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GLICÓLISE

Qual a importância dos glúcidos?

A célula é um sistema termodinâmico aberto, pois precisa de gerar e libertar energia


para mantar a sua organização.

Fuel ideal:

 Solúvel, em meios aquosos;


 Quimicamente estável;
 Estrutura simples, ligações simples, isto é, fácil de queimar.

Os glúcidos são fáceis de queimar, libertando CO2 e H2O.

A glicose é a única fonte de energia que o cérebro usa em condições de jejum e a única
que as hemácias podem usar em qualquer circunstância.

Quais os níveis de glicémia?

Após a refeição (~30 min): 120-140 mg/dl

Jejum (após ~2horas): 80-100 mg/dl

Aumento da glicémia (hiperglicemia)  perda de água das células (efeito osmótico da


glicose)  desidratação dos tecidos

Diminuição da glicémia (hipoglicemia)  diminuição de ATP  GV e cérebro são os mais


atingidos, pois precisam de um aporte constante de glicose

Quais os possíveis destinos da glicose?

Glicose

Glicogénio (síntese/degradação) Glicólise Via das Pentoses

C. Krebs

Fosforilação oxidativa

Como é que a glicose entra na célula?

Através de 2 mecanismos de transporte:


 Transporte facilitado
 Mediado por GLUT-1 a GLUT-5 (família de proteínas transportadores de
glicose que estão na membrana celular), são mais abundantes no tecido
adiposo, células musculares (GLUT-4) e GV (GLUT-1).
o Altos níveis de insulina – transporte das vesiculas, onde estão os
transportadores, para a membrana celular.
o Baixos níveis de insulina – transportadores deixam de estar fundidos
na membrana celular e voltam a estar dentro das vesiculas.
 Por difusão facilitada, o movimento da glicose é a favor do gradiente de
concentração. A glicose extracelular, onde há em elevada concentração, liga-
se a um transportador, que altera a sua conformação para libertar a glicose
dentro da célula.
 Co-transporte (simporte) de glicose/Na+
 Entrada de glicose nas células contra o gradiente de concentração, sem gasto
direto de ATP;
 É mediado por um transportador que transporta, em simultâneo, glicose e
Na+. O gradiente iónico é usado como fonte de energia;
 Transporte trans-epitelial, pois ocorre nas células epiteliais do intestino,
túbulos renais e pelo coroide (estrutura que está nos ventrículos do sistema
nervoso, onde é produzida a maior parte do liquido cefalorraquidiano).

O que é a glicólise?

É uma via metabólica ancestral, quase universal e anaeróbica (ocorre na ausência de


O2);

Ocorre no citoplasma;

Transforma a glicose em piruvato;

É anaplerótica, pois os seus intermediários são depois aproveitados noutros processos


biossintéticos.

Quais os objetivos da glicólise?

 Formar ATP;
 Formar NADH
 Formar percursores de aminoácidos, lípidos e açúcares.
Como são os intermediários da glicólise?

6C – derivados fosforilados de glucose ou frutose

3C – derivados fosforilados de hidroxiacetona-fosfato e gliceraldeído-3-fosfato

Reação geral da glicólise

Glicose + 2 Pi + 2ADP + 2 NAD+  2 Piruvato + 2 ATP + 2 H+ + 2 H2O

Tem duas fases:

Fase I: reações endergónicas (1.ª 5 reações). Temos de gastar ATP para pôr a glicose o
mais instável possível para que possa ser cingida;

Fase II: reações exergónicas. É a fase de recuperação da energia.

1.ª Reação – Fosforilação da glicose em glicose-6-fosfato

Reação irreversivel, tendo em conta a variação da energia livre entre o reagente e o


produto desta reação, e endergónica.

A glicose não se consegue difundir pela membrana devido às suas cargas negativas e por
não haver trasnportadores especificos, por isso, é que adicionamos um fosfato. Serve para fixar
a glicose no interior da célula.

Inicio da destabilização da glicose para facilitar depois o seu metabolismo.

NOTA: As cinases são enzimas que cataliasam transferencia de um grupo fosfato do ATP para
uma molecula (acetor).

A hexocinase tem uma grande afinidade pelo susbtrato, logo km baixo e Vmáx baixa.
Ocorre fosforilação da glicose independentemente da sua concentração. É inibida
alostericamente pelo produto.

A grande afinidade da hexocinase pela glicose faz com que haja um aporte permanente
para os tecidos, mesmo que a concentração de glicose seja baixa, fosforilando toda a glicose que
entra na célula.

Há um limite de acumulação de glicose na célula, por isso, é que a hexocinase é inibida


pelo produto. Quando se começa a acumular glicose na celula, há um sinal que faz com que
diminua a entrada de glicose na célula. A célula não consegue captar tanta glicose. Logo, mais
glicose fica no espaço extracelular.
Quando estamos em jejum, o organismo tem de ter vias que produzam glicose e que
mantenham os seus niveis constantes. Para, acima de tudo, garantir que os GV consigam
cumprir a sua função de levar o O2 aos tecidos.

O fígado é o responsavel pela gestão metabólica. Este produz e capta glicose.

O fígado e as células beta do pâncreas têm a enzima glucocinase em vez da hexocinase.


Como a hexocinase tem muita afinidade pela glicose, depois seria dificil reverter a reação. Então
usa-se a glucocinase, que é uma isoenzima da hexocinase, cuja principal diferença é ter menor
afinidade pelo substrato, por isso, tem maior km e maior Vmáx. Esta enzima já não é inibida
pelo produto, mas sim pela frutose-6-fosfato. É regulada pela concentração da glicose, por isso,
vai ser mais responsável pela regulação da glicemia do que a hexocinase. Tem uma atividade
ótima para grandes quantidades de glicose, impede que haja muita glicose na circulação
sistémica, após uma refeição rica em glícidos. Isto é, diminui a hiperglicemia durante o período
de absorção.

2.ª Reação – Isomerização da glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato

Conversão de uma aldolase


numa cetose.

3.ª Reação – Fosforilação da frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato

Reação irreversível.

A fosfofrutocinase é o principal ponto de regulação. Garante o fluxo constante da via


glicolítica, se não houver mudanças no meio extracelular.

A fosfofrutocinase-1 (PFK-1) é ativada por:

 AMP (principal regulador da enzima)


 a sua concentração na célula é baixa, pois a enzima adenilar cinase está
em equilibrio, fazendo também que esta reação também esteja
praticamente em equilíbrio:
 quando a concentração de ATP é alta, para a reação estar em equilibrio,
a concentração de AMP tem de ser baixa. Por isso, sempre que há
modificações na concentração de ATP também há modificações na
concentração de AMP.
 ADP
 Pi
 Frutose-2,6-bifosfato
 Aumento do fluxo da glicólise  Aumenta [F-6-P]  Parte é consumida
pela via glicolítico e outra parte vai para uma atividade enzimática, que
forma um metabolito, que é um potenciador da via glicolítica;
 Este metabolito é um sinalizador que aumenta eficazmente o fluxo da
via glicolítica;
 Como há esta atividade enzimática à parte da glicólise, este divertículo,
vai permitir que o controlo seja efetuado num local diferente de onde é
feita a regulação, ou seja, conseguimos manter uma precisão do fluxo
na via glicolítica. Nesta atividade enzimática, atua a fosfofrutocinase-2
(PFK-2)
 Este divertículo inibe a neoglicogénese, é formado a partir da frutose-6-
fosfato pela PFK-2, a sua concentração é regulada pelas enzimas PFK-2
e frutose-2,6-bifosfatase (FBPase 2):
o ↑Insulina/↓Glucagina  Muita glicose na célula  ↑ frutose-
6-fosfato
o ↓Insulina/↑Glucagina  Pouca glicose na célula  ↓ frutose-
6-fosfato

A fosfofrutocinase-1 (PFK-1) é inibida por:

 Citrato (vem do TCA)


 ATP
 Diminuição do pH

Qual o objetivo destas das 3 reações iniciais?

 Aprisionar o substrato (glicose) na célula;


 Formar um composto que possa ser dividido em 2 unidades com 3 carbonos;
 Consumo ATP para ativação antes da degradação.
NOTA: É controlo: não é sentir o que se passa na célula, mas sim obdecer a um ordem que vem
do seu exterior.

NOTA: Regulação é adequar a via às necessidades da célula. Controlo é uma reposta da célula,
tendo em conta um sinal extracelular, que em nada tem a ver com as necessidades da célula.
Por exemplo, em excesso de glucose e AMP, a fosfofrutocinase-2 leva à produção de frutose-
2,6-bifosfato, que estimula a glicólise, para produção de energia necessária à célula (isto trata-
se de regulação, a célula sente falta de energia e, por isso, produz mais ATP). Quando os niveis
de glicose são baixos, a glucagina vai-se ligar a recetores especificos das células e converter e
ativar o AMPc que, por sua vez, vai ativar a proteína cinase A. esta enzima vai fosforilar a piruvato
cinase, inativando-a, reduzindo drasticamente o fluxo da via metabólica (isto é controlo, pois a
célula limita-se a obdecer a ordens externas que não têm a ver com as suas necessidades
momentâneas.

Regulação da piruvato cinase

É ativada por:

 Frutose-1,6-bifosfato (regulação feed-forward)


 AMP

É inibida por:

 ATP (fosforila a enzima)


 Alanina (formada a partir do piruvato)
 Acetil-CoA (possível destino do piruvato)

Conversão dos metabolitos da glicólise noutros metabolitos

Glicose-6-fosfato
 Glicose-1-fosfato  glucogénio
 Via das pentoses  nucleótidos

Frutose-6-fosfato

 Açúcares aminados  glicoproteínas e glicolipidos;

Dihidroxiacetina-fosfato

 Glicerol-3-fosfato  lípidos
1,3 BPG

 2,3 BPG

3-fosfoglicerato

 Serina

Fosfoenolpiruvato (PEP)

 Aminoacidos aromaticos (triptofano, fenilalanina, tirosina)

Piruvato

 Aminoacidos (aspartato, aspargina, alanina)

Quais os possíveis destinos do piruvato?

 Etanol (fermentação alcoólica)


 Lactato (fermentação lática)
 Acetil-CoA
NEOGLUCOGÉNESE

O que é?

São os mecanismos e vias responsáveis por converter não-carbohidratos em glucose.

Para que serve?

Como há vezes não há aporte de glicose através da alimentação, são precisos órgãos
que formem glicose.

O que acontece no jejum?

Há um alerta metabólico no individuo, em que, basicamente, a maior parte dos órgãos


e tecidos deixam de usar glicose e tenta-se preservar, ao longo do tempo, a concentração de
glucose.

O que faz o fígado?

Ele consegue produzir glicólise através do processo da neoglucogénese, que é o inverso


da glicólise.

Onde acontece?

Quando temos gasto de glicose, como é o caso dos GV, que não têm mitocôndrias, não
produzem energia e ficam dependentes da queima da glucose, o piruvato formado é libertado
para o espaço extracelular e depois é convertido a lactato. Podemos recuperar o lactato:

 Nos hepatócitos (principalmente) e fazer a síntese de glicose


 Nas células musculares
 Nas células do tecido adiposo (forma-se glicerol).

O que acontece se tivermos uma concentração crítica de glucose no sangue?

Há uma disfunção cerebral, que pode levar a coma e morte.

Como manter o nível de glucose plasmática?

O fígado faz sobretudo duas coisas:

 Acumula muita glicose sob a forma de glucogénio (pelas vias de síntese do


glucogénio).
 Faz síntese de glucose a partir do lactato e de alguns aminoácidos, como a
alanina, recuperando os níveis de glucose plasmática. Consegue libertar a glicose
formada, pois a 1.ª enzima da via glicolítica do fígado é a glucocinase, que tem
menor afinidade com o substrato, > km, > Vmáx.

Quais os percursores da neoglucogénese?

 Lactato: vem da célula muscular e do GV (principalmente);


 Glicerol (hidrólise de triglicerídeos);
 Alanina: vem da célula muscular (principalmente);
 Outros aminoácidos: vêm de várias células, principalmente, das musculares;
 Alguns AG com n.º de carbonos ímpar.

Quais as diferenças entre a glicólise e a neoglucogénese?

O que é irreversível na glicólise corresponde às diferenças entre as duas vias. São


irreversíveis, pois libertam muita energia livre como calor (muito exergónicas).

Diferenças entre as enzimas


Glicólise Neoglucogénese
Hexocinase Glucose-6-fosfatase
Fosfofrutocinase Frutose-1,6-Bifosfatase
Piruvato cinase Piruvato carboxilase e fosfoenolpiruvato
carboxicinase

Quais as reações que ocorrem neste processo?

1. Piruvato Carboxilase (só existe na mitocôndria)

 É anaplerótica, pois permite estabelecer intermediários do ciclo de Krebs.


 Piruvato entra na mitocôndria por um trocador piruvato/OH.
 Na presença de ATP, a biotina (vit B) e o CO2 em oxaloacetato.
 Piruvato + HCO3 +ATP ↔ Oxaloacetato + ADP + Pi

NOTA: A biotina (grupo prostético) serve para ligar o CO2 do bicarbonato ao piruvato.

 É regulada pela quantidade de acetil-CoA que há na célula.


 A alimentação do sistema de queima da mitocôndria é feita pela acetil-CoA.
 Se houver grande quantidade de acetil-CoA, significa que a célula tem substratos
carbonatados suficientes para obter energia e gerar calor (a sua 1.ª prioridade).
 Se for preciso o fígado produzir glucose, o hepatócito lê 1.ª a sua sobrevivência na
quantidade de acetil-CoA disponível. Se tem muita, o oxaloacetato é usado para formar
glucose (envia-o para o citoplasma) e não para ser queimado (TCA). Basicamente, o
fígado pensa: Ok já tenho muita acetil-CoA e não preciso de mais, vamos então formar
glucose.
 O principal regulador alostérico é a acetil-CoA.

Vias de utilização do piruvato


1.ª Piruvato -> Glucose 2.ª Piruvato -> Acetil-CoA
Piruvato carboxilase (estimuladas pela acetil- Piruvato desidrogenase (inibida por acetil-
CoA) CoA)

2. Fosfoenolpiruvato carboxicinase (PEPCK)

 Tem duas isoformas (+/- na mesma quantidade):


 Mitocondrial
 Citosólica
 Catalisa a conversão do oxaloacetato em fosfoenolpiruvato.
 É preciso fosfato, sob a forma GTP ou ATP, e liberta-se CO2
 Oxaloacetato + GTP ↔ Fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP.
 O oxaloacetato pode regenerar a concentração de NADH no citoplasma, através do
mecanismo de transporte para fora da mitocôndria. (SHUTTLE MALATO-ASPARTATO)

NOTA: Com as reações 1 e 2, conseguimos ultrapassar o passo da piruvato cinase, por


carboxilação (1) e descarboxilação (2), para dar origem ao fosfoenol piruvato.

3. Fosfoenolpiruvato é reconvertido a frutose-1,6-bifosfato por reversão da glicólise

4. Frutose-1,6-bifosfatase

 Catalisa a conversão da frutose-1,6-fosfato a frutose-6-fosfato,


 Reação irreversível;
 Ativada por citrato;
 Inibida por AMP e Frutose-2,6-bifosfato

NOTA: Ao contrário da fosfofrutocinase-1 (glicólise), a frutose-2,6-bifosfato é inibida por altos


níveis de insulina/baixos níveis de glucagina e é estimulada por baixos níveis de insulina/altos
níveis de glucagina.
5. Glucose-6-fosfatase

 Catalisa a conversão da glucose-6-fosfato a glucose;


 Está no fígado e no rim (menor quantidade);
 É libertada a partir do momento em que a glucose está desfosforilada;
 Ocorre no RE e é preciso Ca2+;
 Reação energética desfavorável, pois envolve 5 proteínas.

Como é feito regulação da neoglucogénese?

É feita ao nível da piruvato carboxilase.

Como é feito o controlo da neoglucogénese (não é o mesmo que regulação)?

É feita principalmente ao nível da formação do fosfoenol piruvato (2.ª reação):

 Se tivermos muita glucagina, vamos ter pouca glucose extracelular, por isso,
temos de produzir glucose.
 Se tivermos muita insulina, vamos ter muita glucose extracelular, por isso, é
inútil produzir mais glicose.

O que acontece se tivermos acidose prolongada?

Na acidose, temos muito H+, por isso, temos de fazer compensação renal, ou seja, temos
de produzir HCO3- e NH3, para que isso aconteça, a PEPCK é regulada no túbulo renal proximal.

O que é o ciclo de Cori?

 O fígado consegue formar glucose.


 Vai precisar desta glucose o GV e o músculo, pois o músculo, quando está em contração,
capta a glicose que consegue e faz a glicólise para produzir ATP. Elimina o lactato, que é
formado por fermentação lática, que suporta a regeneração dos equivalentes redutores
usados na glicólise. O lactato é regenerado pela neoglucogénese para formar glucose,
que passa para o plasma e mantém este processo em funcionamento.
 Temos um órgão gastador (músculo) e um controlador (fígado).
O que é o ciclo glucose-alanina?

 O músculo também usa aminoácidos durante o processo de contração brusca,


principalmente, de cadeia ramificada lateral.
METABOLISMO DOS GLÚCIDOS

Quais os principais fornecedores de energia ao organismo?

 Glucose
 AG
 Corpos cetónicos

Como se mantém a concentração da glicose?

É mantida através de processos que fornecem e usam a glicose.

Quem fornece a glicose?

 Intestino (glucose da alimentação)


 Fígado
 Rins

O que produz o fígado?

 Glucose, a partir da transformação de outros glúcidos, como a frutose e a


galactose.

METABOLISMO DA FRUTOSE

Onde acontece?

A frutose é metaboliza maioritariamente no fígado, pois é o único local onde há a enzima


Aldolase B.

Porque acontece?

A maioria dos tecidos consegue metabolizar glicose, mas nem todos conseguem
metabolizar a frutose.

Aqueles que conseguem metabolizar a glucose e a frutose, sempre que ela está presente
em grandes quantidades, inibe competitivamente o metabolismo da glicose. Isto deve-se à
produção de frutose-1-fosfato, que inibe a ação da hexocinase. A frutose-1-fosfato, se não for
de imediato metabolizada, devido à ausência de aldolase B, vai-se acumular e diminuir o fluxo
da glicólise, ou seja, vai ser produzida menos energia.
METABOLISMO DA GALACTOSE (VIA DE LELOIR)

O que faz?

Não influencia o fluxo da via glicolítica.

O que é?

Há uma associação entre o metabolismo da galactose e o metabolismo do glicogénio,


pois os intermediários fundamentais da síntese de glicogénio estão envolvidos no
processamento e isomerização da galactose.

METABOLISMO DO SORBITOL

O que é o sorbitol?

É um álcool.
Por que razão se forma sorbitol?

A sua formação está associada aos glícidos e quando há uma concentração


extremamente elevada de glucose, como no caso da diabetes.

A glucose é uma molécula reativa, é um aldeído, que pode reagir com aminas formando
bases de Schiff, causando a inativação das aminas às quais estava associada a energia da glicose.
Isto é, afeta a função das proteínas.

Quando a célula está saturada de equivalentes redutores e com uma desproporção


máxima daquilo que é tolerável como carga energética (maiores quantidades de ATP), ela já não
consegue oxidar mais glicose. Mas então vai ter de armazenar este excesso de glicose em algum
lugar, vai então formar sorbitol, através da redução de glicose.

O que fazer ao sorbitol acumulado?

Ele acumula-se no interior das células e temos de eliminá-lo, por que senão vai causar o
rebentamento das mesmas, por fenómenos osmóticos.

O que acontece se deixamos acumular e agregar o sorbitol?

Vai haver uma disfunção ao nível dos tecidos e órgãos, que os pode levar à destruição
funcional dos tecidos.

O local onde se torna mais evidente a acumulação do sorbitol é nos olhos, sobretudo na
lente, leva à sua opacidade e a cataratas (fenómeno de natureza inflamatória), característicos
dos diabéticos.

Quais os destinos da glicose?

 Formação de glucogénio;
 Via das pentoses;
 Glicólise
VIAS DAS PENTOSES

Qual o principal objetivo?

 Formar moléculas de ATP de forma rápida (principal objetivo).


 Dispor de arranjos de carbonos particulares, com características adequadas,
para levar a abo processos biossintéticos mais rápidos.
 Fixar equivalentes redutores a sistemas que nunca seriam usados para obter
ATP, como o par NADP+/NADPH (é um sistema onde ficam depositados estes
equivalentes redutores para a célula poder fazer reações biossintéticas).

O que são processos biossintéticos?

São processos redutores que precisam de equivalentes redutores para poderem ser
feitos.

Portanto, para a célula fazer estes processos tem de ter duas coisas:

 ATP, que é obtido pela glicólise (necessidade primária da célula);


 Dadores de equivalentes redutores, NADP+/NADPH, obtidos pela via das
pentoses.

Qual a diferença entre NADH e NADPH?

O NADH é usado SÓ para promover a síntese de ATP.

O NADPH é usado SÓ como dador de equivalentes redutores, nos processos


biossintéticos (ex: síntese de AG, esteróis, …).

Qual o percursor crucial da via das pentoses?

Ribose-5-fosfato

Qual a diferença entre o consumo de glicose na glicólise e na via das pentoses?

O consumo é muito mais elevado na glicólise.

Está de acordo com as necessidades da célula. Primeiro a célula tem de ter energia para
sobreviver e só depois, quando está muito bem do ponto de vista energético, é que se preocupa
com processos biossintéticos.
No entanto, há células cuja principal objetivo sintetizar metabolitos e não a produção
de energia, estando dependentes das outras células como é o caso dos GV. Estas células têm um
fluxo da via das pentoses muito elevado.

Quais os aspetos importantes desta via?

1. Processos de oxidação da glucose-6-fosfato tem como aceitador o NADP+;


2. Decarboxilação oxidativa, onde se forma NADPH e se tem pela 1.ª vez um composto
com 5 carbonos.
3. O que fazemos a seguir é destabilizar o composto com 5 carbonos, de modo a que ele
reagrupe os carbonos e forme hexoses e trioses, pois estes compostos são facilmente
incorporados na glicólise.
4. A via das pentoses é, no fundo, uma fonte de equivalentes redutores e de compostos
com 3, 5 e 7 carbonos, que são excelentes esqueletos para outros processos
biossintéticos que ocorrem na célula.
5. Quando queremos transformar 2 compostos com 4 e 6 carbonos em 2 compostos com
3 e 7 carbonos, o que fazemos é transportar grupos de metilo. Este transporte é feito
pelas transcetolases, que dependem da vitamina B1. Para movimentar os carbonos de
um composto para outro, temos de ter tiamina e pirofosfato, como co-fatores destas
reações.

Como é feita a sua regulação?

É feita ao nível da enzima glucose-6-fosfato desidrogenase, regulada pelo estado redox


da célula:

 Se a célula estiver bem do ponto de vista redox – não vale a pena acionar a via
das pentoses, < glucose-6-fosfato desidrogenase.
 Se a célula estiver mal do ponto de vista redox e bem do ponto de vista
energético – aciona-se a via das pentoses, > glucose-6-fosfato desidrogenase.

Como escolhemos a via que vamos usar na célula?

 Se [ATP] é baixa, a célula precisa de energia, como isto é prioridade, ativamos a


glicólise.
 Se [ATP] é alta, a célula pode usar a glicose para outros fins, que não seja a produção
de energia. Se precisar de biomoléculas, aciona a via das pentoses para obter
equivalentes redutores, que vai usar em processos biossintéticos ou de
desintoxicação.
Vias metabólicas que precisam de NADPH
Processos biossintéticos Processos de desintoxicação
 Síntese de AG, colesterol,  Redução do glutatião oxidado;
neurotransmissores,  Citocromo P450
nucleótidos; monoxigenase.
 Alongamento das cadeias de
AG.

 Se [ATP] é alta e tem muitas biomoléculas, a célula tem duas opções:


 [glucogénio] é baixa, forma glucogénio a partir da glicose existente,
armazenado-a.
 [glucogénio] é alta, elimina a glucose, por exemplo, pelo sorbitol.

Se > ATP/ADP (carga energética alta)


 inibe a glicólise Se > NADPH  inibe a via das pentoses

O que causa uma via das pentoses anormal?

Há vários polimorfismos da glucose-6-fosfato desidrogenase, o que faz com que


diferentes organismos reajam de forma diferente a um mesmo fármaco, por exemplo.

Ao ingerir um fármaco, se o organismo nunca esteve em contacto com ele, então


remove-o pelo sistema citocromo P450.

Se a glucose-6-fosfato desidrogenase atuar de forma deficiente, há um fluxo menor na


via das pentoses, mas confere maior resistência ao organismo, por exemplo, no
desenvolvimento de doenças, como a malária.

Pode haver um défice das enzimas transcetolases ou do seu cofator (vit B1). Vai haver
um défice na via das pentoses. Deixa de ser possível transformar xilulose-5-fosfato (5C) e ribose-
5-fosfato (5C), no caso da transcetolase I, e de xilulose-5-fosfato (5C) e eritrose-4-fosfato (4C),
no caso da transcetolase II.

Caso do eritrócito

Objetivo: fixar o O2 nos pulmões e levá-lo para os tecidos.


O complexo PDH produz CO2 e captura eletrões na forma de NADH, tornando-o muito
importante para o ciclo de Krebs e para a fosforilação oxidativa.

Quais as reações (passo a passo) para a formação da acetil CoA?

1. Descarboxilação do piruvato;
2. Oxidação da hidroxietila e transferência do acetil;
3. Formação da acetil CoA
4. Oxidação de di-hidrolipoamida e transferência de eletrões de FADH2 para NAD+.

O que pode originar acetil CoA?

 AG e glicerol (lípidos)
 Glicose e outros açúcares (sacarídeos)
 Aminoácidos (proteínas)
CICLO DE KREBS

O que é?

É um ciclo de reações, cujo produto final pode interagir com uma nova molécula de acetil
CoA, começando o ciclo do início.

Ao longo do ciclo são formadas várias moléculas que são importantes na formação de
ATP (ex NADH) e outras moléculas são removidas (ex CO2).

Sozinho o ciclo de Krebs só produz 1 ATP. A maioria das moléculas de ATP são formadas
na fosforilação oxidativa, usando o NADH e FADH, que vêm do ciclo de Krebs.

NOTA: O ciclo de Krebs só ocorre em aerobiose (presença de O2), apesar do O2 não entrar
diretamente no ciclo.

NOTA: Tem 3 partes.

Qual o rendimento do ciclo de Krebs?

 3 NADH
 1 NADH do complexo PDH
 1 FADH2
 1 GTP (ATP)
 2 CO2

Através da fosforilação oxidativa, cada NADH produz 3 ATP e 1 FADH2 produz 2 ATP.

3 NADH (Krebs)  9 ATP


1 NADH (PDH)  3 ATP
1 FADH2  2 ATP
1ATP (Krebs)
15 ATP

Quais as doenças provocadas por um défice de enzimas do ciclo de Krebs?

Ataxia de Fiedreich (FRDA): doença degenerativa, autossómica recessiva, caracterizada


por ataxia cerebelosa progressiva, disartria, ausência de reflexos tendinosos, fraqueza proximal
dos membros inferiores e cardiomiopatia hipertrófica, causada principalmente pela expressão
repetitiva GAA, no 1.º intrão do gene frataxina, localizado no cromossoma 9q13. O gene mutado
provoca alterações na atividade enzimática mitocondrial (complexos I, II e III) e da aconitase.
FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA

Qual a origem da mitocôndria?

É o resultado de um evento endossimbiótico.

É um organelo semiautónomo que vive numa relação endossimbiótica com a célula


hospedeira. Tem o seu próprio DNA (37 genes que codificam 13 proteínas). Mas a atividade e
existência da mitocôndria precisa de proteínas que são codificadas pelo DNA nuclear, no seu
interior. Aqui vê-se a relação de interdependência entre a mitocôndria e a célula, pois a célula
também não consegue sobreviver sem a mitocôndria, pois nela ocorre a FO, sendo a central
energética da célula e de outras vias interdependentes e estritamente necessárias.

A teoria endossimbiótica é a que melhor explica a incorporação das mitocôndrias e


cloroplastos (organelos de dupla membrana e com DNA próprio, circular), semelhantes em
termos de estrutura com as células percursores procarióticas, que se encontravam no interior
de uma célula nucleada hospedeira. Através de um evento endossimbiótico, fez-se a
incorporação de um organismo livre capaz de fazer a FO na célula.

Obteve-se uma célula eucariótica, na qual existem dois genomas diferentes, com
sínteses proteicas independentes, mas que cooperam mutuamente na produção de energia. A
mitocôndria especializou-se neste papel específico, no interior da célula.

Qual a constituição da mitocôndria?

 MIM tem invaginações para permitir uma maior


superfície e, assim, maior número de sistemas da
CMR, havendo maior produção de energia
 MEM mais permeável a iões e moléculas polares
do que MIM, a qual precisa de um maior número
de translocadores na sua superfície

NOTA: Para haver produção de energia, tem de haver dois


DNA’s: o mitocondrial e o nuclear.

Quais são os principais processos e vias metabólicas que ocorrem na mitocôndria?

 Atividade da PDH (piruvato desidrogenase)


 TCA
 Síntese de corpos cetónicos (quando há excesso de acetil-CoA)
 Β-oxidação dos AG
 Neoglucogénese (a 1.ª enzima é mitocondrial)
 Parte do ciclo da ureia (degradação dos aminoácidos)

NOTA: As vias metabólicas de oxidação culminam na síntese de acetil-CoA.

NOTA: No TCA, para além de NADH e FADH2 (poder redutor), também se produz CO2, que
corresponde à maior parte do CO2 produzido pelo metabolismo.

NOTA: O NADH e o FADH2, equivalentes redutores, têm de ser oxidados, cedendo o seu
potencial redutor para produzir energia, na mitocôndria, no sistema multienzimático da CMR.

Como é formado o sistema multienzimático da CMR?

 É usado para produzir energia;


 É complexo (precisa de muitos componentes);
 As enzimas usadas são multiméricas, ou seja, são formadas por vários péptidos
e cada uma das cadeias não é funcional isoladamente. Algumas subunidades são
codificadas por DNA mitocondrial e outras por DNA nuclear.
 Se houver alguma alteração nas vias, como estão interligadas, altera o
funcionamento das outras vias metabólicas. É preciso a ideia do todo e
integração destas vias.

O que é necessário para que ocorram estas vias metabólicas no interior da mitocôndria?

É preciso que os genes sejam corretamente transcritos e traduzidos em cadeias


polipeptídicas, obtendo-se enzimas. Mas para que elas sejam funcionais, precisam de substrato,
que são levados por transportadores.

Para cada sistema da CMR, temos de ter dois genomas a funcionar: a serem transcritos
e traduzidos. Ou seja, são necessárias duas sínteses proteicas. Uma dentro da mitocôndria para
traduzir os 13 péptidos, que são codificados pelo DNA mitocondrial, e as outras dezenas de
péptidos do DNA nuclear.

Os péptidos que são produzidos no citoplasma precisam de proteínas sinalizadoras.


Depois de serem integrados na mitocôndria precisam de ser agrupados e posicionados (na
MIM).

Assim, este é um sistema semiautónomo, pois precisa de sistemas de transcrição,


polimerases e de enzimas ribossomais que são codificadas pelo núcleo, mas que tem a sua
própria síntese proteica e uma grande parte dos fatores que lhe são necessários.

O que é a CMR?

É um sistema multienzimático onde ocorre a fosforilação oxidativa. Para haver FO, o


transporte de eletrões tem de estar associado a um transporte de protões, para que haja
produção de ATP.

É formado por 5 complexos enzimáticos multiméricos e 2 transportadores


intermediários móveis (ubiquinona ou citocromo Q10 e citocromo C livre).

A ubiquinona faz o transporte de eletrões do complexo I e II para o III.

O citC faz o transporte de eletrões do complexo IV para o O2, sendo este o último
aceitador de eletrões, ficando reduzido a água.

O transporte de protões faz-se dos complexos I, III e IV para o EI. Forma-se um gradiente
protónico, que quando se dissipa liberta energia. Ao libertar energia, acontece uma reação que
seria entropicamente não espontânea e pouco provável, pois ΔG > 0, que é a síntese de ATP. A
energia fica armazenada nas ligações fosfato e é muito fácil ser degradada, pois tem ΔG <<< 0,
O que são as coenzimas Q?

Têm um elevado n.º variável de unidades de isopropeno, sendo a ubiquinona 50 ou


coenzima Q10 (10 unidades de isopropeno), a forma mais corrente nas mitocôndrias animais.

A ubiquinona 50 é o único transportador de eletrões da cadeia respiratória que não está


ligado fortemente ou covalentemente a uma proteína.

A ubiquinona precisa de captar 2 eletrões e 2 protões para se reduzir. Tem 3 formas


diferentes: oxidada (ubiquinona), semi-reduzida (semiubiquinona) e reduzida (ubiquinol).

Formação de radicais livres e a ubiquinona como antioxidante

A CMR é o principal local de formação de radicais livres na célula, porque cerca de 4-5
% do O2 que há na célula não é completamente reduzido a água. Isto é, vai receber um eletrão
da Ub semi-reduzida e pode formar um radical de superóxido. Na presença de ferro livre, este
radical pode originar um radical hidroxilo (OH-), o radical mais lesivo.

Por isto, usamos a ubiquinona em muitos cremes, pois tem um poder antioxidante
muito elevado, pois vai receber os eletrões que estão desemparelhados e, assim, neutralizar os
radicais livres. Ela recebe os eletrões e depois consegue entrar no sistema. Assim, passa os
eletrões para a cadeia respiratória, aumentando a eficácia do sistema e reduzindo os radicais
livres.

O que são centros de Fe-S?

Os grupos prostéticos de algumas proteínas dos complexos do sistema têm átomos de


enxofre na sua constituição, como a cisteína. Estes vão se ligar com o átomo de ferro, formando
os centros Fe-S.

Aumentam a coesão do sistema para que não haja extravio do fluxo de eletrões.

Estes centros transportam um eletrão de cada vez, passando o seu átomo de ferro do
estado Fe3+ para Fe2+. Isto também acontece aos átomos de ferro dos grupos heme dos
citocromos do sistema.

Têm diferentes configurações consoante liguem 1, 2


ou 4 átomos de ferro.

Existem nos complexos I, II e III e também na


aconitase.
Formação de radicais livres e defesas antioxidantes

Os eletrões passam um a um neste fluxo. Só quando dois eletrões chegam ao O2 é que


este se reduz a água.

Este sistema é a maior fonte de radicais livres na célula. Quando o O2 recebe o 1.º
eletrão, forma um radical (espécie muito reativa que facilmente oxida outras moléculas, como
as proteínas, lípidos e DNA.

Temos defesas antioxidantes:

 Enzimáticas: glutatião redutase, glutatião peroxidase, catalase, superóxido


dismutase.
 Não-enzimáticas: coenzima Q, vitamina E, vitamina C, glutatião.

Se houver um desequilíbrio nas defesas antioxidantes, pode ocorrer um stress oxidativo


na célula.

Stress Oxidativo

Há stress oxidativo quando a quantidade de espécies reativas de O2 é maior do que o


que as defesas antioxidantes conseguem neutralizar.

Com o avançar da idade, passa-se a produzir mais eletrões livres e menos defesas,
havendo envelhecimento celular.

Em algumas doenças, como na doença de Alzheimer, há um aumento excessivo da


produção de radicais livres, que está na base da lesão das biomoléculas e disfunção das células.
Fatores genéticos e ambientais podem ser responsáveis por estas alterações.

Há também citopatias que são doenças que são causadas por problemas na CMR.

Por que é que há um fluxo de eletrões?

O potencial de oxidação-redução aumenta ao longo do sistema, o que permite o fluxo


de eletrões neste sentido.

E’o negativo (afinidade por eletrão menor do que H2)  Forte poder redutor (NADH)

E’o positivo (afinidade por eletrão maior do que H2)  Forte poder oxidante (O2)

Os eletrões seguem esta ordem devido a uma maior afinidade por eletrões ao longo do
fluxo, sendo que o componente com maior afinidade pelos eletrões será o aceitador final, o O2.
 É o sistema mais usado nos tecidos que têm maior necessidade de produção
de ATP, pois é um processo mais rápido (5x), dado que tem menor
quantidade de passos, menos proteínas envolvidas (1, enquanto que o
shuttle malato-aspartato tem 6). Isto é, apesar de ser menos eficiente é
muito mais rápido.

Teoria quimiosmótica ou força proto-motriz:

 Desenvolvida por Peter Michell, nos anos 30;


 Há síntese de ATP, devido a um gradiente de eletrões, que forma um gradiente
de protões, cuja energia é também usada para formar ATP;
 A passagem de eletrões de complexo para complexo gera um potencial elétrico.
Este cria um lançador de protões da matriz mitocondrial para o EI. Assim, é
formado o gradiente de protões, associado a um potencial elétrico, por isso, é
que se chama força proto-motriz.
 Isto cria uma distribuição não-uniforme dos protões, ou seja, há uma grande
concentração de protões no EI, o que provoca uma diminuição do pH nesse
espaço, criando um potencial da membrana = gradiente elétrico (ΔΨM)
bastante elevado (-180 mV). Para que a CMR funcione corretamente, tem de se
manter este gradiente, caso contrário deixa de haver força proto-motriz. Este
gradiente é também essencial para a funcionalidade das enzimas e para a
integridade da membrana da mitocôndria.
 A passagem de eletrões leva ao movimento de protões para o EI. Quando
passam pelo complexo V, levam à síntese de ATP. Neste caso, o transporte de
eletrões está acoplado à fosforilação do ADP.

Como se faz a síntese de ATP?

 A partir da oxidação do
NADH e do FADH2,
transportam-se
eletrões até ao O2,
criando-se energia
potencial, que é
armazenada nas
ligações de ATP.
 O complexo V (ATP sintetase)
é um canal de protões, que
consegue produzir energia a
partir da dissipação do
gradiente de protões, criado
pelo fluxo de eletrões. Consegue produzir uma molécula de ATP por cada 3 protões que
passarem através dele para a matriz da mitocôndria.
 O ATP sintetase é formado por 12 subunidades, 2 delas codificadas pelo DNA
mitocondrial. Estas subunidades conseguem mudar a sua conformação, à medida que
passam os protões, e o seu conjunto forma um canal de protões.
 Quando os protões passam por este canal, há uma alteração das subunidades β, que
rodam, funcionando a subunidade γ como eixo de rotação da molécula.
 Por cada 3 protões que passarem no canal, há esta rotação.
 1 molécula de ADP e 1 Pi ligam-se a um lado (side) da subunidade β, que após uma volta
completa, dão origem a 1 molécula de ATP.
 A subunidade β tem 3 sides que permitem ligar, a cada um deles, uma molécula de ADP
e um Pi. Por cada volta completa da subunidade γ, são produzidas 3 moléculas de ATP.
 1 NADP  10 H+ pelo canal  3 ATP
 FADH2  6 H+ pelo canal  2 ATP
 Associados à função da ATP sintetase, há 2 transportadores:
 ANT (transportador de nucleótidos de adenina) – faz sair o ATP e entrar o ADP
na mitocôndria, pois sem ADP não consumo de O2 para a síntese de ATP, ou
seja, sem ADP não há consumo de O2 e o ADP é essencial para a FO; se houver
mutações no gene que codifica o ANT, vão ocorrer múltiplas deleções de DNA
mitocondrial e vai-se ter miopatias mitocondriais, como por exemplo,
oftalmoplegia (paralisia dos músculos do olho, causada por uma lesão no nervo
oculomotor (III) ou por deficiência da vitamina B1).
 Trocador de Pi – transporta Pi para a matriz com 1 H+, por co-transporte. Dos
10 H+ do NADH, 1 é usado no co-transporte de Pi, que depois se vai juntar ao
ADP, formando ATP. Por cada molécula de ATP sintetizada, são precisos 3 H+,
mas também é preciso 1 para simporte do Pi

1 NADH  12 H+  12/4 = 3 ATP  3 ATP/NADH

1 FADH2  8 H+  8/4 = 2 ATP  2 ATP/FADH2

Energia formada a partir de uma molécula de glucose


Reação NADH FADH2 ATP
Glicólise +2 0 +2
Conversão do piruvato em acetil-CoA +2 0 0
Ciclo de Krebs +6 +2 +2
Fosforilação oxidativa (via shuttle glicerol-fosfato) -10 -2 +32
Rendimento: ATP produzido 0 0 36
NOTA: Se o shuttle de NADH usado for o Malato/Aspartato, o rendimento é 38 ATP.

O que são desacopladores?

São moléculas que separam o processo de transporte de eletrões da síntese de ATP.

Os desacopladores são moléculas que vão intercalar na membrana, sendo canais de


protões que imitam as ATP sintetases, mas que são apenas canais de protões, não sintetizando
ATP.

Para haver fosforilação do ATP é preciso transporte de eletrões até ao O2, para formar
o gradiente de protões.

Pode haver transporte de eletrões até ao O2 sem que haja aproveitamento da energia
do potencial elétrico para produzir ATP, sendo essa energia dissipada sob a forma de calor.

O consumo de O2 pode ser medido em mitocôndrias isoladas:

 Se o processo estiver acoplado, o consumo de O2 só aumenta quando


adicionamos ADP, pois este é fundamental para a síntese de ATP.
 Se o processo estiver desacoplado, o consumo de O2 vai aumentar, pois há um
canal alternativo e mais rápido do que o ATP sintetase, sendo preciso um maior
fluxo de eletrões, para que o gradiente de protões seja mantido.

As UCP’s são proteínas desacopladoras fisiológicas que ajudam regular a temperatura


corporal. São exemplos de desacopladores naturais. Estão sobretudo na gordura debaixo da
pele, sendo responsáveis pela produção de calor. Há vários tipos de UCP’s dependendo do tecido
em que se encontram:

 UCP-1  tecido adiposo castanho


 UCP-2
 UCP-3  músculo esquelético
 UCP-4
 UCP-5
NOTA: Quando os animais que hibernam comem muito para depois hibernarem, é estimulada a
transcrição dos genes que codificam estas proteínas. Desta forma, durante o período de
hibernação, há uma produção constante de calor, para suportar o frio do inverno. Também,
quando nascem, os bebés têm tecido adiposo castanho que é responsável por manter a
temperatura corporal suficientemente elevada.

Também existem desacopladores químicos. Há ema alguns inseticidas, pesticidas e


comprimidos para emagrecer. Se estivermos expostos a estes desacopladores, eles podem
disseminar todo o organismo, ao contrário das UCP’s que são rigorosamente controladas,
havendo em apenas em alguns tecidos. O processo de desacoplamento deixa de ser controlado,
havendo apenas a produção de calor. No entanto, as células para sobreviverem precisam
também da produção de ATP, podendo haver degenerescência dos tecidos.

Nos diabetes do tipo II, há resistência à insulina e há um grande risco de enfarte


cardiovascular. Esta condição patológica deve-se a um aumento excessivo da expressão das
UCP’s no tecido cardíaco, devido a um aumento drástico da quantidade de gorduras em
circulação no sangue. Há então uma diminuição da produção de ATP, pois a FO está desacoplada.

O que são inibidores?

São ações que inibem especificamente a ação de um complexo, ou seja, inibem o


transporte de eletrões.

Exemplos de inibidores do:


 Complexo I: retonona (inibe a passagem dos eletrões do NADH para o complexo
I)
 Complexo II: malonato
 Complexo III: antimicina
 Complexo IV: cianeto e azida
 Complexo V: oligomicina

Inter-relação metabólica:

Se houver um bloqueio na produção de energia, vai haver a acumulação de NADH e


FADH2, que vai favorecer a formação de corpos cetónicos e lactato. Por isso, podemos ter alguns
biomarcadores que ajudam a perceber se há ou não uma disfunção mitocondrial. Mas nem
sempre há alteração destes biomarcadores, o que dificulta o diagnóstico.
OS LÍPIDOS

PRINCIPAIS CLASSES DE LÍPIDOS

O que são lípidos?

São moléculas orgânicas insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos; são
na sua maioria ésteres de AG ou amidas de AG.

Quais as suas funções?

 Elementos estruturais e funcionais das membranas (ex. fosfolípidos);


 Reserva energética;
 Permitem a formação de vitaminas (lipossolúveis – A, D, E, K), hormonas,
prostaglandinas, sais biliares e 2.º mensageiros.

Quais os tipos de lípidos?

1. Ácidos Gordos (AG)

São analisados pela cromatografia de gás.

A sua fluidez depende:

 Do comprimento da cadeia  cadeias longas interagem mais fortemente


do que as curtas, deixando pouco espaço entre as membranas, reduzindo a
fluidez;
 Do n.º de insaturações  maior n.º de insaturações, maior fluidez.
 Da configuração cis-trans  maior n.º de ligações cis, maior fluidez.

Ex: 18:0 (18 – n.º de carbonos; 0 – n.º de insaturações).

2. Glicerídeos ou acilgliceróis (apolares)

Ex: Triglicerídeos: ésteres de 3 AG + 1 glicerol  não fazem parte das membranas,


pois são totalmente apolares, por isso, constituem os óleos naturais, gorduras e o
tecido adiposo (reserva nutritiva).

3. Glicerofosfolípidos (polares)
 Ácido fosfatídico (PA)
 Fosfatidiletanolamina (PE) ou cefalina
 Fosfatildicolina (PC) ou lecitina
 Fosfatidilserina (PS)
 Fosfatilglicerol (PG)
 Fosfatidilinositol-4,5-bifosfato (PIP2)
 Cardiolipina ou difosfaidilglicerol (DPG)
 Fosfolipases A1, A2, C e D

NOTA: Por ação da fosfolipase A2, podem-se formar lisofosfolípidos. Este são instáveis em
membranas, pois perderam um AG, formando micelas. Micelas
estão unidos por forças de van der waals, constituem uma das
fases dos coloides, afetam a viscosidade, condutividade elétrica,
tensão superficial e pressão osmótica da solução.

Por ação da fosfolipase C, pode formar-se 2.º mensageiros


intracelulares derivados do fosfatidilinositol (derivado de
fosfolípidos membranares), importantes na regulação enzimática.

4. Esfingolípidos (polares)
 Ceramida
 Esfingomielina  molécula anfipática; corresponde a 10-20% dos
fosfolípidos totais; é um fosfolípido, pois o seu grupo X é fosfocolina
 Glucosilcerebrósido  5% da bainha mielina; 6% da substancia cinzenta
 Lactosilceramida
 Gangliosódio  contém resíduos de acido sálico

NOTA: Doenças de armazenamento de esfingolípidos

 Doença de Tay-Sachs
 Doença de Gaucher
 Doença de Krabbe
 Doença de Niemann-Pick

5. Outros lípidos
 Ceras  misturas complexas de lípidos apolares; ésteres de AG de cadeia
longa (saturados, insaturados e esteróis); têm um grupo fracamente polar e
uma longa cauda apolar; formam o sebo, camada protetora da pele.
 Colesterol
 Eicosanóides (20C)
Por que é que usamos os AG como fonte de energia principal e não o glicogénio?

O rendimento energético da β-oxidação de AG é 9 Kcal/g, enquanto que a dos glícidos e


proteínas é 4 Kcal/g.

O glicogénio é mais polar, mais hidratado e menos compacto que os AG, que são
hidrofóbicos e mais reduzidos.

SÍNTESE DE AG

Onde ocorre?

 Fígado principalmente
 Tecido adiposo
 Rim
 Pulmão
 Glândulas mamárias

A acetil-CoA tem um papel central no


metabolismo dos AG
 Cortisol
 Produz-se no córtex das glândulas suprarrenais;
 Glucocorticoide;
 Fígado: promove a neoglucogénese;
 Sistema imunitário: suprime as reações inflamatórias;
 Musculo: catabolismo proteico;
 Tecido adiposo: lipólise.
 Progesterona (21C)
 Percursor de outros esteroides;
 Prepara o útero para a implantação do ovo;
 Previne a ovulação durante a gravidez.
 Aldosterona (21C)
 Aumenta a retenção de Na+ no túbulo renal
 Testosterona (19C)
 Promove o desenvolvimento sexual masculino;
 Promove e mantém as características sexuais masculinas.
 Estradiol ou estrogénio (18C)
 Promove o desenvolvimento sexual feminino;
 Promove e mantém as características sexuais femininas.

O que é a ACAT?

 É a acil-colesterol acil-transferase.
 É a enzima que provoca a esterificação do colesterol, ou seja, a adição de um AG, ligado
ao grupo OH.
 É ativada pelo colesterol.
 É responsável pela síntese de hormonas esteroides.
 O colesterol esterificado é completamente apolar.

NOTA: Acil é um AG.


LIPOPROTEÍNAS

Para que servem?

Transportam lípidos num meio solúvel, como o sangue.

O que aconteceria se não existissem?

 Triglicerídeos coagulariam no sangue, podendo causar embolismos;


 Moléculas antipáticas depositar-se-iam na membrana e dissolvê-la-iam.

Qual a sua constituição?

 Núcleo: lípidos não polares (como os triglicerídeos);


 Periferia: lípidos antipáticos e proteínas;
 Pode também ter triglicerídeos, colesterol esterificado e não-esterificado, fosfolípido e
apolipoproteínas.

Quais os diferentes tipos?


Os diferentes tipos surgem devido às
Quilomicrons; VLDL; LDL; HDL
diferentes quantidades de cada um dos
componentes que os constitui.
Aumenta densidade; diminui tamanho

Para que se servem as apolipoproteínas?

 Sintetizadas no fígado, intestino e macrófagos;


 Têm a função de agir como moléculas de reconhecimento para os recetores da
membranares e ativar enzimas que atuam nestes complexos lipoproteícos (ex.
lipoproteína lípase, LDL).

O que são quilomicrons?

 Fazem transporte dos triglicerídeos, consumidos na dieta, do intestino delgado para os


outros tecidos;
 Formam-se na mucosa intestinal e chegam ao sangue através do sistema linfático;
 Apolipoproteínas dos quilomicrons:
 apoB-48 (exclusiva);
 apoE;
 apoC-II (responsável pela ativação da lipoproteína lípase (LDL) nos capilares do
tecido adiposo, cardíaco, músculo-esquelético e mamário, formando AG apos a
hidrólise dos triglicerídeos libertados.
 Quilomicrons remanescente (sem triglicerídeos e com colesterol, apoB-48 e apoE):
 vai para o fígado para ser degradado por lisossomas;
 no fígado, os recetores de apoE detetam-no e, depois, o quilomicron
remanescente é incorporado na célula por endocitose (mediada por recetores);
 têm outro destino relacionado com o complexo proteico, o LDL;
 o seu colesterol vai inibir a síntese de colesterol, a partir da acetil-CoA e vai
diminuir a síntese de recetores LDL no hepatócito.

O que é o VLDL (very-low-density lipoprotein)?

 São formados quando há excesso de AG em comparação com a sua necessidade;


 AG são convertidos em triglicerídeos, no fígado, depois, formam estes complexos
lipoproteícos, que são libertados na corrente sanguínea;
 Constituição: colesterol esterificado e não-esterificado, apoB-100, apoC (I, II) e apoE;
 Ao atingir o capilares do tecido muscular e adiposo, principalmente, há a libertação de
triglicerídeos e formação de AG de forma idêntica aos quilomicrons e é despoletado pela
apoC-II.

NOTA: no tecido adiposo, os AG são convertidos novamente em triglicerídeos para serem


armazenados.

O que é o IDL (intermidiate-density lipoprotein)?

 É constituído pelo VLDL remanescente;


 Constituição: tem uma menor quantidade de triglicerídeos, o que faz com que tenha
uma densidade intermedia, não tem apoC-II;
 É, na sua maioria, removido da circulação pelos hepatócitos por endocitose mediada
por recetores de apoE (à semelhança do que acontece com os quilomicrons
remanescentes);
 Pode ter outro destino que está relacionado com a produção de LDL.

O que é o LDL (low-density lipoprotein)?

 É produzida a partir do IDL;


 Para a sua formação é preciso a lípase de triglicerídeos hepática (HTGL), que é
responsável pela remoção dos triglicerídeos do IDL;
 Constituição: rica em colesterol esterificado e não-esterificado, apoB-100 (maioritária);

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