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G uará Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) ISSN 1413-571X

EDiTORA

Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 - R$ 12,00

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Índice
Clínica médica - 33
Carla R. G. R. Santos

Hipertensão arterial sistêmica em felinos domésticos:


revisão da literatura
Systemic hypertension in domestic felines: a literature review
Hipertensión arterial sistémica en felinos domésticos: revisión de literatura

Região plantar do membro posterior Clínica médica - 42


para detecção do pulso arterial
Obesidade felina - revisão
Feline obesity - a review
Obesidad felina - revisión
Alexandre Mazzanti

Neurologia - 52
Meningoencefalomielite granulomatosa em cães
Granulomatous meningoencephalomyelitis in dogs

Roberto Silveira Fecchio


Meningoencefalomielitis granulomatosa en perros

Animais silvestres - 59
Artrodese de joelho em cachorro-do-mato-vinagre
Meningoencefalomielite granulo- (Speothos venaticus)
matosa. Inclinação da cabeça para Arthrodesis of the knee in Bush dog (Speothos venaticus)
o lado direito Artrodesis de rodilla en zorro vinagre (Speothos venaticus)
Alessandra Roll

Cirurgia - 64
Adrenalectomia para tratamento de tumor ou hiperplasia Espécime de cachorro-do-mato-
adrenal em furões (Mustela putorius furo): relato de nove vinagre
casos (2003-2004)
Adrenalectomy as treatment for tumor or adrenal hyperplasia in ferrets (Mustela putorius
furo): nine case reports (2003-2004)
Alopecia total, em furão com Adrenalectomia para tratamiento de tumor o hiperplasia adrenal en hurones (Mustela
doença de adrenal em estágio putorius furo): relato
avançado
Clínica médica - 68
Papel dos fármacos na função tireoidiana em cães
Diogo Benchimol de Souza

Drug effects on canine thyroid function


Papel de los fármacos en la función tiroidea en los perros

Cirurgia - 78
Hérnia perineal em cães - revisão de literatura
Perineal hernia in dogs - a review
Hernia perineal en perros - revisión de literatura
Hérnia perineal. Aumento de vo-
lume na região perineal direita de
cão macho

Editorial - 5
Seções • Odontologia e felinos atraíram grande Entrevista - 92
público ao Guarujá 26 Escusa de consciência, direito garantido
Opinião - 6 • Felinos têm destaque na 7ª Conferência
Sul-Americana de Medicina Veterinária 28 Gestão, marketing e
Cartas - 10 estratégia - 94
Reportagem - 12 O monge e o clínico veterinário
Saúde pública - 30
Tamanduás-bandeira e sua vulnerabilidade Livros - 98
Notícias - 16 • Inseticida natural contra dengue
Lançamentos - 100
• Leishmaniose: prevalência preocupante
• Laboratório na mata 16
• Fundação Vanzolini certifica Parque
em PE
Negócios e
Zoológico de São Paulo 18 oportunidades - 102
• A ciência da liderança 20 Ecologia - 88 Ofertas de produtos e equipamentos
• Nova diretoria da ABRV 20
• Laboratório Biovet comemora meio século
Códigos de Conduta Voluntários são cria- Serviços e
dos para barrar a introdução de espécies
de atividades em favor da saúde animal 22
exóticas invasoras especialidades - 102
• Fort Dodge investe em divulgação Prestadores de serviços para
técnico-científica 22
• Clínica Veterinária Santo Agostinho Bem-estar animal - 90 clínicos veterinários
completa 25 anos 24 WSPA, Prefeitura de Parintins e Ibama Agenda - 111
• Koala Hospital Animal inaugurou serviço inauguraram centro para tratar animais no
24h de tomografia computadorizada 24 Amazonas

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 3


Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra)
CONSULTORES CIENTÍFICOS
SCIENTIFIC COUNCIL

Journal of continuing education for small animal veterinarians


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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
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considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).
Fernando C. Maiorino Luciana Torres Nilson R. Benites William G. Vale
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4 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Editorial
B iodiversidade, talvez nunca tenha se falado tanto dela. A Organização das
Nações Unidas (ONU) institui a data de 22 de maio como "Dia Internacional
da Diversidade Biológica". A biodiversidade ou diversidade biológica é fun-
damental para manutenção do equilíbrio ecológico. A sua conservação ou degra-
dação gera impactos em diversos setores, dentre eles o social, o cultural, o econômi-
co e o científico. Infelizmente, ela está ameaçada. De acordo com as estimações
mais recentes, tendo em conta as taxas atuais de desmatamentos, assistiremos à
extinção de 2% a 8% das espécies vivas nos próximos 25 anos. Segundo o Fundo
Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil tem a maior taxa de desmatamento do mundo.
Todos os anos, aproximadamente 18.200 km2 da floresta Amazônica são desmatados, de
acordo com relatório elaborado, entre 1995 e 1996, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e
pelo Ibama. Como conseqüência, há redução da biodiversidade, aumento da erosão e comprometimento dos
cursos d’água.
No planeta Terra, em toda a sua história evolutiva, várias espécies foram extintas naturalmente. Porém, hoje,
devido às atividades humanas, tanto as espécies quanto os ecossistemas são objetos das mais graves ameaças.
As drásticas mudanças climáticas não são acontecimento futuro. Elas já estão ocorrendo e evoluem em veloci-
dade acelerada. Grande elemento catalisador desse processo é a ganância do ser humano. Basta constatar
algumas manchetes veiculadas em 2007: "Com autorização do governo, fornos queimam a floresta no PI",
"Pesquisadores alertam para a matança de botos na Amazônia", "CTNBio não permite presença da sociedade
civil e encerra reunião", entre muitas outras. São bastante preocupantes as que alertam sobre o misterioso
desaparecimento de milhões de abelhas nos EUA e na Alemanha. Nos EUA, meio milhão de colônias já foram
perdidas. Segundo especialistas da Universidade de Cornell, as abelhas geram mais de US$ 14 bilhões, poli-
nizando plantas responsáveis por frutas e legumes, amendoeiras e forrageiras. A causa desse desequi-
líbrio nas colônias de abelhas ainda não foi identificada, mas herbicidas e organismos geneticamente
modificados (OGMs), como o milho transgênico, fazem parte da lista de suspeitos.
No Brasil, a CTNBio, órgão que tem dado andamento às liberações de OGMs, tem sido critica-
da por cientistas e pelo próprio Ministério Público por não agir com transparência e por não seguir
condutas preconizadas pela própria Constituição. Enquanto isso, na Suíça, foi realizado refe-
Símbolo concebido
rendo sobre o banimento de cinco anos às plantações de grãos geneticamente modificados, no para identificar
qual 55,7% do eleitorado votou a favor da proibição. No Brasil tem sido bem diferente, pois se produtos com
presença de OGMs
faz de tudo para aprovar às escondidas os OGMs. Além disso, com exceção do que ocorre no
Estado do Paraná, não se cumpre a lei que determina que todos os produtos que contêm ingredientes trans-
gênicos sejam identificados conforme padronização, a qual permite que o consumidor identifique a presença
dos OGMs nos produtos. O que os OGMs têm de ruim que a sociedade não pode saber?
Os médicos veterinários, potenciais agentes de saúde pública, independentemente de serem servidores
públicos ou clínicos de pequenos animais, são importantes formadores de opinião e devem aproveitar os
momentos oportunos para alertarem seus clientes, amigos e familiares sobre questões de segurança alimentar,
como os riscos dos OGMs e a necessidade de promover o consumo consciente. O açúcar refinado conven-
cional, por exemplo, utiliza as queimadas como sistema de colheita, queimando, juntamente com a cana-de-
açúcar, diversos animais, como tamanduás-bandeira. O açúcar orgânico, por sua vez, não utiliza as queima-
das na colheita, preservando o meio ambiente e a fauna.
O dia 22 de maio não é uma data para ser comemorada e sim para ser lembrada o ano inteiro, por meio
de gestos que preservem realmente a biodiversidade, garantindo o equilíbrio dos ecossistemas e a perpetuação
da vida na Terra. Inclusive gestos simples, como incentivar e praticar a separação do lixo.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 5


Opinião

Uma revolução silenciosa na


clínica de pequenos animais
Pedro Nunes Caldas, MV - Veterinária Bom Pastor, São Gonçalo, RJ

E m pleno começo do século 21 a clíni-


ca de pequenos animais, embora com
muitos avanços, ainda padece de muitos
pet shops com pequenos consultórios
onde muitos profissionais são submetidos
a horas de trabalho, na maioria das vezes
O desenvolvimento das especialidades
deram uma enorme contribuição. A inter-
dependência entre os profissionais fize-
males decorrentes do subdesenvolvimento dando orientaçãozinha para compradores ram-nos mais cordiais e mais éticos,
do nosso país. de ração e outros produtos, mas sem valor forçando-nos a discutir casos clínicos,
Na década de 70, nos grandes centros agregado aos seus proventos. A medicina com outros colegas, a comparar resulta-
urbanos surgiram algumas clínicas, que veterinária popularizou-se, todas as cama- dos, e a encaminhar pacientes a outros
deram início aos modernos tratamentos das da população passaram a ter acesso a profissionais mais capacitados. Demos
clínicos e cirúrgicos que conhecemos hoje produtos e serviços veterinários; entretan- um salto de qualidade nos diagnósticos
na clínica veterinária; evidentemente que to, os profissionais oriundos das faculda- laboratoriais e por imagem, nos tratamen-
muitas universidades deram uma imensa des, premidos pela urgente necessidade tos cirúrgicos, nas diversas especialidades
contribuição. em produzir renda não dão continuidade clínicas, tais como: ortopedia, fisioterapia,
Técnicas modernas, literatura atualiza- nos estudos e atualizações, gerando com acupuntura, endocrinologia, dermatolo-
da, cursos de mestrado e doutorado, con- isso profissionais com pouca ou nenhuma gia, cardiologia, neurologia. Na parte de
gressos nacionais e internacionais, muitos experiência. Isso coloca em risco não só a higiene e embelezamento como avança-
profissionais indo ao exterior se espe- vida de muitos pacientes que procuram mos; bem como na psicologia compreen-
cializar, foram aos poucos contribuindo nossos serviços, como deprecia nossa dendo as doenças psicogênicas e melho-
para a moderna medicina veterinária que profissão, assim como coloca a população rando o comportamento animal. Conta-
temos hoje. No início da década de 90, numa retaguarda a nos enxergar com certa mos com diversos cursos de atualização e
houve uma explosão de faculdades de desconfiança. especialização. Palestras de educação
medicina veterinária. Além das públicas Já faz tempo que o veterinário do faz continuada são oferecidas por diversas
existentes, surgiram as particulares, que tudo vem desaparecendo. As doenças nos entidades, congressos nacionais e interna-
de certa maneira foram mais condescen- animais sempre foram e sempre serão de cionais.
dentes com estudantes de duvidoso uma complexidade muito grande. Quando Num mundo globalizado, competitivo,
preparo, que encontraram certa facilidade os diagnósticos começaram a ser mais com informações velozes, onde a internet
em matricular-se nestas faculdades, con- precisos e confiáveis, também o tratamen- é a maior aliada do povo, não haverá mais
tando inclusive com facilidade no proces- to se tornou mas complexo. A imagem do espaços para amadores. Temos que ser
so de transferência de uma para outra. cliente mal informado, sem consciência extremamente profissionais. Essa é a
Somente no Estado do Rio de Janeiro, um do que é a verdadeira medicina veterinária exigência do mercado.
estado pequeno, durante a década de 90 que chega num balcão de pet shops ou Quem não estiver em perfeita sintonia
até 2000 foram autorizadas a funcionar casa de ração e consegue uma consulta com tudo que está ocorrendo entre nós em
mais de 10 faculdades. virtual, telepática levando uma receita ou termos de avanços; quem não entender os
Embora constatemos um grande mesmo os medicamentos, precisa desa- modernos instrumentos tecnológicos
avanço no aspecto tecnológico na clínica parecer do nosso convívio diário. colocados a nossa disposição; quem não
de pequenos, verificamos que o ensino A ética entre nós; como evoluiu! O pautar seu trabalho nos princípios do co-
caiu muito em qualidade, não só nas par- próprio avanço da medicina veterinária nhecimento, qualidade eficiência, trans-
ticulares como também nas públicas. contribuiu para um padrão de comporta- parência e bom atendimento ao cliente,
Assistimos a uma verdadeira explosão de mento mais elevado entre os profissionais. estará inexoravelmente fora do mercado.
Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda.,
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etc. serão respondidos conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade.

Comunidade Científica critica falta de regras claras na CTNBio


Por meio de Carta Aberta à comunidade científica e à CTNBio, professores de políticas públicas da Universidade de São
Paulo lamentam e solicitam providências sobre a não definição de regras para a liberação de transgênicos, por parte da
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Reivindicam abordagem cuidadosa e transparente por tratar-se de tema que
envolve riscos de vida e ameaça à biossegurança nacional. Ainda alegam na Carta que, se os equívocos quanto à falta de
regras não forem corrigidos, isso significará “uma ameaça de violação à Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar
Mundial, de 1996, e à Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica de 1992, das quais o Brasil é signatário”.
Carta aberta à comunidade científica e ao 7. Quais são as garantias que o Conselho de degradação do meio ambiente, estudo prévio de
CNTBio Biossegurança pode dar à população a respei- impacto ambiental, a que se dará publicidade;
Vimos a público solicitar providências com to do cumprimento das normas de segurança • V - controlar a produção, a comercialização
relação à falta de definição de regras claras alimentar (Convenção de Roma)? e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
para liberação de sementes transgênicas para 8. Qual é a responsabilidade de cada um dos que comportem risco para a vida, a qualidade
o uso comercial. Ao contrário das liberações membros da Comissão ou das entidades que de vida e o meio ambiente;
restritas para estudo científico - que têm pauta- representam sobre suas decisões? O artigo 225, no parágrafo 3, estabelece
do o trabalho do Conselho até aqui -, a libera- Ao nosso ver, do ponto de vista legal, a falta ainda que as condutas e atividades considera-
ção para uso comercial pode ter conseqüências de definição de regras, procedimentos e res- das lesivas ao meio ambiente sujeitarão os in-
irreversíveis se feita sem os devidos estudos de ponsabilidades significa uma ameaça de vio- fratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
impacto e riscos e sem a definição de medidas de lação à Declaração de Roma sobre a Seguran- penais e administrativas, independentemente
segurança. ça Alimentar Mundial, de 1996, e à Convenção da obrigação de reparar os danos causados.
Portanto, é do interesse público que esse das Nações Unidas sobre a Diversidade Bio- Por fim, cabe dizer que é característico do
tema seja abordado da forma mais cuidadosa e lógica de 1992, das quais o Brasil é signatário. regime tecnocrata a impermeabilização do
transparente possível, mediante a exigência de Por outro lado, há graves ameaças de violação governo para a tomada de decisões pouco po-
estudos e exposição clara e objetiva dos méto- a direitos constitucionais consagrados, a saber: pulares. Ao não se alinhar com os interesses
dos de avaliação de risco, medidas de segu- • ao direito à dignidade da pessoa humana republicanos, tende-se ao esvaziamento da
rança e a definição de responsabilidades le- (Art. 1º , inciso III) função pública e da política, enfraquecendo
gais. A presidência do Conselho de Biossegu- • ao Princípio da “cooperação entre os povos severamente a democracia ao apartar os an-
rança tem utilizado reiteradas vezes o argu- para o progresso da humanidade“ que rege as seios e demandas da sociedade civil plenamen-
mento da autoridade científica dos membros relações internacionais da República Federa- te apoiadas no Estado de Direito. Entendemos
como garantia da legitimidade das decisões. tiva do Brasil (Art. 4º, inciso IX), devido ao que o sistema democrático se pauta pela
Como cientistas, sabemos que a ciência descumprimento dos tratados nos quais o participação dos cidadãos nos temas públicos
preza a exigência de métodos e procedimentos Brasil é signatário. que os afetam, que devem ser tratados com trans-
claros e, no caso de organismos vivos, a neces- • ao direito à saúde e à segurança (Art. 6º) parência, responsabilidade e ética adequados.
sidade de procedimentos éticos adequados. No • Desrespeito aos princípios da ordem econômi- Como professores de Políticas Públicas da
sentido de contribuir para o esclarecimento da ca, contidos no caput e incisos V e VI do Art. 170: Universidade de São Paulo, membros da co-
comunidade científica e atendendo ao interesse - A ordem econômica tem como fim assegurar munidade científica brasileira e cidadãos de
público de promover o acesso a informações uma existência digna a todos (caput) uma sociedade pautada por valores democrá-
que devem ser de caráter público, rogamos que - o princípio da defesa do Consumidor (V) ticos e republicanos, solicitamos uma posição
o Conselho de Biossegurança responda publi- - o princípio da defesa do meio ambiente, clara e pública das entidades envolvidas.
camente e com clareza as seguintes perguntas: mediante tratamento diferenciado conforme o Assinam: prof. dr. Alessandro Soares da
1. Quais são os estudos realizados e refe- impacto ambiental dos produtos e serviços e de Silva, profa. dra. Cristiane Kerches; prof. dr.
rendados pela comunidade científica para a seus processos de elaboração e prestação (VI) Fernando de A. Coellho, profa. dra. Flávia
liberação de cada espécie de semente trans- Desrespeito ao artigo 225, que estabelece Mori Sarti Machado, profa. dra. Graziela S.
gênica? que: Perosa, prof. dr. Jaime Crozzati, prof. dr. Jorge
2. Quais são os critérios e métodos para a ava- • Todos têm direito ao meio ambiente ecologi- Alberto S. Machado, prof. dr. José Carlos Vaz,
liação de uma solicitação? camente equilibrado, bem de uso comum do prof. dr. José Renato de Campos Araújo, prof.
3. Quais seriam os tipos de medidas de se- povo e essencial à sadia qualidade de vida, dr. Manuel Cabral de Castro, prof. dr. Marcelo
gurança indicadas no caso de aprovação? impondo-se ao Poder Público e à coletividade Nerling, profa. dra. Maria Cristina Pompa,
4. Quais são as medidas preventivas a serem o dever de defendê-lo e preservá-lo para as profa. dra. Marta Maria Assumpção Rodri-
adotadas para evitar contaminação de cultiva- presentes e futuras gerações. gues, prof. dr. Pablo Ortellado, prof. dr. Wagner
res naturais com sementes geneticamente mo- A Constituição deixa claro ainda que Iglesias e profa. dra.Vivian Urquidi.
dificadas? incumbe ao Poder Público (Art. 225, incisos II,
5. A quem é atribuída a responsabilidade legal, IV e V): São Paulo, 13 de março de 2007
no caso de dano ou contaminação pela libe- • II - preservar a diversidade e a integridade Uma cópia dessa carta foi enviada ao Gabinete da
ração das sementes transgênicas? do patrimônio genético do País; Presidência da República, à Procuradoria Geral da
República do Ministério Público Federal e às presidências
6. Quais são as medidas reparadoras para o • IV - exigir, na forma da lei, para atividade da Câmara do Deputados e do Senado Federal.
caso de contaminação involuntária? potencialmente causadora de significativa Fonte: Terra de Direitos - www.terradedireitos.org.br

10 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Reportagem

Tamanduás-bandeira e sua vulnerabilidade por Arthur Barretto

A
ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) Nacional de Pesquisas para Conserva-

Arthur Barretto
e o mutum-de-Alagoas (Mitu ção dos Xenarthras, a exemplo do
mitu) são aves da fauna brasileira Cenap - Centro Nacional de Pesquisas
que fazem parte da lista do Ibama de ani- para Conservação dos Predadores Natu-
mais extintos na natureza. Logo atrás, rais (www.ibama.gov.br/cenap). Com
classificados como criticamente em peri- a criação do órgão centralizariam-se to-
go, encontram-se diversos primatas não das as pesquisas realizadas com a or-
humanos, como, o muriqui (Brachyteles dem, teria-se espaço físico apropriado
hypoxanthus). O peixe-boi-marinho para manutenção de banco de amostras
(Trichechus manatus) e o tietê-de-coroa biológicas, como banco de sêmen, entre
(Calyptura cristata), são outros dos outros benefícios para o avanço das pes-
muitos exemplos... As causas principais quisas e a conservação das espécies.
dessa situação crítica são sempre as mes-
mas: captura ilegal, ou seja, o tráfico de Projeto Tamanduá
animais silvestres, e o desmatamento Há pouco mais de um ano foi cria- Necessidade de água
compulsivo, que acaba com o hábitat de da a ONG Instituto de Pesquisa e para banhos em recintos
diversos representantes da fauna Conservação de Tamanduás no Bra- para tamanduás-ban-
deira, uma realidade
brasileira. sil - Projeto Tamanduá, que tem de- que precisa ser incluída
O tamanduá-bandeira, Myrmecophaga senvolvido projetos, tanto ex situ no plano de manejo da
tridactyla (Linnaeus, 1758), é encontrado (animais em cativeiro), quanto in situ espécie
Alexandre Corazza Curti em diversos Estados (animais em vida livre).

Flávia Miranda
do Brasil: AC, AM, Ainda é preciso estudar muito sobre os
AP, BA, DF, GO, tamanduás em cativeiro. Uma dieta ba-
MA, MG, MS, MT, lanceada ainda é uma necessidade. "A
PA, PI, PR, RO, RR, ração importada para tamanduás (inse-
RS, SC, SP e TO. tívora) possui alto custo, tornando im-
Porém, apesar dessa praticável o seu uso no Brasil. Por ou-
larga ocorrência no tro lado, temos problemas de deficiên-
território nacional, cia de taurina e vitamina K nos animais
ele está entre as es- em cativeiro", explica Flávia Miranda,
pécies ameaçadas de extinção, fazendo médica veterinária coordenadora do
parte da lista publicada em 2003 pelo
Colheita de sêmen de tamanduá-
Ibama, sendo classificado como espécie bandeira por meio da técnica de
vulnerável. O tamanduaí, Cyclopes eletroejaculação
Flávia Miranda

didactylus, assim como o tamanduá-ban-


deira, é membro da ordem Xenarthra. A
lista do Ibama não cita esta espécie. Po-
rém, na lista vermelha da IUCN-World
Conservation Union (Red list of Avaliação cardíaca, por meio de eletrocardio-
threatened species - www.iucnredlist.org), grama, de tamanduá-mirim. O exame faz parte
constata-se a total falta de dados sobre o da avaliação dos animais cativos no Brasil
Cyclopes didactylus. Comparando a
ausência de dados com a pressão negativa Projeto Tamanduá. A pesquisadora res-
Flávia Miranda

que recebe o bioma no qual habita, facil- salta também os problemas de manejo,
mente pode-se perceber que também é principalmente reprodutivos, em taman-
uma espécie que precisa ser pesquisada e duás-mirim. Por isso, uma das priorida-
tratada com atenção. des do momento é a elaboração de um Tamanduá-bandeira sob anestesia inalatória que,
preferencialmente, deve ser feita com isofluorano
O Ibama criou, há aproximadamente plano de manejo.
um ano, o Comitê de Xenarthra. Por meio Entre as atividades ex situ do Projeto testes sorológicos para diferentes enfer-
dele, especialistas traçam diretrizes para Tamanduá destaca-se a avaliação sani- midades; estudos microbiológicos e mi-
um plano de ação geral voltado a conser- tária dos animais cativos no Brasil. O cológicos; e avaliações hematológicas,
vação das espécies que compõem a projeto agregou mais de 20 pesquisado- cardíacas e reprodutivas (colheita de sê-
ordem: tamanduás, tatus e preguiças. res de diferentes áreas e avaliou mais de men e avaliação citológica das fêmeas).
Porém, maiores avanços seriam obtidos 20 indivíduos, entre tamanduás-bandeira Outra importante atividade foi o desen-
se, além do comitê, fosse criado o Centro e tamanduás-mirim. Foram realizados volvimento de protocolos anestésicos.

12 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Um exemplo das atividades in situ do
Projeto Tamanduá são as pesquisas que
vêm sendo desenvolvidas no Projeto SESC

Divulgação
Pantanal, realizadas na RPPN SESC Pan-
tanal, em Barão do Melgaço, no Pantanal
Matogrossense. "Realizamos campanhas
de captura quinzenal, onde desenvolvemos
metodologia de captura, identificação dos
tamanduás com brincos e microchips,
avaliação sanitária e estudos ecológicos",
explica a médica veterinária Flávia Mi-
randa. Ela ressalta também que, ainda esse

Flávia Miranda
ano, iniciará no Projeto SESC Pantanal o
acompanhamento de alguns indíviduos
por meio de rádio-colar. Além do auxílio
do próprio Sesc Pantanal, o projeto recebe Na Argentina, a ONG The
financiamento da WCS - Wildlife Conservation Land Trust
está promovendo a translo-
Conservation Society (www.wcs.org). cação de tamanduás-ban-
O Projeto Tamanduaí (Cyclopes deira da região do Chaco
didactylus), em execução na Amazônia e para Esteiros de Iberá,
Flávia Miranda

local onde há 50 anos


no Nordeste, em fragmentos da mata Atlân- viviam tamanduás-bandeira
tica, é outro exemplo de ação in situ desen-
volvida pelo Projeto Tamanduá. Ele
recebe auxílio financeiro da WCS e da
IUCN Edentatas (www.iucn.org), fun- O Projeto Tamanduá também está
damental para o desenvolvimento do pro- partipando com consultorias na Argenti-
jeto, que visa pre- na. Na Província de Corrientes, em
servar essa es- Esteiros de Iberá, região semelhante ao
pécie da qual Pantanal brasileiro, os tamanduás-ban-
muito pou- deira foram extintos há mais de 50 anos.
co se sabe. Visando reverter esse quadro, a ONG
Flávia Miranda

The Conservation Land Trust - CLT,


juntamente com diversos pesquisa-
dores, iniciará em agosto de 2007 a
ocupação da região com tamanduás-
Tamanduá-bandeira identificado com
brinco e microchip da Animalltag
bandeira provenientes da Província do
(www.animalltag.com.br). Acima, Chaco. A ONG produz materiais,
Danilo Kluyber

detalhe do brinco colocado Utilização de zarabatana muito úteis para


para contenção química,
na qual se usa a queta- educação am-
mina e o midazolan biental, e infor-
mes técnicos,
Alexandre Martins

como: Manual
Clínico para el
Manejo del Oso
Danilo Kluyber

Hormiguero
Coordenadas da G i g a n t e
captura sendo re- (Myrmecophaga
gistradas no GPS
tridactyla);
Manual de quarentena
Alexandre Martins

Manual de
Necropsias del Oso Hormiguero
Os trabalhos de campo com os tamanduás- Gigante (Myrmecophaga tridactyla);
bandeira em vida livre (in situ) envolvem bio-
metria, observação de ectoparasitas, coleta Manual de Cuarentena del Oso
de material biológico, identificação Hormiguero Gigante (Myrmecophaga
com microchip e brinco tridactyla). Esses manuais sobre ta-
A biometria é feita em todo o ani- manduás-bandeira, todos elaborados
Flávia Miranda

mal. A mensuração da caixa torá- com a contribuição do Projeto Taman-


cica é de extrema importância
para a colocação de aparelho duá, estão disponíveis no site da ONG:
rádio-colar, importante equipa- www.theconservationlandtrust.org.
mento para o acompanhamento in situ

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 13


Reportagem

Projeto Rodovias reunirá o XXXI Congresso Anual da So-

Flávia Miranda
No Brasil, as rodovias são uma grande ciedade de Zoológicos
ameaça para os tamanduás-bandeira. do Brasil - SZB, o XIV
Muitos são atropelados e mortos nas rodo- Congresso Anual da
vias que passam por fragmentos florestais, “Asociación Latinoamericana de Parques
devido à falta de sinalização e de acosta- Zoológicos y Acuários - ALPZA” e o XVI
mento, o que dificulta a visualização do Encontro da Associação
animal. Além disso, os tamanduás-ban- Brasileira de Vete-
deira também são vítimas da superstição. rinários de Ani-
Entre os caminhoneiros, o tamanduá-ban- mais Selvagens -
deira é símbolo de mau agouro, principal- Abravas.
Tamanduaí (Cyclopes didactylus): pequena
mente se ele estiver cruzando a estrada na espécie arboricola, que pesa em média 400g
frente do caminhão. Por isso, alguns pre- Educação ambiental

Flávia Miranda
ferem passar por cima dele do que deixá- Além de toda a pesquisa científica que
lo cruzar a estrada. Flávia Miranda relata vem sendo feita sobre os tamanduás-ban-
que, ao percorrer 36km da Rodovia Trans- deira e os demais membros da ordem
pantaneira, encontrou seis tamanduás- Xenarthra, a educação ambiental com as
bandeira atropelados. Por isso, o Projeto comunidades que têm contato direto com
Rodovias é uma necessidade emergente. os animais é um fator fundamental para a
A idéia inicial proposta pelos membros do manutenção e conservação dos animais
Projeto Tamanduá seria a realização de em seu hábitat natural. Tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla
campanhas educativas em pedágios e pos- O Projeto Tamanduá tem esse impor-
tos selecionados. Infelizmente, é um pro- tante conceito inserido em suas atividades ao mesmo tempo diverte, ensina e nos
jeto que ainda busca parceiros para ser e, dentro do possível, tem incentivado, por leva a refletir sobre uma série de question-
implementado na prática. exemplo, artesanatos com figuras de ta- amentos que fazem parte de nosso cotidi-
manduás-bandeira. ano, mas que com a correria do dia-a-dia
muitas vezes nos passam despercebidos.
Em Brichos encontramos outros per-
Flávia Miranda
Flávia Miranda

sonagens que são um casal de felinos:


professor Jaguar e dona Onça. Munhoz
explica que a escolha do nome Jaguar
foi feita intencionalmente para recupe-
Artesanato produzido por tribo Guarani que é rar o origem tupi-guarani do nome
revendido pelo Projeto Tamanduá com o objeti- jaguar, que é o nosso maior felino.
vo de aumentar a renda das famílias indígenas
A história de Brichos também ga-
Tamanduá-bandeira atropelado na BR-262,
entre Campo Grande e Aquidauana Mensagens de grande repercussao tam- nhou uma versão em livro de histórias
bém são importantes, mas são mais difí- em quadrinhos, já à venda nas livrarias
Informação técnica e científica ceis de serem colocadas em prática. Feliz- de Curitiba e na FNAC. É uma versão
Recentemente a Editora Roca lançou a mente, há outros envolvidos na valoriza- de luxo, em quatro cores, capa-dura e
obra Tratado de Animais Selvagens - Me- ção da fauna brasileira, como é o caso de papel cuchê. “Também estamos investin-
dicina Veterinária. Paulo Munhoz, produtor que colocou em do na distribuição do filme em DVD”,
Divulgação

Nela, Flávia Miran- cartaz, no mês de fevereiro, o filme salienta Paulo Munhoz.
da e Antonio Mes- Brichos (bichos do Brasil), longa- Iniciativas como essa colaboram mui-
sias Costa deixaram metragem infanto-juvenil. Bandeira é o to para a conscientização e a educação
valiosa contribui- nome de um dos personagens. Ele gosta ambiental. Porém, estas também podem
ção sobre a ordem de música, skate, games e esportes. Seu e devem ser praticadas durante uma boa
Xenarthra, incluin- pai, o tamanduá-bandeira Olavo, cultiva conversa, no dia-a-dia do atendi-
do informações so- práticas alternativas como o vegetarianis- mento veterinário.
bre biologia, hábi- mo e a acupuntura. Tales, Jairzinho e
tat, nutrição, com- Bandeira – um jaguar, um quati e um
portamento, repro- tamanduá – fazem parte da surpreendente
dução, contenção física e população da Vila dos Brichos, um lugar
anestesia, entre outras. onde todas as espécies da fauna brasileira
Divulgação

De 27 de maio a coexistem em um universo muito pare-


1º de junho ocorrerá cido com o nosso. Nuanças de
em São Paulo, SP, o humanidade se mesclam com a
evento Todos pela ingenuidade e a sabedoria dos animais,
conservação. Ele criando uma gama de personagens que
Turma principal de Brichos: Bandeira
(tamanduá-bandeira), Tales (jaguar), Jairzinho
(quati) e Dumontzinho (joão-de-barro)
14 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Laboratório na mata por Fábio de Castro

E m estudo publicado em janeiro na re-


vista Science, cientistas do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia
garganta-preta deveria ocorrer entre
10% e 20% das manchas de 1 hectare na
mata contínua. Vamos testar os dados
Nova metodologia de monitoramento
Um dos objetivos da nova pesquisa é
mudar a metodologia para o monitora-
(INPA) e de centros nos Estados Unidos comparando a estimativa da ocorrência mento das aves na mata. O método uti-
concluíram que o tamanho das unidades com a previsão”, explicou o biólogo. lizado no projeto desde 1979 para o
de conservação na Amazônia é mais As principais conclusões da fase estudo da avifauna foi o de redes de
importante do que se pensava: reservas anterior foram que os fragmentos pe- neblina: séries de redes são instaladas
com até 100 hectares perdem metade quenos perdem espécies com muita ra- na floresta, os pássaros capturados são
das espécies de pássaros em até 15 anos. pidez e que, embora o isolamento seja catalogados, identificados com anilhas e
O artigo, cujo autor principal é o relevante, o tamanho da área protegida é soltos em seguida.
biólogo Gonçalo Ferraz, do INPA, foi o muito mais prejudicial. Observou-se Para Gonçalo Ferraz, a nova técnica
último produto do projeto Dinâmica que, de 55 espécies analisadas, metade possibilitará a detecção de mais espé-
Biológica de Fragmentos Florestais não foi afetada pelo isolamento, mas cies, com maior abrangência e mais ra-
(PDBFF), que gerou mais de 400 arti- sofreu a ação da dimensão da área. O pidez. “A amostragem por audição po-
gos, além de 115 teses e dissertações. estudo foi o primeiro a acompanhar de ser mais rápida e eficiente para cer-
Agora, a equipe se prepara para a nova aves em áreas de tamanhos diversos – tos fins. Vamos montar e testar um sis-
fase do trabalho relacionado a pássaros. de 1, 10 e 100 hectares – de mata con- tema de gravação autônomo com o
Os objetivos são testar os dados obtidos, tínua e fragmentada. menor custo possível, combinando equi-
identificar as espécies mais suscetíveis “Pudemos montar um quadro bem pamentos de vários graus de sofistica-
ao isolamento e à redução da área flo- completo, porque os fragmentos, ilha- ção. O sistema será programado para
restal e desenvolver tecnologias para o dos em áreas desmatadas desde a déca- gravar em horários determinados”,
monitoramento das aves na mata, com da de 1970, quando o projeto começou, afirmou.
formas de amostragem mais eficientes. permitiram o monitoramento antes mes- O pesquisador conta que o principal
De acordo com Ferraz, o PDBFF, que mo de as áreas terem sido alteradas. É desafio técnico em relação ao equipa-
é uma parceria entre o INPA e o Instituto um verdadeiro laboratório na mata”, mento será seu isolamento contra a umi-
Smithsonian, dos Estados Unidos, tem o declarou Ferraz. dade. O sistema será composto por mi-
objetivo de quantificar as mudanças no O cientista explica que, até agora, as crofones omnidirecionais e gravadores
ecossistema da floresta tropical na região pesquisas compararam o ritmo de desa- eletrônicos de MP3. “Vamos instalá-los
de Manaus, que ocorrem à medida que a parecimento das espécies nas áreas iso- em caixas impermeáveis e fazer testes.
floresta é fragmentada. A base de dados ladas e na mata contínua de modo geral. Outra dificuldade é que os pássaros
do projeto foi desenvolvida a partir de cen- Na próxima fase, os dados sobre os cantam num período curto do dia e a
tenas de excursões feitas em 23 lo- fragmentos serão comparados com áreas instalação do equipamento num am-
calidades no período de 1979 até 1993. da mata contínua de tamanho semelhante. biente como a floresta amazônica é
“Na primeira fase da pesquisa pre- “É uma forma de dar conta da hete- um verdadeiro quebra-cabeça”, disse.
tendíamos entender a velocidade com rogeneidade da floresta. Quando espé- A nova metodologia poderá ajudar os
que as espécies desaparecem em dife- cies presentes na região estão faltando cientistas a contornar um dos principais
rentes tamanhos de fragmentos flores- num fragmento, é possível que a flores- problemas dos levantamentos: as espé-
tais. O trabalho envolveu uma série de ta não tenha resistido ao isolamento. cies que estão presentes num trecho es-
inovações metodológicas e, ao analisar Mas também há a possibilidade de que tudado, mas não são registradas nos re-
estaticamente a presença das espécies, a espécie já se distribuiu, antes da latórios por falha de detecção.
produzimos uma série de previsões de fragmentação, de forma desigual, segun- “Quando se trabalha com aves no
ocorrência e de probabilidade de extin- do exigências ambientais específicas da Cerrado ou em campos abertos, a
ção. Agora, vamos testar essas previ- mata contínua”, disse o cientista. maior parte dos contatos é visual. Um
sões”, disse Ferraz à Agência FAPESP. A segunda fase da pesquisa envolve binóculo basta. Mas, na Amazônia, o
Os cientistas analisarão gráficos e in- uma equipe de quatro pessoas, incluindo contato é auditivo, o que agrava o pro-
formações obtidas na fase anterior, um engenheiro e três biólogos. “A previ- blema de detecção”, disse o pesquisador
identificando as características das es- são de duração é de dois anos. O proje- do INPA.
pécies mais suscetíveis ao isolamento e to tem apoio da Fapeam (Fundação de
ao tamanho da área. “Fizemos, por exem- Amparo à Pesquisa do Estado do Fonte: Agência FAPESP
plo, a previsão de que o uirapuru-de- Amazonas)”, disse Ferraz. www.agencia.fapesp.br

Torne-se um associado SOS FAUNA e ajude a combater o tráfico de animais silvestres

www.sosfauna.org

16 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Fundação Vanzolini certifica Parque Zoológico de São Paulo
O Parque Zoológico de São Paulo re-
cebeu, no dia 13 de abril, da Fun-
dação Vanzolini, o certificado ISO
do zoológico que passará, a partir de
agora, a não apenas expor os animais,
mas também a mostrar aos visitantes os
14001 de Sistema de Gestão Ambiental. cuidados que devem ser tomados em re-
O título contempla o sistema de visita- lação à preservação do meio ambiente e
ção; a manutenção e exposição de ani- dos recursos naturais, criando uma
mais da fauna silvestre nativa e exótica; nova consciência de proteção do meio
os programas de conservação e reprodu- ambiente”, destacou Bouer. “A certi- Coleta seletiva no Parque Zoológico de São Paulo
ção de espécies silvestres; as pesquisas ficação é o primeiro passo de uma lon-
na área biológica e de educação ambien- ga jornada em busca do contínuo apri-
tal; o gerenciamento e manutenção de moramento do Sistema de Gestão Am-
infra-estrutura; a produção de alimentos biental”, complementou Bouer.
e rações, além do reaproveitamento de As declarações do presidente da Fun-
resíduos. dação Vanzolini foram endossadas pelo
A cerimônia de entrega do certificado, secretário do meio ambiente, que desta-
que aconteceu no próprio Parque Zooló- cou o compromisso assumido pela se-
gico, contou com a presença do presi- cretaria e pelo Zoológico de São
dente da Fundação Vanzolini, prof. Gre- Paulo. A cerimônia também con- Na área livre do
gório Bouer, juntamente com Airton tou com os depoimentos do dire- Parque Zoológico,
Gonzalez, coordenador de certificação tor presidente do Zoológico de além de observar os
recintos dos animais,
da Fundação Vanzolini, além do secre- São Paulo e do secretário da Pre- os visitantes contam
tário do Meio Ambiente, Francisco Gra- feitura Municipal de São Paulo. com a apresentação,
ziano, do diretor-presidente do Zooló- Após as declarações, foi fixada, por monitor treinado,
de peças anatômicas
gico de São Paulo, prof. dr. João Batista junto à porta principal de acesso e de alguns animais vi-
da Cruz e do secretário municipal de ao parque, uma placa com os ter- vos, como pequenos
São Paulo, Eduardo Jorge. mos contidos no certificado emiti- quelônios, num impor-
tante trabalho de edu-
“É uma iniciativa muito importante do pela Fundação Vanzolini. cação ambiental

www.ninarosa.org

18 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


A ciência da liderança Nova diretoria
A tualmente, Marco Antonio Gioso é
professor doutor da Universidade
de São Paulo, conselheiro do World
aplicação da liderança na medicina ve-
terinária e com a falta de abordagem do
tema na profissão, vem se dedicando a
da ABRV
No dia 9 de março, foi eleita a nova
Veterinary Dental Council, vice-presi- ministrar cursos sobre o assunto. diretoria da Associação Brasileira de
dente da SPMV - Sociedade Paulista de Dr. Gioso utiliza algumas perguntas Radiologia Veterinária (ABRV) para o
Medicina Veterinária, presidente da para exemplificar a importância da apli- triênio 2007-2010. Para esta nova fase,
Anclivepa-SP - Associação Nacional de cação dos conceitos de liderança: a diretoria será formada por Edgar
Clínicos Veterinários de Pequenos Ani- - Você sabia que 80% dos problemas Sommer, presidente; Cibele Figueira
mais de São Paulo, assessor ad hoc da têm origem no comportamento das Carvalho, vice-presidente; Roberto
FAPESP, presidente da ABOV – Asso- pessoas, e que apenas 20% são de Villela, tesoureiro e Mariana Filippini,
ciação Brasileira Odontologia Veteriná- origem técnica? secretária.
ria, e consultor do Veterinary Oral - Sua empresa ou equipe não vão bem, e A ABRV tem como objetivo congre-
Health Council. Além disso, possui ex- você sente que poderiam melhorar? gar médicos veterinários interessados
periência na área corporativa, com ênfa- Seria culpa dos seus funcionários ou a em diagnóstico por imagens e em ter-
se em motivação de equipes de voluntá- sua liderança poderia ser melhorada? apias por radiações, promovendo
rios, principalmente nos temas ensino, - Você sabe motivar seus colaboradores palestras, cursos e congressos nacionais
associativismo, organização de eventos, (diretores, gerentes, supervisores, ven- e internacionais. Além disso, também
motivação de grupos corporativos, e dedores, funcionários)? Existe algum visa estabelecer relacionamento pro-
também cursa MBA em Gestão de Pes- segredinho? fissional e cultural com outras entida-
soas e Recursos na USP. - Você já ouviu falar em liderança servi- des associativas veterinárias, e com
Preocupado com a importância da dora? Seu grupo teria como usá-la? outras profissões ligadas à medicina ve-
- Como decifrar as pessoas e conseguir terinária.
que elas façam o que precisa ser feito?
- Como você se definiria? Líder auto- ABRV: www.abrv.com.br
crático, democrático, burocrático ou livre?
O curso transmite aos participantes
os princípios de relacionamento, de
modo a identificar papéis e característi-
cas comportamentais das pessoas, ca-
racterizando os elementos técnicos que
interferem na produtividade da equipe e
da motivação.

Marco A. Gioso Da esquerda para a direita: Roberto Villela, Ma-


Prof. dr. Marco Antonio Gioso maggioso@usp.br riana Filippini, Cibele Carvalho e Edgar Sommer

20 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Laboratório Biovet comemora meio século de
atividades em favor da saúde animal
“Quando a qualidade é tradição, a Durante o evento, o administrador de modelo em gestão de pessoas.
marca é sempre a mesma”, já afirmava empresas e presidente do Biovet, dr. Nesse quesito, o colaborador com
o médico veterinário dr. René Corrêa, Paulo, destacou o extraordinário desem- mais anos de trabalho dedicados à em-
fundador da empresa, hoje comandada penho do Laboratório em toda a sua exis- presa, José Domingues de Ramos Filho,
pelos seus filhos, Paulo Eduardo Alves tência, ressaltando o expressivo cresci- representando os demais funcionários,
Corrêa e Antônio Roberto Alves Corrêa. mento de 40% em seu faturamento, no teceu o seguinte comentário durante o
No dia 21 de março, diretoria e funcio- mais recente exercício fiscal (2006). evento: "O Laboratório Biovet tem o
nários do Laboratório Biovet irmanaram- Esse número deve ser atribuído ao respeito de seus colaboradores porque
se numa cerimônia para o público inter- trabalho de toda a equipe ao longo do se preocupa com a segurança do traba-
no. Foi a abertura das festividades relati- tempo. Um esforço hercúleo empreen- lho e a qualidade de vida, oferecendo
vas ao meio século de operações da em- dido num país com pouca tradição em clareza de papéis e responsabilidades à
presa, fundada em 1957. pesquisa. O resultado, hoje, é o reco- sua equipe", disse o responsável pelo
nhecimento do mercado veterinário controle de qualidade do laboratório.
quanto à qualidade dos produtos e servi- Não é para menos. Em seu portfólio,
ços disponibilizados pelo Biovet. o Biovet oferece hoje mais de cem pro-
Prova desse êxito é o market share do dutos, sendo que, até o final do ano, ou-
Laboratório Biovet, além de outros indi- tras novidades deverão ser apresentadas
cadores significativos, como a presença graças ao trabalho incessante do setor
destacada no ranking elaborado pela re- de pesquisa e desenvolvimento, sob a
vista Globo Rural, ou o fato de estar lis- responsabilidade do médico veterinário
tada entre as 100 empresas emergentes dr. Roberto Corrêa, vice-presidente da
de maior crescimento no Brasil, confor- empresa. "Mais do que investir em
A comemoração dos 50 anos do Laboratório
me pesquisa independente assinada pela tecnologia, é preciso contar com pes-
Biovet reuniu 300 funcionários na sede da consultoria Delloitte. O laboratório soas competentes para gerar inova-
empresa, em Vargem Grande Paulista (SP) brasileiro também é apontado como ções", ressaltou dr. Roberto.

Fort Dodge investe em divulgação técnico-científica


Durante o mês de abril, a Fort Dodge à realidade brasileira. Por exemplo, a Leptospirose
promoveu o Simpósio Internacional definição de protocolos de vacinação O resultado dos novos levantamentos
Fort Dodge 2007. O evento ocorreu nas individualizados, de acordo com os há- da casuística da leptospirose canina no
cidades de Porto Alegre, São Paulo, bitos e estilos de vida de cada cão ou Brasil, realizados pela Fort Dodge Saú-
Campinas, Rio de Janeiro e Belo Hori- gato e de seus proprietários, e da área de Animal junto a Centros de Controle
zonte, e abordou os protocolos de vaci- que habitam, incluindo suas condições de Zoonoses (CCZs), especialistas e la-
nação de animais de companhia. ambientais. boratórios, apontaram um surpreenden-
Para abordar o tema “Vacinação: os Na mesma linha, Torrano também te resultado: novos sorovares da bacté-
novos protocolos sob a perspectiva da abordou a necessidade dos médicos ve- ria, também conhecidos como sorovares
América Latina”, a Fort Dodge trouxe o terinários considerarem a investigação e emergentes, estão apresentando aumen-
mexicano Cesar Torrano, médico vete- o conhecimento sobre os reais riscos aos to na incidência, colocando em risco a
rinário e gerente técnico da Fort Dodge quais os animais estão sujeitos em uma saúde de cães que, em alguns casos,
para a América La- determinada geografia, o que, no caso mesmo vacinados contra a leptospirose,
tina. Torrano trouxe do Brasil, é particularmente importante, podem se infectar e desenvolver a
sua experiência de dadas as diferenças regionais existentes doença.
clínica veterinária no país. Esta constatação levou a empresa a
adquirida na Amé- Práticas como essas estão na base criar o sítio web www.leptospiroseno-
rica Latina e nos do novo programa de Responsabilida- brasil.com.br, o qual pretende ser uma
EUA e propôs a de em Saúde Animal que a Fort Dodge referência para divulgar dados sobre a
adequação de boas começou a apresentar à comunidade nova realidade da leptospirose no País,
práticas verifica- veterinária brasileira durante o Simpó- bem como as formas de preveni-la e
das nessas regiões sio Internacional. A Fort Dodge já de- tratá-la. Também se encontram disponí-
senvolve o programa nos EUA desde veis informações sobre epidemiologia,
Cesar Torrano, gerente
2004 (Responsible Health Care for meios de transmissão, curso da enfermi-
técnico da Fort Dodge Pets) e agora começa a implantá-lo no dade, manifestações clínicas mais co-
para a América Latina Brasil. muns, diagnóstico, tratamento e controle.

22 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Clínica Veterinária Santo Agostinho completa 25 anos
A Clínica Veterinária Santo Agostinho
(www.veterinariasantoagostinho.
com.br), estabelecida em Belo Hori-
além de uma relação muito especial com
os seus clientes e profissionais.
Para garantir a missão de qualidade
estética, cardiologia, ortopedia, urologia,
homeopatia, acupuntura, neurologia,
odontologia, obstetrícia e animais sil-
zonte, MG, é um renomado estabeleci- nos atendimentos e tratamentos, a clíni- vestres.
mento veterinário que em março de ca conta com mais de 15 médicos veteri-
2007 completou 25 anos. Ela foi funda- nários entre os exclusivos e os conve-
da em 1981 por seus sócios, dr. Vitor niados, além de um moderno centro de
Marcio Ribeiro e dr. Fernando Ernesto diagnóstico com ultra-sonografia,
de Oliveira. Durante todos holter, eletrocardiografia, endoscopia,
esses anos, sempre man- eletroretinografia, radiodiagnóstico,
teve o propósito de in- videolaparoscopia, ecodopplercardio-
vestir em qualificação grafia e um laboratório de patologia clí-
profissional, nica, assegurando diagnósticos rápidos
instalações e e precisos.
equipamentos, O mais novo serviço da clínica, a he-
modiálise, está disponível tanto para
clientes da própria clí-
nica, como para clien-
tes externos. Destacam-
se também as cirurgias
de transplante renal e de
catarata, bem como o
À esquerda, pré- serviço completo de
dio atual da Clí- oftalmologia. Outros serviços especia-
nica Veterinária No sítio web da clínica pode-se assistir a vídeos
lizados disponíveis são: alimentação de cirurgias de catarata (facoemulsificação e
Santo Agostinho. Acima, as antigas instalações
parenteral, reprodução, dermatologia e extracapsular)

Koala Hospital Animal inaugurou serviço 24h


de tomografia computadorizada
corpo, ao contrário do que é dado pela
radiologia convencional, que consiste
na representação de todas as estruturas
do corpo sobrepostas. Com a sua utili-
zação é possível a detecção ou o estudo
de anomalias que não seriam possíveis
senão por meio de métodos invasivos,
sendo assim um exame complementar
de diagnóstico de grande valor.
As demais especialidades que estão
disponíveis no Koala Hospital Animal
Sala de tomografia computadorizada do Koala são: acupuntura, anestesiologia, cardio-
Hospital Animal - www.koalahospital.com.br
logia, cirurgia de tecidos moles, colono-
na capital paulista, na avenida Brigadei- scopia, dermatologia, endoscopia diges-
ro Luiz Antônio, 4.869. tiva, fisioterapia, gastroenterologia, gi-
Investiu-se em novas e modernas ins- necologia e obstetrícia, homeopatia, la-
talações, como o centro cirúrgico com boratório de patologia clínica, nefrolo-
microscópio oftálmico e o centro de gia, neurocirurgia, neurologia, odonto-
radiodiagnóstico, entre outras. Destaca- logia, oftalmologia clínica e cirúrgica,
se o serviço de tomografia computa- oncologia clínica e cirúrgica, ortopedia,

A pós 58 anos de atividades no anti-


go prédio da avenida Santo Amaro,
em São Paulo, SP, o Koala Hospital
dorizada, disponível 24h.
A principal vantagem da tomografia
computadorizada é que permite o estudo
radiologia, ultra-sonografia, urologia e
UTI para doenças infecciosas e não
infecciosas.
Animal mudou para novo local, ainda de "fatias" ou secções transversais do Koala Hospital Animal: (11) 3057-2112

24 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Odontologia e felinos atraíram grande público ao Guarujá por Arthur Barretto

A 10ª edição do Congresso Mundial


de Odontologia Veterinária (World
Veterinary Dental Congress – WVDC)
A realização do WVDC foi muito
importante para consolidar a campanha
de saúde oral que está sendo promovida
foi realizada de 25 a 27 de abril, no pela ABOV. Ela teve início no começo
Guarujá, SP. Simultaneamente, também do ano e contou com a
foi realizado o Congresso Paulista de distribuição de kits espe-
Felinos (Conpafel). A ocorrência simul- cíficos. Ainda há chance
tânea desses eventos foi resultado da Congressistas recebem de participar. Basta seguir
parceria da Associação Brasileira de amostras de Dog Chow as instruções que estão no
Odontologia Veterinária (ABOV) com a Biscuits, a grande novi- sítio web www.abov.org.
dade da Nestlé Purina
Associação Nacional de Clínicos Veteri- no evento. O novo pro-
br.
nários de Pequenos Animais de São Pau- duto tem formatos e
lo (Anclivepa-SP). tamanhos adequados
Uma grande novi-
Na odontologia veterinária, merecem para todos os portes de
cães e ainda respeita dade divulgada
destaque a presença de Peter Emily, pre- as diferentes necessi- pela Ouro Fino Pet
cursor da odontologia animal moderna, dades nutricionais de foi o pré-lança-
cada fase da vida do mento do AziCox-2,
Heidi Lobprise, co-autora de um dos li- produto que asso-
animal. Além disso, le-
vros mais respeitados da área, va o selo da cia a azitromicina
Veterinary Dentistry: Principles and ABOV (Asso- e o meloxicam
Practice, e Colin Harvey, ciação Brasi-
leira de Odon-
autor de livros e artigos tologia Veteri- A Total Alimentos
científicos. nária) focou alguns ali-
O público presente, mentos novos,
além assistir às pales- como o Supreme
Yorkshire, e des-
tras, também pôde visi- tacou a presen-
tar a área de exposição, ça de ingrediente
na qual várias empresas que previne a formação dos cálculos dentais
nas linhas Supreme e Equilíbrio de alimentos
procuraram destacar seus para cães e gatos, o hexametafosfato de sódio
Peter produtos e lançamentos em
Emily, precursor
da odontologia odontologia veterinária e
animal moderna medicina felina.

Também atenta à odon-


tologia veterinária, a
Pfizer esteve presente
destacando o Rimadyl,
para controlar a dor
aguda, e os antibióticos
A Bayer fez o pré-lançamento Antirobe e Synulox,
do seu novo vermífugo para para tratar infecções
gatos: o profender, que
Presente ao evento, a Virbac trouxe a sua une qualidade e
pioneira linha odontológica praticidade

A Fort Dodge levou para


o evento informes técni-
cos específicos sobre a
vacinação em felinos

Diversos informes ele-


trônicos foram sorteados O Tergenvet, um fluidificador
pela Merial (Simpósio de de secreções bucais, foi um
A Royal Canin apresentou no Vacinologia Merial, Rabia dos destaques da Vetnil. O
evento a sua nova linha, a en las Américas, CD-ROM espaço da empresa, como
Dental Health Programme de Vacinologia, entre ou- sempre, atraiu pesquisado-
tros). O Stomorgyl, de grande res e profissionais
utilização na odontologia veteriná-
ria, também foi destaque da empresa
26 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Alexandre Corazza Curti

Felinos têm destaque na


7ª Conferência Sul-Americana
de Medicina Veterinária
U m das características que qualifi-
cam um evento como uma ação de
vanguarda é sua capacidade de atender
internacional discutindo os mais varia-
dos temas, como enfermidades bacteria-
nas, virais e micóticas e doenças do
às novas demandas emergentes no mer- complexo respiratório, além de partici-
cado, reunir as novas tecnologias e parem de mesas-redondas.
antever as novidades que farão parte do Palestrantes como o dr. John R.
cenário profissional dos participantes August, que além de renomado profis-
do evento. sional clínico, é o editor do Tratado de perfis e saiba como este mercado pode
A 7ª Conferência Sul-americana de Medicina Interna Felina, a dra. Heloísa ser mais rentável para você”. Cecy
Medicina Veterinária qualifica-se como Justen (RJ), a dra. Fernanda Amorim Passos, consultora e gestora de produtos
evento de vanguarda ao abordar, dentre (SC) e a dra. Christine Martins (DF) es- específicos para gatos, apresentará a
seus vários temas, um dos assuntos que tarão debatendo os assuntos mais im- palestra “Como montar o canto do gato
mais tem chamado a atenção dos médi- portantes para a qualificação dos profis- em seu pet shop”. Temas que, com
cos veterinários e acadêmicos de todo o sionais interessados em dominar o uni- certeza, serão o grande destaque para
Brasil: a medicina felina. verso felino com técnica e profissiona- aqueles que buscam compreender o uni-
Com a mudança comportamental dos lismo. verso felino.
proprietários de animais de estimação,
que ao longo dos anos modificam suas
atitudes, gostos e preferências motiva-
dos por uma série de influências e inter-
ferências, o gato surge como uma opção Dr. John R. August, dra. Heloísa Justen,
cada vez mais presente em muitos lares dra. Fernanda Amorim e dra. Christine Martins
por todo o Brasil. Como conseqüência, O assunto é tão importante que no II
muitos felinos passam a fazer parte da Encontro de Varejo Pet dois palestrantes
rotina diária de atendimentos de consul- apresentarão temas que complementam
tórios e clínicas veterinárias. a informação obtida no evento técnico
Em busca da qualificação para atuar de felinos. A Bayer, representada por
neste segmento, os profissionais terão Antonio Stocco Junior, gerente da
à sua disposição na 7ª Conferência unidade de negócios Animais de Com- Cecy Passos, consultora e gestora de produtos
específicos para gatos, estará presente no II
Sul-Americana de Medicina Veteriná- panhia, apresentará a palestra: “Proprie- Encontro de Varejo Pet e abordará o tema
ria palestrantes de renome nacional e tários de gatos: conheça os diferentes “Como montar o canto do gato em seu pet shop”
Saúde pública

Inseticida natural contra dengue por Thiago Romero

O verão destaca ainda mais um grave


problema de saúde pública: a
dengue. Apenas nos primeiros meses do
do mosquito transmissor da dengue, o
Aedes aegypti, em um reservatório de
água.
seus princípios ativos. O produto final
desse processo fitoquímico é um líquido
oriundo das lignanas”, disse Guimarães
ano foram notificados 67.840 casos da O trabalho, conduzido pela bióloga à Agência FAPESP.
doença no país, sendo os Estados com Marise Maleck e pelo entomologista “Fizemos testes com diferentes dosa-
maior número o Mato Grosso do Sul, Anthony Érico Guimarães, pesquisado- gens desse líquido até chegar à formu-
com 35.863 casos, seguido por Mato res do Laboratório de Díptera do IOC, lação ideal. Ao utilizarmos 100 micro-
Grosso (4.350), Rio de Janeiro (4.196) e teve como ponto de partida o estudo das litros em um litro de água contendo lar-
Minas Gerais (2.499), segundo dados da lignanas, moléculas lipídicas produzi- vas do Aedes aegypti, a mortalidade da
Secretaria de Vigilância em Saúde das pela atividade metabólica de plan- larva foi de 100% em 24 horas”, afir-
(SVS), do Ministério da Saúde. tas. As plantas naturalmente eliminam mou.
Um passo importante para o controle tais substâncias para a defesa contra ini- Segundo o pesquisador, por serem
da doença foi dado por pesquisadores migos, como insetos que as têm como químicos ou biológicos (feitos com
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da fonte de alimentação. bactérias), os larvicidas utilizados atual-
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Primeiramente, os pesquisadores mente contra o mosquito da dengue
Rio de Janeiro, e da Universidade de atestaram a alta toxicidade das lignanas apresentam algum grau de toxicidade,
São Paulo (USP), na capital paulista. A produzidas pela Piper solmsianum, tanto para humanos como para outras
partir de uma planta nativa brasileira e especificamente contra as larvas do espécies animais e vegetais que depen-
pouco conhecida, a Piper solmsianum, Aedes aegypti. “A planta passou por um dem da água onde eles são aplicados.
eles criaram um biocida, um inseticida processo conhecido como maceração, Fonte: Agência FAPESP
natural capaz de eliminar todas as larvas que consiste em extrair quimicamente www.agencia.fapesp.br

Leishmaniose: prevalência preocupante em PE por Thiago Romero

O melhor amigo do homem é o prin-


cipal hospedeiro do ciclo domésti-
co de transmissão da leishmaniose vis-
contra a Leishmania infantum chagasi
em 130 animais (40% da amostra).
“Essa é a maior soropositividade da doen-
Secretaria de Saúde do município.
Em Pernambuco, há uma média anual
de 170 notificações. De acordo com o
ceral. A leishmaniose visceral é transmi- ça em cães já relatada em Pernambuco. Ministério da Saúde, no Brasil ocorrem
tida pelo mosquito-palha (Lutzomyia A prevalência da leishmania em cães em média 3 mil novos registros da doen-
longipalpis), vetor que primeiramente estava sendo subestimada pelos in- ça por ano. “Como a detecção desses
pica um animal hospedeiro infectado quéritos municipais de Paulista”, disse casos, na maioria das vezes, ocorre
para depois atingir o homem. Torres, pesquisador do Departamento apenas quando os pacientes chegam ao
Segundo a Secretaria de Saúde de de Imunologia do CpqAM, à Agência hospital, esses números também podem
Paulista, município com 300 mil habi- FAPESP. O trabalho, apresentado como estar subestimados”, disse Torres.
tantes no litoral norte de Pernambuco, dissertação de mestrado, foi orientado Uma das conclusões do estudo é que,
apenas 3% dos cães da cidade estariam pelo professor Sinval Brandão Filho. embora seja uma doença originalmente
infectados com o parasito causador da “A alta prevalência da doença em de áreas rurais, a leishmaniose visceral
doença, a Leishmania infantum chagasi. cães hospedeiros pode estar relaciona- é cada vez mais constante em áreas ur-
Mas, segundo estudo feito no Centro da com um possível surto da doença na banas. A migração da população traz um
de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), região. Os cuidados com prevenção grande contigente de pessoas e animais
unidade da Fundação Oswaldo Cruz devem ser redobrados a partir de infectados para as grandes cidades. “Po-
(Fiocruz) em Recife, o número de cães agora”, disse Torres. Dos 130 animais demos dizer que a leishmaniose visceral
infectados em Paulista pode ser mais de infectados, 111 não apresentavam sinto- está urbanizada em todo o Brasil, prin-
dez vezes maior. O veterinário Filipe mas clínicos característicos da doença, cipalmente em ambientes ligados à po-
Dantas Torres selecionou aleatoriamen- como perda de peso, dermatite, úlceras breza. Paulista foi escolhida para o es-
te 322 cães da cidade durante uma cam- na pele e conjuntivite. “O risco de in- tudo justamente por ser um município
panha de vacinação contra a raiva reali- fecção humana nesse caso é ainda 100% urbano”, explicou o pesquisador.
zada em 2006 na cidade. Todos os cães maior. Os donos desconhecem que os Três artigos científicos sobre o traba-
tinham proprietários. animais têm o parasito, pois eles apa- lho foram publicados em duas revistas
Amostras sangüíneas dos animais rentemente estão sadios”, afirmou. científicas nacionais, a Revista da So-
foram coletadas com o auxílio de kits de O trabalho aponta que, nos últimos 16 ciedade Brasileira de Medicina Tropi-
testes para diagnóstico da doença for- anos, 32 casos de leishmaniose visceral cal e a Revista de Patologia Tropical; e
necidos pelo Instituto de Tecnologia em foram registrados em Paulista, sendo em uma norte-americana, a Veterinary
Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/ 80% em crianças menores de 10 anos. Os Parasitology.
Fiocruz). Após análises em laboratório, dados foram extraídos do Sistema de In- Fonte: Agência FAPESP
Torres detectou a presença de anticorpos formação de Agravos de Notificação da www.agencia.fapesp.br

30 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Hipertensão arterial Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
Médica veterinária
carlavetuff@yahoo.com.br

sistêmica em felinos Ana Maria Barros Soares


domésticos: revisão MV, dra,
profa. - MCV/FV/UFF/RJ
soaresa@vm.uff.br

da literatura Maria Cristina Nobre e Castro


MV, MSc, doutoranda/UFF
Systemic hypertension in domestic felines: profa. - CV/FV/UFF/RJ
mcnobre@predialnet.com.br
a literature review
Hipertensión arterial sistémica en felinos parte dos casos identificados de HAS
domésticos: revisión de literatura em pacientes veterinários é secundária a
uma outra doença. 7
Resumo: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença grave, que acarreta alterações sistêmicas e pode ser fatal. Os Em um estudo com 69 gatos hiper-
gatos geralmente desenvolvem a HAS secundária. Gatos com insuficiência renal crônica e hipertireoidismo representam a
maior parte dos pacientes com HAS. Com a aquisição de equipamentos necessários para a realização da mensuração da tensos e portadores de lesão oftálmica,
pressão arterial (PA) de forma não invasiva, a HAS vem sendo diagnosticada com maior freqüência na rotina ambulatorial ve- 17% não tiveram a causa da HAS iden-
terinária. O conhecimento da fisiopatologia da HAS e de suas conseqüências sobre o sistema cardiovascular é primordial para
a escolha do tratamento. As classes de fármacos mais utilizadas para o tratamento e o controle da HAS são os inibidores da tificada. 8 Atualmente, considera-se que
enzima conversora da angiotensina, os ≤-bloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio. os gatos possam apresentar HAS primá-
Unitermos: Gato, pressão arterial, diagnóstico, tratamento
ria semelhante àquela que ocorre em hu-
Abstract: Systemic arterial hypertension (SAH) is a disease with important systemic consequences that can lead to death. Cats manos devido à carência ou à inibição
usually develop SAH secondarily to systemic diseases. Animals with chronic renal insufficiency and hyperthyroidism represent
most of the population with SAH. The acquisition of non invasive equipments to measure blood pressure has enabled more da enzima 11-beta-hidroxiesteróide de-
frequent diagnosis of SAH during routine veterinary clinical exams. Understanding of SHT physiology and its consequences on sidrogenase tipo 2, que acarreta a
the cardiovascular system is fundamental for the choice of treatment. The drugs most used to treat and control HT are the
angiotensin-converting enzyme inhibitors (ACEI), β blockers and calcium channel blockers. retenção de sódio. 9 Em gatos, a HAS
Keywords: Cat, blood pressure, diagnosis, treatment está associada, principalmente, a doen-
Resumen: La hipertensión arterial sistémica (HAS) es una enfermedad con graves repercusiones sistémicas pudiendo ser
ças como insuficiência renal crônica
letal. Los gatos generalmente desarrollan HAS secundaria. Los gatos con insuficiencia renal crónica e hipertiroidismo (IRC) 6,8,10,11,12,13 e hipertireoidismo. 10,13
representan la mayoría de los pacientes con HAS. Con la adquisición de aparatos para medir la presión arterial de forma no
invasiva la HAS se está diagnosticando más frecuentemente en la rutina ambulatorial veterinaria. El conocimiento de la
Outras causas menos comuns são hiper-
fisiopatología de la HAS y sus consecuencias sobre el sistema cardiovascular es fundamental a la hora de elegir el aldosteronismo primário, 8 diabetes me-
tratamiento. Los tipos de fármacos más usados para el tratamiento y control de la HAS son los inhibidores de la enzima
convertidora de angiotensina, los beta-bloqueadores y los bloqueadores de canales de calcio.
litos, 8,10,12 hiperadrenocorticismo, 14
Palabras clave: Gato, presión arterial, diagnóstico, tratamiento feocromocitoma, 15 esteróides 7, anemia
crônica e terapia com eritropoietina 16. A
Clínica Veterinária, n. 68, p. 33-40, 2007 HAS associada com alto teor de sal na
dieta foi reportada em gatos, mas mes-
mo com a redução do sódio na dieta a
Introdução relacionados ao controle da PA. 1 hipertensão persistiu. 17
A pressão arterial (PA) é produto do A importância clínica da hipertensão A associação entre a IRC e a hiper-
débito cardíaco e da resistência vascular arterial sistêmica (HAS) tem aumentado tensão sistêmica é bem reconhecida em
periférica total. Cada ciclo cardíaco re- consideravelmente na prática da medi- humanos, em cães e em gatos, embora a
sulta em uma onda de pressão que atin- cina veterinária. A HAS é definida sua patogenia não seja inteiramente
ge os vasos sangüíneos. O valor máxi- como a elevação crônica da PAS e/ou da compreendida. 11 Na IRC a HAS pode
mo medido durante o ciclo de pressão PAD acima dos valores normais para a ter origem multifatorial, uma vez que a
cardíaca representa a pressão arterial espécie. Em gatos 2,3 e em cães 4, a PA regulação da PA é alterada pela retenção
sistólica (PAS), enquanto que o valor aumenta com a idade. Cães obesos ten- de sódio, pela expansão de volume do
mínimo refere-se à pressão arterial dias- dem a apresentar elevação da PA. 5 Já líquido extracelular, pela ativação do
tólica (PAD). A PA é regulada por um em gatos, não se encontrou diferença sistema renina angiotensina aldosterona
sistema de controle extremamente significativa de peso corporal entre ani- (SRAA), pelo aumento nos níveis de
complexo. O fenômeno denominado mais hipertensos e normotensos. 6 A norepinefrina ou na resposta vascular a
natriurese pressórica – desenvolvido associação entre raça e valor da PA não esta, pelo decréscimo da atividade de
pelo rim –, e também a ação de agentes foi observada. substâncias vasodilatadoras, pelo
vasodilatadores (insulina, prostaciclina, aumento do débito cardíaco, pelo au-
bradicinina, fator natriurético atrial, Etiopatogenia mento da resistência vascular periférica
óxido nítrico) e de agentes vasoconstri- A HAS pode ser classificada clinica- total e pelo hiperparatireoidismo secun-
tores (angiotensina II, vasopressina, mente como primária (essencial) ou se- dário. 18 O aumento na secreção de al-
catecolaminas), além da aldosterona cundária. Enquanto 90% dos humanos dosterona secundário à IRC parece ser
– que é um retentor de sódio –, estão apresentam HAS primária, a maior causa importante da HAS em gatos. 19

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 33


A HAS e a hipertrofia ventricular es- tortuosidade dos vasos. 13 Geralmente as proximal da aorta. 28,29 A HVE esteve
querda ocorrem freqüentemente no hi- lesões são bilaterais 8,23, embora nem presente em 74% dos gatos com HAS. 29
pertireoidismo. 11,20 O mecanismo pelo sempre apresentem igual gravidade. 47,5 a 68% dos gatos com car-
qual o gato hipertireóideo desenvolve a Gatas hipertensas, castradas e com diomiopatia hipertrófica e 73% dos
HAS ainda não está totalmente esclare- idade superior a 10 anos apresentam gatos com IRC e HVE apresentaram
cido. A diminuição da resistência vascu- maior risco de desenvolver retinopatia HAS. Entretanto, não houve relação
lar periférica, a ativação do sistema re- hipertensiva. 3,8 Em um estudo, 80% dos significativa entre o valor da PA e o
nina angiotensina aldosterona, o aumen- gatos com IRC e 23% com hipertireoi- grau de espessura da parede ventricular.
to da freqüência cardíaca, bem como o dismo apresentavam retinopatia. Sinais Dessa forma, não há confirmação de
aumento do débito cardíaco são descri- clínicos como cegueira e hifema em que a HVE seja causa ou conseqüência
tos como conseqüência do hipertireoi- gatos com hipertireoidismo não têm da hipertensão. 27
dismo. O desequilíbrio ou o equilíbrio sido reportados, sugerindo que aumen- A hipertrofia de pequenas arteríolas
dessas alterações determina ou não o tos extremos de PA são pouco comuns coronarianas tem sido reportada em
desenvolvimento da HAS. 21,22 nesses animais. 13 gatos. 12 Embora essas alterações não
tenham relevância clínica em gatos e em
Conseqüências da hipertensão Sinais clínicos e complicações renais cães, é de se esperar que a hipertrofia
O exame histopatológico de órgãos A associação entre a HAS e a IRC é reduza a capacidade de reserva das arté-
de animais com HAS permitiu a obser- bem descrita, mas é difícil estabelecer se rias coronarianas, tornando o coração
vação de lesões nos sistemas cardiovas- são causa ou efeito uma da outra. 3,24,11,16 A mais susceptível à isquemia.
cular e cerebrovascular, nos rins e nos prevalência da HAS em gatos com insu- A hipertrofia ventricular pode pro-
olhos, órgãos estes considerados ór- ficiência renal crônica depende da com- mover a insuficiência valvular secun-
gãos-alvo. 8,12 A auto-regulação vaso- posição populacional do estudo e do dária e o sopro sistólico. 28 Outros
constritora arteriolar ocorre em resposta critério utilizado para definir essa con- sinais clínicos cardíacos descritos
à elevação da PA para proteger os capi- dição, e pode variar de 20 a 65%. 6,11,13 incluem arritmias, ritmo de galope e
lares nos órgãos-alvo. A elevação crôni- Em um estudo com 24 gatos hipertensos taquicardia. 6,12,27 De 14 gatos com HAS
ca da pressão arterial acarreta vasocons- todos apresentaram alteração renal, avaliados por radiografia torácica, nove
trição prolongada, com decréscimo da diagnosticada pelo aumento da creatini- tinham cardiomegalia e dois tiveram
perfusão sangüínea e lesões vasculares. 1 na e da uréia sérica, pelo tamanho pe- efusão pleural secundária à insuficiên-
Hipertrofia e hiperplasia da musculatura queno dos rins e/ou pela glomeruloscle- cia cardíaca. 12
lisa de pequenas arteríolas coronarianas, rose. 12 A HAS promove aumento do
arteriosclerose hialina dos rins e arte- fluxo sangüíneo renal, aumento da pres- Sinais clínicos e complicações
riosclerose cerebral multifocal hemor- são intraglomerular e hiperfiltração glo- cerebrovasculares
rágica são lesões encontradas e direta- merular, que determinam lesões glome- O sistema nervoso central é susceptí-
mente relacionadas aos sinais clínicos rulares e tubulares. Degeneração tubular vel aos danos induzidos pela HAS devi-
apresentados por gatos hipertensos. 12 e fibrose intersticial, assim como glo- do à abundância de pequenas artérias e
merulosclerose, atrofia glomerular e arteríolas, mas há poucos relatos de
Sinais clínicos e complicações ocu- glomerulite proliferativa já foram rela- lesões cerebrovasculares geradas pela
lares tadas. 25 A HAS parece favorecer a pro- HAS em medicina veterinária. Em dois
As lesões oculares são as mais repor- gressão da IRC 2 e, dessa forma, utili- estudos, 29% e 46% dos gatos com
tadas em gatos com HAS 3,8,12,13,16,17,23, zam-se medicamentos anti-hipertensi- HAS apresentaram sinais neurológicos,
talvez por serem facilmente detectadas vos na tentativa de diminuir a injúria condição esta associada a um prognósti-
clinicamente. A retinopatia e a coroido- glomerular. 26 Poliúria, polidipsia, perda co desfavorável. A encefalopatia hiper-
patia hipertensiva secundárias à HAS de peso, fraqueza e vômito podem ser tensiva é evidenciada por inclinação da
são seqüelas comuns 6,12, e a cegueira observados nesses animais. 24 cabeça, ataxia, depressão, desorientação
aguda é a principal causa pela qual o e convulsões. 8,12
gato é levado à clínica veterinária. 12 A Sinais clínicos e complicações cardio-
retinopatia hipertensiva é caracterizada vasculares Diagnóstico
pelo edema de retina, tortuosidades e Poucos são os estudos publicados O diagnóstico da HAS é baseado na
hemorragia dos vasos, e a coroidopatia relacionados a lesões cardiovasculares determinação da PA. A exata definição
resulta em necrose isquêmica dos corio- em gatos com HAS. 12,27,28,29 A HAS pro- da HAS em gatos e cães tem sido discu-
capilares e do epitélio pigmentar da reti- move a hipertrofia ventricular esquerda tida em pesquisas e debates porque estu-
na. 12 Achados clínicos associados à (HVE) primariamente, pelo aumento dos prévios utilizaram valores diferentes
retinopatia hipertensiva incluem tortuo- da pós-carga. Alterações cardíacas de- como parâmetro. Valores de pressão arte-
sidade das artérias da retina, edema de tectadas pelo ecocardiograma em gatos rial sistólica superiores a 141 11, 160 12,13,
retina, perivasculites, hemorragia de re- com HAS incluem espessamento do 170 19, 175 6, e 185mmHg 30 e pressão
tina, hemorragia de vítreo, hifema, des- septo interventricular e da parede poste- diastólica acima de 100mmHg 12,13 já fo-
colamento de retina, atrofia de retina e rior do ventrículo esquerdo, dilatação de ram utilizados para definir a HAS. En-
glaucoma. 8,13,26,23 Entretanto, apenas 25% átrio esquerdo, redução do diâmetro dias- tretanto, mais recentemente sugere-se
dos gatos com hipertensão apresentam tólico ventricular esquerdo e dilatação que valores superiores a 150/95mmHg

34 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
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A B
Figura 2 - Utensílios necessários para aferição da PA. (A) Manguitos neonatais Dixtal de diversos
tamanhos. (B) Manguito neonatal Dixtal número 3 acoplado ao esfigmomanômetro BD (Becton
Dickinson) e gel de ultra-som

(Figura 3). Após a seleção do local, A braçadeira é então gradualmente


Figura 1 - Aparelho Doppler Vascular Microen
determina-se o manguito a ser utilizado. desinflada, enquanto o operador cuida-
modelo DV-10 tipo pastilha para mensuração Este deve ter entre 30 e 40% de diâme- dosamente observa a pressão marcada
da PA tro da circunferência do membro utiliza- pelo esfigmomanômetro. 37 O ponto em
do ou da cauda, e ser posicionado na re- que o primeiro som é ouvido corres-
obtidos em três mensurações realizadas gião proximal da extremidade escolhi- ponde ao valor da pressão sistólica e,
em três visitas distintas de um paciente, da. 17,32 (Figura 4). O diâmetro adequado quando ocorre a mudança do som curto
mesmo que este não apresente sinais é de grande importância, pois mangui- para um som mais longo, tem-se o valor
clínicos atribuídos à elevação da PA, tos menores do que aqueles preconiza- da pressão diastólica. 34 Embora seja re-
são compatíveis com a hipertensão. Já dos levam à obtenção de valores maio- lativamente fácil obter o valor da PAS, o
em pacientes sintomáticos, uma única res da pressão sistólica, e aqueles de valor da PAD aferido por esse método
leitura de valor acima de 150/95mmHg maior tamanho subestimam os valores não é considerado fidedigno. 25,33,34
é indicativa de hipertensão. 31 da pressão arterial. 7,32,34 Para facilitar a A primeira leitura deve ser descartada,
Os métodos doppler, oscilométrico e propagação do som, uma quantidade de e então deve-se utilizar a média de três
fotopletismográfico de mensuração in- gel de condução é colocada sobre o ou cinco mensurações, com 30 segundos
direta da PA têm sido estudados e ava- transdutor, que então é posicionado a um minuto entre as leituras, como valor
liados para uso na clínica médica de sobre a artéria distal escolhida (Figura da pressão arterial sistólica. 33,38 Apesar
pequenos animais. 32,33 O método doppler 5). Quando o som do fluxo sangüíneo dessas recomendações, em estudo
é o recomendado para gatos. 7 Nesse for ouvido de forma clara e consistente recente, a primeira leitura da pressão
método, utiliza-se um aparelho doppler através do doppler, a pressão pode ser arterial sistólica não foi significante-
que contém um amplificador eletrônico mensurada. Com o auxílio do esfigmo- mente diferente da média das cinco
e um transdutor capaz de transmitir e re- manômetro, a braçadeira deve ser infla- leituras. 33
ceber ondas ultra-sônicas que serão trans- da até que o som do fluxo sangüíneo
formadas em som audível 34 (Figura 1). não seja ouvido. O ideal é inflá-la 20 a Tratamento
Para a condução do ultra-som são ne- 30mmHg acima do valor que não per- Na maioria das vezes, o controle da
cessários ainda esfigmomanômetro, mitiu a audição do fluxo sangüíneo. 34 HAS em medicina veterinária está
braçadeira e gel (Figura 2).
Para obter valores de PA fidedignos,
Carla Regina Gomes Rodrigues Santos

são indispensáveis um protocolo técnico


padrão e pessoal treinado. Previamente à
mensuração da PA, o animal deverá
estar climatizado com o ambiente e, se
possível, o proprietário deve estar pre-
sente. 35 O estresse induzido pela visita à
clínica veterinária pode causar aumento
considerável na PA do paciente. Esse A B
fenômeno é tão comum que é conhecido
como “síndrome do avental branco”. Figura 3 - Regiões para detecção do pulso
Para minimizar esse efeito, a pressão arterial devidamente tricotomizadas para evi-
arterial deverá ser mensurada em am- tar interferência ao posicionar o transdutor do
biente isento de interferências externas e Doppler. (A) Região palmar do membro ante-
rior. (B) Região plantar do membro posterior.
de qualquer outro animal. 36 (C) Região ventral da base da cauda
As artérias cranial tibial, mediana,
metacarpiana e coccígea são comumen-
te utilizadas na mensuração da PA 7,37
C

36 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


de exames complementares como he-
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mograma completo, dosagem sérica de


creatinina, uréia, eletrólitos e EAS
devem ser solicitadas. 7 O tratamento é
dividido em duas partes: a dieta e a te-
rapia farmacológica.

Dieta
Dieta com restrição de sódio pode ser
A B utilizada no manejo de gatos hiperten-
sos. Porém, estudos demonstraram que
Figura 4 - Iniciando a mensuração da PA (A) A largura do manguito deve ter de 30 a 40% da variações de sódio na dieta não tiveram
circunferência do membro utilizado. (B) Manguito posicionado no membro anterior próximo à região efeito na PAS em gatos normais ou em
de colocação do transdutor para oclusão arterial
gatos com redução da função renal. 43
Dessa forma, somente a restrição de
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sódio na dieta não é efetiva no controle


da hipertensão em cães e gatos. Em ani-
mais com doença renal crônica ou outra
doença e HAS, talvez seja mais impor-
tante manter uma dieta calórica adequa-
da do que insistir em uma dieta com
baixo teor de sódio.
A administração de alguns medica-
mentos anti-hipertensivos, tais como
A B bloqueadores beta-adrenérgicos e vaso-
dilatadores arteriolares pode promover
Figura 5 - Após a detecção e oclusão do pulso arterial, o manguito é desinflado enquanto o
operador observa o valor da PA marcado pelo manômetro a retenção de sódio, a expansão do vo-
lume do líquido extracelular e a redução
dos efeitos anti-hipertensivos. 18 Nestes
relacionado ao tratamento de doenças do controle da HAS. Uma vez controlada casos, a dieta com restrição de sódio é
pre-existentes (Figura 6). Embora tratar a pressão arterial, o paciente deve ser empregada como uma tentativa de me-
uma doença em desenvolvimento possa reavaliado em intervalos de um a três me- lhorar a eficácia de agentes farma-
resolver a HAS associada em alguns ses. A mensuração da PA e a realização cológicos. 7
pacientes, outros requerem também te-
rapia específica. O controle da HAS é Sem doenças concomitantes
fundamental para prevenir e/ou retardar - A amlodipina pode ser utilizada como único fármaco nesses casos
a progressão de lesões nos órgãos-alvo. - Reavaliar o paciente em uma a duas semanas
O objetivo do tratamento não é neces- - Manter a PAS ≤ 170mmHg
sariamente tornar o paciente normoten- - Uma vez controlada a pressão arterial, a reavaliação do paciente deve ser feita em
intervalo de um a três meses para diagnóstico precoce dos efeitos deletérios da HAS
so, mas manter a PAS menor ou igual a
170mmHg. 7 Porém, para alguns auto- Com insuficiência renal crônica
res, gatos com PAS acima de 160mmHg - Iniciar o tratamento com o maleato de benazepril
estão susceptíveis ao declínio da função - Reavaliar o paciente em uma a duas semanas
renal, à perda de néfrons, à proteinúria e - Adicionar a amlodipina caso o valor da PAS não esteja ≤ 170mmHg
ao desenvolvimento de glomerulos- - Mesmo com a IRC compensada e a pressão arterial controlada, a reavaliação do
paciente deve ser feita em intervalo de um a três meses para diagnóstico precoce dos
clerose. 39 Gatos com PAS acima de efeitos deletérios da HAS
180mmHg estão susceptíveis a danos
renais e a todos os órgãos-alvo. 39,40,41,42 Com hipertireoidismo
Após uma a duas semanas do início - Tratar a doença primária
do tratamento com a menor dosagem do - Se a PAS estiver ≥ 180mmHg, associar o atenolol durante um mês
medicamento para a HAS, deve-se - Reavaliar o paciente durante e após o tratamento
- Se o valor da PAS permanecer ≤ 170mmHg, retirar o atenolol
realizar reavaliação do paciente, para - Reavaliar após duas semanas
avaliar a eficácia da terapia e a necessi- - Se o valor da PAS se mantiver estável, a HAS provavelmente era secundária ao
dade de ajuste da dose. Animais que hipertireoidismo
estão sob tratamento anti-hipertensivo - Se ocorrer o aumento da PAS ≥ 180mmHg, adicionar novamente o atenolol
necessitam de rotina clínica e laborato- - Mesmo com o controle do hipertireoidismo e a pressão arterial controlada, a reavalia-
rial. A pesquisa de doenças concomi- ção do paciente deve ser feita em intervalo de um a três meses para diagnóstico pre-
coce dos efeitos deletérios da HAS
tantes e/ou dos efeitos deletérios da
HAS deve ser realizada antes e depois Figura 6 - Manejo clínico e farmacológico da hipertensão arterial sistêmica em gatos

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 37


Terapia farmacológica início do tratamento. Assim, as dosagens de prazosina ou a fenoxibenzamina,
Inibidores da enzima de conversão da séricas de uréia e creatinina do paciente para controle da hipertensão em gatos,
angiotensina ( IECA) devem ser avaliadas uma a duas sema- pois seu mecanismo de ação pode pro-
A angiotensina II é um potente vaso- nas após o início do tratamento. 48 mover hipotensão grave. 49 Alguns
constritor, que exerce efeito venoso e Tanto os inibidores da ECA quanto os autores utilizam a fenoxibenzamina no
arteriolar e atua sobre a secreção de va- beta-bloqueadores podem ser associa- tratamento de gatos hipertensos refratá-
sopressina e aldosterona. Quando sua dos à amlodipina se a monoterapia não rios ao tratamento inicial com amlodipi-
síntese é inibida, ocorrem vasodilatação obtiver sucesso. 48 na e inibidor da ECA. 48 Esse fármaco
sistêmica e efeitos natriuréticos. O uso também tem sido utilizado no tratamen-
de IECA também reduz a pressão dos Bloqueadores beta-adrenérgicos to de feocromocitomas. 15
capilares intraglomerulares devido à di- Os bloqueadores β-adrenérgicos di- O uso do cloridrato de hidralazina
latação da arteríola eferente, minimi- minuem a força de contração e a fre- está restrito aos casos nos quais os
zando a proteinúria. 44 Em gatos com qüência cardíaca, promovendo a redu- inibidores da ECA, os bloqueadores dos
HAS experimentalmente induzida, a te- ção do débito cardíaco. Os receptores β- canais de cálcio ou beta-bloqueadores
rapia com IECA resultou em significan- adrenérgicos são encontrados no não são efetivos 50, ou até mesmo em
te decréscimo da hipertrofia ventricular coração (β1) e nos pulmões (β2). Embo- crises hipertensivas, pois esse fármaco é
esquerda secundária à hipertensão e das ra o bloqueio dos receptores β1 diminua um potente dilatador arteriolar. 51
arritmias ventriculares. 45 Em gatos, o a freqüência cardíaca, o bloqueio dos
cloridrato de benazepril inibe de 90 a receptores β2 provoca a constrição Crise hipertensiva
100% da ECA no plasma. 19 Já o maleato bronquial. Em gatos asmáticos, o uso de A crise hipertensiva é a elevação
de enalapril é ineficiente em 50% dos bloqueadores β-adrenérgicos não seleti- aguda da PA associada à lesão de órgão-
gatos. 19,46 A dose utilizada para gatos é vos é contra-indicado. 49 O atenolol é o alvo (emergência hipertensiva), ou à
de 0,25-0,5mg/kg, por via oral, uma vez fármaco de escolha para gatos, por ser ausência de lesão (urgência hipertensi-
ao dia. 19 Embora o cloridrato de benaze- β1 seletivo. Em gatos hipertensos e hi- va) no momento da crise. Animais em
pril diminua a hipertensão intraglome- pertireóideos, o atenolol é recomendado emergência hipertensiva apresentam
rular em gatos com IRC, a redução da quando o tratamento para o hipertireoi- sinais diretamente atribuídos à HAS,
PA sistêmica atingida com essa droga é dismo não reduz a PA o suficiente para como manifestações neurológicas, he-
pequena. 47 Efeitos como letargia, fra- prevenir danos adicionais a outros morragia e descolamento de retina. 7
queza, perda de apetite, vômito e diar- órgãos. Nesses casos, o uso de blo- Esses animais devem ser tratados
réia podem acontecer 48 horas após o queador β-adrenérgico é o tratamento agressivamente com vasodilatador
início do tratamento. 48 Antes e depois de de escolha, porque age contra o aumen- arteriolar e venoso (nitroprussiato de
iniciar a terapia com um IECA, dosa- to responsivo à circulação de catecola- sódio) administrado por infusão cons-
gens séricas de uréia e creatinina do pa- minas induzido pelo excesso de hormô- tante, e mantidos sob monitoração in-
ciente devem ser realizadas. nios tireoidianos. A dose utilizada é de tensa. Caso essa conduta não seja pos-
A administração de IECA associada a 6,25 a 12,5mg/gato, por via oral, uma sível, hidralazina (2.5-5,0 mg/gato,
bloqueadores dos canais de cálcio pode vez ao dia. 21 Efeitos adversos como le- PO, SID ou BID) e furosemida podem
ser eficaz quando a monoterapia não é targia, inapetência e síncope podem ser utilizadas em combinação. Em
suficiente para diminuir a PA. 7 ocorrer. 48 gatos com doença renal, a monitoração
Os bloqueadores β-adrenérgicos são de potássio é fundamental para a
Bloqueadores dos canais de cálcio também utilizados em cães e gatos administração do diurético de alça. Em
A amlodipina é considerada a droga quando a primeira droga anti-hiperten- resposta à hipotensão induzida pela hi-
de escolha para controlar a HAS em fe- siva (IECA ou amlodipina) não foi dralazina, pode ocorrer taquicardia re-
linos. Nessa espécie, a amlodipina tem capaz de induzir o decréscimo desejável flexa. O atenolol pode também ser
sido utilizada com sucesso como único da pressão arterial. 7,48 associado caso o valor da PA não dimi-
agente hipotensor. 46 O mecanismo de nua em 12 horas. Outra opção é utilizar
ação deste fármaco tem como base o Outros fármacos o diltiazem (bloqueador dos canais de
bloqueio do influxo de cálcio necessário Os diuréticos são raramente efetivos cálcio) na dose de 0,5mg/kg, por via
para a contração muscular, diminuindo como único agente, mas podem ser uti- oral, a cada seis horas, como único
a resistência vascular sistêmica. 44,46 A lizados em combinação com outras dro- agente hipotensor. 7,50
amlodipina tem sido muito utilizada gas anti-hipertensivas. 12 Os efeitos
para o controle da HAS em gatos devi- adversos potencias da terapia diurética Conclusão
do à sua longa ação, que permite dosa- incluem desidratação, progressão da in- Ainda não há estudos que demons-
gem diária única, com efeito gradual, suficiência renal em virtude da diminui- trem a prevalência da HAS em gatos no
evitando a rápida redução da pressão ção da perfusão, hiponatremia e hipoca- Brasil. Assim, a mensuração da pressão
arterial. A dose utilizada para gatos é de lemia. 25 Dessa forma, os diuréticos não arterial na rotina ambulatorial é indis-
0,3125-0,625mg/animal, por via oral, fazem parte do protocolo inicial para o pensável para o diagnóstico da HAS. As
uma vez ao dia. 46 Ocasionalmente, pode- tratamento da HAS em gatos. lesões geradas pela HAS são, muitas
se observar piora da azotemia em gatos Há poucos relatos do uso de bloquea- das vezes, de caráter irreversível, razão
com IRC uma a duas semanas após o dores α-adrenérgicos, como cloridrato pela qual a falta do diagnóstico preciso

38 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


pode acarretar a morte do animal. O J.; ELLIOTT, J. Prevalence of systolic hyperthyroidism. Journal of Veterinary
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40 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Obesidade felina - revisão Cynthia Brandão da Costa
Médica veterinária - Clínica Veterinária Gatomania
cbrandaodacosta@yahoo.com.br

Feline obesity - a review Andréa Alves


MV, doutoranda - FMVZ/USP
profa. ass. - Curso de Medicina Veterinária - UVV
aalves@uvv.br
Obesidad felina - revisión
Resumo: A obesidade ocorre quando a aquisição energética é maior que o gasto dessa energia. Dentre outras causas desse a noradrenalina e a dopamina – também
distúrbio, a mais importante é a superalimentação. O gato obeso é mais propenso a moléstias, como diabetes melito, doenças
articulares, dermatoses e lipidose hepática. Vários são os métodos de diagnosticar a obesidade, como a palpação, a determi- participam desse mecanismo 19. Neu-
nação da concentração sérica de leptina e a absormetria por dupla emissão de raios-X. O tratamento é feito principalmente rônios ativos localizados na porção la-
por meio da restrição calórica e de aumento no gasto energético. No entanto, para evitar a lipidose hepática, a restrição calórica
deve ser implementada com cautela. A prevenção da obesidade é fundamentada no cuidado da alimentação e no estímulo ao teral do hipotálamo iniciam a fome atra-
exercício. vés do aumento do paladar, do olfato e
Unitermos: Gatos, alimentação, emagrecimento
de enzimas digestivas, resultando no ato
da ingestão de alimentos e, conse-
Abstract: Obesity occurs when there is a greater gain of energy compared to that used by the organism. Overalimentation is qüentemente, no aumento do preenchi-
the main cause of the disease. The obese cat is more propense to diseases, such as Diabetes mellitus, joint problems, mento gástrico e na elevação da quan-
diseases of the skin and hepatic lipidosis. There are many diagnostic methods for obesity: palpation, determination of blood
leptin concentration and dual energy X-ray absorptiometry, to cite a few. The main treatment is based on caloric restriction and tidade de nutrientes na corrente san-
increase in the energy spent. Caloric restriction, however, should be achieved cautiously to avoid hepatic lipidosis. Prevention güínea, o que por sua vez ativará o cen-
can be achieved through careful alimentation and exercise encouragement.
Keywords: Cat, alimentation, thinning tro da saciedade, deprimindo o apetite e
o paladar, resultando em diminuição da
Resumen: La obesidad ocurre cuando hay una mayor adquisición de energía en comparación con su gasto. Otra de las causas ingestão de maior quantidade de ali-
de esta alteración y con mayor importancia es la superalimentación. El gato obeso es mas predispuesto a enfermedades como mento 20. As diferenças na atividade ou
Diabetes mellitus, enfermedades articulares, dermatosis y lipidosis hepática. Hay varias formas de diagnosticar la obesidad.
Entre ellas están la palpación, la determinación de concentraciones séricas de leptina y la absorciometría dual de Rayos X. El no metabolismo bioquímicos desses
tratamiento se realiza principalmente por restricción calórica y aumento del gasto energético. Por otro lado, la restricción centros são muitas vezes responsáveis
calórica debe ser realizada con cautela, para evitar la lipidosis hepática. Su prevención se basa en el cuidado en la
alimentación y en el estímulo al ejercicio. pelas alterações do apetite 19.
Palabras clave: Gato, alimentación, adelgazamiento A taxa metabólica de repouso
(TMR), a termogênese induzida pelo
Clínica Veterinária, n. 68, p. 42-50, 2007
alimento e os efeitos térmicos do exercí-
cio são responsáveis pelo gasto diário
Introdução O tratamento da obesidade requer ba- de energia do animal. A TMR contribui
De modo geral, a obesidade é definida sicamente o aumento do gasto energéti- com 60% a 70% do gasto energético
como o aumento – acima do peso ideal 1 co, além da restrição de calorias ingeri- diário, o efeito térmico da termogênese
– de 15 1,2,3 a 20% do peso corporal, e ocor- das 4. O ideal é que se atinja a perda de induzida pelo alimento contribui com
re com freqüência na espécie felina 4,5,6,7,8. peso sem perda de massa magra 8. Em- 20% a 30% e os efeitos térmicos do
Habitualmente é provocada pelo aumento bora várias dietas já tenham sido testa- exercício somam 20% a 30% desse
da ingestão de alimentos 4,5, e pela dimi- das nos últimos tempos 5,8, a adoção de gasto. A TMR constitui-se em uma exi-
nuição do nível de atividade física 4,9,10,11,12, um regime nutricional com alto teor de gência de manutenção do corpo a uma
muito embora, algumas vezes, possa ser proteínas e baixa quantidade de carboi- temperatura homeotérmica. Portanto,
uma conseqüência de alterações endó- dratos propiciou diminuição satisfatória em animais sujeitos a extremos nas tem-
crinas 4,10. de peso com mínima perda de massa peraturas ambientais, a TMR – e, conse-
A obesidade pode ser identificada de magra 8. A prevenção desse problema qüentemente, as necessidades de ener-
várias formas, como a pesagem do ani- deve ser feita com base no critério de gia de manutenção – pode variar de
mal 1, a inspeção, a palpação 1,3,4,10, o cál- não ultrapassar o requerimento calórico modo significativo. A termogênese in-
culo do índice de gordura corporal 3, a diário de manutenção e de estimular o duzida pela dieta consiste na energia
utilização do diagrama de silhuetas 13, a exercício durante toda a vida do animal 4. gasta na digestão, na absorção e no pro-
dosagem de leptina sérica 13,14 e a absor- cessamento dos nutrientes, gasto ener-
metria por dupla emissão de raios-X 3,14. Bases fisiológicas nutricionais dos gatos gético este que é muito baixo, quando
Independentemente da causa da obe- O consumo nutricional é controlado comparado ao dispêndio de energia
sidade, esta alteração pode se constituir pelo cérebro através do hipotálamo 19, total. Os efeitos do exercício no consu-
em risco para a qualidade de vida do sendo a porção lateral hipotalâmica re- mo de energia incluem o gasto energéti-
animal 1,3,7,8. Gatos obesos costumam lacionada ao centro da fome e a porção co por si só, o aumento dos efeitos ter-
apresentar maior propensão a desenvol- ventrolateral ao centro da saciedade 19,20. mogênicos da dieta e a maior eficácia da
ver diabetes melito; alterações articu- Estas duas regiões interagem inibindo TMR 19.
lares 1,2,5,7,8,11,15 – como osteoartrite 11 –, uma à outra para, juntas, formarem um O requerimento energético de um ga-
dermatoses 1,2,5,7,816,17 – como intertrigo 18 –, controle central de regulação do apetite 20. to adulto é de 60 a 85kcal por quilogra-
além de lipidose hepática 1,2,5,7,8. Neurotransmissores – como a serotonina, ma de peso corporal por dia 21, ou obtido

42 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


por meio da fórmula: (kg x 30) + 70 5. intestino delgado, que resulta no aumen- gasto de energia pelo organismo 2,3,4,5,27.
Quando o alimento é oferecido ad libitum, to da fermentação microbiana no cólon Esse excesso de gordura pode ser alcan-
o gato ingere 12 a 20 refeições por dia. e na elevação da produção de ácidos çado pelo incremento no tamanho dos
Em gatos selvagens, tais refeições con- orgânicos 44. A presença desses ácidos adipócitos – denominado obesidade hi-
sistem de pequenos pássaros, mamífe- orgânicos, juntamente com o efeito os- pertrófica – ou pela elevação da quanti-
ros e insetos. Os camundongos são pre- mótico do açúcar que escapa à digestão, dade de adipócitos – conhecida como
sas comuns dos gatos domésticos e cada pode ocasionar episódios de diarréia 22. obesidade hiperplásica. Na maioria dos
um deles oferece cerca de 30 kcal ao A enzima hepática responsável por casos, a obesidade é conseqüência da hi-
animal que o ingere. Dessa forma, um converter a glicose em glicogênio para pertrofia dos adipócitos 4, provocada pelo
gato adulto necessitaria consumir, então, estocagem no fígado, a glicogênio-sinte- aumento na ingestão de alimentos 4,28 e/ou
8 a 15 camundongos por dia para atingir tase, tem atividade mínima nos gatos. A pela diminuição do nível de atividade
seu requerimento energético diário 21. provável razão da baixa atividade dessa física 4,9,10,11,12 e, muito raramente, pela re-
Na natureza, essa espécie consome enzima hepática é o mecanismo metabó- dução da função da glândula tireóide 4,10.
alimentos que apresentam altas taxas de lico que, ao invés de amido, utiliza ami- A excessiva ingestão energética pode
proteínas, moderada taxa de gordura e noácidos e gordura da dieta para obten- ser provocada pela alta palatabilidade
mínima quantidade de carboidratos. ção de energia. Como resultado, a habi- da dieta 1,4,9,14,23, pela alimentação ad
Assim, os felinos são adaptados a um lidade dos gatos para minimizar de for- libitum 2,4,7,8,10, pelo oferecimento abundan-
metabolismo protéico mais elevado, ma rápida a hiperglicemia de dietas com te de alimento em horários predetermi-
com menor utilização de carboidratos alta quantidade de glicose é limitada 8. nados 10, ou pelo fornecimento de petis-
do que os cães ou outros onívoros 8. Nos carnívoros, a concentração de cos e de comida caseira 1. Já a diminui-
Como carnívoros estritos, os gatos glicose sérica é mais consistente, ou se- ção do gasto energético pode ser atribuí-
têm um metabolismo nutricional único, ja, apresenta menos flutuações pós- da, por exemplo, ao aumento do período
pois utilizam proteínas para a manuten- prandiais. Isso decorre da liberação de de sono 14, ou ao fato de o gato residir
ção dos níveis de glicose sérica, mesmo glicose em pequenas quantidades, após em espaços restritos ou limitados, como
quando as reservas protéicas estão es- um longo período de elaboração através apartamentos 2,7,8,9,11,12,14,26, o que limita a
cassas e, embora possam usar os carboi- do catabolismo das proteínas. Assim, o atividade física. O envelhecimento do
dratos como fonte de energia metabóli- amido adicional da dieta que não é esto- animal também contribui significativa-
ca, apresentam pouca habilidade em uti- cado como glicogênio muscular ou que mente para a diminuição do gasto de
lizá-los para poupar as proteínas. Assim, não é usado como energia, é armazena- energia 4,7,8,11,14,26, pois a TMR dos pacien-
independentemente de estar recebendo do como gordura 8. tes geriátricos decresce de maneira na-
uma dieta com altos ou baixos níveis de Outro nutriente responsável pela ma- tural à medida que os anos passam, im-
proteínas, o organismo felino não altera nutenção do combustível energético dos plicando em queda de 30 a 40% das ne-
o ritmo metabólico protéico conforme a carnívoros é o ácido graxo, que também é cessidades energéticas em relação àque-
disponibilidade desses nutrientes 8. importante no aumento da palatabilidade las de gatos adultos jovens 29.
Um indício de que os felinos são fi- e da aceitabilidade dos alimentos 4,23,12. Estudo recente demonstrou que o
siologicamente menos adaptados à in- Animais domésticos adultos cuja rotina tipo de alimento, ou seja, ração seca ou
gestão de carboidratos do que os onívo- é relativamente sedentária não necessi- em lata, não exerce qualquer influência
ros é o fato de não possuírem amilase tam de alimentos que contenham elevados sobre o ganho de peso corporal; o que
salivar, a enzima responsável pelo início níveis de lipídios porque, embora esses promove esse quadro é a maneira pela
da digestão dos carboidratos. Além elementos possam proporcionar uma nu- qual esse alimento é oferecido. No ex-
disso, esses animais apresentam baixo trição adequada e contribuir para a ma- perimento citado, os gatos alimentados
nível de atividade de amilase pancreáti- nutenção da saúde, tais animais podem ad libitum engordaram mais do que
ca e intestinal e de dissacaridases que apresentar consumi-las excessivamente, aqueles que recebiam várias refeições,
agem no intestino delgado. Essas dife- devido à sua alta palatabilidade 24. sem que se constatasse diferença decor-
renças específicas, entretanto, não signi- rente do tipo de ração oferecida (seca ou
ficam que os gatos não possam utilizar o Causas da obesidade úmida). Já a comida caseira foi incrimi-
amido da dieta, mas enfatizam a evolu- Muitos felinos domésticos apresen- nada como causadora de obesidade ape-
ção da espécie como carnívora 8. tam sobrepeso 6. Assim sendo, a obesi- nas quando oferecida duas a três vezes
As particularidades digestivas men- dade é a desordem nutricional mais por semana. De modo contrário, quando
cionadas significam que altas quantida- comum nesses animais 4,5,7,8, e sua pre- a comida caseira foi oferecida mais de
des de carboidratos podem propiciar valência vem crescendo com o passar quatro vezes por semana, o aumento de
efeitos indesejáveis nos gatos. Exemplo dos anos 11. Nos EUA, em 1973 o dis- peso não foi tão significativo. Supõe-se
disso é a diminuição da digestibilidade túrbio acometia entre 6% 10 e 12% dos que, em menor freqüência, a comida ca-
protéica decorrente do aumento da velo- gatos 2,4,11; já no início dos anos 90, 25% seira não supriu a necessidade energéti-
cidade da passagem do alimento pelo estavam acima do peso 1,25,5,7,12, 20% eram ca do animal, que teve de suplementá-la
trato gastrointestinal. Outra ocorrência gordos 5,11,26 e 5% eram obesos 11,26. com ração, o que resultou em obesidade 7.
que confirma a afirmação acima é a re- A obesidade é definida como o ex- Em outra pesquisa, que tentou correla-
dução no pH das fezes em virtude da di- cesso de gordura corporal, decorrente cionar a ingestão de comida caseira e
gestão incompleta de carboidratos no do desequilíbrio entre a aquisição e o petiscos e a ocorrência de obesidade,

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 43


observou-se que a relação de causa e Portanto, nunca se deve deixar de inves- sobrepeso é mais difícil 2,3.
conseqüência não existe, já que os gatos tigar a existência de alterações como an- Até recentemente, a pesagem do ani-
com sobrepeso recebiam esse tipo de co- siedade e depressão, em casos de obesi- mal 5, a inspeção – juntamente com a pal-
mida em proporção igual àquela ofereci- dade instalada. Isto porque, no repertó- pação das costelas 1,3,4,10, dos processos
da a gatos com ótima condição corporal 26. rio dos comportamentos autotranqüili- espinhais dorsais e da base da cauda 1 –
Embora a superalimentação tenha si- zantes do gato, a lambedura excessiva e eram os métodos utilizáveis e confiáveis
do apontada como uma das causas mais a alimentação exagerada são atividades para verificar a obesidade em gatos 5,13,15.
comuns de obesidade nos gatos 9, verifi- orais que desempenham importante Entretanto, outros métodos permitem
cou-se recentemente que alterações en- papel na regulação do estresse 4. uma classificação mais precisa, que
dócrinas também podem ter importante A introdução de fármacos que indu- possibilita saber a quantidade de gordu-
papel nesse distúrbio 10. Mas assim co- zem a polifagia também pode provocar ra no organismo do animal 3.
mo ocorre nos casos de obesidade hu- a obesidade, ainda que indiretamente 3. Um deles é o cálculo do índice de
mana, acredita-se que tais alterações te- Um exemplo seria a ciproeptadina que, gordura corporal. Primeiramente, com o
nham baixa prevalência 2,3. além de anti-histamínico, é anti-seroto- gato em estação, deve-se calcular a me-
Um fator endócrino que pode estar en- nínico. O mecanismo pelo qual esses dida de sua caixa torácica (CT), em cen-
volvido no desenvolvimento da obesida- agentes exercem efeito estimulante tímetros, obtendo-se a circunferência do
de é a diminuição da produção ou a re- sobre o apetite ainda não foi bem escla- tórax no ponto da nona costela. Depois,
dução da resposta à leptina 10. A leptina, recido 33, mas acredita-se que seja pela deve-se obter o índice de medida do
hormônio produzido exclusivamente sua função antagonista da serotonina 34. membro pélvico (IMMP), para o que, a
pelo tecido adiposo 10,13,14, é responsável Outro fator que pode ser incluído distância entre a patela e a tuberosidade
pela diminuição da ingestão de alimen- como causa de obesidade é a gonadecto- do calcâneo do membro pélvico esquer-
tos e pelo aumento do gasto de energia mia 2,4,7,9,8,11,12,14,21,23. Esse procedimento do deve ser aferida em centímetros.
pelo organismo, o que resulta em menor tem sido incriminado como contribuinte Com essas medidas, calcula-se o índice
adiposidade e obesidade 10,14. O fato de no aumento do peso corporal do animal de gordura corporal 3:
gatos obesos tenderem a apresentar ele- por promover a redução do gasto ener- % gordura corporal = {[(CT÷ 0,7067) -
vados níveis de leptina apóia a teoria que gético 2,4,9,13 em decorrência da diminui- IMMP] ÷ 0,9156} - IMMP
atribui a obesidade à redução da respos- ção da atividade física 2,4,9 e do nível me- Apesar das poucas informações exis-
ta a esse hormônio pelo organismo, em tabólico 7,12,23,28. Além disso, provoca o tentes sobre a relação entre a obesidade
detrimento daquela que responsabiliza a aumento na ingestão de alimentos 2,4,5,7,8,13 e a composição corporal nos felinos,
diminuição da produção dessa substân- graças à ausência do efeito inibitório do dados importantes e experiências clíni-
cia 10,30. Ultimamente, os triglicerídeos apetite causada pelo estrógeno 2,4. cas indicam que gatos com 30% ou mais
têm sido implicados na patogênese da re- Já a contribuição genética não é um de índice de gordura corporal podem ser
sistência à leptina, pois já se sabe que fator de importância na espécie felina. considerados acima do peso ou obesos.
estes podem inibir o transporte de lepti- Diferentemente do que ocorre com cer- Os gatos com índice de gordura corpo-
na ao cérebro, no qual esse hormônio atua- tas raças caninas, as informações refe- ral entre 30% e 10% são considerados
ria provocando o sinal de saciedade 30. rentes à propensão à obesidade entre as de peso normal ou não obesos 3.
Já o hipotireoidismo, muitas vezes raças felinas 2,4 ainda são insuficientes. Outro método usado para a determi-
responsável pela obesidade em seres É importante não confundir algumas nação da obesidade em gatos é a avalia-
humanos, é extremamente raro em feli- condições mórbidas, que provocam au- ção da condição do escore corporal com
nos 2,4,5,10,31, principalmente quando adul- mento do volume abdominal, com a o auxílio do diagrama de silhuetas 13.
tos 32. É importante ter em mente que, existência de obesidade. São exemplos: Alguns autores utilizam a classificação
em felinos, o hipotireoidismo congênito acromegalia 5 e hiperadrenocorticismo 1,4,5 de 1 a 9 5,7 (classificação 1 da figura 1),
ou juvenil geralmente não está associa- – doenças raras em gatos 4,5 –, a presença enquanto outros trabalham de modo mais
do à obesidade 5,32, e que o hipotireoidis- de massas abdominais 5 ou ascite 1,4,5. simplificado, classificando o escore de
mo iatrogênico relaciona-se freqüente- Também há que descartar estados fisio- 1 a 6 (classificação 2 da figura 1) 11,26. No
mente à perda marcante de peso 32. Já no lógicos, como a prenhez 5. entanto, como estas avaliações requerem
hipotireoidismo do adulto a obesidade habilidade na palpação das costelas 5,
pode ocorrer, mas não é um sinal con- Diagnóstico elas são subjetivas 13.
sistente 2,32. Portanto, não se deve apon- A obesidade é definida como o au- A dosagem de leptina sérica por meio
tar essa doença como causa de obesida- mento de 15 a 20% 1,2,3 – acima do peso da técnica de radioimunoensaio (RIA)
de, a menos que o animal apresente ou- ideal 1,4,5 – do peso corporal, levando em tem sido realizada por pesquisadores,
tros sinais compatíveis 21, confirmados consideração, raça, sexo e espécie 5. No para a detecção de obesidade em gatos 14.
por testes de estímulo por TSH e por entanto, a obesidade felina é difícil de Em gatos obesos, as concentrações
TRH, dosagem de T4 total, T4 livre ou ser diagnosticada objetivamente, pois desse hormônio apresentam-se aumen-
livre por diálise 10,31. não há um padrão de peso ideal para tadas e naqueles com baixo peso corpo-
As alterações comportamentais são as diferentes raças de gatos existentes. ral estão diminuídas 30. Em experimento
as principais causas da superalimentação Embora a obesidade extrema possa cuja amostra era constituída por 16 ga-
em felinos e, na maioria das vezes, ser facilmente identificada, o diagnósti- tos, verificou-se aumento de três vezes
são ignoradas pelo médico veterinário. co de obesidade em menor grau ou de no valor da leptina após o período de 10

44 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


meses de programa de ganho de peso 14. de gordura corporal 3,14. Por outro lado, a das refeições 5,6,10, o oferecimento de
As concentrações desse hormônio po- utilização da radiografia simples so- petiscos 6,10 e a rotina de atividade do ani-
dem ser determinadas com o auxílio de mente ajuda na diferenciação entre obe- mal devem ser explicitadas durante a
kit comercial humano de RIA 13,14. Além sidade e aumento do volume abdominal anamnese 5,6,10.
desse método, o ensaio de imunoadsor- por outras causas – como organomega-
ção enzimática (ELISA) também foi lia e neoplasia intra-abdominal, por Conseqüências
usado com sucesso 13. Os valores de con- exemplo 10. A despeito da etiologia, a obesidade
centração sérica da leptina felina consi- Independentemente do método esco- pode comprometer a saúde e o bem-estar
derados normais variam de 3,19 a lhido para a identificação da obesidade, do animal 1,3,7,8. É possível observar, por
19,81ng/dL HE 14. é de suma importância que o clínico in- exemplo, que gatos obesos apresentam
Embora ainda não aplicada comu- dague o proprietário sobre o regime ali- maior dificuldade para realizar seus
mente na rotina clínico-veterinária 3, a mentar do gato. Portanto, informações cuidados higiênicos por meio da lam-
absormetria por dupla emissão de raios-X sobre o tipo de dieta 9,20,21, a quantidade bedura e, portanto, são mais propen-
pode ser usada para estimar a quantidade de alimento consumida 9,20, a freqüência sos ao desenvolvimento de alterações
Grau Classificação 1 Classificação 2 Características
1 caquético caquético Classificações 1 e 2: costelas visíveis; gordura não palpável; asa do íleo
e vértebra lombar facilmente palpáveis
1,5 caquético/muito magro - Classificação 1: características entre 1e 2
Classificação 2: -
2 muito magro magro Classificaçãoes 1 e 2: costelas, vértebra lombar, asa do íleo e cintura
óbvias
2,5 muito magro/magro - Classificação 1: características entre 2 e 3
Classificação 2: -
3 magro otimamente magro Classificação 1: costelas facilmente palpáveis, com mínima cobertura de
gordura; vértebra lombar e cintura óbvias; mínima gordura corporal
Classificação 2: os ossos são distinguidos pela palpação
3,5 magro/abaixo do peso - Classificação 1: características entre 3 e 4
Classificação 2: -
4 abaixo do peso peso ótimo Classificação 1: os ossos são distinguidos pela palpação
Classificação 2: cintura observada após as costelas, que são palpáveis,
com leve cobertura de gordura; mínimo ou nenhum volume abdominal
4,5 abaixo do peso/ideal - Classificação 1: características entre 4 e 5
Classificação 2: -
5 ideal acima do peso Classificação 1: cintura observada após as costelas, que são palpáveis,
com leve cobertura de gordura; mínimo ou nenhum volume abdominal
Classificação 2: costelas geralmente palpáveis, com moderada cobertura
de gordura; cintura presente mas menos definida; presença de mínimo
volume abdominal
5,5 ideal/acima do peso - Classificação 1: características entre 5 e 6
Classificação 2: -
6 acima do peso obeso Classificação 1: costelas geralmente palpáveis, com moderada cobertura
de gordura; cintura presente mas menos definida; presença de mínimo
volume abdominal
Classificação 2: costelas não facilmente palpáveis, com grande depósito
de gordura; não há cintura; abdome muito saliente; grande depósito de
gordura no abdome
6,5 acima do peso/pesado - Classificação 1: características entre 6 e 7
Classificação 2: -
7 pesado - Classificação 1: costelas não facilmente palpáveis, com moderada
camada de gordura; cintura dificilmente visualizada; arredondamento
óbvio do abdome; moderada gordura abdominal
Classificação 2: -
7,5 pesado/obeso - Classificação 1: características entre 7 e 8
Classificação 2: -
8 obeso - Classificação 1: costelas não facilmente palpáveis, com grande depósito
de gordura; não há cintura; abdome muito saliente; grande depósito de
gordura no abdome
Classificação 2: -
8,5 obeso/extremamente obeso - Classificação 1: características entre 8 e 9
Classificação 2: -
9 extremamente obeso - Classificação 1: costelas não palpáveis, com grande camada de gordura;
muita gordura depositada no abdome, na área lombar, na face e nos
membros; abdome muito distendido e penduloso
Classificação 2: -
Figura 1 - Classificações de escore corporal e suas características 5,7,11,26

46 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


É mais provável que a obesidade seja rações formuladas para filhotes – que variam de indivíduo para indivíduo 1.
conseqüência, e não a causa, dos distúr- contêm 45 a 55% de proteína, 8 a 15% A maioria dos cálculos é baseada no
bios respiratórios, devido à pouca resis- de amido, 15 a 25% de gordura e menos peso corporal ótimo estimado 1, mas al-
tência ao exercício 16. No âmbito da me- de 1% de fibra – são as que mais se guns utilizam como parâmetro o peso
dicina veterinária, alguns autores apon- aproximam da dieta ideal para o gato. corporal do animal ao início do progra-
tam a obesidade como um fator compli- Além disso, são altamente benéficas pa- ma. No entanto, deve-se destacar que
cador de doenças respiratórias 5,10,19. Nos ra gatos com diabetes, diminuindo a hi- qualquer cálculo é somente o ponto ini-
animais obesos, as restrições do volume perglicemia pós-prandial e, muitas ve- cial do programa, e deve ser conduzido
pulmonar decorrentes dos depósitos de zes, resultando em redução de mais de de acordo com a quantidade de calorias
gordura intratorácica – assim como o 50% na quantidade de insulina requeri- que o gato obeso ingere normalmente 1,6.
deslocamento cranial do diafragma pela da para o tratamento da doença em cer- Em investigação relacionada ao assunto
gordura abdominal – podem causar tos casos 8. A dieta voltada à redução de objeto deste artigo, os autores obtive-
redução da capacidade pulmonar 19. peso deve ser palatável 5,12 para que seja ram perda de 25 a 30% do peso corporal
aceita pelo gato, e sua ingestão deve ser de gatos obesos em sete a nove sema-
Tratamento constantemente monitorada a fim de evi- nas, sem que ocorresse lipidose hepática
Antes de qualquer planejamento de tar a ocorrência de lipidose hepática 2,6,28. 12
. É importante ressaltar que não se
redução de peso em gatos, é importante É importante esclarecer que a rápi- deve diminuir em mais de 50% as calo-
que o proprietário reconheça a necessi- da perda de peso, além de predispor à rias que o gato ingere habitualmente 6. A
dade de implementar ações voltadas a lipidose hepática 2,10,15,26,28, também ingestão calórica calculada deve ser ofe-
esse fim 5 e participe ativamente do pro- pode promover maior perda de massa recida em duas ou três refeições, embo-
grama, o que inclui a eliminação da magra 2,3,13,28,43, o que não é desejável 2,3,43 ra a alimentação contínua possa ser acei-
oferta de guloseimas 5,10. pois a perda de tecido funcional precisa- tável desde que não sejam ultrapassadas
O tratamento da obesidade requer o rá ser reconstruída 2,43. Na verdade, a as necessidades diárias calculadas 10.
aumento do gasto energético e/ou a perda de massa magra juntamente com a Um aspecto que, ao que tudo indica,
restrição de calorias ingeridas 4, mas o perda de gordura é fisiológica, mas os tem grande importância na eficiência de
último método é o ponto principal para aspectos efetivamente relacionados à programas de perda de peso é a suple-
se alcançar o objetivo 10,13. As dietas maior diminuição de massa magra são o mentação com carnitina 8,10,30,44. Isto
restritas em energia, como aquelas com índice corporal de gordura inicial e o porque há indicações de que a carnitina
pouca gordura e/ou muita fibra, podem grau de restrição calórica. Assim, quan- aumentaria o metabolismo dos lipídios
resultar em perda de peso, mas freqüen-
to mais gordo for o gato, menor perda e que, na sua ausência, haveria menor
temente promovem diminuição de
de massa magra sofrerá quando da oxidação de ácidos graxos, promovendo
massa magra, e o ideal é que isso não
perda de gordura, e quanto maior for a maior acúmulo de lipídios nos tecidos 30,44.
ocorra. Muitas dessas dietas que contêm
restrição calórica, maior quantidade de Ainda assim, não se tem observado
alta concentração de fibra insolúvel au-
massa magra será perdida 43. qualquer deficiência desse nutriente nos
mentam o bolo fecal por meio da
absorção de água, aumentando o risco A adoção de dieta com restrição ener- gatos obesos 8. A L-carnitina tem sido
de desidratação em gatos que não inge- gética moderada – composta por aproxi- usada com bons resultados por pessoas
rem quantidade suficiente de água 8. madamente 60% da manutenção calóri- obesas, pois otimiza a oxidação dos áci-
Para obter perda de peso em gatos, ca diária exigida 3,4,10,27 – durante um pe- dos graxos em fase de redução de peso,
tentou-se utilizar uma dieta com alto ríodo de 18 semanas faz com que o gato e por atletas em competição, para a ma-
teor protéico e baixa quantidade de car- perca cerca de 1% de peso por semana, nutenção da massa magra. Em experi-
boidratos, o que resultou em redução sa- com diminuição de 90% de gordura e de mento realizado com 28 gatos, foram
tisfatória do peso, sem grande perda de somente 8% de massa magra, o que é administrados 250mg/gato de L-carniti-
massa magra 8. Já o oferecimento de considerado ideal. No entanto, quando a na por via oral, em intervalos de 24
menor quantidade de ração comum não restrição energética é aumentada – com horas durante as 18 semanas do progra-
é aconselhável pois pode causar defi- oferta de somente 45% da manutenção ma de emagrecimento, e verificou-se que
ciências nutricionais 4,5 e, ainda, prolon- exigida –, obtém-se perda de peso de os animais que receberam essa suplemen-
gar a duração do programa de redução aproximadamente 1,3% em 18 semanas, tação emagreceram mais rapidamente.
de peso, causando frustração ao proprie- com diminuição de 18% de massa No entanto, como nesse estudo não foi
tário e, conseqüentemente, o abandono magra e de somente 80% de gordura 3,27. realizada análise de composição corporal,
prematuro do programa 5. Alguns programas de emagrecimento não foi possível verificar se a L-carnitina
Dentre as diferentes dietas experi- estipulam a restrição calórica ideal ao possibilitou o emagrecimento de forma
mentadas algumas obtiveram sucesso, redor de 75% 1,44 da manutenção exigida, ideal, ou seja, com maior perda de gor-
como aquelas constituídas por grande outros determinam que 85% de restrição dura e menor perda de massa magra 44.
quantidade de fibras e baixo teor de gor- calórica é mais seguro 44, enquanto ou- Outros nutrientes, como a vitamina A
dura, por pouca quantidade de fibras e tros preferem o cálculo de ingestão de e o crômio, têm sido utilizados experi-
pouca gordura, e – até mesmo – por alto 40kcal para cada quilograma de massa mentalmente, e os resultados indicam que
teor de gordura e muita proteína 5. magra por dia 6. O que se nota é que os tais substâncias podem ajudar a evitar o
Entretanto, há que destacar que as índices adequados de restrição calórica ganho de peso, ou mesmo contribuir para

48 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


predisposto, para estimulá-lo a im- relationship with adiposity as measured by dual Consultations in Feline Internal Medicine. 5. ed.
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50 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Meningoencefalomielite Raquel Rubia Rech
MV, doutoranda - Depto. Patologia - UFSM
keka_rrr@yahoo.com.br

granulomatosa em cães Marcia Cristina da Silva


MV, doutoranda - Depto. Patologia - UFSM
mctogni@yahoo.com.br

Granulomatous meningoencephalomyelitis Soraia Figueiredo de Souza


MV, mestranda - Depto. Clín. Peq. An. - UFSM
in dogs soraiasouza@yahoo.com

Alexandre Mazzanti
Meningoencefalomielitis granulomatosa MV, dr., prof. adj. - UFSM
mazzal@smail.ufsm.br

en perros Glaucia Denise Kommers


MV, PhD, profa. adj. - Depto. Patologia - UFSM
glaukommers@yahoo.com
Resumo: Meningoencefalite granulomatosa (MEG) é uma doença inflamatória esporádica e idiopática do sistema nervoso cen-
tral de cães. Tem sido descrita freqüentemente em fêmeas adultas jovens de raças de pequeno porte. As lesões são classifi-
cadas como disseminada, focal e ocular. Caracterizam-se histologicamente por infiltrado mononuclear e reação granulomatosa Dominguita Lühers Graça
dispostos de forma angiocêntrica, principalmente no tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinhal. Os sinais clínicos MV, PhD, profa. tit. - Depto. Patologia - UFSM
estão relacionados com o local da lesão no sistema nervoso central (SNC). No presente estudo são descritos três casos de dlgraca@smail.ufsm.br
MEG, com os sinais clínicos correlacionados à distribuição histomorfológica das lesões no SNC. No diagnóstico diferencial são
mencionadas as principais encefalites infecciosas e ligadas a raças, descritas em cães.
Unitermos: Neuropatologia, sistema nervoso central, encefalite Claudio Severo Lombardo de Barros
MV, PhD, prof. tit. - Depto. Patologia - UFSM
Abstract: Granulomatous meningoencephalitis (GME) is a sporadic, idiopathic inflammatory disease of the central nervous claudioslbarros@uol.com.br
system of dogs. It is often described in young adult small breed bitches. Lesions are classified as disseminated, focal and
ocular. They are histologically characterized by mononuclear infiltrates and a granulomatous reaction around blood vessels
mostly in the brain stem, cerebellum and spinal cord. Clinical signs are related to the site of the lesion in the central nervous
system. In the present study, three cases of GME are described, correlating the clinical signs to the histomorphological
distribution of the lesions in the central nervous system. The main infectious encephalitides and breed-related diseases are
mentioned in the differential diagnosis.
Keywords: Neuropathology, central nervous system, encephalitis

Resumen: La meningoencefalitis granulomatosa (MEG) es una enfermedad inflamatoria esporádica e idiopática del sistema
nervioso central de perros. Ha sido descripta frecuentemente en hembras adultas jóvenes de razas pequeñas. Las lesiones
son clasificadas como diseminada, focal y ocular y se caracterizan histológicamente por un infiltrado mononuclear y
granulomas dispuestos de forma angiocéntrica, principalmente en el tronco encefálico, cerebelo y médula espinal. Los signos
clínicos están relacionados con el local de la lesión en el sistema nervioso central. Son descriptos tres casos de MEG, con
correlación de los signos clínicos con la distribución histomorfológica de las lesiones en el sistema nervioso central. En el
diagnóstico diferencial son mencionadas las principales encefalitis infecciosas y ligadas a razas, descriptas en perros.
Palabras clave: Neuropatología, sistema nervioso central, encefalitis

Clínica Veterinária, n. 68, p. 52-58, 2007

Introdução evolução que oscila de dias a poucos leptomeninges 1,2,8. Recentemente, foi
A meningoencefalite granulomatosa meses e estão intimamente relacionados descrito um caso de MEG com acentua-
(MEG) é uma doença inflamatória des- à localização das lesões. Déficits das do envolvimento do sistema nervoso pe-
crita em diversas espécies domésticas, funções do tronco encefálico, do cere- riférico, com denervação e atrofia mus-
incluindo caninos, felinos, eqüinos e bo- belo e da medula espinhal são os mais cular secundária 8. Histologicamente, a
vinos 1,2. Apresenta maior prevalência em comuns 2,6. Na forma disseminada os MEG é caracterizada por infiltrado peri-
cães adultos de três a seis anos de idade, sinais clínicos aparecem subitamente, vascular de linfócitos, plasmócitos, ma-
com predileção por fêmeas de raças pe- sugerindo lesões multifocais e rapida- crófagos, raramente neutrófilos e granu-
quenas, principalmente terriers e poo- mente progressivas. A forma focal pro- lomas no neurópilo 1,2. Um achado ca-
dles 2,3,4. Atualmente, a denominação duz sinais clínicos sugestivos de uma racterístico é a diferenciação epitelióide
MEG designa a forma inflamatória da única lesão com início insidioso e pro- do componente histiocítico, que por
reticulose, que inclui três processos pa- gressão lenta, e geralmente se localiza vezes forma ninhos dentro do manguito
tológicos: reticulose inflamatória, reticu- no tronco encefálico e na substância perivascular. Embora a causa da MEG
lose neoplásica e microgliomatose 2,5. branca subcortical 7,8. A forma ocular é seja desconhecida 9, há evidências de
A MEG representa de 5 a 25% dos caracterizada pelo surgimento agudo de que uma reação auto-imune (hipersensi-
distúrbios neurológicos em cães e é midríase que não responde a estímulo bilidade do tipo IV) esteja envolvida na
classificada em três formas, de acordo luminoso, atribuída à neurite óptica 4. patogênese da doença 3,10.
com a distribuição das lesões no sistema As lesões são localizadas predomi- Ainda que o diagnóstico definitivo de
nervoso central (SNC): disseminada (a nantemente na substância branca do MEG seja possível apenas por exame
mais freqüente), focal e ocular 6,7. Os si- tronco encefálico, do cerebelo e da me- histopatológico pós-morte ou por bióp-
nais clínicos têm aparecimento abrupto, dula espinhal e podem se estender às sia 11, a tomografia computadorizada

52 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


(TC) e a ressonância magnética (RM) da corticoterapia, os sinais clínicos de

Alexandre Mazzanti
podem ser empregadas no diagnóstico distúrbios nervosos retornaram. Em vir-
presuntivo da doença 11,12,13. Na TC, são tude da deterioração do quadro clínico,
observadas áreas de contraste aumenta- os proprietários optaram pela eutanásia.
das, com margens da lesão indefinidas 13. No encéfalo do cão 2 foram observa-
Na RM, as lesões são caracterizadas por dos macroscopicamente pontos cinza-
uma hiperintensidade em T2 e intensida- pálidos multifocais na substância bran-
des variadas em T1 14. Em alguns cães, ca do mesencéfalo e da ponte. No cão 3
observa-se hidrocefalia secundária 13. observaram-se dilatação dos ventrículos
O presente trabalho apresenta a descri- laterais e do aqueduto mesencefálico, e
ção de três casos de MEG, e correlaciona uma área cinza-pálida na porção ventral
os sinais clínicos à distribuição das lesões e lateral dos colículos caudais do me-
Figura 2 - Sinais clínicos, cão 2. Meningoence-
histológicas no sistema nervoso central. sencéfalo. Os achados macroscópicos falomielite granulomatosa. Inclinação da cabe-
extraneurais foram inespecíficos em ça para o lado direito
Relato dos casos todos os casos. Fragmentos representa-
Os dados referentes à raça, à idade, tivos de diversos órgãos, incluindo o en- como acentuadas quando compostas de
ao sexo e aos sinais clínicos dos três céfalo e a medula espinhal, foram cole- manguitos perivasculares linfoplasmo-
cães afetados por MEG estão sumariza- tados, fixados em formol a 10%, cliva- citários, constituídos por mais de seis
dos na figura 1. dos e processados rotineiramente para camadas de células, com grandes granu-
Hemograma, radiografias da região histopatologia. Após a fixação, os se- lomas, astrocitose e desmielinização da
cervical (cães 2 e 3) e da bula timpânica guintes fragmentos do encéfalo foram substância branca; como moderadas
(cão 3) e análise do líquor (cães 2 e 3) selecionados para exame histológico quando havia duas a seis camadas de
estavam dentro dos parâmetros normais, (Figura 3): (1) bulbo na altura do óbex; células inflamatórias perivasculares,
exceto o exame do líquor do cão 3, que (2) cerebelo; (3) ponte com pedúnculos pequenos granulomas, astrocitose e
revelou 250 mg/dL de proteína com con- cerebelares; (4) mesencéfalo na altura malacia focal; e como leves quando
tagem celular que evidenciava pleocitose dos colículos rostrais; (5) diencéfalo
(52 células/mm3) com 100% de linfóci- através da massa intermédia e córtex pa-

Raquel Rubia Rech


tos. Todos os cães foram tratados com rietal e (6) lobo frontal na altura do joe-
antiinflamatórios esteroidais. O cão 1 foi lho do corpo caloso e dos núcleos da
tratado com 4,6mg.kg-1 de dexametaso- base. A medula espinhal foi seccionada
na. O cão 2 foi tratado com 2mg.kg-1 de em três regiões: intumescência cervical,
prednisolona por via oral, a cada 24 medula espinhal torácica e intumescên-
horas durante sete dias, e o cão 3 foi cia lombar. Em cada um desses locais, a
tratado com 1mg.kg-1 de prednisolona intensidade da lesão foi classificada
por via oral, a cada 12 horas. Após o tra- como acentuada, moderada, leve ou au-
tamento, os cães apresentaram considerá- sente e foi estabelecida a porcentagem Figura 3 - Vista medial do encéfalo de cão com
vel melhora do quadro clínico, mas apro- de envolvimento da substância branca e a demarcação dos locais para exame histológi-
co. 1) bulbo na altura do óbex; 2) cerebelo; 3)
ximadamente 15 dias após a interrupção cinzenta. As lesões foram classificadas ponte com pedúnculos cerebelares; 4) mesen-
céfalo na altura dos colículos rostrais; 5) dien-
céfalo através da massa intermédia e córtex
Cãp Raça Idadf Sfxp Curtp cmínicp Sinait cmínicpt parietal; 6) lobo frontal na altura do joelho do
corpo caloso e dos núcleos da base
1 maltês 4 anos fêmea eutanásia após 1 mês anorexia, apatia, tremores
musculares, ataxia, ptose
palpebral esquerda e inclinação Marcia Cristina da Silva
da cabeça para o mesmo lado,
trismo mandibular e rigidez
cervical
2 SRD 4 anos fêmea eutanásia após 23 dias andar em círculo e cabeça
inclinada, ambos para o lado
direito (Figura 2). Sonolência,
reação de ameaça hiporreativa
no lado esquerdo, estrabismo
ventromedial, crises convulsivas
e paralisia facial unilateral direita
3 poodle 1 ano fêmea eutanásia após 3 meses crises convulsivas, sonolência,
ataxia dos membros pélvicos,
opistótono intermitente com dor Figura 4 - Mesencéfalo na altura dos colículos
rostrais (pedúnculo cerebral), aspecto histológi-
à palpação na região cervical
co, cão 2. Meningoencefalomielite granuloma-
e reflexos espinhais torácicos tosa. Acentuados manguitos perivasculares
e pélvicos aumentados constituídos por numerosos macrófagos epite-
SRD = sem raça definida
lióides e linfócitos na substância branca.
Figura 1 - Dados gerais e sinais clínicos de três cães com meningoencefalomielite granulomatosa Aumento 250x

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 53


Área do encéfalo cão 1 cão 2 cão 3 branca e ao redor de vasos (Figura 4). O
Bulbo na altura do óbex +++ +++ + mesmo tipo de células inflamatórias foi
Cerebelo + ++ o encontrado nas leptomeninges. No inte-
Ponte na altura dos pedúnculos cerebelares ++ ++ +++
Mesencéfalo na altura dos colículos rostrais ++ +++ +++ rior de alguns granulomas foram obser-
Diencéfalo através da massa intermédia + o + vadas algumas células gigantes multi-
Córtex telencefálico occipital ++ o o nucleadas do tipo Langhans. Parte de
Córtex telencefálico sobre o tálamo + o ++ alguns desses granulomas era substituí-
Córtex telencefálico frontal + o o da por tecido conjuntivo e evidenciava-
Núcleos da base o o o se desmielinização ao redor dos granu-
Intumescência cervical ++ o o
Medula espinhal torácica + o + lomas e dos manguitos perivasculares
Intumescência lombar + o + mononucleares. Essas lesões apresenta-
o = ausente, + leve, ++ moderada, +++ acentuada vam intensidade variável de acordo com
os locais do encéfalo e da medula espi-
Figura 5 - Distribuição e intensidade das lesões no encéfalo e medula espinhal de três cães com
meningoencefalomielite granulomatosa nhal examinados (Figura 5). Na figura 6
estão representados os locais das lesões
e a porcentagem de substância branca e
constituídas por uma a duas camadas de Histologicamente, nos três casos, a cinzenta envolvida em cada um dos
células e formação incipiente de granu- lesão foi caracterizada por infiltrado pe- cortes examinados.
loma no neurópilo. O infiltrado nas rivascular multifocal, composto predo- Colorações histoquímicas adicionais,
leptomeninges foi classificado de forma minantemente por linfócitos e alguns como ácido periódico de Schiff (PAS) e
similar à aplicada aos manguitos peri- plasmócitos, e ninhos multifocais de impregnação pela prata (GMS), foram
vasculares. macrófagos epitelióides na substância realizadas em seções com lesão acen-
tuada, para descartar a possibilidade da
presença de fungos no interior dos gra-
nulomas. O resultado foi negativo nos
Raquel Rubia Rech

três casos.

Discussão
Todos os três cães apresentaram
sinais clínicos evidentes de envolvi-
mento do sistema nervoso central. A
idade (1-4 anos), a predisposição racial
(raças de pequeno porte) e a predisposi-
ção pelo sexo (feminino) foram seme-
lhantes àquelas descritas em outros es-
tudos sobre MEG 1,4,6,15.
Os sinais clínicos foram variáveis e
caracterizaram a forma disseminada da
doença, o que foi confirmado histologi-
camente. Em casos de envolvimento
multifocal, os sinais clínicos refletem
diversas síndromes (da medula espi-
nhal, do tronco encefálico e cerebral) e
incluem incoordenação, ataxia, dor cer-
vical, balançar da cabeça, nistagmo, pa-
ralisia do nervo facial e/ou trigeminal,
andar em círculos, convulsões e depres-
são 1. A maioria dos sinais clínicos
acima citados foram observados nos três
cães deste relato, mas predominaram
aqueles relacionados ao envolvimento
do tronco encefálico, do cerebelo e da
medula cervical (Figura 1).
Figura 6 - Representação esquemática da média de intensidade da lesão e tipo de infiltrado
inflamatório nos cortes obtidos das seções do encéfalo e da medula espinhal dos três casos de Diversos estudos indicam que o
meningoencefalomielite granulomatosa. A) intumescência lombar; B) medula espinhal torácica; exame do líquor é o método auxiliar
C) intumescência cervical; 1) bulbo na altura do óbex; 2) cerebelo; 3) ponte com pedúnculos cere- mais indicado para confirmar o diagnós-
belares; 4) mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; 5) tálamo e córtex parietal; 6) córtex frontal
e núcleos da base. tico de MEG 6,10,15,16. Pleocitose mono-
• = granuloma ∆ = manguitos mononucleares nuclear ocorreu somente no cão 3. Con-
SB = substância branca SC = substância cinzenta tudo, a falta de hiperproteinemia não

54 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


exclui o diagnóstico de MEG, como maior de histocompatibilidade (MHC) conseqüência da infecção pelo vírus da
observado em outros relatos 9 e no cão 2, da classe II e linfócitos CD3 3. Isso cor- cinomose; contudo, estudos imunohis-
em que o resultado da análise do líquor robora a possível reação de hiper- toquímicos não detectaram o antígeno
ficou dentro dos parâmetros normais. sensibilidade do tipo IV recentemente viral de cinomose no SNC de cães afe-
Valores resultantes da análise do líquor proposta para essa doença. Outro estudo tados 3. Adicionalmente, por meio da
podem ser normais quando a inflamação imunohistoquímico revelou expressiva técnica de PCR, não foi detectado ácido
é intraparenquimal e após a administra- reação astrocitária, associada com au- nucléico de herpesvírus, adenovírus ou
ção de corticóide 17. Outros exames mento do número de células anti-IgG e parvovírus em tecidos emblocados em
complementares como hemograma, tes- anti-IgM 20. parafina de seções de encéfalo de cães
tes bioquímicos e radiografias do crânio A distribuição histomorfológica per- afetados 22. Condições inflamatórias em
e da coluna vertebral comumente não mitiu a correlação com a maioria dos que agentes etiológicos não têm sido
apresentam alterações e o eletroencefa- sinais clínicos observados. Por exem- descritos incluem aquelas de origem
lograma geralmente é inespecífico 1. plo, nos cães 2 e 3, as lesões unilaterais imunomediada e encefalites associadas
Ressonância magnética e tomografia moderadas e acentuadas na ponte e no a raças 5. Essas encefalites são diferen-
computadorizada podem ser ferramen- mesencéfalo, respectivamente, foram ciadas de MEG sob diversos aspectos,
tas no diagnóstico quando a lesão é focal ipsilaterais aos sinais de ptose palpe- como raça, local e tipo de lesão. A mais
e pode ser vista macroscopicamente, ou bral, paralisia facial e inclinação da ca- prevalente delas é a meningoencefalite
seja, quando ela ocupa espaço 10, mas beça. Esses sinais se manifestaram pro- necrosante, que ocorre principalmente
deve ser diferenciada de neoplasia 18. vavelmente devido à extensão da lesão em cães da raça pug, mas também pode
Na maioria das vezes é difícil estabe- aos núcleos de nervos cranianos que se acometer malteses e yorkshire terriers e
lecer clinicamente o diagnóstico con- localizam nessa área (nervos VI, VII e se carateriza por infiltrado mononuclear
clusivo de MEG 17. Macroscopicamente, VIII) 19. Histologicamente, não havia com malacia localizada predominante-
as lesões podem estar ausentes, e quan- lesão no pericário dos neurônios, mas a mente no córtex telencefálico 23,24,25,26.
do presentes, na maioria das vezes, são desmielinização ao redor dos manguitos Outras meningoencefalites associadas
discretas 6. Dessa forma, a análise repre- e granulomas sugere lesão axonal e ex- a raças incluem meningoencefalite
sentativa das diversas áreas do encéfalo plica a presença desses sinais clínicos. eosinofílica idiopática que acomete
e da medula espinhal, com a realização Em todas as seções examinadas, a rottweilers e golden retrievers, menin-
de cortes transversais seriados em inter- lesão foi mais acentuada na substância gite supurativa dos cães montanhês-de-
valos de 0,5-1cm – que são examinados branca (Figura 5), característica descrita Berna 27, leptomeningite granulomatosa
em ambas as faces –, pode revelar le- também por outros autores 1,9 e que pode dos beagles 28 e meningoencefalite não-
sões cinza-amareladas com margens in- ser correlacionada com o curso crônico supurativa dos greyhounds 23. Condições
definidas e aspecto granular 1. Nos casos da doença, já que nos cães deste relato, neoplásicas que devem ser diferencia-
aqui descritos, as lesões macroscópicas apesar da corticoterapia, foi realizada das microscopicamente de MEG
da superfície de corte do encéfalo foram eutanásia após algumas semanas até três incluem histiocitose central maligna,
compatíveis aos locais em que a lesão meses do início dos sinais clínicos linfoma 29 e gliomatosis cerebri 30.
microscópica angiocêntrica foi mais (Figura 1). Em um estudo que avaliou o Nesses casos, muitas vezes é necessário
acentuada (Figura 5). As meninges perfil eletroforético do líquor, foi suge- o uso da imunohistoquímica para mar-
podem estar opacas e espessas, e hidro- rido que a produção de imunoglobulina car especificamente o tipo celular.
cefalia interna pode estar presente em pode representar uma resposta imuno- Nos casos aqui observados, foi notá-
alguns casos 1, como observado no cão mediada e caracterizar um curso clínico vel a melhora do quadro clínico após a
3. Nesse caso, a hidrocefalia é decorren- crônico para alguns casos de MEG 6. corticoterapia. Embora com apenas três
te do infiltrado granulomatoso nas lep- O estudo histológico também permi- casos, esse dado permite sugerir que
tomeninges, que não permite a drena- tiu diferenciar a MEG de outras doenças essa terapia possa ser útil no diagnósti-
gem do líquor para o sistema venoso por inflamatórias. Em cães, encefalite e me- co de MEG, já que cães com encefalites
meio dos vilos da aracnóide 19. ningite são as doenças mais comuns que infecciosas apresentam piora dos sinais
Histologicamente, as lesões típicas de resultam em sinais multifocais do siste- clínicos quando tratadas com corticói-
MEG aqui descritas são consistentes ma nervoso central 2,17. Causas infeccio- des 17. A rápida resposta clínica inicial à
com as de outros relatos para a doença 1,2. sas comuns incluem cinomose, toxo- corticoterapia sugere um prognóstico
O diagnóstico e a forma da doença (dis- plasmose, neosporose, infecções fúngi- mais favorável 31. Terapias adjuvantes
seminada, focal ou ocular) são firmados cas como criptococose, blastomicose, podem ser usadas para aumentar a taxa
pelo exame histológico do encéfalo e da coccidiomicose, candidíase e aspergilo- de sobrevida de cães com MEG, como
medula espinhal. Como mencionado an- se e infecções por algas saprófitas como radioterapia, ciclosporina 32, procarbazi-
teriormente, macrófagos epitelióides e prototecose 5,17,21. Nesse estudo, não na 33 e citosina arabinosida, potente anti-
linfócitos foram predominantes, mas a foram encontrados cistos de protozoá- inflamatório que ultrapassa a barreira
porcentagem dessas células é variável. rios, inclusões virais ou estruturas intra- hematoencefálica 16. O uso combinado
Um estudo imunomorfológico sugere lesionais morfologicamente compatí- de prednisona com citosina arabinosida
que essas células consistem de uma po- veis com fungos ou algas nas seções co- tem sido adotado como terapia empírica
pulação heterogênea de macrófagos ati- radas com H&E, PAS ou GMS. Tem quando a encefalite tem causa desco-
vados, com forte expressão do complexo sido postulado que a MEG pode ser nhecida, já que o diagnóstico definitivo

56 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


de MEG pode ser feito apenas histologi- meningoencephalomyelitis: 42 cases (1982- 11-PLATT S. R.; OLBY N. J. BSAVA Manual of
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brevida dos cães foi de 531 dias 31. 1906, 1998. 12-BAGLEY, R. S. Fundamentals of veterinary
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prazo é desfavorável, porque a MEG é suspected infectious origin. In: GREENE, C. E. 570p.
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rapia é invariavelmente associada com 14-CHERUBINI, G. B.; PLATT, S. R.;
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rápida deterioração clínica 1,34, como histopathological features of granulomatous LORENZO, V.; MANTIS, P .; CAPELLO, R.
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58 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Artrodese de joelho em Anderson Coutinho da Silva
MV, prof. - Universidade Metodista de São Paulo
ad_couto@yahoo.com.br

cachorro-do-mato-vinagre Roberto Silveira Fecchio


(Speothos venaticus) Médico veterinário colaborador - LOC/FMVZ/USP
bob_vetmeto@hotmail.com

Marcelo da Silva Gomes


Arthrodesis of the knee in Bush dog Médico veterinário - Zoológico Municipal SBC
hardtgomes@uol.com.br

(Speothos venaticus) Celso Braga Sobrinho


MV, prof. - Universidade Metodista de São Paulo
Artrodesis de rodilla en zorro vinagre celso.sobrinho@metodista.br

(Speothos venaticus) Nilton Abreu Zanco


MV, diretor - Curso de Medicina Veterinária
Universidade Metodista de São Paulo
Resumo: Uma fêmea de cachorro-do-mato-vinagre foi encaminhada ao hospital veterinário da Universidade Metodista de São nilton.zanco@metodista.br
Paulo com histórico de artrite crônica, sem melhora do quadro após tratamento com antiinflamatório não esteroidal e con-
droprotetores. O desvio do eixo articular e o início de anquilose pressionavam as estruturas adjacentes e promoviam dor crôni-
ca, excluindo o animal do manejo reprodutivo e diminuindo substancialmente sua qualidade de vida. Com a finalidade de
realizar artrodese de joelho, excisaram-se os demais ligamentos, meniscos, cápsula articular e patela, proporcionando melhor
abordagem das extremidades ósseas. Os ângulos de ostectomias das extremidades foram determinados com auxílio de Para a realização de uma ART bem-
goniômetro estéril em 140°. Em seguida, duas placas foram fixadas com o intuito de obter maior estabilidade. A colocação da
segunda placa também proporcionou a diminuição das forças de tensão na articulação, reduzindo a probabilidade de even- sucedida, faz-se necessário cumprir
tuais problemas pós-cirúrgicos. alguns pré-requisitos 2, como verificar
Unitermos: Cirurgia, articulação
se o resto do membro envolvido e as
Abstract: A female Bush dog was presented to the veterinary hospital of the University Metodista of São Paulo with report of articulações adjacentes mantêm-se
chronic arthritis, with no improvement after treatment with non-steroidal anti-inflammatory drugs (AINEs) and funcionais 6,16. Além disso, deve-se de-
chondroprotectors. The deviation of the joint axis and the beginning of the knee anchilosis pressed the adjacent structures and
caused chronic pain, which prevented the animal from breeding and reduced its quality of life substantially. With the purpose of terminar, no pré-operatório, a posição
performing knee arthrodesis, the other ligaments, meniscuses, articular capsule and patella were removed, providing better em que se pretende unir a articulação,
approach of the extremities of shinbone and femur. The ostectomy angles of the extremities were established with the aid of a
sterile goniometer at 140°. After this procedure, two plates were fixed to provide more stability. The placement of the second que deve ser a mais funcional para o
plate helped decrease joint tension forces, reducing the probability of eventual post-surgical problems. animal. Para tanto, o cirurgião deve
Keywords: Surgery, joint
considerar os três planos, a saber: ângu-
Resumen: Una hembra de zorro vinagre fue encaminada al hospital veterinario de la Universidad Metodista de São Paulo con lo de extensão ou flexão, grau de varo
una historia de artritis crónica, sin mejora del cuadro después de tratamiento con antiinflamatorio no esteroide y
condroprotectores. La desviación del eje articular y el inicio de la anquilosis presionaban las estructuras adyacentes y
ou valgo e alinhamento rotacional ou
promovían dolor crónico, excluyendo al animal del manejo reproductivo y disminuyendo sustancialmente su calidad de vida. axial apropriado 3,4,13,16,17,18. Os ângulos
Con la finalidad de realizar artrodesis de rodilla, se extirparon los demás ligamentos, meniscos, cápsula articular y patela,
proporcionando mejor abordaje de las extremidades de tibia y fémur. Los ángulos de las ostectomias de las extremidades
normais para as diferentes articulações
fueron determinados con ayuda de un goniómetro estéril en 140˚. En seguida, dos placas fueron fijadas para obtener más constam da literatura especializada, mas
estabilidad. La colocación de la segunda placa también proporcionó una reducción de las fuerzas de tensión en la
articulación, disminuyendo la probabilidad de eventuales problemas post-quirúrgicos.
o método mais simples para determinar
Palabras clave: Cirugía, articulación o ângulo correto consiste em medir o
membro normal oposto durante a sus-
Clínica Veterinária, n. 68, p. 59-62, 2007 tentação do peso, por meio da utilização
de um goniômetro 4,19. O tipo de fixação
Introdução observação porque geralmente evoluem e a técnica cirúrgica devem ser avalia-
A artrodese (ART) definitiva é indica- para a osteoartrose (OA), a qual pode ser dos criteriosamente, sendo desejável o
da para as diferentes espécies de mamí- tratada com medicamentos alopáticos, emprego da remoção da cartilagem arti-
feros terrestres, e consiste na união óssea medicina complementar ou intervenção cular para que o contato ósseo aumente
de uma ou mais extremidades articula- cirúrgica. Para avaliar a OA, a tomada e a união óssea precoce seja facilitada 4,20.
res, que elimina por completo o movi- de radiografias é o procedimento mais Entretanto, algumas complicações
mento articular. Essa técnica pode ser rotineiramente utilizado, pois constitui pós-cirúrgicas podem comprometer o
realizada com manobras cirúrgicas via um meio diagnóstico barato e não inva- sucesso de todo o procedimento. A prin-
implantes ortopédicos ou imobilização sivo. Nos casos de OA, as imagens ra- cipal delas consiste na quebra ou soltura
articular com pensos, que demandam diográficas possibilitam a observação de dos implantes ortopédicos utilizados,
mais tempo para a resolução do proble- diminuição do espaço intra-articular, que pode acontecer em virtude da in-
ma e requerem cuidados intensivos. A presença de esclerose óssea subcondral e quietação de alguns animais, da falta de
ART é indicada para reparar lesões irre- neoformações ósseas, que originam os- cuidados por parte do proprietário, da
versíveis, em detrimento a neurites ou teófitos marginais. Clinicamente, os rejeição à liga do material, ou da falta de
neuromas periféricos irreparáveis clinica- pacientes portadores de AO apresen- experiência do profissional. 4,20
mente, tendinopatias crônicas ou traumá- tam queixa de dor, rigidez e limitação A ART de joelho tem sido utilizada
ticas 1,2,3,4,5, luxações ou subluxações crôni- progressiva dos movimentos, que há mais de um século para o tratamento
cas, fraturas intra-articulares e ruptura de evoluem para intervenção cirúrgica co- de afecções 21. O primeiro relato é credi-
ligamento(s) – que requerem cuidados e mo a ART. 6,7,8,9,10,11,12,13,14,15 tado ao professor Albert em 10 de julho

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 59


de 1878, em uma paciente de 15 anos (Figura 5). A angulação correta da arti-

Roberto Silveira Fecchio


portadora de poliomielite. Desde então, culação foi estabilizada com a coloca-
diversas técnicas cirúrgicas foram des- ção de dois pinos de Steinmann cruza-
critas em algumas espécies 22. dos (um desde o côndilo femoral medial
Os principais objetivos da realização até o córtex tibial lateral, e o outro
da técnica de ART são a identificação e desde o côndilo femoral lateral até o
a eliminação da causa primária de dor e córtex tibial medial) (Figura 6), o que
instabilidade articular, a obtenção de fi- manteve o ângulo apropriado enquanto
xação rígida do implante e a promoção a placa era fixada. O músculo quadrí-
do retorno da função do membro afeta- ceps foi elevado subperiostalmente para
do. Para isso, a remoção de toda a carti- a aplicação da placa no córtex cranial do
lagem articular por curetagem ou ostecto- fêmur, e esta foi contornada sobre a
mia deve ser seguida por estabilização, tíbia. Em seguida, fixou-se a placa auto-
revascularização tecidual e estimulação compressiva – de 2,7mm e 12 furos –
da formação de calo ósseo precoce, na porção cranial do fêmur e da tíbia
eventos importantes para o sucesso do (abrangendo cerca de metade do com-
procedimento 16,23. primento de cada osso), utilizando 11
parafusos compressivos (2,7mm), com
Figura 2 - Evidência radiográfica de artrose e
Relato de caso anquilose
o objetivo de impedir as forças indesejá-
Uma fêmea de cachorro-do-mato- veis de curvatura cranial. Ao final, os
vinagre (Speothos venaticus) (Figura 1) O desvio do eixo articular e o início de pinos foram seccionados e recalcados
foi encaminhada ao hospital veterinário anquilose da articulação do joelho pres- para dentro das superfícies ósseas, vi-
da Universidade Metodista de São Pau- sionavam as estruturas adjacentes e pro- sando proporcionar estabilização secun-
lo com histórico de OA sem melhora do moviam dor crônica, excluindo o ani- dária. Com o intuito de obter maior esta-
quadro clínico após o tratamento com mal do manejo reprodutivo e diminuindo bilidade para impedir a força de rotação
antiinflamatório não esteroidal (AINE) substancialmente a sua qualidade de vida.
e condroprotetores. Como a manutenção pós-cirúrgica é

Roberto Silveira Fecchio


complicada em todo animal selvagem,
preconizou-se a utilização de pinos cru-
Roberto Silveira Fecchio

zados e duas placas: uma cranial (com-


pressiva) e outra medial (reconstrução)
ao membro. Os demais ligamentos (cru-
zado caudal e patelar), meniscos, cápsu-
la articular, patela e crista da tíbia Figura 4 - Utilização de goniômetro para deter-
(Figura 3) foram excisados para propor- minação do ângulo de fusão
cionar melhor abordagem das extremi-
dades da tíbia e do fêmur. Os ângulos de

Roberto Silveira Fecchio


Figura 1 - Espécime de cachorro-do-mato-vinagre ostectomias das extremidades são im-
portantes pois determinam o ângulo
O animal apresentava os seguintes final de fusão, razão pela qual foram
sinais clínicos: claudicação assimétrica, determinados com o auxílio de go-
relutância em pular e exercitar-se, prefe- niômetro estéril em 140° de angulação
rência por se manter deitada em vez de (Figura 4). Ambas as extremidades
sentada ou em pé, mudança de atitude e (tíbia e fêmur) foram ostectomizadas
vocalização exacerbada. Ao exame físi- com o auxílio de cinzel (formão) e
co, foi possível constatar: articulação martelo (até atingir o osso subcondral)
com edema firme (hipertrofia/fibropla- Figura 5 - Ostectomia da tíbia
sia dos tecidos conjuntivos), crepitação,
Roberto Silveira Fecchio

Roberto Silveira Fecchio

diminuição da amplitude do movimento


e atrofia muscular da região afetada. Ao
exame radiográfico foram observados
espessamento e opacificação da cápsula
articular, esclerose óssea nas superfícies
articulares de tíbia e fêmur, formações
osteofíticas em face medial e lateral da
articulação, fibrose tecidual, luxação de
patela grau III e provável rompimento de
ligamento cruzado cranial, além de le- Figura 6 - Estabilização da angulação por meio
sões indicativas de anquilose (Figura 2). Figura 3 - Excisão da patela e ligamentos da utilização de pinos de Steinmann

60 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


e curvatura láteromedial, uma segunda em espécies selvagens. Além disso, os

Roberto Silveira Fecchio


placa (de reconstrução) foi remodelada e mecanismos neuro-endócrinos desenca-
fixada medialmente com oito parafusos deados pelo estresse da contenção física
(2,7 mm), ancorando os dois ossos podem significar a morte do animal.
envolvidos (fêmur e tíbia) (Figura 7).
Para obtenção analgesia pós-opera- Resultados e discussão
tória foi utilizado antiinflamatório De acordo com os autores consulta-
não estereoidal a base de meloxican a dos, a fusão da articulação do joelho
Figura 8 - Aspecto radiográfico do pós-cirúrgico
(0,1mg/kg), SID, por via intra-muscular, tem como objetivo primordial abolir por imediato
durante três dias consecutivos. A aplica- completo a dor decorrente da OA. As
ção dos fármacos durante o pós-operató- formas de estabilização adotadas no ser aplicadas no local da ART em decor-
rio foi realizada por meio de dardos caso ora descrito se devem ao fato de o rência do intenso movimento sofrido no
pneumáticos propelidos com auxílio de paciente ser um animal selvagem que, ponto quando o animal se levanta e se
zarabatana, haja vista a impossibilidade mesmo criado em cativeiro, tende a difi- locomove (Figura 8).
de sucessivas contenções físicas, neces- cultar a manutenção pós-cirúrgica. Ani- Os diâmetros dos implantes seguiram
sárias para a infusão de medicamentos mais selvagens que necessitam de ava- os mesmos critérios utilizados para pe-
liação e cuidados médicos são usual- quenos animais 10,20, ou seja, considerou-
Roberto Silveira Fecchio

mente sedados, o que aumenta o risco se o peso do animal, pois, embora a an-
de morte principalmente quando esse gulação também seja relatada na litera-
ato é repetido diariamente, como no tura, optou-se pela comparação com o
caso da retirada de fixadores e das tro- membro contralateral. Essas escolhas se
cas periódicas de bandagens; assim, basearam na rotina médica de pequenos
optou-se pelo emprego de implantes que animais, uma vez que não há especifi-
Figura 7 - Fixação das placas em ângulo reto ficassem internos. O uso de duas placas cações técnicas para essa espécie de
entre si associadas aos pinos cruzados reforça o animal. A ausência de trabalhos volta-
a) Maxicam 0,2% injetável, Ouro Fino Saúde Animal. Ribeirão
propósito inicial, além de tentar evitar a dos a esse tema faz com que o presente
Preto, SP ação de forças excessivas que possam relato seja de grande importância para a

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 61


espécie em questão, atualmente classifi- fractures, luxations and subluxations. In: OCHI, T. Progressive degenerative of articular
BRINDER, W. O. B.; PRIEUR, W. D. Small cartilage and intervertebral discs: An
cada como vulnerável à extinção pela animal manual of internal fixation. New York: experimental study in transgenic mice bearing a
IUCN (1990). Springer-Verlag, 1984. type IX collagen mutation. International
O animal apresentou melhora do qua- 02-EARLY, T. D.; DEE, J. F. Trauma to the carpus, Orthopaedics. v. 20, p. 177-181, 1996
dro clínico, sem complicações, dez dias tarsus and phalanges of dog and cats. Veterinary 13-LUCAS, D. B.; MURRAY, W. R. Arthrodesis of
Clinics of North America, n. 10, p. 717, 1980. the knee by double-plating. Journal of Bone
após a cirurgia, e atingiu a completa 03-FROST, W. W.; LUMB, W. V. Radiocarpal and Joint Surgery of America. v. 43, p. 795-808,
união óssea em aproximadamente setenta arthrodesis: a surgical approach to brachial 1961.
dias. Ele passou a apresentar quadro com- paralysis. Journal of the American Veterinary 14-MAcWILLIAMS, P. S.; FRIEDRICHS, K. R.
Medical Association, v. 149, p. 1073, 1966. Laboratory evaluation and interpretation of
portamental compatível com excelente 04-LESSER, A. S. Artrodese. In: SLATTER D. synovial fluid. Veterinary Clinics of North
qualidade de vida, cessando as vocaliza- Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. America: Small Animal Practice, v. 33, p. 153-
ções, diminuindo a claudicação e passan- ed. São Paulo: Manole, 1998. v. 2. p. 2228-2242. 178, 2003.
05-TURNER, T. M.; LIPOWITZ, A. J. Artrodese. 15-MONTGOMERY, R. D.; FITCH, R. B.;
do a permitir a cópula, o que possibilitou HATHCOCK, J. T.; LAPRADE, R. F.;
In: BOJRAB, M. J.; BIRCHARD, S. J.;
seu retorno ao manejo reprodutivo. TOMLINSON, J. L. Técnicas atuais em cirur- WILSON, M. E.; GARRETT, P. D. Radiographic
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Roca, 1996. p. 775-786. Veterinary Radiology and Ultrasound, v. 36,
Conclusão n. 4, p. 276-282, 1995.
06-ARNOCZKY, S. P. Pathomechanics of cruciate
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um só tempo – utilizando duas placas – J. Disease mechanisms in small animal substitutes. Journal of Bone and Joint Surgery.
é um método que promove a consolida- surgery, 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, v. 84, p. 454-464, 2002.
1993. p. 764-776. 17-RENSHAW, A. H. Campbell`s operative
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de extrema importância para o manejo degenerative changes predisposing dogs to
08-FITCH, R. B.; MONTGOMERY, R. D.;
reprodutivo da espécie no Brasil, pois MILTON, J. L.; GARRETT, P. D.; KINCAID, S. rupture of the cranial cruciate ligament.
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matologia para o clínico. São Paulo: Roca, ortopedia e tratamento das fraturas dos
sou a permitir a cópula, o que contribui 2000, p. 139-148. pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Manole,
para a conservação ex situ da espécie. 10-HULSE, D. A.; JOHSON, A. L. Artropatias. 1999. 649p.
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Agradecimentos 2005, p. 1017-1033. lho com duas placas pós-infecção em artroplastia
11-INNES, J. F.; BARR, A. R. S.; SHARIF, M. total. Revista do Joelho/SBCJ, v. 3, n. 1, p. 40-
Ao médico veterinário Marco Anto- Efficacy of oral calcium pentosan polysulphate 43, 2003.
nio Leon Romàn, pós-graduando do for the treatment of osteoarthritis of the canine 22-BRIAN, R. S.; BRODERSEN, M. P. Arthrodesis
Departamento de Cirurgia FMVZ-USP. stifle joint secondary to cranial cruciate ligament of the knee with a modular titanium
deficiency. Veterinary Record, v. 146, n. 15, intramedullary nail. Journal of Bone and Joint
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01-DEE, J. F.; DEE, L. G.; EARLY, T. D. Tarsal MIYAMOTO, S.; MATSUI, Y.; EBARA, S.; nonunion fractures. Seminars in Veterinary
Adrenalectomia para Alessandra Roll
MV, especialista em cirurgia
alessandraroll@hotmail.com

tratamento de tumor ou Gleide Marsicano


hiperplasia adrenal em furões MV, especialista em toxicologia
gleidemarsicano@ig.com.br

(Mustela putorius furo): relato


de nove casos (2003-2004) animais seja a responsável pelo desen-
volvimento de tumores ou hiperplasia
de adrenais. Estudos realizados em al-
Adrenalectomy as treatment for tumor or gumas raças de camundongos mostra-
ram que a esterilização precoce pode pro-
adrenal hyperplasia in ferrets (Mustela puto- mover a hiperplasia adrenal nodular ou
a formação de tumor em uma ou duas
rius furo): nine case reports (2003-2004) adrenais, que hipersecretam estrógenos
e andrógenos 1,2. Tumores pituitários são
Adrenalectomia para tratamiento de tumor a causa de hiperadrenocorticismo em
várias espécies, mas o papel da glându-
o hiperplasia adrenal en hurones la pituitária na doença de adrenal em
furões é desconhecido. Nessa espécie,
(Mustela putorius furo): relato assim como ocorre entre os roedores, a
de nueve casos (2003-2004) doença é mediada pela ação do excesso
de gonadotrofinas no córtex adrenal, re-
sultantes da esterilização precoce, que
Resumo: A crescente importação de furões tem mostrado a necessidade de compreender melhor as moléstias que os acome-
tem, sobretudo a doença de adrenal, que tem sido diagnosticada com freqüência. Tal doença é observada em animais de meia-
podem deflagrar hiperatividade desse
idade a mais velhos e caracteriza-se por perda de pêlo e prurido, em ambos os sexos, e edema de vulva em fêmeas. O trata- córtex por meio da secreção excessiva
mento é cirúrgico, uma vez que a terapia medicamentosa usual em cães não surte efeito em furões e o prognóstico após a
intervenção é bom. Neste trabalho foram avaliados nove animais submetidos à adrenalectomia, e traçadas as incidências da
de esteróides sexuais 3.
doença por sexo, sinais clínicos, glândula mais afetada, análise histopatológica do tumor, recorrência e moléstias conjuntas. Os sintomas clínicos da doença de
Unitermos: Animais silvestres, cirurgia veterinária, doenças do córtex da supra-renal adrenal em furões diferem daqueles que
caracterizam a síndrome de Cushing
Abstract: The increasing importation of ferrets brings up the need to better understand its most frequent pathologies, such as
the adrenal cortical disease, which is very common nowadays. It occurs in middle-aged to old ferrets and is characterized by clássica em cães. Além disso, nos furões
alopecia and pruritus in both sexes and vulva enlargement in females. The treatment of choice is adrenalectomy, since it has as concentrações de cortisol sérico rara-
good prognosis and canine drug therapy has no effect in ferrets. In this research nine animals that underwent adrenalectomy
were evaluated and the prevalence was studied based on sex, clinical signs, most affected gland, histopathology of the tumor, mente estão elevadas, mas os níveis de
recurrence and concurrent abnormalities. estradiol ou 17-hidroxiprogesterona po-
Keywords: Wild animals, veterinary surgery, adrenal cortex diseases
dem estar elevados como resultado de
hiperplasia, adenoma ou adenocarcino-
Resumen: La importación creciente de hurones ha mostrado la necesidad de comprender mejor sus molestias más comunes,
especialmente la enfermedad de la adrenal que ha sido diagnosticada con frecuencia. Esta enfermedad es encontrada en ma 4. Os sinais clínicos mais observados
animales de media edad a viejos y se caracteriza por pérdida de pelos y prurito, en ambos sexos, y edema de vulva en são alopecia simétrica (Figuras 1, 2 e 3)
hembras. El tratamiento es quirúrgico, ya que el tratamiento medicamentoso usual en perros no tiene efecto sobre hurones y
el pronóstico después de la cirugía es bueno. En este trabajo fueron evaluados nueve animales sometidos a adrenalectomia e prurido em ambos os sexos. As fêmeas
y fueron vistos la incidencia de la enfermedad por sexo, señales clínicos, glándula mas afectada, análisis histopatológico del podem apresentar edema de vulva 4,6,7,
tumor, recurrencia y enfermedades conjuntas.
Palabras clave: Animales silvestres, cirurgía veterinaria, enfermedades de la corteza suprarrenal enquanto os machos podem apresentar
poliúria e polidipsia 10, estrangúria ou di-
Clínica Veterinária, n. 68, p. 64-66, 2007 súria, devido ao aumento prostático ou
parauretral secundário ao aumento dos
andrógenos produzidos pelo tecido neo-
Introdução que os acometem e, sobretudo, de esti- plásico 11, além de retorno ao comporta-
Muitas vezes definida inadequada- pular a prevalência regional destas. O mento sexual normal 6,7
mente como hipercortisolismo do furão, objetivo do presente estudo é determi- O diagnóstico de tumores adrenocor-
a doença da adrenal é uma endocrinopa- nar a incidência da doença de adrenal ticais em furões é baseado nos sinais clí-
tia comum nos Estados Unidos da Amé- em furões na Clínica Veterinária Toca nicos característicos da doença e na ul-
rica (cerca de 25% dos furões são aco- dos Bichos (Porto Alegre, Rio Grande tra-sonografia, que mostra aumento da
metidos), mas ainda pouco descrita na do Sul) no período de 2003 a 2004. adrenal em mais de 50% dos animais
Europa. A importação recente (últimos afetados 12. Nesse exame, glândulas
dez anos) desses animais e a crescente Revisão de literatura adrenais normais ou anormalidades es-
tendência a torná-los animais de compa- A causa da doença de adrenal em truturais, como mudança de tamanho,
nhia na América do Sul tem aumentado furões é ainda desconhecida. É provável forma e ecogenicidade, podem ser
a necessidade de conhecer as doenças que a esterilização precoce desses observadas claramente 13. A estimulação

64 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


de hormônio adrenocorticotrófico e os Com a remoção cirúrgica o prognós-

Alessandra Roll
testes de supressão de dexametasona tico é excelente 4,12. Na maioria dos fu-
não são confiáveis 14,15. rões, tão logo a glândula doente é remo-
Há duas modalidades de tratamento vida os sinais clínicos associados regri-
para tumores adrenocorticais: manejo dem. Em machos, a estrangúria e a disú-
medicamentoso e remoção cirúrgica da ria passam a diminuir 48 horas após o
glândula afetada, mais utilizada porque procedimento cirúrgico. Em fêmeas, a
o manejo medicamentoso com as drogas vulva retorna ao tamanho normal cerca
atualmente disponíveis no mercado não de uma ou duas semanas depois da in-
apresenta resultados satisfatórios e pode tervenção. Em ambos os sexos, o cresci-
provocar efeitos colaterais perigosos 5. mento dos pêlos começa em duas sema- Figura 6 - Resultado dos exames histopatológi-
cos das glândulas removidas
Quando somente uma glândula esti- nas, e geralmente está completo dois
ver afetada, deve-se realizar a adrena- meses após a cirurgia 12. As maiores

Alessandra Roll
lectomia unilateral. Se ambas as glându- complicações após o tratamento cirúrgi-
las estiverem doentes, deve-se remover co são a recorrência do tumor por me-
completamente uma glândula e parcial- tástase (muito rara) 4 ou o aparecimento
mente a outra. A decisão sobre qual de tumor na outra glândula 5.
glândula deve ser removida completa-
mente baseia-se no grau de comprome-

Alessandra Roll
timento da mesma 5. Torna-se necessário
observar que, se parte da glândula
doente não for removida, os sinais da
doença podem não se dissipar inteira- Figura 7 - Furão com alopecia na região da
mente e que, se ambas as glândulas base da cauda
forem retiradas completamente, haverá

Alessandra Roll
necessidade de suplementação glicocor- apresentados por
ticóide 16 e mineralocorticóide. esses animais
consistiam em
Figura 4 - Identificação da adrenal no
Alessandra Roll

transoperatório alopecia na cau-


da e no dorso
(100%), aumen-
Alessandra Roll

to vulvar nas fê-


meas (50%) e
prurido (44,4%).
A glândula es-
Figura 1 - Alopecia simétrica na região das querda foi a mais
escápulas, em furão com doença de adrenal afetada (55,5%),
Figura 5 - Glândula adrenal logo após remoção
embora sem di-
Alessandra Roll

cirúrgica ferença estatísti-


ca em relação à
Relato de casos glândula direita.
Foram estudados nove casos de fu- Os resultados dos
rões atendidos na Clínica Veterinária exames histopa- Figura 8 - Mesmo furão
Toca dos Bichos. Os animais foram le- tológicos estão da figura 8 após 45 dias
vados à clínica por apresentarem pruri- demonstrados na da adrenalectomia, com
recuperação total dos
Figura 2 - Alopecia total, em furão com doença
de adrenal em estágio avançado do, perda de pêlos e edema vulvar, em Figura 6. Após pêlos
fêmeas. Todos os animais foram enca- adrenalectomia,
minhados para ecografia, que permitiu a todos os animais, à exceção de um deles,
Alessandra Roll

constatação de aumento unilateral de que foi a óbito no pós-operatório ime-


adrenal. Após o diagnóstico os furões diato, apresentaram remissão dos sinais
foram submetidos à adrenalectomia uni- clínicos (Figuras 7 e 8). Dos animais que
lateral por meio de celiotomia ventral sofreram intervenção cirúrgica, dois
(Figura 4), e a glândula foi enviada para tiveram doença na glândula contralateral,
análise histopatológica (Figura 5). e foram submetidos à adrenalectomia
parcial, que fez com que os sinais clíni-
Resultados cos regredissem. Esses dois animais
Dos nove animais estudados, oito foram os únicos a apresentar moléstias
Figura 3 - Alopecia na região da cauda e do (88,9%) eram fêmeas e somente um conjuntas, como piometra associada a
dorso, em furão com doença de adrenal (11,1%) era macho. Os sinais clínicos leimioblastoma uterino e insulinoma.

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 65


Discussão portadores de leiomiossarcoma dermal 21. American Veterinary Medical Association. n.
203, v. 2, p. 267-270, 1993.
No estudo ora descrito observou-se Um dos animais deste estudo desenvol-
08-WEISS, C. A.; WILLIAMS, B. H.; SCOTT, J. B.;
predileção por sexo (fêmeas). Nos veu leiomioblastoma uterino, mas não SCOTT, M. V. Surgical treatment and long-term
EUA, o número de fêmeas acometidas foi possível estabelecer qualquer corre- outcome of ferrets with bilateral adrenal tumors
pela doença chega a ser duas vezes lação entre tal achado e aquele da inves- or adrenal hyperplasia: 56 cases (1994-1997).
Journal of the American Veterinary Medical
maior do que o número de machos 15. tigação anteriormente citada. Association. n. 215, v. 6, p. 820-823, 1999.
Entretanto, em estudo realizado nos 09-EATWELL, K. . Two unusual tumours in a ferret
Países Baixos em 2000 17, o sexo não foi Conclusão (Mustela putorius furo). The Journal of Small
associado à prevalência da doença. O presente estudo pode subsidiar fu- Animal Practice. n. 45, v. 9, p. 454-459, 2004.
Outros autores supõem que a maior in- 10-ROSENTHAL, K. L.; PETERSON, M. E.;
turas investigações sobre a incidência QUESENBERRY, K. E.; HILLYER, E. V.;
cidência de registros da moléstia em fê- regional da doença de adrenal, uma vez BEEBER, N. L.; MOROFF, S. D.; LOTHROP,
meas é decorrente do aumento vulvar, que os resultados obtidos diferem dos C. D. JR. Hyperadrenocorticism associated with
que causa maior preocupação aos pro- achados de investigações, também vol- adrenocortical tumor or nodular hyperplasia of
the adrenal gland in ferrets: 50 cases (1987-1991).
prietários. A predileção sexual da mo- tadas à prevalência dessa moléstia, rea- Journal of the American Veterinary Medical
léstia é aparente, ou seja, é uma conse- lizadas em outros países, como os Esta- Association. n. 203, v. 2, p. 271-275, 1993.
qüência dos sinais clínicos, que se ma- dos Unidos da América e a Inglaterra. A 11-NOLTE, D. M.; CARBERRY, C. A.; GANNON,
nifestam com maior evidência em fê- importância de se aferirem prevalências K. M.; BOREN, F.C. Temporary tube
cystostomy as a treatment for urinary obstruction
meas, e não revela a real diferença na regionais é manter os médicos veteriná- secondary to adrenal disease in four ferrets.
taxa de incidência 5. rios atentos aos sintomas clínicos preco- Journal of the American Animal Hospital
O sintoma clínico mais observado na ces da doença e, assim, realizar a cirur- Association. n. 38, v. 6, p. 527-532, 2002.
amostra objeto desta investigação foi a gia sem que o tumor prolifere rapida- 12-MULLEN, H. Soft Tissue Surgery. In:
HILLYER, E. V .; QUESSENBERRY, K. E.
alopecia 5,18, embora outros estudiosos mente. Este trabalho também é impor- Ferrets, rabbits and rodents - clinical
tenham demonstrado que mais de 70% tante porque traz esclarecimentos essen- medicine and surgery. WB Saunders Company:
das fêmeas afetadas apresentam aumen- ciais para o diagnóstico, o tratamento e Philadelphia, 1997. p. 137-139
to vulvar 5. o prognóstico da doença de adrenal, uma 13-BARTHEZ, P. Y.; NYLAND, T. G.;
FELDMAN, E. C. Ultrasonography of the
Com relação aos achados histopatoló- vez que, em furões, essa moléstia difere adrenal glands in the dog, cat, and ferret. The
gicos em adrenais, os relatos encontrados muito do quadro apresentado em cães. Veterinary Clinics of North America. Small
na literatura mostram grande variação: al- animal practice. n. 28, v. 4, p. 869-885, 1998.
guns autores encontraram cerca de 56% Referências 14-ACKERMANN, J.; CARPENTER, J. W.;
01-BIELINSKA, M.; PARVIAINEN, H.; PORTER- GODSHALK, C. P.; HARMS, C. A.
de adrenais com hiperplasia 8, outros en- TINGE, S. B.; KIIVERI, S.; GENOVA, E.; Ultrasonographic detection of adrenal gland
contraram maior índice de adenomas 5,7. RAHMAN, N.; HUHTANIEMI, I. T.; MUGLIA, tumors in two ferrets. Journal of the American
Já na presente investigação constatou-se L. J.; HEIKINHEIMO, M.; WILSON, D. B. Mouse Veterinary Medical Association. n. 205, v. 7,
maior incidência de carcinoma adreno- strain susceptibility to gonadectomy-induced p. 1001-1003, 1994.
adrenocortical tumor formation correlates with the 15-HILLIER, E. V.; BROWN, S. A. Neoplasias. In:
cortical, o que ressalta a importância de expression of GATA-4 and luteinizing hormone BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual
levantamentos de prevalência regionais. receptor. Endocrinology. n. 144, v. 9, p. 4123- Saunders de Clínica de Pequenos Animais.
Embora a maioria dos tumores en- 4133, 2003. São Paulo: Roca, 1998. p. 1484-1489
02-BIELINSKA, M.; GENOVA, E.; BOIME, I.; 16-ROSENTHAL, K. Ferrets: doença da glândula
contrados neste estudo fossem malignos, PARVIAINEN, H.; KIIVERI, S.; RAHMAN, N.; adrenal. In: RHODES, K. H. Dermatologia de
observou-se tumor na glândula contra- LEPPALUOTO, J.; HEIKINHEIMO, M.; WILSON, pequenos animais. Consulta em 5 minutos.
lateral em somente dois animais, quatro D. B. Nude mice as a model for gonadotropin- Rio de Janeiro:Revinter, 2005. p. 511-512
a seis meses após a cirurgia, dos quais induced adrenocortical neoplasia. Endocrine 17-SHOEMAKER, N. J.; SCHUURMANS, M.;
research. n. 30, v. 4, p. 913-917, 2004. MOORMAN, H.; LUMEIJ, J. T. Correlation
um apresentou metástase seis meses 03-SCHOEMAKER, N. J.; VAN DER HAGE, M. between age at neutering and age at onset of
após a última cirurgia. Vários autores H.; FLIK, G.; LUMEIJ, J. T.; RIJNBERK, A. hyperadrenocorticism in ferrets. Journal of the
relatam que metástases são raras, mas Morphology of the pituitary gland in ferrets American Veterinary Medical Association.
(Mustela putorius furo) with hyperadrenocorticism.
que alguns tumores podem apresentar Journal of Comparative Pathology. n. 130, v. 4,
n. 2, v. 216, p. 195-197, 2000.
infiltração local na veia cava 5,6,7. 18-PATTERSON, M. M.; ROGERS, A. B.;
p. 255-265,2004.
SCHRENZEL, M. D.; MARINI, R. P.; FOX, J.
As afecções comumente relacionadas 04-JAVOROUSKI, M. L.; PASSERINO, A. S. M.
G. Alopecia attributed to neoplastic ovarian
Carnivora - Mustelidae (ariranha, lontra, furão,
com a doença de adrenal são insulino- irara, ferret). In: CUBAS, Z. L.; SILVA, J. C. R.; tissue in two ferrets. Comparative Medicine.
mas, esplenomegalia, problemas cardía- CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais n. 53, v. 2, p. 213-217, 2003.
cos e linfoma 5,6,9,19. Um furão que cursa- Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. p. 547-570 19-WEISS, C. A.; SCOTT, M. V. Clinical aspects
05-ROSENTHAL, K. L. Part II: adrenal gland and surgical treatment of hyperadrenocorticism
va com hiperadrenocorticismo compli- in the domestic ferret: 94 cases (1994-1996).
disease. In: HILLYER, E. V.; QUESSENBERRY,
cado por cardiomiopatia dilatada apre- K. E. Ferrets, rabbits and rodents - clinical Journal of the American Animal Hospital
sentou hepatite crônica e doença renal 20. medicine and surgery. WB Saunders Company: Association. n. 33, v. 66, p. 487-493, 1997.
Vale observar que tumores e problemas Philadelphia, 1997. p. 91-98 20-FOX, J. G.; GOAD, M. E.; GARIBALDI, B. A.;
06-QUINTON, J. F. Novos animais de estimação - WIEST, L. M. Hyperadrenocorticism in a
cardíacos são achados comuns em ani- pequenos mamíferos. São Paulo: Roca, 2002. ferret. Journal of the American Veterinary
mais mais velhos, mas ainda não foi pos- p. 53-59. Medical Association. n. 191, v. 3, p. 343-344,
sível determinar uma correlação entre 07-LAWRENCE, H. J.; GOULD, W. J.; 1987.
FLANDERS, J. A.; ROWLAND, P. H.; 21-MIKAELIAN, I.; GARNER, M. M. Solitary
tais doenças. dermal leiomyosarcomas in 12 ferrets. Journal
YEAGER, A. E. Unilateral adrenalectomy as a
Há registro de ocorrência da doença treatment for adrenocortical tumors in ferrets: of Veterinary Diagnostic Investigation. n. 14,
de adrenal em três de cinco furões five cases (1990-1992). Journal of the v. 3, p. 262-265, 2002.

66 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Papel dos fármacos na Mauro José Lahm Cardoso
MV, dr. prof. tit.
DPG/FFALM/UNESPAR
função tireoidiana em cães maurolahm@ffalm.br

Ademir Zacarias Júnior


MV prof. ass.
Drug effects on canine thyroid function DPG/FFALM/UNESPAR
zacariasvet@hotmail.com

Papel de los fármacos en la función Rodrigo dos Reis Oliveira


MV, mestre, prof. ass.
tiroidea en los perros DPG/FFALM/UNESPAR
rodrigoreisvet@hotmail.com

Resumo: Dentre os vários fatores que podem influenciar a função da tireóide dos cães incluem-se os fármacos: glicocor-
ticóides, sulfonamidas e fenobarbital. Estes são alguns exemplos de drogas conhecidas que afetam o eixo hipotálamo-hipó- Eduardo Stefano Maciéski
fise-tireóide de várias espécies. Muitas vezes, o desconhecimento dos efeitos dessas drogas sobre os hormônios tireoidianos discente
leva ao diagnóstico errado de hipotireoidismo e à terapia de reposição com levotiroxina sódica. O objetivo desta revisão de lite- CMV/FFALM/UNESPAR
ratura é fornecer, aos médicos veterinários, informações sobre as drogas que podem atuar sobre o eixo hipotálamo-hipófise-
tireóide e os cuidados que devem ser tomados quando cães submetidos a testes da função tireoidiana encontram-se sob a
administração desses fármacos.
Unitermos: Drogas, tireóide, canino

Abstract: Drugs are among the factors that can influence the canine thyroid function. Glucocorticoids, sulfonamides and
phenobarbital are examples of substances that affect the hypothalamic-pituitary-thyroid axis in many species. Not knowing the
effect of these drugs on thyroid hormones can lead of the wrong diagnosis of hypothyroidism and the subsequent replacement
therapy with sodium L-thyroxine. The goal of this review is to supply veterinarians with information about the drugs that can act
on the hypothalamic-pituitary-thyroid axis and the precautions that must be taken when testing thyroid function in animals that
are receiving these substances.
Keywords: Drugs, thyroid, dogs

Resumen: Muchos factores pueden influir en la función del tiroides de los perros. Entre ellos los fármacos glucocorticoides,
sulfonamidas y fenobarbital son algunos medicamentos conocidos que afectan el eje hipotálamo-hipófisis-tiroides de diferentes
especies. Muchas veces el desconocimiento de los efectos de los medicamentos sobre las hormonas de la tiroides lleva a un
diagnóstico erróneo de hipotiroidismo y a la terapia de reposición con levotiroxina de sodio. La finalidad de esta revisión de
literatura es proveer a los médicos veterinarios informaciones a respecto de los medicamentos que pueden actuar sobre el eje
hipotálamo-hipófisis-tiroides y las precauciones que se deben tomar cuando los perros sometidos a testes de la función tiroidea
estén recibiendo estos medicamentos.
Palabras clave: Medicamentos, tiroides

Clínica Veterinária, n. 68, p. 68-76, 2007

Introdução tireoidismo. O diagnóstico errado pode enquanto essa relação não for compro-
Vários fatores não tireoidianos – resultar em tratamento inadequado e em vada em cães, a interpretação dos testes
como idade, raça, doenças concomi- efeitos deletérios para o paciente. Os de função tireoidiana deve ser conduzi-
tantes e administração de certas drogas - resultados dos testes clinicopatológicos da com cautela quando da utilização dos
podem influenciar o diagnóstico do e as concentrações dos hormônios ti- fármacos elencados.
hipotireoidismo em cães 1. Glicocorti- reoidianos devem ser interpretados jun-
cóides, sulfonamidas e fenobarbital são tamente com a história clínica e com os Glicocorticóides
algumas das drogas conhecidas que afe- achados compatíveis do exame físico. Estudos realizados em humanos,
tam o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide Os resultados dos testes de função ti- ratos e cães já demonstraram que os gli-
(H-H-T) 2,3. reoidiana devem ser avaliados meticu- cocorticóides endógenos e exógenos
Há fármacos que afetam tanto os tes- losamente em pacientes sob terapia inibem diretamente o eixo H-H-T, além
tes de função tireoidiana quanto a pró- e/ou terapia prolongada, especialmente de influenciar o metabolismo periférico
pria glândula de cães. Assim sendo, co- se esta compreender a administração de dos hormônios tireoidianos 6. Mais pre-
nhecer aqueles que alteram a concentra- glicocorticóides, antiinflamatórios não cisamente em humanos, os glicocorti-
ção dos hormônios tireoidianos ou que esteróides (AINES), fenobarbital, sul- cóides inibem a secreção de TSH pela
elevam o hormônio estimulante da fonamidas, furosemida ou clomiprami- hipófise, diminuem a 5'-deiodinase peri-
tireóide sérico (TSH) facilita a interpre- ne 2,3,4,5. As doses, a duração e a via de férica e a concentração sérica da tireo-
tação correta dos resultados dos testes. aplicação também devem ser considera- globulina (TBG). Em humanos subme-
Tendo em vista o intrincado eixo H- das. Entretanto, as conseqüências de tidos a terapia com glicocorticóides
H-T, vários fármacos podem induzir al- muitas dessas drogas sobre a tireóide ocorre diminuição da concentração séri-
terações na concentração dos hormô- em cães não foram comprovadas. As di- ca da tiroxina total (TT4), da tiroxina
nios tireoidianos, o que pode complicar ferenças fisiológicas entre roedores, hu- livre (FT4), da triidotironina total (TT3)
a avaliação dos testes e, até mesmo, le- manos e cães impossibilitam a extrapo- e do TSH, bem como aumento da con-
var ao diagnóstico equivocado de hipo- lação de uma espécie para outra. Mas, centração da triidotironina reversa

68 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


(rT3). Os mecanismos propostos para achados não são necessariamente corre- mais longos de tempo, verificou-se que a
explicar o aumento da rT3 incluem a di- lacionados às alterações induzidas por concentração da FT4 e da TT4 inseria-se
minuição da depuração da rT3 e a inibi- altas doses de glicocorticóides em cães na faixa de cães caracterizados como
ção da 5'-desiodinase 7,8. com o eixo H-H-T intacto. Embora to- hipotireóideos 3,14,15,16,17, visto que os si-
Os resultados obtidos em cães não dos os hormônios tireoidianos sejam in- nais clínicos e os efeitos da adminis-
apontam claramente os efeitos da utili- fluenciados pelos glicocorticóides, a T3 tração desse fármaco (ganho de peso,
zação dos fármacos anteriormente cita- parece ser mais intensa e precocemente letargia, hipercolesterolemia) são se-
dos sobre a hipófise, que dependem da afetada. Uma vez que aproximadamente melhantes àqueles decorrentes do hipo-
dosagem, da duração da terapia, da via 50% da T3 circulante – que se constitui tireoidismo 18. Portanto, a avaliação dos
de administração e do tipo de preparo em um hormônio intracelular – deriva testes de função tireoidiana nesses cães
adotado. Cães que receberam uma dose da desiodinação da T4, a mensuração da deve ser interpretada com extremo cui-
única de dexametasona (0,5-0,7mg/kg concentração da T3 é menos efetiva na dado, para que o diagnóstico de hipoti-
PO) apresentaram diminuição significa- avaliação da função tireoidiana 4. reoidismo não seja estabelecido incor-
tiva na concentração de T3, enquanto a Em humanos com hipotireoidismo retamente. Após quatro semanas da in-
T4 permaneceu inalterada 24 horas após primário, os glicocorticóides diminuem terrupção do tratamento com fenobarbi-
a terapia 9. acentuadamente a TT3 e a TT4, com tal, a função tireoidiana se normaliza 15,
A administração da prednisona em menor queda da FT4. Cães tratados com razão pela qual, quando possível, os
dose imunossupressora (1,1-2mg/kg glicocorticóides em doses imunossu- testes de função tireoidiana devem ser
PO, duas vezes por dia) provoca dimi- pressoras por aproximadamente três realizados decorridas quatro a seis se-
nuição na concentração de TT4 e TT3 e, semanas apresentam diminuição da FT4 manas do final da terapia.
em menor grau, da FT4, enquanto o e da T4 séricas, o que pode levar ao Mas, uma vez que a interrupção da
TSH endógeno normalmente permane- estabelecimento de diagnóstico de hipo- administração do fenobarbital pode pio-
ce inalterado. Ocorre supressão da res- tireoidismo 4,5, tornando difícil a inter- rar o quadro convulsivo, a decisão de
posta da T4 à estimulação pelo hormô- pretação dos resultados dos testes de interromper ou não o tratamento deve
nio liberador de tireotropina (TRH) e da função tireoidiana 5. Ainda assim, a su- ser bem avaliada. Portanto, quando há
T3 em resposta ao TSH. A supressão na plementação com hormônio nesses ani- diminuição da concentração sérica dos
secreção dos hormônios da hipófise é a mais é contra-indicada, pois eles retor- hormônios tireoidianos em cães com
mais provável explicação para a dimi- nam ao eutireoidismo após uma semana epilepsia, é recomendável uma minu-
nuição moderada da concentração de de interrupção da terapia 4. ciosa avaliação antes de recomendar a
FT4 10. prescrição da suplementação com tiro-
A administração de prednisona em Fenobarbital xina 5. A despeito da queda na concen-
dose antiinflamatória (0,5mg/kg, duas O fenobarbital é um anticonvulsivan- tração da FT4, o TSH endógeno per-
vezes ao dia) durante um mês não alte- te da classe dos barbitúricos. Vários es- manece dentro dos valores de referên-
rou as concentrações de TT4, FT3, FT4 tudos em humanos e ratos demonstram cia 14 ou diminui pouco 3,15,17. Esses acha-
ou rT3, mas acarretou diminuição da que esse fármaco altera os testes de fun- dos corroboram a hipótese de que a de-
TT3 e leve aumento da T4 após a apli- ção tireoidiana porque aumenta o me- puração de T4 é aumentada por fatores
cação do TSH. Provavelmente, a utiliza- tabolismo hepático da T4 pela indução deiodinativos ou não deiodinativos na
ção dessa droga promove a supressão da da atividade enzimática mitocondrial no terapia com fenobarbital 5, ainda que a
secreção do hormônio estimulante da fígado 11. O aumento na desiodinação concentração de TT3 não seja alterada
tireóide sérico pela hipófise, resultando hepática dos hormônios tireoidianos pela administração de fenobarbital (o
em hipersensibilidade dos tirócitos após resulta em diminuição da concentração que explica a concentração de TSH nor-
a administração de dose farmacológica de T4, que é eliminada perifericamente. mal) 14,17. Porém, em cães portadores de
desse hormônio 8. Dose idêntica de predni- O aumento da excreção biliar e fecal hipotireoidismo ou de doenças não
sona em cães tireoidectomizados que dos hormônios tireoidianos após a gli- tireoidianas, os testes de mensuração da
recebiam levotiroxina diminuiu a fração curonização provavelmente contribui FT3 não são sensíveis para avaliar a dis-
livre de T4 em 30% e de FT3 em 49%, para a redução da concentração dos hor- função tireoidiana primária 19,20, o que
sem que se observassem alterações nas mônios da tireóide 12, o que pode ser par- também ocorre em cães que estejam re-
concentrações de TT4 e TF4 6, o que ticularmente importante em cães, visto cebendo fenobarbital 5. A diminuição da
permitiu concluir que as alterações fo- que cerca de 50% da T4 e 30% da T3 TT4 e da FT4 pode ocorrer precoce-
ram provocadas pelos efeitos periféri- são eliminados nas fezes 13. mente, isto é, na terceira e quinta sema-
cos do uso crônico da prednisona, in- Em medicina veterinária, o fenobarbi- nas após o início do tratamento, enquan-
cluindo aumento da T4 ligada às proteí- tal é descrito como droga que potencial- to que a concentração sérica de TSH
nas séricas carreadoras, diminuição fra- mente diminui a concentração de TT4 aumenta somente decorridos seis meses
cional do nível de transferência da T4 em cães, mas essa hipótese somente foi ou mais do início da terapia 16,17.
do espaço extravascular para o plasma, verificada nos últimos anos. A admi- Em estudo in vitro, foram avaliados
redistribuição dos hormônios tireoidia- nistração de fenobarbital por pouco os efeitos do fenobarbital e da fenitoína
nos do plasma para a pele e músculos, tempo não afeta as concentrações séricas na ligação com as proteínas séricas de
diminuição da conversão da T4 em T3, de TT4, FT4 ou TSH 10. Em tratamentos cães: o fenobarbital não alterou a ligação
e conseqüente queda da T3 sérica. Tais que utilizaram o fenobarbital por períodos da T4, ao passo que a fenitoína diminuiu

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 69


a ligação da T4 às proteínas plasmáticas brometo de potássio não é prudente para possam influenciar os resultados 4.
de transporte 21, e interferiu minima- determinar se o animal é ou não hipoti- Embora as sulfonamidas possam
mente na determinação da FT4. Assim reóideo 5. causar hipertrofia da tireóide em neona-
sendo, é improvável que a alteração na tos de roedores e suínos, isso provavel-
ligação protéica seja responsável pela Sulfonamidas mente não ocorre em neonatos caninos
diminuição da T4 observada em cães As sulfonamidas são antimicrobianos nascidos de fêmeas que estejam rece-
tratados com fenobarbital 5. derivados da sulfanilamida. Embora o bendo sulfadiazina-trimetoprim 31.
mecanismo exato pelo qual as sulfona- As sulfonamidas não somente alte-
Brometo de potássio midas interferem na tireóide seja pouco ram os resultados dos testes de função
O brometo de potássio é um anticon- conhecido, supõe-se que estas atuem tireoidiana, mas também levam ao hipo-
vulsivante usado no tratamento da epi- por inibição da peroxidase tireoidiana tireoidismo clínico em alguns cães. Em
lepsia canina, como alternativa ou tera- (POT) 2,26. Uma vez que essa enzima faz cães que receberam sulfadiazina-trime-
pia adjuvante ao fenobarbital. Ocorre a organificação e a reação de acopla- toprim (24mg/kg/dia) durante um perío-
que esse fármaco também pode afetar a mento para formar a T4 e a T3 na TG, o do de 30-126 dias, os testes de função
função tireoidiana pois, por ser quimi- resultado da inibição é a diminuição da da glândula tireóide foram indistingüí-
camente semelhante ao iodo, tem poten- concentração sérica dos hormônios ti- veis daqueles dos cães com hipotireoi-
cial para interagir com o iodo da glân- reoidianos. Os tirótropos hipofisários dismo espontâneo 26,32. Em ambas as si-
dula tireóide. Em ratos, o brometo pro- respondem à diminuição dos hormônios tuações, houve diminuição da TT4 e da
duz relativa deficiência de iodo graças à tireoidianos pela redução da inibição da FT4, aumento do TSH e diminuição da
interferência com a ligação ao iodo, ao retroalimentação negativa, resultando resposta à estimulação pelo TSH. A uti-
transporte do iodo e à iodinação dos re- em aumento na secreção de TSH 4, e lização da cintilografia, além da história
síduos da tirosina e dos resíduos da ti- provocam alterações proliferativas da clínica, pode ser útil na diferenciação
reoglobulina (TG) 22. Esse quadro não tireóide 27. As sulfonamidas são, portan- entre ambos. Sabe-se que as sulfonami-
foi observado em cães, talvez porque to, bociogênicas, o que secundariamen- das não inibem a entrada de iodeto e,
haja diferenças entre as espécies para te promove a diminuição da síntese e da portanto, a entrada de pertecnato na ti-
captar o iodo, para a organificação e o secreção dos hormônios da tireóide. A reóide apresentar-se-á entre normal a
acoplamento aos resíduos da tirosina ou administração de sulfonamidas em lon- aumentada em cães com hipotireoidis-
em decorrência do metabolismo dos go prazo, e a estimulação prolongada da mo secundário à utilização desses anti-
hormônios 23. Diminuição das concen- tireóide pelo TSH podem estar associa- microbianos 33. Já em cães com hipoti-
trações de TT4 e TSH normal e altera- das à neoplasia tireoidiana em ratos. Há reoidismo espontâneo secundário à
ções morfológicas da glândula tireóide consideráveis variações interespécies tireoidite linfocítica ou atrofia idiopá-
foram observadas após a administração em relação à inibição da POT pelas sul- tica, a entrada de pertecnato pode estar
de brometo de potássio em ratos, o que fonamidas 28. Vale salientar que o trime- diminuída. Entretanto, é importante sa-
levou à conclusão de que os efeitos toprim, agente usado em associação lientar que raramente a cintilografia é
desse fármaco são dose-dependentes 24. com as sulfonamidas, não causa altera- exigida quando ocorre hipotireoidismo
Não foram observadas alterações nos ção detectável na função da tireóide de secundário à utilização das sulfonami-
testes de função da tireóide em estudo ratos 29 e gatos 5. das, pois os sinais clínicos associados e
com cães epilépticos que receberam Durante o tratamento com sulfonami- a depressão dos níveis hormonais se re-
brometo de potássio por um período de das, ocorre discreta diminuição da fun- solvem uma vez interrompido o trata-
14,5 meses 14. Achados semelhantes fo- ção tireoidiana em humanos, mas em ra- mento. O estado hipotireóideo (sinais
ram obtidos em outro estudo, imple- tos essa desordem é grave 29. Vários es- clínicos e resultados dos testes) resolve-
mentado com cães sadios que recebe- tudos prospectivos avaliaram a influên- se gradualmente, dentro de um período
ram brometo de potássio durante seis cia das sulfonamidas na tireóide de de sete dias a vários meses após a retira-
meses: as concentrações de T4, TSH e cães. A administração de sulfadiazina- da das sulfonamidas 32.
FT4 permaneceram inalteradas 25. Apa- trimetoprim (15mg/kg BID VO) em Os efeitos das sulfonamidas na fun-
rentemente, a administração de brometo cães normais durante quatro semanas ção tireoidiana são espécie-específicos,
de potássio não afeta significativamente não apresentou efeito significativo na e dependem da dose e duração do trata-
a função tireoidiana em cães quando em concentração sérica de T4, T3 e FT4; a mento. Os resultados dos testes de fun-
doses terapêuticas 4. As alterações da T4 respondeu à administração do TSH 30. ção tireoidiana em cães normalizam-se
função tireoidiana em cães epilépticos Em outro estudo, no qual foi utilizado depois de 8 a 12 semanas do término do
submetidos à terapia com fenobarbital, sulfametoxazol-trimetoprim (30mg/kg tratamento. Se o clínico não estiver
ou naqueles portadores de hipotireoidis- BID PO) em cães com piodermatite du- atento aos efeitos dessa droga na função
mo indicam a terapia com brometo de rante seis semanas, ocorreu diminuição da tireóide, o diagnóstico errado de hi-
potássio como opção terapêutica. Entre- significativa da concentração de T4 e potireoidismo pode ser estabelecido.
tanto, o brometo de potássio deve ser T3, e aumento subseqüente do TSH 2.
administrado em longo prazo (três a Esses achados indicam que os efeitos Drogas antiinflamatórias
cinco meses) para alcançar o nível tera- das sulfonamidas na função tireoidiana não esteroidais
pêutico, o que sugere que a troca da são dose e tempo-dependentes, embora Os antiinflamatórios não esteroidais
administração do fenobarbital para o os diferentes tipos de sulfas também (AINES) provocam alterações nos testes

70 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


de função da tireóide em humanos e meglumine aumenta a fração da FT4 e não alterou as concentrações séricas de
ratos, principalmente pela alteração na os salicilatos diminuem a concentração TT4, TT3, FT4, rT3 e TSH 41, o que tam-
ligação dos hormônios tireoidianos às de T4. A influência dos AINES na bém foi detectado em humanos 45. O
proteínas plasmáticas de transporte. função tireoidiana pode ser explicada hormônio mais afetado, tanto em huma-
Visto que os hormônios tireoidianos cir- pela competição entre os hormônios e as nos quanto em cães, foi a TT3. A expli-
culantes são altamente ligados às proteí- drogas pelas proteínas de ligação 4. Cães cação para esses achados é a menor avi-
nas, vários AINES podem deslocá-los sadios recebendo etodolac (15mg/kg dez da T3 na ligação às proteínas de
dos seus locais de ligação às proteínas BID PO) por quatro semanas não tive- transporte que, conseqüentemente, pro-
séricas, resultando em aumento tran- ram alteração significativa na concen- voca maior deslocamento dos locais de
sitório da concentração sérica de FT4. A tração de T4, FT4, T3 e TSH 40. ligação do que a T4 45. A diminuição da
elevação da concentração de FT4 serve A administração de 25mg/kg de áci- 5'-deiodinase pode ser responsável pela
como retroalimentação negativa no hi- do acetil salicílico (AAS), duas vezes ao diminuição da T3 sérica na terapia com
potálamo e hipófise, resultando final- dia, levou à diminuição das concentra- AINES 4.
mente em diminuição da concentração ções de TT4 41. Essas alterações prova- A baixa variação nas concentrações
sérica de T4, a despeito da concentração velmente refletem o deslocamento dos séricas de TT3 e TT4 em cães que este-
de FT4 normal. Esses animais perma- hormônios tireoidianos de seus locais de jam recebendo AAS e cetoprofeno jus-
necem eutireóideos, mas a alteração ligação às proteínas de transporte, ape- tifica a concentração normal de TSH,
nos resultados dos testes pode levar ao sar de não haver aumento nas concen- pois estes hormônios são responsáveis
diagnóstico errado de hipotireoidismo. trações da FT4. Pode-se postular que o pela regulação da retroalimentação da
Além disso, a desiodinação dos hormô- hormônio não ligado foi mais rapida- secreção de TSH 41. Embora tenha sido
nios tireoidianos também pode estar le- mente eliminado ou que a rápida respos- menos afetada por estes AINES, a
vemente diminuída 4. ta da hipófise no aumento da FT4 resul- mensuração da T3 tem efeito limitado
A ligação dos hormônios tireoidianos tou em diminuição da secreção da T4. É na avaliação clínica da função tireoi-
às proteínas séricas carreadoras e a taxa possível que o AAS afete a depuração diana 14,17,41.
de metabolização dos hormônios va- dos hormônios, suprima a síntese de O carprofeno é um AINES comu-
riam entre as espécies. Portanto, parece TSH, afete a síntese dos hormônios ti- mente usado em cães, e possui alta liga-
ser razoável pensar que os efeitos dos reoidianos ou altere a sensibilidade da ção às proteínas. Ocorre uma leve dimi-
AINES nos hormônios da tireóide sejam tireóide ao TSH. nuição na concentração de TT4 e TSH
diferentes entre cães e humanos. A afi- De acordo com a maioria dos estu- após a administração de carprofeno em
nidade desses hormônios pelas proteí- dos, em humanos a administração em cães (2,2-3,3mg/kg duas vezes ao dia,
nas carreadoras é menor em cães do que curto prazo de doses terapêuticas de sa- por cinco semanas), enquanto que a FT4
em humanos 34. Então, é possível que os licilatos promove a diminuição da con- permanece praticamente inalterada 36. O
efeitos dos diferentes AINES sejam centração sérica de TT4, o aumento deslocamento da T4 dos locais de liga-
mais pronunciados em cães do que em transitório nos níveis dos hormônios ção no soro explica a redução da TT4, e
humanos. não ligados e a supressão da concentra- o deslocamento dos hormônios tireoi-
As alterações digestórias e renais dos ção de TSH 7,42,43, enquanto o tratamento dianos do local de ligação na hipófise é
AINES estão bem descritas na literatu- em longo prazo induz a um novo estado a provável causa da supressão persis-
ra 35, mas estudos dos efeitos dos AINES de equilíbrio, refletindo o aumento do tente do TSH. Em outro estudo realiza-
na função tireoidiana em cães são nível de renovação da T4, que provoca do em cães, as concentrações séricas da
escassos 36,37. pequena diminuição da TT4 e da FT4 TT4, da FT4 e do TSH não foram afe-
O hipotireoidismo acomete tipica- normal ou diminuída 7,42,43. A concentra- tadas pelo uso do carprofeno (1,7-
mente raças médias ou grandes, com ção de TSH retorna aos valores de refe- 2,3mg/kg, durante sessenta dias), do
idade variando entre dois e seis anos 38. rência dentro de poucas semanas após o meloxicam (0,2mg/kg no primeiro dia, e
Essa população também sofre maior final do tratamento 42. Os salicilatos alte- 0,1mg/kg durante 59 dias) ou de nutra-
risco de osteoartrite e a terapia com ram a função tireoidiana primariamente cêuticos contendo sulfato de condroiti-
AINES e/ou nutracêuticos – contendo por meio da competição com os locais na e glucosaminoglicanos. Com base
sulfato de condroitina e glucosamino- de ligação de baixa afinidade às proteí- nesses resultados, conclui-se que o car-
glicanos – é utilizada para melhorar a nas ligantes dos hormônios, mas outros profeno, o meloxican e os nutracêuticos
qualidade de vida do animal 39. Even- mecanismos, como a diminuição da não alteram a função tireoidiana 37. Os
tualmente, cães que recebem essas dro- captura de iodo pela glândula tireóide, a resultados divergentes entre os dois es-
gas são apresentados com sinais clínicos inibição da 5'-monodeiodinase hepática tudos, provavelmente, devem-se às di-
compatíveis com hipotireoidismo, e é e a competição pelos locais de ligação ferentes doses de carprofeno utilizadas.
importante lembrar que tais drogas na membrana plasmática, citosólica ou Assim como em humanos e em eqüi-
alteram os testes de função tireoidiana, nuclear também foram sugeridos 44. nos, em cães os AINES podem afetar os
o que implica que a interpretação dos Porém, a contribuição desses distúrbios resultados dos testes de função tireoi-
resultados deve ser meticulosa. no metabolismo periférico em humanos diana 46,47,48. São várias as implicações
Alguns AINES foram bem estudados não é clara 43. clínicas disso: primeiro, a importância
em cães: a fenilbutazona não tem efeito A administração do cetoprofeno dos AINES na função tireoidiana pode
significativo na ligação da T4, o flunixin (1mg/kg/dia, durante sete dias) em cães ser marcada, mas varia de droga para

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droga. Portanto, aconselha-se cautela na não se observou evidência clínica de hi- além do exame físico, do hemograma e
interpretação dos testes de função da potireoidismo. A clomipramine causa do perfil bioquímico antes e durante a
tireóide em cães sob terapia de AINES, alterações na função tireoidiana por me- terapia com clomipramine, para evitar
pois o diagnóstico de hipotireoidismo canismos variados nas diferentes espé- diagnóstico errado de hipotireoidismo e
não pode ser baseado somente na men- cies. A clomipramine liga-se ao iodo e, o conseqüente tratamento desnecessário
suração de TT4. Recomenda-se no mí- desse modo, inibe a síntese de T4. Além dessa moléstia 50.
nimo sete dias entre o fim da terapia e a disso, essa droga é capaz de doar elé- O efeito do clomipramine nos testes
realização dos testes de função tireoi- trons e diminuir a disponibilidade de de avaliação tireoidiana pode levar ao
diana em cães 41. Portanto, os efeitos da iodo na glândula tireóide (40 vezes o diagnóstico equivocado de hipotireoidis-
administração dos AINES em longo necessário para causar hipotireoidis- mo caso os testes sejam realizados du-
prazo necessitam de novas e mais con- mo), e possui cerca de 20% da potên- rante a terapia com essa droga 50. O tem-
troladas investigações. cia do metimazole. Os antidepressivos po necessário entre o final da terapia e a
Embora os AINES diminuam a con- tricíclicos também diminuem a pro- realização dos testes não é conhecido.
centração da T4, não há descrição de dução de T4 via inibição irreversível
hipotireoidismo induzido por AINES da POT 51,52,53,54, não permitindo a li- Propanolol
em cães. Como o efeito primário dos gação das moléculas de iodo na porção Em humanos o propanolol, um blo-
AINES incide sobre o transporte plas- heme da POT 55. Além disso, interfe- queador α-adrenérgico da classe II dos
mático, as concentrações de FT4 e TT4 rem no eixo H-H-T pelo sistema nora- antiarrítmicos, ocasiona pequena dimi-
podem ser alteradas durante terapia em drenérgico e serotoninérgico e, portan- nuição da T3 sérica devido à diminuição
longo prazo. Caso seja necessário to, podem diminuir as concentrações da atividade da 5'-deiodinase, enquanto
avaliar a função tireoidiana de cães de TSH, T4 e T3 50. que a concentração do TSH permanece
submetidos a tratamentos com AINES, Além dos seus efeitos na síntese dos inalterada 57. Beagles sadios que recebe-
parece prudente suspender o tratamento hormônios tireoidianos, os antidepressi- ram propanolol (20mg BID PO durante
por sete a dez dias antes da realização vos tricíclicos também influenciam o duas semanas, seguidos por 40mg BID
dos testes, e incluir a mensuração sérica metabolismo. Ratos tratados com desi- PO durante duas semanas) não apresen-
da FT4 por diálise de equilíbrio, visto pramine, droga similar à clomipramine, taram alteração na função tireoidiana 58.
que a concentração da TT4 pode não re- manifestaram aumento da atividade da Portanto, a administração de propanolol
fletir com acurácia a função da tireóide 4. 5'-deiodinase cerebral e diminuição na em cães eutireóideos provavelmente
concentração de T4 e T3 56. Entretanto, não altere os testes de função da tireóide
Antidepressivos tricíclicos não foram observados efeitos das con- durante terapia por curto período, mas
O clomipramine é um antidepressivo centrações na desiodinação realizada os efeitos da administração dessa droga
tricíclico utilizado no tratamento de por rins e fígado. É importante salientar em longo prazo são desconhecidos 4.
várias desordens psíquicas no homem e, que a concentração sérica dos hormô-
na medicina veterinária, seu uso tem au- nios tireoidianos é mais influenciada pe- Furosemida
mentado nos últimos anos, especial- la 5'-desiodinase periférica, e provavel- No homem, a administração de altas
mente no tratamento da ansiedade em mente a diminuição da enzima do SNC doses de furosemida, um diurético de
cães. O clomipramine exerce potente e tenha tido pouca influência na queda alça, induz a diminuição da concentra-
relativamente seletivo efeito na recapta- dos hormônios. A diminuição da rT3 ção da T4 e o aumento da FT4, prova-
ção de serotonina por bloqueio nos neu- pode ter sido resultante da diminuição velmente em virtude da menor ligação
rônios serotoninérgicos e o seu metabó- na secreção de T4. da T4 às proteínas plasmáticas 59. Em um
lito, a desmetilclomipramine, é um ini- A importância clínica da diminuição estudo in vitro, a furosemida diminuiu
bidor da recaptação de noradrenalina 49. da T4 e da FT4 na terapia prolongada marcadamente a ligação da T4 às pro-
A administração em longo prazo da com clomipramine decorre da interfe- teínas plasmáticas de ligação canina 21.
clomipramine (3mg/kg PO, BID) dimi- rência que provoca no diagnóstico do Esse achado fez com que os autores aven-
nuiu a concentração da TT4, da FT4 e da hipotireoidismo e no potencial de indu- tassem a hipótese de que isso resultaria
rT3, enquanto o TSH permaneceu inal- zir essa moléstia. Portanto, deve-se fazer em aumento similar na concentração de
terado 50. Na investigação mencionada, o monitoramento da função da tireóide, FT4 e em diminuição na concentração

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de TT4, como ocorre em humanos 4. Até a T3 permaneceu inalterada 62. As con- séricas ligadoras, e o excesso de iodo
que mais estudos sejam realizados, é centrações séricas da amiodarona nes- liberado pela medicação pode bloquear
necessário cautela na interpretação da ses cães foram duas e meia a três vezes a secreção tireoidiana de T4 66.
concentração dos hormônios tireoi- maiores que aquela recomendada para
dianos em cães que estejam recebendo fins terapêuticos. Tais achados são con- Heparina
furosemida por longo prazo. sistentes com a diminuição na atividade A heparina é uma droga anticoagu-
da 5'-deiodinase. Os efeitos de doses lante e antitrombótica. Em humanos,
Estanozolol terapêuticas da amiodarona na função promove o aumento transitório da con-
O estanozolol é um andrógeno utili- tireoidiana em cães ainda não foram de- centração de T4 67. Estudo in vitro des-
zado como anabolizante. Os andrógenos terminados 4. Atualmente, aconselha-se creve que esse quadro resulta da ini-
diminuem a concentração de T4 e T3 a monitoração periódica da função ti- bição da ligação da T4 às proteínas plas-
em humanos, pois reduzem a capacida- reoidiana em cães submetidos à admi- máticas secundárias, e que o aumento
de de ligação ou a circulação da TBG 4, nistração de amiodarona, visto que tanto dos ácidos graxos livres decorre da ati-
enquanto que seus efeitos na FT4 e no o hipotireoidismo quanto o hipertireoi- vação da lipase lipoprotéica pela hepari-
TSH são variáveis. Os efeitos especí- dismo podem causar efeitos cardiovas- na 68. Apesar de não haver estudos in
ficos variam dependendo da composi- culares adversos. vivo sobre os efeitos da heparina na fun-
ção do esteróide anabólico e da dose ção tireoidiana de cães, o estudo in vitro
administrada. Cães que receberam esta- Citocinas demonstrou aumento da ligação da T4
nozolol (2mg/kg BID) durante três se- O tratamento de neoplasias e algu- às proteínas ligadoras, com conseqüente
manas não apresentaram alterações nas mas doenças infecciosas com imunote- aumento da TT4 e diminuição da FT4
concentrações de T4, T3 e FT4 60. Por- rapia têm sido crescentemente adotados sérica 21. Os efeitos da heparina nas con-
tanto, pode-se concluir que o uso do es- em medicina veterinária. Interferons e centrações dos hormônios tireoidianos
tanozolol em cães, por três semanas ou citocinas são moléculas que modulam a podem ser importantes em animais hos-
menos, tem mínimos efeitos sobre os resposta imune. Os agentes mais utiliza- pitalizados e mantidos com cateter de
testes de função tireoidiana. dos para a imunoterapia são a interleuci- demora intravenoso, nos quais a hepari-
na-2 (IL-2) e o interferon α. Tais agen- na é aplicada freqüentemente para evitar
Amiodarona tes podem induzir a disfunção da tireói- a formação de coagulação ou como tera-
A amiodarona é um derivado benzo- de, agravando uma tireoidite auto-imu- pia anticoagulante 4. Até maiores inves-
furânico que estruturalmente asseme- ne preexistente ou levando a alterações tigações serem realizadas, os testes de
lha-se à T4 e contém 37% de iodo 61, semelhantes à síndrome do doente euti- função tireoidiana devem ser protelados
sendo uma droga antiarrítmica da classe reóideo 63. Cães submetidos a altas doses até que a terapia com a heparina seja
III utilizada em cães. Em humanos, a de IL-2 tiveram diminuição das conce- interrompida.
amiodarona pode causar alteração nos ntrações séricas de T4 e T3 durante a in-
testes de função tireoidiana, hipertireoi- fusão 64. Esses cães não apresentaram Considerações finais
dismo ou hipotireoidismo. Essa droga anticorpos anti-TG após a administra- O conhecimento das drogas que
afeta a função da tireóide através da ini- ção de IL-2, sugerindo que a adminis- atuam no eixo H-H-T, bem como dos
bição da atividade da 5'-deiodinase, ini- tração desse fármaco em curto prazo efeitos de cada uma dessas drogas sobre
bindo a entrada dos hormônios nos teci- não induz tireoidite auto-imune em tais esse eixo, tornam a interpretação dos re-
dos, competindo com a T3 pelos recepto- animais. Apesar disso, recomenda-se sultados dos testes de função tireoidiana
res celulares, diminuindo a resposta das que os testes da função tireoidiana mais confiável. Além disso, a possibili-
células da tireóide ao TSH e reduzindo sejam realizados somente após o final dade de diagnóstico errado de hipoti-
a síntese e a secreção de TSH pela hi- da imunoterapia 4. reoidismo fica mimimizada. Portanto,
pófise. O hipotireoidismo pode ocorrer
recomenda-se que, antes da realização
secundariamente à exacerbação da tireoi- Agentes radiográficos dos testes de função tireoidiana, as tera-
dite pré-existente ou devido à inabilida- Agentes de contraste orais para cole- pias com drogas que provocam altera-
de da glândula tireóide para escapar dos cistografia, como o ipodato e o ácido
ções nesses testes sejam interrompidas
efeitos supressivos do excesso de iodeto iopanóico, afetam a tireóide de várias
sempre que possível, ou que os resulta-
na síntese e na secreção dos hormônios maneiras, incluindo potente inibição da
dos sejam interpretados com cautela,
tireoidianos (efeito de Wolf-chaikoff). 5'-deiodinase, que resulta em decrésci-
pois o diagnóstico equivocado terá
Pode-se suspeitar de tireotoxicose devi- mo na concentração sérica de T3 em hu-
como conseqüência a reposição desne-
do aos efeitos citotóxicos da amioda- manos e felinos hipertireóideos 65. A ini-
cessária de levotiroxina.
rona ou em função da superprodução – bição da desiodinação foi demonstrada
induzida por iodo – de hormônios tireoi- em cães normais, nos quais o aumento Referências
dianos, secundária ao excesso de iodo da concentração de T4 e a diminuição 01-FERGUSON, D. C. Euthyroid sick syndrome.
liberado pela droga 61. da concentração de T3 ocorreram 48 Canine Practice, v. 22, p. 49-51, 1997.
A administração de amiodarona (22- horas após a administração de seis gra- 02-HALL, I. A.; CAMPBELL, K. L.; CHAMBERS,
36mg/kg ao dia, por quatro semanas) M. D.; DAVIS, C. N. Effect of trimethoprim/sul-
mas de ipodato 9. O ipodato também famethoxazole on thyroid function in dogs with
em cães normais resultou em aumento causa deslocamento da T4 do local de pyoderma. Journal of American Veterinary
na concentração sérica de T4, enquanto ligação nos hepatócitos e nas proteínas Medical Association, v. 202, n. 12, p. 1959-

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76 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Hérnia perineal em cães - Diogo Benchimol de Souza
MV, mestrando CPGPA - CCTA - UENF
diogo@uenf.br

revisão de literatura Edmundo Jorge Abílio


MV, prof. ass. - Lab. San. An. - CCTAUENF

Perineal hernia in dogs - a review

Hernia perineal en perros - de peritônio parietal, que se mantém


inalterado enquanto não sofrer com-
revisión de literatura pressões ou estrangulamentos, perma-
necendo brilhante e liso. As hérnias fal-
sas não contêm um saco herniário verí-
Resumo: A hérnia perineal é uma afecção conhecida há bastante tempo entre médicos veterinários que se dedicam ao atendi-
mento de animais de companhia. Como não possui saco herniário constituído de peritônio parietal, é classificada como falsa dico, mas sim um saco formado pela
hérnia. Cães machos adultos ou idosos são os animais mais freqüentemente acometidos por essa doença. Não se sabe ao pele, subcutâneo, fáscia ou qualquer
certo a sua causa, embora vários fatores possam estar envolvidos, como afecções prostáticas que causem aumento de vo-
lume, afecções retais, efeitos de hormônios gonadais sobre o diafragma pélvico, atrofia neurogênica dos músculos elevador outra estrutura 1.
do ânus e coccígeo e atuação do hormônio relaxina sobre os músculos do diafragma pélvico. O principal sinal clínico da hér- Nas hérnias perineais, o saco herniá-
nia perineal é o aumento de volume da região, e o diagnóstico da doença pode ser feito com base nos achados clínicos e radio-
gráficos. O tratamento cirúrgico é o mais indicado e diversas técnicas já foram relatadas. rio não costuma ser constituído de peri-
Unitermos: Cirurgia veterinária, patologia cirúrgica, fisiopatologia tônio 5,6,7, o que faz com sejam classifi-
cadas como hérnias falsas. Foi sugerido
Abstract: Perineal hernia is a well-known condition in small animal medicine. It is regarded as a false hernia, since it does not que a nomenclatura mais correta para
present a hernial sac constituted by parietal peritoneum. Male adult or senior dogs are most frequently involved. Although its essa moléstia seria “ruptura do diafrag-
cause is not exactly known, many factors seem to be involved in its pathogenesis. Among these, one can cite prostatic
affections that cause volume increase, rectal affections, gonadal hormone effects on the pelvic diaphragm, neurogenic atrophy ma pélvico”, e não hérnia perineal 5.
of the levator ani and coccygeus muscles and the effect of relaxin on the pelvic diaphragmatic muscles. The most important Quatro tipos de hérnias ocorrem na
clinical sign of perineal hernia is a regional swelling, and the diagnosis of this illness can be made based on clinical and
radiological findings. The surgical treatment is indicated for most cases and several techniques have been described. região perineal do cão, sendo classifi-
Keywords: Veterinary surgery, surgical pathology, physiopathology cadas como isquiática, dorsal, caudal ou
ventral, de acordo com a sua localização
Resumen: La hernia perineal es una afección bien conocida hace mucho tiempo en medicina de pequeños animales. Se
anatômica 8,9.
clasifica como una hernia falsa por no tener un saco hernial de peritoneo parietal. Los perros machos adultos o viejos son los A hérnia perineal isquiática ocorre
animales implicados con más frecuencia. No se conoce exactamente su causa, pero muchos factores parecen estar
implicados, como las afecciones prostáticas que causan aumentos de volumen, afecciones rectales, efectos de las hormonas
entre o músculo coccígeo e o ligamento
gonadales sobre el diafragma pélvico, atrofia neurogénica de los músculos elevador del ano y coccígeo y el efecto de la sacrotuberoso 8. Trata-se de uma afecção
relaxina en los músculos diafragmáticos pélvicos. La señal clínica más importante de la hernia perineal es la hinchazón
regional, y la diagnosis de esta enfermedad puede basarse en resultados clínicos y radiológicos. El tratamiento quirúrgico se
rara e, embora alguns autores tenham
indica para la mayoría de los casos y se han descrito varias técnicas. sugerido que sua origem é congênita 8,
Palabras clave: Cirugía veterinaria, patología quirúrgica, fisiopatología um estudo mais recente a descreve
como afecção adquirida 9.
Clínica Veterinária, n. 68, p. 78-86, 2007 A hérnia dorsal ocorre entre os
músculos coccígeo e elevador do ânus,
também é incomum, e apresenta etiolo-
Introdução Classificação gia similar àquela da hérnia perineal
As hérnias ocorrem freqüentemente As hérnias podem ser classificadas, caudal 8.
em animais domésticos, constituindo-se de acordo com a freqüência, época de A hérnia caudal é o tipo mais comu-
em importante capítulo no âmbito da aparecimento, estrutura, percurso, rela- mente encontrado, ocorrendo entre os
patologia e clínica cirúrgica veteriná- ção anatômica, conteúdo, localização e músculos elevador do ânus, esfíncter
rias, e despertam especial interesse no topografia 1,2,4. externo e obturador interno 8.
cirurgião veterinário 1,2. De acordo com a estrutura, as hérnias A hérnia ventral ocorre ventralmente
A hérnia perineal em cães é conheci- podem ser classificadas em falsas ou ao músculo isquiouretral, é considerada
da há mais de um século 3 e, embora verdadeiras. As hérnias verdadeiras rara e parece ser atribuída às fêmeas 8.
muitos autores já tenham discorrido contêm todas as partes anatômicas de
sobre essa afecção, ainda há muito o uma hérnia (anel, saco e conteúdo), Anatomia
que descobrir sobre ela. sendo o saco constituído especificamen- O períneo é a parte da parede corpo-
Nesse contexto, o presente trabalho te de peritônio parietal. As hérnias fal- ral que recobre a abertura caudal da
objetiva revisar a literatura sobre o sas são aquelas em que há um defeito pelve e circunda os canais anal e uro-
tema, agrupando e confrontando suas estrutural, pois possuem conteúdo, mas genital 10, tendo como principal estrutura
informações, com o objetivo de elucidar sem saco peritoneal ou algum dos ele- o diafragma pélvico 11, constituído pelos
os fatos que envolvem as hérnias peri- mentos de formação das hérnias 2. músculos elevadores do ânus, coccígeos
neais nos cães e, dessa forma, contribuir Nas hérnias verdadeiras, o saco her- e pelas fáscias internas e externas 10,12
para a melhor compreensão da doença. niário é constituído fundamentalmente (Figura 1).

78 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


O conhecimento anatômico da região Em estudo no qual foram computados pélvico 18. Entretanto, um autor obser-
perineal e de algumas estruturas ali pre- dados de 14 hospitais veterinários vou baixa incidência de prostatomegalia
sentes é fundamental para a prática da durante 12 anos, a prevalência de hérnia em cães portadores de hérnia perineal 18.
herniorrafia perineal. perineal foi de 0,09% 3. As moléstias retais que podem
O músculo coccígeo origina-se na A espécie canina é sem dúvida a mais exercer papel na formação da hérnia pe-
espinha isquiática, localizando-se dor- acometida. Porém, embora considerada rineal no cão são divertículo, saculação
socaudal e medialmente ao ligamento rara nessas espécies, a afecção foi des- e desvio retal 18,19. Entretanto, essas alte-
sacrotuberoso, espalhando-se para se crita em humanos, gatos, vacas, búfalos, rações parecem ser mais evidentes em
inserir entre os músculos intertransver- ovelhas e macacos 11,15. hérnias antigas, o que sugere que não
sais na segunda à quinta vértebras coc- Podem ser acometidos animais de seriam a causa, mas uma conseqüência
cígeas 13. qualquer idade, já que os relatos mos- da hérnia perineal 18. De qualquer modo,
O músculo elevador do ânus localiza- tram incidência entre dois e 16 anos de as moléstias retais são consideradas im-
se lateralmente ao reto e medialmente ao idade. Porém entre 59 e 62% das hér- portantes fatores no fracasso da hernior-
músculo coccígeo, tem sua origem no nias perineais ocorrem em cães entre rafia e devem ser corrigidas cirurgica-
corpo ilíaco e no ramo cranial do púbis e sete e nove anos de idade 7,14,16. mente 19.
se insere no músculo esfíncter externo A hérnia perineal acomete principal- As teorias sobre o efeito dos hormô-
do ânus por meio de sua fáscia 10. mente cães machos não castrados. nios gonadais sobre a formação da hér-
O músculo esfíncter anal externo é Estudos diferentes obtiveram aproxima- nia perineal são baseadas no predomínio
um músculo estriado voluntário que cir- damente o mesmo resultado: cães dessa doença em cães machos mais
cunda o canal anal. Esse esfíncter pode machos não castrados representam 92% idosos e nos resultados de alguns estu-
ser dividido em três partes de acordo dos animais acometidos, enquanto cães dos que demonstraram algum efeito
com a sua profundidade 11. machos castrados representam 5% e protetor da castração sobre a formação
O músculo obturador interno surge fêmeas representam 3% dos animais da hérnia 3,7.
da superfície interna do assoalho pélvi- acometidos 3,16. Uma teoria é a de que o testículo
co, tem uma origem larga no púbis e no Investigações também apontam maior envelhecido secretaria estrogênio em
ísquio, medialmente ao forame obtu- incidência de hérnia perineal em algu- excesso, enfraquecendo o diafragma
rador, o qual cobre à medida que as mas raças, como: boston terrier, boxer, pélvico 7. Outra teoria aponta a falta de
fibras convergem para formar um collie, corgi, kelpi e pequinês 3,14,16. Em andrógenos como causa do enfraqueci-
tendão que se insere na fossa intertro- estudo realizado no Brasil, 69% de 13 mento do diafragma pélvico 3.
cantérica do fêmur 13. cães acometidos não possuíam raça Outras investigações desafiaram as
definida 17. teorias sobre o efeito dos hormônios go-
Epidemiologia De 453 casos compilados de vários nadais na patogênese da hérnia perineal.
Algumas peculiaridades foram cons- trabalhos 11, 270 (60%) eram unilaterais O efeito protetor da castração foi ques-
tatadas no estudo das características epi- e 183 (40%) eram bilaterais. Dos casos tionado e alguns pesquisadores suge-
demiológicas da hérnia perineal. Tais pe- unilaterais, 183 (68%) localizavam-se riram que a orquiectomia fosse realiza-
culiaridades são importantes pois apon- do lado direito, enquanto 87 (32%) da apenas em cães portadores de
tam ou sugerem algumas possíveis foram encontrados do lado esquerdo; prostatopatias tratáveis por esse proce-
causas da afecção, além de indicar gru- nenhum motivo foi encontrado para que dimento 16,20,21.
pos com predisposição ao acometimento. o lado direito fosse mais comprometido Foi demonstrado que não há diferen-
A hérnia perineal é uma afecção bas- que o esquerdo. ça entre os níveis séricos de testosterona
tante comum em cães, representando e 17β-estradiol entre cães normais e
entre 31,8 e 44% das hérnias diagnosti- Patogênese cães portadores de hérnia perineal 23.
cadas 4. Vários fatores têm sido incriminados Porém, mais recentemente, um estudo
A prevalência parece variar bastante na patogênese da hérnia perineal nos demonstrou que o número de receptores
entre os diferentes hospitais, indo de cães, mas ainda não se sabe ao certo a para hormônios andrógenos nos múscu-
0,09% a 0,40% dos cães atendidos 3,14. causa real dessa afecção. Alguns fatores los elevador do ânus e coccígeo estavam
comumente incriminados são o tenesmo diminuídos nos cães portadores de hér-
crônico em decorrência de prostatome- nia perineal em comparação ao número
galia ou afecção retal, a atrofia da mus- desses receptores em cães normais.
Diogo Benchimol de Souza

culatura do diafragma pélvico e o dese- Nessa investigação, o autor sugeriu que


quilíbrio hormonal 18. a causa do enfraquecimento desses mús-
Ainda não foi descoberta relação culos seria a falta de estímulo andróge-
causal direta, mas a prostatomegalia é no 22. O mesmo autor também aventa a
apontada por muitos autores como im- hipótese de que a diminuição desses re-
portante fator na formação da hérnia pe- ceptores poderia ser causada por uma
rineal em cães 11. O aumento de volume anormalidade no gene de formação de
da próstata atuaria comprimindo o reto e receptores andrógenos do cão 22.
Figura 1 - Representação das principais estru- provocando tenesmo, que aumentaria Vários estudiosos observaram que os
turas anatômicas da região perineal do cão a pressão exercida sobre o diafragma músculos elevador do ânus e coccígeo

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 79


freqüentemente se apresentam atrofia- perineal é o aumento de volume (que Dois artigos descrevem o uso de
dos em cães portadores de hérnia peri- pode variar de discreto a imenso) em suportes externos para a sustentação do
neal 3,20,24. Em outro trabalho foram reali- posição ventrolateral ao ânus. Esse au- períneo 11: em um deles, uma espécie de
zadas biópsias desses músculos e a aná- mento de volume é freqüentemente re- suspensório feito de couro envolve a
lise histopatológica revelou lesões su- dutível e geralmente não doloroso 6,11,29 região perineal, reduzindo o volume
gestivas de atrofia neurogênica 20. Em (Figura 2). herniado 34.
outra pesquisa, tanto o exame histopa-
tológico do músculo elevador do ânus Tratamento cirúrgico

Diogo Benchimol de Souza


quanto o exame eletromiográfico dos A avaliação dos riscos cirúrgicos
músculos do diafragma pélvico de cães deve ser meticulosa, pois muitos ani-
com hérnia perineal indicaram a pre- mais com hérnia perineal são idosos
sença de atrofia neurogênica nesses e/ou possuem doenças intercorrentes.
músculos 25. Foi sugerido que a próstata A aplicação de enemas doze horas
aumentada poderia comprimir a inerva- antes da cirurgia é indicada para favore-
ção dos músculos do diafragma pélvico, cer o esvaziamento colônico, porém
causando a atrofia neurogênica 25. alguns cirurgiões defendem que estes
A correlação entre a hérnia inguinal Figura 2 - Hérnia perineal. Aumento de volume
potencializam o risco de trauma retal e
adquirida em cães machos e a hérnia na região perineal direita de cão macho fluidificam as fezes, tornando mais difí-
perineal permitiu verificar que muitos cil a retenção destas durante a cirurgia.
animais portadores da hérnia inguinal O diagnóstico das hérnias perineais é No momento que antecede a cirurgia, a
possuíam também hérnia perineal, mas feito com base na história clínica, no ampola retal deve ser esvaziada manual-
nenhum motivo foi sugerido para isso 26. exame físico e nos achados radiográfi- mente 6,29.
Recentemente, dois estudos aponta- cos, caso necessário 6,29. Embora a grande maioria dos autores
ram um possível fator importante na for- A palpação retal deve ser feita para indique a colocação de sutura em bolsa
mação das hérnias perineais em cães 27,28. avaliar desvios, saculações ou divertí- de fumo no ânus após a indução anesté-
A relaxina – hormônio que interfere no culos retais e, para realizá-la, o reto sica 6,11,29, um estudo que comparou duas
metabolismo do colágeno e causa rela- deve ser esvaziado manualmente. O técnicas de oclusão anal (sutura em
xamento dos tecidos conectivos do cor- diafragma pélvico contra-lateral e a bolsa de fumo e tampão retal) e a não
po – foi encontrada em grande concen- próstata também devem ser palpados e oclusão anal para correção de hérnia
tração no epitélio prostático e em líqui- avaliados 16,29,31. perineal obteve taxas de infecção da
do de cistos paraprostáticos de cães com ferida cirúrgica significativamente me-
hérnia perineal, indicando que a ação Terapia clínica nores quando o ânus não foi ocluído 35.
local desse hormônio pode enfraquecer O tratamento clínico das hérnias peri- O decúbito indicado é freqüentemen-
os músculos do diafragma pélvico 28. No neais não parece apresentar bons resul- te o ventral, com os membros posterio-
outro estudo, o número de receptores tados em longo prazo, seja no sentido res pendentes da mesa, a cauda fixada
para relaxina encontrados nos músculos do agravamento dos sintomas relaciona- sobre o dorso com o auxílio de cordas
do diafragma pélvico de cães portadores dos à hérnia 11,31, seja quanto ao perigo de ou esparadrapo, a pelve elevada e a
de hérnia perineal foi significativamente ocorrer retroflexão da bexiga a qualquer região cranial das coxas acolchoada
maior do que aquele constatado em cães momento 32. De qualquer forma, a tera- para evitar lesões aos nervos femoral e
normais, sugerindo que, de alguma pia clínica deve ser recomendada para fibular 6,11,29. Também foi sugerido o
forma, tal hormônio participa na for- aliviar os sintomas no período que ante- decúbito dorsal, com as pernas estendi-
mação das hérnias perineais dos cães 27. cede a cirurgia. das cranialmente para a correção de hér-
Laxantes lubrificantes, osmóticos ou nias bilaterais, e o decúbito lateral para
Sinais clínicos e diagnóstico volumosos podem ser usados para faci- a correção de hérnias unilaterais 2.
Histórico de tenesmo, disquezia, litar a eliminação das fezes. Enemas pe- Diversas técnicas cirúrgicas foram
constipação ou obstipação pode pre- riódicos podem ser recomendados, com descritas para a correção da hérnia peri-
ceder a hérnia perineal e/ou estar a utilização de água ou salina morna, neal, dentre as quais as mais comumen-
associado a ela 6,29,30. Vômitos, flatu- soluções de óleo mineral ou soluções te utilizadas são a herniorrafia tradicio-
lência, incontinência fecal, prolapso comerciais 6,29,31. nal, a transposição do músculo obtura-
retal, diarréia, ulceração de pele, in- A bexiga pode ser descomprimida dor e o uso de implantes. Outras técni-
continência urinária e atitude alterada por cateterização ou cistocentese caso cas descritas são a transposição do mús-
da cauda podem ser outras queixas necessário, porém o uso prolongado culo glúteo superficial 21, a transposição
apresentadas 11,15,16,29. dessas medidas é contra-indicado 6,29,33. do músculo semitendinoso 36 e a divisão
A presença da bexiga no saco herniá- Considerando o aumento do volume anal 37.
rio pode acarretar uma emergência, prostático como um possível fator pre- Foi proposto que hérnias perineais re-
sendo que dor visceral pode estar pre- disponente ao tenesmo e às hérnias peri- correntes com grandes dilatações retais,
sente, acompanhada de disúria, oligúria neais, o diagnóstico e o tratamento das com retroflexão da bexiga e/ou associa-
ou anúria 6,11,31. doenças prostáticas tornam-se impor- das à doença prostática, fossem tratadas
O principal sinal clínico da hérnia tantes. com dois procedimentos cirúrgicos 38.

80 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


No primeiro procedimento, são realiza- artéria e veia glútea e o nervo isquiático, culo obturador interno, este é mobiliza-
das colopexia, cistopexia e/ou vaso- que passam crânio-lateralmente ao liga- do de sua inserção na borda caudal do
pexia por laparotomia ou laparoscopia, mento. Os pontos na porção ventral do ísquio. Para tanto, pode-se fazer uso do
e somente no segundo procedimento é defeito devem ser colocados entre os bisturi ou de um elevador de periósteo.
realizada a herniorrafia. Esse procedi- músculos esfíncter anal externo e obtu- Há que ter o cuidado de elevar o mús-
mento não é indicado como alternativa à rador interno. Atenção deve ser tomada culo somente até a borda cranial do fo-
herniorrafia, mas sim como medida para não lesionar os vasos e nervos pu- rame obturador, para preservar o nervo
adjuvante 39,40. dendos 6,29,33. Os pontos pré-colocados e a artéria obturadora 24,41 (Figura 4).
Para a correção cirúrgica das hérnias são apertados e a gaze pinçada que afas- Rompe-se o tendão do músculo na al-
perineais realiza-se a incisão cutânea tava as vísceras é retirada (Figura 3). tura em que este se condensa. Toma-se
diretamente sobre a hérnia, disseca-se o cuidado para não lesionar o nervo is-

Diogo Benchimol de Souza


tecido subcutâneo e identifica-se o saco quiático que atravessa o tendão lateral-
herniário. Abre-se o saco herniário com mente ao ísquio. O músculo é deslocado
cuidado para não lesionar os órgãos her- dorsalmente para preencher o espaço
niados e examina-se o conteúdo hernia- herniário 41.
do (qualquer estrutura anormal deve ser Suturas envolvendo os músculos
retirada para biópsia ou excisada). O coccígeo (ou ligamento sacrotuberoso),
conteúdo herniado viável deve ser repo- o esfíncter anal externo e o músculo
sicionado na cavidade e mantido reduzi- obturador interno são pré-colocadas e
do pela aplicação de um chumaço de somente devem ser ajustadas após a
gaze umedecido e preso por uma pinça colocação de todas elas 11 (Figura 5).
de Allis. Deve-se identificar a artéria, Figura 3 - Herniorrafia perineal tradicional. Os
O defeito hernial é palpado para cer-
veia e nervo pudendo, que devem estar pontos são colocados nos músculos esfíncter tificar-se de que foi ocluído satisfatoria-
localizados na região ventral do saco anal externo e coccígeo mente. A ferida é lavada e o tecido sub-
herniário. É essencial que esta última cutâneo e a pele são ocluídos rotineira-
estrutura seja preservada para que se Se algum tecido se encontrar conta- mente.
conserve a defecação normal. Devem minado, pode-se fazer uso de drenos de
ser identificados e examinados os mús- penrose colocados na fossa isquiorretal

Diogo Benchimol de Souza


culos envolvidos na hérnia (esfíncter saindo ventralmente à ferida cirúrgica.
anal externo, elevador anal, coccígeo e A ferida deve ser lavada e o tecido
obturador interno), vasos e nervos retais subcutâneo e a pele fechados rotineira-
caudais, ligamento sacrotuberoso e reto. mente. Se houver excesso de pele, esta
O músculo elevador do ânus freqüente- deve ser excisada 6,29,33.
mente apresenta-se atrofiado e pode não Quanto ao fio utilizado para as
ser identificável. Saculações, dilatações suturas, prevalece a preferência pessoal
ou divertículos retais devem ser corrigi- do cirurgião; são citados fios absorví-
dos 6,11,29,33. veis e inabsorvíveis, orgânicos e inorgâ-
Independentemente da técnica esco- nicos, de calibres que variam entre 2-0 e
lhida para a correção da hérnia, é impor- 1 6,29,33. Na literatura consultada, não foi Figura 4 - Herniorrafia por transposição do
tante que todas as suturas sejam ancora- encontrado qualquer estudo que compa- músculo obturador interno. O músculo é mobili-
das em pontos anatômicos fortes, o que rasse a eficácia dos fios para a hernior- zado da sua inserção no ísquio com auxílio de
um elevador de periósteo ou cabo de bisturi
requer o conhecimento anatômico da rafia perineal. Acreditamos que a esco-
região e uma cautelosa exploração ci- lha do fio deve levar em consideração Diogo Benchimol de Souza

rúrgica da área. A colocação de suturas que a região operada é bastante suscep-


em fáscias flácidas ou tecido subcutâ- tível a infecções pós-operatórias; por
neo para a herniorrafia fatalmente resul- essa razão, o uso de fios multifilamenta-
ta em recidiva da hérnia. res (ácido poliglicólico, poligalactina
910, algodão, seda, poliéster) ou fios
Herniorrafia tradicional que têm sua resistência tênsil perdida
Para a herniorrafia tradicional, os precocemente na presença de infecções
pontos são posicionados entre os mús- (categute) devem ser evitados. Indepen-
culos esfíncter anal externo, elevador do dentemente da técnica escolhida, prefe-
ânus e coccígeo, mas não são apertados. rimos os fios inabsorvíveis monofila-
Preferencialmente começa-se pela parte mentares (náilon ou prolene) de calibre Figura 5 - Herniorrafia por transposição do
dorsal e, à medida que a colocação pro- 2-0 ou 0 para a sutura. músculo obturador interno. São colocadas su-
gride ventralmente, o ligamento sacro- turas entre os músculos obturador interno e es-
tuberoso pode ser utilizado para anco- Transposição do músculo obturador fíncter anal externo (porção ventral do defeito
herniário), e entre os músculos coccígeo e es-
ragem das suturas. Deve-se ter cuidado interno fíncter anal externo (porção dorsal do defeito
ao incorporar o ligamento, para evitar a Na técnica de transposição do mús- herniário)

82 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Em uma série de cem cães portadores
Implante referência animais testados recorrência da hérnia
de hérnias perineais operados por essa Malha de polipropileno 43 6 16,7%
técnica, apenas três tiveram recorrência Colágeno dermal suíno 44 21 41,7%
da hérnia 42.
Peritônio bovino 17 13 23,1%
Implantes Submucosa de intestino suíno 45 6 33,4%
Para que haja um fechamento sem Fáscia lata autógena 46 12 0%
tensão do defeito herniário, implantes Figura 6 - Resultados da herniorrafia com o uso de diferentes materiais de implante
como tela de polipropileno 43, colágeno
dermal suíno 44, peritônio bovino conser- novas investigações, com maior número e fixado com sutura de bolsa de fumo ao
vado em glicerina 17, submucosa de in- de animais, devem ser implementadas redor do ânus 6.
testino delgado suíno 45 e, mais recente- para a consolidação técnica. O tenesmo pós-operatório é comum e
mente, a fáscia lata autógena 46 foram pode ocorrer devido à dor. O uso de
testados na herniorrafia perineal. Complicações analgésicos e amolecedores fecais nor-
Em todos esses estudos, após a expo- A infecção da ferida cirúrgica e a malmente resolve o problema. Suturas
sição e a redução da hérnia, os implan- deiscência da sutura parecem ser as que possam ter invadido o lúmen retal
tes foram suturados ao anel herniário complicações mais comuns da hernior- podem ser outra causa do esforço. O es-
com pontos simples, separados ou de rafia perineal, ocorrendo em aproxima- forço persistente para defecação pode
colchoeiro horizontal, com o auxílio de damente 27% dos cães operados 14,16. favorecer a ocorrência de prolapso retal
fios de categute, polidioxanona ou poli- Caso se suspeite de contaminação, deve e recidiva da hérnia 6.
propileno. Os resultados foram diferen- ser obtido material para cultura e anti- A incontinência fecal é causada por
tes para cada técnica e estão resumidos biograma e, até que saiam os resultados danos ao nervo pudendo e ao seu nervo
na figura 6. Chama a atenção a não desses testes, deve ser iniciada a anti- retal, caudal ou ao próprio músculo es-
recorrência de hérnias nos cães opera- bioticoterapia de amplo espectro 6. fíncter externo do ânus. Danos unilate-
dos com a fáscia lata autógena, mas, O prolapso retal parece ocorrer nos rais aos nervos normalmente são rever-
como tal estudo 46 era constituído por primeiros dias do pós-operatório, síveis em duas ou três semanas. Os
uma amostra de apenas doze animais, sendo facilmente reduzido manualmente danos bilaterais aos nervos ou danos

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 83


graves ao músculo esfíncter anal exter- prostáticas que causam aumento de vo- 14-BELLENGER, C. R. Perineal hernia in dogs.
Australian Veterinary Journal, v. 56, p. 434-
no são associados à incontinência per- lume, as afecções retais (divertículo, sa- 438, 1980.
manente 6,47. culação e flexura), os efeitos de hormô-
15-HEAD, L. L.; FRANCIS, D. A. Mineralized
A paralisia do nervo isquiático ocorre nios gonadais, a atrofia neurogênica dos paraprostatic cyst as a potential contributing
quando este fica preso ou é penetrado músculos elevador do ânus e coccígeo e factor in the development of perineal hernias in a
por uma sutura mal colocada no liga- a atuação da relaxina sobre os músculos dog. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v. 221, n. 4, p. 533-535,
mento sacrotuberoso. O animal apresen- do diafragma pélvico. O principal sinal 2002.
ta dor intensa e paralisia do nervo logo clínico da hérnia perineal é o aumento 16-BURROWS, C. F.; HARVEY, C. E. Perineal her-
após o retorno anestésico e o tratamento de volume na região perineal. O diag- nia in the dog. Journal of Small Animal
para tal é a retirada da sutura agressora 6. nóstico pode ser feito com base nos Practice, v. 14, p. 315-332, 1973.
Os problemas relacionados ao trato achados clínicos e com apoio radiológi- 17-DALECK, C. R.; FILHO, J. G. P.; DALECK, C.
urinário são freqüentes (dano uretral, di- co. Diversas técnicas para a correção ci- L. M.; NETO, J. M. C. Reparação de hérnia
perineal em cães com peritônio de bovino con-
súria, estrangúria, atonia vesical, necro- rúrgica da hérnia perineal foram des- servado em glicerina. Ciência Rural, v. 22, n. 2,
se vesical e incontinência urinária) e critas, sendo a herniorrafia clássica, a p. 179-183, 1992.
estão relacionados à retroflexão com hi- transposição do músculo obturador in- 18-MANN, F. A. Hérnia Perineal. In: BOJRAB M. J.
perdistensão da bexiga por longos pe- terno e o uso de implantes as mais co- Mecanismo da Moléstia na Cirurgia de
ríodos 16,29. A insuficiência renal aguda Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 1996. p.
mumente usadas. 108-114.
aparece raramente após a herniorrafia
19-KRAHWINKEL, D. J. Rectal diseases and their
perineal em cães idosos, com doenças Referências role in perineal hernia. Veterinary Surgery, v.
renais preexistentes, que receberam ex- 01-MATERA, E. A. Patologia Cirúrgica Geral. 12, n. 3, p. 1609-1615, 1983.
cesso de medicação durante o trata- São Paulo: Universidade de São Paulo, 1972.
20-HARVEY, C. E. Treatment of perineal hernia in
mento 14,16. 02-RAISER, A. G. Patologia Cirúrgica the dog - a reassessment. Journal of Small
As taxas de recorrência da hérnia pe- Veterinária. Santa Maria: Universidade Federal Animal Practice, v. 18, p. 505-511, 1977.
de Santa Maria, 1995. 21-SPREULL, J. S.; FRANKLAND, A. L.
rineal após herniorrafia variam entre 0 e
03-HAYES, H. M.; WILSON, G. P.; TARONE, R. E. Transplanting the superficial gluteal muscle in
46%. O tipo de técnica empregada, her- The epidemiologic features of perineal hernia in the treatment of perineal hernia and flexure of the
niorrafias perineais anteriores e a expe- 771 dogs. Journal of the American Animal rectum in the dog. Journal of Small Animal
riência do cirurgião parecem ser fatores Hospital Association, v. 14, p. 703-707, 1978. Practice, v. 21, p. 265-278, 1980.
importantes para a recorrência da hérnia 04-READ, R. A.; BELLENGER, C. R. Hérnias. In: 22-MANN, F. A.; NONNEMAN, M. S.; POPE, E.
perineal 7,16,42,45,47. SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos R.; BOOTHE, H. W.; WELSHONS, W. V.;
animais. São Paulo: Manole, 1998. p. 529-532. GANJAM, V. K. Androgen receptors in the
pelvic diaphragm muscles of dogs with and
Prognóstico 05-BRUHL-DAY, R. Perineal hernia, lateral vs. cau- without perineal hernia. American Journal of
dal approach. Capturado em 20 out. 2004. Veterinary Research, v. 56, n. 1, p. 134-139,
Dentre os fatores que contribuem Online. Disponível na internet 1995.
para o prognóstico da hérnia perineal, http://www.vin.com/proceedings/Proceedings.pl
podem ser destacados o tamanho da hér- x?CID= WSAVA2002&PID=2690. 23-MANN, F. A.; BOOTHE, H. W.; AMOSS, M. S.;
TANGER, C. H.; PUGLISI, T. A.; HOBSON, H.
nia, o tempo da formação da hérnia até 06-DEAN, P. W.; BOJRAB, M. J. Reparo de hérnia P. Serum testosterone and estradiol 17-beta con-
a sua correção cirúrgica, o comprometi- perineal no cão. In: BOJRAB, M. J. Técnicas centrations in 15 dogs with perineal hernia.
atuais em cirurgia de pequenos animais. São Journal of the American Veterinary Medical
mento da bexiga e a experiência do ci- Paulo : Roca, 1996. p. 414-420, 3. ed. Association, v. 194, n. 11, p. 1578-1580, 1989.
rurgião 29,32,47. 07-PETTIT, G. D. Perineal hernia in the dog. 24-VAN SLUIJS, F. J.; SJOLLEMA, B. E. Perineal
O prognóstico é bom para a correção Cornell Veterinarian, v. 52, p. 261-279, 1963. hernia repair in the dog by transposition of the
de hérnias pequenas e recentes, sem 08-DORN, A. S.; CARTEE, R. E.; RICHARDSON, internal obturator muscle, I. Surgical technique.
comprometimento vesical e operadas D. C. A preliminary comparison of perineal The Veterinary Quarterly, v. 11, n. 1, p. 12-17,
hernia in the dog and man. Journal of the 1989.
por cirurgião experiente. Porém, em
American Animal Hospital Association, v. 18, 25-SJOLLEMA, B. E.; HAAGEN, A. J. V.; VAN
hérnias de longa duração, nas quais há o p. 624-632, 1982. SLUIJS, F. J.; HARTMAN, F.;
encarceramento da bexiga, o volume 09-ROCHAT, M. C.; MANN, F. A. Sciatic perineal GOEDEGEBUURE, S. A. Electromyography of
herniário é grande e não há um cirurgião hernia in two dogs. Journal of Small Animal the pelvic diaphragm and anal sphincter in dogs
experiente para realizar a herniorrafia, o Practice, v. 39, p. 240-243, 1998. with perineal hernia. American Journal of
Veterinary Research, v. 54, n. 1, p. 185-190,
prognóstico torna-se reservado 32. 10-SCHALLER, O. Nomenclatura Anatômica 1993.
Veterinária Ilustrada. São Paulo: Manole,
1999. 26-SHAHAR, R.; SHAMIR, M. H.; NIEBAUER, G.
Considerações finais W .; JOHNSTON, D. E. A possible
A hérnia perineal é uma afecção fre- 11-BELLENGER, C. R.; CANFIELD, R. B. Hérnia association between acquired nontraumatic
Perineal. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia inguinal and perineal hernia in adult male dogs.
qüente na clínica cirúrgica veterinária e, de pequenos animais. São Paulo: Manole, 1998. Canadian Veterinary Journal, v. 37, p. 614-
segundo as definições clássicas, deve p. 578-590. 616, 1996.
ser considerada uma hérnia falsa. Tem 12-ELLENPORT, C. R. Sistema digestivo do 27-MERCHAV, R.; FEUERMANN, Y.; SHAMAY,
como característica epidemiológica o carnívoro. In: GETTY, R. Sisson & Grossman. A.; RANEN, E.; STEIN, U.; JOHNSTON, D. E.;
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13-CLAIR, L. E. S. Músculos do Carnívoro. In:
da. Desconhece-se a sua verdadeira GETTY, R. Sisson & Grossman. Anatomia dos and without perineal hernia. Veterinary
causa, porém diversos fatores têm si- animais domésticos. Rio de Janeiro: Guanabara Surgery, v. 34, n. 5, p. 476-481, 2005.
do incriminados, como as afecções Koogan, 1986. 1416-1444. 28-NIEBAUER, G. W.; SHIBLY, S.;

84 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


SELTENHAMMER, M.; PIRKER, A.; rate in perineal hernia surgery. Veterinary p. 420-421, 3. ed.
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be linked to perineal hernia formation in dogs. 36-CHAMBERS, J. N.; RAWLINGS, C. A. hernia repair in the dog by transposition of the
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86 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Ecologia

Códigos de Conduta Voluntários são criados para barrar a


introdução de espécies exóticas invasoras
C om o objetivo de criar uma barreira
à introdução e distribuição de plan-
tas e animais invasores – que não per-
causadas por animais, plantas e pragas
exóticas invasoras.
À medida em que ocupam o espaço
introdução e distribuição de plantas re-
conhecidamente ou potencialmente in-
vasoras, por meio da realização de aná-
tencem à flora e fauna locais –, The de espécies nativas e modificam a dinâ- lises de risco que, baseadas nas caracte-
Nature Conservancy, em parceria com mica de ambientes naturais, as espécies rísticas biológicas e ecológicas das es-
diversas instituições, lança dois Códi- invasoras podem causar vários prejuí- pécies, podem prever quais espécies
gos de Conduta Voluntários – um para zos, mas seus riscos ainda são desco- têm tendência a se tornar problemas
os setores de plantas ornamentais e o nhecidos de grande parte da população, ambientais ou configurar riscos à saúde
outro para os setores de animais de esti- que ignora os perigos relacionados à humana.
mação. A iniciativa, inédita, busca o soltura de animais de estimação na natu- Podem aderir aos respectivos Có-
apoio de paisagistas e médicos veteriná- reza e ao cultivo de plantas exóticas in- digos de Conduta Voluntários pessoas e
rios no controle da disseminação de es- vasoras como ornamentais, como a tre- instituições interessadas em contribuir
pécies invasoras, além de conscientizar padeira madressilva (Lonicera japonica), com o combate às espécies exóticas in-
a população sobre os impactos causados o tigre-d’água (Trachemys scripta e T. vasoras e com a promoção do uso de es-
à natureza pela soltura de animais de es- dorbigni) e a paina ou capim-dos-pam- pécies nativas dos ecossistemas brasi-
timação e pelo cultivo de plantas orna- pas (Cortaderia selloana). leiros. Quem adere aos Códigos deve
mentais, fazendo-as compreender o seu A perda de hábitat das espécies nati- desenvolver um plano de trabalho onde
papel na preservação do meio ambiente. vas, a competição por alimento, a pre- estarão listados os compromissos e as
Os códigos foram pensados a partir dação e a descaracterização dos ciclos metas assumidas.
de um levantamento nacional sobre es- ecológicos naturais são alguns dos mais
pécies exóticas invasoras, realizado pela freqüentes impactos causados por espé- Os parceiros
The Nature Conservancy e pelo Ins- cies exóticas invasoras. Não há uma São parceiros nesta iniciativa a
tituto Hórus, que mostrou, por exemplo, avaliação para o prejuízo causado pelas Associação Paranaense de Paisagismo e
que 21,8% das espécies exóticas invaso- espécies exóticas invasoras nos recursos Jardinagem, o Laboratório de Paisagis-
ras de plantas que foram introduzidas naturais do Brasil (solo, água, ar, pai- mo da Universidade Federal do Paraná,
intencionalmente no país têm causa no sagem etc.), mas para a agricultura e a a Coordenação Geral de Fauna do
uso ornamental. O cultivo, criação, co- saúde humana este custo está estimado Ibama, o Instituto Ambiental do Paraná
mercialização e distribuição de plantas em US$50 bilhões por ano. (IAP), a Clínica de Vida Livre, a Cine-
ornamentais e animais de estimação são mática Produções e Publicidade, o
práticas diretamente relacionadas à dis- Os Códigos de Conduta Voluntários Grupo Fowler e os cursos de Medicina
seminação de espécies da flora e fauna O trabalho de conscientização que já Veterinária e Ciências Biológicas da
ao redor do planeta. “Muitas vezes belas vem sendo feito pela TNC passou, em Universidade Tuiuti do Paraná.
plantas ou bichinhos encantadores pouco tempo, a contar com o apoio de
podem trazer sérios problemas se forem veterinários e paisagistas, já que a Sobre a TNC
parar na natureza. Profissionais bem demanda por animais de estimação e The Nature Conservancy (TNC),
preparados podem não somente reduzir plantas ornamentais é muito grande e a criada em 1951, é uma das maiores e
o comércio e utilização dessas espécies, conscientização dos pontos-de-venda e mais antigas ongs ambientais do mundo.
como também convidar a população a distribuição destas espécies é um meio Atuante em mais de 30 países, tem co-
fazer a sua parte”, comenta Silvia efetivo de controle da disseminação de mo missão proteger ecossistemas natu-
Ziller, coordenadora do Programa de espécies invasoras. Esse trabalho culmi- rais, plantas, animais e os que represen-
Espécies Exóticas Invasoras para a nou na criação dos Códigos de Conduta tam a diversidade de vida no planeta,
América do Sul. Voluntários, que são um conjunto de re- conservando as terras e águas de que
gras sobre práticas éticas e responsá- precisam para sobreviver. Presente no
Riscos à biodiversidade veis, propostas para promover a cons- Brasil desde 1988, desenvolve mais de
As ações do homem vêm mudando cientização sobre o risco do uso e disse- 20 grandes iniciativas nos principais
drasticamente a distribuição das espé- minação de espécies exóticas invasoras. biomas brasileiros (Amazônia, Mata
cies no planeta, causando não apenas Estes códigos valorizam indivíduos ou Atlântica, Cerrado, Pantanal e Caatinga),
impactos econômicos e sobre a saúde empresas que se preocupam em desem- com o objetivo de compatibilizar o de-
humana, mas também impactos ecológi- penhar seu trabalho respeitando pre- senvolvimento econômico e social com
cos, como a descaracterização de ecos- ceitos sociais e ambientais, além dos a conservação dos ecossistemas naturais.
sistemas e a extinção de espécies. Os econômicos, fundamentando-se na res- Nos últimos anos, suas ações contribuí-
números são alarmantes: estimativas ponsabilidade ambiental. ram para a conservação de mais de 20
revelam que mais de 1/3 das extinções Um dos principais objetivos destes milhões de hectares em todo o país.
de espécies nos últimos 400 anos foram documentos é criar uma barreira à TNC: www.tnc.org/brasil

88 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Bem-estar animal

WSPA, Prefeitura de Parintins e Ibama Precisa-se de


inauguraram centro para tratar médico veterinário
animais no Amazonas
F oi inaugurado, em Parintins (AM), o
Centro de Triagem de Animais Sil-
Desenvolvimento da WSPA, que esteve
em Parintins para a inauguração, tam-
A Sociedade Mundial de Proteção
Animal (WSPA Brasil) está recru-
tando um(a) médico(a) veterinário(a)
vestres (Cetas), paralelamente ao lança- bém se reuniu com chefes da Vigilância para assumir o cargo de Gerente de
mento da campanha “Respeito à Vida”. Sanitária e coordenadores do Projeto Programas Veterinários, para trabalhar
Com infra-estrutura pequena, porém bem Agentes de Saúde para levar, pela em seu escritório no Rio de Janeiro, RJ.
equipado, o centro receberá animais en- primeira vez, a questão de controle po- Aos interessados solicita-se enviar para
tregues ou confiscados para serem tra- pulacional de cães para ser discutida com elizabethmacgregor@wspabr.org,
tados e, quando aptos, devolvidos ao seu as Secretarias de Saúde do Baixo Ama- juntamente com seu curriculum vitae,
hábitat natural. Financiado pela Socie- zonas. em inglês, um texto, também em inglês,
dade Mundial de Proteção Animal Fundada há 25 anos, a WSPA tem por de no máximo duas páginas, sobre as
(WSPA - World Society for the missão elevar os níveis de bem-estar questões abaixo:
Protection of Animals) e pela Prefeitura dos animais em todo o mundo, assegu-
de Parintins, ele será operado pelo rando que esse princípio seja universal- • What are the main issues in Brasil
Ibama. mente compreendido e respeitado. A or- regarding animal welfare in general?
O centro é parte do projeto Arca ganização possui uma frente ampla e
Amazônica, que existe desde 2003 e diversa de trabalho, que inclui projetos • What are the main issues in Brasil
também inclui programa de permacul- educativos, capacitação profissional, regarding the welfare of companion
tura, de resgate de filhotes de peixe-boi, resgate de animais e suporte técnico animals (dogs/cats/horses) and what
de controle da população de animais e para afiliadas, além de uma mobilização could be done to improve it?
de educação humanitária. constante para a criação e aplicação de
Elizabeth Mac Gregor, a Gerente de leis específicas de proteção aos animais. WSPA: www.wspabrasil.org

A Sociedade Mundial de em geral. São profissionais im- estar animal por parte destes pro-
Proteção Animal (WSPA) portantes na construção per- fissionais. Faz-se necessário que
realizará, de 9 a 11 de agosto no manente da relação ser humano- também as faculdades de medi-
Riocentro (RJ), o II Congresso animal. cina veterinária, zootecnia e ciên-
Internacional de Conceitos em A demanda de vários segmen- cias afins ofereçam aos seus alu-
Bem-Estar Animal – Teoria, Do- tos da sociedade pela atuação nos uma formação específica
cência, Aplicação. O congresso, profissional que leva em conta o nessa área.
que é parte da 7ª Conferência Sul- bem-estar animal vem crescendo O “I Congresso Internacional de
Americana de Medicina Vete- de forma exponencial. Novas dire- Conceitos em Bem-Estar Animal –
rinária, tem como público-alvo trizes comerciais e legislativas, Teoria, Docência e Aplicação tem
médicos veterinários, zootecnistas nacionais e internacionais, assim como proposta incentivar o fluxo
e profissionais de áreas afins, como novos parâmetros éticos de informação científica e pro-
ramos de atividade que exercem nas pesquisas científicas, são mover o intercâmbio de idéias e a
um papel central na melhoria do algumas das evidências dessas troca de experiências. Para isso,
bem-estar animal por meio de novas exigências. reunirá no país alguns dos
suas próprias ações, influencian- Torna-se, portanto, essencial a maiores expoentes do assunto em
do outros profissionais e o público compreensão da ciência do bem- todo o mundo.

90 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


Entrevista

Escusa de consciência, direito garantido


O direito à escusa de consciência (ou objeção de consciência) foi o tema
da entrevista com o dr. Laerte Fernando Levai, promotor de Justiça de
São José dos Campos, SP, também formado em jornalismo e autor do
livro Direito dos Animais, publicado pela Editora Mantiqueira. Como
integrante do Ministério Público do Estado de São Paulo, o dr. Laerte
Levai promove diversas ações civis públicas contra os abusos praticados
em animais não humanos, principalmente no que se refere ao entrete-
nimento e à experimentação animal. Em novembro de 2006, o autor
publicou a tese “O direito à escusa de consciência na experimentação
animal”, que pode ser encontrada no site do Ministério Público do
Dr. Laerte Fernando Levai Direito dos Animais
Estado de São Paulo: www.mp.sp.gov.br

Clínica Veterinária (CV) - O que po- CV - A escusa de consciência na experi- do recebimento de seu salário e demais
dem fazer os estudantes de medicina ve- mentação animal, cada vez mais abor- benefícios. Observe-se que, se tinha ele
terinária – e de outros cursos relaciona- dada no Brasil, também é discutida restrições morais às tarefas que lhe
dos às ciências biomédicas – que não internacionalmente? Poderia citar al- caberiam desempenhar ali, não estava
concordem em participar de práticas vi- guns exemplos? obrigado a aceitar o cargo nem está
visseccionistas? LFL - Sim, na Itália a Lei n. 413/93 impedido de buscar outro cargo que
Laerte Fernando Levai (LFL) - Os deferiu aos estudantes de biomédicas o melhor atenda aos ditames de sua
alunos que não quiserem matar animais direito à escusa de consciência na expe- consciência”. Será que foi proposital a
durante seu curso acadêmico têm o di- rimentação animal. Essa avançada lei não inclusão dos estudantes nessa
reito de invocar em seu próprio favor, italiana, por sua vez, serviu de base pa- colocação? Será que uma faculdade
sem risco de represálias, a opção pela ra a Lei n. 4.428/99, de Bauru, Estado dispensaria todos os seus alunos se
escusa de consciência à experimenta- de São Paulo, cujos artigos 7º, 8º e 9º são esses exigissem o oferecimento de en-
ção animal, porque ninguém pode ser expressos em garantir a escusa àqueles sino ético e humanitário, a exemplo
obrigado a fazer aquilo que desrespeite que lidam com experimentação animal das mais de 100 faculdades de medici-
seus princípios filosóficos, culturais ou em escolas ou centros de pesquisa. Mais na que deixaram de utilizar práticas vi-
políticos, ou que ofenda sua integridade recentemente, a Lei Estadual 11.977/05, visseccionistas?
moral e espiritual. de São Paulo, tratou do tema em um dis- LFL - Foi lamentável, a meu ver, a
positivo específico, assegurando tal di- Comissão de Constituição e Justiça ter
CV - Há fundamento jurídico que ga- reito ao estudante que quiser invocá-lo. aprovado um substitutivo global ao PL
ranta a escusa de consciência na experi- 1.153/95 (Dep. Sérgio Arouca), que se
mentação animal? CV - Em dezembro de 2006, a Comis- agregou ao PL 3.964/97 (do Poder Exe-
LFL - O fundamento para a escusa de são de Constituição e Justiça e de Reda- cutivo), quando na realidade um outro
consciência está em nossa Constituição ção aprovou o projeto de lei n. 1.153/ projeto sobre o mesmo assunto, o de n.
Federal, compreendendo o artigo 5º, in- 1995, do deputado Sérgio Arouca, tam- 1.691/2003 (Dep. Iara Bernardi), trata-
ciso II (“Ninguém será obrigado a fazer bém conhecido como Lei da Cobaia. va da questão referente ao uso experi-
ou a deixar de fazer alguma coisa senão Uma das colocações do relator, o depu- mental de animais de maneira infinita-
em virtude de lei”), mesmo porque não tado Sérgio Miranda, foi a seguinte: mente superior aos outros dois. Dentre os
existe lei que obrigue o aluno a praticar vi- “Com efeito, o pesquisador ou professor pontos favoráveis do PL 1.691/03, rejei-
vissecção; o artigo 5º, inciso VIII (“Nin- que ingressa voluntariamente em um tado, havia a garantia à escusa de cons-
guém será privado de direitos por moti- estabelecimento que utiliza animais ciência, a prioridade aos recursos alter-
vos de crença religiosa ou de convicção para fins experimentais, conhecedor nativos e, ainda, a proibição de expe-
filosófica ou política, salvo se as invo- desse fato, e assina um contrato com rimentos repetidos ou cujos resultados
car para eximir-se de obrigação legal a aquela instituição sem que haja nenhum são conhecidos. Além disso, ele atribuía
todos imposta e recusar-se a cumprir vício de manifestação de sua vontade, incentivos fiscais e ambientais às em-
prestação alternativa, fixada em lei”); não pode, posteriormente, alegar es- presas que não testassem em animais,
e, ainda, o artigo 225, parágrafo 1º, inci- cusa de consciência para eximir-se mediante a atribuição de um selo verde,
so VII (que incumbe o Poder Público de do cumprimento de suas obrigações estimulando assim a busca pelos méto-
“proteger a fauna, vedadas as práticas contratuais e continuar fazendo jus à dos substitutivos. É triste ver que este
que submetam os animais à crueldade”.) contrapartida do empregador na forma último projeto, de caráter restritivo, não

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tenha sido prestigiado pelos parlamen- quatro paredes de um laboratório ou LFL - O direito à escusa de consciência,
tares, porque ele era o único que verda- durante uma aula de fisiologia. Sob a independentemente do surgimento de
deiramente poderia acabar com os hor- justificativa de buscar o progresso da leis que legitimem a experimentação
rores da experimentação animal e garan- ciência, o pesquisador prende, fere, que- animal, continuará sempre a existir. Isso
tir o direito à escusa de consciência. Mais bra, escalpela, penetra, queima, seccio- porque ele faz parte do capítulo dos Di-
triste ainda é ver os fundamentos de sua na, mutila e mata, perfazendo um autên- reitos e Garantias Fundamentais da
rejeição, como que reduzindo os parâ- tico massacre consentido. Em suas mãos Constituição Federal, que preserva as
metros morais humanos às regras do criaturas vivas tornam-se cobaias, mode- convicções íntimas do cidadão e não
mercado perverso que financia a vivis- los, simples exemplares e depois peças obriga ninguém a cometer violência mo-
secção. Não tenho dúvidas de que a descartáveis. Isso tudo apesar da co- ral contra si próprio. Assim, o estudante
eventual aprovação de um PL aboli- nhecida existência de recursos substitu- que deseja garantir sua postura antivi-
cionista mexeria em grandes interesses tivos de que a maioria dos vivisseccio- visseccionista poderá requerer ao pro-
econômicos. Mas, como diz um ditado nistas nem quer ouvir falar. É necessá- fessor da disciplina ou ao diretor da fa-
popular, a corda sempre arrebenta do ria, urgentemente, uma mudança de pa- culdade dispensa das aulas que envol-
lado mais fraco. radigma na mentalidade do pesquisador, vem experimentação animal, mediante a
uma pequena revolução interior que lhe elaboração de um trabalho acadêmico
CV - Em março de 2007 foi protocolado permita conciliar a ética à atividade que utilize metodologia substitutiva. Se
na Câmara dos Deputados requeri- científica, livrando os animais de tanta ainda assim não for atendido em sua
mento solicitando urgência na aprecia- barbárie. legítima pretensão, poderá ingressar
ção do projeto de lei n. 1.153/1995. En- com mandado de segurança perante a
quanto não é apreciado, há alguma coisa CV - Caso o projeto de lei n. 1.153/ Justiça. Obrigar alguém a perfazer expe-
que a sociedade civil possa fazer para 1995 seja finalmente aprovado e se torne rimentação animal é perseverar em um
garantir a preservação da escusa de cons- lei, o que pode acontecer com as pessoas erro metodológico, é contribuir para a
ciência na experimentação animal? que alegarem escusa de consciência nas difusão da insensibilidade, é subestimar
LFL - Barulho. É preciso que a opinião práticas que envolvam a experimentação a própria inteligência humana, enfim, é
pública saiba o que acontece entre as animal? ofender e desrespeitar a ética da vida.

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 93


Por Sergio Lobato

O monge e o clínico veterinário www.sergiolobato.com.br

R ecentemente um livro do autor


James Hunter vendeu mais de dois
milhões de exemplares em todo o Brasil
começar a falar sobre este tema para o
universo da medicina veterinária, pois
precisamos “cair na real” e admitir que
balcão do petshop).
E esta avaliação não depende somen-
te de você doutor(a)!
e fez muitos segmentos profissionais essa conversa sobre liderança, sobre Na grande maioria das situações, o
questionarem suas posições e posturas como estar à frente de nossas equipes de seu conhecimento técnico, a sua resolu-
nas relações entre chefes e equipes de trabalho, é algo ainda muito distante de ção clínica para o caso que está aten-
trabalho. nossa formação acadêmica, e que somos dendo em sua rotina, é o seu maior desa-
O livro resumidamente conta a estó- apresentados a esta realidade sem ao fio profissional, mas, lembre-se: até
ria de um empresário famoso que aban- menos notar que é ela que se apresenta chegar em você seu cliente passou por
dona sua carreira de sucesso e se torna em nossas rotinas de forma mais pre- uma série de experiências sensoriais e
um monge beneditino, e de um bem-su- sente do que possamos imaginar. muito pessoais, como por exemplo ter
cedido homem de negócios que passa Quantos dos colegas que estão lendo sido atendida por sua secretária.
por uma triste conclusão: se vê fracassa- essa frase agora não começam o dia di- É o que eu costumo chamar de linha
do como pai, marido e empresário. zendo bom-dia para suas secretárias, de frente do serviço médico veterinário!
Decidido a mudar sua vida, o homem atendentes, vendedores e auxiliares de Começamos a entender a importância
de negócios decide fazer um retiro espi- serviços veterinários (estes últimos, não das pessoas que estão em nosso dia-a-
ritual no mosteiro onde o famoso em- custa nada lembrar, ainda sem regula- dia profissional não é mesmo?
presário vive como monge, e lá ele mentação!), e também para os profissio- Mas será que o ponto mais impor-
aprende os ensinamentos fundamentais nais de higiene e estética animal que tante deste artigo seria apenas o reco-
do que o monge chama de princípios da prestam serviços nos seus estabeleci- nhecimento do papel que nossas equipes
verdadeira liderança. mentos? de trabalho têm em nossos negócios?
O grande mote do livro é mostrar que Gostaria de lembrar a todos os profis- Muitos podem perguntar: “Sérgio,
a verdadeira liderança não é o velho e sionais da medicina veterinária que es- por que você não usa o termo ‘colabo-
bom poder, mas sim a autoridade con- tamos inseridos em um segmento cha- radores’, tão comum em revistas que
quistada por meio da dedicação, do res- mado Prestação de Serviços, e um dos falam sobre este assunto?”
peito, do amor verdadeiro e da respon- pilares para o sucesso neste segmento é Por uma simples razão: porque na me-
sabilidade e respeito com a sua equipe a superação das expectativas dos consu- dicina veterinária ainda não consegui-
de colaboradores. midores de nossos serviços. mos sequer visualizar a importância das
É o que chamo de a real empatia ne- Ao mesmo tempo convém lembrar equipes de trabalho, que dirá entender
cessária nos dias atuais, para aqueles que os consumidores de nossos serviços seus componentes como colaboradores.
que realmente desejem imprimir um avaliam os “nossos serviços” por meio Pois a realidade é que em nosso
pouco de humanidade em suas relações de um somatório de dados coletados próprio processo de formação como
e, assim, obter diferencial competitivo. durante a execução e avaliação imediata profissionais sequer somos alertados
Em um primeiro momento, confesso do serviço (seja ele uma consulta, uma sobre as funções gerenciais que farão
que me vi perdido sem saber como tosa higiênica ou uma simples venda no parte de nosso dia-a-dia enquanto

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gestão de clínica de laboratório clínico atendimento de aves silvestres cirurgia em partes moles
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Profª Terezinha Knöbl Palestrante:
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Prof. Milton Kolber Manejo nutricional e reprodutivo; técnicas de
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Marketing aplicado à clínica ve- de cavidade torácica; de cavidade
Hematologia clínica (eritrogra- administração de medicamentos; enfermida-
terinária; aspectos legais e éti- abdominal; do trato genito-
ma e leucograma); urinálise; des; diagnóstico laboratorial; emergências, fra-
cos na aplicação do marketing; urinário; da região perineal; da
bioquímica sérica; parasitolo- turas e intoxicações; necropsia; terapias alterna-
comunicação empresarial avan- pele; miscelâneas cirúrgicas
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94 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


empreendedores do mercado veterinário. seria a origem da grande maioria em receita mágica e isso eu faço questão de
Sequer é citado que desenvolver as uma análise sócioeconômica? Preciso citar, pois o processo é único e, às
habilidades de relacionamento interpes- responder? Classes menos favorecidas! vezes, muito particular. Você primeiro
soal e gerenciais deverá ser um grande Anteriormente falamos em desenvol- precisa reconhecer-se, conhecer-se e
exercício diário de autoconhecimento. ver habilidades de relacionamento inter- classificar-se quanto ao seu estilo de
Quero ainda tocar em um ponto que pessoal, e o grande desafio é aprender a relacionamento com sua equipe de tra-
pode parecer nevrálgico e causar um comunicar-se, desenvolver uma lingua- balho, para somente então pensar em
certo incômodo em alguns profissionais gem adequada e evitar ao máximo os classificar-se como um tipo de líder.
(e realmente quero que seja essa a sen- ruídos nas mensagens entre você e sua Desenvolver a liderança é algo muito
sação!): a eterna postura de estar sempre equipe de trabalho. importante para que todos nós possamos
em um pedestal branco, um “Olimpo Mas como fazer isso? Entendendo to- profissionalizar nossos negócios veteri-
profissional” construído sob o véu do das as nuances destas diferenças sócio- nários e, felizmente, ter a chance de me-
pseudo-título de doutor. culturais, entendendo que seu papel é lhorar como pessoas, o que muitas ve-
Tal postura esconde muitas fraquezas muito mais importante do que ser ape- zes fica de lado nas horas a fio de plan-
institucionais e muitas mazelas pes- nas um...chefe! Alguém que paga os tão e, principalmente, debaixo de um
soais, mas cada caso é um caso. De salários no final do mês. uniforme branco intimidador.
qualquer modo, é notório que este dis- Mas creio que o mais importante nes- Mas como mudar? Como começar a
tanciamento nos faz pensar em segre- se estágio é você reconhecer-se, dispor- me relacionar com minha equipe de tra-
gação! se a conhecer a sua equipe de forma balho? O que posso fazer para ser um lí-
Caso fosse possível fazer uma grande verdadeira. Isto é a base do ensinamento der em meu trabalho?
pesquisa nacional e rastreássemos a ori- explicado no livro citado no início. É Vamos conversar sobre isso em ou-
gem familiar de grande parte dos profis- ver como seu trabalho, sua vida, sua tras edições e você verá que é mais fácil
sionais médicos veterinários deste país, postura, seus clientes, enfim, como seu do que imagina, basta querer, basta
veríamos que a maioria vem da classe universo é trabalhado do ponto de vista deixar de lado seus preconceitos e suas
média, de estruturas familiares que lhe da sua equipe de trabalho. Como eles verdades absolutas, e se dispor a sentir
permitiu ter acesso ao ensino superior. interagem, decidem e pensam... muitos incômodos nessa caminhada.
E nossas equipes de trabalho? Qual Isso não é fácil... Não existe uma Vamos juntos?

96 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


TRATADO DE ANIMAIS SELVAGENS - MEDICINA VETERINÁRIA

T ratado de Animais Selvagens -


Medicina Veterinária é uma obra
imprescindível para o médico veteriná-
aspectos da medicina veterinária dos
animais selvagens e exóticos, e contém:
•Aspectos biológicos, anatômicos, fisio-
clínica e extrapolação alométrica;
• Técnicas necroscópicas, cirúrgicas e
reabilitação de animais feridos;
rio especializado em animais selvagens lógicos, clínicos, anatomopatológicos e • Odontoestomatologia, oftalmologia,
e para o clínico de pequenos animais terapêuticos de peixes, répteis, aves e eletrocardiografia, neurologia e endos-
que atende animais silvestres, como mamíferos, com ênfase nos animais sul- copia aviária;
hamsters, papagaios, periquitos e tarta- americanos; • Nutrição e doenças nutricionais;
rugas. A obra reúne informações inédi- • 395 tabelas com informações sobre • Temas relativos à medicina de conser-
tas e exclusivas, compartilhadas por 88 doenças, hematologia e terapêutica (do- vação, gestão ambiental e planejamento
especialistas brasileiros e quatro convi- ses sugeridas) para cada grupo animal; de instalações veterinárias;
dados estrangeiros. Epidemiologistas, • Protocolos anestésicos estabelecidos a • Aspectos éticos e legais;
microbiologistas e médicos veterinários partir de décadas de experiência dos • Profilaxia e sanidade.
sanitaristas considerarão este livro útil autores; Tratado de Animais Selvagens - Me-
na compreensão do envolvimento dos • Descrição detalhada dos vários méto- dicina Veterinária é uma fonte de con-
animais selvagens no ciclo de zoonoses dos de captura, contenção física, trans- sulta completa, amplamente ilustrada e
e doenças emergentes. porte e equipamentos utilizados em ani- totalmente colorida. Com linguagem
Dividido em 10 seções, totalizando mais selvagens; acessível, é destinada a estudantes e mé-
77 capítulos, o texto aborda diversos • Diagnóstico por imagem, patologia dicos veterinários.
Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária , 1.376 páginas - Editora Roca: www.editoraroca.com.br
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Autores:
Zalmir Silvino Cubas. Médico Veterinário. Mestrando em Ciências Veterinárias (Patologia Veterinária), Universidade
Federal do Paraná (UFPR), Curitiba. especialista em medicina de animais selvagens, Universidade da Califórnia
(UCD), campus de Davis. Médico Veterinário do Zoológico Roberto Ribas Lange e do Criadouro de Animais Selvagens
da Itaipu Binacional (CASIB), Foz do Iguaçu, PR. Consultor do Projeto Mundo Selvagem, Foz do Iguaçu, PR.

Jean Carlos Ramos Silva. Médico Veterinário. Mestre e doutor em epidemiologia experimental e aplicada às zoonoses,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). Professor Adjunto do
Departamento de Medicina Veterinária (DMV), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE.
Diretor executivo do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação (Tríade).

José Luiz Catão-Dias. Médico Veterinário. Doutor em patologia experimental e comparada, Universidade de São Paulo
(USP). Livre-docente em patologia comparada de animais selvagens. Professor associado de patologia do
Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Diretor técnico-científico
da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP).

CIRURGIA ORTOPÉDICA EM CÃES E GATOS


C irurgia Ortopédica em Cães e
Gatos, em sua quarta edição, apre-
senta um guia preciso para médicos ve-
terinários em sua prática clínica diária,
para que se mantenham atualizados
técnicas cirúrgicas.
Dividido em sete seções, totalizando
51 capítulos, Cirurgia Ortopédica em
quanto aos principais aspectos da cirur- Cães e Gatos - Quarta Edição apresenta
gia ortopédica em pequenos animais. os temas:
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O livro foi reescrito e atualizado a fim • doenças articulares;


de fornecer uma extensa revisão dos as- • tratamento das fraturas;
pectos ortopédicos e espinhais de cães e • crânio e coluna;
gatos. As ilustrações foram redesenha- • membros dianteiros;
das e outras acrescentadas, combinadas • membros traseiros;
com fotografias e radiografias para faci- • condições ortopédicas diversas.
litar o diagnóstico e a compreensão das O livro é uma obra completa e ampla-
Cirurgia Ortopédica em Cães e Gatos mente ilustrada. Com abordagem práti-
Tradutores: ca, é um guia de referência rápida e uma
• Prof. dr. João Guilherme Padilha Filho. Médico veteri-
nário. Doutor em cirurgia de pequenos animais pela
fonte preciosa de informações para estu-
Escola Superior de Hannover - Alemanha. Professor dantes e residentes, que nele encontra-
doutor de cirurgia de pequenos animais na UNESP - rão uma base sólida para seus estudos e
Jaboticabal. leituras adicionais, e para médicos vete-
• Dra. Ângela Maria Mantoan Padilha. Médica veterinária
pelo Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto-SP rinários que diagnosticam e tratam de
Editora Roca: www.editoraroca.com.br problemas espinhais e ortopédicos.

98 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


LANÇAMENTOS
NOVOS ALIMENTOS PARA CÃES NUTRACÊUTICO

B alance e Supper são as marca das


rações para cães lançadas em
abril pela Perdigão, marcando sua
sendo comercializados em embala-
gens de 1 e 15 quilos.
A linha Supper conta com as ver-

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entrada no mercado de pet food. Os sões Filhotes e Adultos. Sua comer-
produtos são os primeiros do portfólio cialização está sendo feita em embala-
da Essencial Pet Care, divisão criada gens de 2, 15 e 25 quilos, no sabor
especialmente para o segmento. Carne e Ossinhos.
A entrada nesse mercado levou em Essencial Pet Care:
conta a disponibilidade de infra-estru- www.essencialpetcare.com.br
tura produtiva e matérias-primas na
variada cadeia de produção da empre-
sa. As rações estão comercializadas,
inicialmente, na região Sul e em São
Paulo, praças com maior concentra-

Divulgação
ção de cães no Brasil.
A linha Balance é encontrada em Para cães e gatos, o Imunologic possui apre-
sentação específica, em embalagem com 60
cinco diferentes variedades: Filhotes comprimidos palatáveis, no sabor fígado
Raças Pequenas, Filhotes Raças Mé-
dias e Grandes, Adultos Raças Peque-
nas, Adultos Raças Médias e Grandes
P
Balance Adultos ioneira no desenvolvimento de
e Adultos Sênior. Estes produtos estão Sênior Supper Adultos
nutracêuticos, a Vetnil acaba de
lançar o Imunologic. Segundo o fabri-
NOVOS ALIMENTOS SUPER PREMIUM cante, o produto ajuda a fortalecer o
sistema imunológico, sendo indicado
E m maio, no Congresso Nacional
da Anclivepa, em Florianópolis,
SC, a Nestlé Purina lançará uma novi-
de Pesquisa e Desenvolvimento Purina
com 24 cães adultos comprovou que
uma dieta completa e balanceada su-
para caninos, felinos, aves, roedores,
bovinos, eqüinos, ovinos, caprinos e
suínos.
dade na sua linha de alimentos super plementada com colostro aumenta a O Imunologic contém 22 nutrientes
premium para cães filhotes, o novo condição imunológica sistêmica dos que estimulam as células de defesa
Pro Plan Optistart Plus, especialmente cães e os mantém mais propensos a do organismo. Entre eles estão extra-
formulado com uma combinação ino- responder melhor quando expostos a to de shitake, coenzima Q10, ginkgo
vadora de nutrientes, incluindo anti- um agente infeccioso ou vacinas; tam- biloba, extrato de echinacea, além de
corpos naturais do colostro e proteínas bém eleva os níveis de IgA fecal e aminoácidos, vitaminas e minerais. O
de alta qualidade do frango, que refor- mantém a população da flora intesti- produto é recomendado para os ani-
çam o sistema imunológico do filhote. nal mais estável. mais que precisam melhorar a respos-
O colostro utilizado no novo Pro O produto estará disponível nas ta do sistema imunológico. A reco-
Plan Puppy Optistart Plus é uma variedades: Puppy Small Breed (raças mendação do fabricante é para o seu
grande inovação tecnológica e é pro- pequenas), Puppy Complete Protection uso em:
duzido de acordo com exigentes pa- (raças médias) e Puppy Large Breed • animais hospitalizados, na preven-
drões de qualidade animal e de saúde. (raças grandes). ção e tratamento de neoplasias e doen-
Um estudo desenvolvido pelo Centro Nestlé Purina: 0800-7701190 ças infecto-contagiosas, como cino-
mose e parvovirose;
• filhotes que não ingeriram colostro
Divulgação

suficiente, fêmeas gestantes e lactan-


tes, animais com anemia, idosos ou
submetidos a condições de estresse,
como transporte;
• associação ao esquema de vacinação.
O Imunologic pode ser adicionado
ao alimento ou administrado direta-
mente ao animal. Ele está disponível
em duas versões: em pó (frascos com
100 gramas, no sabor bacon, e 500
gramas, no sabor cenoura) e em com-
primidos palatáveis, versão específica
para cães e gatos (embalagem com 60
comprimidos, no sabor fígado).
Novos alimentos super premium: Puppy Small Breed (raças pequenas), Puppy Complete
Vetnil: 0800 109 197
Protection (raças médias) e Puppy Large Breed (raças grandes) www.vetnil.com

100 Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007


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