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TRANSPORTE DE ELÉTRONS

A energia livre do transporte de elétrons do NADH e do FADH2 para o O2,


via centros redox ligados a proteínas, está acoplada à síntese de ATP.
Estudaremos um pouco mais esse processo.
Termodinamicamente, a oxidação do NADH é uma reação altamente
exergônica, e acoplada à síntese de ATP é termodinamicamente eficiente. O
acoplamento ocorre por uma cadeia transportadora de elétrons onde estes
passam por quatro complexos proteicos contendo centros redox, e não para o
O2 diretamente, por meio da fosforilação oxidativa, gerando aproximadamente 3
ATPs para cada NADH ou aproximadamente 2 ATPs para cada FADH2.
Os elétrons são transportados dos complexos I e II para o complexo III
pela coenzima Q (CoQ, também denominada ubiquinona) e do complexo III para
o complexo IV por meio do citocromo c, disponibilizando energia livre para a
produção de ATP.
O complexo I, que possui o formato de um L, é também chamado de
NADH- desidrogenase e é responsável por transmitir elétrons do NADH para a
CoQ. É um complexo contendo uma molécula de flavina mononucleotídeo e
entre seis e sete centros ferro-enxofre, todos apresentando atividade redox.
Já o complexo II, succinato:coenzimaQ-oxidorredutase, contém a enzima
succinato- desidrogenase, já vista no ciclo de Krebs, além de outras três
subunidades, responsáveis por transmitir elétrons do succinato para a CoQ.
Embora essa transferência de elétrons não possua energia livre suficiente para
gerar a síntese de ATP, é importante pela entrada de elétrons de alto potencial
na cadeia de transporte de elétrons.
Outras enzimas também podem sintetizar e introduzir elétrons acionando
a fosforilação oxidativa: a gliceroil-3-fosfato desidrogenase e a ETF: ubiquinona-
oxidorredutase, essa última participante da oxidação dos ácidos graxos.
Após a passagem dos elétrons, seja pelo NADH ou pelo succinato, para
a CoQ, o complexo III (coenzimaQ:citocromo c-oxidorredutase) irá transferi-los
para o citocromo c. Este complexo possui quatro cofatores
redox, sendo dois núcleos heme do tipo b, um núcleo heme do tipo c e um centro
ferro-enxofre.
O termo citocromo é dado para proteínas que contém grupamentos heme
capazes de alternar reversivelmente seus estados de oxidação Fe(II) e Fe(III)
durante o transporte de elétrons. Assim, por intermédio deste mecanismo, o
citocromo c, uma proteína periférica de membrana, liga-se alternadamente ao
complexo III e IV com a função de transferência de elétrons entre eles.
O último complexo, denominado IV (citocromo c oxidase, ou COX) é a
enzima terminal da cadeia de transporte de elétrons que reduz os quatro elétrons
presentes em uma molécula de O2 formando H2O. A COX de eucariotos é um
dímero composto por 8 a 13 subunidades, e a entrada dos quatro elétrons nela
é praticamente simultânea.
Embora muitas pesquisas estivessem sendo realizadas na área, alguns
pesquisadores ainda questionam detalhes desta via, sendo que atualmente ela
ainda é um tema de investigação e discussão no meio científico.
A figura a seguir, do site Construindo Conhecimento, é bem ilustrativa
quanto ao processo de transporte de elétrons pela cadeia transportadora:

FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA

A fosforilação oxidativa é a responsável pela síntese do ATP e é


catalisada pela enzima ATP-sintase transladadora de prótons (ou complexo V).
Embora seja impulsionada pelo transporte de elétrons, faz-se necessário o
acoplamento de energia para que a energia livre liberada pelo transporte de
elétrons seja conservada para utilização por este complexo.
Várias hipóteses foram formuladas para explicar o acoplamento:
▪ Acoplamento químico: esta hipótese foi formulada em 1953
por Edward Slater sugerindo que o transporte de elétrons produziria
intermediários reativos, que ao quebrarem induziriam a fosforilação oxidativa.
Porém, apesar dos esforços, nenhum experimento foi capaz de identificar quais
seriam esses intermediários, levando ao abandono desta
hipótese;
▪ Acoplamento conformacional: foi desenvolvida em 1964 por
Paul Boyer e diz que o transporte de elétrons é responsável por gerar estados
conformacionais “ativados” das proteínas da membrana mitocondrial interna.
Ao voltarem aos seus estados naturais, estas proteínas iriam transferir a
energia ao ATP. Embora alguns dados demonstraram que este é um
mecanismo que de certa forma pode contribuir para o processo, a falta de
evidências experimentais também levou esta hipótese ao abandono;
▪ Quimiosmose: Peter Mitchell formulou esta hipótese em
1961 e, embora considerada controversa por alguns pesquisadores, é a que
mais possui evidências experimentais até o presente momento. Segundo ela, a
energia livre é conservada pelo bombeamento de prótons da matriz
mitocondrial para o espaço intermembranas, criando um gradiente
eletroquímico de prótons que é, então, aproveitado para a produção de ATP.
Algumas observações sustentam esta última hipótese: a membrana
mitocondrial interna deve estar íntegra para ocorrer a fosforilação oxidativa, a
membrana mitocondrial interna é impermeável a íons (caso fosse permeável o
gradiente eletroquímico se desfaria), o gradiente eletroquímico é mensurável,
compostos que deixam a membrana permeável “desacoplam” o transporte de
elétrons da fosforilação oxidativa, já uma acidez externa estimula a síntese de
ATPs.
O transporte de elétrons funciona a partir da matriz mitocondrial (região
de baixa concentração de prótons (H+) e potencial elétrico negativo para o
espaço intermembranas em contato com o citosol, região de alta concentração
de prótons e potencial elétrico positivo. A energia resultante é denominada força
próton-motriz. Existem dois mecanismos sugeridos para explicar o acoplamento
da energia livre do transporte de elétrons ao transporte ativo de prótons:
▪ Mecanismo da alça redox: segundo este mecanismo, os
centros, redox da cadeia respiratória estão arranjados na membrana de forma
que a redução envolveria simultaneamente a aceitação de elétrons e prótons
por um carreador. A reoxidação deste centro por meio de um
segundo carreador liberaria prótons no lado citosólico transferindo elétrons
para o lado da matriz. Porém, este mecanismo necessita de pelo menos três
carreadores de H+ + e-, e só temos dois conhecidos até hoje. Logo, sugere-se
que este mecanismo ocorra com a junção do mecanismo abaixo:
▪ Mecanismo de bombeamento de prótons: por este modelo a
transferência de elétrons resulta em alterações conformacionais no complexo
IV. Estas alterações exporiam a saída de prótons alternadamente entre os
lados interno e externo da membrana.
Deve-se sempre ter em mente que os prótons são transportados por meio
de ligações ao longo de cadeias de grupos unidos por ligações de hidrogênio.
Tal arranjo pode envolver a participação de moléculas de água internas, que não
aparecem nos equipamentos modernos, como o raio-X, dificultando a elucidação
exata do mecanismo de acoplamento.
Agora que entendemos um pouco das hipóteses sobre o acoplamento
entre o transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa, vamos estudar o
processo de geração de ATPs.
Já sabemos que a energia livre do gradiente eletroquímico de prótons por
meio da membrana mitocondrial é utilizada para a síntese de ATP pela ATP-
sintase transladora de prótons. Esta enzima possui duas unidades funcionais:
F0 e F1. A proteína F0 é insolúvel em água e contém oito subunidades, que
contém um canal de translado de prótons. Já a F1 é solúvel em água e composta
de cinco subunidades. A subunidade F1 isoladamente não é capaz de gerar ATP,
e logo, sempre deve estar associada à subunidade F0. A seguir está uma figura
desta enzima para facilitar as explicações posteriores.
A F1 é composta por três subunidades α e três subunidades β (em verde
na figura), sendo estas últimas os sítios catalíticos. Além disso, contém uma
subunidade γ (em azul na figura) responsável pela junção entre F1 e F0, e 1
subunidade δ e 1 subunidade ε enroladas ao redor da subunidade γ (em
vermelho na figura). A F0 contém três subunidades denominadas a, b e c
formando um anel de ligação à F1, além de diversas outras subunidades de
funções desconhecidas.
A síntese do ATP pode ser dividida em três etapas:

▪ Translado de prótons, realizado pela F0;

▪ Formação da ligação fosfoanidrido do ATP, realizada pela


F1;

▪ Acoplamento da dissipação do gradiente de prótons com a


síntese de ATP, realizada pela interação entre F0 e F1.

O mecanismo de síntese do ATP mais aceito até hoje foi proposto por
Boyer e assemelha-se à hipótese de acoplamento conformacional da
fosforilação oxidativa, porém em razão do translado de prótons e não pela
transferência direta de elétrons conforme proposto anteriormente.
A proposta é de que a F1 é composta de 3 protômeros: L (de ligação fraca
ao substrato), T (de ligação forte ao substrato) e O (que não se liga ao substrato).
A formação do ATP ocorreria da seguinte maneira:

1. Ligação do ADP e do Pi (fosfato) ao sítio de ligação no estado L;


2. Uma alteração conformacional a partir da ligação anterior
mudaria o sítio L para o T, catalisando a formação do ATP. Porém, outras duas
subunidades também seriam alteradas, convertendo o sítio T em O e o sítio O
em L;
3. Uma unidade em sítio T transfere o ATP formado para outra
subunidade em sítio O.

Esse mecanismo sugere que as alterações nas ligações são


consequência da rotação das subunidades α e β em F1. Logo, veja novamente
a figura da enzima e imagine o processo da seguinte maneira: a subunidade γ
funciona como uma base fixa e giratória dentro das subunidades α e β, sobre a
qual as subunidades α e β giram em uma rotação livre captando
ADP e Pi e liberando ATP.
Como consequência a F0 também giraria estimulada por prótons que
entrariam em um canal hidrofílico entre as subunidades a e c, ligando-se a esta
última. O anel c então giraria até que a subunidade alcançaria um segundo canal
hidrofílico que se abre para o lado de dentro, liberando o próton.
Como dito, o transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa estão
firmemente acoplados, devido à impermeabilidade da membrana mitocondrial
interna à passagem de prótons. Porém, alguns compostos são capazes de
“desacoplar” este processo, por exemplo, o 2,4-dinitrofenol (DNF) e o
carbonilcianeto-p-trifluorometoxifenil-hidrazona (FCCP).
Todo o processo descrito é denominado cadeia respiratória, pois envolve
o uso do oxigênio obtido pela respiração para a geração de energia. É esse
processo que nos mantém vivos. Os desacopladores químicos, em altas
concentrações podem nos levar à morte por não permitir o uso de oxigênio,
interrompendo a respiração celular e a produção energética necessária para a
manutenção de nossas funções vitais.
O mecanismo de ação destes compostos é o aumento da permeabilidade
da membrana, que passaria a dissipar o gradiente eletroquímico de prótons, não
ocorrendo a síntese de ATP. Este processo gera calor e é uma função fisiológica
encontrada no tecido adiposo marrom (presente no pescoço e na parte superior
do dorso).
Este tecido possui o composto termogenina. Os ácidos graxos livres (que
possuem concentração controlada pelo hormônio noradrenalina) ativam este
composto, que desacopla o sistema gerando calor e funcionando como uma
termogênese sem tremores. Outros desacopladores biológicos vêm sendo
descritos no tecido adiposo branco e no músculo, porém não se conhece ainda
bem suas funções, embora haja sugestões do envolvimento de termogênese
induzida pela dieta.
Para finalizarmos este módulo vamos estudar um pouco o controle da
produção de ATP. Precisamos diariamente de uma alta quantidade de ATP,
entretanto nem sempre de maneira constante. Por exemplo,
enquanto dormimos consumimos menos ATP. Porém, as vias que produzem
ATP estão sob controle coordenado, o que faz com que o ATP nunca seja
produzido mais rapidamente do que o necessário.
Como já vimos, as poucas reações irreversíveis constituem potenciais
pontos de controle das vias e são catalisadas por enzimas regulatórias sob
controle alostérico. Na fosforilação oxidativa a reação da citocromo c-oxidase,
último passo da cadeia de transporte de elétrons, é irreversível e, logo, um dos
pontos de regulação importantes desta via.
Inicialmente o controle desta enzima ocorre pela concentração de seu
substrato, o citocromo c reduzido (c2+). Porém, esse está em equilíbrio com o
restante do sistema acoplado. Sua concentração depende, portanto do NADH e
do ADP. Este tipo de controle é denominado controle do aceptor.
Vamos agora para um exemplo prático. Se você está em repouso, a
hidrólise do ATP não é necessária em altas quantidades, logo, a concentração
do citocromo c reduzido é baixa e a fosforilação oxidativa é mínima. Já se você
pratica atividades físicas, ocorre aumento da hidrólise do ATP em ADP + Pi,
aumentando a concentração de citocromo c reduzido e, consequentemente,
aumento na velocidade de transporte de elétrons e na fosforilação oxidativa
acoplada.
Vimos que a respiração celular ocorre em três etapas: na primeira os
combustíveis orgânicos (por exemplo, glicose) são oxidados formando
moléculas de dois carbonos, o grupo acetil do acetil-CoA; na segunda, este
grupo entra no ciclo do ácido cítrico que o oxida enzimaticamente a CO2,
conservando a energia na forma de NADH e FADH2; na terceira etapa estes
cofatores reduzidos são oxidases, gerando prótons e elétrons, que são
conduzidos por meio da cadeia transportadora de elétrons até o O2 (aceptor final
de elétrons). Durante esta etapa a energia é conservada na forma de ATP por
intermédio da fosforilação oxidativa.
Como o ATP e o NADH são comuns a todas estas vias e são pontos de
controle, tornam-se necessário haver outros tipos de controle para integrar todas
estas vias. Isso acontece com a regulação de cada um dos
pontos de controle da glicólise (hexoquinase, fosfofrutoquinase e
piruvatoquinase) e do ciclo de Krebs (piruvato desidrogenase, citrato sintase,
isocitrato desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase) por meio de
nucleotídeos de adenina e/ou NADH.
Além disso, outros metabólitos também participam do controle, como por
exemplo, o citrato, que inibe a glicólise. O citrato inibe a PFK. Quando ocorre
superprodução de ATP o ciclo do ácido cítrico diminui sua velocidade nas
reações com a isocitrato-desidrogenase (ativada por ADP) e da α-cetoglutarato
desidrogenase (inibida por ATP), aumentando a concentração de citrato, que
deixa a mitocôndria por um sistema transportador específico e restringe a quebra
dos carboidratos pela inibição da PFK.
Outro processo de inibição da glicólise é a oxidação de ácidos graxos,
que geram acetil-CoA. Este composto entra no ciclo de Krebs aumentando a
concentração de citrato gerado. Enquanto o citrato inibe a PFK, o acetil-CoA
inibe o complexo da piruvato desidrogenase, levando ambos a um aumento da
glicose-6-fosfato, que inibe a hexoquinase. Esse processo, embora não seja um
ciclo, é denominado Ciclo de Randle e permite que os ácidos graxos sejam
utilizados como principal combustível para o metabolismo oxidativo no músculo
cardíaco, conservando a glicose para uso em áreas que a necessitam, como o
cérebro.
A aula de hoje foi meio pesada, mas é o ponto central e chave do
metabolismo em bioquímica. Por isso, recomendo a releitura e uma dedicação
maior nesta etapa, que integra tudo o que vimos até agora e os tópicos do
próximo módulo. Assim, até aqui você já possui uma visão bem abrangente da
bioquímica e é capaz de raciocinar em bioquímica para qualquer desafio
proposto. Qualquer dúvida não hesite em perguntar e busque maiores
informações. Com o tempo você vai se impressionar com a riqueza de detalhes
que todas estas vias podem te oferecer.
Hoje finalizamos nosso curso apresentando algumas vias importantes,
porém ainda não totalmente esclarecidas pelos pesquisadores. Os temas de
hoje são mais gerais (já que detalhes das vias ainda não são
conhecidos), mas não deixam de ser importantes para nosso conhecimento
global sobre as vias metabólicas. Vamos seguir os seguintes itens da ementa da
disciplina:

12) Metabolismo de Lipídeos:


a. Metabolismo do colesterol e frações;
b. Caso clínico: hiperlipidemia.

13) Metabolismo de Ácidos Nucleicos:


a. Formação e degradação das bases nitrogenadas;
b. Caso clínico: gota.

14) Metabolismo de Proteínas

15) Catabolismo de Aminoácidos:


a. Aminoácidos glicogênicos e cetogênicos.

16) Ciclo da Ureia:


a. Caso clínico: intoxicação por amônia.

METABOLISMO DE LIPÍDEOS

Dentre as diferentes vias de lipídeos existentes em nosso organismo,


vamos estudar neste curso a do colesterol, já que este é um lipídeo de grande
importância fisiológica e clínica. Quando em altos índices, está associado a
doenças do sistema cardiovascular e derrames. Já fisiologicamente, participa da
estrutura das membranas celulares, é precursor dos hormônios esteroides e dos
ácidos biliares.
Quando vemos a estrutura química do colesterol pensamos: Nossa! Esta
via de biossíntese deve ser bem complicada, olha quantos carbonos ele possui!
Porém, todos os átomos de carbono do colesterol são derivados
do acetato. As unidades formadoras do colesterol são os isoprenos, unidades
formadoras também dos outros lipídeos em vias semelhantes à que vamos
estudar.
A biossíntese do colesterol ocorre em quatro etapas. A primeira é a
síntese do mevalonato a partir do acetato. Durante esta etapa duas moléculas
de acetil-CoA condensam-se formando acetoacetil-CoA, que por junção com
outra molécula de acetil-CoA forma HMG-CoA, reações estas catalisadas pelas
enzimas tiolase e HMG-CoA sintase, respectivamente. O HMG- CoA então é
reduzido a mevalonato pela enzima HMG-CoA redutase com a doação de dois
elétrons provindos de NADPHs.
A segunda etapa desta via é a conversão do mevalonato em duas
unidades de isopreno ativadas, através da transferência de três moléculas de
ATP para o mevalonato. Em seguida, na terceira etapa, seis unidades de
isopreno ativadas condensam-se para formar o esqualeno, que na quarta etapa
é convertido em um núcleo esteróide cíclico com quatro anéis, o lanosterol, que
após uma série de aproximadamente 20 reações forma o colesterol.
Esta biossíntese ocorre em maior proporção no fígado, e em seguida, o
colesterol é transportado para todo o organismo na forma de colesterol biliar,
ácido biliar ou éster de colesterol, através das lipoproteínas plasmáticas.
Dependendo da composição, as lipoproteínas podem ser divididas em
quilomícrons, VLDL, LDL e HDL (os populares “colesterois ruins” e o “colesterol
bom”). Através de receptores de superfície específicos, o colesterol entra nas
células por endocitose.
A biossíntese e o transporte do colesterol devem estar bem regulados
para que este não se acumule nas veias e artérias levando aos problemas
cardiovasculares. Esta regulação se dá por três mecanismos. O primeiro é a
regulação da HMG-CoA redutase (tanto a curto quanto em longo prazo), o
segundo é a regulação da velocidade de síntese do receptor de LDL (que são
reconhecidos pelas células para a endocitose do colesterol), e o terceiro é a
regulação da taxa de esterificação pela enzima ACAT.
CASO CLÍNICO: HIPERLIPIDEMIA

Muitas vezes ouvimos este termo, mas que doença é esta? O que
conhecemos sobre ela hoje? A hiperlipidemia é a concentração elevada de
lipídeos (por exemplo, o colesterol) no sangue. Este quadro pode levar ao
acúmulo patológico de colesterol nas paredes dos vasos sanguíneos,
obstruindo-os, caracterizando a doença aterosclerose.
Existem diferentes tipos de hiperlipidemias, incluindo a
hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia. Geralmente o termo hiperlipidemia
é mais corretamente reservado ao aumento na concentração das lipoproteínas
plasmáticas, causadas por fatores ambientais e/ou genéticos. Existem, também,
diferentes classificações para as hipercolesterolemias, de acordo com a(s)
lipoproteína(s) atingida(s).
Um exemplo de hiperlipidemia é a remanescente ou do tipo III, que está
associada a doenças cardiovasculares periféricas. O diagnóstico definitivo exige
a análise de isoformas da apoE, que não é reconhecida pelos receptores
lipoproteicos, levando ao acúmulo de VLDL.
Segue esquema do acúmulo de lipídeos nos vasos sanguíneos,
interrompendo o fluxo sanguíneo e levando a diversas doenças
cardiovasculares.

ACÚMULO DE LIPÍDEOS NOS VASOS SANGUÍNEOS


ANA ALICE & CRISTINA, 2011.

METABOLISMO DOS ÁCIDOS NUCLEICOS

Nos módulos anteriores já vimos a importância dos nucleotídeos: eles


estão presentes em todas as células no DNA e no RNA, o ATP e o GTP
transportam energia química, compõem os cofatores NAD, FAD, CoA, dentre
outros, atuam como mensageiros celulares (ex.: cAMP) e, ainda, participam de
vias biossintéticas como intermediários ativados (ex.: UDP-glicose). Dois tipos
de vias são responsáveis pela formação das bases nitrogenadas: as vias “de
novo” e as vias de “recuperação”.
A via “de novo” das purinas incluem como precursores o AMP e o GMP,
que contém as bases purínicas adenina e guanina, respectivamente. Em uma
primeira etapa, a glutamina doa um grupo amino a uma molécula de
fosforribosilpirofosfato (PRPP), formando o anel purínico.
A segunda etapa consiste da adição de três átomos do aminoácido glicina
(2 C e 1 N), através do consumo de uma molécula de ATP. Outro nitrogênio é
doado por outra molécula de glicina em uma terceira etapa, seguido da
desidratação e fechamento do anel de cinco membros da purina
ocorrendo à liberação do 5-aminoimidazol ribonucleotídeo (etapas 4 e 5).
A sexta etapa é composta pela adição de um grupo carboxila pela enzima
AIR carboxilase. As duas etapas seguintes resultam na transferência de um
grupo amino do aspartato para o anel de imidazol. Então, o carbono final é
fornecido através do N10- formiltetraidrofolato, fechando o segundo anel e
liberando os dois anéis fundidos do núcleo purínico:

(adenina e guanina)

Para formação dos nucleotídeos pirimidínicos são utilizados o aspartato,


o PRPP e o carbamoil fosfato. Neste caso, o anel de seis membros é produzido
antes da ribose 5-fosfato. A primeira etapa envolve a reação do carbamoil fosfato
com o aspartato por meio da enzima aspartato transcarbamoilase. Em seguida,
a diidrorotase atua removendo uma molécula de água para fechar o anel
pirimidínico.
A oxidação do composto formado leva à liberação do orotato, através da
transferência de elétrons para o NAD+. Todas estas etapas iniciais envolvem
enzimas que estão atuando em conexão através de complexos multienzimáticos.
A cadeia lateral do nucleotídeo provém do PRPP e é ligada ao orotato formando
orotidilato, que é descarboxilado e fosforilado, gerando o UTP. A enzima citidilato
sintetase possui a capacidade de produzir o CTP através da UTP por um
processo que consome ATP e glutamina.
(citosina e uracila)
A regulação destas vias se dá por inibição por meio de retroalimentação.
Os nucleotídeos formados são então convertidos em nucleosídios trifosfato
através das enzimas nucleosídio monofosfato quinases, em etapas que incluem
a formação de nucleosídios monofosfato e difosfato. Após outras reações ocorre
a formação dos desoxirribonucleotídeos, unidades estruturais do DNA, sendo
que a formação de timina envolve apenas desoxirribonucleotídeos. O precursor
desta reação é o dUMP e a enzima participante é a timidilato sintase.
As purinas e as pirimidinas são degradadas formando ácido úrico e ureia,
respectivamente. O grupo fosfato é perdido através da 5´-nucleotidase. O
adenilato forma adenosina, que por ação da adenosina desaminase forma
inosina, que é hidrolisada liberando D- ribose e hipoxantina. A hipoxantina é
oxidada para xantina e ácido úrico através da xantina oxidase. Um processo
semelhante ocorre para o GMP. Já as pirimidinas são degradadas formando
NH4+, e consequentemente a síntese de ureia é ativada.
Após a degradação as células podem aproveitar as purinas livres para
produzir nucleotídeos através da “recuperação”. Muitas vezes essa reação
ocorre em uma única etapa através da enzima adenosina fosforribosiltransferase
(o mesmo processo vale para a guanina e a hipoxantina).

CASO CLÍNICO: GOTA

A gota é uma doença das articulações causada por


elevadas concentrações de ácido úrico no sangue e nos tecidos dos seres
humanos. A concentração elevada de ácido úrico pode formar cristais de urato
de sódio, que se depositam nas articulações inflamando-as e tornando- as
doloridas. O ácido úrico também pode ser depositado nos túbulos renais,
afetando os rins.
Esta doença ocorre predominantemente no sexo masculino, e embora a
causa não seja totalmente conhecida, envolve uma excreção diminuída de urato.
Alguns casos já foram relacionados a fatores genéticos, como deficiências
genéticas para a codificação de enzimas que atuam no metabolismo das purinas.
Terapias farmacêuticas e nutricionais devem ser seguidas para o
tratamento da gota, diminuindo a ingestão de nucleotídios, presentes, por
exemplo, no fígado. O alopurinol, medicamento utilizado durante o tratamento,
atua pela inibição da enzima xantina oxidase, diminuindo a conversão das
purinas em ácido úrico e aumentando a conversão em xantina e hipoxantina,
mais solúveis e menos propícios a acumularem nas articulações.

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