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Saúde e bem-estar

NO TRABALHO
Dimensões individuais e culturais
Saúde e bem-estar
NO TRABALHO
Dimensões individuais e culturais

Maria Cristina Ferreira


Helenides Mendonça
(Orgs.)
© 2012 Casapsi Livraria e Editora Ltda.
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sem autorização por escrito dos editores.

1ª edição
2012

Diretor Geral
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Editora-chefe
Juliana de Villemor A. Güntert

Gerente Editorial
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Coordenadora Editorial
Luciana Vaz Cameira

Assistente Editorial
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Diagramação
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Produção Gráfica
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Capa
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Coordenador de Revisão
Lucas Torrisi Gomediano

Preparação de Original
Tássia Fernanda Alvarenga de Carvalho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Saúde e bem-estar no trabalho : dimensões individuais e


culturais / Organizado por Maria Cristina Ferreira, Helenides
Mendonça. –– São Paulo : Casa do Psicólogo, 2012. –– (Coleção
trabalho humano / dirigida por Roberto Moraes Cruz)

Bibliografia.
ISBN 978-85-8040-029-8

1. Saúde 2. Qualidade de vida 3. Bem-estar 4. Estresse ocupacional


5. Coping 6. Burnout 7. Organizações 8. Trabalho 9. Gestão I. Ferreira,
Maria Cristina II. Mendonça, Helenides

12-0033 CDD 331.823

Índices para catálogo sistemático:


1. Saúde no trabalho 331.823
2. Trabalho : bem estar 331.823

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

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Sumário

Apresentação...................................................................................................7

Fundamentos teóricos e conceituais


Saúde, qualidade de vida e bem-estar: limites e interfaces
teórico-metodológicas...............................................................................11
Helenides Mendonça, Maria Cristina Ferreira, Juliana Porto, Daniela S. Zanini

Relação entre estresse ocupacional, coping e burnout...............................35


Mauricio Robayo Tamayo, Helenides Mendonça, Eliete Neves da Silva

Saúde do trabalhador: uma breve sistematização.....................................63


Ione Vasques-Menezes

Qualidade de vida e bem-estar no trabalho: principais tendências e


perspectivas teóricas..................................................................................79
Maria Cristina Ferreira, Marcos Aguiar de Souza, Cleide Aparecida da Silva

Bem-estar e felicidade nas organizações: um só fenômeno?...................105


Maria das Graças Torres da Paz, Elaine Rabelo Neiva, Marina Campos Dessen

A saúde das organizações........................................................................131


Sinésio Gomide Júnior, José de Oliveira Nascimento

Antecedentes individuais e organizacionais da saúde e


bem-estar no trabalho

Antecedentes individuais do bem-estar no trabalho sob a ótica da


Psicologia Positiva...................................................................................157
Maria Cristina Ferreira
6 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

Bem-estar, perfil pessoal e poder nas organizações.................................177


Maria das Graças Torres da Paz, Marina Campos Dessen

Valores, confiança do empregado e bem-estar subjetivo........................203


Áurea de Fátima, Sinésio Gomide Júnior

(In)congruência pessoa-ambiente: relações com bem-estar,


estresse e burnout.....................................................................................229
Juliana Barreiros Porto, Mauricio Robayo Tamayo, Tatiane Paschoal

Organização do trabalho: implicações para a saúde do trabalhador.......261


Sônia Regina Pereira Fernandes, Ione Vasques-Menezes

Mudança organizacional e seus efeitos colaterais:


estresse, adoecimento, bem-estar nas organizações................................277
Elaine Rabelo Neiva

Gestão de recursos humanos e saúde das organizações..........................303


Sinésio Gomide Júnior, Áurea de Fátima Oliveira, Graziela Nogueira Machado, Ione Vasques-Menezes

Bem-estar e qualidade de vida na aposentadoria....................................323


Lucia França

Sobre as organizadoras.................................................................................355

Sobre os autores...........................................................................................357
Apresentação

Nas últimas décadas, as pressões econômicas da globalização, as inovações tec-


nológicas e o crescimento do setor de serviços levaram as empresas a adotar novos
modelos de gestão, o que ocasionou profundas transformações no mundo do trabalho.
Nesse sentido, os avanços da tecnologia da informação aumentaram a demanda por
trabalhadores com múltiplas aptidões; além disso, a maior valorização do trabalho em
equipe acarretou mudanças na natureza da supervisão e as taxas de emprego tempo-
rário cresceram de forma surpreendente.
Tais mudanças na organização do trabalho ocasionaram profundo impacto na saúde
e no bem-estar dos trabalhadores, levando os estudiosos das organizações a se debru-
çarem sobre essas temáticas, na tentativa de contribuir para a melhoria das condições
vivenciadas pelos indivíduos em seu contexto laboral. Desse modo, os estudos sobre
estresse e burnout apresentaram considerável progresso nas últimas décadas, fazendo
com que atualmente já se encontre disponível uma extensa literatura acerca dos efeitos
deletérios que as características do trabalho e da organização exercem sobre a saúde e
o bem-estar do trabalhador, levando-o a vivenciar o estresse e o burnout.
No entanto, pouca atenção foi dada até o momento ao papel que os fatores indivi-
duais desempenham em tais processos. Ademais, o foco desses estudos sempre esteve
atrelado aos fatores negativos presentes no contexto laboral, os quais se mostravam
prejudiciais à saúde e ao bem-estar do trabalhador. Mais recentemente, o advento da
Psicologia Positiva fez com que o centro das atenções se deslocasse da doença para a
saúde, isto é, dos fatores negativos ou prejudiciais para os fatores positivos que levam
o indivíduo a se desenvolver ou florescer.
Na esteira de tal movimento, os estudiosos das organizações passaram tam-
bém a incorporar a abordagem positiva em seus estudos e a se deter na análise
dos aspectos do contexto laboral os quais contribuem para a saúde e o bem-estar
dos trabalhadores. O interesse não é mais, então, pelos efeitos prejudiciais que o
ambiente do trabalho exerce nos indivíduos, mas sim por seus efeitos positivos,
isto é, pelas características da tarefa e da organização que levam o trabalhador a
se mostrar satisfeito, feliz e engajado em seu trabalho. Sob tal perspectiva, especial
8 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

atenção passa a ser dada, também, ao papel desempenhado pelos fatores indivi-
duais na configuração do bem-estar laboral.
Acompanhando tal tendência, o presente livro, desenvolvido pelo Grupo de
Trabalho “Cultura e Saúde nas Organizações”, da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), procura trazer as diferentes perspectivas
sobre as quais a saúde e o bem-estar no trabalho vêm sendo abordados nos últimos
anos, incluindo-se a visão mais recente da Psicologia Positiva. Nesse sentido, ele
contém uma primeira parte, em que são discutidos os limites e as interfaces dos
conceitos de saúde e de bem-estar em geral e no trabalho, em particular, com outros
construtos similares, como qualidade de vida, estresse e burnout. Na segunda parte,
são analisados, então, em capítulos sucessivos, alguns dos vários fatores individuais e
organizacionais que concorrem para a saúde e o bem-estar do trabalhador, em sua vida
em geral e em seu contexto laboral. Esperamos que a presente obra possa contributir
para o aprofundamento do debate acerca da saúde e do bem-estar do trabalhador
entre profissionais e acadêmicos brasileiros com interesse no estudo das organizações.

Maria Cristina Ferreira


Helenides Mendonça
Fundamentos teóricos
e conceituais
Saúde, qualidade de vida e
bem-estar: limites e interfaces
teórico-metodológicas
Helenides Mendonça
Maria Cristina Ferreira
Juliana Porto
Daniela S. Zanini

Introdução
Abordar aspectos relacionados à saúde apresenta-se como um desafio diante da
mudança paradigmática ocorrida nas últimas décadas, por meio da qual saúde passa
a ser concebida numa perspectiva positiva, englobando o conceito de qualidade de
vida (QV) e o de bem-estar.
No âmbito da saúde, o avanço teórico o conceitual de algumas áreas de conhe-
cimento, como a psicologia, aliado ao crescente desenvolvimento social, revelou ser
inadequado o modelo biomédico que prioriza o aspecto biológico na determinação
da díade saúde-doença. Nesse sentido, as doenças psicológicas, os processos de adap-
tação social e os distúrbios psicossomáticos são alguns dos exemplos de transtornos
que evidenciaram a multicausalidade na determinação da saúde-doença. Baseado na
multiplicidade de fatores determinantes e em uma visão integradora do homem, novos
modelos, portanto, surgiram, como o biopsicossocial.
O foco nos estudos sobre saúde-doença, que era estabelecido, até recentemente,
sobre os aspectos negativos, passou a abordar o fenômeno numa perspectiva positiva
a partir do artigo de Seligman e Csikszentmihalyi (2000), publicado na American
Psychologist (questão abordada em detalhe no capítulo 7 deste livro).
A partir da proposta de Seligman e Csikszentmihalyi (2000), cientistas foram
influenciados a incluir em suas pesquisas aspectos positivos relacionados à qualidade
12 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

de vida e ao bem-estar, como temas estreitamente relacionados ao da saúde. Múltiplas


abordagens sobre ela podem ser encontradas na literatura. Este capítulo, entretanto,
discute os avanços no conceito de saúde ao longo da história, considerando a mudança
paradigmática como a responsável pela inserção das concepções de qualidade de vida
e de bem-estar no centro das discussões sobre essa temática. Na sequência, expõe
o conceito de qualidade de vida e de bem-estar, demonstrando suas similaridades e
diferenças; apresenta as contribuições da psicologia para a evolução conceitual de
bem-estar e discorre sobre os modelos teórico-metodológicos a partir da discussão
acerca dos níveis de análise e dos modelos interativos que podem ser utilizados nos
estudos sobre qualidade de vida e bem-estar.

Saúde-doença: evolução do conceito


O conceito de saúde-doenca passou por diversas modificações, com diferentes
momentos históricos privilegiando distintos aspectos, em função das condições
histórico-culturais e da própria organização social da época. Assim, desde a medicina
pré-histórica e os tratamentos à base de trepanação (perfuração do crânio com o
objetivo de libertar o indivíduo dos espíritos causadores do mal-estar) até a atuali-
dade, muito se desenvolveu no campo da saúde e da compreensão da relação entre
os estados de saúde-doenca.
A compreensão do processo saúde-doença sofreu mudanças paradigmáticas no
decorrer da história em razão de avanços no próprio modo de vida dos cidadãos. Assim,
destacam-se as medidas de saneamento básico e as políticas de saúde pública realizadas
na Grécia e em Roma, por volta dos séculos V e I a.C., tais como o sistema de esgoto
(ou cloacas), os banheiros públicos, o desenvolvimento de aquedutos e a limpeza das
vias públicas (Straub, 2005). Tais procedimentos ligados à saúde pública merecem
destaque pelo avanço em termos de saneamento básico e pelo quanto isso significou
para a humanidade e, sobretudo, pelo fato de que tais procedimentos revelaram uma
noção embrionária do tratamento dos processos de saúde-doença de maneira coletiva
e social, e não somente ligada a fenômenos espirituais associados a indivíduos isolados.

Perspectiva histórico-cultural da saúde


Na perspectiva histórico-cultural, Hipócrates (460 a 377 a.C.) postulou que
a doença é um fenômeno natural (e, portanto, não místico), e suas causas, seu
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 13

tratamento e sua prevenção podem ser conhecidos e estudados. Resulta dessa postura
Hipócrates ainda hoje ser considerado o pai da medicina.
Com a queda do Império Romano no século V d.C., inicia-se o período histó-
rico da Idade Média, marcado pela influência da Igreja em todas as áreas da vida e,
dentre elas, nas práticas sobre os processos de saúde-doença. Com isso, retornaram
as explicações sobrenaturais sobre os processos de saúde-doença, que eram, então,
compreendidos como punição de Deus por algum mal praticado. Além disso, o corpo
humano, criado à imagem e semelhança de Deus, não era apropriado para o estudo e
a intervenção científica. Dessa forma, a prática médica estava nas mãos da Igreja, que
buscava expulsar os espíritos causadores do mal-estar à pessoa enferma (Straub, 2005).
No período Renascentista, René Descartes (1596-1650), ao descrever os reflexos
básicos do corpo humano, compara-o a uma máquina. Segundo esse pensador, mente
e corpo eram processos separados e autônomos, sujeitos a diferentes leis de causali-
dade, postulação que ficou conhecida como o dualismo cartesiano, e que influenciou
a comunidade científica da época, e suas discussões reverberam na atualidade.
Contudo, o dualismo cartesiano tem sido bastante questionado tanto por posturas
filosóficas como por meio dos avanços tecnocientíficos que permitiram a comprova-
ção de conexões de comunicação entre o que se chamou de mente e corpo (Aldwin,
1994). Porém, ainda que bastante questionada atualmente, essa abordagem da relação
mente-corpo como instâncias independentes permitiu um avanço significativo no
estudo do corpo humano e, em especial, a realização de dissecações e o estudo da
anatomia humana em sua época. Desse modo, o corpo, entendido como uma instância
independente da mente, já não era considerado divino e, portanto, poderia ser mani-
pulado sem que isso significasse uma profanação do divino. Instaurava-se, assim, um
ambiente histórico-cultural propício para o estudo das causas biológicas das doenças,
em contrapartida ao estudo das causas espirituais que marcaram o período anterior,
a Idade Média.
No período da Renascença, avanços tecnológicos também foram importantes para
o estabelecimento do modelo biomédico de tratamento das doenças. Como exemplo,
pode citar-se não só o desenvolvimento do termômetro por Galileu, em 1592, e do
microscópio por Leewenhoek (1632-1723), como também a aplicação desses ins-
trumentos no estudo e na descrição das células como unidades básicas de todos os
organismos vivos por Hooke (1635-1703). Ainda nesse período, Pasteur (1822-1895)
isolou a bactéria do bicho da seda, provando que um micro-organismo provocava a
doença da raiva, e Charles Darwin publicou seu livro A origem das espécies, que colocava
o homem em condições iguais aos demais seres da natureza (Straub, 2005).
14 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

Os significativos avanços da medicina na primeira metade do século XX,


baseados na fisiologia e na anatomia, assim como no estudo das teorias celulares,
permitiram o nascimento do modelo biomédico de saúde (Straub, 2005), sustentando
que as doenças sempre podem ser descritas em níveis biológicos e são causadas por
fatores externos aos indivíduos, tais como bactérias, vírus ou desequilíbrios bioquími-
cos e predisposições genéticas. Dessa forma, o indivíduo é visto como vítima de forças
externas que provocam mudanças biológicas (Ogden, 1999).

Do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial


Com base no modelo biomédico, a saúde é compreendida como ausência de
doença; como o estado do organismo em equilíbrio biológico e não afetado pelos
patógenos causadores da doença. Assim, os aspectos psicológicos pouco ou nada
influenciavam os estados de saúde-doença dos indivíduos (Ogden, 1999). Nessa
perspectiva, predominava a concepção cartesiana do modelo mente-corpo como
instâncias separadas. Entretanto, algumas práticas permitiam a associação de que
determinados estados de doença poderiam ter consequências psicológicas, embora
nunca tivessem influência em aspectos biológicos. Ou seja, tratava-se de uma via de
mão única em que preponderava o aspecto biológico sobre os aspectos psicossociais
(Ogden, 1999).
Ao longo do século XX, a complexização das sociedades, os importantes avanços
científicos e o desenvolvimento de algumas áreas da ciência, como a psicologia, pro-
piciaram os questionamentos sobre o papel dos patógenos como únicos determinantes
das doenças (Ogden, 1999).
Além disso, a própria definição de saúde, que se pautava numa perspectiva nega-
tiva e não explicativa do termo (no início do século XX, saúde era considerada como
a ausência de doença), fez com que a Organização Mundial de Saúde repensasse esse
conceito à luz das novas modificações sociais vivenciadas. Assim, em 1958, a OMS
postulou saúde como “o completo bem-estar biopsicossocial” (Perestrelo, 1974), o que
norteou uma nova definição dela.
Esta definição e o consequente modelo de compreensão da saúde representam uma
quebra de paradigma na medida em que apresentam duas novas dimensões relaciona-
das aos processos de saúde-doença até então negligenciadas pelo modelo biomédico:
a dimensão psicológica e a social. Contudo, se, por um lado, esse novo modelo se
contrapõe aos antigos posicionamentos ou aos modelos de saúde utilizados, cabe, por
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 15

outro lado, destacar que estes foram alicerces fundamentais para que se pudessem
discutir as questões atuais sob diferentes perspectivas.
Na perspectiva do modelo biopsicossocial, considera-se que a compreensão dos pro-
cessos de saúde-doença exige a análise de três dimensões da esfera humana: o aspecto
biológico, o psicológico e o social, cada qual contribuindo de maneira significativa
tanto para o desenvolvimento de saúde-doença como para sua manutenção, resposta
ao tratamento e complicações associadas.
Outra característica dessa nova perspectiva de saúde é o aspecto positivo e não
mais o negativo como outrora. Saúde passa a ser considerada o completo bem-estar
biopsicossocial e não mais a ausência de doença. Essa definição, em contrapartida,
evidencia que poucos indivíduos podem ser classificados como completamente sau-
dáveis, uma vez que o estado de completo bem-estar biopsicossocial é utópico e difícil
de ser atingido. Nesse sentido, os estados de saúde-doença constituem-se como dois
extremos de um continuum, e não mais dois polos opostos. Um indivíduo, portanto,
pode localizar-se mais no polo da saúde ou mais no polo da doença, porém os extremos,
de completa saúde ou de completa doença, seriam uma medida utópica. Assim, um
indivíduo que se encontra adoecido ou com um mal-estar em relação a determinado
aspecto de sua vida também pode apresentar algo de saúde em relação a outros aspectos
de sua vida e vice-versa.
A definição de saúde da OMS introduz, além da ideia da importância dos fatores
psicossociais nos processos de saúde, a da avaliação que o indivíduo realiza de seus
estados internos e externos, sejam eles em nível biológico, psicológico ou social,
incluindo as concepções relacionadas à qualidade de vida e ao bem-estar.
Essa definição chama a atenção dos atuais profissionais das áreas de saúde e
humanas para a importância da percepção do indivíduo sobre si mesmo e sobre o
que o cerca, tornando-se mais apropriada para explicar os problemas de saúde rela-
cionados a aspectos psicossociais, assim como os aspectos biológicos em interação
com os aspectos psicossociais (Straub & Berger, 2004). Como exemplo, estão os pro-
blemas de saúde tais como a fibromialgia ou o burnout. Embora estudos demonstrem
a existência de marcadores biológicos relacionados a seu diagnóstico ou mesmo a
possibilidade de tratamento farmacológico deles, a compreensão dessas síndromes
passa, necessariamente, pela avaliação dos aspectos psicossociais envolvidos e, mais
especificamente, pela avaliação subjetiva do indivíduo de seus estados alterados,
motivo pelo qual o diagnóstico se torna complexo e muitas vezes discutível dentro
da perspectiva médica. Além do mais, essas síndromes se encontram relacionadas
com as atividades desenvolvidas pelos indivíduos em conjunto com características
16 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

pessoais específicas, e não somente predisposição genética. Neste ponto, é de fun-


damental importância a compreensão do universo social em que o indivíduo está
inserido, dentro do qual cabe ressaltar o importante papel que cumpre o trabalho
desenvolvido e a qualidade das relações estabelecidas nos diversos campos da vida,
o que cada vez mais vem ganhando espaço e consumindo mais tempo dos indivíduos
nas sociedades modernas.
Por outro lado, perspectivas atuais na compreensão dos processos e das interven-
ções na saúde ressaltam a necessidade de enfocar os aspectos saudáveis do indivíduo,
em contrapartida aos estados alterados (Aldwin, 1994). Avanços significativos das
causas de adoecimento foram realizados, contudo, ainda pouco se sabe sobre os aspec-
tos que mantêm os indivíduos saudáveis, mesmo quando confrontados com fatores de
riscos (Aldwin, 1994; Kazdin et al., 1997). Nesse sentido, o desafio atual da ciência e,
em especial, da psicologia, é o estudo dos fatores que influenciam a saúde, mantendo-a
ou promovendo-a. Este capítulo pretende discutir, portanto, as interfaces teórico-
-metodológicas entre saúde e suas consequências para a avaliação dos indivíduos em
termos da qualidade de vida e do seu bem-estar.

Qualidade de vida e saúde


A influência mútua entre qualidade de vida e saúde tem pautado o debate de
políticos, pesquisadores, cientistas e pensadores ao longo da história. Em sua obra
A miséria do povo, mãe das enfermidades, Johann Peter Frank (citado por Buss, 2000)
relata como as condições precárias de vida, de trabalho e de nutrição podem levar os
cidadãos a sofrerem diferentes problemas de saúde. Essa obra demonstra que, desde
o século XVIII, havia uma forte preocupação com a qualidade de vida das pessoas e
com seu reflexo na saúde individual e na coletiva.
A saúde, como um direito humano fundamental, encontra-se no mesmo grau de
importância de outros direitos essenciais dos cidadãos, como educação e alimentação.
Em defesa da causa sobre a saúde dos povos no mundo, a Carta de Ottawa (1986)
estabelece que “. . . a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econô-
mico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida”. Como
pré-requisito para se obter uma base sólida para a saúde das pessoas, a mesma carta
aponta a necessidade de que os povos tenham como requisito básico: paz, habitação,
educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social
e equidade.
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 17

Portanto, saúde e qualidade de vida são conceitos interligados e constituem


aspectos fundamentais da vida humana, englobando a vida no trabalho, pois é nele
que as pessoas passam a maior parte de seus dias e as horas mais produtivas de suas
vidas. Com esse enfoque, o capítulo 4 deste livro se dedica a discutir a Qualidade de
Vida no Trabalho (QVT).

Qualidade de vida: avanços teórico-metodológicos


O novo conceito de qualidade de vida (QV), que é consistente com os paradig-
mas voltados para ações preventivas de saúde, tem influenciado o estabelecimento de
políticas e práticas de saúde pública nas últimas décadas.
No vernáculo, QV “. . . envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional,
além de relacionamentos sociais, como família e amigos, e também a saúde, educação,
poder de compra e outras circunstâncias da vida”.
Ao agregar o conceito de QV expresso no vernáculo ao que é estabelecido pela
OMS, pode apreender-se que QV é um construto multifacetado, que envolve quatro
dimensões superiores, a saber: (1) aspectos individuais – físicos, mentais, psicológicos
e emocionais; (2) aspectos relacionais – família, amigos, escola; (3) aspectos sociais
– saúde, educação, poder de compra; (4) aspectos culturais – sistemas de valores em
que se vive, objetivos, expectativas, padrões e concepções relacionadas às diferentes
circunstâncias da vida.
Tomadas em conjunto, essas dimensões estão estruturadas de modo a apresentar
aspectos subjetivos, relacionados à percepção do indivíduo sobre a sua QV, e objetivos,
ligados à própria condição de vida.
Diante da complexidade que engloba o próprio conceito de QV, estudiosos se têm
dedicado à construção de instrumentos de medida com foco na análise desse fenô-
meno, contribuindo, dessa maneira, para as maturidades conceitual e metodológica
do construto.
Costa-Neto (2002), ao trabalhar a publicação de Cummins, intitulada Directory
of Instruments to measure Quality of Life and Correlate Areas, publicada em 1998,
identificou 446 instrumentos de medida de QV num período de setenta anos. Seidl
e Zannon (2004) especificaram, entretanto, que, do total de instrumentos identifi-
cados, 322 apareceram na literatura a partir dos anos 1980, dado que demonstra que
70% dos instrumentos sobre QV emergiram na literatura nas últimas três décadas,
coincidindo com o avanço conceitual do fenômeno.
18 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

A própria OMS, por intermédio do seu Grupo de Trabalho com foco na Qualidade
de Vida, desenvolveu, em 1998, um instrumento de avaliação de Qualidade de Vida, o
WHOQOL-100, que foi traduzido para vários idiomas e validado no Brasil por Fleck,
Louzada, Xavier, Chachamovich, Vieira, Santos e Pinzon (1999).
Diante de tantos instrumentos, torna-se difícil aos pesquisadores a escolha daquele
que melhor se aplica aos objetivos de determinada investigação. Para uma decisão
correta, é necessário que se escolha o instrumento que, de maneira mais simples e
fácil para os respondentes, atenda ao seu objetivo de estudo.
A importância atribuída à QV atingiu proporções que englobam todas as condições
de vida dos cidadãos, podendo apresentar-se como fonte de satisfação versus insatis-
fação; prazer versus sofrimento; alegria versus tristeza; saúde versus doença; felicidade
versus infelicidade (Ferreira & Mendes, 2003).

Qualidade de vida e bem-estar: diferenças e


similaridades conceituais
Os conceitos de QV e de bem-estar parecem estar tão estreitamente relacionados,
que pode ser difícil uma limpeza teórica que os distinga de maneira clara e objetiva.
A OMS estabelece definições que muito se assemelham para saúde, bem-estar e
qualidade de vida. Neste tópico, portanto, pretendemos elucidar as diferenças con-
ceituais existentes, de modo a propiciar ao leitor maior clareza sobre os termos aqui
utilizados.
A OMS define saúde como “. . . completo bem-estar biopsicossocial e não somente
a ausência de afecções ou enfermidades” (Decreto-Lei n.º 36406, 1946). Nesse sentido,
concebe o bem-estar como condição de saúde coletiva das pessoas e entende-o numa
perspectiva biopsicossocial, abrangendo, consequentemente, diferentes domínios da
vida, como o trabalho, a família, o lazer, as finanças e o próprio self.
No que se refere à qualidade de vida, a OMS estabelece uma definição que envolve
“. . . a percepção do indivíduo de suas posições na vida, no contexto da cultura e
sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas,
padrões e concepções” (Fleck, 1996, p. 64).
Nota-se que o conceito de qualidade de vida estabelecido pela OMS aborda a ques-
tão numa perspectiva situacional, focada nas percepções das pessoas sobre aspectos
fundamentais de sua vida, como a cultura, os valores, os padrões, as concepções e as
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 19

expectativas de vida. Trata-se, assim, da própria condição de vida dos indivíduos. Por
analogia, pode dizer-se que o cidadão que vive em condições adequadas diante de sua
cultura, de seus valores e de suas expectativas, consequentemente, tende a vivenciar
bem-estar. Essa correlação hipotética deve ser verificada empiricamente, apesar de o
conceito de QV estar mais focado na percepção de aspectos ambientais/situacionais,
e o conceito de bem-estar estar relacionado a aspectos individuais, como os afetos, a
felicidade, a autoaceitação, etc.
Os estudos sobre bem-estar emergiram com foco em duas abordagens distintas.
Uma delas integra dimensões relacionadas ao afeto, à satisfação com a vida e à felici-
dade, demonstrando como as pessoas experienciam suas vidas positivamente (Diener,
Oishi & Lucas, 2003); a outra privilegia os conceitos de autoaceitação, autonomia,
propósito de vida, domínio do ambiente, crescimento pessoal e relações positivas com
os outros (Ryff, 1989).

Bem-estar: da perspectiva materialista à


perspectiva psicossocial
Não se pode afirmar que haja um estado de bem-estar pleno, sobretudo ao se
considerarem os aspectos psicossociais que o antecedem (Silva, 2009). No contexto
de trabalho, a vivência subjetiva de um constante estado de bem-estar caracteriza-se
como algo utópico e, portanto, muito pouco provável de ocorrer. Há de se destacar
que o resgate de um estado de bem-estar melhora a qualidade de vida e a saúde geral
do trabalhador, provocando impacto direto na diminuição das doenças psicossomáticas
e, consequentemente, resguardando a saúde física e a psicológica.
No campo da psicologia, os anos de 1970 marcaram estudos associando o termo
bem-estar ao aspecto econômico; assim, a palavra tinha o significado de bem-estar
material, relacionado ao rendimento salarial (Hodge, 1970; Alston, Lowe & Wrigley,
1974). Portanto, a concepção de bem-estar nos anos do “milagre econômico brasileiro”
era materialista, feita a partir da avaliação do indivíduo em relação ao seu rendimento
ou ao poder de compra do dinheiro. A lógica era: se posso adquirir aquilo de que
necessito e que desejo, logo, vivencio bem-estar.
Estudos posteriores à década de 1970 corroboram com essa perspectiva ao estabe-
lecer que um rendimento salarial mais alto promove o bem-estar e torna-se benéfico
quando os indivíduos são muito pobres e vivem em uma nação muito rica. Por outro
lado, elevado desejo por riqueza pode dificultar aos indivíduos as chances de vivência
20 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

do bem-estar subjetivo (Diener & Biswas-Diener, 2002). No limite, a valoração


extrema dada à riqueza e aos luxos e as possibilidades que ela oferece podem levar a
uma expectativa irreal e utópica, trazendo frustrações, sofrimento e insatisfações com
a vida como ela é.
Diener e Biswas-Diener (2002) constatam que indivíduos de classes econômicas
em níveis médio e superior, os quais aumentam substancialmente seus rendimentos,
não aumentam o seu bem-estar subjetivo na mesma proporção. Os autores enfatizam,
entretanto, que o estado de pobreza extrema tem maior probabilidade de fazer uma
pessoa infeliz do que a riqueza torná-la uma pessoa feliz, em razão de que a ênfase dada
à questão econômica pode trazer um viés na compreensão do que, de fato, vem a ser
bem-estar ou felicidade. O ganho elevado de dinheiro pode proporcionar a vivência de
prazeres, mas não “blinda” o indivíduo das possibilidades de sofrimento psíquico, como
também de perigos das mais diversas naturezas. Diante da complexidade do construto
bem-estar, os estudiosos do assunto perceberam ser a visão materialista insuficiente
para compreender o fenômeno em todas as suas dimensões. Portanto, considerando-se
os aspectos econômicos do bem-estar, a psicologia passou a sinalizar que eles deixavam
grandes lacunas na compreensão dessa variável tão complexa.
Essa percepção levou ao desenvolvimento de estudos que apontavam como predi-
tores do bem-estar a interação de processos psicossociais como a cor da pele, a idade,
a percepção de saúde, o nível de adaptação aos eventos e às circunstâncias da vida, os
traços de personalidade, dentre outros aspectos (Beiser, 1974; Clemente & Sauer, 1976;
Brickman, Coates, & Janoff-Bulman, 1978; Costa & McCrae, 1980). Instalava-se,
nesse período, um ciclo de divergências empírico-conceituais sobre os antecedentes
e consequentes do bem-estar, assim como sobre as dimensões que o compunham. Esse
ciclo ainda não se findou e tem suscitado grande demanda de estudos sobre a questão.
A base dessas divergências compõe-se por dois eixos distintos. O primeiro apre-
senta-se, por um lado, na perspectiva que foca suas análises no bem-estar físico e, por
outro, no bem-estar psicológico. O segundo subdivide a própria concepção psicológica
do construto, apresentando-a a partir de duas dimensões que englobam aspectos cog-
nitivos e afetivos, definidos por Galinha e Ribeiro (2005) como bem-estar psicológico
e bem-estar subjetivo.
O bem-estar psicológico integra dimensões valorativas, abordando conceitos de
autoaceitação, autonomia, propósito de vida, domínio do ambiente, crescimento
pessoal e relações positivas com os outros (Ryff, 1989). Em contrapartida, o bem-estar
subjetivo forma um campo de estudo que integra as dimensões afetivas do construto,
como otimismo, satisfação com a vida e felicidade (Diener, 1984).
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 21

Na década de 1980, os debates sobre o conceito de bem-estar no âmbito da psico-


logia intensificaram-se em razão de os limites da sua definição não estarem claramente
estabelecidos e não serem consensuais. Em decorrência desses debates, Ryan e Deci
(2001) propõem a organização dos estudos sobre o bem-estar em duas perspectivas
filosóficas distintas – a hedonista e a eudaimonista. A perspectiva hedonista, que reflete
a visão de que o bem-estar consiste em prazer e em felicidade, equivale ao bem-estar
subjetivo. A perspectiva eudaimonista equivale, por sua vez, ao bem-estar psicológico e
engloba aspectos cognitivos como domínio do ambiente, autoaceitação, autonomia etc.
Numa perspectiva integradora, as evidências mais recentes defendem que o
bem-estar pode ser mais bem conceituado como um fenômeno multidimensional,
constituído por aspectos tanto da concepção hedonista como da eudaimonista (Ryan
& Deci, 2001). Ryff (1989) faz uma discriminação entre bem-estar subjetivo e bem-
-estar psicológico, este definido em termos cognitivos, compreendidos em função das
competências individuais para lidar com situações concretas da vida. Esse modelo
é fundamentado na perspectiva eudaimonista, que significa a busca de excelência
pessoal como motivação central da existência e está estruturado por seis dimensões:
1 - Autonomia – significa ter um self determinado e independente, capaz de
realizar autoavaliações.
2 - Propósito de vida – está relacionado aos objetivos que o indivíduo tem na
vida e ao senso de direção.
3 - Domínio do ambiente – significa ser capaz de administrar atividades com­
plexas da vida.
4 - Crescimento pessoal – ser capaz de manter o próprio processo de desenvol-
vimento.
5 - Autoaceitação – está relacionada à capacidade de aceitação de si e dos outros.
6 - Relações positivas com outros – significa manter relações de satisfação, de
confiança e de afetividade com outras pessoas.
Apesar das contribuições da abordagem cognitiva na compreensão do bem-estar
psicológico, as dimensões apresentadas para explicar o construto são insuficientes para
avaliar o posicionamento dos indivíduos em relação ao bem-estar, principalmente
considerando ser este um estado que envolve não só os conteúdos avaliativos, mas
também os afetivos (Diener, 1984).
Ao considerar as subjetividades inerentes à vivência de bem-estar, Diener (1984)
defende uma visão hedonista do construto, englobando em suas dimensões a satisfação
22 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

com a vida, os afetos positivos e os negativos e o senso de felicidade. A posição desse


autor passou a dominar a maioria dos estudos desenvolvidos na psicologia sobre essa
temática.
Para Diener (1984) e Diener, Suh, Lucas e Smith (1999), a visão subjetiva de bem-
-estar compreende a maneira como as pessoas avaliam suas próprias vidas, expressando
o estado subjetivo da felicidade. De acordo com Ferreira, Pacheco, Pinto, Fernandes e
Silva, (2007), essa perspectiva se tem revelado promissora e poderá representar uma
alternativa viável às formulações sobre o bem-estar no trabalho. Isso posto, o bem-estar
subjetivo estará em um nível adequado quando o indivíduo avaliar positivamente a
satisfação global com sua vida, desde a vivência de afetos positivos e negativos até as
avaliações objetivas acerca das possibilidades reais de ele atingir suas metas pessoais
e sociais (Diener & Suh, 1997). Nesse sentido, assemelha-se ao princípio básico da
qualidade de vida.
A definição de bem-estar proposta por Diener (1984) é dinâmica e multifacetada,
abrangendo as dimensões cognitiva e afetiva. Essas dimensões, quando tomadas em
conjunto, avaliam a satisfação global com a vida, os afetos positivos e os baixos níveis
de afetos negativos. Para Diener et al. (1999), o julgamento cognitivo sobre a satisfação
do indivíduo com a sua vida pode ocorrer em diferentes domínios, como o trabalho,
a família, o lazer, as finanças e o próprio self. A dimensão afetiva, em contrapartida,
refere-se às reações emocionais dos indivíduos aos eventos e às circunstâncias que
ocorrem em sua vida, composta de afetos positivos – alegria, elação, contentamento,
orgulho, êxtase, afeição e felicidade – e afetos negativos – culpa, vergonha, tristeza,
ansiedade, ódio, preocupação, depressão e inveja.
Diante da quantidade de estudos desenvolvidos com a finalidade de investigar os
antecedentes e consequentes do bem-estar, pesquisadores dedicaram-se ao desenvol-
vimento de instrumentos de medida que aferissem o completo estado de bem-estar
com base em padrões psicométricos.

Medidas de bem-estar
Diferentemente do que se constatou em relação à quantidade de instrumentos
utilizados para aferir a qualidade de vida, em relação ao bem-estar encontra-se um
número reduzido de instrumentos disponíveis na literatura.
Um bastante usado internacionalmente tem sido a versão reduzida do Questionário
de Saúde Geral (QSG-12), de Goldberg (1972). Originalmente concebido como um
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 23

instrumento de autorrelato de sessenta itens, destinado ao diagnóstico de desordens


psiquiátricas menores, isto é, de disfunções de caráter psicossocial (Goldberg &
Williams, 1988), tal versão inicial foi posteriormente reduzida a versões compostas
de trinta, 28 e doze itens. Essa última tem sido a mais comumente adotada na opera-
cionalização do bem-estar no trabalho, em que pesem os debates e as controvérsias
acerca da natureza de sua estrutura.
O QSG-12 tem sido adotado ora como uma medida unidimensional, ora como
uma medida bidimensional, ou ainda como uma medida tridimensional. Em revisão
de diferentes estudos sobre tal questão, Werneke, Goldberg, Yalcin e Üstün (2000)
concluíram que os itens do QSG-12 tendem a se distribuir principalmente em dois
fatores associados à depressão/ansiedade e às dificuldades de funcionamento social,
ou em três fatores, quando à configuração anterior se acrescenta um terceiro fator
relacionado à falta de confiança ou de autoestima. As investigações brasileiras sobre
a dimensionalidade do QSG-12 também têm suscitado dúvidas a respeito da melhor
estrutura para caracterizá-lo. Assim é que Sarriera, Schwarcz e Câmara (1996) iden-
tificaram a presença de três fatores no referido instrumento (autoestima, depressão e
autoeficácia percebida), enquanto Borges e Argolo (2002) constataram a presença de
somente dois fatores (autoeficácia e depressão e esgotamento emocional). Na tentativa
de dirimir tais inconsistências, Gouveia, Chaves, Oliveira, Dias, Gouveia e Andrade
(2003) recorreram a procedimentos de análise fatorial confirmatória e concluíram que
o modelo que melhor descreveria a estrutura do QSG-12 era o bifatorial, representado
por um fator associado à depressão, e outro, à ansiedade.
A medida do Bem-Estar Subjetivo (BES) é também utilizada com relativa frequên-
cia para a avaliação do bem-estar geral do trabalhador. Fundamentando-se no modelo
teórico proposto por Diener (1984), a avaliação do referido construto compreende
duas diferentes medidas, que podem ser utilizadas em conjunto ou separadamente:
a medida do componente cognitivo do BES, isto é, da satisfação com a vida, e a dos
componentes afetivos ou emocionais do BES, ou seja, dos afetos positivos e negativos.
Um dos instrumentos mais adotados para a avaliação do componente cognitivo do
BES é a Escala de Satisfação com a Vida, desenvolvida por Diener, Emmons, Larsen
e Griffin (1985). Já no que diz respeito aos componentes emocionais, a Escala de Afe-
tos Positivos e Negativos (PANAS), elaborada por Watson, Clark e Tellegen (1988),
destaca-se como uma das mais referenciadas na literatura.
No Brasil, Albuquerque e Trócoli (2004) desenvolveram e validaram uma Escala
de Bem-Estar Subjetivo, também composta por três fatores – satisfação com a vida,
afetos positivos e afetos negativos –, a qual apresentou bons índices psicométricos.
24 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

Por outro lado, Gouveia et al. (2003) adaptaram para amostras brasileiras a Escala
de Satisfação com a Vida, de Diener et al. (1985), bem como uma Escala de Afetos
Positivos e Negativos, desenvolvida por Diener e Emmons (1985). Mais recentemente,
Gouveia, Milfont, Fonseca e Coelho (2009) apresentaram dados mais abrangentes
sobre a validade e a precisão da versão brasileira da Escala de Satisfação com a Vida, de
Diener et al. (1985), provenientes de cinco diferentes grupos da população brasileira. A
existência de diferentes domínios em que a vivência do bem-estar subjetivo encontra
campo para prosperar, ou não, assim como a multidimensionalidade do construto,
demonstra haver necessidade de analisar esse fenômeno em diferentes níveis, desde
os mais globais até os mais específicos.
Em síntese, os fenômenos abordados neste capítulo e neste livro devem ser anali-
sados utilizando metodologias que os compreendam considerando a complexidade que
os envolve, razão pela qual se abordarão, a seguir, os modelos interativos que podem
ser utilizados nos estudos sobre bem-estar e qualidade de vida.

Níveis de análise e modelos interativos


Os modelos teóricos sobre os antecedentes de qualidade de vida e de bem-estar
têm-se tornado mais complexos à medida que as pesquisas avançam na caracteri-
zação e no modo de funcionamento das variáveis individuais e do ambiente que os
promovem. Warr (2007) classifica os modelos teóricos em três grupos: (1) os que
investigam o impacto de variáveis individuais; (2) os que investigam o impacto de
variáveis ambientais, e (3) os que investigam a interação entre variáveis individuais
e ambientais. A organização deste livro ilustra essa classificação, sendo uma parte
dedicada aos modelos que consideram as variáveis individuais, e outra dedicada às
variáveis ambientais e à interação entre indivíduo e ambiente.
Ao considerar a diversidade dos modelos, fica evidente a necessidade de distinguir
o nível de análise das variáveis e o tipo de relação entre elas. Esta seção tem o obje-
tivo de esclarecer esses conceitos para melhor compreensão dos modelos propostos.
Inicialmente, serão apresentados os conceitos básicos sobre níveis de análises e, na
sequência, buscar-se-á esclarecer os conceitos de mediação, moderação e análise direta.
A importância sobre a definição do nível de análise das variáveis propostas nos
modelos teóricos tem sido enfatizada por autores como Rousseau (1985) e Klein, Dan-
sereau e Hall (1994), os quais ressaltam que essa questão não se restringe a análises
estatísticas, mas, pelo contrário, deve ser abordada na definição teórica dos modelos.
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 25

A maioria dos modelos em organizações envolve múltiplos níveis, por exemplo, o


foco de uma pesquisa pode ser o indivíduo dentro de um grupo que está dentro de uma
organização. Assim, teríamos três níveis: o individual, o grupal e o organizacional. Toda
variável tem um nível de análise que deve ser explicitado. O nível de análise definido
teoricamente, por sua vez, precisa estar alinhado com a forma de coleta e com as aná-
lises estatísticas realizadas. Falha nesse alinhamento pode levar a conclusões errôneas
sobre o fenômeno (Klein et al., 1994). Isso posto, faz-se necessária a apresentação dos
conceitos de homogeneidade, independência e heterogeneidade, fundamentais para
a definição do nível de análise das variáveis em estudo.
Nesse processo, a homogeneidade ocorre quando o grupo é visto como um todo, ou
seja, “. . . há um alto grau de homogeneidade entre os membros do grupo e um valor
ou característica é suficiente para descrever o grupo” (Klein et al., 1994, p. 199). Um
estudo que avalia a influência dos valores ocupacionais sobre o bem-estar dos indiví-
duos pode considerar tais valores como homogêneos, uma vez que os membros de um
grupo ocupacional compartilham os valores daquela ocupação e é possível estabelecer
um valor para caracterizar o grupo. Outras variáveis que podem ser consideradas
homogêneas entre membros de uma organização são o tamanho da organização, o
faturamento, a natureza da organização (pública ou privada) etc.
A independência, por outro lado, afirma que o construto de interesse é indepen-
dente da influência do grupo (Klein et al., 1994), e, assim, há grande variação entre
os membros de um mesmo grupo para aquele construto. Um exemplo pode ser o das
pesquisas que analisam o efeito da personalidade sobre a qualidade de vida e o bem-
-estar, pois a personalidade do indivíduo não depende do grupo a que pertence.
Por fim, a heterogeneidade ocorre quando se considera a diferença individual
dentro de um grupo (Klein et al., 1994). Esses estudos são mais raros na literatura,
mas poderia supor-se que, em um contexto organizacional injusto, aquele que é mais
beneficiado pelo processo organizacional pode apresentar melhor percepção sobre sua
qualidade de vida e maior bem-estar do que aquele que é prejudicado.
O uso desses conceitos permite definir o nível de análise dos construtos estudados
e ajudar no aprofundamento e na descrição precisa das relações esperadas entre as
variáveis do modelo. A partir da identificação do nível correto das variáveis em estudo,
é possível definir a forma correta de coleta e de análise de dados, aspectos que devem
ser explicitados pelo pesquisador.
Outros aspectos que merecem esclarecimento para melhor compreensão dos
modelos teóricos de avaliação da qualidade de vida e do bem-estar se referem aos tipos
26 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

de relacionamento entre variáveis. Em muitos modelos teóricos são previstas relações


diretas entre as variáveis, ou seja, a variável antecedente afeta a variável consequente
e nenhuma outra variável interage com elas. Entretanto, os modelos teóricos têm se
tornado mais complexos, e é possível encontrar alguns que consideram a interação
entre três ou mais variáveis. As formas de interação entre as variáveis podem ser de
moderação ou de mediação, que são explicadas a seguir.
Holmebeck (1997) chama a atenção para a necessidade de clareza no uso dos
termos moderação e mediação. Ele afirma que há problemas no uso desses termos em
função de definições vagas ou de uso intercambiável, inconsistências entre termino-
logia e conceituação das variáveis usadas, procedimentos de análise de dados que não
possibilitam o teste de moderação e mediação e, por fim, por incoerências entre o texto
escrito e os diagramas utilizados. A seguir os termos serão definidos, exemplificando-
-se como ilustrar essas relações e mencionando quais as principais análises de dados
para testar esses modelos. Não é objetivo aqui detalhar os procedimentos das análises
estatísticas para avaliar essas interações; para isso, sugere-se que o leitor consulte tex-
tos específicos sobre análises de dados, como Abbad e Torres (2002), Baron e Kenny
(1986), Byrne (2001) e Cohen e Cohen (1975).
A moderação ocorre quando uma variável (moderadora) afeta a direção e a força
da relação entre outras duas variáveis (Baron & Kenny, 1986; Holmbeck, 1997).
Observe a Figura 1; quando a variável moderadora (B) está presente, a relação entre
a variável antecedente (A) e a consequente (C) pode ser amplificada ou reduzida.
Por exemplo, o estudo de Aryee, Luk, Leung e Lo (1999) investigou a moderação
dos comportamentos de coping na relação entre conflito de papéis e indicadores de
bem-estar. Os resultados das regressões hierárquicas indicaram que a relação entre
conflito de papéis e satisfação com o trabalho é negativa e significativa para o grupo
com baixo comportamento de coping focado nas emoções. Para o grupo com alto com-
portamento de coping, a relação não foi significativa. Isso significa que a capacidade
de o indivíduo regular as emoções de situações desagradáveis evocadas pela avaliação
dos estressores pode diminuir o efeito negativo do conflito de papéis sobre a satisfação
no trabalho.
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 27

Figura 1 - Diagrama que ilustra o efeito moderador, sendo que a variável B modera a
relação entre A e C.

Enquanto a moderação aponta quando uma determinada relação pode ocorrer,


a mediação estabelece como um determinado efeito ocorre. Assim, por meio da
mediação, é possível compreender como se dá a relação entre duas variáveis. Even-
tualmente, duas variáveis que teoricamente parecem estar relacionadas, quando
medidas e empiricamente analisadas, não apresentam relações significativas. Entre-
tanto, a introdução de uma terceira variável pode explicar como se dá essa influência,
já que a variável antecedente influencia a variável mediadora, que, por sua vez,
influencia a variável consequente (ver Figura 2). São requisitos para se dizer que uma
variável funciona como mediadora quando:
1 - a variável antecedente (A) está relacionada significativamente com a variável
mediadora (B);
2 - a variável mediadora está relacionada significativamente com a variável
consequente (C);
3 - controlada a variável mediadora, a relação entre antecedente e consequente
deixa de ser significativa (Baron & Kenny, 1986).
Por exemplo, Arnold, Turner, Barling, Kelloway e McKee (2007) estudaram o
efeito mediador do nível em que o trabalho é significativo na relação entre liderança
transformacional e bem-estar psicológico. A hipótese central é que a liderança trans-
formacional (variável antecedente) tem um impacto positivo na promoção de um
trabalho significativo (variável mediadora), e este impacta positivamente o bem-estar
(variável consequente). Os resultados das modelagens por equações estruturais deram
apoio à hipótese de mediação, ajudando na explicação da forma como a liderança
transformacional impacta o bem-estar.
28 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

Figura 2 - Diagrama que ilustra o efeito mediador, sendo que a variável A influencia
a variável B, que influencia C, sendo B a variável mediadora.

Para testar os efeitos moderadores e mediadores, podem ser utilizadas duas técnicas
de análise de dados: a regressão múltipla e a modelagem por equações estruturais. A
preferência deve ser dada à modelagem por equações estruturais, em função de ela
prover informação sobre o grau de adequação do modelo como um todo, mas o uso
cauteloso da regressão múltipla também é uma boa alternativa (Holmbeck, 1997).
Como mencionado anteriormente, foge ao escopo deste texto detalhar como realizar
as análises estatísticas; excelentes textos foram indicados para os interessados em
aprofundar essa discussão.
A utilização de qualquer modelo de análise nos estudos sobre saúde, qualidade de
vida e bem-estar deve, necessariamente, ser precedida por aplicação de instrumentos
fidedignos e coerentes com o propósito da investigação, o que não é fácil, em razão
da quantidade de instrumentos encontrados na literatura.
A compreensão cada vez mais aprofundada dos fenômenos ligados à saúde, como
qualidade de vida e bem-estar, deve, obrigatoriamente, passar por análises empíricas
que envolvam modelos estatísticos complexos, mas que sejam capazes de elucidar
como as variáveis antecedentes, moderadoras e/ou mediadoras se inter-relacionam
gerando qualidade de vida e bem-estar.
Com isto, é possível propor modelos preventivos de intervenção que façam a dife-
rença, assim como estabelecer políticas públicas que promovam a saúde dos cidadãos.

Considerações finais
Este capítulo teve como objetivo discutir os avanços, as lacunas e as divergências
teórico-metodológicas nos estudos sobre saúde, qualidade de vida e bem-estar. As
pesquisas sobre saúde avançaram teoricamente, ultrapassando a perspectiva biológica
de análise desse processo para uma perspectiva biopsicossocial. Com isso, passaram
a ser considerados os processos de adaptação social e os distúrbios psicossomáticos,
como os transtornos, o que evidencia a multiplicidade de fatores determinantes no
processo da saúde-doença e leva a uma visão integradora do homem.
Saúde, qualidade de vida e bem-estar 29

Considerando que os estudos sobre qualidade de vida e bem-estar têm atraído cada
vez mais a atenção dos estudiosos, o capítulo revisa o conceito de qualidade de vida,
apresenta suas similaridades e divergências em relação ao bem-estar, discute a noção
de bem-estar sob diferentes perspectivas, demonstrando que o enfoque subjetivo é o
mais utilizado na psicologia, e, por fim, reafirma a sua importância para a determinação
de novos horizontes para pesquisas nas áreas das ciências humanas e sociais.
O bem-estar caracteriza-se como a representação das pessoas sobre as avaliações
feitas acerca de seu estado biopsicossocial e, consequentemente, está relacionado às
vivências afetivas positivas e à avaliação da satisfação com a vida de um modo geral.
No que se refere à qualidade de vida, as pesquisas identificam haver um foco priori-
tário nas perspectivas situacionais, focadas nas percepções das pessoas sobre diversos
aspectos de sua vida.
A partir dessas concepções teóricas advindas do modelo biopsicossocial de saúde,
discutiu-se a necessidade de se estudar essa temática a partir de modelos interativos,
considerando os diferentes níveis de análise, haja vista ser um construto que se tem
tornado cada vez mais complexo, em virtude do avanço das pesquisas que buscam
conhecer o modo de funcionamento das variáveis individuais e contextuais que pro-
movem os processos de saúde.
Nessa perspectiva, o capítulo discute a importância de se estudar o bem-estar
e a qualidade de vida com base em modelos definidos a partir da identificação dos
níveis de análise das variáveis estudadas e de modelos interativos. Portanto, esclarece
sobre os conceitos fundamentais para a compreensão dessas variáveis no processo de
desenvolvimento da saúde ou do adoecimento.
À guisa de conclusão, o capítulo alia as interfaces teóricas e metodológicas
desde a perspectiva da evolução conceitual do modelo de saúde para uma visão de
saúde como um “estado de completo bem-estar biopsicossocial”, demonstrando que
o contexto cultural, as posições na vida, os objetivos, os valores e as expectativas são
dimensões fundamentais na vivência da qualidade de vida. Nesse sentido, analisa o
fenômeno de forma integrada, considerando as múltiplas possibilidades por meio das
quais a saúde pode prosperar, sejam elas consequência de características do próprio
indivíduo ou externas a ele. Assim, abre caminho para o desenvolvimento de estudos
posteriores que visem a desvelar a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar a partir
de dimensões individuais e culturais, incentivando o desenvolvimento de pesquisas
científicas que deem conta da multiplicidade de fatores que podem influenciar tais
fenômenos.
30 Saúde e bem-estar no trabalho: dimensões individuais e culturais

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