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Aula 03

Apostila do Curso
Descomplicando os Carboidratos

Prof. Luan Lisboa


APRESENTAÇÃO

Primeiramente eu gostaria de te dar as boas-vindas ao curso de Descomplicando


os Carboidratos, fico feliz em ter você como aluno.

Meu nome é Luan Lisboa sou Nutricionista e Professor da G raduação e cursos


de Pós-graduação em N utrição e Educação Física, também ministro cursos de
especialização e palestras na área da Nutrição Esportiva e Bioquímica pelo
Brasil. Além da docência, também atuo em consultório acompanhando atletas
de diversas modalidades esportivas e indivíduos ativos que buscam hipertrofia
muscular, emagrecimento e qualidade de vida.

Nessa apóstila da aula 3 nós iremos entender como ocorre o metabolismo dos
monossacarídeos frutose e galactose além de entender o controle hormonal do
metabolismo corporal dos carboidratos.

Aproveite o
conteúdo!
Metabolismo da frutose

Compreender o metabolismo da frutose é um passo importante na


construção do conhecimento da bioquímica direcionada à nutrição. No
capítulo de digestão e absorção dos carboidratos você já foi apresentado
a forma que a frutose fica disponível ao nosso organismo; sendo assim,
o objetivo a partir deste momento será compreender todo o seu
processamento metabólico e fazer associações com raciocínios práticos
dentro do âmbito nutricional.

Quando absorvida pela célula, a frutose é logo fosforilada em seu C-1


através da ação da enzima frutocinase numa reação dependente de ATP,
dando origem a frutose-1-fosfato que pode ser então clivada formando
DI-hidroxiacetona-fosfato e gliceraldeído (intermediários da via
glicolítica). Você deve estar se perguntando o seguinte: Essa é então a
ÚNICA maneira da frutose ser fosforilada?

Na verdade, não! a frutose também poderia ser fosforilada em seu C-6


através da enzima hexocinase (a mesma que fosforila a glicose ao entrar na
célula); porém, essa reação só é favorecida quando há GRANDES
quantidades de frutose dentro da célula; sendo assim, a grande maior parte
da frutose é fosforilada no C-1 no fígado através da ação da frutocinase
(reação que você viu anteriormente).

Uma vez dentro das células a frutose é fosforilada em seu carbono 1,


formando a frutose-1-fosfato e sofre ação de outras enzimas sendo quebrada
em duas moléculas com 3 carbonos (trioses) essas trioses podem ser
convertidas em inúmeros compostos. A maior parte das trioses são
convertidas em glicose, pode também ser convertidas em piruvato e
oxidadas para a geração de energia, uma parte pode ser convertida em
lactato e liberadas na corrente sanguínea e também pode ser usada para a
síntese de ácidos graxos e glicerol nos hepatócitos.
Figura 1 Possíveis destinos da frutose no fígado

Devemos compreender que a ingestão EXCESSIVA de frutose,


principalmente quando em ambiente hipercalórico pode resultar em
aumento da síntese de ácidos graxos, esterificação de ácidos graxos e
secreção de VLDL, o que pode elevar as concentrações séricas de
triacilgliceróis e, por fim, de colesterol LDL. Isso ocorre porque a frutose
é quebrada em trioses de forma mais rápida e descontrolada quando
comparada a própria glicose, visto que ela escapa da etapa reguladora
catalisada pela fosfofrutocinase. Esse excesso preocupante de frutose
pode ser facilmente obtido em dietas com alto teor de sacarose (lembre-
se: sacarose = glicose + frutose) e xarope de frutose (encontrado em
produtos industrializados); sendo dificilmente alcançado através do
consumo de suco (quando não adoçado com sacarose) ou frutas; um
paradigma que frequentemente deve ser quebrado pelos nutricionistas
durante o atendimento nutricional.

Outra questão que pode estar associada a uma “proteção” ao consumo


excessivo de alimentos açúcarados ricos em frutose é a prática de exercícios.
Quando há um gasto energético e de glicogênio aumentado promovido pelo
exercício físico, as trioses formadas a partir da quebra da frutose serão utilizadas
para produção de energia e de glicose e não para formação de ácidos graxos,
isso pode ser justificado pelo fato da grande maioria das bebidas esportivas
serem ricas em frutose. Além de aumentar a absorção de carboidratos pois a
mesa é absorvida no intestino via GLUT5 e não via SGLUT1, as células podem
utilizar rapidamente para geração de energia e glicose .

Metabolismo da galactose

Neste capítulo vamos falar um pouco sobre o metabolismo da galactose;


um monossacarídeo que pode ser obtido através da ingestão da lactose
presente no leite ou em seus derivados. Da mesma maneira que a
frutose, a galactose também é fosforilada em seu C-1 (dessa vez através
da ação da enzima galactocinase) antes de ser metabolizada. A ação da
galactocinase leva a produção de galactose-1-fosfato, sendo o ATP o
doador desse grupamento fosfato; A galactose-1-fosfato ainda não pode
entrar na via glicolítica e para que isso ocorra ela precisa ser convertida
em UDP-galactose; ocorrendo então uma troca onde o UDP da UDP-
glicose "passa" para a galactose-1-fosfato que por sua vez também
"passa" o seu fosfato para a glicose; dando origem a glicose-1-fosfato.
Agora que a a UDP-galactose já foi formada, ela pode ser isomerizada
através da ação da enzima epimerase; levando a formação de UDP-
glicose; que pode ser utilizada pela glicogênio-sintase para a formação
de glicogênio.

Figura 2 Visão geral do metabolismo da galactose


CONTROLE HORMONAL DO METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS

O metabolismo energético e, principalmente o da glicose, é controlado pelas


ações de dois hormônios peptídicos: a insulina e o glucagon, com as
catecolaminas adrenalina e noradrenalina exercendo uma função de apoio. As
ações desses hormônios permitem ao organismo armazenar energia quando a
mesma estiver abundante ou tornar a energia armazenada disponível sempre
que houver necessidade.

Esse controle hormonal é importante, pois promove uma comunicação entre os


tecidos, principalmente aqueles com função dominante no metabolismo
energético como: fígado, tecido adiposo, músculo e encéfalo. Esses tecidos
contêm conjuntos exclusivos de enzimas, de forma que cada órgão é
especializado no estoque, no uso e na produção de combustíveis específicos.

Insulina

A insulina é um hormônio peptídico produzido pelas células b das ilhtas de


langerhans e é um dos mais importantes hormônios que regulam a utilização de
combustíveis pelos tecidos.

A insulina é um hormônio formado por 51 aminoácidos arranjados em duas


cadeias polipeptídicas, designadas A e B, as quais estão unidas por duas
ligações dissulfeto. Ela é estocada em grânulos no citosol, que, com o estímulo
apropriado (veja a seguir), são liberados por exocitose.

A secreção da insulina está intimamente coordenada com a liberação de


glucagon de modo que a velocidade de produção hepática de glicose é mantida
igual a velocidade de utilização pelos tecidos periféricos. Devido ao seu papel
regulador, a célula beta responde a uma variedade de estímulos, em especial, a
secreção é aumentada por glicose, aminoácidos e hormônios gastrointestinais.

As células betas são os mais importantes sensores corporais de glicose. Assim


como o fígado, possuem transportadores de glicose do tipo GLUT-2 e
apresentam atividade glicocinase e, portanto, podem fosforilar a glicose em
quantidades proporcionais à sua concentração sanguínea real, lembre-se que
uma vez fosforilada a glicose não sai da célula. A ingestão de glicose ou de uma
refeição rica em carboidratos leva a um aumento na glicose sanguínea, o que é
um sinal para um aumento na secreção de insulina. A glicose também estimula
a expressão do gene da insulina. A ingestão de proteínas causa um aumento
transitório nos níveis plasmáticos de aminoácidos, os quais, por sua vez,
induzem imediata secreção de insulina. A arginina plasmática elevada, por
exemplo, estimula a secreção de insulina. A maioria dos hormônios
gastrintestinais estimula a liberação de insulina. Os peptídeos intestinais
colecistocinina e o polipeptídeo inibitório gástrico (peptídeo insulinotrópico
dependente de glicose) aumentam a secreção de insulina em resposta à glicose
oral e por causa disso, são chamados de "incretinas". Esses hormônios são
liberados pelo intestino delgado após a ingestão de alimentos e causam um
aumento antecipatório nos níveis de insulina.

A síntese e a liberação de insulina estão diminuídas quando existe escassez de


combustíveis da dieta e também durante períodos de estresse (p. ex., febre ou
infecção). Esses efeitos são mediados principalmente pela adrenalina, que é
secretada pela medula adrenal em resposta ao estresse, ao trauma ou ao
exercício intenso.

Figura 3 Efeitos metabólicos da insulina nos diferentes tecidos

Ao ser secretada, a insulina possui uma meia-vida plasmática de


aproximadamente seis minutos. Essa curta duração de ação permite alterações
rápidas nos níveis circulantes desse hormônio. A insulina liga-se a receptores
específicos de alta afinidade na membrana celular da maioria dos tecidos,
incluindo o fígado, o músculo e o tecido adiposo. Esse é o primeiro passo em
uma cascata de reações, levando finalmente a um conjunto de ações biológicas
diversas.

No que diz respeito ao metabolismo da glicose, a insulina promove seu


armazenamento entrada e armazenamento, ação mais proeminentes em três
tecidos: fígado, músculo e tecido adiposo. No fígado e no músculo, a insulina
aumenta a síntese de glicogênio. No músculo e no tecido adiposo, a insulina
aumenta a captação de glicose por aumentar o número de transportadores de
glicose, o GLUT-4, na membrana da célula. No fígado, a insulina diminui
a produção de glicose por inibir a glicogenólise e a gliconeogênese.

Glucagon

O glucagon opõe-se a níveis baixos de glicose sanguínea onde várias horas


após a ingestão de carboidratos, os níveis de glicose sanguínea diminuem
levemente devido à oxidação da glicose pelo cérebro e por outros tecidos. A
diminuição da glicose sanguínea desencadeia a secreção do glucagon e reduz
a liberação da insulina. O glucagon é um hormônio polipeptídico secretado pelas
células a das ilhotas de Langerhans pancreáticas e, juntamente com a
adrenalina, o cortisol e o hormônio do crescimento, se opõe a muitas das ações
da insulina.

Figura 4 Ação antagônica da insulina e do glucagon

O glucagon causa um aumento na concentração sanguínea da glicose de várias


maneiras. Ele estimula a degradação do glicogênio hepático, inibe, no fígado, a
degradação da glicose pela glicólise, e estimula sua síntese pela
gliconeogênese. Pela estimulação da degradação do glicogênio, prevenção da
glicólise e promoção da gliconeogênese nos hepatócitos, o glucagon permite que
o fígado exporte glicose, restaurando seu nível sanguíneo normal.

Figura 5 Efeitos metabólicos do glucagon nos diversos tecidos

As reservas de combustível de um adulto humano saudável são de três tipos:


glicogênio armazenado no fígado e, em menor quantidade, no músculo; grandes
quantidades de triacilgliceróis no tecido adiposo; e proteínas teciduais que
podem ser degradadas, quando necessário, para fornecer combustível. Duas
horas após uma refeição, o nível de glicose sanguínea está levemente diminuído,
e os tecidos recebem glicose liberada a partir do glicogênio hepático. Há
pequena ou nenhuma síntese de triacilgliceróis. Quatro horas após a refeição, a
glicose sanguínea está mais reduzida, a secreção de insulina diminuiu e a
secreção de glucagon está aumentada. Esses sinais hormonais mobilizam os
triacilgliceróis do tecido adiposo, que agora se tornam o principal combustível
para o músculo e o fígado essa preferência por ácidos graxos faz com que a
glicose seja poupada e utilizada por células que dependem prioritariamente
desse nutriente como eritróricos e as células do sistema nervoso.

Cortisol

Esse estado de jejum prolongado e inanição promove, além da redução da


secreção de insulina e aumento do glucagon, a secreção do hormônio cortisol.
O aumento do cortisol sinaliza estresse, incluindo baixa da glicose sanguínea.
Uma grande variedade de agentes estressores (ansiedade, medo, dor,
hemorragia, infecção, glicose sanguínea baixa, jejum) estimula a liberação desse
hormônio. O cortisol age no músculo, no fígado e no tecido adiposo para suprir
o organismo com combustível para resistir à situação estressante.

No tecido adiposo, o cortisol provoca um aumento na liberação dos ácidos


graxos a partir dos triacilgliceróis armazenados. O cortisol estimula a degradação
das proteínas musculares não essenciais e a exportação dos aminoácidos para
o fígado, onde servem como precursores para a gliconeogênese. No fígado, o
cortisol promove a gliconeogênese por estimular a síntese da enzima-chave
PEP-carboxicinase; o glucagon tem o mesmo efeito, enquanto a insulina tem o
efeito oposto. A glicose assim produzida é armazenada no fígado como
glicogênio ou exportada imediatamente para os tecidos que precisam dela para
combustível. O efeito líquido dessas alterações metabólicas é a restauração dos
níveis normais de glicose sanguínea e o aumento dos estoques de glicogênio,
pronto para dar suporte à resposta de luta ou fuga comumente associada ao
estresse. Os efeitos do cortisol, portanto, contrabalançam os da insulina. Durante
períodos prolongados de estresse, a liberação constante de cortisol perde seu
valor adaptativo positivo e começa a causar danos ao músculo e ao osso,
prejudicando as funções endócrina e imune.

Figura 6 Efeitos metabólicos do cortisol nos diferentes tecidos


Referências

Harvey, Richard A., and Denise R. Ferrier. Bioquímica ilustrada. Porto


Alegre, Artmed Editora, 2012.

Nelson, David L., and Michael M. Cox. Princípios de bioquímica de


Lehninger. Porto Alegre. Artmed Editora, 2014.

HARPER: Bioquímica Ilustrada. 26 ed. Editora Ateneu, 2006.

KOEPPEN, B.M.; STANTON, B.A. Berne & Levy: Fisiologia. 6. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2009. 864 p.

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