1 a 19.4 do Capítulo 19 19.1 Reações de transferência de elétrons em mitocôndrias
Ocorrem três tipos de transferência de elétrons
na fosforilação oxidativa: (1) transferência direta de elétrons, como na redução de Fe3+ a Fe2+, (2) A matriz mitocondrial, delimitada pela transferência na forma de um átomo de membrana interna, contém o complexo da hidrogênio (H+ + e-), e (3) transferência como um piruvato-desidrogenase e as enzimas do ciclo íon hidreto (:H-), que tem dois elétrons. O termo do ácido cítrico, a via de β-oxidação de ácidos equivalente redutor é usado para designar um graxos e as vias de oxidação de aminoácidos – único elétron equivalente transferido em uma todas as vias de oxidação de combustível, reação de oxidação-redução. Além do NAD e exceto a glicólise, que ocorre no citosol. A das flavoproteínas, outros três tipos de permeabilidade seletiva da membrana interna moléculas carregadoras de elétrons funcionam segrega os intermediários e as enzimas das na cadeia respiratória: uma quinona hidrofóbica vias metabólicas citosólicas daqueles dos (ubiquinona) e dois tipos diferentes de proteínas processos metabólicos que ocorrem na matriz. que contêm ferro (citocromos e proteínas No entanto, transportadores específicos ferro-enxofre). A ubiquinona (também chamada carregam piruvato, ácidos graxos e de coenzima Q, ou simplesmente Q) é uma aminoácidos ou seus a-cetoácidos derivados benzoquinona solúvel em lipídeos, com uma para dentro da matriz, para acesso à longa cadeia lateral isoprenoide. Os compostos maquinaria do ciclo do ácido cítrico. ADP e Pi intimamente relacionados, plastoquinona (de são especificamente transportados para dentro cloroplastos vegetais) e menaquinona (de da matriz quando ATP recém-sintetizado é bactérias) desempenham papéis análogos transportado para fora. àquele da ubiquinona, carregando elétrons em >> Os elétrons passam por uma série de cadeias de transferência de elétrons associadas carregadores ligados à membrana a membranas. A ubiquinona pode aceitar um A cadeia respiratória mitocondrial consiste em elétron para se tornar o radical semiquinona (* uma série de carregadores que agem QH) ou dois elétrons para formar ubiquinol (QH2) sequencialmente, sendo a maioria deles e, como os carregadores flavoproteínas, atuar na proteínas integrais com grupos prostéticos junção entre um doador de dois elétrons e um capazes de aceitar e doar um ou dois elétrons. aceptor de um elétron. Os citocromos são proteínas com absorção caracteristicamente forte de luz visível, devido aos seus grupos prostéticos heme contendo ferro. As mitocôndrias têm três classes de citocromos, designados a, b e c, distinguidos por diferenças em seus espectros de absorção de luz. Cada tipo de citocromo em seu estado >> Os carregadores de elétrons atuam em reduzido (Fe2+ ) tem três bandas de absorção complexos multienzimáticos na faixa visível. A banda de comprimento de Complexo I: NADH à ubiquinona onda mais longo é próxima de 600 nm em O complexo I, também chamado de NADH: citocromos tipo a, próxima de 560 nm no tipo b ubiquinona-oxidorredutase ou e perto de 550 nm no tipo c. Para distinguir NADH-desidrogenase, é uma enzima grande, citocromos intimamente relacionados dentro de composta por 42 cadeias diferentes de um determinado tipo, a absorção máxima exata polipeptídeos, incluindo uma flavoproteína algumas vezes é utilizada nos nomes, como no contendo FMN e pelo menos seis centros de citocromo b562. ferro-enxofre. O complexo I tem formato de L, com um braço do L na membrana e o outro se estendendo para a matriz. O complexo I catalisa dois processos simultâneos e obrigatoriamente acoplados: (1) a transferência exergônica para a ubiquinona de um íon hidreto do NADH e de um próton da matriz, expressa por NADH + H+ + Q → NAD+ + QH2 e (2) a transferência endergônica de quatro prótons da matriz para o espaço intermembrana. O complexo I é, portanto, um bombeador de prótons que utiliza a energia da transferência de elétrons, e a reação que ele catalisa é vetorial: ela move prótons em uma direção específica de um local (a matriz, que se torna negativamente Em proteínas ferro-enxofre, o ferro está carregada com a saída dos prótons) a outro (o ausente no heme, mas encontra-se em espaço intermembrana, que se torna associação com átomos de enxofre positivamente carregado). inorgânico, ou com átomos de enxofre dos resíduos de Cys na proteína, ou com ambos. Esses centros de ferro-enxofre (Fe-S) variam de estruturas simples, com um único átomo de Fe coordenado com quatro grupos Cys-SH, a centros Fe-S mais complexos, com dois ou quatro átomos de Fe. Proteínas ferro- -enxofre de Rieske (denominadas em homenagem a seu descobridor, John S. Rieske) são uma variação nesse tema, onde um átomo de Fe está combinado com dois resíduos de His em vez de com resíduos de Complexo II: succinato a ubiquinona Cys. Todas as proteínas ferro-enxofre Embora menor e mais simples do que o participam de transferências de um elétron, complexo I, ele contém cinco grupos prostéticos nas quais um átomo de ferro do aglomerado de dois tipos e quatro subunidades proteicas ferro-enxofre é oxidado ou reduzido. diferentes. As subunidades C e D são proteínas integrais de membrana, cada uma com três hélices transmembrana. Elas contêm um grupo heme, heme b, e um sítio de ligação para a ubiquinona, o aceptor final de elétrons na reação catalisada pelo complexo II. As subunidades A e B se estendem para a matriz; elas contêm três centros 2Fe-2S, FAD ligado e um sítio de ligação para o substrato, o succinato. A via de transferência de elétrons do sítio de ligação do succinato a FAD e, então, pelos centros Fe-S rumo ao sítio de ligação de Q, tem mais de 40 Å de comprimento, mas nenhuma das distâncias individuais de transferência de elétrons excede cerca de 11 Å – distância razoável para uma transferência rápida de elétrons.
Complexo IV: citocromo c para O2
Na etapa final da cadeia respiratória, o complexo IV, também chamado de citocromo-oxidase, carrega elétrons do citocromo c para o oxigênio molecular, reduzindo-o a H2O. O complexo IV é uma enzima grande (13 subunidades; Mr 204.000) da membrana mitocondrial interna. As bactérias contêm uma forma bem mais simples, com apenas três ou quatro subunidades, mas ainda capaz de catalisar tanto a transferência de elétrons quanto o bombeamento de prótons. A comparação dos complexos mitocondrial e Complexo III: ubiquinona para citocromo c bacteriano sugere que três subunidades são O complexo III, também chamado de complexo essenciais para a função. de citocromo bc1 ou ubiquinona: citocromo c-oxidorredutase, acopla a transferência de elétrons do ubiquinol (QH2) para o citocromo c com o transporte vetorial de prótons da matriz para o espaço intermembrana. As determinações da estrutura completa desse enorme complexo e do complexo IV (a seguir) por cristalografia por raios X, realizada entre 1995 e 1998, foram marcos no estudo da transferência mitocondrial de elétrons, fornecendo a base estrutural para integrar as diversas observações bioquímicas das funções dos complexos respiratórios. A unidade funcional do complexo III é um dímero, com as duas unidades monoméricas de citocromo b circundando uma “caverna” no >> A energia da transferência de elétrons meio da membrana, na qual a ubiquinona fica é eficazmente conservada em um gradiente livre para se mover do lado da matriz da de prótons membrana (sítio QN em um monômero) para o A transferência de dois elétrons do NADH, por espaço intermembrana (sítio QP do outro monômero), à medida que ela lança elétrons e meio da cadeia respiratória, para o oxigênio prótons através da membrana mitocondrial molecular pode ser escrita como interna. NADH + H+ + ½ O2 → NAD+ + H2O Esta reação resultante é altamente exergônica. Para o par redox NAD+/NADH, E’° é -0,320 V, e, para o par O2/H2O, E’° é 0,816 V. O ΔE’° 19.2 Síntese de ATP para esta reação é, portanto, 1,14 V, e a De que forma um gradiente de concentração de variação na energia livre padrão é prótons se transforma em ATP? Foi visto que a ΔG’° = -n ΔE’° transferência de elétrons libera e a força = -2(96,5 kJ/V x mol) (1,14V) próton-motriz conserva energia livre mais do que = -220kJ/mol (de NADH) suficiente (cerca de 200 kJ) por “mol” de par de A maior parte dessa energia é usada para elétrons para impulsionar a formação de um mol bombear prótons para fora da matriz. Para de ATP, que requer cerca de 50 kJ. Portanto, a cada par de elétrons transferido para o O2, fosforilação oxidativa mitocondrial não impõe quatro prótons são bombeados para fora pelo nenhum problema termodinâmico. Mas qual é o complexo I, quatro pelo complexo III e dois pelo mecanismo químico que acopla o fluxo de complexo IV. A equação vetorial para o prótons com a fosforilação? O modelo processo é, portanto, quimiosmótico, proposto por Peter Mitchell, é o NADH + 11HN+ + ½ O2→ NAD+ + 10HP+ + H20 paradigma para esse mecanismo.
>> Espécies reativas de oxigênio são
geradas durante a fosforilação oxidativa Espécies reativas de oxigênio podem provocar sérios danos, reagindo com enzimas, lipídeos de membranas e ácidos nucleicos e os danificando. Em mitocôndrias que respiram ativamente, de 0,1 até 4% do oxigênio utilizado na respiração formam • O-2 – mais do que suficiente para ter efeitos letais, a não ser que De acordo com o modelo, a energia o radical livre seja rapidamente descartado. eletroquímica inerente à diferença de Fatores que diminuem a velocidade de fluxo de concentração de prótons e à separação de elétrons pela cadeia respiratória aumentam a cargas através da membrana mitocondrial formação de superóxido, talvez por interna – a força próton-motriz – impulsiona a prolongarem o tempo de vida do • O-2 gerado síntese de ATP, à medida que os prótons fluem no ciclo Q. A formação de ERO é favorecida passivamente de volta à matriz, por meio de quando duas condições são satisfeitas: (a) as um poro para prótons na ATP-sintase. mitocôndrias não estão produzindo ATP (por Quando mitocôndrias isoladas são suspensas falta de ADP ou de O2) e, portanto, têm grande em um tampão contendo ADP, Pi e um força próton-motriz e elevada razão QH2/Q e substrato oxidável como succinato, três (b) e há uma alta razão NADH/NAD+ na matriz. processos facilmente mensuráveis ocorrem: (1) Nessas situações, a mitocôndria está sob o substrato é oxidado (succinato produz estresse oxidativo – há mais elétrons fumarato), (2) O2 é consumido e (3) ATP é disponíveis para entrar na cadeia respiratória sintetizado. O consumo de oxigênio e a síntese do que aquele número que pode de ATP dependem da presença de um imediatamente atravessar até o oxigênio. substrato oxidável (nesse caso, o succinato), Quando o suprimento de doadores de elétrons assim como de ADP e Pi. Uma vez que a (NADH) é equiparado àquele de aceptores de energia da oxidação de substratos permite a elétrons, existe menos estresse oxidativo e a síntese de ATP nas mitocôndrias, seria produção de ERO é muito reduzida. Embora a esperado que os inibidores da passagem de superprodução de ERO seja obviamente elétrons para o O2 (como cianeto, monóxido de prejudicial, baixos níveis de ERO podem ser carbono e antimicina A) bloqueassem a síntese usados pela célula como um sinal que reflete o de ATP. Mais surpreendente é o fato de que o suprimento insuficiente de oxigênio (hipoxia), contrário também é verdadeiro: a inibição da desencadeando ajustes metabólicos. síntese de ATP bloqueia a transferência de elétrons em mitocôndrias intactas. Esse acoplamento obrigatório pode ser demonstrado da oxidação de cada um dos aminoácidos. em mitocôndrias isoladas, fornecendo-se O2 e Portanto, as vias oxidativas aeróbias que substratos oxidáveis, mas não ADP. Nessas resultam na transferência de elétrons ao O2 condições, nenhuma síntese de ATP pode acompanhada da fosforilação oxidativa são ocorrer, e a transferência de elétrons para o O2 responsáveis pela grande maioria do ATP não prossegue. produzido no catabolismo, de forma que é >>A ATP-sintase tem dois domínios absolutamente essencial a regulação da funcionais, Fo e F1 produção de ATP pela fosforilação oxidativa, A ATP-sintase, também chamada de complexo para se ajustar às necessidades celulares V, tem dois componentes distintos: F1, proteína flutuantes da demanda por ATP. periférica de membrana, e Fo (o indicando >> A hipoxia leva à produção de ERO e a sensível à oligomicina), integral à membrana. várias respostas adaptativas F1, o primeiro fator reconhecido como essencial Em células hipóxicas, existe um desequilíbrio para a fosforilação oxidativa, foi identificado e entre a chegada de elétrons a partir da oxidação purificado por Efraim Racker e colaboradores de combustíveis celulares na matriz mitocondrial e no começo da década de 1960. a transferência de elétrons para o oxigênio Quando F1 é gentilmente extraído, as vesículas molecular, levando a uma maior formação de “desnudas” ainda contêm cadeias respiratórias espécies reativas de oxigênio. Além do sistema intactas e a porção Fo da ATP-sintase. As da glutationa-peroxidase, as células têm outras vesículas podem catalisar a transferência de duas linhas de defesa contra as ERO. Uma é a elétrons do NADH ao O2, mas não podem regulação da piruvato-desidrogenase (PDH), a produzir um gradiente de prótons: Fo tem um enzima que fornece acetil-CoA ao ciclo do ácido poro para prótons por meio do qual os prótons cítrico. A segunda maneira de impedir a formação vazam tão rapidamente quanto são bombeados de ERO é a substituição de uma subunidade do pela transferência de elétrons, e sem um complexo IV, conhecida como COX4-1, por outra gradiente de prótons as vesículas desprovidas subunidade, COX4-2, que é melhor ajustada a de F1 não podem produzir ATP. O F1 isolado condições hipóxicas. Com COX4-1, as catalisa a hidrólise de ATP (o reverso da propriedades catalíticas do complexo IV são síntese), sendo, portanto, originalmente ótimas para a respiração em concentrações chamado de F1-ATPase. Quando F1 purificado normais de oxigênio; com COX4-2, o complexo IV é adicionado de volta às vesículas, ele se é otimizado para operar sob condições hipóxicas. associa novamente com Fo, fechando seu poro de prótons e restaurando a capacidade da >> As vias produtoras de ATP são membrana de acoplar a transferência de coordenadamente reguladas elétrons à síntese de ATP. As concentrações relativas de ATP e ADP controlam não somente as taxas de transferência 19.3 Regulação da fosforilação oxidativa de elétrons e a fosforilação oxidativa, mas A fosforilação oxidativa produz a maior parte do também as velocidades do ciclo do ácido cítrico, ATP fabricado em células aeróbias. A oxidação da oxidação do piruvato e da glicólise. Sempre completa de uma molécula de glicose a CO2 que o consumo de ATP aumenta, as velocidades produz 30 ou 32 ATP. Em comparação, a da cadeia transportadora de elétrons e da glicólise sob condições anaeróbias fosforilação oxidativa aumentam. (fermentação láctica) gera apenas dois ATP por Simultaneamente, a velocidade de oxidação do glicose. Claramente, a evolução da fosforilação piruvato pelo ciclo do ácido cítrico aumenta, oxidativa proporcionou um grande aumento na elevando o fluxo de elétrons na cadeia eficiência energética do catabolismo. A respiratória. Esses eventos podem, por sua vez, oxidação completa até CO2 do derivado do evocar um aumento na velocidade da glicólise, palmitato (16:0) ligado à coenzima A, que aumentando a velocidade de formação de também ocorre na matriz mitocondrial, produz piruvato. Quando a conversão de ADP em ATP 108 ATP por palmitoil-CoA. Um cálculo similar reduz a concentração de ADP, o controle pelo pode ser feito para a produção de ATP a partir aceptor diminui a transferência de elétrons e, assim, a fosforilação oxidativa.