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Aula 12

Metabolismo dos amino ácidos (1)


. A digestão proteica
. As transaminases. Mecanismo da transaminação.
. A desaminação oxidativa. Regulação da atividade da glutamato
desidrogenase
. Transporte inter-orgão de azoto: a glutamina e o ciclo glucose-
alanina
. A síntese de carbamoilfosfato
. O ciclo da ureia
. Regulação da síntese de ureia
. A toxicidade do NH4+
. Deficiências em enzimas envolvidas na síntese da ureia

Docente: Aurora Barros Barbosa (aurora_rbb@hotmail.com)


A digestão proteica
Proteínas da dieta

Induzem produção da hormona gastrina:


-Estimula produção de pepsina (protease)
-Estimula secreção de HCl

O pH 1,5-2,5

Desnaturação das proteínas (ligações


peptídicas mais expostas)

Pepsina tem mais acesso ao substrato

O pâncreas exócrino secreta várias


pró-proteases (activadas no lúmen
intestinal): tripsina, quimotripsina,
carboxipeptidase, etc.

O resultado é:
Proteína nativa  proteína desnaturada  péptidos  pequenos péptidos

Fígado  veia porta  absorção intestinal  amino ácidos (aa)
Catabolismo dos amino ácidos (aa)

A degradação/catabolismo de
aa ocorre: “neutralizado” Aproveitado
e excretado
- Dieta demasiado rica em
proteínas (aa) – os aa não
podem ser armazenados no
organismo; a maior parte dos aa
será catabolizada no fígado.

- Jejum prolongado (ou diabetes


tipo 1) – mobilização proteica
(catabolismo) com fins
energéticos e gluconeogénicos.

-“Turnover” proteico normal – os


aa serão oxidados (energia) se
não forem necessários para a
síntese de proteínas novas.
Dois mecanismos principais para a remoção de grupos amino

TRANSAMINAÇÃO:

aa + a-cetoglutarato a-cetoácido + glutamato

DESAMINAÇÃO OXIDATIVA:

Glutamato + NAD+ NADH + a-cetoglutarato + NH4+

Produto
tóxico
Transaminação

-Existem várias transaminases. Muitas utilizam o α-


cetoglutarato como aceitador de grupos amino e diferem no
dador do grupo amino.
E.g. alanina aminotransferase (AKA, glutamato:piruvato transaminase,
GPT), aspartato aminotransferase (AKA, Glutamato:OAA transaminase,
GOT).

-São enzimas muito valiosas em bioquímica clínica, porquê?


Aparecem no plasma como resultado de lise celular => são muito
abundantes, facilmente mesuráveis e relativamente estáveis no plasma =>
marcadores de lesão hepática e cardíaca.

-De modo geral, a função das transaminases é canalizar os


grupos amino para o α-cetoglutarato.

Grupo prostético das transaminases: Vit B6


A Vit. B6 está fortemente ligada às transaminases por
interações não covalentes. Num dado passo do ciclo
catalítico a interação é mesmo covalente.
Desaminação oxidativa

As transaminases consomem o α-cetoglutarato. Como se regenera esta molécula?

Glutamato desidrogenase (mitocôndria)

Regulação da glutamato desidrogenase:


- [ADP]  (status energético baixo) +
- [GTP]  (produto do ciclo de Krebs) -
“Neutralização” e excreção do NH4+

O objetivo final é canalizar o


excesso de N para o fígado onde o
NH4+ será incorporado na molécula
de ureia, a qual será excretada na
urina (rim)

Como é efetuado
o transporte de
grupos amino
dos tecidos extra-
hepáticos (e.g.
músculo,
cérebro) para o
fígado?

O destino final depende do


organismo: Ureia no ser humano
Transporte de grupos amino dos tecidos extra-hepáticos (e.g.
músculo,cérebro) para o fígado

 Através da síntese de glutamina


-O excesso de NH4+ é utilizado para
sintetizar glutamina

-Num só aa (glutamina), os tecidos


extra-hepáticos exportam 2 grupos
amino => razão pela qual a glutamina
é o aa mais abundante no plasma

-A glutamina é transformada em
glutamato e NH4+ por ação da
GLUTAMINASE (enzima muito
abundante no fígado e no rim)
No fígado, o NH4+ é desviado para a
produção de ureia

No rim, o NH4+ é excretado


diretamente na urina, principalmente
em situações de acidose
(mecanismo compensatório)
Transporte de grupos amino dos tecidos extra-hepáticos (e.g.
músculo,cérebro) para o fígado
Através do ciclo glucose-alanina
-Existe um mecanismo adicional para a
exportação do excesso de azoto para o
fígado

-Com uma só molécula (alanina) o


músculo envia o azoto (N) proveniente
do catabolismo dos aa e o piruvato
proveniente da glicólise para o fígado.
Aí o piruvato poderá entrar na
gluconeogénese; o grupo amino será
consumido na síntese de ureia e
excretado.
Excreção de azoto e ciclo da Ureia

1- Síntese de carbamoíl-fosfato – A CARBAMOÍL-FOSFATO SINTETASE I (CPSI)


Excreção de azoto e ciclo da Ureia

1- Síntese de carbamoíl-fosfato – A CARBAMOÍL-FOSFATO SINTETASE I (CPSI)

Regulação da carbamoíl-fosfato
sintetase I (CPSI)
A curto prazo:
-A CPSI é activada por N-acetilglutamato
-Este regulador é sintetizado pela N-
acetilglutamato sintase, a qual responde
aos níveis de arginina.
-O N-acetilglutamato é um regulador
alostérico da CPS1 obrigatório; i.e., na sua
ausência, a CPS1 não funciona!

A longo prazo (jejum prolongado ou


dieta cronicamente muito rica em
proteínas):
-Os níveis de CPSI e de outras enzimas do
ciclo da ureia podem variar por um fator de
10-20.
Excreção de azoto e ciclo da Ureia

2- Ciclo da ureia

Nota:
Um dos N da ureia
provém do carbamoíl
fosfato; o outro N é
fornecido pelo aspartato
Excreção de azoto e ciclo da Ureia

2- Ciclo da ureia

Reacção global:

NH4+ + CO2 + aspartato + 3 ATP

Ureia + fumarato + 2 ADP + AMP


(i.e. balanço negativo de 4 ATPs)

Mas:

Fumarato Malato OAA + NADH


(i.e. balanço positivo de 3 ATPs)

Logo DE = -1 ATP
Excreção de azoto e ciclo da Ureia

2- Ciclo da ureia
Acetil-CoA + glutamato
-Quase tds os bloqueios na via
causam depleção de arginina

 Arginina N-Acetylglutamate

 N-acetilglutamato sintase
(NAGS)

 N-acetil glutamato

CPS1

NH4+

-É necessário ATP e
indiretamente Acetil-CoA (para
a reação da NAGS) para a
síntese de ureia => defeitos na
oxidação de AG ou na síntese
de corpos cetónicos também
induzem hiperamonémia.
Toxicidade do NH4+

[NH4+]  - Coma amoniacal

Muitas causas para a neurotoxicidade:


-NH4+/NH3 => alteração do pH intracelular

- No cérebro a hiperamonémia desloca a reação A no sentido de formação de


glutamato => depleção de NADH e de α-cetoglutarato => [ATP] e ciclo de krebs

Ciclo de Krebs
Toxicidade do NH4+

O ciclo glutamato-glutamina no
cérebro
O glutamato (neurotransmissor)
libertado para a fenda sináptica é
captado pelo astrócito e transformado
em glutamina. Esta é exportada para o
neurónio e transformada em glutamato
(pela glutaminase).

Muitas causas para a


neurotoxicidade:
- Em hiperamonémia, o astrócito
sintetiza mais glutamina. Esta
glutamina tem vários efeitos no
astrócito, provavelmente ao nível
das mitocôndrias (toxicidade)
levando a aumento de volume
celular e edema.

[os astrócitos ocupam 1/3 do volume do


cortex cerebral]
Rodrigo R, Felipo V (2007) Front Biosci. 12:883-90.
Deficiências em enzimas da síntese da Ureia
Recém-nascidos normais, mas após 24-48h
apresentam rápida deterioração (nos casos +
severos)
- Hiperamonémia (encefalopatia)
- É frequente acumular-se o metabolito a montante
do bloqueio (e.g., citrulina, argininosuccinato ou
arginina)

Tratamento (longo prazo):


-Restrição de proteínas na dieta (o ideal seria
administrar os α-cetoácidos dos aa essenciais)
-Evitar estado catabólico
-Administração de lactulose (um dissacarídeo
sintético utilizado pela flora intestinal originando
produtos acídicos). Promove protonação do NH3
gerado pela flora intestinal e a sua excreção.
-Administração de um antibiótico não absorvivel (e.g.
rifaximina) para diminuição da flora intestinal
produtora de NH4+
-Administração de “scavengers” de azoto (benzoato
e 4-fenilbutirato) => a benzoílglicina e a
fenilacetilglutamina não são tóxicas e são
eficientemente excretadas na urina
A hiperamonémia não tem apenas causas genéticas

Doença hepática aguda ou crónica (com múltiplas etiologias) poderá estar


associada a um quadro neurológico.

A encefalopatia hepática:

-Vários graus de severidade, desde alterações subtis de comportamento


(irritabilidade; perda de memória) a coma amoniacal, morte.

-Na doença crónica, a encefalopatia hepática pode ser despoletada por muitas
causas diferentes:
- Ingestão de muita proteína
- Certos fármacos (e.g., benzodiazepinas)
- Álcool
- Infeções
Em suma….
Proteínas Proteínas de tecidos
da dieta extrahepáticos

Digestão aa no (Alanina e
(Estômago e glutamina)
intestino) sangue

Fígado
aa proteínas
Transaminação e
desaminação oxidativa

TÓXICO Carbono Armazenamento


CO2
CO2 + H2O

Carbamoil-P Energia

Ornitina
Citrulina Urina
Ureia
Aspartato Arginina

Arginino-
succinato

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