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Resumo do Capítulo 18:

Oxidação de Aminoácidos e
Produção de Ureia
carbono da maioria dos aminoácidos
A fração de energia metabólica obtida a partir encontrando uma via para o ciclo do ácido
de aminoácidos, sejam eles provenientes de cítrico. Em alguns casos, as reações das vias
proteínas da dieta ou de proteínas teciduais, de degradação dos aminoácidos representam
varia muito de acordo com o tipo de organismo etapas paralelas ao catabolismo dos ácidos
e com as condições metabólicas. Carnívoros graxos.
obtêm (imediatamente após uma refeição) até Uma característica importante distingue a
90% de suas necessidades energéticas da degradação dos aminoácidos de outros
oxidação de aminoácidos, enquanto herbívoros processos catabólicos descritos até aqui: todos
obtêm apenas uma pequena fração de suas os aminoácidos contêm um grupo amino, e as
necessidades energéticas a partir dessa via. A vias para a degradação dos aminoácidos
maior parte dos microrganismos obtém incluem, portanto, uma etapa fundamental, na
aminoácidos a partir do ambiente e os utiliza qual o grupo α-amino é separado do esqueleto
como combustível quando suas condições de carbono e desviado para as vias do
metabólicas assim o determinarem. Plantas, no metabolismo do grupo amino.
entanto, nunca ou quase nunca oxidam
aminoácidos para produzir energia; em geral,
os carboidratos produzidos a partir de CO2 e
H2O na fotossíntese são sua única fonte de
energia. As concentrações de aminoácidos nos
tecidos vegetais são cuidadosamente
reguladas para satisfazer as necessidades de
biossíntese de proteínas, ácidos nucleicos e
outras moléculas necessárias para o
crescimento. O catabolismo dos aminoácidos
não ocorre nas plantas, mas seu propósito é a
produção de metabólitos para outras vias
biossintéticas.
Em todas essas condições metabólicas, os
aminoácidos perdem seu grupo amino para
formar α-cetoácidos, os “esqueletos de
carbono” dos aminoácidos. Os α-cetoácidos
sofrem oxidação a CO2 e H2O ou, geralmente
mais importante, fornecem unidades de três e 18.1 Destinos metabólicos dos grupos amino
quatro carbonos que podem ser convertidas, O nitrogênio, N2, é abundante na atmosfera,
pela gliconeogênese, em glicose, o combustível mas é inerte para a utilização na maioria dos
para o cérebro, para o músculo esquelético e processos bioquímicos. Pelo fato de que
para outros tecidos. apenas poucos organismos conseguem
Assim como no catabolismo dos carboidratos e converter o N2 em formas biologicamente úteis,
dos ácidos graxos, os processos de como NH3, os grupos amino são
degradação de aminoácidos convergem para cuidadosamente gerenciados nos sistemas
vias catabólicas centrais, com os esqueletos de biológicos.
>> As proteínas da dieta são
enzimaticamente degradadas até
aminoácidos
Em humanos, a degradação das proteínas
ingeridas até seus aminoácidos constituintes
acontece no trato gastrintestinal. A chegada de
proteínas da dieta ao estômago estimula a
mucosa gástrica a secretar o hormônio
gastrina, que, por sua vez, estimula a secreção
de ácido clorídrico pelas células parietais e de
pepsinogênio pelas células principais das
glândulas gástricas. A acidez do suco gástrico
(pH 1,0 a 2,5) lhe permite funcionar tanto como
antisséptico, matando a maior parte das
bactérias e de outras células estranhas ao
organismo, quanto como agente desnaturante,
desenovelando proteínas globulares e tornando
suas ligações peptídicas internas mais
suscetíveis à hidrólise enzimática. O
pepsinogênio (Mr 40.554), precursor inativo ou
zimogênio, é convertido na pepsina ativa (Mr
34.614) por meio de uma clivagem
autocatalisada (clivagem mediada pelo próprio
Quatro aminoácidos desempenham papéis pepsinogênio) que ocorre apenas em pH baixo.
centrais no metabolismo do nitrogênio: No estômago, a pepsina hidrolisa as proteínas
glutamato, glutamina, alanina e aspartato. O ingeridas, atuando em ligações peptídicas em
lugar especial desses quatro aminoácidos no que o resíduo de aminoácido localizado na
metabolismo do nitrogênio não é um acidente porção aminoterminal provém dos aminoácidos
evolutivo. Esses aminoácidos em especial são aromáticos Phe, Trp e Tyr, clivando cadeias
aqueles mais facilmente convertidos em polipeptídicas longas em uma mistura de
intermediários do ciclo do ácido cítrico: peptídeos menores.
glutamato e glutamina são convertidos em À medida que o conteúdo ácido do estômago
α-cetoglutarato, alanina em piruvato e passa para o intestino delgado, o pH baixo
aspartato em oxaloacetato. Glutamato e desencadeia a secreção do hormônio secretina
glutamina são especialmente importantes, na corrente sanguínea. A secretina estimula o
atuando como uma espécie de ponto de pâncreas a secretar bicarbonato no intestino
encontro para os grupos amino. No citosol das delgado, para neutralizar o HCl gástrico,
células do fígado (hepatócitos), os grupos aumentando abruptamente o pH, que fica
amino da maior parte dos aminoácidos são próximo a 7. (Todas as secreções pancreáticas
transferidos para o α-cetoglutarato, chegam ao intestino delgado pelo ducto
formando glutamato, que entra na mitocôndria pancreático.) A digestão das proteínas
e perde seu grupo amino para formar NH+4. O prossegue agora no intestino delgado. A
excesso de amônia produzido na maior parte chegada de aminoácidos na parte superior do
dos demais tecidos é convertido no nitrogênio intestino delgado (duodeno) determina a
amídico da glutamina, que circula até chegar ao liberação para o sangue do hormônio
fígado, entrando na mitocôndria hepática. colecistocinina, que estimula a secreção de
Glutamina, glutamato ou ambos estão diversas enzimas pancreáticas com atividades
presentes na maior parte dos tecidos em ótimas em pH 7 a 8. O tripsinogênio, o
concentrações mais elevadas que os demais quimotripsinogênio e as
aminoácidos. procarboxipeptidases A e B – os zimogênios
da tripsina, da quimotripsina e das
carboxipeptidases A e B – são sintetizados e catabolismo da maioria dos L-aminoácidos é a
secretados pelas células exócrinas do remoção de seus grupos α-amino, realizada por
pâncreas. O tripsinogênio é convertido em enzimas denominadas aminotransferases ou
sua forma ativa, a tripsina, pela transaminases. Nessas reações de
enteropeptidase, uma enzima proteolítica transaminação, o grupo a-amino é transferido
secretada pelas células intestinais. A tripsina para o carbono a do α-cetoglutarato, liberando
livre catalisa então a conversão de moléculas o correspondente α-cetoácido, análogo do
adicionais de tripsinogênio em tripsina. A aminoácido. Não ocorre desaminação (perda
tripsina também ativa o quimotripsinogênio, as de grupos amino) efetiva nessas reações, pois
procarboxipeptidases e a proelastase. o a-cetoglutarato torna-se aminado enquanto o
A tripsina e a quimotripsina continuam a α-aminoácido é desaminado. O efeito das
hidrólise dos peptídeos produzidos pela reações de transaminação é coletar grupos
pepsina no estômago. Esse estágio da digestão amino de diferentes aminoácidos, na forma de
proteica é realizado com grande eficiência, pois L-glutamato. O glutamato então funciona como
a pepsina, a tripsina e a quimotripsina doador de grupos amino para vias
apresentam especificidades distintas quanto biossintéticas ou para vias de excreção, que
aos aminoácidos sobre os quais atuam. A levam à eliminação de produtos de excreção
degradação de pequenos peptídeos no nitrogenados.
intestino delgado é então completada por O piridoxal-fosfato funciona como carreador
outras peptidases intestinais. Estas incluem as intermediário de grupos amino, no sítio ativo
carboxipeptidases A e B (duas enzimas que das aminotransferases. Ele sofre
contêm zinco), as quais removem resíduos transformações reversíveis entre sua forma
sucessivos da extremidade carboxiterminal dos aldeídica, o piridoxal-fosfato, que pode aceitar
peptídeos e uma aminopeptidase, que hidrolisa um grupo amino, e sua forma aminada, a
resíduos sucessivos da extremidade piridoxamina-fosfato, que pode doar seu grupo
aminoterminal de peptídeos pequenos. A amino para um α-cetoácido. Geralmente, o
mistura resultante de aminoácidos livres é piridoxal-fosfato encontra-se ligado
transportada para dentro das células epiteliais covalentemente ao sítio ativo da enzima por
que revestem o intestino delgado, através dos meio de uma ligação aldimina (base de Schiff)
quais os aminoácidos entram nos capilares com o grupo ɛ-amino de um resíduo de Lys.
sanguíneos nas vilosidades e são O piridoxal-fosfato participa de uma variedade
transportados até o fígado. de reações nos carbonos α, β e γ (C-2 a C-4)
de aminoácidos. Reações no carbono a
>> O piridoxal-fosfato participa da incluem racemizações (interconvertendo L- e
transferência de grupos α-amino para o D-aminoácidos) e descarboxilações, assim
α-cetoglutarato como transaminações. O piridoxal-fosfato
desempenha o mesmo papel químico em cada
uma dessas reações. Uma ligação com o
carbono α do substrato é rompida, removendo
um próton ou um grupo carboxila. O par de
elétrons que permanece no carbono α
produziria um carbânion altamente instável,
mas o piridoxal-fosfato fornece estabilização
desse intermediário por ressonância.

>> O glutamato libera seu grupo amino


na forma de amônia no fígado
Nos hepatócitos, o glutamato é transportado
do citosol para a mitocôndria, onde sofre
desaminação oxidativa, catalisada pela
Chegando ao fígado, a primeira etapa no L-glutamato-desidrogenase (Mr 330.000). Nos
mamíferos, essa enzima está presente na metabolismo intracelular do grupo amino, é
matriz mitocondrial. É a única enzima que substituído pela L-glutamina. A amônia livre
utiliza NAD+ ou NADP+ como aceptor de produzida nos tecidos combina-se com o
equivalentes redutores. glutamato, produzindo glutamina, pela ação da
glutamina-sintetase.
A glutamina é uma forma de transporte não
tóxico para a amônia; ela normalmente está
presente no sangue em concentrações muito
maiores que os demais aminoácidos. A
glutamina também serve como fonte de grupos
amino em várias reações biossintéticas. A
glutamina-sintetase é encontrada em todos os
organismos, sempre desempenhando um papel
metabólico central. Nos microrganismos, essa
enzima serve como via de entrada essencial do
nitrogênio fixado em sistemas biológicos.

>> A alanina transporta a amônia dos


A glutamato-desidrogenase opera em uma músculos esqueléticos para o fígado
importante intersecção do metabolismo do
carbono e do nitrogênio. Essa enzima
alostérica com seis subunidades idênticas tem
sua atividade influenciada por um arranjo
complicado de moduladores alostéricos. Os
mais bem estudados são o modulador positivo
ADP e o modulador negativo GTP. A razão
metabólica para esse padrão de regulação
ainda não foi esclarecida em detalhe.
Mutações que alterem o sítio alostérico para a
ligação do GTP ou que causem ativação
permanente da glutamato-desidrogenase
levam a uma doença genética humana,
denominada síndrome do hiperinsulinismo
com hiperamonemia, caracterizada por níveis
elevados de amônia na corrente sanguínea e A alanina também desempenha um papel
hipoglicemia. especial no transporte dos grupos amino para o
fígado em uma forma não tóxica, por meio de
>> A glutamina transporta a amônia na uma via denominada ciclo da glicose-alanina.
corrente sanguínea A utilização de alanina para o transporte da
amônia dos músculos esqueléticos para o
A amônia é bastante tóxica para os tecidos fígado é outro exemplo da economia intrínseca
animais e seus níveis no sangue são dos organismos vivos. Os músculos
regulados. Em muitos tecidos, incluindo o esqueléticos em contração vigorosa operam
cérebro, alguns processos, como a degradação anaerobiamente, produzindo piruvato e lactato
de nucleotídeos, geram amônia livre. Na pela glicólise, assim como amônia pela
maioria dos animais, a maior parte dessa degradação proteica. De algum modo, esses
amônia livre é convertida em um composto não produtos devem chegar ao fígado, onde o
tóxico antes de ser exportada dos tecidos piruvato e o lactato são incorporados na
extra-hepáticos para o sangue e transportada glicose, que volta aos músculos, e a amônia é
até o fígado ou até os rins. Para essa função de convertida em ureia para excreção. O ciclo da
transporte, o glutamato, essencial para o glicose-alanina, em conjunto com o ciclo de
Cori, realiza essa operação. O custo energético
da gliconeogênese é assim imposto ao fígado e amônia na matriz mitocondrial – a maior parte
não ao músculo, e todo o ATP disponível no desse NH+4 é fornecida pelas vias descritas
músculo é destinado à contração muscular. anteriormente. O fígado também recebe parte
da amônia pela veia porta, sendo essa amônia
18.2 Excreção de nitrogênio e ciclo da ureia produzida no intestino pela oxidação bacteriana
A maioria das espécies aquáticas, como os de aminoácidos. Qualquer que seja sua fonte, o
peixes ósseos, é amoniotélica e excreta o NH+4 presente na mitocôndria hepática é
nitrogênio amínico como amônia. A amônia utilizado imediatamente, juntamente com o CO2
tóxica é simplesmente diluída na água do (como HCO-3) produzido pela respiração
ambiente. Os animais terrestres necessitam de mitocondrial, para formar carbamoil-fosfato na
vias para a excreção do nitrogênio que matriz. Essa reação é dependente de ATP,
minimizem a toxicidade e a perda de água. A sendo catalisada pela
maior parte dos animais terrestres é ureotélica carbamoil-fosfato-sintetase I, enzima
e excreta o nitrogênio amínico na forma de regulatória. A forma mitocondrial da enzima é
ureia; aves e répteis são uricotélicos, diferente da forma citosólica (II), a qual tem
excretando o nitrogênio amínico como ácido uma função distinta na biossíntese das
úrico. As plantas reciclam praticamente todos pirimidinas.
os grupos amino, e a excreção de nitrogênio O carbamoil-fosfato, que funciona como doador
ocorre apenas em circunstâncias muito ativado de grupos carbamoila, entra no ciclo da
incomuns. Nos organismos ureotélicos, a ureia. O ciclo tem apenas quatro etapas
amônia depositada na mitocôndria dos enzimáticas. Primeiro, o carbamoil-fosfato doa
hepatócitos é convertida em ureia no ciclo da seu grupo carbamoila para a ornitina, formando
ureia. Essa via foi descoberta em 1932 por citrulina, com a liberação de Pi. A reação é
Hans Krebs (que mais tarde também descobriu catalisada pela ornitina-transcarbamoilase. A
o ciclo do ácido cítrico) e seu colaborador Kurt ornitina não é um dos 20 aminoácidos
Henseleit, estudante de medicina. A produção encontrados nas proteínas, mas é um
de ureia ocorre quase exclusivamente no intermediário-chave no metabolismo do
fígado, sendo o destino da maior parte da nitrogênio. A ornitina desempenha um papel
amônia canalizada para esse órgão. A ureia que se assemelha àquele do oxaloacetato no
passa para a circulação sanguínea e chega aos ciclo do ácido cítrico, aceitando material a cada
rins, sendo excretada na urina. volta do ciclo da ureia. A citrulina produzida no
primeiro passo do ciclo da ureia passa da
>> A ureia é produzida a partir da amônia mitocôndria para o citosol.
por meio de cinco etapas enzimáticas Os próximos dois passos trazem o segundo
grupo amino. A fonte é o aspartato produzido
na mitocôndria por transaminação e
transportado para o citosol. A reação de
condensação entre o grupo amino do aspartato
e o grupo ureido (carbonila) da citrulina forma
arginino-succinato. Essa reação citosólica,
catalisada pela arginino-succinato-sintetase,
requer ATP e ocorre via um intermediário
citrulil-AMP. O arginino-succinato é então
clivado pela arginino-succinase, formando
arginina e fumarato; este último é convertido
em malato e a seguir entra na mitocôndria para
unir-se aos intermediários do ciclo do ácido
O ciclo da ureia inicia dentro da mitocôndria cítrico. Esse passo é a única reação reversível
hepática, mas três de suas etapas seguintes do ciclo da ureia. Na última etapa do ciclo
ocorrem no citosol; o ciclo assim abrange dois (etapa ➍), a enzima citosólica arginase cliva a
compartimentos celulares. O primeiro grupo arginina, produzindo ureia e ornitina. A ornitina
amino que entra no ciclo da ureia é derivado da
é transportada para a mitocôndria para iniciar reação do ciclo da ureia catalisada pela
outra volta do ciclo da ureia. arginino-succinato-sintetase. Essas reações,
que constituem a lançadeira
aspartato-arginino-succinato, fornecem elos
metabólicos entre essas vias separadas, pelos
quais os grupos amino e os esqueletos de
carbono dos aminoácidos são processados.

>>> A atividade do ciclo da ureia é


regulada em dois níveis
Em uma escala de tempo mais curta, a
regulação alostérica de pelo menos uma
enzima-chave ajusta o fluxo pelo ciclo da
ureia. A primeira enzima da via, a
carbamoil-fosfato-sintetase I, é ativada
>> Os ciclos do ácido cítrico e da ureia alostericamente por N-acetil-glutamato,
podem ser ligados sintetizado a partir de acetil-CoA e glutamato
Uma vez que o fumarato produzido na reação pela N-acetil-glutamato-sintase. Em vegetais
da arginino-succinase também é um e microrganismos, essa enzima catalisa a
intermediário do ciclo do ácido cítrico, os ciclos primeira etapa na síntese de novo de arginina
estão, a princípio, interconectados – em a partir do glutamato, mas, nos mamíferos, a
processo apelidado de “bicicleta de Krebs”. atividade da N-acetil-glutamato-sintase no
Contudo, cada ciclo opera independentemente fígado exerce função puramente reguladora
e a comunicação entre eles depende do (os mamíferos não têm as demais enzimas
transporte de intermediários- -chave entre a necessárias para a conversão de glutamato
mitocôndria e o citosol. Os principais em arginina). Os níveis estacionários de
transportadores na membrana interna da N-acetil-glutamato são determinados pelas
mitocôndria incluem o transportador concentrações de glutamato e acetil-CoA (os
malato-α-cetoglutarato, o transportador substratos da N-acetil-glutamato-sintase) e
glutamato-aspartato e o transportador arginina (ativador da
glutamato-OH- . Juntos, esses transportadores N-acetil-glutamato-sintase e, portanto,
facilitam o movimento do malato e do ativador do ciclo da ureia).
glutamato para dentro da matriz mitocondrial e
o movimento do aspartato e do >> A interconexão de vias reduz o custo
α-cetoglutarato para fora da mitocôndria, rumo energético da síntese da ureia
ao citosol. Analisando o ciclo da ureia isoladamente,
Diversas enzimas do ciclo do ácido cítrico, percebe-se que a síntese de uma molécula de
incluindo a fumarase (fumarato-hidratase) e a ureia requer a hidrólise de quatro ligações
malato-desidrogenase, também estão fosfato ricas em energia. Duas moléculas de
presentes como isoenzimas no citosol. Não há ATP são necessárias na formação do
um transportador para levar diretamente o carbamoil-fosfato e um ATP para produzir
fumarato gerado na síntese de arginina no arginino-succinato – este último ATP sendo
citosol para a matriz mitocondrial. Contudo, o clivado em AMP e PPi , que é hidrolisado em 2
fumarato pode ser convertido em malato no Pi. A equação geral do ciclo da ureia é
citosol, e depois esses intermediários podem 2NH+4 + HCO3- +3ATP4- +H20 → ureia + 2DP3- +
ser metabolizados no citosol ou o malato pode 4Pi2- + AMP 2- + 2H+
ser transportado para o interior da mitocôndria, Contudo, esse aparente custo é reduzido pelas
para utilização no ciclo do ácido cítrico. O interconexões detalhadas acima. O fumarato,
aspartato formado na mitocôndria por gerado pelo ciclo da ureia, é convertido em
transaminação entre o oxaloacetato e o malato e este transportado para dentro da
glutamato pode ser transportado para o citosol, mitocôndria. Dentro da matriz mitocondrial,
onde atua como doador de nitrogênio na NADH é gerado na reação da malato
desidrogenase. Cada molécula de NADH pode leucina, triptofano, treonina e lisina – podem
gerar até 2,5 ATP durante a respiração produzir corpos cetônicos no fígado, onde a
mitocondrial, reduzindo muito o custo acetoacetil-CoA é convertida em
energético geral da síntese de ureia. acetoacetato e, então, em acetona e
β-hidroxibutirato. Esses são aminoácidos
18.3 Vias da degradação dos aminoácidos cetogênicos. Sua capacidade de produzir
corpos cetônicos é especialmente evidente no
diabetes melito não controlado, quando o
fígado produz grandes quantidades de corpos
cetônicos a partir de ácidos graxos e de
aminoácidos cetogênicos. Os aminoácidos
degradados em piruvato, α-cetoglutarato,
succinil-CoA, fumarato e/ou oxaloacetato
podem ser convertidos em glicose e glicogênio.
Esses são aminoácidos glicogênicos.
Aminoácidos glicogênicos e cetogênicos não
são excludentes entre si; cinco aminoácidos –
triptofano, fenilalanina, tirosina, treonina e
isoleucina – são tanto cetogênicos quanto
glicogênicos. O catabolismo dos aminoácidos é
As vias do catabolismo dos aminoácidos, em especialmente crítico para a sobrevivência de
conjunto, representam normalmente apenas 10 animais em dietas ricas em proteína ou durante
a 15% da produção de energia no organismo o jejum.
humano; essas vias são bem menos ativas que
a glicólise e a oxidação dos ácidos graxos. O >> Diversos cofatores enzimáticos
fluxo ao longo das vias catabólicas também desempenham papéis importantes no
varia muito, dependendo do equilíbrio entre as catabolismo dos aminoácidos
necessidades para processos biossintéticos e a
disponibilidade de determinado aminoácido. As Variedades de rearranjos químicos ocorrem nas
20 vias catabólicas convergem para formar vias metabólicas dos aminoácidos. A forma
apenas seis produtos principais, os quais oxidada, o folato, é uma vitamina para os
podem entrar no ciclo do ácido cítrico. Desse mamíferos, sendo convertida, por meio de duas
ponto, os esqueletos de carbono tomam vias etapas, em tetraidrofolato, pela ação da enzima
distintas, sendo direcionados para a di-hidrofolato-redutase. A única outra reação
gliconeogênese ou para a cetogênese, ou conhecida na qual o trifosfato é deslocado do
oxidados completamente a CO2 e H2O. ATP ocorre na síntese da coenzima B12. A
Sete dos aminoácidos podem ter seus transferência do grupo metila da
esqueletos de carbono, total ou parcialmente, S-adenosilmetionina para um aceptor produz
degradados para produzir acetil-CoA. Cinco S-adenosil-homocisteína, posteriormente
aminoácidos são convertidos em degradada em homocisteína e adenosina. A
α-cetoglutarato, quatro em succinil-CoA, dois metionina é regenerada pela transferência de
em fumarato e dois em oxaloacetato. Seis um grupo metila para a homocisteína, em
aminoácidos têm seu esqueleto carbonado, reação catalisada pela metionina-sintase, e a
total ou parcialmente, convertido em piruvato, metionina é novamente convertida em
o qual pode ser transformado em acetil-CoA S-adenosilmetionina para completar um ciclo
ou em oxaloacetato. de ativação da metila. A doença causada por
deficiência de vitamina B12, a anemia perniciosa,
>> Alguns aminoácidos são convertidos em é rara, sendo observada apenas em pessoas
glicose, outros em corpos cetônicos com defeitos nas vias para absorção intestinal
Os sete aminoácidos inteira ou parcialmente dessa vitamina ou em vegetarianos estritos (a
degradados em acetoacetil-CoA e/ou vitamina B12 não está presente em plantas). É
acetil-CoA – fenilalanina, tirosina, isoleucina, perigoso, contudo, tratar a anemia perniciosa
com a suplementação de folato apenas, pois os precursor do NAD+ e do NADP+ nos animais), a
sintomas neurológicos da deficiência de vitamina serotonina (um neurotransmissor em
B12 progredirão. Esses sintomas não surgem da vertebrados), e o indolacetato (um fator de
deficiência na reação da metionina-sintase. O crescimento em plantas). A degradação da
prejuízo na atividade da fenilalanina é notável, pois defeitos genéticos
metilmalonil-CoA-mutase causa acúmulo de nas enzimas dessa via levam a diversas
ácidos graxos incomuns, com número ímpar de doenças humanas herdadas. A fenilalanina e a
carbonos, nas membranas neuronais. tirosina, produto de sua oxidação (ambas com
nove carbonos), são degradadas em dois
>> Seis aminoácidos são degradados até fragmentos, ambos podendo entrar no ciclo do
piruvato ácido cítrico: quatro dos nove átomos de
carbono produzem acetoacetato livre, o qual é
Os seis aminoácidos são: alanina, convertido em acetoacetil-CoA e então em
triptofano, cisteína, serina, glicina e acetil-CoA, e um segundo fragmento de quatro
treonina. A alanina produz piruvato carbonos é recuperado como fumarato. Dessa
diretamente, por transaminação com o forma, oito dos nove carbonos desses
α-cetoglutarato, e a cadeia lateral do triptofano aminoácidos entram no ciclo do ácido cítrico; o
é clivada, produzindo alanina e, portanto, carbono restante é perdido como CO2. A
piruvato. A cisteína é convertida em fenilalanina, após ser hidroxilada produzindo
piruvato por meio de duas etapas: tirosina, também é precursora da dopamina,
inicialmente é removido o átomo de enxofre e um neurotransmissor, e da noradrenalina e da
a seguir ocorre uma transaminação. A serina adrenalina, hormônios secretados pela medula
é convertida em piruvato pela suprarrenal. A melanina, o pigmento escuro
serina-desidratase. A glicina pode ser observado na pele e no cabelo, também é
degradada por meio de três vias, porém derivada da tirosina.
apenas uma delas produz piruvato. A glicina
é convertida em serina pela adição >> O catabolismo da fenilalanina é
enzimática de um grupo hidroximetila. Há defeituoso geneticamente em algumas
duas vias significativas para a degradação da pessoas
treonina: uma via leva à produção de piruvato A fenilalanina-hidroxilase (também
via glicina. A conversão em glicina ocorre em denominada fenilalanina-4-monoxigenase) é
duas etapas, com a treonina sendo convertida uma enzima de uma classe geral de enzimas
em 2-amino-3-cetobutirato, pela ação da denominadas oxidases de função mista, que
treonina-desidrogenase. Essa é uma rota de catalisam simultaneamente a hidroxilação de um
importância relativamente menor em substrato por um átomo de oxigênio do O2 e a
humanos, representando 10 a 30% do redução do outro átomo de oxigênio em H2O. A
catabolismo da treonina, porém mais fenilalanina-hidroxilase requer o cofator
importante em outros mamíferos. Em tetra-hidrobiopterina, que transfere elétrons do
humanos, a rota principal leva à produção de NADPH ao oxigênio, oxidando-se a
succinil-CoA. dihidrobiopterina no processo. Em seguida, esse
cofator é reduzido pela enzima
>> Sete aminoácidos são degradados, di-hidrobiopterina-redutase, em uma reação
produzindo acetil-CoA que requer NADPH.

Partes dos esqueletos de carbono de sete


aminoácidos – triptofano, lisina, fenilalanina,
tirosina, leucina, isoleucina e treonina –
produzem acetil-CoA e/ou acetoacetil-CoA, esta
última sendo convertida em acetil-CoA. Alguns
intermediários no catabolismo do triptofano são
precursores para a síntese de outras
biomoléculas, incluindo o nicotinato (um
glutamina têm esqueletos de cinco carbonos. A
estrutura cíclica da prolina é aberta pela
oxidação do carbono mais distante do grupo
carboxila, criando uma base de Schiff,
seguindo-se a hidrólise da base de Schiff para
produzir um semialdeído linear, o γ-semialdeído
do glutamato. Esse intermediário é
posteriormente oxidado no mesmo carbono,
produzindo glutamato. A glutamina é
convertida em glutamato na reação da
glutaminase ou em qualquer outra entre as
Em pessoas com PKU, uma rota secundária do diversas reações enzimáticas em que a
metabolismo da fenilalanina, normalmente pouco glutamina doa seu nitrogênio amídico a um
utilizada, passa a desempenhar um papel mais aceptor. A transaminação ou a desaminação
proeminente. Nessa rota, a fenilalanina sofre do glutamato produz α-cetoglutarato.
transaminação com o piruvato, produzindo A arginina e a histidina contêm cinco carbonos
fenilpiruvato. A fenilalanina e o fenilpiruvato adjacentes e um sexto carbono ligado por meio
acumulam-se no sangue e nos tecidos e são de um átomo de nitrogênio. Assim sendo, a
excretados na urina – daí o nome conversão catabólica desses aminoácidos em
“fenilcetonúria”. Uma quantidade considerável glutamato é um pouco mais complexa que a rota
de fenilpiruvato não é excretada como tal, mas da prolina ou da glutamina. A arginina é
sofre descarboxilação a fenilacetato ou redução convertida no esqueleto de cinco carbonos da
a fenil-lactato. O fenilacetato confere à urina um ornitina, no ciclo da ureia, e a ornitina sofre
odor característico, tradicionalmente utilizado por transaminação, produzindo o γ-semialdeído do
enfermeiros para detectar PKU em bebês. O glutamato. A conversão da histidina em
acúmulo de fenilalanina ou de seus metabólitos glutamato, de cinco carbonos, ocorre em uma
no início da vida prejudica o desenvolvimento rota de múltiplas etapas; o carbono extra é
normal do cérebro, causando grave deficiência removido em uma etapa que utiliza
intelectual. Isso pode ser causado pelo excesso tetra-hidrofolato como cofator.
de fenilalanina, que compete com outros
aminoácidos pelo transporte através da barreira >> Quatro aminoácidos são convertidos em
hematoencefálica, resultando em déficit de succinil-CoA
metabólitos necessários. A metionina doa seu grupo metila a um de
Outra doença hereditária do catabolismo da diversos aceptores possíveis, via
fenilalanina é a alcaptonúria, na qual a enzima S-adenosilmetionina, e três de seus quatro
defeituosa é a homogentisato-dioxigenase. átomos de carbono remanescentes são
Menos grave que a PKU, essa condição produz convertidos no propionato da propionil-CoA,
poucos efeitos adversos, embora grandes um precursor da succinil-CoA. A isoleucina
quantidades de homogentisato sejam excretadas sofre transaminação, seguinda pela a
e sua oxidação torne a urina escura. Pessoas descarboxilação oxidativa do α-cetoácido
com alcaptonúria também são mais suscetíveis resultante. O esqueleto restante, de cinco
ao desenvolvimento de uma forma de artrite. A carbonos, é ainda mais oxidado, produzindo
alcaptonúria é de considerável interesse acetil-CoA e propionil-CoA. A valina sofre
histórico. transaminação e descarboxilação,
seguindo-se uma série de reações de oxidação
>> Cinco aminoácidos são convertidos em que convertem os quatro carbonos restantes em
α-cetoglutarato propionil-CoA. Algumas partes das rotas de
Os esqueletos de carbono de cinco aminoácidos degradação da valina e da isoleucina
(prolina, glutamato, glutamina, arginina e apresentam um paralelo muito próximo a etapas
histidina) entram no ciclo do ácido cítrico como da degradação de ácidos graxos. Em tecidos
α-cetoglutarato. A prolina, o glutamato e a humanos, a treonina também é convertida, por
meio de duas etapas, em propionil-CoA. Essa é
a principal rota de degradação da treonina em acumulam-se no sangue, “extravasando” para a
humanos. O mecanismo para a primeira etapa é urina. Essa condição, denominada doença do
análogo àquele da reação catalisada pela xarope de bordo devido ao odor característico
serina-desidratase, sendo possível que as conferido à urina pelos α-cetoácidos, resulta de
desidratases da serina e da treonina sejam, de uma deficiência no complexo da desidrogenase
fato, a mesma enzima. dos α-cetoácidos de cadeia ramificada. Quando
não tratada, a doença resulta em
>> Os aminoácidos de cadeia ramificada não desenvolvimento anormal do cérebro, deficiência
são degradados no fígado intelectual e morte no início da infância. O
Embora boa parte do catabolismo dos tratamento inclui controle rígido da dieta, com
aminoácidos aconteça no fígado, os três limitação da ingestão de valina, isoleucina e
aminoácidos com cadeias laterais ramificadas leucina ao mínimo necessário para permitir um
(leucina, isoleucina e valina) são oxidados crescimento normal.
como combustível principalmente pelos tecidos
muscular, adiposo, renal e cerebral. Esses >> A asparagina e o aspartato são
tecidos extra-hepáticos contêm uma degradados em oxaloacetato
aminotransferase, ausente no fígado, que atua Os esqueletos de carbono da asparagina e do
sobre os três aminoácidos de cadeia ramificada, aspartato entram, por fim, no ciclo do ácido
produzindo os α-cetoácidos correspondentes. O cítrico como malato nos mamíferos ou como
complexo da desidrogenase dos α-cetoácidos de oxaloacetato nas bactérias. A enzima
cadeia ramificada catalisa então a asparaginase catalisa a hidrólise da asparagina,
descarboxilação oxidativa dos três α-cetoácidos, produzindo aspartato, o qual sofre
liberando o grupo carboxila como CO2 e transaminação com o α-cetoglutarato, gerando
produzindo o derivado acil-CoA respectivo. glutamato e oxaloacetato. O oxaloacetato é
Experimentos com ratos têm mostrado que o convertido em malato no citosol e, então,
complexo da desidrogenase dos α-cetoácidos de transportado para a matriz mitocondrial pelo
cadeia ramificada é regulado por modificação transportador malato-α-cetoglutarato. Em
covalente em resposta ao conteúdo de bactérias, o oxaloacetato produzido na reação
aminoácidos de cadeia ramificada na dieta. de transaminação pode ser utilizado diretamente
Quando houver pouco ou nenhum excesso no ciclo do ácido cítrico.
desses aminoácidos na dieta, o complexo
enzimático é fosforilado por uma proteína-cinase
e, dessa forma, inativado. A adição à dieta de
excesso de aminoácidos de cadeia ramificada
resulta na desfosforilação e consequente
Disciplina Bioquímica Geral
ativação da enzima.
Discentes Maria Nazare Melo
Abreu
Matheus Nogueira
Souto
Rafaela de Jesus
Oliveira

Existe uma doença genética relativamente rara


em que os três α-cetoácidos de cadeia
ramificada (assim como seus aminoácidos
precursores, especialmente a leucina)

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