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Oxidação de Aminoácidos e
Produção de Ureia
carbono da maioria dos aminoácidos
A fração de energia metabólica obtida a partir encontrando uma via para o ciclo do ácido
de aminoácidos, sejam eles provenientes de cítrico. Em alguns casos, as reações das vias
proteínas da dieta ou de proteínas teciduais, de degradação dos aminoácidos representam
varia muito de acordo com o tipo de organismo etapas paralelas ao catabolismo dos ácidos
e com as condições metabólicas. Carnívoros graxos.
obtêm (imediatamente após uma refeição) até Uma característica importante distingue a
90% de suas necessidades energéticas da degradação dos aminoácidos de outros
oxidação de aminoácidos, enquanto herbívoros processos catabólicos descritos até aqui: todos
obtêm apenas uma pequena fração de suas os aminoácidos contêm um grupo amino, e as
necessidades energéticas a partir dessa via. A vias para a degradação dos aminoácidos
maior parte dos microrganismos obtém incluem, portanto, uma etapa fundamental, na
aminoácidos a partir do ambiente e os utiliza qual o grupo α-amino é separado do esqueleto
como combustível quando suas condições de carbono e desviado para as vias do
metabólicas assim o determinarem. Plantas, no metabolismo do grupo amino.
entanto, nunca ou quase nunca oxidam
aminoácidos para produzir energia; em geral,
os carboidratos produzidos a partir de CO2 e
H2O na fotossíntese são sua única fonte de
energia. As concentrações de aminoácidos nos
tecidos vegetais são cuidadosamente
reguladas para satisfazer as necessidades de
biossíntese de proteínas, ácidos nucleicos e
outras moléculas necessárias para o
crescimento. O catabolismo dos aminoácidos
não ocorre nas plantas, mas seu propósito é a
produção de metabólitos para outras vias
biossintéticas.
Em todas essas condições metabólicas, os
aminoácidos perdem seu grupo amino para
formar α-cetoácidos, os “esqueletos de
carbono” dos aminoácidos. Os α-cetoácidos
sofrem oxidação a CO2 e H2O ou, geralmente
mais importante, fornecem unidades de três e 18.1 Destinos metabólicos dos grupos amino
quatro carbonos que podem ser convertidas, O nitrogênio, N2, é abundante na atmosfera,
pela gliconeogênese, em glicose, o combustível mas é inerte para a utilização na maioria dos
para o cérebro, para o músculo esquelético e processos bioquímicos. Pelo fato de que
para outros tecidos. apenas poucos organismos conseguem
Assim como no catabolismo dos carboidratos e converter o N2 em formas biologicamente úteis,
dos ácidos graxos, os processos de como NH3, os grupos amino são
degradação de aminoácidos convergem para cuidadosamente gerenciados nos sistemas
vias catabólicas centrais, com os esqueletos de biológicos.
>> As proteínas da dieta são
enzimaticamente degradadas até
aminoácidos
Em humanos, a degradação das proteínas
ingeridas até seus aminoácidos constituintes
acontece no trato gastrintestinal. A chegada de
proteínas da dieta ao estômago estimula a
mucosa gástrica a secretar o hormônio
gastrina, que, por sua vez, estimula a secreção
de ácido clorídrico pelas células parietais e de
pepsinogênio pelas células principais das
glândulas gástricas. A acidez do suco gástrico
(pH 1,0 a 2,5) lhe permite funcionar tanto como
antisséptico, matando a maior parte das
bactérias e de outras células estranhas ao
organismo, quanto como agente desnaturante,
desenovelando proteínas globulares e tornando
suas ligações peptídicas internas mais
suscetíveis à hidrólise enzimática. O
pepsinogênio (Mr 40.554), precursor inativo ou
zimogênio, é convertido na pepsina ativa (Mr
34.614) por meio de uma clivagem
autocatalisada (clivagem mediada pelo próprio
Quatro aminoácidos desempenham papéis pepsinogênio) que ocorre apenas em pH baixo.
centrais no metabolismo do nitrogênio: No estômago, a pepsina hidrolisa as proteínas
glutamato, glutamina, alanina e aspartato. O ingeridas, atuando em ligações peptídicas em
lugar especial desses quatro aminoácidos no que o resíduo de aminoácido localizado na
metabolismo do nitrogênio não é um acidente porção aminoterminal provém dos aminoácidos
evolutivo. Esses aminoácidos em especial são aromáticos Phe, Trp e Tyr, clivando cadeias
aqueles mais facilmente convertidos em polipeptídicas longas em uma mistura de
intermediários do ciclo do ácido cítrico: peptídeos menores.
glutamato e glutamina são convertidos em À medida que o conteúdo ácido do estômago
α-cetoglutarato, alanina em piruvato e passa para o intestino delgado, o pH baixo
aspartato em oxaloacetato. Glutamato e desencadeia a secreção do hormônio secretina
glutamina são especialmente importantes, na corrente sanguínea. A secretina estimula o
atuando como uma espécie de ponto de pâncreas a secretar bicarbonato no intestino
encontro para os grupos amino. No citosol das delgado, para neutralizar o HCl gástrico,
células do fígado (hepatócitos), os grupos aumentando abruptamente o pH, que fica
amino da maior parte dos aminoácidos são próximo a 7. (Todas as secreções pancreáticas
transferidos para o α-cetoglutarato, chegam ao intestino delgado pelo ducto
formando glutamato, que entra na mitocôndria pancreático.) A digestão das proteínas
e perde seu grupo amino para formar NH+4. O prossegue agora no intestino delgado. A
excesso de amônia produzido na maior parte chegada de aminoácidos na parte superior do
dos demais tecidos é convertido no nitrogênio intestino delgado (duodeno) determina a
amídico da glutamina, que circula até chegar ao liberação para o sangue do hormônio
fígado, entrando na mitocôndria hepática. colecistocinina, que estimula a secreção de
Glutamina, glutamato ou ambos estão diversas enzimas pancreáticas com atividades
presentes na maior parte dos tecidos em ótimas em pH 7 a 8. O tripsinogênio, o
concentrações mais elevadas que os demais quimotripsinogênio e as
aminoácidos. procarboxipeptidases A e B – os zimogênios
da tripsina, da quimotripsina e das
carboxipeptidases A e B – são sintetizados e catabolismo da maioria dos L-aminoácidos é a
secretados pelas células exócrinas do remoção de seus grupos α-amino, realizada por
pâncreas. O tripsinogênio é convertido em enzimas denominadas aminotransferases ou
sua forma ativa, a tripsina, pela transaminases. Nessas reações de
enteropeptidase, uma enzima proteolítica transaminação, o grupo a-amino é transferido
secretada pelas células intestinais. A tripsina para o carbono a do α-cetoglutarato, liberando
livre catalisa então a conversão de moléculas o correspondente α-cetoácido, análogo do
adicionais de tripsinogênio em tripsina. A aminoácido. Não ocorre desaminação (perda
tripsina também ativa o quimotripsinogênio, as de grupos amino) efetiva nessas reações, pois
procarboxipeptidases e a proelastase. o a-cetoglutarato torna-se aminado enquanto o
A tripsina e a quimotripsina continuam a α-aminoácido é desaminado. O efeito das
hidrólise dos peptídeos produzidos pela reações de transaminação é coletar grupos
pepsina no estômago. Esse estágio da digestão amino de diferentes aminoácidos, na forma de
proteica é realizado com grande eficiência, pois L-glutamato. O glutamato então funciona como
a pepsina, a tripsina e a quimotripsina doador de grupos amino para vias
apresentam especificidades distintas quanto biossintéticas ou para vias de excreção, que
aos aminoácidos sobre os quais atuam. A levam à eliminação de produtos de excreção
degradação de pequenos peptídeos no nitrogenados.
intestino delgado é então completada por O piridoxal-fosfato funciona como carreador
outras peptidases intestinais. Estas incluem as intermediário de grupos amino, no sítio ativo
carboxipeptidases A e B (duas enzimas que das aminotransferases. Ele sofre
contêm zinco), as quais removem resíduos transformações reversíveis entre sua forma
sucessivos da extremidade carboxiterminal dos aldeídica, o piridoxal-fosfato, que pode aceitar
peptídeos e uma aminopeptidase, que hidrolisa um grupo amino, e sua forma aminada, a
resíduos sucessivos da extremidade piridoxamina-fosfato, que pode doar seu grupo
aminoterminal de peptídeos pequenos. A amino para um α-cetoácido. Geralmente, o
mistura resultante de aminoácidos livres é piridoxal-fosfato encontra-se ligado
transportada para dentro das células epiteliais covalentemente ao sítio ativo da enzima por
que revestem o intestino delgado, através dos meio de uma ligação aldimina (base de Schiff)
quais os aminoácidos entram nos capilares com o grupo ɛ-amino de um resíduo de Lys.
sanguíneos nas vilosidades e são O piridoxal-fosfato participa de uma variedade
transportados até o fígado. de reações nos carbonos α, β e γ (C-2 a C-4)
de aminoácidos. Reações no carbono a
>> O piridoxal-fosfato participa da incluem racemizações (interconvertendo L- e
transferência de grupos α-amino para o D-aminoácidos) e descarboxilações, assim
α-cetoglutarato como transaminações. O piridoxal-fosfato
desempenha o mesmo papel químico em cada
uma dessas reações. Uma ligação com o
carbono α do substrato é rompida, removendo
um próton ou um grupo carboxila. O par de
elétrons que permanece no carbono α
produziria um carbânion altamente instável,
mas o piridoxal-fosfato fornece estabilização
desse intermediário por ressonância.