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Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares | ISEIT

Licenciatura em Psicologia
Introdução às Ciências Sociais e Humanas
Docente: Rodrigo Vieira de Assis

BURNOUT E O TRABALHO

Barbara Adams – 2022110573


Erica Paulino – 2022125724
Inês Ramos – 2022125556
Marco Oliveira – 2022108448
Salomé Pires – 2022123276
Valesca Moura – 2022124231

Almada, 20 de janeiro de 2023


Índice

Introdução ............................................................................................................................. 3

Alienação do Trabalhador ..................................................................................................... 4

Síndrome de Burnout ............................................................................................................ 5

Contexto Histórico e Conceito............................................................................................ 5


Sintomas............................................................................................................................ 6
Diagnóstico, Tratamento e Prevenção ............................................................................... 7
Influência no Trabalho ....................................................................................................... 7
Baixa produtividade ........................................................................................................ 8
Dificuldades em reter/contratar....................................................................................... 8
Aumento de absentismo e turnover ................................................................................ 8
Clima organizacional ruim .............................................................................................. 9
Presenteísmo ................................................................................................................. 9

Considerações Finais ...........................................................................................................10

Referências Bibliográficas ....................................................................................................11


Introdução

O mundo corporativo atual é caracterizado pela alta competitividade, pressão por


resultados, equipes enxutas, alta demanda de trabalho, jornadas extensas e múltiplas
responsabilidades. Junto a isso, há a ideia de que o indivíduo deve ser multitarefas e estar
em modo produtivo 100% do seu tempo, já que estamos em constante mudança e o
profissional precisa acompanhá-las em tempo real caso queria ser diferenciado aos olhos do
empregador. Em contrapartida, vemos um mercado de trabalho que oferece oportunidades
cada vez mais exploratórias, são exigentes em termos de qualificação e experiências e
oferecem vagas que não permitem um bom equilíbrio da vida pessoal x vida profissional, além
disso, na maioria das profissões, temos um mercado saturado de profissionais em busca de
oportunidade e poucas vagas, que faz com que a insegurança e o receio de perder o meio de
subsistência seja algo constante na vida das pessoas.
Analisando as mudanças que ocorreram ao longo dos anos nos tipos de trabalho,
ccom o aumento dos trabalhos temporários e informais, o conceito de alienação do
trabalhador, elaborador por Marx em 1844, pode ser aplicado e explica o aumento do número
de pessoas que se sentem alheias ao trabalho que executa e dos transtornos emocionais
originados a partir do acúmulo de todos os pressupostos mencionados.
Um dos transtornos emocionais relacionados ao trabalho que está sendo amplamente
discutido e estudado é o da Síndrome de Burnout. A pandemia da Covid-19 escancarou a
crise que estamos vivendo na saúde mental e possibilitou que discutíssemos doenças que
antes eram tratadas como tabu ou fraqueza. Ao longo do trabalho discutiremos um pouco
mais sobre o Burnout, apresentando seu contexto histórico, sintomas, formas de prevenção e
tratamento, e os impactos que ele causa no ambiente de trabalho.

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Alienação do Trabalhador

Antes de entrarmos na discussão da Síndrome de Burnout, vamos contextualizar o


que seria a alienação do trabalho, segundo Marx.
A alienação do trabalho é um fenômeno complexo que, de forma simplificada, pode
ser entendido como a apropriação da força de trabalho do empregado pelo empregador, a
força de trabalho passar a ser um produto que o indivíduo comercializa e esse processo faz
com ele se desconecte daquilo que produz: “A alienação se manifesta no tipo de relação que
o trabalhador estabelece com o produto de seu trabalho, que se mostra como algo estranho
a ele e que o domina” (Mângia, 2003, p.7).
Para Marx o mundo capitalista, através da alienação do trabalho, rompe com um dos
princípios básicos do ser humano, que é o de transformar a matéria em benefício da sua
subsistência, de utilizar o fruto da sua produção em benefício próprio, enquanto transforma o
mundo a sua volta, que contribui para a melhoria da sociedade, que deixa a sua “marca”, o
seu trabalho se torna útil, o que por fim dá sentido a aquela atividade (Mészáros apud Mângia,
2003, p.7). “O trabalho alienado rompendo com a própria ontogênese humana, ao tirar do
homem seus produtos, tira também sua vida genérica, sua atividade própria de produzir e
reproduzir o mundo humano e de objetivar-se nesse mundo” (Mângia, 2003, p.8).
Como consequência de a força de trabalho ter se tornado uma mercadoria, um objeto,
amplificado pela crescente divisão social do trabalho e sua racionalização (Lukács apud
Mângia, 2003, pag. 9), temos uma divisão entre a vida profissional e a vida privada, onde a
solidariedade e a humanização permanece somente na segunda, o que contribui para
degradação da saúde emocional e mental dos indivíduos (Mângia, 2003).

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Síndrome de Burnout

Contexto Histórico e Conceito

A primeira definição de burnout aparece em 1974, com o psicanalista Herbert


Freudenberger, que o definiu como um estado de exaustão física e mental, provocado pela
vida profissional. Começou por observar profissionais de saúde em Nova Iorque e verificou
que com o passar dos anos os mesmos mostravam um decréscimo de energia e empatia com
os pacientes, tal como sinais de exaustão e desmotivação no trabalho. Freudenberger traçou
um perfil típico do indivíduo com maior probabilidade de desenvolvê-lo, o que incluía pessoas
com dedicação excessiva ao seu trabalho, carga horária extensa e remuneração
desproporcional, e que muitas vezes colocavam as próprias necessidades em segundo plano
(Guedes, 2020, p.10 e 11).
Já em 1981, as psicólogas sociais, Maslach e Jackson, limitam o aparecimento do
burnout aos trabalhadores que interagem com outros indivíduos no decorrer das suas funções
laborais. Para as mesmas ele é uma síndrome psicológica que se expressa em 3 dimensões:
a exaustão emocional, a despersonalização e a reduzida realização pessoal, sendo esta a
definição mais aceita atualmente (Guedes, 2020, p. 11).
Alguns anos mais tarde, em 1988, Pines e Aronson, contradizendo Maslach e Jackson,
defenderam que esta síndrome poderia desenvolver-se em qualquer tipo de profissional,
afirmando que o que levava ao estado mental, físico e emocional de exaustão era o
envolvimento, em demasia, em situações emocionais mais exigentes (Guedes, 2020, p. 12).
Na década de 1970, iniciaram as tentativas científicas de estudar os sintomas, as
características da personalidade e as condições de trabalho em indivíduos identificados com
síndrome de Burnout. No começo, pensava-se que a síndrome se desenvolvia,
exclusivamente, em indivíduos com profissões sociais, ligadas a elevados níveis de stress
emocional, como enfermeiros, médicos ou professores. Desde o final dos anos 80 que se
verificou que esta síndrome pode aparecer em pessoas de todas as áreas e com profissões
distintas (Guedes, 2020, p.12). Esta ampliação do conceito para as diversas áreas, deu
origem a uma reformulação da definição "estado de exaustão em que se é cínico sobre o valor
da própria ocupação e se tem dúvidas da nossa capacidade de realização" (Schaufeli, Leiter,
Maslach apud Guedes, 2020, p. 12).
Existiram muitas dúvidas relacionadas com o facto de considerar ou não o burnout
como doença. Foi sugerido, nos anos 80, que existisse uma distinção entre “burnout, como
síndrome de stress relacionado com o trabalho, e burnout como problema mental clínico”
(Guedes, 2020, p.12).

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Como a síndrome de Burnout tem muitas implicações na saúde mental e qualidade de
vida dos indivíduos e, em alguns casos, chega a colocar em risco a vida dos mesmos, no ano
de 2000, a Organização Mundial de Saúde decidiu declarar esta síndrome como um “fator de
risco ocupacional” (Guedes. 2020, p.12). A síndrome ainda não consta no Manual de
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5) mas, por exemplo, na Suécia já
é considerado como um diagnóstico justificativo de baixa médica e, em 1997, passou
oficialmente a pertencer à Classificação Internacional Estatística de Doenças e Problemas de
Saúde Relacionados (CID-10) com o código Z73.0, tornando-se rapidamente o diagnóstico
com maior crescimento na população pertencente ao setor público. (Guedes, 2020, p. 13).

Sintomas

O Burnout é descrito, por uma perspectiva tridimensional, como uma síndrome


psicológica expressa através de três dimensões (Malasch, Jackson & Leiter apud Guedes,
2020, p. 11):
Exaustão emocional que representa um esgotamento físico e psicológico, fazendo o
indivíduo sentir que atingiu o limite das suas capacidades e consequentemente existe um
afastamento emocional no seu local de trabalho.
Despersonalização correspondente à manifestação de atitudes negativas nas relações
interpessoais, faz-se sentir a falta de empatia. Verifica-se também um aumento da
irritabilidade e uma diminuição de motivação. Existe também uma construção, por parte do
indivíduo, de uma defesa perante sentimentos de impotência, frustração, e cinismo.
Reduzida realização pessoal que envolve sentimentos de perda de confiança e de
baixa produtividade no trabalho. A desmotivação e a falta de realização sentidas podem levar
ao abandono do emprego, uma vez que não se verifica um resultado positivo apesar do
esforço do indivíduo.
A evolução da doença é lenta e progressiva, o que torna difícil ser diagnosticada no
seu início. Ela apresenta características de esgotamento físico e emocional, apresentando
sintomas físicos, psicológicos e comportamentais. Como sintomas físicos podemos citar
alguns exemplos como insônia, perda de apetite, enxaquecas, náuseas, falta de
concentração, disfunções sexuais, dores musculares, transtornos cardiovasculares e fadiga.
Quanto aos sintomas psicológicos observa-se, além de outros, irritabilidade, cinismo, perda
de senso de humor, baixa autoestima, falta de atenção, perda de memória, desinteresse,
impaciência e sentimento de solidão. E como sintomas comportamentais temos negligência,
irritabilidade, agressividade, incapacidade de relaxamento, consumo de substâncias,
tendência ao isolamento, entre outros (Lima, 2007 & Benevides-Pereira, 2004 apud Celidorio
et al, 2021, p. 29).

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Diagnóstico, Tratamento e Prevenção

A Maslach Burnout Syndrome Inventory (MBI) é a escala mais utilizada para


determinar o risco e a severidade de Burnout.
Esta escala pontua os indivíduos segundo as três dimensões já descritas tendo em
conta a ideia de Burnout proposta por Maslach. De acordo com Guedes, a subescala da
exaustão emocional aborda temas como a fadiga, frustração e energia emocional reduzida. A
subescala da despersonalização evidencia o comportamento do individuo, emocionalmente
íntimo, em relação aqueles a quem presta cuidados e serviços. Por fim, a subescala
relacionada à realização pessoal descreve os sentimentos de falta de competência em relação
a esta.
Na escala o grau alto de Burnout é definido por pontuações altas de exaustão
emocional e de despersonalização, e um valor baixo de realização pessoal. Um nível
moderado resulta de pontuações intermedias nas três subescalas e um nível baixo é
representado por uma pontuação baixa de exaustão emocional e de despersonalização, e um
valor alto de realização pessoal. Estas três dimensões podem coexistir em diferentes graus,
uma vez que o Burnout é avaliado como uma variável complexa, contínua e diversa para todos
os indivíduos, e dependendo, especialmente, destes, não obedecendo assim apenas a três
fatores (Guedes, 2020, p.19).
É, portanto, necessária uma avaliação rigorosa e cuidada, pois o Burnout e outras
perturbações mentais partilham alguns sintomas, podendo ser assim induzido um diagnostico
e tratamento errado.
A solução para esta síndrome não se resume apenas à sua prevenção, Guedes
considera que a solução deve revelar-se através do desenvolvimento das capacidades de
resiliência mental e emocional nos hábitos diários de trabalho, de forma a lidar com os
estímulos de stress que são inevitáveis. “Não podemos evitar os momentos do stress
ocupacional, porém, podemos usar as nossas ferramentas da resiliência, quer no próprio
momento quer após o acontecimento de stress, tentando assim dessa forma reprogramar o
nosso comportamento reativo” (Guedes, 2020, p. 32).

Influência no Trabalho

Em contexto laboral, é de grande importância ter presente de que a Síndrome de


Burnout tem uma grande influência em todos os que habitualmente estão sujeitos a níveis
elevados de stress, pressão social, entre outros. Habitualmente as suas causas estão
maioritariamente associadas ao emprego, mas muitas das vezes os sintomas são sentidos
em diversos âmbitos que dificultam a vida no seu todo, visto tratar-se de um distúrbio psíquico

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que afeta a vida de diferentes formas. São muitas vezes associados a quadros de depressão
e ansiedade, dificultando por vezes o seu correto diagnóstico.
Existem três características principais que caracterizam uma pessoa que está
desenvolvendo a Síndrome de Burnout e que devemos estar atentos:
Fadiga: sensação de que a pessoa está ultrapassando os limites e não tem mais
recursos físicos e nem mentais para lidar com conflitos e situações do trabalho;
Ineficácia: sentimento de incompetência, em que a pessoa se sente desqualificada,
sem reconhecimento e improdutiva;
Ceticismo: postura negativa perante dificuldades e falta de interesse e preocupação
para com o trabalho.
Em casos de empresas que possuam um ambiente favorável a manifestação da
síndrome e que não atuem de forma a prevenir o surgimento com políticas de qualidade de
vida e de saúde mental e emocional, estão propícias a sofrer algumas consequências como
as relacionadas abaixo.

Baixa produtividade

Todos os sintomas assinalados acima podem afetar drasticamente a vida de uma


pessoa que sofre de Burnout. Consequentemente, o indivíduo fica menos produtivo,
desmotivado e infeliz no trabalho e pode ter um desempenho muito inferior ao espectável.
Este estado de baixa produtividade é prejudicial tanto para o colaborador como para a
empresa como um todo, que depende da produtividade e performance de cada colaborador
para crescer.

Dificuldades em reter/contratar

Ninguém quer trabalhar numa empresa que grande parte dos funcionários sofre de
esgotamento físico e mental. É muito importante que as empresas se preocupem com
“employer branding”, ou seja, com a marca empregadora, é um dos fatores que mais contribui
para uma excelente captação de novos talentos.
A síndrome do Burnout afeta negativamente o recrutamento e pode acabar por afastar
grandes profissionais que querem trabalhar num ambiente de trabalho saudável e equilibrado.

Aumento de absentismo e turnover

O absentismo está relacionado com as faltas do colaborador à sua jornada de trabalho


e o turnover diz respeito à rotatividade de funcionários numa empresa. Quando estes dois
indicadores estão muito altos significa que algo não está bem, é preciso encontrar os motivos

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de insatisfação que estão a prejudicar os colaboradores. Um deles pode ser a síndrome de
burnout, por exemplo.

Clima organizacional ruim

Um ambiente que exige uma carga horária excessiva e faz os seus colaboradores
trabalharem sob extrema pressão pode acabar por provocar um clima organizacional péssimo.
Desta forma, todos os colaboradores sentem-se mal e têm a perceção má sobre aquela
empresa, o que não contribui em nada para a produtividade e motivação.

Presenteísmo

O presenteísmo acontece quando o colaborador vai trabalhar, mas está mentalmente


ausente e com pensamentos distantes das atividades que deve realizar. Esse é um efeito
colateral muito comum da síndrome de burnout, pois as pessoas que sofrem com o distúrbio
sentem-se esgotadas e desmotivadas para trabalhar, o que causa este fenómeno.

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Considerações Finais

Apesar da Síndrome de Burnout ter ganhado destaque nos últimos anos, com a
revisão da literatura podemos perceber que há poucos estudos voltados para entender os
impactos e implicações que o fenómeno causa na esfera social e, também, os possíveis fatos
sociais que impactam para o desenvolvimento da síndrome nos indivíduos. Os estudos e
teorias até então desenvolvidas são voltados para a individualidade e para os fatores
subjetivos da pessoa que apresenta o transtorno, sempre apresentando as causas pessoais
que levaram ao desenvolvimento e apresentando formas de tratamento e prevenção voltados
para a mudança comportamental da pessoa.
Por ser um fenômeno de grande complexidade, as investigações não podem e nem
devem restringir-se a esfera individual, precisam ampliar-se para estudar quais características
do ambiente organizacional, como por exemplo os valores praticados e as políticas de
avaliações de desempenho e de promoção da saúde e qualidade de vida, que favorecem o
desenvolvimento, para que as propostas de prevenção sejam mais assertivas e aplicadas de
forma coletiva nas organizações.

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Referências Bibliográficas

Ferreira, T. P. (2022). Burnout: De um fenómeno complexo para uma análise sociológica.


CIES e-Working Papers, 235. CIES-Iscte. http://hdl.handle.net/10071/25662

Mângia, E. F. (2003). Alienação e trabalho. Revista De Terapia Ocupacional Da Universidade


De São Paulo, 14(1), 34-42. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v14i1p34-42

Guedes, A. L. P. (2020). Ansiedade, stress e burnout: definição conceptual e operacional,


inter-relações e impacto na saúde. [Dissertação de Mestrado, Universidade Beira Interior].
http://hdl.handle.net/10400.6/10664

Celidorio, E. S., Tarifa, G., Oliveira, J. F., Souza, M. P. O., Bunn, N. A. S. & Brandão, R. S.
(2021). Síndrome de Burnout [Trabalho de Conclusão de Curso Técnico em Farmácia, Etec
Deputado Salim Sedeh]. http://ric.cps.sp.gov.br/handle/123456789/8749

Oliveira, H. C., Gurguel, F. F., Costa, M. E. M., El-Aouar, W. A. (2014) Saúde Mental x
Síndrome de Burnout: reflexões teóricas. Revista Eletrônica do Mestrado em Administração,
6 (2), 53-66. https://repositorio.unp.br/index.php/raunp/article/view/756

Bruna, C. (2021). Qual é a influência da síndrome de Burnout no trabalho?.


https://www.vittude.com/empresas/influencia-sindrome-de-burnout-no-trabalho/

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