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Oxidação de Aminoácidos e Produção de ao piruvato para formar alanina, outra molécula

importante para o transporte de grupos amino até o


Ureia
fígado
A maior parte dos aminoácidos é
Digestão
metabolizada no fígado. Parte da amônia gerada nesse
processo é reciclada e utilizada em uma variedade de Em humanos, a degradação das proteínas ingeridas

vias biossintéticas; o excesso é excretado diretamente até seus aminoácidos constituintes acontece no trato

ou convertido em ureia ou ácido úrico para excreção, gastrintestinal.

dependendo do organismo (Figura 18-2b). O excesso A chegada de proteínas da dieta ao estômago


de amônia produzido em outros tecidos (extra- estimula a mucosa gástrica a secretar o hormônio
hepáticos) é enviado ao fígado (na forma de grupos gastrina, que, por sua vez, estimula a secreção de
amino, como descrito a seguir) para conversão em sua ácido clorídrico pelas células parietais e de
forma de excreção. Quatro aminoácidos pepsinogênio pelas células principais das glândulas
desempenham papéis centrais no metabolismo do gástricas
nitrogênio: glutamato, glutamina, alanina e aspartato.
A acidez do suco gástrico (pH 1,0 a 2,5) lhe permite
O lugar especial desses quatro aminoácidos no
funcionar tanto como antisséptico, matando a maior
metabolismo do nitrogênio não é um acidente
parte das bactérias e de outras células estranhas ao
evolutivo. Esses aminoácidos em especial são aqueles
organismo, quanto como agente desnaturante,
mais facilmente convertidos em intermediários do
desenovelando proteínas globulares e tornando suas
ciclo do ácido cítrico: glutamato e glutamina são
ligações peptídicas internas mais suscetíveis à
convertidos em a-cetoglutarato, alanina em piruvato e
hidrólise enzimática.
aspartato em oxaloacetato. Glutamato e glutamina
são especialmente importantes, atuando como uma O pepsinogênio, precursor inativo ou zimogênio (p.
espécie de ponto de encontro para os grupos amino. 231), é convertido na pepsina ativa por meio de uma
No citosol das células do fígado (hepatócitos), os clivagem autocatalisada (clivagem mediada pelo
grupos amino da maior parte dos aminoácidos são próprio pepsinogênio) que ocorre apenas em pH
transferidos para o a-cetoglutarato, formando baixo.
glutamato, que entra na mitocôndria e perde seu
grupo amino para formar NH4 1. O excesso de amônia
produzido na maior parte dos demais tecidos é No estômago, a pepsina hidrolisa as proteínas

convertido no nitrogênio amídico da glutamina, que ingeridas, atuando em ligações peptídicas em que o

circula até chegar ao fígado, entrando na mitocôndria resíduo de aminoácido localizado na porção

hepática. Glutamina, glutamato ou ambos estão aminoterminal provém dos aminoácidos aromáticos

presentes na maior parte dos tecidos em Phe, Trp e Tyr (ver Tabela 3-6), clivando cadeias

concentrações mais elevadas que os demais polipeptídicas longas em uma mistura de peptídeos

aminoácidos. menores.

No músculo esquelético, os grupos amino que À medida que o conteúdo ácido do estômago passa

excedem as necessidades geralmente são transferidos para o intestino delgado, o pH baixo desencadeia a
secreção do hormônio secretina na corrente A degradação de pequenos peptídeos no intestino
sanguínea. A secretina estimula o pâncreas a secretar delgado é então completada por outras peptidases
bicarbonato no intestino delgado, para neutralizar o intestinais. Estas incluem as carboxipeptidases A e B
HCl gástrico, aumentando abruptamente o pH, que (duas enzimas que contêm zinco), as quais removem
fica próximo a 7. resíduos sucessivos da extremidade carboxiterminal
dos peptídeos e uma aminopeptidase, que hidrolisa
(Todas as secreções pancreáticas chegam ao intestino
resíduos sucessivos da extremidade aminoterminal de
delgado pelo ducto pancreático.)
peptídeos pequenos. A mistura resultante de
A chegada de aminoácidos na parte superior do aminoácidos livres é transportada para dentro das
intestino delgado (duodeno) determina a liberação células epiteliais que revestem o intestino delgado
para o sangue do hormônio colecistocinina, que (Figura 18-3c), através dos quais os aminoácidos
estimula a secreção de diversas enzimas pancreáticas entram nos capilares sanguíneos nas vilosidades e são
com atividades ótimas em pH 7 a 8. transportados até o fígado.

O tripsinogênio, o quimotripsinogênio e as A pancreatite aguda é uma doença causada por


procarboxipeptidases A e B – os zimogênios da obstrução da via normal pela qual as secreções
tripsina, da quimotripsina e das carboxipeptidases A e pancreáticas chegam ao intestino. Os zimogênios das
B – são sintetizados e secretados pelas células enzimas proteolíticas são prematuramente
exócrinas do pâncreas (Figura 18-3b). convertidos em suas formas cataliticamente ativas

O tripsinogênio é convertido em sua forma ativa, a dentro das células pancreáticas e atacam o próprio

tripsina, pela enteropeptidase, uma enzima tecido pancreático. Isso causa dores intensas e lesão

proteolítica secretada pelas células intestinais. A ao órgão, o que pode ser fatal.

tripsina livre catalisa então a conversão de moléculas TRANSAMINAÇÃO


adicionais de tripsinogênio em tripsina (ver Figura 6-
Chegando ao fígado, a primeira etapa no catabolismo
38). A tripsina também ativa o quimotripsinogênio, as
da maioria dos L-aminoácidos é a remoção de seus
procarboxipeptidases e a proelastase
grupos a- -amino, realizada por enzimas denominadas
O pâncreas se protege ainda mais da autodigestão por aminotransferases ou transaminases.
meio da síntese de um inibidor específico, a proteína
Nessas reações de transaminação, o grupo a-amino é
denominada inibidor pancreático da tripsina (p. 232),
transferido para o carbono a do a-cetoglutarato,
que previne efetivamente a produção prematura de
liberando o correspondente a-cetoácido, análogo do
enzimas proteolíticas ativas dentro das células
aminoácido (Figura 18-4).
pancreáticas. A tripsina e a quimotripsina continuam a
hidrólise dos peptídeos produzidos pela pepsina no
estômago. Esse estágio da digestão proteica é
realizado com grande eficiência, pois a pepsina, a
tripsina e a quimotripsina apresentam especificidades
distintas quanto aos aminoácidos sobre os quais
atuam (ver Tabela 3-6).
Não ocorre desaminação (perda de grupos amino) uma ligação aldimina (base de Schiff) com o grupo «-
efetiva nessas reações, pois o a-cetoglutarato torna-se amino de um resíduo de Lys
aminado enquanto o a-aminoácido é desaminado.

O efeito das reações de transaminação é coletar


MECANISMO
grupos amino de diferentes aminoácidos, na forma de
L-glutamato. As aminotransferases (Figura 18-5) são exemplos
clássicos de enzimas que catalisam reações
O glutamato então funciona como doador de grupos
bimoleculares de pingue-pongue (ver Figura 6-13b),
amino para vias biossintéticas ou para vias de
nas quais o primeiro substrato reage e o produto deve
excreção, que levam à eliminação de produtos de
deixar o sítio ativo antes que o segundo substrato
excreção nitrogenados.
possa se ligar. Assim, o aminoácido liga-se ao sítio
As células contêm tipos diferentes de ativo, doa seu grupo amino ao piridoxal-fosfato e deixa
aminotransferases. Muitas são específicas para o a- o sítio ativo na forma de um a- -cetoácido. O outro a-
cetoglutarato como aceptor do grupo amino, mas cetoácido, que funciona como substrato, se liga então
diferem em sua especificidade para o L-aminoácido. ao sítio ativo, aceita o grupo amino da piridoxamina-
Essas enzimas são denominadas em função do doador fosfato e deixa o sítio ativo na forma de um
do grupo amino (p. ex., alanina-aminotransferase, aminoácido
aspartato-aminotransferase). As reações catalisadas
pelas aminotransferases são livremente reversíveis
O GLUTAMATO LIBERA SEU GRUPO AMINO NA FORMA
DE AMÔNIA NO FÍGADO
das as aminotransferases apresentam o mesmo grupo
Nos hepatócitos, o glutamato é transportado do
prostético e o mesmo mecanismo de reação. O grupo
citosol para a mitocôndria, onde sofre desaminação
prostético é o piridoxal-fosfato (PLP), a forma de
oxidativa, catalisada pela L-glutamato-desidrogenase
coenzima da piridoxina ou vitamina B6. Seu principal
presente na matriz mitocondrial. É a única enzima que
papel nas células é o metabolismo de moléculas com
utiliza NAD1 ou NADP1 como aceptor de equivalentes
grupos amino.
redutores

O piridoxal-fosfato funciona como carreador


intermediário de grupos amino, no sítio ativo das
aminotransferases. Ele sofre transformações
reversíveis entre sua forma aldeídica, o piridoxal-
fosfato, que pode aceitar um grupo amino, e sua
forma aminada, a piridoxamina-fosfato, que pode doar
seu grupo amino para um a-cetoácido (Figura 18-5a).
Geralmente, o piridoxal-fosfato encontra-se ligado
covalentemente ao sítio ativo da enzima por meio de
da glutamato-desidrogenase levam a uma doença
genética humana, denominada síndrome do
hiperinsulinismo com hiperamonemia, caracterizada
por níveis elevados de amônia na corrente sanguínea
e hipoglicemia

A GLUTAMINA TRANSPORTA A AMÔNIA NA CORRENTE


SANGUÍNEA

Em muitos tecidos, incluindo o cérebro, alguns


processos, como a degradação de nucleotídeos, geram
amônia livre.

A ação combinada de uma aminotransferase e da Na maioria dos animais, a maior parte dessa amônia
glutamato-desidrogenase é conhecida como livre é convertida em um composto não tóxico antes
transdesaminação. de ser exportada dos tecidos extra-hepáticos para o
sangue e transportada até o fígado ou até os rins.

Uns poucos aminoácidos contornam a via de Para essa função de transporte, o glutamato,

transdesaminação e sofrem diretamente desaminação essencial para o metabolismo intracelular do grupo

oxidativa. amino, é substituído pela L-glutamina.

O destino do NH4 1 produzido por qualquer desses A amônia livre produzida nos tecidos combina-se com

processos de desaminação é discutido em detalhe na o glutamato, produzindo glutamina, pela ação da

Seção 18.2. glutamina-sintetase.

O a-cetoglutarato formado a partir da desaminação do Essa reação requer ATP e ocorre em duas etapas

glutamato pode ser utilizado no ciclo do ácido cítrico e (Figura 18- 8). Inicialmente, o glutamato e o ATP

para a síntese de glicose. reagem para formar ADP e um intermediário g-


glutamil-fosfato, que então reage com a amônia,
produzindo glutamina e fosfato inorgânico.
A glutamato-desidrogenase opera em uma importante
intersecção do metabolismo do carbono e do
nitrogênio. Essa enzima alostérica com seis
subunidades idênticas tem sua atividade influenciada
por um arranjo complicado de moduladores
alostéricos. Os mais bem estudados são o modulador
positivo ADP e o modulador negativo GTP.

DOENÇA: Mutações que alterem o sítio alostérico para


a ligação do GTP ou que causem ativação permanente
ser processada. Nesses tecidos, o nitrogênio amídico é
liberado como íon amônio na mitocôndria, onde a
enzima glutaminase converte glutamina em glutamato
e NH4 1

NH4 1 do intestino e dos rins é transportado no


sangue para o fígado. No fígado, a amônia de todas
essas fontes é utilizada na síntese da ureia. Parte do
glutamato produzido na reação da glutaminase pode
ser adicionalmente processada no fígado pela
glutamato-desidrogenase, liberando mais amônia e
produzindo esqueletos de carbono para utilização
como combustível. Contudo, a maior parte do
glutamato entra em reações de transaminação
necessárias para a biossíntese de aminoácidos e para
outros processos (Capítulo 22).

DOENÇA: Na acidose metabólica (p. 688), há um


aumento do processamento da glutamina pelos rins.
A glutamina é uma forma de transporte não tóxico Nem todo o excesso de NH4 1 assim produzido é
para a amônia; ela normalmente está presente no liberado para a corrente sanguínea ou convertido em
sangue em concentrações muito maiores que os ureia; parte é excretado diretamente na urina. No rim,
demais aminoácidos. o NH4 1 forma sais com ácidos metabólicos,

A glutamina também serve como fonte de grupos facilitando sua remoção na urina. O bicarbonato

amino em várias reações biossintéticas. produzido pela descarboxilação do a-cetoglutarato no


ciclo do ácido cítrico também pode funcionar como
A glutamina-sintetase é encontrada em todos os
tampão no plasma sanguíneo. Tomados em conjunto,
organismos, sempre desempenhando um papel
esses efeitos do metabolismo da glutamina no rim
metabólico central. Nos microrganismos, essa enzima
tendem a contrabalançar a acidose.
serve como via de entrada essencial do nitrogênio
fixado em sistemas biológicos.

A ALANINA TRANSPORTA A AMÔNIA DOS MÚSCULOS


ESQUELÉTICOS PARA O FÍGADO

 Ciclo da glicose- -alanina


Na maioria dos animais terrestres, a glutamina que
excede as necessidades de biossíntese é transportada
pelo sangue para o intestino, o fígado e os rins, para
No músculo e em alguns outros tecidos que degradam gliconeogênese é assim imposto ao fígado e não ao
aminoácidos como combustível, os grupos amino são músculo, e todo o ATP disponível no músculo é
coletados na forma de glutamato, por transaminação destinado à contração muscular.

O glutamato pode ser convertido em glutamina para


transporte ao fígado, como descrito anteriormente, ou
pode transferir seu grupo a-amino para o piruvato,
produto da glicólise muscular facilmente disponível,
pela ação da alanina-aminotransferase

A alanina assim produzida passa para o sangue e


segue para o fígado. No citosol dos hepatócitos, a
alanina- -aminotransferase transfere o grupo amino da
alanina para o a-cetoglutarato, formando piruvato e
glutamato. O glutamato então entra na mitocôndria,
onde a reação da glutamato-desidrogenase libera NH4
1 ou sofre transaminação com o oxaloacetato para
formar aspartato, outro doador de nitrogênio para a
DOENÇA: Os estágios finais da intoxicação por amônia
síntese de ureia
em humanos são caracterizados por indução de um
estado de coma, acompanhado por edema cerebral
(aumento no conteúdo de água do cérebro) e
A utilização de alanina para o transporte da amônia
aumento da pressão intracraniana, de modo que
dos músculos esqueléticos para o fígado é outro
pesquisas e especulações em torno da intoxicação por
exemplo da economia intrínseca dos organismos
amônia têm sido focalizadas nesse tecido
vivos.

A amônia facilmente cruza a barreira


Os músculos esqueléticos em contração vigorosa
hematoencefálica, de modo que qualquer condição
operam anaerobiamente, produzindo piruvato e
que aumente os níveis de amônia na circulação
lactato pela glicólise, assim como amônia pela
sanguínea também exporá o cérebro a altas
degradação proteica. De algum modo, esses produtos
concentrações. Os danos causados pela toxicidade do
devem chegar ao fígado, onde o piruvato e o lactato
amônio incluem perda de neurônios, alteração na
são incorporados na glicose, que volta aos músculos, e
formação de sinapses e deficiência geral no
a amônia é convertida em ureia para excreção.
metabolismo energético celular

A remoção do excesso de amônia presente no citosol


O ciclo da glicose-alanina, em conjunto com o ciclo de requer a aminação redutora do a-cetoglutarato a
Cori, realiza essa operação. O custo energético da glutamato pela glutamato-desidrogenase (no sentido
inverso da reação descrita anteriormente; e a animais terrestres é ureotélica e excreta o
conversão de glutamato em glutamina pela glutamina- nitrogênio amínico na forma de ureia; aves e
sintetase. Ambas as enzimas estão presentes em répteis são uricotélicos, excretando o nitrogênio
níveis altos no cérebro, embora a reação da amínico como ácido úrico. As plantas reciclam
glutamina-sintetase seja quase certamente a via mais praticamente todos os grupos amino, e a excreção
importante para a remoção da amônia. Altos níveis de de nitrogênio ocorre apenas em circunstâncias
NH4 1 levam a um aumento nos níveis de glutamina, muito incomuns.
que atua como soluto osmoticamente ativo (osmólito)  Nos organismos ureotélicos, a amônia depositada
nos astrócitos do cérebro, os quais são células do na mitocôndria dos hepatócitos é convertida em
sistema nervoso em forma de estrela, que fornecem ureia no ciclo da ureia
nutrientes, suporte e isolamento elétrico para os  A produção de ureia ocorre quase exclusivamente
neurônios no fígado, sendo o destino da maior parte da
amônia canalizada para esse órgão. A ureia passa
para a circulação sanguínea e chega aos rins,
sendo excretada na urina. A produção de ureia é
agora o foco desta discussão.

A UREIA É PRODUZIDA A PARTIR DA AMÔNIA POR


MEIO DE CINCO ETAPAS ENZIMÁTICAS

 O primeiro grupo amino que entra no ciclo da


ureia é derivado da amônia na matriz mitocondrial
– a maior parte desse NH4 1 é fornecida pelas vias
descritas anteriormente.
 O fígado também recebe parte da amônia pela
EXCREÇÃO DE NITROGÊNIO
veia porta, sendo essa amônia produzida no
E CICLO DA UREIA intestino pela oxidação bacteriana de
aminoácidos. Qualquer que seja sua fonte, o NH4
 Se não forem reutilizados para a síntese de novos 1 presente na mitocôndria hepática é utilizado
aminoácidos ou de outros produtos nitrogenados, imediatamente, juntamente com o CO2 (como
os grupos amino são canalizados em um único HCO3 2) produzido pela respiração mitocondrial,
produto final de excreção para formar carbamoil-fosfato na matriz (Figura
 A maioria das espécies aquáticas, como os peixes 18-11a; ver também Figura 18-10).
ósseos, é amoniotélica e excreta o nitrogênio  Essa reação é dependente de ATP, sendo
amínico como amônia. A amônia tóxica é catalisada pela carbamoil-fosfato-sintetase I,
simplesmente diluída na água do ambiente. Os enzima regulatória (ver a seguir). A forma
animais terrestres necessitam de vias para a mitocondrial da enzima é diferente da forma
excreção do nitrogênio que minimizem a citosólica (II), a qual tem uma função distinta na
toxicidade e a perda de água. A maior parte dos biossíntese das pirimidinas (Capítulo 22).
 O carbamoil-fosfato, que funciona como doador Esse passo é a única reação reversível do ciclo da
ativado de grupos carbamoila, entra no ciclo da ureia.
ureia.
 O ciclo tem apenas quatro etapas enzimáticas.  Na última etapa do ciclo (etapa ➍), a enzima
 Primeiro, o carbamoil- -fosfato doa seu grupo citosólica arginase cliva a arginina, produzindo
carbamoila para a ornitina, formando citrulina, ureia e ornitina. A ornitina é transportada para a
com a liberação de Pi mitocôndria para iniciar outra volta do ciclo da
ureia.
 A reação é catalisada pela ornitina-
transcarbamoilase. A ornitina não é um dos 20  No ciclo da ureia, as enzimas mitocondriais e
aminoácidos encontrados nas proteínas, mas é um citosólicas parecem estar agrupadas dessa
intermediário-chave no metabolismo do forma(com o produto de uma reação enzimática
nitrogênio. Ela é sintetizada a partir do glutamato, sendo canalizado diretamente para a próxima
em uma via com cinco etapas, descrita no Capítulo enzima da via). A citrulina transportada para fora
22. A ornitina desempenha um papel que se da mitocôndria não é diluída no conjunto geral de
assemelha àquele do oxaloacetato no ciclo do metabólitos no citosol, mas passa diretamente
ácido cítrico, aceitando material a cada volta do para o sítio ativo da arginino-succinato-sintetase.
ciclo da ureia. Essa canalização entre enzimas continua para o
arginino-succinato, a arginina e a ornitina. Apenas
 A citrulina produzida no primeiro passo do ciclo da a ureia é liberada para o conjunto geral de
ureia passa da mitocôndria para o citosol. Os metabólitos no citosol.
próximos dois passos trazem o segundo grupo
amino.

 A fonte é o aspartato produzido na mitocôndria OS CICLOS DO ÁCIDO CÍTRICO E DA UREIA PODEM


por transaminação e transportado para o citosol. SER LIGADOS
A reação de condensação entre o grupo amino do
aspartato e o grupo ureido (carbonila) da citrulina Uma vez que o fumarato produzido na reação da

forma arginino-succinato (etapa ➋ na Figura 18- arginino- -succinase também é um intermediário

10). Essa reação citosólica, catalisada pela do ciclo do ácido cítrico, os ciclos estão, a

arginino-succinato-sintetase, requer ATP e ocorre princípio, interconectados – em processo

via um intermediário citrulil-AMP apelidado de “bicicleta de Krebs” (Figura 18-12).

 O arginino-succinato é então clivado pela arginino- Contudo, cada ciclo opera independentemente e a

succinase (etapa ➌ na Figura 18-10), formando comunicação entre eles depende do transporte de

arginina e fumarato; este último é convertido em intermediários- -chave entre a mitocôndria e o

malato e a seguir entra na mitocôndria para unir- citosol.

se aos intermediários do ciclo do ácido cítrico.


Os principais transportadores na membrana traz o NADH na forma de equivalentes redutores
interna da mitocôndria incluem o transportador para dentro da mitocôndria.
malato-a-cetoglutarato, o transportador O NADH produzido pela glicólise, pela oxidação de
glutamato-aspartato e o transportador glutamato- ácidos graxos e em outros processos não pode ser
OH-. transportado através da membrana mitocondrial
Juntos, esses transportadores facilitam o interna. Contudo, equivalentes redutores podem
movimento do malato e do glutamato para dentro entrar na mitocôndria pela conversão de aspartato
da matriz mitocondrial e o movimento do em oxaloacetato no citosol e utilizando o NADH
aspartato e do a-cetoglutarato para fora da para reduzir o oxaloacetato a malato, o qual é
mitocôndria, rumo ao citosol. então transportado para a matriz mitocondrial via
transportador malato-a- -cetoglutarato.
Diversas enzimas do ciclo do ácido cítrico,
incluindo a fumarase (fumarato-hidratase) e a Uma vez dentro da mitocôndria, o malato pode
malato-desidrogenase, também estão presentes ser convertido novamente em oxaloacetato, ao
como isoenzimas no citosol. mesmo tempo em que gera NADH.

O fumarato pode ser convertido em malato no O oxaloacetato é convertido em aspartato na


citosol, e depois esses intermediários podem ser matriz e transportado para fora da mitocôndria
metabolizados no citosol ou o malato pode ser pelo transportador aspartato-glutamato.
transportado para o interior da mitocôndria, para
utilização no ciclo do ácido cítrico. Essa lançadeira de elétrons malato-aspartato
completa novo ciclo, que funciona mantendo a
O aspartato formado na mitocôndria por mitocôndria com suprimento de NADH (ver Figura
transaminação entre o oxaloacetato e o glutamato 19-31).
pode ser transportado para o citosol, onde atua
como doador de nitrogênio na reação do ciclo da
Esses processos exigem que as concentrações de
ureia catalisada pela arginino-succinato-sintetase.
glutamato e aspartato sejam mantidas em equilíbrio
no citosol.
Essas reações, que constituem a lançadeira
aspartato-arginino-succinato, fornecem elos
metabólicos entre essas vias separadas, pelos A enzima que transfere grupos amino entre esses dois
quais os grupos amino e os esqueletos de carbono aminoácidos-chave é a aspartato-aminotransferase,
dos aminoácidos são processados. AST (também chamada transaminase glutâmico-
oxalacética, TGO). Essa enzima está entre as mais
ativas enzimas nos hepatócitos e em outros tecidos.
Os ciclos da ureia e do ácido cítrico estão
fortemente unidos a um processo adicional, que
Quando ocorre lesão tecidual, essa enzima e outras
vazam para a circulação sanguínea.

Assim, a avaliação dos níveis sanguíneos de enzimas


hepáticas é importante para o diagnóstico de várias
condições médicas transcarbamoilase, arginino-
succinato-sintetase e de arginino-succinase.

Muitos desses tratamentos devem ser acompanhados


por controle dietético rígido e suplementação de
aminoácidos essenciais.

Nos raros casos de deficiência de arginase, a arginina,


substrato da enzima defeituosa, deve ser suprimida da
dieta

REGULAÇÃO DA SÍNTESE DA UREIA

Analisando o ciclo da ureia isoladamente, percebe-se


que a síntese de uma molécula de ureia requer a
hidrólise de quatro ligações fosfato ricas em energia
(Figura 18-10). Duas moléculas de ATP são necessárias
na formação do carbamoil-fosfato e um ATP para
produzir arginino-succinato – este último ATP sendo
clivado em AMP e PPi, que é hidrolisado em 2
PContudo, esse aparente custo é reduzido pelas
interconexões detalhadas acima. O fumarato, gerado
pelo ciclo da ureia, é convertido em malato e este
transportado para dentro da mitocôndria (Figura 18-
12). Dentro da matriz mitocondrial, NADH é gerado na
reação da malato desidrogenase.

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