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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FUNDAMENTAIS E SOCIAIS

DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA

Professora: Yanna Teles

APOSTILA:

VIA GLICOLÍTICA, CICLO DE KREBS E CADEIA


TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS

Areia, 2020.
GLICÓLISE

Nos organismos superiores o processo de produção de energia a partir da


oxidação de biomoléculas é composto por 2 principais estágios de geração de energia:

1º A glicólise –moléculas de glicose são degradadas a moléculas menores (2 piruvatos),


gerando energia utilizável na forma de alguns ATP.

2º Ciclo de Krebs e fosforilação oxidativa – Momento que segue a Glicólise. Cada


piruvato sofre reação produzindo Acetil CoA, e este último é oxidado em diversas
reações ocorrendo produção de muita energia (mais de 90% do ATP total produzido na
célula).

Figura: Estrutura do ATP (adenosina trifosfato). Molécula chave do metabolismo


que ao ser hidrolisada (ATP + H20 → ADP + Pi → ΔG’ = - 31,5 KJ\mol) e perder fosfato
(Pi) libera grande quantidade de energia (- 31,5 KJ\mol). Esta energia pode ser utilizada
para custear eventos intracelulares como contração muscular, síntese de proteínas,
produção de neurotransmissores, etc.

A glicólise (ou via glicolítica) é a principal via do metabolismo da glicose, e ocorre


no citosol de todas as células. Este processo ocorre tanto em condições aeróbicas, ou
seja, na presença de níveis normais de oxigênio, como também em condições
anaeróbicas, de baixa disponibilidade de oxigênio.

A capacidade da glicólise de produzir ATP na falta de oxigênio por um processo


chamado de fermentação, permite que o músculo esquelético trabalhe mesmo em baixa
concentração de oxigênio.

De maneira resumida, podemos dizer que a glicólise consiste em um processo


onde ocorre a quebra de uma glicose (molécula com 6 carbonos) produzindo duas
moléculas de piruvato (cada piruvato tem 3 carbonos na sua estrutura). Essa quebra da
glicose, não ocorre um uma única reação, mas em uma série de 10 reações que resultam
em produção de energia e ATPs. Sendo assim, a glicólise é considerada um processo
exergônico.
Figura: Glicólise de forma resumida.

A concentração de glicose na corrente sanguínea é mantida a níveis


sensivelmente constantes. A glicose é transportada para dentro das células por difusão
facilitada. Este processo não permite a acumulação na célula de concentrações de
glicose superiores às existentes no sangue, consequentemente a glicose que entra na
célula vinda do sangue, sofre fosforilação pela enzima hexoquinase (esta consiste na
primeira reação da via glicolítica):

Observe que ocorre gasto (hidrólise) de 1 molécula de ATP (circulado em


vermelho) na Reação 1 da via glicolítica. A membrana celular é impermeável à glicose-
6-fosfato, que pode por isso ser acumulada na célula. A glicose-6-fosfato pode ser
utilizada na síntese do glicogênio no fígado (uma forma de armazenamento de glicose),
ou degradada nas próximas reações da glicólise para produzir energia.

Para poder ser utilizada na produção de energia (ou ATP), a glicose-6-fosfato


sofrerá uma série de reações, sendo primeiro isomerizada a frutose-6-fosfato (reação
2). A frutose-6-fosfato é depois fosforilada a frutose-1,6-bisfosfato (Reação 3, observe o
gasto de mais 1 ATP). Este é o ponto de não-retorno desta via metabólica: a partir do
momento em que a glicose é transformada em frutose-1,6-bisfosfato não pode ser
usada em nenhuma outra via.
Em seguida, a frutose-1,6-bisfosfato é quebrada em duas moléculas de três
carbonos cada: a dihidroxiacetona-fosfato e o gliceraldeído 3-fosfato (reação 4).

No próximo passo (reação 5), a dihidroxiacetona-fosfato produzida é convertida em


mais um gliceraldeído-3-fosfato. Assim, até aqui, 2 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato
foram produzidas a partir de uma glicose. As próximas etapas serão para conversão dos
dois gliceraldeído 3-fosfatos em dois piruvatos.
As próximas reações são bastante espontâneas e algumas podem ser usadas para
produzir ATP. Sendo assim, nas últimas reações da Glicólise (reações 6 a 10) ocorrerá a
formação do produto final (dois piruvatos) e a formação de quatro ATPs (sendo dois
ATPs na reação 7 e dois na reação 10).
Ao final de todas as 10 reações da Glicólise houve o gasto de 2 ATPs e produção
de 4 ATPs. Portanto, após o final da Glicólise temos um saldo de ganho líquido de 2 ATPs.

As moléculas de piruvato agora formadas podem ser encaminhadas para outras


vias para produção de energia. Em condições anaeróbicas o piruvato pode ser utilizado
em processos de fermentação, produzindo ácido lático ou etanol. Em condições
aeróbicas o piruvato será convertido em acetil CoA e entrará no Ciclo do ácido cítrico
(ciclo de Krebs).

Figura: possíveis destinos do piruvato, em condições anaeróbicas (sem oxigênio) ou


aeróbicas (na presença de oxigênio)
CICLO DE KREBS (CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO)

O piruvato produzido na glicólise ainda contém bastante poder redutor, ou seja,


ainda pode se oxidar e produzir energia. Este poder redutor vai ser aproveitado pela
célula no Ciclo de Krebs (Ciclo do Ácido Cítrico), ocorrendo no interior mitocondrial. Em
primeiro lugar, o piruvato é utilizado para produzir acetil-CoA (acetato ligado à coenzima
A).

Nesta reação atua a enzima a piruvato desidrogenase. É uma enzima bastante


complexa, que contém várias coenzimas: lipoato, FAD, coenzima A.

A produção do acetil-CoA é bastante exergônica. Essa energia provém da


descarboxilação (perda de CO2) do piruvato. A energia proveniente de descarboxilações
é frequentemente usada pela célula. Lembre-se que a partir de uma glicose foram
produzidos 2 piruvatos, e agora 2 acetil-CoA, tendo sido perdidos até agora 2 CO2, um
proveniente de cada piruvato.

Na primeira reação do ciclo de Krebs, o acetil-CoA é adicionado a oxaloacetato,


dando origem a citrato:

O citrato é depois isomerizado a isocitrato. Este é então descarboxilado (perde


CO2) a α-cetoglutarato.
Tal como o piruvato, o α-cetoglutarato é um α-cetoácido, possui um grupo
carbonila adjacente ao grupo ácido carboxílico sendo, portanto, de prever que reaja
exatamente como o piruvato, e que a sua descarboxilação forneça energia suficiente
para que se forme uma ligação tioéster com a coenzima A, formando o succinil-CoA. A
enzima responsável por esta reação é o complexo α-cetoglutarato desidrogenase.

A ligação tioéster do succinil-CoA é bastante energética. A sua hidrólise vai


constituir o único ponto do ciclo de Krebs onde ocorre produção direta de ATP (ou GTP,
que é uma molécula semelhante).

O succinato, assim como o oxaloacetato, é um produto com quatro carbonos. A


parte final do ciclo de Krebs consiste em regenerar o oxaloacetato a partir do
succinato.

Quando o oxaloacetato é regenerado ele pode reagir com uma nova molécula
de Acetil-CoA e iniciar um novo ciclo do ácido cítrico.
Figura: Visão geral do ciclo do ácido cítrico

Observe que para cada molécula de glicose (6 C) que iniciou seu metabolismo na
via glicolítica, foram produzidos dois piruvatos (3 C), e a partir destes 2 piruvatos que se
encaminharam para o Ciclo do Ácido Cítrico foram produzidas 6 moléculas de CO2. Ou
seja, ao final do Ciclo do Ácido Cítrico uma molécula de glicose foi completamente
oxidada, e cada um dos seus carbonos foram transformados em CO2, sendo
posteriormente transportados das células para a corrente sanguínea para serem
eliminados no processo fisiológico de respiração. Observe que, se uma molécula de
glicose foi completamente oxidada, outras moléculas precisam ter sido reduzidas.

O resultado do ciclo de Krebs é:

Acetil-CoA + oxaloacetato + 3 NAD+ + GDP + Pi +FAD  oxaloacetato + 2 CO2 + FADH2 +


3 NADH + 3 H+ + GTP

A reação representa: a oxidação completa o Acetil CoA (proveniente da glicose)


e a formação de energia (GTP ou ATP) e de espécies reduzidas (com elétrons): 3 NADH
e 1 FADH2.
Essas espécies reduzidas (NADH e FADH2), ricas em elétrons, são os produtos
mais importantes do Ciclo de Krebs, e atuarão como carreadores dos elétrons para a
próxima etapa do metabolismo celular: a Cadeia Transportadora de Elétrons.

A CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS

Após compreender o ciclo do ácido cítrico, iremos para a próxima etapa,


conhecer os citocromos e a cadeia transportadora de elétrons mitocondrial. Esta etapa
é fundamental para entender o processo completo da respiração celular, a forma mais
eficiente de extração de energia utilizada pelos organismos aeróbicos. É nesta etapa que
os NADHs e os FADH2s reduzidos no ciclo do ácido cítrico se reoxidam (doam seu
elétrons) gerando energia para a síntese de aproximadamente 30 moléculas de ATP.

A cadeia transportadora de elétrons (CTE) é um conjunto de reações que ocorre


nas cristas mitocondriais e fornece energia para outro processo, a fosforilação oxidativa.
Cadeia transportadora de elétrons e fosforilação oxidativa (produção de ATP) são,
portanto, eventos acoplados.

A cadeia transportadora de elétrons utiliza os aceptores (NADH e FADH2)


reduzidos em outras vias metabólicas tais como glicólise ou ciclo do ácido cítrico. A
síntese de ATP por fosforilação oxidativa necessita de energia, e essa energia é gerada
durante o transporte de elétrons na mitocondria. Antes de começar a explicar como
isso acontece, vamos calcular o saldo de NADHs, FADH2 e ATPs que temos no processo
de respiração celular após a quebra total de uma molécula de glicose (glicólise e ciclo
do ácido cítrico).

Durante a glicólise – saldo de 2 ATPs e 2 NADHs produzidos. No ciclo do ácido


cítrico – saldo de 2 ATPs (1 para cada volta no ciclo), 6 NADHs (3 para cada volta no
ciclo) e 2 FADH2 (1 para cada volta no ciclo).

O que foi gerado no ciclo do ácido cítrico encontra-se na matriz mitocondrial,


onde o processo acontece. O que foi gerado na glicólise está no citoplasma da célula.
Portanto, para que o NADH, reduzido durante a glicólise, possa estar disponível para a
cadeia transportadora de elétrons, ele precisa atravessar as membranas mitocondriais,
particularmente a interna, que é menos permeável. Para isso, existem transportadores
específicos nas membranas mitocondriais.
A membrana interna mitocondrial é rica em proteínas. A maior parte dessas
proteínas é componente da cadeia transportadora de elétrons. As proteínas estão
organizadas em quatro complexos protéicos responsáveis pelas reações de
oxirredução que ocorrem nesta membrana. São eles:

Complexo I – também chamado NADH desidrogenase ou NADH: CoQ oxidorredutase.

Complexo II – também chamado succinato desidrogenase ou succinato: CoQ


oxidorredutase.

Complexo III – também chamado citocromo bc1.

Complexo IV – também chamado citocromo oxidase.

Além desses complexos proteicos, existem dois componentes móveis da cadeia:


a ubiquinona (também chamada coenzima Q e representada como UQ ou CoQ) e o
citocromo c (Cyt C).

Figura: Os 4 complexos enzimáticos da cadeia transportadora de elétrons. Os elétrons


trazidos pelo NADH são passados para o complexo I, em seguida para o complexo III e
IV. Os elétrons trazidos pelo FADH2 são passados para o Complexo II, e em seguida
para o II e para o IV.

Complexo I:
É o maior dos 4 complexos, formado por 26 cadeias polipeptídicas, incluindo 7 centros
de ferro/enxofre e a flavoproteína ligada ao FMN. Seu sítio de ligação com o NADH
está voltado para a matriz mitocondrial, favorecendo a transferência de elétrons. É
neste complexo que o NADH transfere seus elétrons. A ubiquinona reduzida pelo
complexo I é lipídica suficiente para se difundir pela bicamada lipídica da membrana
mitocondrial levando os elétrons até o complexo III, sem passar pelo complexo II. Os
prótons (H+) que acompanham os elétrons trazidos pelo NADH são lançados para o
espaço intermembrana, para cada NADH são bombeados 4 H+.

Complexo II:
Formado principalmente pela desidrogenase do succinato, a única enzima do ciclo de
Krebs que está embebida na membrana mitocondrial interna. Possui 4 subunidades,
incluindo 2 proteínas com grupos ferro/enxofre, e uma delas ligada ao FAD, a exemplo
do complexo I, seus sítios de oxirredução do succinato também estão voltados para a
matriz mitocondrial. É neste complexo que o FADH2 transfere seus elétrons. Este
complexo não tem capacidade de bombear prótons para o espaço intermembrana, por
isso não contribui com o gradiente de prótons.

Complexo III:
Formado por 2 tipos de citocromo b, pelo citocromo c1, uma proteína ferro/enxofre e
entre 4 a 6 proteínas adicionais. O caminho dos elétrons através do complexo III é
sinuoso e complexo: o citocromo c que os recebe está localizado no lado do espaço
intermembranas da mitocôndria. O citocromo c, por ser hidrossolúvel, tem baixa
afinidade com a bicamada lipídica da membrana mitocondrial interna e se dissocia
desta, transportando os elétrons entre os complexos III e IV. O processo leva ao
bombeamento de 4 prótons (H+) da matriz mitocondrial para o espaço
intermembranas.

Complexo IV:
Contém cerca de 13 subunidades polipeptídicas e 2 átomos de cobre, além dos grupos
heme característicos dos citocromos a e a3. Os elétrons doados pelo citocromo c são
transportados através dos átomos de cobre e ferro até o lado da matriz mitocondrial,
onde vão ser recebidos pelo O2, produzindo H2O, produto final das vias metabólicas
estudadas. Neste complexo são bombeados 2 prótons (H+) da matriz mitocondrial para
o espaço intermembranar.

Até o complexo IV, o resultado da cadeia transportadora de elétrons é a síntese de


moléculas de água e um aumento da concentração de prótons no espaço
intermembranas. Lembre que esses prótons foram bombeados pelos complexos I, III e
IV. O bombeamento de prótons estabelece um gradiente de prótons através da
membrana mitocondrial interna.

A membrana mitocondrial interna não é permeável a prótons e, portanto, o


bombeamento de prótons pela cadeia transportadora deixa o espaço intermembrana
com alta concentração de H+ em comparação à matriz mitocondria. Na membrana
interna mitocondrial também encontramos o complexo ATP sintase, uma estrutura
proteica complexa: parte da enzima funciona como um canal de prótons (H+) e é por ali
que estes retornarão à matriz mitocondrial, a favor do gradiente. A ATP sintase usa a
energia do gradiente de prótons para sintetizar ATP, a partir de ADP e fosfato. Para cada
4 H+ que voltam para a matriz mitocondrial passando pela ATP sintase, uma molécula
de ATP é produzida. Esta é a Teoria Quimiosmótica, a mais aceita nos dias de hoje.

Figura: ATP sintase e o acoplamento quimiosmótico: 4 H+ = 1 ATP.

A cadeia transportadora de elétrons é regulada pela disponibilidade dos substratos,


NADH, FADH2, ADP, fosfatos e oxigênio. Assim, ela e a fosforilação oxidativa estarão
inibidas nas seguintes situações:

a) NADH/NAD+ – baixa – nesta situação o poder redutor é baixo e existe uma baixa
concentração de doadores de elétrons para a CTE.
b) ATP/ADP – alta – nesta situação a carga energética da célula é alta, e, portanto,
a síntese de ATP não precisa ser estimulada.
c) O2 – baixo – o oxigênio é o aceptor fi nal dos elétrons e, na ausência dele, os
transportadores fi cam saturados e não são mais capazes de aceitar novos
elétrons, paralisando a cadeia transportadora. É por isso que precisamos respirar
oxigênio.

REFERÊNCIAS

LEHNINGER, A.L.; NELSON, D.L.; COX, M.M. Princípios de Bioquímica. 5 ed. Artmed,
2011.
CAMPBELL, M. K.; Bioquímica Metabólica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 3 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2006.

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