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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA


DEPARTAMENTO DE DIREITO
CIÊNCIAS POLÍTICAS E TEORIA DO ESTADO

THAIS OLINDRINA DE LIMA SILVA

DIREITO DE PROPRIEDADE SEGUNDO A CONSTITUIÇÃOB RASILEIRA DE


1988

CRATO – CE
2023
O direito de propriedade, previsto no Artigo 5º, Inciso XXII da Carta Magna, é
um dos pilares fundamentais da ordem jurídica brasileira. Essa disposição
consagra a inviolabilidade desse direito, considerando a propriedade como uma
expressão da dignidade da pessoa humana e uma base para o
desenvolvimento econômico e social. Contudo, sua amplitude não se restringe
a um mero direito individual, uma vez que a própria Constituição, no Inciso
XXIII do mesmo artigo, impõe a necessidade de cumprir sua função social,
alinhando-se aos interesses coletivos.
O direito de propriedade tem raízes profundas na história do Brasil e foi
moldado ao longo dos séculos por diferentes sistemas jurídicos e modelos
econômicos. Desde o período colonial, o conceito de propriedade e seus limites
estiveram sujeitos a variadas influências, refletindo a complexidade das
relações sociais, culturais e políticas que marcaram a formação da nação.
Durante o período colonial, a propriedade das terras era frequentemente
concedida pela Coroa Portuguesa através do sistema de sesmarias, em que
grandes extensões de terra eram doadas a particulares que se comprometiam
a explorá-las economicamente. Esse sistema, entretanto, resultou em uma
distribuição desigual das terras e em conflitos com as populações indígenas e
comunidades tradicionais, que já ocupavam e utilizavam essas terras há
séculos.
Com a independência do Brasil em 1822, iniciou-se um processo de transição
do sistema jurídico, tendo como referência o Código Civil de 1916, que
estabeleceu as bases para o direito de propriedade no país. Contudo, ao longo
da história, a propriedade da terra continuou concentrada nas mãos de uma
elite agrária, enquanto grande parte da população vivia em situação de pobreza
e sem acesso à terra.
Foi somente com a Constituição Brasileira de 1988 que o direito de propriedade
ganhou um tratamento mais abrangente e socialmente orientado. A
promulgação da Constituição Cidadã foi um marco na história do país, pois
consagrou a propriedade como um direito fundamental, assegurando sua
inviolabilidade. Ao mesmo tempo, impôs limites e condicionantes ao seu
exercício, estabelecendo a necessidade de cumprir sua função social.
O princípio da função social da propriedade, introduzido pela Constituição de
1988, representou uma mudança significativa na abordagem do direito de
propriedade no Brasil. A partir desse momento, a propriedade passou a ser
vista como um instrumento a serviço do bem-estar coletivo, e seu uso
inadequado ou improdutivo poderia resultar em sua desapropriação, desde que
atendidos os critérios legais.
Ademais, com a promulgação da Constituição de 1988, também foram
reconhecidos os direitos das comunidades indígenas e quilombolas sobre suas
terras tradicionais, buscando corrigir injustiças históricas e promover uma maior
justiça social em relação à posse da terra.
Em suma, o contexto histórico do direito de propriedade no Brasil revela um
percurso marcado por desigualdades sociais e concentração de terras, porém,
com avanços significativos a partir da Constituição de 1988, que reforçou o
caráter social do direito de propriedade e abriu caminho para uma distribuição
mais equitativa da terra e para a proteção dos direitos das comunidades
tradicionais. Essa evolução histórica desempenha um papel crucial na
compreensão da importância e da relevância do direito de propriedade
segundo a Constituição Brasileira de 1988.
A função social da propriedade busca corrigir as desigualdades e as injustiças
históricas relacionadas à distribuição e ao uso da terra no Brasil. Ela visa
promover a utilização racional dos recursos, a preservação do meio ambiente,
a moradia digna e a promoção do desenvolvimento econômico e social. Dessa
forma, a Constituição busca conciliar o direito individual de propriedade com a
responsabilidade social do proprietário.
Um dos aspectos centrais da função social da propriedade é a destinação
adequada e produtiva dos recursos. Isso significa que a propriedade deve ser
utilizada de forma eficiente, visando ao benefício da comunidade e evitando o
uso predatório ou especulativo dos recursos naturais. Essa abordagem visa a
garantir o acesso equitativo aos recursos e a promover a sustentabilidade
ambiental, considerando as gerações presentes e futuras.
As limitações e condicionantes ao exercício do direito de propriedade, oriundas
da função social, podem ser aplicadas em diferentes situações. Uma das
principais é a desapropriação por necessidade ou interesse público, regulada
pelo Inciso XXIV do Artigo 5º. Essa desapropriação ocorre quando o Estado,
por razões de interesse coletivo, toma posse da propriedade particular,
indenizando o proprietário de forma justa. Essa medida pode ser adotada, por
exemplo, para a construção de obras públicas, para a criação de áreas de
preservação ambiental ou para a realização de programas de reforma agrária.
Além disso, existem outras limitações ao direito de propriedade previstas na
legislação brasileira, como restrições ao uso de terras localizadas em áreas de
proteção ambiental ou em territórios indígenas e quilombolas. Essas medidas
têm o propósito de preservar a natureza, proteger as comunidades tradicionais
e assegurar a sustentabilidade ambiental, sem desconsiderar o direito à
propriedade.
Tais limitações e condicionantes são fundamentais para promover uma
sociedade mais justa, equitativa e sustentável. A proteção do direito de
propriedade, aliada ao cumprimento de sua função social, busca garantir o
desenvolvimento econômico e social do país de forma harmoniosa, respeitando
os direitos individuais e coletivos.
No contexto rural, a função social da propriedade está relacionada à
produtividade agrícola e à reforma agrária. Proprietários de terras devem
utilizar seus imóveis de forma a promover a produção de alimentos e o
desenvolvimento agrícola sustentável, além de possibilitar o acesso à terra por
parte de agricultores familiares e trabalhadores rurais sem-terra, visando à
redução das desigualdades sociais e à melhoria das condições de vida no
campo.
O processo de desapropriação deve seguir um procedimento legalmente
estabelecido, garantindo a proteção dos direitos do proprietário e assegurando
que a intervenção estatal seja efetuada de maneira justa e equitativa. A
desapropriação pode ocorrer tanto em áreas urbanas quanto rurais e deve ser
baseada em fundamentos legítimos, como o interesse público, a necessidade
da ação e o respeito à função social da propriedade.
O princípio da justa indenização é um dos pilares da desapropriação,
assegurando que o proprietário seja compensado de forma adequada e
proporcional pelo bem que foi expropriado. A Constituição estabelece que a
indenização deve ser feita em dinheiro e deve ser prévia à tomada da
propriedade, a fim de garantir ao proprietário a oportunidade de contestar o
valor da compensação ou a própria desapropriação em juízo.
Além disso, o proprietário tem o direito de se opor à desapropriação e de
buscar a revisão do processo caso considere que a medida não está de acordo
com os requisitos legais ou com os princípios constitucionais. É garantido ao
proprietário o devido processo legal, ou seja, o direito a um julgamento justo e
à ampla defesa. Outra importante salvaguarda é a limitação do alcance da
desapropriação, que deve ser restrita ao mínimo necessário para atender ao
interesse público. O poder público não pode tomar propriedades sem
justificativa válida ou com o propósito de favorecer interesses privados em
detrimento do bem-estar coletivo.
É válido ressaltar que a desapropriação é uma medida excepcional e deve ser
utilizada somente quando não houver alternativas razoáveis para alcançar o
objetivo público em questão. A proteção dos direitos do proprietário e o respeito
ao devido processo legal são fundamentais para garantir que a desapropriação
seja uma medida justa e legítima, alinhada com os princípios democráticos e a
busca pela equidade social.
Contudo, a implementação efetiva da Reforma Agrária enfrenta diversos
desafios, incluindo resistências políticas e econômicas, falta de recursos para a
desapropriação e para o apoio técnico e financeiro aos assentamentos rurais,
além de conflitos de interesses entre proprietários e movimentos sociais. Essas
questões têm gerado tensões e dificuldades na busca por soluções
sustentáveis para a questão fundiária no país.
Outro ponto de controvérsia é a regularização fundiária de áreas urbanas e
rurais ocupadas por posseiros e comunidades tradicionais, que muitas vezes
não possuem a titularidade formal da terra. A falta de regularização impede o
acesso a serviços básicos, a obtenção de crédito e a segurança jurídica dessas
comunidades. Por outro lado, a regularização também enfrenta resistências
devido a preocupações ambientais e a conflitos de interesses com grandes
empreendimentos.
Além disso, a preservação ambiental é outro aspecto que gera conflitos em
relação ao direito de propriedade. A criação de unidades de conservação e a
delimitação de áreas de preservação ambiental podem restringir o uso da terra,
afetando os interesses de proprietários rurais e urbanos. A busca por um
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental é um
desafio constante no Brasil, onde a exploração de recursos naturais muitas
vezes entra em conflito com a conservação do meio ambiente.
Ademais, os avanços tecnológicos e as mudanças no mercado imobiliário
também têm trazido novos desafios ao direito de propriedade. Questões como
a regularização de loteamentos clandestinos, a especulação imobiliária, a
ocupação de áreas de interesse público e as disputas por terras em zonas
urbanas em expansão são apenas alguns exemplos de temas complexos e
delicados que demandam uma abordagem cuidadosa e equitativa.
O direito de propriedade é um elemento essencial para o progresso e o
desenvolvimento socioeconômico de um país. Uma sociedade em que os
direitos de propriedade são protegidos e respeitados tende a atrair
investimentos, estimular a inovação e fomentar o crescimento econômico de
forma sustentável. A garantia do direito de propriedade proporciona aos
indivíduos e empresas a segurança necessária para investir em ativos,
produção e empreendimentos.
A confiança na estabilidade jurídica e no cumprimento dos contratos impulsiona
o investimento privado, seja em projetos agrícolas, industriais ou no setor
imobiliário. Quando os proprietários têm a certeza de que suas propriedades
serão protegidas e suas transações comerciais serão respeitadas, torna-se
mais atraente e seguro investir em novos negócios e empreendimentos de
maior porte.
Essa relação entre segurança jurídica e investimento privado é fundamental
para a geração de empregos, o crescimento do setor produtivo e o aumento da
produtividade, fatores que contribuem diretamente para o desenvolvimento
socioeconômico do país. Empresas e empreendedores tendem a ser mais
ousados em suas decisões de investimento quando sabem que os riscos
jurídicos são minimizados e que suas propriedades e bens estarão protegidos
contra qualquer tipo de interferência arbitrária.
Além disso, o direito de propriedade incentiva a inovação e a melhoria
constante dos produtos e serviços oferecidos no mercado. Os proprietários têm
o incentivo de buscar novas formas de aumentar o valor de suas propriedades,
desenvolver tecnologias mais eficientes e atender às demandas da sociedade
de forma mais eficaz. A competição saudável, proporcionada pelo respeito ao
direito de propriedade, impulsiona a criatividade e o dinamismo econômico,
gerando resultados positivos para toda a sociedade.
Outro aspecto relevante é o papel do direito de propriedade na promoção da
inclusão social e da redução das desigualdades. Quando os direitos de
propriedade são acessíveis a uma parcela maior da população, especialmente
no que diz respeito à terra, é possível empoderar comunidades rurais e
trabalhadores, permitindo-lhes o acesso a recursos e oportunidades para
melhorar suas condições de vida.
Contudo, é importante ressaltar que o desenvolvimento socioeconômico deve
ser balizado por uma abordagem equitativa e sustentável. O direito de
propriedade, embora essencial, não pode ser utilizado como justificativa para a
exploração irresponsável dos recursos naturais ou para o desrespeito aos
direitos de comunidades tradicionais e indígenas.
Os conflitos e desafios atuais do direito de propriedade no Brasil foram
evidenciados, especialmente no que tange à reforma agrária, à regularização
fundiária, à preservação ambiental e à proteção do patrimônio cultural. O
equilíbrio entre os direitos individuais e coletivos é um desafio constante, e sua
resolução demanda um diálogo democrático e inclusivo entre diferentes setores
da sociedade.
Assim, concluímos que o direito de propriedade é um elemento central na
sociedade brasileira contemporânea, com um papel fundamental na promoção
do desenvolvimento socioeconômico do país. Por meio de uma abordagem
equilibrada, que respeite tanto os direitos individuais quanto o bem-estar
coletivo, é possível alcançar um futuro mais justo, sustentável e próspero para
todos os cidadãos. A proteção do direito de propriedade, aliada à compreensão
de sua função social, é essencial para a construção de uma sociedade mais
igualitária e comprometida com o progresso de toda a nação brasileira.

REFERÊNCIAS :
● Constituição Federal, 1988.
● Carta Magna

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