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INTEGRAÇÃO

E REGULAÇÃO
METABÓLICA
Daniell Lima Costa Muniz
Sumário
INTRODUÇÃO������������������������������������������������� 3

ESTADO ALIMENTADO���������������������������������� 4

JEJUM INICIAL���������������������������������������������� 9

JEJUM PROLONGADO��������������������������������� 13

ADAPTAÇÕES METABÓLICAS NO
EXERCÍCIO FÍSICO��������������������������������������� 18

RESPOSTA DO METABOLISMO AO
ESTRESSE���������������������������������������������������� 24

NOÇÕES DE BIOQUÍMICA DO SANGUE������� 28

CONSIDERAÇÕES FINAIS���������������������������� 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS &


CONSULTADAS�������������������������������������������� 33

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INTRODUÇÃO
Neste e-book são abordados assuntos integrados
de todo o conhecimento acerca do metabolismo.
Além desse assunto integrado, conheceremos
o funcionamento disso de maneira prática em
nossas vidas. No corpo humano podemos usar
dois momentos para diferenciar o metabolismo: o
estado alimentado e o estado em jejum. O estado
alimentado tem características anabólicas, mo-
mento em que será produzida energia e ocorrerá a
síntese de moléculas advindas dos nutrientes. Já
o estado de jejum se caracteriza como um estado
catabólico, em que há a degradação de moléculas
grandes em outras menores para produzir energia.

A energia é armazenada no glicogênio e na gordura,


que serão fatores principais para alguns trabalhos
biológicos. Tanto em estado de jejum quanto na
prática de exercício físico as energias virão do
catabolismo dessas energias armazenadas no
glicogênio e gordura.

Vamos conhecer, também, como o estresse e o


exercício físico influenciam no metabolismo. Um
pode influenciar de maneira positiva o outro de
maneira negativa. Além disso, vamos introduzir
aspectos importantes da bioquímica do sangue,
importante fator para compreendermos o estado
de saúde de cada indivíduo.

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ESTADO ALIMENTADO
A gente se alimenta com a finalidade de obter ener-
gia dos nutrientes para que nossas células façam
seus trabalhos biológicos e assim possamos viver.
Então, após ingerir algum alimento, seja carboi-
dratos, lipídios ou proteínas, o corpo irá digeri-lo e
absorvê-lo para liberar energia (adenosina trifos-
fato – ATP). Esse metabolismo, após a ingestão
dos alimentos, em que os nutrientes absorvidos
e armazenados serão utilizados para a síntese de
energia e estoque é um metabolismo anabólico.
Portanto, saberemos agora o que acontece quando
estamos alimentados.

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Figura 1: Esquema Geral do metabolismo no estado
alimentado

Fonte: Adaptado de Nelson e Cox (2018).

Lembre-se de que muitos tecidos do nosso corpo


precisam que os níveis de glicose sanguínea es-
tejam sempre em níveis adequados. É o caso do
cérebro, sua principal fonte de energia é proveniente
da glicose e se os níveis de glicose não estiverem
adequados ele sentira sua falta e poderá ter uma
série de alterações.

O metabolismo no estado alimentado terá como


um dos principais objetivos manter a entrega de
glicose para o sangue, para serem entregues aos
tecidos. Portanto, quando os carboidratos da dieta
são degradados virando glicose grande parte será

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absorvida no intestino e pela veia porta irá para
o fígado. Outra grande parte ficará circulando na
corrente sanguínea para ser entregue para o en-
céfalo e músculos e outros tecidos.

Ou seja, cerca de 30% da glicose ingerida será me-


tabolizada no fígado e o restante, cerca de 70%, na
corrente sanguínea. Então, nesse estados pós-ab-
sorção, os níveis de glicose sanguínea aumentam,
isso resulta em uma liberação de um hormônio
que iniciará uma série de processos biológicos
anabólicos, esse hormônio é a insulina.

A insulina, então, inicia uma série de processos


para metabolizar os nutrientes e sintetizar energia.
Alguns tecidos-alvos da insulina, como o fígado, o
músculo e tecido adiposo, irão se comunicar com
a insulina e assim aumentar o metabolismo da
glicose. Quando a insulina se liga aos receptores
nas membranas do tecido adiposo e muscular,
um transportador de glicose, chamado de GLUT,
nesses tecidos específicos são conhecidos como
GLUT4, desloca-se para a membrana para captar
as moléculas de glicose.

A insulina aumenta a utilização da maior parte da


glicose absorvida para a glicólise e ciclo do ácido
cítrico para produzir ATP e para seu armazenamento,
sintetizando glicogênio (glicogênese). Portanto,
a glicose ingerida e absorvida pode seguir para

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a corrente sanguínea onde será utilizada para
produzir ATP e pode seguir para ser armazenada
como glicogênio. Quando em excesso, pode ser
armazenada como gordura.

As proteínas são degradadas formando aminoáci-


dos e a maioria deles seguirão para o fígado para
o processo de síntese proteica. No fígado os ami-
noácidos darão origem às lipoproteínas, proteínas
plasmáticas como a albumina. Os aminoácidos que
não são metabolizados pelo fígado são utilizados
pelas células para produzir proteínas estruturais e
funcionais como os elementos do citoesqueleto,
hormônios e enzimas. Se forem necessárias para
produzir energia, seguem para desaminação e via
aeróbia para produzir ATP. Além disso, o excesso
de proteínas pode ser convertido em lipídios e
armazenados nos adipócitos.

Já os lipídios terão alguns caminhos na absorção.


Em primeiro lugar, os lipídios estarão em uma forma
chamada de quilomícrons, que são complexos de
lipídios e lipoproteínas formados por colesterol,
triglicerídeos, fosfolipídios e apoproteínas.

Os quilomícrons entram na circulação por meio do


sistema linfático e quando estão em circulação a
enzima lipase lipoproteica irá converter esses qui-
lomícrons em triglicerídeos, que por sua vez serão
convertidos em ácidos graxos e em glicerol. Esses

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ácidos graxos livres podem seguir para o tecido
adiposo e ser recombinados em triglicerídeos para
serem estocados. Podem também seguir para as
células para serem oxidados e produzir energia. Já
os quilomícrons que restaram na circulação serão
metabolizados no fígado, formando as lipoproteí-
nas, como a lipoproteína de baixa densidade (LDL).

Figura 2: Esquema geral dos caminhos que os lipídios


seguem após absorção

Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

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JEJUM INICIAL
Quando estamos no estado alimentado ou absor-
tivo, os níveis de glicose aumentam. Em resposta,
o metabolismo entra no estado anabólico, com a
liberação da insulina levando à síntese de glicogênio,
síntese de gorduras, síntese de energia e síntese
de tecidos proteicos para estruturas celulares.

Após esse período de absorção, entramos no es-


tado chamado pós-absortivo ou estado de jejum
inicial, cerca de 3 a 4 horas após a última refeição.
Nesse estado todo o metabolismo é modificado
por conta da falta de nutrientes. Lembre-se: o
corpo necessita de um nível adequado de glicose
na corrente sanguínea e quando estamos nesse
momento pós-absortivo, os níveis de glicose come-
çam a cair e assim o corpo responde de algumas
formas para manter ou aumentar os níveis de
glicose no sangue.

Nesse cenário, o metabolismo entrará em um pro-


cesso de catabolismo, pois começará a degradar
substratos para gerar glicose no sangue e assim
gerar energia para as células. Ou seja, de maneira
geral, por meio do catabolismo de conversão do
glicogênio, proteínas e gorduras, o organismo
produzirá glicose e/ou ATP.

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O jejum inicial se dá a partir de 4 horas após a úl-
tima refeição e dura por cerca de 8 horas. Nesse
momento, ao invés do pâncreas estar liberando
insulina, será detectada a diminuição da glicose
na corrente sanguínea e isso leva ao aumento da
liberação de hormônio glucagon. Esse hormônio
se opõe às funções da insulina. Ou seja, com a
falta de alimentos para produzir glicose e ATP, o
glucagon ativa uma série de processos para poder
gerar essa glicose e ATP.

Por exemplo, o glucagon atuará nas células-al-


vo, principalmente no fígado, catabolizando os
estoques de glicogênio, processo denominado
glicogenólise, no qual produzirá glicose a partir do
glicogênio armazenado no fígado e nos músculos.
Essa quebra de glicogênio pode, também, seguir
para a formação de glicose-6-fosfato e logo após
ser transformado em piruvato para poder participar
da via aeróbia, o que produzirá energia (ATP).

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Figura 3: Comparação dos níveis de insulina e glucagon
no estado alimentado e em jejum

(a) Estado Alimentado: domínio da Insulina


Gluc
ago
n
Oxidação da Glicose
Insu
lina Síntese de Glicogênio
Síntese de Gordura
Síntese proteica

(a) Estado Jejum: domínio do Glucagon

lina
Insu

gon
Glicogenólise
a
Gliconeogênese Gluc
Cetogênese

Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

Muito tem se discutido, nesse estado de jejum


inicial, o quanto, proporcionalmente, o organismo
irá catabolizar outros substratos para além do
glicogênio. Ao que parece, nessa fase o glucagon
também estimula a gliconeogênese. Ou seja, o
glucagon atua nos tecidos adiposo e muscular
degradando triglicerídeos e aminoácidos para gerar
glicose. Mas esse processo parece ser predomi-
nante em jejuns prolongados, o que será discutido
no próximo tópico.

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Figura 4: Esquema geral do metabolismo em jejum

Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

SAIBA MAIS

O quadro de hiperglicemia persistente pode ser sinal de


uma doença metabólica muito comum, a diabetes melito.
Ela pode ser causada por uma secreção inadequada de
insulina, resposta anormal das células-alvo ou ambas.
A diabetes pode causar muitas alterações metabólicas,
levando a prejuízos em muitos órgãos, como os rins, vasos
sanguíneos e sistema nervoso. Existe a diabetes tipo
1 e tipo 2, que é a mais prevalente. Sobre o tratamento
e mais detalhes acerca da diabetes, confira o que diz a
diretriz da sociedade brasileira de diabetes no link: http://
www.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2020/02/Di-
retrizes-Sociedade-Brasileira-de-Diabetes-2019-2020.pdf

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JEJUM PROLONGADO
Como dito anteriormente, o jejum tem início cerca
de 4 horas após a última refeição. A continuidade
do jejum, ou seja, a não alimentação, levará a mais
alterações metabólicas no organismo, com intuito
de manter a entrega de glicose ao sangue e energia
para os tecidos.

Em períodos acima de 12 horas de jejum, podemos


notar que os níveis de glucagon estão altos, predo-
minando. Dessa maneira, existe a continuação dos
processos de glicogenólise e há um aumento do
processo de gliconeogênese, que é intensificado
a ponto de, por meio do catabolismo dos ácidos
graxos no fígado, o corpo produzir um substrato
chamado de corpo cetônico.

Os corpos cetônicos ou cetonas entram no sangue,


o que provoca um estado de cetose. Essas cetonas
servem de energia para, principalmente, o cérebro.
A cetose, quando em excesso, como é comum ob-
servar em diabéticos e em pessoas com um jejum
muito prolongado acima de 24 horas, pode levar
a uma série de alterações, como alteração do pH
do sangue, deixando mais ácido, o que pode levar
a mal hálito e distúrbios mentais, podendo levar
ao coma e à morte.

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Além disso, as proteínas também entrarão de
maneira mais intensificada no catabolismo por
conta do jejum prolongado. Essas proteínas po-
dem vir do tecido muscular e serão transformadas
em polipeptídios, ação catalisada por enzimas
chamadas de proteases. Outras enzimas, como
as exopeptidases, degradarão os polipeptídios,
formando aminoácidos livres. Os aminoácidos
livres poderão ir para a desaminação para formar
ATP ou serem convertidos em substratos a fim
de formar glicose e assim poderem participar das
vias aeróbias para formar ATP.

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Figura 5: Esquema geral do metabolismo em jejum 2

Glicose
no plasma

Aminoácidos Células α Células β


no plasma do pâncreas do pâncreas

Glucagon Insulina

Lactato,
Figado piruvato, Músculo,
amoniácidos tecido adiposo
Ácidos e outras células
graxos

Hipoglicemia prolongada

Glicogenólise Gliconeogênese Cetonas

Para uso pelo


Retroalimentação Glicose encéfalo e
negativa no plasma pelos tecidos
periféricos

Fonte: Adaptado de Silverthorn (2017).

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Tabela 1: Comparação do metabolismo em estado alimen-
tado e em jejum.
Nutriente Forma Metabolismo no Metabolismo no
que é estado alimentado estado de jejum
absorvido
Carboi- Glicose; 1.Usado de forma 1.O glicogênio
drato frutose; imediata para armazenado
galactose a produção de será degradado
energia por meio para fornecer
da glicólise, ciclo energia no pro-
do ácido cítrico e cesso chamado
cadeia de transpor- glicogenólise.
te de elétrons;
2.Participa da
produção de
lipoproteínas;
3.É armazenado
como glicogênio
pelo processo de
glicogênese;
4.O excesso forma
gordura no proces-
so de lipogênese.
Gordura Ácidos 1.Serão estocados 1.Será estimula-
graxos como triglicerídeos da a quebra de
livres; no fígado e múscu- triglicerídeos e
triglice- los e tecido adipo- ácidos graxos
rídeos; so no processo de para produzir gli-
colesterol lipogênese; cose nos proces-
2.Colesterol pode sos de lipólise e
servir para síntese gliconeogênese;
de esteroides e 2.Servirão
componentes de para produzir
membrana; ATP na via de
3.Ácidos graxos betaoxidação;
são utilizados 3.Serão trans-
para formar formados em
lipoproteínas. corpos cetônicos
para servir de
fonte de energia
para o cérebro.

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Proteína Amino- 1.Maioria dos 1.Proteínas são
ácidos; aminoácidos irão degradadas a
pequenos aos tecidos para a aminoácidos e
peptídeos síntese proteica; podem servir
2.Em excesso como glicose
pode virar gordura para produzir
no processo de energia no
lipogênese. processo de
gliconeogênese.

Fonte: Elaboração Própria.

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ADAPTAÇÕES
METABÓLICAS NO
EXERCÍCIO FÍSICO
Quando falamos sobre exercícios físicos estamos
nos referindo àquelas atividades que têm como
objetivo melhorar, aprimorar e desenvolver nossas
capacidades físicas. São atividades que seguem
um raciocínio lógico de organização e estruturas.

São muitas as formas de se praticar exercícios físi-


cos, seja correndo, nadando, musculação, ciclismo,
dança, yoga, atletismo, dentre tantas outras. Per-
ceba que cada uma delas terá sua especificidade
de movimento, de esforço e de duração.
Portanto, para melhor entendermos o efeito de
cada tipo de exercício no nosso sistema, é preciso
lembrarmos que cada tipo de estímulo depende de
três vias energéticas.

A via anaeróbia alática, conhecida como sistema


trifosfato de adenosina-fosfocreatina (ATP-PCr),
é aquela que oferece energia de forma imediata.
Exercícios como saltar e lançar, que requerem uma
rápida contração muscular, de potência muscular
de até 6 segundos de duração, tem esse sistema
como principal fonte de energia.

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Temos também a via anaeróbia lática, que é uma
via de fonte de energia conhecida como sistema
glicolítico. Nessa via, a energia é proveniente prin-
cipalmente do glicogênio muscular e hepático, para
esforços acima de 10 segundos, podendo chegar a
até 2 minutos de duração. Como exemplo podemos
citar exercícios como um sprint de 200 metros,
musculação tradicional acima de 8 repetições e
natação de 50 a 100 metros.

Por último, temos a via aeróbia. Nessa via a energia


é proveniente, de forma predominante, dos car-
boidratos e envolve a energia advinda dos ácidos
graxos. É importante ressaltarmos que quanto mais
longa a duração do exercício aeróbio a utilização
de ácidos graxos passará a ser predominante.
Exercícios como corridas acima de 2 km, ciclismo,
natação acima de 200m são atividades que exigem
uma maior duração.

Mas, fique atento, as três vias nunca trabalham de


maneira isolada para cada tipo de exercício, o que
existe é um predomínio de cada uma delas para o
exercício específico.

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Figura 6: Esquema Geral das vias energéticas e os tipos
de exercícios específicos
Duração do exercício
0 4s 10s 1,5min 3min+

Força-potência
ATP (power lift, salto em altura, arremesso de
dardo, tacada de golfe, saque no tênis)
Tipos de desempenho

Potência sustentada
(sprints, freadas rápidas, desempenho do
ATP + PCr jogador de linha no futebol americano,
rotina de ginástica)

Potência anaeróbica-
ATP + PC + ácido láctico -endurance
(Sprints de 200 a 400m,
natação de 100m)

Transporte de elétron- Endurance aeróbica


(distância da corrida
fosforilação oxidativa superior a 800m)

Sistemas não oxidativos Sistemas aeróbico-


imediatos/a curto prazo -oxidativo

Vias energéticas predominantes


Fonte: Adaptado de McArdle, Katch e Katch (2016).

Vamos entender agora as adaptações metabóli-


cas advindas dos exercícios. Para fins de estudo,
separaremos os exercícios pela predominância
das vias energéticas. Iniciaremos com exercícios
físicos de características anaeróbias, ou seja, exer-
cícios que exigem um alto nível de metabolismo

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anaeróbio. Conforme o conceito de especificidade,
as adaptações a esse tipo de exercício irão refletir
justamente nos sistemas de energia imediatos e a
curto prazo e alguns aumentos no sistema aeróbio.
As principais adaptações metabólicas advindas
dos exercícios anaeróbios são:

1) Aumento nos níveis de substratos anaeróbios:


é possível observar maiores níveis de ATP, PCr,
creatina livre e glicogênio no músculo em repouso
que foi treinado;

2) Maior quantidade e ação das enzimas-chaves


que controlam os sistemas energéticos de resposta
rápida e curto prazo, principalmente em músculos do
tipo de contração rápida. Por exemplo, é percebida
melhora na atividade das enzimas miosina quinase
e creatina fosfoquinase e enzimas lactatodesidro-
genase, fosfofrutoquinase e glicogênio-fosforilase.

Os exercícios aeróbios são os que foram mais


estudados por pesquisadores da área da fisiolo-
gia do exercício e, assim, foram percebidas mais
adaptações metabólicas, como:

1) Uma das principais adaptações pode ser ob-


servada na melhor atividade mitocondrial. O exer-
cício aeróbio promove aumento da quantidade das
mitocôndrias nos músculos que foram treinados.
Melhoram sua capacidade oxidativa dos substratos
e atividade enzimática mitocondrial.

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2) Aumentam a capacidade da oxidação dos
ácidos graxos e um aumento da utilização de tri-
glicerídeos como fonte principal de energia pelo
músculo treinando;

3) O músculo que está mais aprimorado em utili-


zar energia dos ácidos graxos irá utilizar menos o
glicogênio e reduzirá a produção de glicose. Esses
fatores beneficiam o controle glicêmico.

Todas essas adaptações refletirão um melhor


funcionamento do organismo e consequentemente
estarão associadas a melhores índices de saúde.
Por exemplo, você ter melhor capacidade oxidati-
va das mitocôndrias permitirá que elas reduzam
a quantidade de espécies reativas de oxigênio e
radicais livres marcadores que provocam prejuízos
para as células. Portanto, a prática do exercício é
de grande importância para a saúde pública e deve
ser incentivada.

FIQUE ATENTO

Para além das adaptações metabólicas, o exercício físico


traz outras importantes adaptações. São as adaptações
cardiovasculares.

1. Hipertrofia cardíaca: conhecida como “coração de


atleta”, essa adaptação é advinda do treinamento que
provoca aumento de massa do miocárdio e volume do
coração, com maiores volumes nas diástoles;

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2. Eficiência da frequência cardíaca: o treinamento pro-
voca redução da frequência cárdica devido a uma maior
atividade parassimpática e menor atividade simpática,
isso é um importante preditor de evento cardiovascular;

3. Aumento do débito cardíaco: com um volume sistólico


aprimorado e mesmo com a frequência cardíaca redu-
zida o débito cardíaco aumenta e fica eficiente, levando
mais sangue para os órgãos e músculos ativos durante
a atividade, isso aumenta a performance.

Podemos observar também adaptações nos sistemas


pulmonares e psicológicos.

Acompanhe essa leitura complementar sobre as adap-


tações neurais ao treinamento de força: https://rbafs.
org.br/RBAFS/article/view/946/1248

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RESPOSTA DO
METABOLISMO AO
ESTRESSE
Quem nunca teve um momento de estresse? Algu-
mas pessoas sentem um tremor no corpo, outros
calafrios, alguns sentem a temperatura do corpo
aumentar, além de outras situações. O estresse
não significa apenas aquele momento de raiva,
mas pode ser conceituado como reação natural
do organismo ao perigo ou ameaça, deixando-nos
alerta. São reações fisiológicas, ou seja, reações
normais e que acontecem para adaptações a si-
tuações novas.

Podemos observar três fases importantes que pas-


sam pelo estresse, são elas: a fase de alerta que
é o momento no qual entramos com o fenômeno
estressor, nesse momento podemos ver grande
ativação simpática e liberação de hormônios
como adrenalina e noradrenalina e o cortisol. A
fase seguinte é chamada de fase de resistência,
na qual o corpo tenta voltar ao equilíbrio e nesse
momento demonstra uma adaptação do corpo ao
problema. A última fase é chamada de exaustão,
nessa fase podem ser observados muitos com-
prometimentos ao corpo, um deles é a supressão
do sistema imunológico.

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A resposta ao estresse se inicia com a percepção
do sistema nervoso central de que há uma ameaça
potencial, o estímulo estressante, a homeostase.
Quando ocorre essa percepção pelo sistema ner-
voso central, o organismo age em uma resposta
biológica integrada no intuito de defender o orga-
nismo. Essa resposta se dá na combinação de
quatro fatores:

1) Resposta do comportamento: a primeira res-


posta de defesa biológica ao estímulo estressante
é a do comportamento, que é a resposta mais
econômica para o organismo. Se dá ao se evitar a
ameaça potencial, que pode ser sua própria saída
do estímulo. Por exemplo, nossa ação de procurar
um lugar ventilado ao nos sentirmos abafados ou
com falta de ar;

2) Resposta do sistema nervoso autônomo: o sis-


tema nervoso autônomo é ativado principalmente
por centros localizados na medula espinhal e no
tronco cerebral, onde irão transmitir impulsos ner-
vosos para a periferia. Em situações de estresse o
sistema nervoso simpático é mais ativado, levando a
uma maior liberação de adrenalina e noradrenalina,
que agirão como um alerta para todo o organismo.
Aumenta a frequência cardíaca, há um estado de
alerta e mais forca muscular;

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3) Resposta do sistema neuroendócrino: a res-
posta neuroendócrina ao estresse mais conhecida
é a ativação do hipotálamo-pituitária-adrenal, pro-
vocando liberação dos hormônios liberadores de
corticotrofina, adreno-corticotrópico, o que resulta
na liberação de hormônios glicocorticoides. Essas
respostas alteram o metabolismo, aumentando
a glicogenólise, lipólise e catabolismo de prote-
ínas com o intuito de reestabelecer o equilíbrio
homeostático;

4) Resposta imunológica: a outra resposta fre-


quente observada em situações de estresse é a
supressão do sistema imunológico. O aumento
da atividade simpática, com constante aumento
de adrenalina e liberação de cortisol provoca ini-
bição na resposta do sistema imunológico. Essa
diminuição da ação do sistema imunológico pode
provocar distúrbios que podem levar a diversas
doenças causadas pelo estresse.

O estresse pode levar ao desenvolvimento de di-


versas doenças, pois seu efeito provoca elevação
de hormônios que, em exagero, podem atuar de
maneira nociva. É o caso da associação do estresse
com o aumento de peso corporal, doença cardíaca
e problemas mentais. Existem métodos de trata-
mento para o estresse, desde mudança no estilo
de vida a fazer exercícios físicos, medicamentos
e meditação.

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REFLITA

O estresse tem ligação com depressão? No link a seguir


você confere um artigo que demonstra o elo bioquímico
entre estresse, ansiedade e depressão:

https://www.ufmg.br/online/arquivos/015265.shtml

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NOÇÕES DE BIOQUÍMICA
DO SANGUE
De maneira geral, podemos entender como bio-
química do sangue toda molécula que o compõe
e aquilo que está circulando na corrente sanguí-
nea. Conhecer a bioquímica do sangue vai muito
além de identificar o nível de cada variável: para
a área de saúde, é por meio do sangue, junto com
outros exames, que poderão ser identificadas ou
descartadas doenças, além de se verificar como
está o metabolismo da pessoa e de se monitorar
a progressão da doença, conhecendo o efeito dos
possíveis tratamentos.

Ou seja, a maior parte dos conhecimentos e com-


preensões acerca do metabolismo, doenças e
efeitos de terapêuticas, estilos de vida e inclusive
do exercício foi possível por meio das análises dos
componentes bioquímicos no sangue.

Antes de mais nada, precisamos entender que,


para saber se uma variável no sangue está altera-
da, existe uma faixa de referência. Essa faixa de
referência diz respeito aos valores em torno da
média que pode ser considerada normal. Ou seja,
esse valor de referência é identificado por meio
de estudos científicos com o uso dos métodos
estatísticos que analisam essas variáveis em

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indivíduos saudáveis e sua relação com a idade,
sexo e, em alguns casos, etnia.

Por exemplo, a glicemia no sangue tem um padrão


de valor considerado normal de 70 a 100mg/dL,
valores abaixo ou acima estão alterados, inclusive
para valores acima de 126mg/dL de forma persis-
tente considera-se diabetes.

De maneira geral, a coleta de sangue poderá mostrar


marcadores que são importantes, são alguns deles:
y De metabolismo, como a glicose, lipídios (lipo-
proteínas de baixa densidade e colesterol), lactato
e proteínas;
y Marcadores dos componentes do sangue,
como os glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos
brancos (leucócitos) e plaquetas (verificar coagula-
ção sanguínea), esses marcadores podem indicar
anemia, leucemia, infecções virais e alergias;
y Lesões estruturais, que podem levar ao extra-
vasamento de material intracelular para a corrente
sanguínea, como a liberação de creatinacinase MB
após um infarto do miocárdio;
y Inflamações subclínicas e insuficiência de al-
guns órgãos como a proteína C reativa, creatinina
e bilirrubina;
y Hormônios diversos como o hormônio folículo
estimulante e hormônio luteinizante.

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SAIBA MAIS

O exercício pode levar a prejuízos ao corpo?

Por meio da coleta sanguínea é possível verificar que


a prática exagerada do exercício pode elevar alguns
marcadores de dano tecidual e provocar complicações
que podem levar até a insuficiência renal. Um desses
marcadores é a enzima creatina quinase.

Confira: http://bjhbs.hupe.uerj.br/WebRoot/pdf/444_pt.pdf.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final deste e-book no qual abordamos
conhecimentos importantes e curiosidades que
servirão para sua prática profissional. A integra-
ção da Bioquímica com vários outros conteúdos
do funcionamento do corpo é de fundamental
importância. Parece que são muitas informações,
mas trazendo aplicabilidade a elas fica mais claro
seu entendimento.

Os conhecimentos dos carboidratos farão senti-


do quando você entender as suas funções para
o organismo e como elas atuarão na sua prática
profissional. Para o exercício físico, o carboidrato
é uma importante fonte de energia, principalmente
para exercícios que precisam de energia imediata
e de curta duração.

Fazer a integração do estudo dos carboidratos


com o estudo do aparecimento de doenças como
a diabetes e aquelas que envolvem enzimas do
metabolismo dos carboidratos é importante, as-
sim como integrar o assunto do metabolismo da
gordura, que em jejum prolongado leva a produção
de corpos cetônicos, que em excesso podem levar
a sérias alterações no organismo, alterando o pH,
levando a complicações mentais e até mesmo à
morte.

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Imagine, então, um aluno/cliente/paciente que tem
diabetes descontrolada e sabendo que nessas
pessoas o acúmulo de cetonas pode ser elevado
e a tolerância a exercícios extenuantes são baixos,
que decisão você tomaria?

Perceba que os assuntos são dados de forma


separada para melhor entendimento, mas que é
preciso estar sempre relembrando para aplicar
em novos assuntos.

32
Referências Bibliográficas
& Consultadas
BELLÉ, L. P. Bioquímica aplicada:
reconhecimento e caracterização de
biomoléculas. São Paulo: Érica, 2014. [Minha
Biblioteca].

BERG, J. M. Bioquímica. 7. ed. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2017. [Minha Biblioteca].

BROWN, T. A. Bioquímica. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2018. [Minha Biblioteca].

CREMONESE, A. S. Bases da Bioquímica


Molecular: estruturas e processos metabólicos.
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