromocitoma é a hipertensão arterial, a qual
pode ser muito grave.
Em aproximadamente 50% dos indivíduos, a hipertensão arterial é persistente. No
restante, a hipertensão arterial e outros sintomas vêm e vão, algumas vezes sendo
desencadeados pela pressão sobre o tumor, por uma massagem, por uma medicação
(especialmente anestésicos e drogas beta-bloqueadoras), por um trauma emocional e,
raramente, pelo simples ato da micção. Outros sintomas compreendem um ou mais
dos seguintes: uma freqüência cardíaca elevada e batimentos cardíacos fortes, sudorese
excessiva, tontura ao ficar em pé, respiração acelerada, rubor, pele fria e úmida,
cefaléias (dores de cabeça) intensas, dores no peito e no estômago, náusea, vômito,
formigamento nos dedos, constipação e uma estranha sensação de uma tragédia
iminente. Quando esses sintomas manifestam-se de modo súbito e intenso, eles podem
assemelhar-se a uma crise de pânico.

Diagnóstico
O médico pode não suspeitar da presença de um feocromocitoma porque 50% dos
indivíduos somente apresentam uma hipertensão arterial persistente. No entanto, quando
a hipertensão arterial ocorre em um indivíduo jovem, vem e vai ou acompanha outros
sintomas do feocromocitoma, ele pode solicitar determinados exames laboratoriais. Por
exemplo, a concentração de certas catecolaminas pode ser mensurada em amostras de
urina. Exames como a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância
magnética (RM) podem ajudar a localizar o feocromocitoma. A cintilografia com
radioisótopos (substâncias radioativas) também é útil. Neste exame, é injetada uma
substância radioativa que se acumula no feocromocitoma e, em seguida, é realizada uma
varredura para se observar a sua localização.

Tratamento

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Geralmente, o melhor tratamento é a remoção do feocromocitoma. No entanto, a
cirurgia é freqüentemente retardada até o médico conseguir manter a secreção de
catecolaminas sob controle através do uso de medicamentos, pois a concentração
elevada de catecolaminas pode ser perigosa durante a cirurgia. A fenoxibenzamina e o
propranolol são comumente administrados concomitantemente e a
metirosina ou outros medicamentos são freqüentemente necessários para controlar a
pressão arterial.
Quando o feocromocitoma já disseminou (produziu metástases), a quimioterapia com
ciclofosfamida, vincristina e dacarbazina pode ajudar a retardar o crescimento do tumor.
Freqüentemente, os efeitos perigosos da secreção excessiva de catecolaminas pelo
tumor podem ser bloqueados pelo tratamento contínuo com fenoxibenzamina e
propranolol.

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Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus é um distúrbio no qual a concentração sérica (do sangue) de glicose
(um açúcar simples) encontra-se anormalmente elevada, pois o organismo não libera ou
não utiliza a insulina de modo adequado. Freqüentemente, os médicos utilizam o termo
completo diabetes mellitus, ao invés de diabetes isoladamente, para diferenciá-lo do
diabetes insipidus, uma doença relativamente rara. A concentração sérica de açúcar
(glicose) varia durante o dia, aumentando após uma refeição e retornando
ao normal em 2 horas. Normalmente, a concentração sérica de açúcar encontra-se entre
70 e 110 miligramas por decilitro (mg/dl) de sangue pela manhã, após uma noite de
jejum. Normalmente, ela é inferior a 120 a 140 mg/dl, 2 horas após o consumo de
alimentos ou de líquidos que contêm açúcar ou outros carboidratos. A concentração
normal tende a aumentar de modo discreto, mas progressivo, após os
50 anos, especialmente nos indivíduos que são sedentários. A insulina, um hormônio
liberado pelo pâncreas, é a principal substância responsável pela manutenção da
concentração sérica adequada de glicose. Ela permite que a glicose seja transportada
para o interior das células, de modo que estas produzam energia ou armazenem a
glicose até a sua utilização ser necessária. A elevação da concentração
sérica de glicose após comer ou beber estimula o pâncreas a produzir insulina,
impedindo um maior aumento da concentração sérica de glicose e fazendo com que ela
diminua gradualmente. Como os músculos utilizam glicose como fonte de energia, a sua
concentração sérica também pode diminuir durante a atividade física.

Causas
O diabetes ocorre quando o organismo não produz insulina em quantidade suficiente
para manter a concentração sérica de insulina normal ou quando as células não
respondem adequadamente à insulina.
Os indivíduos com diabetes mellitus tipo I (diabetes insulino-dependente) produzem
pouca ou nenhuma insulina. Embora aproximadamente 6% da população dos Estados
Unidos apresentem algum tipo de diabetes, somente cerca de 10% dos diabéticos
apresentam o tipo I. A maioiria dos indivíduos com o diabetes tipo I apresentam a
doença antes dos 30 anos. Os cientistas acreditam que um fator ambiental
(possivelmente uma infecção viral ou um fator nutricional na infância ou no início da
vida adulta) faz com que o sistema imune destrua as células produtoras de insulina do
pâncreas. Para que isto ocorra, é muito provável que seja necessária alguma
predisposição genética. Qualquer que seja a causa, no diabetes tipo I mais de 90% das
células produtoras de insulina (células beta) do pâncreas são destruídas de modo
permanente.
A conseqüente deficiência de insulina é grave e, para sobreviver, o indivíduo com
diabetes tipo I deve aplicar injeções regulares de insulina. No diabetes mellitus tipo II
(diabetes não insulinodependente), o pâncreas continua a produzir insulina, algumas
vezes em níveis mais elevados do que o normal. No entanto, o organismo desenvolve
uma resistência aos seus efeitos e o resultado é um déficit relativo de insulina. O
diabetes tipo II pode ocorrer em crianças e adolescentes, mas, normalmente, ele inicia
após os 30 anos e torna-se progressivamente mais comum com o avançar da idade:
aproximadamente 15% dos indivíduos com mais de 70 anos de idade apresentam o

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diabetes tipo II. A obesidade é um fator de risco do diabetes tipo II; 80 a 90% dos
indivíduos que o apresentam são obesos. Determinados grupos raciais e culturais
apresentam um maior risco: os da raça negra e os hispânicos apresentam um risco duas
a três vezes maior de apresentar o diabetes tipo II. Ele também tende a ocorrer em
famílias. Outras causas menos comuns de diabetes são a concentração anormalmente
alta de corticosteróides, a gravidez (diabetes gestacional), medicamentos e venenos que
interferem na produção ou nos efeitos da insulina, acarretando uma concentração sérica
alta de glicose.

Sintomas
Os primeiros sintomas do diabetes estão relacionados aos efeitos diretos da
concentração sérica alta de glicose. Quando esta é superior a 160 a 180 mg/dl, a glicose
passa para a urina. Quando a concentração aumenta ainda mais, os rins excretam uma
maior quantidade de água para diluir a grande quantidade de glicose perdida. Como os
rins produzem um excesso de urina, o indivíduo com diabetes elimina grandes
volumes de urina (poliúria), o que acarreta uma sede anormal (polidipsia). Como ocorre
uma perda excessiva de calorias pela urina, o indivíduo perde peso. Para compensar, o
indivíduo freqüentemente sente uma fome excessiva (polifagia). Outros sintomas
incluem a visão borrada, a sonolência, a náusea e a diminuição da resistência durante o
exercício. Além disso, os indivíduos com um diabetes mal controlado são mais
suscetíveis às infecções. Por causa da gravidade do déficit de insulina, os indivíduos
com diabetes tipo I quase sempre perdem peso antes de serem submetidos a um
tratamento. A maioria dos indivíduos com diabetes tipo II não perde peso. Nos
indivíduos com diabetes tipo I, os sintomas começam
de modo abrupto e podem evoluir rapidamente para uma condição denominada
cetoacidose diabética.
Apesar da concentração sérica elevada de glicose, a maioria das células não consegue
utilizar o açúcar sem a insulina e, conseqüentemente, elas voltam-se para outras fontes
de energia. As células adiposas começam a se decompor, produzindo cetonas, as quais
são compostos químicos tóxicos que podem tornar o sangue ácido (cetoacidose). Os
sintomas iniciais da cetoacidose diabética incluem a sede e a micção excessivas, a perda
de peso, a náusea, o vômito, a fadiga e, sobretudo nas crianças, dores abdominais. A
respiração tende a tornar-se profunda e rápida à medida que o organismo tenta corrigir a
acidez do sangue. O hálito pode ter um odor de removedor de esmalte. Quando não
tratada, a cetoacidose pode evoluir para o coma, algumas vezes em poucas horas. Se
falharem na aplicação de uma injeção de insulina ou se passarem por uma situação de
estresse (p.ex., infecção, acidente ou uma doença grave), os indivíduos com diabetes
tipo I podem apresentar cetoacidose mesmo após terem iniciado o tratamento com
insulina. Os indivíduos com diabetes tipo II podem permanecer assintomáticos durante
anos ou décadas. Quando a deficiência de insulina progride, os sintoma podem ocorrer.
No início, os aumentos da micção e da sede são discretos e pioram gradualmente ao
longo de semanas ou meses. A cetoacidose é rara. Quando a concentração sérica de
açúcar torna-se muito alta (freqüentemente excedendo 1000 mg/dl), normalmente
decorrente da sobreposição de algum estresse (p.ex., infecção) ou de drogas, o
indivíduo pode apresentar uma desidratação grave, a qual pode acarretar confusão
mental, sonolência, convulsões e uma condição denominada coma hiperglicêmico
hiperosmolar não-cetótico.

Complicações

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No decorrer do tempo, a concentração sérica alta de glicose lesa os vasos sangüíneos, os
nervos e outras estruturas internas. Substâncias complexas derivadas do açúcar
acumulam-se nas paredes dos pequenos vasos sangüíneos, provocando espessamento e
ruptura dos mesmos. Ao espessarem, esses vasos transportam cada vez menos sangue,
especialmente para a pele e os nervos. O mau controle da concentração sérica de glicose
tende a produzir aumento da concentração sérica de substâncias gordurosas
(lipídeos), acarretando uma aterosclerose (formação de placas nos vasos sangüíneos)
acelerada. A aterosclerose é 2 a 6 vezes mais comum nos indivíduos diabéticos que nos
não diabéticos e ocorre igualmente em homens e mulheres. A má circulação, seja
através dos vasos sangüíneos pequenos seja através dos grandes, pode lesar o coração, o
cérebro, os membros inferiores, os olhos, os rins, o nervos e a pele e, além disso, retarda
a cura das lesões. Por todas essas razões, os indivíduos diabéticos podem apresentar
muitas complicações graves a longo prazo. Os infartos do miocárdio e os acidentes
vasculares cerebrais são as mais comuns.
A lesão de vasos sangüíneos do olho pode causar perda da visão (retinopatia diabética).
A função renal pode ser comprometida, resultando em uma insuficiência renal que
requer diálise. A lesão dos nervos pode manifestar-se de diversas formas. Quando
apenas um nervo é comprometido (mononeuropatia), pode ocorrer fraqueza súbita de
um membro superior ou inferior. Quando os nervos que inervam as mãos, os membros
inferiores ou os pés são lesados (polineuropatia diabética), pode ocorrer uma alteração
da sensibilidade e o indivíduo pode apresentar formigamento ou sensação de queimação
e fraqueza dos membros superiores e inferiores. A lesão dos nervos da pele aumenta a
probabilidade de lesões repetidas porque o indivíduo não consegue sentir as mudanças
de pressão ou de temperatura. O mau suprimento sangüíneo para a pele também pode
acarretar a formação de úlceras e todas as feridas cicatrizam lentamente. As úlceras dos
pés podem tornar-se tão profundas e infectadas e cicatrizar tão mal que pode ser
necessária a amputação de uma parte do membro inferior. Evidências recentes revelam
que as complicações do diabetes podem ser evitadas, postergadas ou retardadas através
do controle da concentração sérica de glicose. Outros fatores desconhecidos, incluindo
os genéticos, também determinam a evolução subseqüente dos eventos.

Diagnóstico
O diagnóstico do diabetes é estabelecido quando o indivíduo apresenta uma
concentração sérica anormalmente alta de glicose. Freqüentemente, a concentração
sérica de glicose (glicemia) é verificada durante um exame anual de rotina, no exame
pré-admissional ou no exame para liberar um indivíduo para a prática esportiva. Além
disso, o médico pode verificar a concentração sérica de glicose para descobrir a
possível causa de sintomas como o aumento da sede, da micção ou do apetite, ou
quando o indivíduo apresenta fatores de risco típicos como, por exemplo, uma história
familiar de diabetes, obesidade, infecções freqüentes ou qualquer uma das complicações
associadas ao diabetes. Para dosar a concentração sérica de glicose, uma amostra de
sangue é comumente coletada após o indivíduo realizar um jejum de aproximadamente
8 horas. Porém, a amostra pode ser coletada após uma refeição. Uma certa elevação da
concentração sérica de glicose após comer é normal, mas assim mesmo ela não deve
atingir valores muito elevados. Nos indivíduos com mais de 65 anos de idade, o melhor
é realizar o exame após um período de jejum, uma vez que os idosos apresentam um
maior aumento da concentração de glicose no sangue após comer. Um outro tipo de
exame de sangue, o teste de tolerância à glicose oral, pode ser realizado em
determinadas situações (p.ex., quando o médico suspeita que uma gestante apresenta
diabetes gestacional). Neste teste, o indivíduo jejua durante um certo período, uma

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amostra de sangue é coletada para a dosagem da concentração sérica de glicose de jejum
e, em seguida, o indivíduo ingere uma solução especial contendo uma quantidade
padronizada de glicose. Outras amostras são então obtidas durante as 2 a 3 horas
seguintes.

Tratamento
O principal objetivo do tratamento do diabetes é manter o máximo possível a
concentração sérica de glicose dentro dos limites de normalidade. A manutenção da
concentração de glicose completamente normal é difícil, mas quanto mais ela for
mantida dentro da faixa de normalidade, menos provável será a ocorrência de
complicações temporárias ou de longo prazo. O principal problema ao se tentar manter
um controle rígido da concentração sérica de glicose é a maior chance de se produzir
uma redução exagerada da mesma (hipoglicemia). O tratamento do diabetes requer
atenção ao controle do peso, aos exercícios e à dieta. Muitos indivíduos obesos com
diabetes tipo II não necessitariam de medicação caso perdessem peso e se exercitassem
regularmente. Contudo, a redução de peso e o aumento do exercício são difíceis
para a maioria dos indivíduos diabéticos. Por essa razão, a terapia de reposição de
insulina ou com medicamentos hipoglicemiantes orais é freqüentemente necessária. O
exercício reduz diretamente a concentração sérica de glicose e, freqüen-temente, reduz a
quantidade de insulina necessária.
A dieta é muito importante. Geralmente, os indivíduos diabéticos não devem consumir
alimentos doces em excesso e devem alimentar-se dentro de um esquema regular. No
entanto, o consumo de um lanche no momento de deitar ou no final da tarde
freqüentemente previne a hipoglicemia em indivíduos que autoaplicam
uma insulina de ação intermediária pela manhã ou à noite. Como os indivíduos
diabéticos apresentam uma tendência a apresentar concentrações altas de colesterol, os
nutricionistas normalmente recomendam a limitação da quantidade de gorduras
saturadas na dieta. No entanto, a melhor maneira de se reduzir a concentração de
colesterol é controlar a concentração sérica de glicose e o peso corpóreo. A
maioria dos indivíduos diabéticos beneficiase bastante com o fornecimento de
informações sobre a doença e sobre o que eles podem fazer para controlá-la. Essa
educação é mais adequadamente provida por um enfermeiro treinado em educação
sobre o diabetes.
Todos os diabéticos devem compreender como a dieta e o exercício afetam a
concentração sérica de açúcar e devem estar conscientes de como evitar as
complicações como, por exemplo, examinar a pele em busca de ulcerações. Eles
também devem tomar um cuidado especial para evitar infecções nos pés e,
freqüentemente, pode ser benéfico lançar mão de um podólogo para o corte das unhas
dos pés. É essencial a realização anual de um exame oftalmológico para se investigar
alterações dos vasos sangüíneos que podem levar à cegueira (retinopatia diabética). Os
indivíduos diabéticos sempre devem carregar consigo um cartão ou uma pulseira de
alerta médico que identifique a doença para a eventualidade deles sofrerem uma lesão
ou apresentarem uma concentração sérica alta ou baixa de glicose. Alertar os
profissionais da saúde para a presença do diabetes permite que eles instituam
rapidamente um tratamento que salve a vida do indivíduo.

Terapia de Reposição da Insulina


No diabetes tipo I, o pâncreas não consegue produzir insulina e, por essa razão, ela deve
ser reposta. A reposição pode ser realizada somente através de injeção. Como a insulina

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é destruída no estômago, ela não pode ser administrada pela via oral. Novas formas de
insulina (p.ex., spray nasal) vêm sendo testadas.
Até o momento, essas novas formas não têm funcionado bem devido à variabilidade da
taxa de absorção acarretar problemas na determinação da dose. A insulina é injetada sob
a pele, na camada de gordura, normalmente no membro superior, na coxa ou na parede
abdominal. O uso de seringas pequenas com agulhas muito finas torna as injeções
praticamente indolores. Um dispositivo de bomba de ar que injeta a insulina sob a pele
pode ser utilizado nos indivíduos que não suportam agulhas. Uma caneta de insulina, a
qual contém um cartucho com insulina e é fechada como uma caneta grande, é uma
modo conveniente para o transporte da insulina, especialmente para aqueles que tomam
várias injeções diárias longe de casa.
Um outro dispositivo é a bomba de insulina, a qual bombeia a insulina continuamente
de um reservatório através de pequena agulha que é mantida na pele.
Doses adicionais de insulina podem ser programadas ou disparadas de modo que a
bomba simule o máximo possível a maneira como ela é normalmente produzida pelo
organismo. Para alguns indivíduos, a bomba oferece um maior grau de controle,
enquanto outros consideram o seu uso desconfortável ou apresentam feridas no local de
inserção da agulha. A insulina encontra-se disponível sob três formas básicas, cada qual
com velocidade e duração da ação diferentes. A insulina de ação rápida, como a insulina
regular, é a que possui a ação mais rápida e curta. Este tipo de insulina freqüentemente
começa a diminuir a concentração sérica de glicose em 20 minutos, atinge a atividade
máxima em 2 a 4 horas e sua ação dura 6 a 8 horas. A insulina de ação rápida é
comumente utilizada por indivíduos que tomam várias injeções diárias e é injetada 15 a
20 minutos antes das refeições. A insulina de ação intermediária, como a insulina zinco
em suspensão ou a insulina isofano em suspensão, começa a agir em 1 a 3 horas, atinge
a atividade máxima em 6 a 10 horas e a sua ação dura18 a 26 horas.
Este tipo de insulina pode ser utilizado pela manhã, para dar cobertura durante a
primeira parte do dia, ou ao entardecer, para prover a quantidade necessária durante a
noite. A insulina de ação prolongada, como a insulina zinco em suspensão de ação
prolongada, tem um efeito muito reduzido durante as 6 primeiras horas, mas provê uma
cobertura durante 28 a 36 horas. As preparações de insulina permanecem estáveis à
temperatura ambiente durante meses, o que permite que elas sejam transportadas,
levadas ao trabalho ou inclusive durante uma viagem. A escolha do tipo ideal de
insulina a ser utilizado pode ser complicada. A decisão depende de quão rigorosamente
o indivíduo deseja controlar o diabetes, de seu desejo de controlar o açúcar do sangue e
de ajustar a dose, de quão variada é a sua atividade diária, de quanto ele deseja aprender
e compreender a sua doença e de quão estável é a sua concentração sérica de açúcar
durante o dia e de um dia para o outro. O esquema mais fácil de ser seguido é a injeção
diária única de insulina de ação intermediária. No entanto, este esquema proporciona
um controle mínimo sobre a concentração sérica de açúcar.
Um controle mais rígido é obtido através da combinação de dois tipos de insulina (a de
ação rápida e a de ação intermediária) em uma dose matinal. Isto exige uma maior
habilidade, mas provê maiores oportunidades para se ajustar a concentração sérica de
glicose. Uma segunda injeção pode ser aplicada na hora do jantar ou na hora de dormir.
O controle mais rigoroso é normalmente obtido através da injeção de um pouco de
insulina de ação rápida e de ação intermediária pela manhã e ao entardecer, juntamente
com várias injeções adicionais de insulina de ação rápida durante o dia. Alguns
indivíduos, sobretudo os idosos, tomam a mesma quantidade de insulina todos os dias,
enquanto outros adaptam a dose diária de acordo com a dieta, o exercício e a
concentração de açúcar no sangue. As necessidades de insulina variam com as

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alterações dos alimentos ingeridos e da quantidade de exercício. Por essa razão, os
indivíduos que variam pouco a dieta e o exercício geralmente alteram pouco a dose de
insulina.
Contudo, com o passar do tempo, as necessidades de insulina podem mudar se o
indivíduo apresentar alteração de peso, sofrer um estresse emocional ou apresentar uma
doença, sobretudo uma infecção. Os indivíduos que variam a dieta e os tipos de
exercícios realizados devem ajustar a dose de insulina de acordo com a nova situação.
Alguns indivíduos desenvolvem resistência à insulina. Como a insulina não é
exatamente igual à insulina produzida pelo organismo, ele pode produzir anticorpos
contra ela. Esses anticorpos interferem na atividade da insulina, de modo que um
indivíduo com resistência à insulina deve utilizar doses superiores às habituais. As
injeções de insulina podem afetar a pele e tecidos subjacentes no local da injeção. Uma
reação alérgica, a qual ocorre raramente, produz dor e queimação, acompanhadas
por hiperemia, prurido e edema em torno do local da injeção, durante várias horas. Mais
comumente, as injeções causam acúmulos de gordura (fazendo com que a pele
apresente um aspecto grumoso) ou destróem a gordura (causando uma depressão na
pele). A troca de local da injeção a cada dose e a troca do tipo de insulina geralmente
evitam essas complicações. A resistência e a alergia à insulina são incomuns com o uso
de insulinas humanas sintéticas, as quais são as mais utilizadas atualmente.

Medicamentos Hipoglicemiantes Orais


As sulfoniluréias (p.ex., glipizida, gliburida, tolbutamida e clorpropamida)
freqüentemente conseguem reduzir adequadamente a concentração sérica de glicose em
indivíduos com diabetes tipo II, mas não são eficazes no diabetes tipo I. Esses
medicamentos reduzem a concentração sérica de glicose estimulando o pâncreas a
liberar insulina e aumentando a sua eficácia. Um outro tipo de medicação oral, a
metformina, não afeta a liberação de insulina, mas aumenta a resposta do organismo à
sua própria insulina. O médico pode prescrever a metformina isoladamente ou
combinada com a sulfoniluréia. Uma outra medicação, a acarbose, retarda a absorção da
glicose no intestino. Comumente, os hipoglicemiantes orais são prescritos
para os indivíduos com diabetes tipo II quando a dieta e o exercício não conseguem
reduzir adequadamente a concentração sérica de glicose. Algumas vezes, os
medicamentos podem ser tomados apenas uma vez por dia, pela manhã, embora alguns
indivíduos necessitem de 2 ou 3 doses. Quando os hipoglicemiantes orais não
conseguem controlar suficientemente a concentração sérica de açúcar, pode ser
necessário o uso de injeções de insulina isoladamente ou combinado com
hipoglicemiantes orais.

Controle do Tratamento
O controle da concentração sérica de glicose é uma parte essencial do tratamento do
diabetes. Embora possa ser verificada a presença de glicose na urina, o exame de urina
não é uma boa maneira para se controlar o tratamento ou para se realizar ajustes da
terapia. Felizmente, a concentração sérica de glicose atualmente pode ser facilmente
mensurada em casa. Uma gota de sangue é obtida através da punção da ponta do dedo
com uma pequena lanceta. A lanceta contém uma pequena agulha que pode puncionar o
dedo ou pode ser colocada em um dispositivo com uma mola que perfura a pele rápida e
facilmente.
Quase todos os diabéticos consideram a perfuração praticamente indolor. A seguir, uma
gota de sangue é colocada sobre uma tira reagente. Na presença de glicose, a tira
reagente muda de cor ou apresenta alguma outra alteração química.

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Algumas tiras mudam de cor o bastante para permitir a leitura da concentração sérica de
glicose através da sua comparação com as cores impressas em um gráfico. Um sistema
melhor e mais preciso consiste no uso de um aparelho que lê as alterações da tira de
teste e apresenta o resultado em um monitor digital. A maioria desses aparelhos
cronometra a reação e lê o resultado automaticamente. Os aparelhos são pequenos,
possuindo um tamanho que varia do tamanho de uma caneta ao de um maço de cigarros.
Os indivíduos diabéticos devem anotar os valores de suas concentrações séricas de
glicose e informá-los ao médico ou ao enfermeiro para orientação sobre o ajuste da dose
de insulina ou de um hipoglicemiante oral. Em alguns casos e durante as visitas
sucessivas do paciente, o médico ou o enfermeiro podem ensiná-lo como ajustar a dose
da insulina.
Os médicos utilizam um exame de sangue denominado hemoglobina glicosilada (ou
hemoglobina A1C) para controlar o tratamento. Quando a concentração sérica de
glicose encontra-se elevada, ocorrem alterações na hemoglobina, a substância que
transporta o oxigênio no sangue. Essas alterações são diretamente proporcionais à
concentração sérica de glicose durante um longo período. Portanto, ao contrário da
dosagem da concentração de açúcar no sangue, a qual revela o nível em um
determinado momento, a dosagem da hemoglobina glicosilada revela o grau de controle
da concentração sérica de açúcar nas últimas semanas. A concentração normal da
hemoglobina glicosilada é inferior a 7%. Os indivíduos diabéticos raramente atingem
esses níveis, mas o objetivo do controle rigoroso é aproximar-se deles. A concentração
superior a 9% revelam um mau controle e a superior a 12% revela um controle muito
ruim. A maioria dos médicos especializados no tratamento do diabetes recomendam a
dosagem da hemoglobina glicosilada a cada 3 a 6 meses.

Tratamento das Complicações


Tanto a insulina quanto os hipoglicemiantes orais podem reduzir excessivamente a
concentração sérica de glicose, causando a hipoglicemia. Esta também pode ocorrer
quando o indivíduo diabético não se alimenta o suficiente ou nas horas certas ou quando
ela exercita-se vigorosamente sem se alimentar.
Quando a concentração sérica de glicose encontra-se excessivamente baixa, o primeiro
órgão a ser afetado é o cérebro. Para protegê-lo, o organismo começa imediatamente a
produzir glicose a partir das reservas de glicogênio do fígado. Este processo envolve a
liberação de epinefrina (adrenalina), a qual tende a provocar fome, ansiedade, aumento
do estado de alerta e tremores. A falta de glicose no sangue que supre o cérebro pode
causar cefaléia. A hipoglicemia deve ser tratada rapidamente, pois ela pode tornar-se
grave em minutos, acarretando uma confusão mental progressiva, coma e, raramente,
lesão cerebral permanente. Ao primeiro sinal de hipoglicemia, o indivíduo deve
consumir algum tipo de açúcar.
Por essa razão, os indivíduos diabéticos devem sempre carregar consigo doces, cubos de
açúcar ou comprimidos de glicose para tratar a hipoglicemia. Outras opções são a
ingestão de um copo de leite (que contém lactose, um tipo de açúcar), de água com
açúcar ou de suco de frutas ou comer um pedaço de bolo, uma fruta ou qualquer outro
alimento doce. Os indivíduos com diabetes tipo I sempre devem carregar ou ter
disponível o glucagon (um hormônio que eleva a concentração sérica de glicose), o qual
pode ser injetado quando eles são impossibilitados de consumir qualquer alimento que
contém açúcar. A cetoacidose diabética é uma emergência médica. Sem um tratamento
imediato excelente, ela pode levar ao coma e à morte. É necessária a hospitalização,
normalmente em uma unidade de terapia intensiva. É realizada a administração
intravenosa de grandes quantidades de líquido juntamente com eletrólitos

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(p.ex., sódio, potássio, cloreto e fosfato) para repor a perda ocorrida através da micção
excessiva.
Geralmente, para que ela aja rapidamente e sua dose possa ser ajustada freqüentemente,
a insulina é administrada pela via intravenosa.
Em intervalos de poucas horas, são realizadas dosagens das concentrações séricas de
glicose, de cetonas e de eletrólitos para que o médico possa ajustar o tratamento. Além
disso, o médico coleta amostras de sangue arterial para mensurar a acidez. Algumas
vezes, são necessários tratamentos adicionais para corrigir a acidez, embora o controle
da concentração sérica de glicose e a reposição de eletrólitos comumente permitem que
o organismo restaure o equilíbrio ácido-básico normal. O tratamento do coma
hiperglicêmico-hiperosmolar não cetótico é semelhante ao da cetoacidose diabética.
Deve ser realizada a reposição líquida e de eletrólitos. A concentração sérica de glicose
deve ser restaurada gradualmente para se evitar desvios súbitos de líquido para o
cérebro. Ela tende a ser mais facilmente controlada que na cetoacidose diabética e os
problemas da acidez sangüínea não são graves. A maioria das complicações a longo
prazo do diabetes são progressivas, exceto quando a concentração sérica de glicose é
rigorosamente controlada. No entanto, a retinopatia diabética pode ser tratada
diretamente. A cirurgia a laser pode vedar os vasos sangüíneos do olho rotos para evitar
a lesão permanente da retina. O tratamento precoce com laser pode ajudar a evitar ou
retardar substancialmente a perda da visão. Sintomas da Baixa Concentração
Sérica de Açúcar.
• Fome intensa e súbita
• Cefaléia
• Ansiedade súbita
• Tremores (estremecimento)
• Sudorese
• Confusão
• Perda da consciência, coma

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Hipoglicemia
A hipoglicemia é um distúrbio em que a concentração sérica (do sangue) de açúcar
(glicose) encontra-se anormalmente baixa. Normalmente, o organismo mantém a
concentração sérica de açúcar dentro de uma faixa estreita (aproximadamente 70 a 110
miligramas por decilitro de sangue). No diabetes, a concentração sérica de glicose torna-
se demasiadamente elevada e, na hipoglicemia, ela torna-se demasiadamente baixa. A
concentração sérica baixa de glicose acarreta um funcionamento incorreto de muitos
sistemas orgânicos. O cérebro é particularmente sensível à concentração sérica baixa de
glicose, pois a glicose é a principal fonte energética do cérebro. Este reage à
concentração sérica baixa de glicose e, através do sistema nervoso, estimula as adrenais
a liberar a epinefrina (adrenalina). Este hormônio estimula o fígado a liberar açúcar para
ajustar a concentração no sangue. Quando a concentração torna-se muito baixa, a função
cerebral pode ser comprometida.

Causas
A hipoglicemia possui várias causas diferentes: a secreção excessiva de insulina pelo
pâncreas, uma dose excessivamente alta de insulina ou de uma outra medicação
administrada a um indivíduo diabético para reduzir a concentração sérica de glicose,
uma anormalidade da hipófise ou das adrenais ou uma alteração no armazenamento de
carboidratos ou na produção de glicose por parte do fígado. Geralmente, a
hipoglicemia pode ser classificada como relacionada a medicamentos ou não
relacionada a medicamentos. A maioria dos casos de hipoglicemia ocorre em indivíduos
diabéticos e está relacionada a medicamentos. A hipoglicemia não relacionada a
medicamentos ainda pode ser subdividida em hipoglicemia de jejum, a qual ocorre após
um período de jejum, e hipoglicemia reativa, a qual ocorre como uma reação à ingestão
de alimentos, normalmente de carboidratos. Mais freqüentemente, a
hipoglicemia é causada pela insulina ou por outros medicamentos (sulfoniluréias) que
são administrados aos indivíduos diabéticos para reduzir a concentração sérica de
açúcar. Quando a dose é muito alta para a quantidade de alimento ingerido, o
medicamento pode provocar uma redução excessiva da concentração sérica de açúcar.
Os indivíduos com diabetes grave de longa duração são particularmente propensos à
hipoglicemia grave.
Isto ocorre porque as células das ilhotas pancreáticas não produzem glucagon
normalmente e as adrenais não produzem epinefrina normalmente, os principais
mecanismos imediatos através dos quais o organismo combate a concentração sérica
baixa de açúcar. Muitos medicamentos que não os destinados ao tratamento do diabetes,
sobretudo a pentamidina que é utilizada para tratar um tipo de pneumonia relacionada à
AIDS, podem causar hipoglicemia. Algumas vezes, a hipoglicemia é observada em
indivíduos com distúrbios psicológicos que, de forma subreptícia, auto-administram
insulina ou hipoglicemiantes orais. Os indivíduos que podem apresentar este tipo de
comportamento comumente são aquelas que têm acesso aos medicamentos, como os
profissionais da saúde ou familiares de diabéticos. O consumo de álcool, normalmente
em indivíduos que bebem muito sem consumir qualquer alimento durante um longo
período (o que provoca a depleção dos carboidratos armazenados no fígado), pode
causar uma hipoglicemia suficientemente grave para causar estupor. O estupor induzido
pela hipoglicemia pode ocorrer inclusive em um indivíduo cuja concentração de álcool
no sangue encontra-se abaixo do nível permitido legalmente para conduzir um
automóvel. Os policiais e os profissionais do serviço de emergência podem não se dar
conta que um indivíduo em estado de estupor cujo hálito cheira a álcool encontra-se em

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hipoglicemia e não simplesmente embriagado. Em indivíduos saudáveis, o exercício
extenuante e prolongado raramente acarreta a hipoglicemia.
O jejum prolongado somente acarreta hipoglicemia quando o indivíduo apresenta uma
outra doença, especialmente uma doença hipofisária ou das adrenais, ou quando ele
consome uma grande quantidade de álcool. As reservas de carboidratos do fígado
podem cair a níveis tão baixos que o organismo não consegue manter uma concentração
sérica de glicose adequada. Em alguns indivíduos com disfunção hepática, apenas
algumas horas de jejum podem causar hipoglicemia. Os lactentes e as crianças com uma
alteração de qualquer um dos sistemas enzimáticos do fígado que metabolizam os
açúcares podem apresentar hipoglicemia entre as refeições. Alguns indivíduos que
foram submetidos a determinados tipos de cirurgia gástrica apresentam hipoglicemia
entre as refeições (hipoglicemia alimentar, um tipo de hipoglicemia reativa). A
hipoglicemia ocorre porque os açúcares são absorvidos muito rapidamente,
estimulando a produção excessiva de insulina. A concentração elevada de insulina
provoca uma queda rápida da concentração sérica de açúcar. Raramente, a hipoglicemia
alimentar ocorre em indivíduos não submetidos à cirurgia. Nestes, a condição é
denominada hipoglicemia alimentar idiopática. No passado, os médicos tendiam a
diagnosticar a hipoglicemia reativa em indivíduos que apresentavam sintomas similares
aos da hipoglicemia 2 a 4 horas após uma refeição ou para diagnosticar os indivíduos
que apresentavam sintomas vagos (principalmente a fadiga) como tendo hipoglicemia.
Entretanto, a determinação da concentração sérica de glicose durante um episódio não
revela uma hipoglicemia verdadeira. Foram feitas tentativas para reproduzir a
hipoglicemia reativa com um teste de tolerância à glicose oral, mas este não reflete
acuradamente o que ocorre após uma refeição normal. Um tipo de hipoglicemia reativa
que ocorre em lactentes e crianças é causado por alimentos que contêm os açúcares
frutose e galactose ou o aminoácido leucina. A frutose e a galactose impedem a
liberação de glicose pelo fígado; a leucina estimula a superprodução de insulina pelo
pâncreas. Em ambos os casos, o resultado é uma concentração sérica baixa de glicose
algum tempo após o consumo de alimentos contendo esses nutrientes. Nos adultos, a
ingestão de álcool em combinação com açúcar (p.ex., gim tônica) pode desencadear a
hipoglicemia reativa. A produção excessiva de insulina também pode causar
hipoglicemia.
Ela pode ser decorrente de um tumor das células pancreáticas produtoras de insulina
(um insulinoma) ou, raramente, de uma proliferação generalizada dessas células. Apesar
de infreqüente, um tumor localizado fora do pâncreas causa hipoglicemia por produzir
um hormônio semelhante à insulina. Uma causa rara de hipoglicemia é uma doença
auto-imune na qual o organismo produz anticorpos contra a insulina. A
concentração sérica de insulina flutua anormalmente quando o pâncreas produz um
excesso de insulina para fazer frente aos anticorpos. Este distúrbio pode ocorrer em
indivíduos diabéticos ou não. A hipoglicemia também pode ser decorrente de uma
insuficiência renal ou cardíaca, de um câncer, da desnutrição, da disfunção hipofisária
ou adrenal, do choque e de uma infecção grave. Uma doença hepática extensa (p.ex.,
hepatite viral, cirrose ou câncer) também pode produzir hipoglicemia.

Sintomas
Inicialmente, o organismo reage a uma queda da concentração sérica de glicose
liberando a epinefrina (adrenalina) das adrenais e de determinadas terminações
nervosas. A epinefrina estimula a liberação do açúcar das reservas do corpo, mas
também produz sintomas similares aos de uma crise de ansiedade:

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sudorese, nervosismo, tremores, desmaios, palpitações e, algumas vezes, fome. A
hipoglicemia mais grave reduz o suprimento de glicose ao cérebro, provocando tontura,
confusão mental, fadiga, cefaléias, comportamento inadequado que pode ser confundido
com embriaguez, incapacidade de concentração, alterações visuais, convulsões
epileptiformes e coma. A hipoglicemia prolongada pode lesar o cérebro de modo
permanente. Tanto a ansiedade quanto o comprometimento da função cerebral são
sintomas que podem iniciar de forma lenta ou abrupta, evoluindo de um desconforto
discreto a uma confusão mental grave ou a uma crise de pânico em questão de minutos.
Os indivíduos que fazem uso de insulina ou de hipoglicemiantes orais para tratar o
diabetes são os mais comumente afetados. Em um indivíduo com um tumor pancreático
produtor de insulina, os sintomas podem ocorrer no início da manhã, após o jejum
noturno, especialmente quando as reservas de açúcar são ainda mais exauridas pela
prática de exercício antes do café da manhã. Inicialmente, os indivíduos com um tumor
normalmente apresentam apenas episódios ocasionais de hipoglicemina, mas após
meses ou anos, os episódios tornamse mais freqüentes e graves.

Diagnóstico
Quando um indivíduo não diabético e saudável apresenta ansiedade, um comportamento
similar ao da embriaguez ou os outros sintomas de comprometimento da função cerebral
descritos acima, o médico dosa a concentração de açúcar no sangue e, em seguida, a
concentração de insulina. Os sintomas da hipoglicemia raramente ocorrem até a
concentração sérica de açúcar ser inferior a 50 miligramas por decilitro de sangue,
apesar de, ocasionalmente, alguns indivíduos apresentarem sintomas com
concentrações discretamente mais elevadas e outros não apresentarem sintomas até a
concentração cair a níveis muitos baixos. Juntamente com os sintomas da hipoglicemia,
a concentração sérica baixa de glicose confirma o diagnóstico. Quando os sintomas são
aliviados à medida que a concentração sérica de glicose aumenta alguns minutos após a
ingestão de açúcar, o diagnóstico é confirmado. O médico dosa a concentração de
açúcar no sangue no consultório. A concentração de açúcar no sangue pode ser dosada
em casa, utilizando uma gota de sangue obtida através da punção do dedo no momento
em que os sintomas ocorrem e um dispositivo que controla a concentração sérica de
glicose.
No entanto, o controle domiciliar da concentração sérica de açúcar é recomendada
apenas para os indivíduos diabéticos. O teste de tolerância à glicose oral, o qual é
comumente realizado para auxiliar no estabelecimento do diagnóstico do diabetes, é
raramente utilizado no diagnóstico da hipoglicemia porque os seus resultados
freqüentemente levam a conclusões errôneas. O médico quase sempre consegue
detectar a causa da hipoglicemia. A história clínica do indivíduo, o exame físico e
exames laboratoriais simples são comumente suficientes para se detectar a causa. No
entanto, alguns indivíduos necessitam ser hospitalizados para a realização de exames
mais sofisticados. Quando o médico suspeita de hipoglicemia auto-imune, ele deverá
investigar a presença de anticorpos anti-insulina no sangue. Pode ser necessária a
determinação da concentração sérica de insulina com o paciente em jejum (algumas
vezes de até 72 horas), para descobrir se ele apresenta um tumor secretor de insulina. O
ideal é que o tumor seja localizado antes da cirurgia. No entanto, apesar de alguns
tumores secretores de insulina serem visíveis na tomografia computadorizada (TC), na
ressonância magnética (RM) ou na ultrassonografia, eles comumente são muito
pequenos e não são detectados por esses métodos de diagnóstico por imagem.
Freqüentemente, é necessária a realização de uma cirurgia exploradora para se detectar
um tumor secretor de insulina.

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Tratamento
Os sintomas da hipoglicemia são aliviados minutos após o consumo de açúcar de
qualquer forma (p.ex., doces ou comprimidos de glicose) ou pela ingestão de um copo
de suco de frutas, de água com algumas colheres de açúcar ou de leite (contém lactose,
um tipo de açúcar). Os indivíduos que apresentam episódios recorrentes de
hipoglicemia (sobretudo os diabéticos, freqüentemente preferem carregar
consigo comprimidos de glicose, pois estes atuam rapidamente e fornecem uma
quantidade constante de açúcar. Tanto os indivíduos diabéticos quanto os não diabéticos
com hipoglicemia podem beneficiarse com o consumo de açúcar acompanhado por um
alimento que fornece carboidratos de longa duração (p.ex., pães ou bolachas). Quando a
hipoglicemia é grave ou prolongada e a administração oral de açúcar não é possível, o
médico administra glicose pela via intravenosa para prevenir a ocorrência de uma lesão
cerebral grave.
Os indivíduos que sabidamente apresentam risco de episódios graves de hipoglicemia
podem manter o glucagon à mão para o caso de uma situação emergencial. O glucagon
é um hormônio protéico que
estimula o fígado a produzir grandes quantidades de glicose a partir de suas reservas de
carboidratos. Ele é injetado e, geralmente, restaura a concentração sérica de açúcar em 5
a 15 minutos. Os tumores secretores de insulina devem ser removidos cirurgicamente.
No entanto, como esses tumores são muito pequenos e de difícil localização, a cirurgia
deve ser realizada por um especialista com experiência nesse tipo de problema. Antes da
cirurgia, o indivíduo pode necessitar de um medicamento como, por exemplo,
o diazóxido, para inibir a secreção de insulina pelo tumor. Algumas vezes, existe mais
de um tumor e, quando o cirurgião não consegue localizar todos, uma segunda cirurgia
pode ser necessária. Os indivíduos não diabéticos com tendência à hipoglicemia
geralmente conseguem evitar os episódios, consumindo freqüentemente pequenos
lanches ao invés das três refeições diárias habituais. Os indivíduos com
tendência à hipoglicemia devem carregar consigo um cartão ou uma pulseira para
informar à equipe de emergência sobre a sua condição.

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Síndromes da Neoplasia Endócrina Múltipla
As neoplasias endócrinas múltiplas são doenças hereditárias raras nas quais ocorre o
desenvolvimento de tumores benignos ou malignos (cancerosos) em várias glândulas
endócrinas. Os tumores das neoplasias endócrinas múltiplas podem aparecer
precocemente, na infância, ou tardiamente, em torno dos 70 anos de idade. As
alterações causadas pelas neoplasias endócrinas múltiplas são decorrentes sobretudo do
excesso de hormônios produzidos pelos tumores. As neoplasias endócrinas múltiplas
ocorrem em três padrões, denominados tipos I, IIA e IIB, embora, ocasionalmente,
ocorra a sobreposição de tipos.

Doença Tipo I
Os indivíduos com síndrome das neoplasia endócrina múltipla tipo I apresentam
tumores de paratireóides (as pequenas glândulas localizadas junto à glândula tireóide),
de pâncreas, de hipófise ou de todas essas glândulas. Quase todos os indivíduos com
esta doença apresentam tumores de paratireóides. Estes fazem com que as glândulas
produzam hormônio paratireoidiano (paratormônio) em excesso (uma condição
denominada hiperparatireoidismo). O excesso de hormônio paratireoidiano comumente
eleva a concentração sérica de cálcio, causando algumas vezes a formação de cálculos
renais. A maioria dos indivíduos com doença tipo I também apresentam tumores de
células das ilhotas pancreáticas.
Aproximadamente 40% desses tumores produzem concentrações altas de insulina e,
conseqüentemente, concentrações séricas baixas de glicose (hipoglicemia),
especialmente se o indivíduo não se alimentar durante várias horas.
Mais da metade dos tumores de células das ilhotas pancreáticas produzem um excesso
de gastrina, a qual estimula o estômago a produzir ácido. Os indivíduos com esses
tumores geralmente desenvolvem úlceras pépticas que comumente sangram, perfuram e
extravasam o conteúdo gástrico para o interior da cavidade abdominal ou obstruem o
estômago. É comum o indivíduo apresentar diarréia e esteatorréia (fezes gordurosas e
fétidas). Os demais tumores de células das ilhotas pancreáticas podem produzir outros
hormônios como, por exemplo, o polipeptídeo intestinal vasoativo, o qual pode causar
diarréia grave e levar à desidratação. Em aproximadamente um terço dos casos, os
tumores de células das ilhotas pancreáticas são cancerosos e, algumas vezes,
disseminam-se (produzem metástases) para outras áreas do corpo.
Contudo, esses cânceres tendem a crescer mais lentamente que outros tipos de câncer
pancreático.
Aproximadamente dois terços dos indivíduos com doença tipo I apresenta tumores
hipofisários. Cerca de 25% desses tumores produzem o hormônio prolactina, o qual
acarreta alterações menstruais nas mulheres e impotência nos homens. Outros 25%
produzem o hormônio do crescimento, acarretando a acromegalia.
Uma porcentagem muito pequena dos tumores hipofisários produz corticotropina,
acarretando uma concentração elevada dos hormônios corticosteróides e a síndrome de
Cushing. Aproximadamente 25% parecem não produzir qualquer hormônio. Alguns
tumores hipofisários causam cefaléias (dores de cabeça), comprometimento da visão e
redução da função hipofisária. Alguns indivíduos com a doença tipo I apresentam
tumores de tireóide e de adrenais. Uma porcentagem muito pequena desenvolve

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tumores carcinóides. Alguns indivíduos também apresentam tumores gordurosos, de
consistência macia e não cancerosos logo abaixo da pele (lipomas).

Doença Tipo IIA


As neoplasias endócrinas múltiplas do tipo IIA podem consistir em um tipo raro de
câncer de tireóide (carcinoma medular), em um feocromocitoma (um tipo de tumor
adrenal que geralmente não é canceroso e na hiperatividade das paratireóides. Quase
todos os indivíduos com a doença tipo IIA apresentam um câncer medular da tireóide.
Aproximadamente 50% deles apresentam um feocromocitoma, o qual
normalmente aumenta a pressão arterial em decorrência da adrenalina e de outras
substâncias produzidas por este tipo de tumor. A hipertensão arterial pode ser
intermitente ou constante e é freqüentemente muito grave. Aproximadamente 25% dos
indivíduos com a doença tipo IIA apresentam paratireóides hiperativas
e sintomas da concentração sérica alta de cálcio, a qual pode acarretar a formação de
cálculos renais e, algumas vezes, a insuficiência renal. Em outros 25%, as paratireóides
aumentam de tamanho sem que sejam produzidas grandes quantidades de hormônio
paratireoidiano e, conseqüentemente, os indivíduos não apresentam problemas
relacionados à concentração elevada de cálcio.

Tumores das Neoplasias Endócrinas Múltiplas


Doença Tipo IIB
As neoplasias endócrinas múltiplas do tipo IIB podem consistir em um câncer medular
da tireóide, em um feocromocitoma e em neuromas (tumores em torno dos nervos).
Alguns indivíduos com a doença tipo IIB não apresentam história familiar deste
distúrbio. O câncer medular da tireóide que ocorre na doença tipo
IIB tende a se desenvolver precocemente e foi descrito em crianças com até 3 meses de
idade. Os cânceres medulares da tireóide da doença tipo IIB também crescem mais
rapidamente e disseminam com maior velocidade que os da doença tipo IIA. Quase
todos os indivíduos com doença tipo IIB apresentam neuromas nas membranas
mucosas.
Os neuromas surgem como proeminências brilhantes em torno dos lábios, da língua e
no revestimento interno da boca. Eles também podem ocorrer nas pálpebras e nas
superfícies brilhanes dos olhos (p.ex.,conjuntiva e córnea). As pálpebras e os lábios
podem engrossar. As alterações do trato gastrointestinal causam constipação e diarréia.
Ocasionalmente, o cólon apresenta dilatação acentuada das alças (megacólon). É
provável que essas alterações sejam decorrentes de neuromas que cresceram sobre os
nervos intestinais. Os indivíduos com a doença tipo IIB freqüentemente apresentam
alterações vertebrais, especialmente acentuação da curvatura da coluna vertebral, assim
como alterações ósseas dos pés e dos fêmures. Muitos indivíduos apresentam membros
longos e frouxidão articular (hábito marfanóide, assim denominado porque a aparência é
semelhante à da síndrome de Marfan).

Tratamento
Não existe uma cura conhecida para qualquer das neoplasias endócrinas múltiplas. Os
médicos tratam cada tumor de forma individual, seja através de sua remoção ou através
da correção do desequilíbrio hormonal. Como o câncer medular da tireóide, quando não
tratado, é em última instância letal, o médico muito provavelmente recomendará a
remoção cirúrgica da tireóide quando um indivíduo com a doença tipo IIA apresenta um
feocromocitoma ou um hiperparatireoidismo, mesmo se o diagnóstico de câncer
medular da tireóide não puder ser estabelecido antes da cirurgia. Na doença tipo IIB, o

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câncer medular da tireóide é particularmente agressivo. O médico recomenda a remoção
da tireóide assim que o diagnóstico for estabelecido. Este tipo de câncer de tireóide não
pode ser tratado com iodo radioativo.

Detecção
Como aproximadamente metade dos filhos de indivíduos com neoplasias endócrinas
múltiplas herdam a doença, é importante que seja feita a investigação para o diagnóstico
e o tratamento precoces.
Atualmente, existem exames disponíveis para cada tipo de tumor. Recentemente, foram
identificados os genes anormais responsáveis pela doença tipo IIA e IIB. No futuro,
existirão exames disponíveis para detectar o gene anormal, permitindo um diagnóstico e
um tratamento mais precoces e eficazes.

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Síndromes de Deficiência Poliglandular

As síndromes de deficiência poliglandular são distúrbios nos quais várias glândulas


endócrinas tornam-se hipoativas e produzem quantidades de hormônios inferiores às
normais. Os indivíduos com síndrome de deficiência poliglandular apresentam uma
predisposição genética para este distúrbio. Freqüentemente, a atividade de uma glândula
endócrina é suprimida por uma reação auto-imune que causa inflamação e
destrói a glândula parcial ou totalmente. Entretanto, a atividade de uma glândula
endócrina também pode ser suprimida por alguma infecção, por um suprimento
sangüíneo inadequado à glândula ou por um tumor. Freqüentemente, após uma glândula
ser lesada, outras também o são, fazendo com que muitas glândulas reduzam ou
interrompam o seu funcionamento (falência múltipla das glândulas endócrinas).

Sintomas
Os sintomas da deficiência poliglandular dependem de quais glândulas endócrinas
apresentam um funcionamento inadequado. Por exemplo, quando uma tireóide
hipoativa produz quantidades insuficientes de hormônios tireoidianos, o indivíduo
apresenta hipotireoidismo; quando as adrenais produzem quantidades insuficientes de
hormônios corticosteróides, o indivíduo apresenta a doença de Addison. As síndromes
de deficiência poliglandular são classificadas em três tipos, de acordo com o período de
manifestação dos sintomas, isto é, na infância ou na vida adulta, e de acordo com as
glândulas endócrinas envolvidas. Normalmente, a síndrome de deficiência poliglandular
tipo 1 ocorre na infância. O hipoparatireoidismo (hipoatividade das paratireóides) é o
achado mais comum. A seguir, as alterações mais comumente observadas são a doença
de Addison (hipoatividade adrenal) e a candidíase mucocutânea crônica (infecções
fúngicas crônicas).
É provável que as infecções fúngicas ocorram porque os indivíduos com essa síndrome
apresentam uma resposta inadequada aos fungos comuns e não reagem normalmente no
combate às infecções. Raramente, a menor produção de insulina pelo pâncreas causa o
diabetes. Além disso, os indivíduos com a síndrome de deficiência poliglandular tipo 1
freqüentemente apresentam hepatite, cálculos biliares, dificuldade de absorção dos
alimentos e calvície precoce. Geralmente, a síndrome de deficiência poliglandular tipo 2
ocorre em adultos, comumente em torno dos 30 anos de idade. As adrenais sempre são
hipoativas e a tireóide também é freqüentemente hipoativa. No entanto, alguns
indivíduos apresentam uma tireóide hiperativa (hipertireoidismo).
A hipoatividade pancreática acarreta a produção de quantidades insuficientes de insulina
e, conseqüentemente, o diabetes. Nem o hipopa-ratireoidismo e nem as infecções
fúngicas fazem parte da síndrome tipo 2. A síndrome da deficiência poliglandular do
tipo 3 ocorre em adultos e pode ser considerada um estágio preliminar da síndrome tipo
2. Os indivíduos que apresentam pelo menos dois dos
seguintes sintomas - hipoatividade da tireóide, diabetes, anemia perniciosa, vitiligo
(perda da pigmentação cutânea) e alopécia (perda de cabelo) – mas não apresentam
distúrbios adrenais são classificados como portadores da síndrome tipo 3. Quando
ocorre insuficiência adrenal, a síndrome é então classificada como tipo 2.

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Diagnóstico
São utilizados exames de sangue para mensurar a produção de hormônios pelas
glândulas afetadas. Como uma glândula endócrina afetada pode estar acentuadamente
menos ativa que as outras, é possível que o médico não detecte o distúrbio das demais
glândulas até que ocorram os sintomas devidos aos déficits das mesmas. Quando
exames adicionais revelam que várias glândulas estão hipoativas, o diagnóstico da
síndrome de deficiência poliglandular é confirmado.

Tratamento
Embora as síndromes de deficiência poliglandular não tenham cura, o médico pode
prescrever uma terapia de reposição hormonal. Um indivíduo com hipoatividade da
tireóide pode receber hormônios tireoidianos, um indivíduo com hipoatividade adrenal
pode ser tratado com corticosteróides e aquele com diabetes pode ser tratado com
insulina. Contudo, a terapia de reposição hormonal não consegue corrigir a
infertilidade nem a maioria dos demais problemas causados pela hipoatividade das
gônadas (glândulas sexuais).

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Carcinóide
O carcinóide é um câncer, geralmente localizado no trato gastrointestinal, que pode
produzir quantidades excessivas de vários neuropeptídeos e aminas, os quais possuem
efeitos semelhantes aos dos hormônios. Quando o carcinóide dissemina para o fígado,
ele pode produzir episódios de rubor, pele, pele azulada, cólicas abdominais, diarréia,
lesões cardíacas e outros sintomas, os quais constituem a síndrome carcinóide.
Os tumores carcinóides produzem um excesso de neuropeptídeos e aminas (substâncias
semelhantes a hormônios) como a bradicinina, a serotonina, a histamina e as
prostaglandinas. Normalmente, essas substâncias controlam as funções internas do
corpo. Entretanto, em quantidades excessivas, elas podem causar os sintomas da
síndrome carcinóide. Normalmente, os tumores carcinóides originam- se nas
células produtoras de hormônios que revestem o intestino delgado (células
enteroendócrinas) ou em outras células do trato gastrointestinal, do pâncreas, dos
testículos, dos ovários ou dos pulmões.
Desconhece-se a causa da formação desses tumores.
Em raras ocasiões, outros cânceres como, por exemplo, o carcinoma de células de aveia
(células pequenas) dos pulmões, o carcinoma de células das ilhotas pancreáticas e o
carcinoma medular da tireóide também produzem substâncias que causam a síndrome
carcinóide. Quando os tumores carcinóides ocorrem no trato gastrointestinal, as
substâncias similares a hormônios são liberadas na corrente sangüínea e fluem
diretamente até o fígado, onde as enzimas as destróem. Os tumores que disseminaram
(produziram metástases) para o fígado liberam as substâncias similares a hormônios na
corrente sangüínea, sem um processamento prévio pelo fígado. Por essa razão, os
tumores carcinóides originados no trato gastrointestinal geralmente não produzem
sintomas, exceto quando já produziram metástases hepáticas. Neste caso, as substâncias
similares a hormônios circulam por todo o corpo, causando os sintomas da síndrome
carcinóide, os quais variam de acordo com as substâncias produzidas.
Os tumores carcinóides nos pulmões e nos ovários também causam sintomas porque as
substâncias por eles produzidas desviam do fígado e circulam em grande quantidade na
corrente sangüínea.

Sintomas
Menos de 10% dos indivíduos com tumores carcinóides apresentam a síndrome
carcinóide. A maioria dos indivíduos com tumores carcinóides apresentam sintomas
semelhantes aos de outros cânceres intestinais, principalmente dor tipo cólica e
alterações da evacuação em decorrência da obstrução. O sintoma mais comum e,
freqüentemente, o sintoma mais precoce da síndrome carcinóide é um rubor que produz
uma sensação desagradável, localizado comumente na cabeça e no pescoço. Acredita-se
que ele seja causado por um excesso de histamina e de bradicinina, as quais provocam
dilatação dos vasos sangüíneos.
Freqüentemente, o rubor é desencadeado por emoções, pela ingestão de alimentos ou
pelo consumo de álcool ou de líquidos quentes. A pele pode mudar de cor de forma
dramática, de uma tonalidade pálida para vermelha e desta para uma coloração azulada
(cianose).

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O excesso de serotonina faz com que os músculos em torno dos intestinos contraiam,
causando diarréia, cólicas e má absorção alimentar. A má absorção acarreta a
desnutrição e, em alguns indivíduos, a esteatorréia (fezes gordurosas e fétidas). A
síndrome carcinóide pode lesar o coração e os pulmões. Em muitos indivíduos, ocorre a
formação de um material fibroso anormal no coração (fibrose endocárdica), a
qual lesa as válvulas cardíacas e compromete a capacidade de bombeamento do
coração. Como a serotonina transportada pela corrente sangüínea é destruída ao passar
pelos pulmões (antes de chegar ao lado esquerdo do coração), quase todos os problemas
cardíacos ocorrem no lado direito. Não está claro se a serotonina é a única substância
envolvida e como o organismo produz o material fibroso. Alguns indivíduos com a
síndrome carcinóide apresentam asma com sibilos e outros perdem o interesse pelo sexo
e tornam-se impotentes.

Diagnóstico
Os tumores carcinóides são diagnosticados com o auxílio de radiografias, da tomografia
computadorizada (TC), da ressonância magnética (RM), de estudos endoscópicos e da
análise química da urina. Quando o médico suspeita de um tumor carcinóide, ele
confirma o diagnóstico através da dosagem da quantidade de ácido 5-hidroxindolacético
(5-HIAA) – um dos metabólitos (subprodutos químicos) da serotonina – na urina do
indivíduo, a qual é coletada durante 24 horas. Pelo menos 3 dias antes de submeter-se
ao exame, o indivíduo deve evitar o consumo de alimentos ricos em serotonina (p.ex.,
bananas, tomates, ameixas, abacates, abacaxis, beringelas e nozes). Certos
medicamentos como, por exemplo, a guaifenesina (encontrada em muitos xaropes
contra a tosse), o metocarbamol (um relaxante muscular) e as fenotiazinas
(tranqüilizantes), também interferem nos resultados do exame.
Para ajudar a estabelecer o diagnóstico, o médico algumas vezes administra
medicamentos como o gluconato de cálcio, catecolaminas, pentagastrina ou álcool para
provocar o rubor. No entanto, como os testes de provação podem causar sintomas
desconfortáveis e algumas vezes perigosos, eles devem ser realizados em ambiente
hospitalar e sob um controle rigoroso. A tomografia computadorizada (TC) ou a
ressonância magnética (RM) pode ajudar a determinar se ocorreu metástase do tumor
para o fígado. Pode ser necessária a realização de um exame minucioso e, algumas
vezes, de uma cirurgia exploradora do abdômen para se localizar o tumor (ou tumores) e
se determinar a extensão do seu crescimento. A arteriografia diagnóstica e a
cintilografia com radionuclídeos são técnicas modernas importantes tanto para detectar
um tumor carcinóide quanto para determinar o seu crescimento. Uma descoberta recente
mostra que a maioria dos carcinóides possui receptores para o hormônio somatostatina.
Por essa razão, com a injeção de uma forma de somatostatina radioativa no sangue, é
possível se detectar os carcinóides e as metástases através de uma cintilografia.
Aproximadamente 90% dos tumores podem ser localizados com a utilização desta
técnica.

Tratamento
Quando o tumor carcinóide está limitado a uma área específica (p.ex., pulmões,
apêndice, intestino delgado ou reto), a remoção cirúrgica pode curar a doença. Quando o
tumor disseminou para o fígado, como pode ocorrer quando o tumor origina-se fora dos
pulmões, a cirurgia raramente cura a doença, mas ela pode auxiliar o médico no
diagnóstico do problema e pode aliviar os sintomas. Nem a radioterapia nem a
quimioterapia sao eficazes para curar os tumores carcinóides. Entretanto, as
combinações de determinados medicamentos quimioterápicos (estreptozocina com

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fluorouracil e, às vezes, a doxorrubicina) podem aliviar os sintomas. Uma droga
denominada ocreotida também pode aliviar os sintomas, e o tamoxifeno, o interferon
alfa e a eflornitina podem reduzir o crescimento do tumor.
As fenotiazinas, a cimetidina e a fentolamina são drogas utilizadas para controlar o
rubor. Algumas vezes, a prednisona é administrada em indivíduos com tumores
carcinóides do pulmão que apresentam episódios de rubor intenso. A diarréia pode ser
controlada com a codeína, a tintura de ópio, o difenoxilato, a ciproheptadina e a
metilsergida. A hipertensão arterial pode sertratada com vários medicamentos
antihipertensivos (p.ex., metildopa e fenoxibenzamina). Somente a remoção de tumores
carcinóides que não produziram metástases pode prover a cura. Não obstante, os
tumores crescem tão lentamente que mesmo os indivíduos que apresentam metástases
comumente sobrevivem por 10 a 15 anos.

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