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1) Introdução....................................................................................................................................3
1.3) Hipóteses...............................................................................................................................6
1.4) Metodologia..........................................................................................................................7
Capitulo I...................................................................................................................................14
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2.4.2) A classificação pela finalidade: os direitos e as garantias...........................................20
Capitulo II..................................................................................................................................23
3.2) Decreto n.º 63/2013: Aprova o Estatuto Orgânico do Serviço Nacional Penitenciário,
abreviadamente designado SERNAP.........................................................................................24
Capitulo III................................................................................................................................35
Conclusão......................................................................................................................................40
Recomendações.............................................................................................................................41
Referências Bibliográficas.............................................................................................................42
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1) Introdução
O presente trabalho analisa o Principio da Humanização das Penas – Reflexão sobre o Processo
de Execução das Penas no Direito Penitenciário Moçambicano à Luz do Decreto 63/2013 de 6 de
Dezembro. Tem por objectivo verificar a incidência deste princípio no ordenamento jurídico
nacional, em relação as penas que são proibidas e em relação as quais espécies de sanções ela se
aplica.
Reconhece – se, desta forma, que toda pessoa é possuidora de dignidade, que deve ser protegida
pelo Estado, da qual decorrem direitos fundamentais, cuja realização deve ser possibilitada a
todas as pessoas. A partir desses ideia, a privação de liberdade, que antes era apenas uma forma
de custodia do condenado até a aplicação da pena definitiva, passa a ser utilizada como uma
espécie de pena, na qual a restrições desse direito constitui – se a pena criminal.
É neste cenário do princípio da humanização das penas que se ira desenvolver o presente
trabalho, sendo ele dividido em três partes.
O terceiro e último capítulo, desta monografia, versa sobre o princípio da humanização da pena
na execução penal, conceito, fundamentação constitucional, as fases de incidência do princípio
humanização e da individualização da pena. Falar - se- à, também, nesse capitulo sobre a
classificação dos presos e os benefícios aos presos na execução penal, como a progressão do
Regime o livramento condicional, a remição, a saída temporária e o indulto.
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1.1) Objectivos Da Pesquisa
Os princípios objectivos propostos para o presente trabalho são:
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Nessa perspectiva, achamos que a pesquisa, que nos propomos fazer, irá contribuir para o
enriquecimento do debate em torno do tema, trazendo assim novos elementos de análise, que
servirão de instrumento de consulta para a comunidade em geral e às academias em particular,
para se inteirarem da vida da humanização das penas no seio do sistema penitenciário
moçambicano. Queremos ainda com este tema contribuir de forma singela, ao Governo, as
comunidades e a sociedade em geral e em especial as demais repartições ligadas aos direitos
fundamentais e acção social dos reclusos para melhor se inteirar no que respeita ao princípio de
humanização das penas.
A escolha deste tema teve como base o paradoxo entre a conquista legislativa recentemente
alcançada pelo país no campo da humanização das penas e a realidade do sistema repressivo
notório nos nossos estabelecimentos Penitenciários, que não condiz com aquela vitória.
A outra motivação para a escolha do presente tema, deve-se ao facto de em Moçambique não ter
sido aprovado o Código de execução das penas o que tem propiciado a aplicação de penas sem
observância das condições dos reclusos.
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Entretanto, mesmo com a Aprovação e entrada em vigor do Actual Código Penal, que versa do
capítulo sétimo quanto a execução das penas e medida de segurança concretamente no artigo
139º ao artigo 154º todos do código penal e que a pena extingue pela morte do agente do crime
pela prescrição do procedimento criminal tal como deslumbra as alíneas a) a h) do artigo 151º e
no tocante a essas penas importa a forma adjectiva saber que as decisões penais transitados em
julgado tem força em todo território nacional de tal forma que podemos nos socorrer do artigo
625º do Decreto nº 19271, de 25 de Janeiro de 1931 do Código do processo penal.
Pela ausência do tribunal competente que possa se ocupar de execução das penas acaba criando
muito congestionamento nos tribunais comuns. De tal forma que o mesmo Juiz da causa decide
sobre a modificação ou substituição das penas ou medidas de segurança no decurso de execução.
Se instituísse o tribunal competente para a execução das penas aí se ocuparia a este caso concreto
que é alicerçado pelo artigo 629º do decreto nº 19271 de 24 de Janeiro de 1931 do código do
processo penal, temos assistido nos nossos estabelecimentos Penitenciários, práticas diferentes
da sua previsão legal em relação ao tratamento da pessoa reclusa. Portanto surge a seguinte
questão de partida: Em que medida o processo de execução das penas contribui para a
humanização das penas no Direito penitenciário moçambicano?
Pergunta de partida
Até que ponto o Processo de Execução das penas contribui para a Observância do princípio de
Humanização das Penas?
1.3) Hipóteses
H1 A falta de mecanismos de protecção para defesa dos direitos do recluso nos Estabelecimentos
Penitenciários.
H2 A aplicação de medidas que violam os direitos humanos dos reclusos no estabelecimento
penitenciário
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1.4) Metodologia
Segundo (LAKATOS e MARCON, 2000:40) método é ”conjunto de actividades sistemáticas e
racionais que, com maior segurança económica permite alcançar o objectivo- conhecimento
validos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as
decisões do cientista”.
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1.5) . População alva ou universo
No que se respeita ao presente trabalho de pesquisa, terei como universo de objecto de estudo um
total de 30 processos referente aos reclusos que estão em cumprimento de pena no
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Inhambane e que os mesmos foram julgados no
Tribunal Judicial da Cidade de Inhambane.
Total 5 2 7
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1.5.2) Métodos de recolha de dados
Como forma de garantir a cientificidade do trabalho, recorrer-se-á a procedimentos
metodológicos, tais como:
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De salientar que a outra técnica que privilegiamos para a recolha de dados será a de observação,
que na visão de QUIVY & CAMPENHOUDT (1988) apud DIAS et all (2008:61), acontece
quando o investigador procede directamente a recolha de informações, apelando nesse caso ao
sentido próprio da observação. Esta técnica permitira observar como é que os reclusos são
tratados de forma concisa e eficiente em conformidade com a pena que esta em cumprimento.
Método Descritivo: Este método foi usado de forma detalhada as razões relevantes a
pesquisa, os factos observados no campo, resultados do levantamento de dados e do
posicionamento do pesquisador em relação a pesquisa.
Para se chegar a conclusão adoptaremos o método dedutivo na concepacao de MARCONI
e LAKATOS (2009:63). Para estes autores, o método dedutivo leva ao pesquisador do
conhecido ao desconhecido com pouca margem de erro. A dedução consiste em recursos
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metodológicos em que a realização ou combinação de ideias em sentido interpretativo
vale mais do que a experimentação de caso por caso.
Em outras palavras pode se dizer que é o raciocínio que caminha do geral para o
particular, com a função de explicar o conteúdo das premissas. Assim, partimos da
percepção dos aspectos encontrados no campo de estudo, a de entrevistas. Por ultimo a
compilação da monografia será efectuada com o auxílio do aplicativo informático
Microsoft Word e Excell 2007.
Prisão preventiva consiste numa medida de natureza cautelar decretada pela autoridade
judiciária competente, sendo aquela que ocorre antes do trânsito em julgado.2
Tortura é a imposição de dor física ou psicológica por crueldade, intimidação punição para
obtenção de uma confissão, informação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura3.
1
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 14ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p: 85
2
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 8ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva,
2006
3
GERMANO, marques da silva, curso de processo penal 3 edição 2002
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Crime ou delito: “todo o facto humano voluntário declarado punível pela lei penal”, conforme o
art. 1º do CP moçambicano4. Esta definição mostra que um facto humano, quer por acção quer
por omissão, pode ser declarado punível pela lei penal5. Do que se infere que, nem todo
comportamento humano que viola a lei é considerado crime, visto que para ser crime é
necessário que seja tipificado como tal.
Cronograma de actividades
Período de cumprimento
5
CHAMBAL, Hermenegildo, Responsabilidade do Estado por actos dos Magistrados,
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Custo
Material necessário Quantidade
Unitário Total
Total 2590,00 mt
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Capitulo I
2) Evolução das penas e o surgimento das penas alternativas
A pena foi desenvolvida com o intuído de garantir a protecção dos bens jurídicos por eles
tutelados. A partir do momento em que a população passou a conviver em grupos, surgiram os
primeiros conflitos, fazendo-se necessário a criação das normas de condutas e punição para
evitar maiores conflitos. Foi neste momento em que surgiu como legislação o Código de Manu
que trazia em suas características a severidade, depois evoluindo para vingança privada que por
muitas vezes causavam extinção total do grupo 6; logo após, surgiu a Lei de Talião, que
representa de certo modo o mesmo tratamento igualitário entre infractor e vítima, como meio
de humanização da sanção criminal, contudo com o passar dos tempos o número de infractores
foram aumentando, e fez com que a população ficasse deformada devido as punições que
acarretavam a lei de talião; assim evolui-se as punições para a composição, um sistema onde o
infractor comprava sua liberdade, livrando-se do castigo, esta composição constituição um dos
antecedentes das penas pecuniárias do Direito Penal e da reparação do Direito Civil.
6
GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral, vol. 1. 14. Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
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2.2) A Evolução das Penas e o Surgimento da Prisão como Pena
Antes de adentramos no assunto de que trata esse subtítulo, necessário se faz saber o que
significa pena.
Ao estudarmos o histórico da execução das penas verificamos que esta, num primeiro
momento, confundi – se com a historia do direito penal, pois na antiguidade o momento da
pena a aplicação da mesma estava directamente ligados, sem distinção alguma.
Para Gomes 2005 pena é a sanção (castigo) imposta pelo Estado pela autoridade judicial
competente e de acordo com o devido processo legal ao autor culpável de um facto punível.
Quando se fala no surgimento da prisão com pena, devemos considerar o direito comum e o
direito canónico, pois esses dois direitos tiveram evolução paralela, influenciando – se
mutuamente, porem o regime de prisão moderna guarda diferentes fundamentos com a prisão
canónico.
O direito canónico, desde logo, adoptou a prisão como forma de cumprimento de pena. A cela
era considerada local de reflexão e estudo, destinada a expiação da falta cometida. Atribuía – se a
pena evidente função reeducativa.
Já nas penas restritivas de liberdade não se destinavam a manter o condenado e sim a limitar –
lhe a liberdade de locomoção. Eram muito aplicadas e se cumpriam de forma extremamente
dura. Geralmente eram perpétuas. Entre elas estavam as penas de exílio, desterro. Degredo.
Relegação, também era consideradas pena restritivas o envio dos condenados a territórios
distantes, de alem mar para que contribuíssem com sua colonização e onde ficavam abandonados
a própria sorte.
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Noto – se que no direito canónico foi adoptada, tão-somente, a prisão como forma de
cumprimento de pena. Porem, no direito comum a pena dividia – se em privativa e restritiva de
liberdade, onde na primeira os delinquentes aguardavam a pena que lhes seria imposta na prisão,
na restritiva de liberdade o que era limitado ao acusado era o direito de ir e vir, o direito de
locomoção.
O pelourinho era usado para punir infractores que cometiam delitos. O condenado ficava
amarrado pelos pés e pelas mãos, exposto a população.
Foram considerados como penas corporais as que causavam ao condenado dor, provocando
lesões físicas e muitas vezes ate a morte, utilizava – se de açoites e das mais variadas formas de
mutilação contra o condenado.
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Com o fim do suplicio e da exposição publica dos condenados, a condenação passa a ser marca
negativa, tornando – se a execução da pena um sector autónomo, administrativo. A pena, então,
no final do século XIX passa a ter fins curativos e correctivos, com novas propostas de punição.
Começa a falar – se em prisão como de punição, de pena, tornando – se pouco a pouco a mais
utilizada, estando prevista entre a pena de morte e as penas mais leves.
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de medidas para a reintegração dos condenados, questões de recursos humanos e dificuldades
financeiras e de planificação.
Ela também realça a necessidade de reforma total no ordenamento jurídico que rege as prisões e
recomenda que o Ministério do Interior e o Ministério da Justiça trabalhem em conjunto com
vista a unificação da estrutura administrativa dualista.
Como indicativo de um claro compromisso de reunificação do sistema, foi estabelecida a
Unidade Técnica da Unificação do Sistema Prisional (UTUSP), sob supervisão do Ministério da
Justiça, com função de desenhar um novo ordenamento jurídico, que foi aprovado em Maio de
2006, com criação de Serviço Nacional das Prisões (SNAPRI), órgão único responsável pela
gestão e administração das prisões em Moçambique. O SNAPRI (serviço nacional das prisões) é
um órgão subordinado ao Ministério da Justiça que tem como tarefa principal orientar os
serviços de detenção e execução das penas e medidas de segurança. As principais atribuições do
SNAPRI são:
A verificação da legalidade das detenções;
A execução das penas privativas de liberdade e medidas de segurança;
A superintendência da gestão dos estabelecimentos prisionais e de execução de medidas
de segurança;
A reeducação dos reclusos;
A segurança e protecção e estabelecimentos prisionais de execução das medidas de
segurança;
7
HERKENHOFF, João Baptista. Curso de Direitos Humanos. Gênese dos Direitos Humanos. São
Paulo: Acadêmica, 1994, p. 51.
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O que não se esperava, é que “foram necessários séculos para que a Organização das Nações
Unidas proclamasse, na abertura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que todos os
homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos”8.
Contudo, até se chegar à mencionada Declaração, os “Direitos Humanos” percorreram um longo
Caminho na história, fazendo parte de acontecimentos revolucionários.
SILVERIA, Vladmir Oliveira da; ROCASOLANO, Maria Mendez. Direitos Humanos: Conceitos, Significados e
Funções. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 103
9
SARMENTO, GEORGE, As gerações dos direitos humanos e desafios da efectividade, Rio de Janeiro, Editora
Campus, 1995, p. 4.
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A prestação jurídica é realizada pela elaboração de normas jurídicas que disciplinam a protecção
de determinado direito. Assim; o devido processo legal para ser protegido exigirá uma actuação
estatal de regulação de normas processuais e procedimentos adequadas.
Já a prestação material consiste na intervenção do Estado provendo uma determinada condição
material para que o indivíduo frua adequadamente seu direito, por exemplo, no caso do direito à
saúde previsto no art. 89.° C.R.M, o Estado deve realizar prestações materiais por meio de
construção de hospitais, equipamentos, equipe médica e ainda fornecimento gratuito de
medicamentos, tudo para assegurar materialmente o efectivo gozo de direito à saúde.
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Declaração de Direitos de Virgínia
Em 12 de Junho de 1776, o povo da colónia de Virgínia, Estados Unidos da América, cansados
da opressão e como forma de manifesto ao dominador governo britânico, divulgou a Declaração
de Direitos de Virgínia, contendo 16 artigos cujo preâmbulo dizia: “Dos direito que nos devem
pertencer a nós e à nossa posteridade, e que devem ser considerados como o fundamento e a base
do governo, feito pelos representantes do bom povo da Virgínia, reunidos em plena e livre
convenção”10.
A referida Declaração trouxe o reconhecimento de direitos inatos de toda pessoa humana, os
quais não podem ser alienados ou suprimidos por uma decisão política, e também consagrou o
princípio de que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. Afora isso também afirma
os princípios da igualdade de todos perante a lei, rejeitando privilégios e hereditariedade dos
cargos públicos.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
Para falar acerca da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é imprescindível descrever
o contexto histórico do seu surgimento, para tanto, importa tecer alguns comentários acerca da
“famosa” Revolução Francesa que não só precedeu como incentivou a criação da mencionada
Declaração.
A Revolução Francesa foi o maior movimento político e social já ocorrido em todo o mundo,
encerrou na Europa a sociedade feudal e inaugurou a Idade Moderna.
Sob a bandeira “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” (Liberté, Egalité, Fraternité), a Revolução
ganhou dimensão universal e transformou-se em inspiração para toda a humanidade11.
10
CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: Processo histórico – Evolução no mundo, Direitos Fundamentais:
constitucionalismo contemporâneo. São Paulo: Saraiva. 2010, p. 57.
11
CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos: Processo histórico – Evolução no mundo, Direitos Fundamentais:
constitucionalismo contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 62.
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Outros avanços merecem destaque, como decorrência do movimento de emancipação social dos
franceses. Em 1793 foi editada uma revisão do documento com as seguintes alterações: era
estendida a concepção de liberdade aos negros; pela primeira vez eram proclamados os direitos
económicos e sociais, que incluíam direito à instrução, ao trabalho e à assistência; o documento
também reconhecia o direito à insurreição, em caso de violação dos direitos do povo.
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão foi inspiração para a criação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada em 10 de Dezembro de 1948, pela
aprovação unânime de 48 estados, com 8 abstenções, sendo os países que se abstiveram de votar:
Bielo - Rússia, Checoslováquia, Polónia, Arábia Saudita, Ucrânia, URSS, África do Sul e
Jugoslávia.
A Declaração foi redigida sob o impacto das atrocidades da Segunda Guerra Mundial, e
retomando os ideais da Revolução Francesa, representou a manifestação histórica de que se
formara, enfim, em âmbito universal, o reconhecimento dos valores supremos da igualdade, da
liberdade e da fraternidade entre os homens.
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Capitulo II
3) Pena no Ordenamento Jurídico Moçambicano de Forma Geral
A pena é consequência natural imposta pelo Estado quando alguém pratica uma infracção penal.
E tem a função de retribuição, ou seja, a busca pela justiça, a prevenção, portanto, uma das
espécies de Sanções Penais.
Qualquer prisão ou detenção deve apoiar-se na lei. A Comissão Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos declarou que tem que existir uma suspeita razoável ou uma causa provável de que
um crime foi cometido pela pessoa que está a ser presa.
O artigo 251º do Código de Processo Penal de Moçambique define um arguido como “aquele
sobre quem recaia forte suspeita de ter perpetrado uma infracção, cuja existência esteja
suficientemente comprovada.” Isto implica que uma pessoa não pode ser presa a não ser que
exista uma forte suspeita de que a pessoa cometeu um crime e existam provas suficientes de que
foi cometido um crime.
O direito penal comporta dois tipos de sanção: a pena, que pode ser na modalidade privativa de
liberdade, restritiva de direitos e multa, e a medida de segurança.
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Desta forma, alem da sua cominação como pena principal em alguns tipos penas, ela também foi
posto como substituta da pena privativa de liberdade nos casos em que é cabivel tal alternativa.
Assim a pena de multa deixa de ser uma pena que normalmente acompanha a cominação da pena
privativa de liberdade e passa, aqui, a substitui – la. Não é possível manter um sistema em que é
possível privar a liberdade de alguém por um curto espaço de tempo, então a multa surge como
substituto apropriado e de utilização cada vez mais frequente, cujos benefícios superam possíveis
desvantagens.
3.2) Decreto n.º 63/2013: Aprova o Estatuto Orgânico do Serviço Nacional Penitenciário,
abreviadamente designado SERNAP.
A lei de execução penal, que normatizou a jurisdicionalização da pena, estabelece as directrizes
que devem ser seguidas para o cumprimento da pena privativa de liberdade, logo em seu
primeiro artigo, esta lei estabelece que a execução penal tem por objectivo efectivar as
disposições da sentença e proporcionar condições para a harmónica integração social do
condenado.
Esse conjunto de normas que regulamentam a organização penitenciária é autónomo, distinto do
direito penal e processual penal, e regula o ambiente carcerário com base na segurança e
disciplina.
Com esta lei, o princípio da legalidade passa a abranger a execução penal, sendo que a margem
deixada para o árbitro da autoridade administrativa deve estar contida nos limites dos
regulamentos e das instruções. Isso para impedir que o excesso ou o desvio de finalidade da
execução criminal comprometa a dignidade e a humanidade do direito penal13.
Afinal, o condenado não é encaminhado a prisão para ser castigado, pois a natureza aflitiva da
pena decorre da própria perda da liberdade de locomoção.
A Cadeia cidade de Inhambane é um edifício muito antigo que serve a cidade de inhambane e a
área provincial e que aloja detidos de ambos os sexos. As autoridades prisionais disseram à
delegação que, devido aos edifícios vizinhos, a reabilitação do edifício não era possível e que
tinha que ser identificado outro local para uma nova prisão.
13
Com a jurisdicinalização da execução penal, o apenado deixa de ser um mero objecto do processo da execução e
passa a ser titular de posição jurídica como sujeito da relação processual, titular de posições jurídicas (CINTRA,
António Carlos de Araújo, DINAMARCO, Cândido Rangel, GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo.
16ª ed. São Paulo, Malheiros, 200. P.315)
Pá gina 25
As autoridades da prisão disseram à delegação que a prisão tem uma capacidade para 250
pessoas, mas que se encontrava frequentemente sobrelotada. As autoridades acrescentaram que
estava a ser feito trabalho para reduzir a sobrelotação, nomeadamente trabalhando juntamente
com o IPAJ para identificar quais são os reclusos ilegalmente detidos e acelerar a determinação
da legalidade da detenção.
Essa superpopulação na prisão traz consequências directas para o sistema prisional e a forma de
execução das penas privativas de liberdade, pois há enorme discrepância entre a realidade
prisional e a legislação Moçambicana.
A Liga dos Direitos Humanos, fez visitas as instituições prisionais de todos os estabelecimentos
penitenciários de Moçambique, apresentando, posteriormente, relatórios descrevendo a situação
encontrada nos estabelecimentos.
Da leitura desses relatórios, é possível observar que a lei de execução penal, apesar de extensa e
detalhista quanto a execução da pena privativa de liberdade, não consegue alcançar seus
objectivos, e suas directrizes são inobservadas nos estabelecidos penais.
Por exemplo, nos artigos 17 e 21 desta lei, é assegurada ao preso assistência prestada pelo Estado
– material, a saúde, jurídica, educacional, social e religiosa – com objectivo de prevenir novos
crimes e orientar o retorno do criminoso a convivência em sociedade.
O direito dos presos a saúde é comprometida pela falta de recursos financeiros, materiais e
humanos. Alem disso, a subordinação dos serviços de saúde aos serviços de segurança da
instituição não permite um atendimento plenos ao preso, comprometendo, por exemplo, a
emissão de laudos de perícia médica em casos de suspeita de torturas ou de maus tratos, pois o
medico não tem privacidade para examinar o preso, tendo sempre a presença de seguranças ou
policiais da instituição presente14.
14
Em casos de atendimento médico ao preso, deveria ser segundo o protocolo de Istambul, das Nações Unidas, que
determina, em seu paragrafo 123, que todos os detidos devem ser examinados em privado (Organização das Nações
Unidas, 2012, p. 8-9)
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Há presídios em que o medico é responsável pelo atendimento de 800 reclusos, apenas uma vez a
cada 5 meses, o que leva a situação de doenças crónicas graves e membros quebrados e
ferimentos sem tratamentos. Quando solicitada assistência medica, ainda, os presos podem sofrer
punição ou maus tratos no percurso até o hospital.
A assistência jurídica gratuita não alcança a todos que dela necessitam, impedindo uma defesa
plena dos direitos da pessoa presa. Em Moçambique o atendimento jurídico dos presos na
maioria das vezes é prestada por advogados inscritos na Ordem dos Advogados de Moçambique,
fazem atendimento dentro dos estabelecimentos penitenciários.
A alimentação presente nos estabelecimentos penitenciários, alem de ser, muitas vezes, mal
preparada, ainda é objecto de comércio ilegal dentro dos estabelecimentos prisionais, aonde os
presos podem só ter acesso a alimentação se pagar por ela.
Os presos provisórios devem ficar separados dos condenados por sentença transitada em julgado,
o preso primário deve cumprir pena em secção distinta daquela reservada para os reincidentes.
Na pratica, não é isto o que corre. Não é respeitada a separação de presos processados e
condenados, nem a transferência de presos para o local adequado em tempo razoável. Ficando os
presos que ainda estão sendo acusados por longo período de tempo em esquadras.
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3.3) As Medidas Alternavas A Pena De Prisão
O nosso Código Penal em vigor no nosso pais tem muitas virtudes e varias inovações em que o
legislador procurou corrigir os vários desequilíbrios do seu a antecessor, afinal o anterior datava
de 1886, procurando adequa –lo a realidade da sociedade Moçambique. Uma das inovações é a
introdução do sistema de medidas de penas alternativas a pena de prisão, considerado um
instrumento eficaz para aliviar a superlotação carcerária que em Moçambique, segundo dados de
2013 era de 15663 reclusos para uma capacidade de 7.804 presos nos 184 estabelecimentos
prisionais existentes.
O código penal no seu art. 88 prevê como medidas alternativas a transacção penal e a suspensão
provisória do processo, ambas a serem definidas no CPP como a faculdade do MP não prosseguir
a acção penal contra o infractor, desde que este preencha os pressupostos fixados na lei, isto para
o caso da transacção penal.15
Cabe ao MP acordar com o infractor que não será dado inicio ao processo desde que ele cumpra
as condições resultantes do acordo e aceite sujeitar – se as medidas que lhe foram impostas.
Contrato de suspensão provisória do processo consiste na faculdade do MP, finda a instrução
preparatória e verificados os pressupostos consagradas no CP no art. 102, requerer ao juiz não
seguimento dos autos suspendendo – se provisoriamente o processo. Ambas as medidas são
obrigatoriamente aplicadas as infracções puníveis com penas de prisão de um dois anos, desde
que verifiquem os tais pressupostos gerais que o art. 102 define.
Todavia pouco se faz pouco se faz para estes princípios de aplicabilidade das medidas estejam
asseguradas, isto porque aparentemente parece que as instituições responsáveis assobiam para o
15
Comentário efectuado pelo Juiz Jubilado João Carlos Trindade, num seminário de divulgação e reflexão sobre o
novo código penal, organizada pela Ordem dos Advogados de Moçambique
Pá gina 28
lado e esperam que um dia esteja criadas as condições para que as medidas possam ser
efectivamente aplicadas.
Um outro grande desafio que a aplicação das medidas e das penas alternativas enfrenta é
referente a quem deve autorizar. O legislador, numa disposição transitória, indica no art. 5 que
enquanto não existirem os juízes de execução de penas, a competência de autorização para o
trabalho do condenado fora do estabelecimento penitenciário é desempenhada pelo director geral
do Serviço Nacional Penitenciário.
O jurista Ercino Salema entende que ela é materialmente inconstitucional, não pode atribuir
funções jurisdicionais a um burocrático, a um funcionário do Ministério da Justiça. Há princípios
que são sagrados, eles tem que ser respeitados, nomeadamente o princípio da reserva da
jurisdição e também o princípio da separação de poderes.
O professor Teodoro Andrade Waty esclareceu que o art. 5 não existia foi enxertado depois do
reexame porque tínhamos a consciência de que a implantação de juízes de execução de penas
levaria muito tempo, significa que as medidas alternativas não seriam implementadas. Entre
manter a ideia de penas alternativas no Código e ensaiamos esta solução do Director geral do
Serviço Nacional Penitenciário, com alguns poderes era preferível.
O juiz que julga tem uma ideia formada sobre o réu, fixa na sua cabeça, se é tão-somente a
perigosidade deste e sempre que olha para o condenado chama à memória todos os aspectos em
volta do criminoso, das vítimas, bem como o comportamento no acto do julgamento.
Ele não acompanha a vida diária do condenado, do seu comportamento e do seu arrependimento
no pedido para o juiz se pronunciar sobre a liberdade condicional. Face a esta realidade, grosso
modo, o juiz recusa-se a conceder a liberdade condicional porque também não está a par do novo
comportamento do condenado
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O PRESIDENTE da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade da
Assembleia da República, Edson Macuácua, defendeu, em Maputo, que a adopção de penas e
medidas não privativas de liberdade constitui um desafio que se impõe ao Estado e à sociedade,
tendente a consolidar a transição de um paradigma de justiça retributiva para uma justiça
restaurativa.
“A comunidade é chamada a ser parte activa do processo de execução de penas e medidas não
privativas da liberdade, de modo a que participem no processo de socialização e reintegração na
comunidade.”
O parlamentar começou a sua dissertação fazendo uma distinção entre medidas e penas
alternativas à prisão, afirmando que medidas alternativas são aquelas que devem ser encontradas
para serem impostas a um infractor primário e penas alternativas são sanções que o juiz impõe
depois de condenar.
“Uma medida alternativa é uma prevenção que se adverte a quem pretende entrar no mundo do
crime, é uma linha amarela. Uma pena é uma sanção que se impõe, pois ela visa, para além da
prevenção, ressarcir as vítimas, o Estado, a sociedade, diminuir a superlotação das penitenciárias,
o que já constitui um cancro e reduzir os custos ao Estado. Estas medidas, de forma alguma,
devem ser, na sua aplicação, comparadas às que são aplicadas aos condenados quando vão
trabalhar fora dos estabelecimentos prisionais, onde são acompanhados de uma segurança
armada, porque a quem é imposta uma medida de segurança vive na sua casa devendo se
apresentar ao local do cumprimento da medida num determinado tempo e trabalhar um
determinado número de horas”, frisou.
Pá gina 30
de a executar, constituindo estas funções o paradigma em que assenta a administração da justiça
penal.”
Referiu que por razões supra aludidas, na actualidade, a “aplicação da pena de prisão deve-se
restringir aos crimes mais graves. Só assim a pena de prisão estará em condições de cumprir uma
valência diferente da que lhe cabe tradicionalmente quanto à socialização. Ela terá de ser capaz,
pelo menos, de evitar que os efeitos positivos de intimidação sejam anulados por uma acção de
sinal contrário – a dessocialização16.”
Na oportunidade, esta activista social da área dos direitos humanos também “aconselhou” os
parlamentares da comissão dirigida pelo deputado Edson Macuacua a ponderarem a criação de
um instituto legal que actue nas comunidades em substituição do juiz comunitário, pois, segundo
sublinhou, o Estado não deve delegar o seu poder de fazer justiça a entidades ou pessoas que, à
partida, não se encontram capacitadas para o fazer.17
“No Direito dizemos que é preferível deixar em liberdade um criminoso do que condenar um
inocente”, afirmou Mabota, ilustrando a situação que acontece nas comunidades, onde cidadãos
inocentes ou que, de forma primária, praticam os chamados delitos de pequena monta, são
condenados à prisão e cumprem vários anos devido à incapacidade técnica de quem os
condenou.
Por outro lado, Alice Mabota pediu que os deputados da chamada Primeira Comissão façam a
destrinça entre o poder judicial e o poder administrativo no processo de prisão preventiva.
Recorrendo à Constituição da República, Alice Mabota recordou o facto de a lei-mãe dispor que
a prisão preventiva é uma excepção, portanto, uma medida excepcional de coação para ajudar a
16
http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/51940-penas-e-medidas-alternativas-a-prisao-um-desafio-ao-
estado-e-a-sociedade.html 19/07/2018.
17
http://jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/47219-ldh-defende-criacao-de-juizes-de-execucao-de-penas.html
15/07/2018
Pá gina 31
encontrar provas. “Contrariamente, nos dias de hoje, a mesma veio constituir uma regra,
violando a Constituição e assim os direitos humanos dos cidadãos, pois o Estado, ao permitir
práticas que violam a Constituição, está, o mesmo Estado que prometeu respeitar os direitos
humanos, a violá-los”.
Depois de sugerir aos presentes a seguirem o Acórdão do Conselho Constitucional sobre esta
matéria, Mabota sugeriu que se criassem figuras judiciais que tratassem exclusivamente da
questão da prisão preventiva, numa implícita alusão à criação de um juiz especializado nesta
matéria.
Segundo a palestrante, esta figura iria não só “pôr ordem” na questão da prisão preventiva, como
também iria contribuir para a celeridade dos processos, questões que, no final do dia, contribuem
para a superlotação das cadeias.
“Hoje, no país, a questão da morosidade processual abre espaço para a superlotação das
cadeias e o encarecimento dos custos da prisão para o próprio Estado. É necessário que se
reflicta sobre esta situação a longo prazo, pois o Estado não vai permanecer pobre e nem vai
erradicar, a curto prazo, o cometimento de crimes”, disse para depois sugerir a adopção de
medidas que permitam os julgamentos em tempo útil, por exemplo, julgamentos à porta dos
estabelecimentos penitenciários (casos de penas correccionais), reduzindo-se, assim, a falta de
transportes celulares para levar os prisioneiros ao tribunal; falta de combustível para estes carros
e a fuga de reclusos durante a caminhada.
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3.6) Medidas Alternativas À Prisão
É preciso que se introduzam esclarecimentos, em sede do Código Penal, para melhor ser
interpretado e entendido sobre o conceito de medidas alternativas e penas alternativas à prisão.
Salvo melhor entendimento, medidas alternativas são aquelas que devem ser encontradas para
serem impostas a um infractor primário e penas alternativas são sanções que o juiz impõe depois
de condenar.
A lei penal de ver resolvidas, rapidamente, pequenas infracções deve delimitar onde considera
que deve ser aplicada uma pena e onde deve ser aplicada uma medida, com vista a nem sequer
haver registo judicial.
Uma medida alternativa é uma prevenção que se adverte a quem pretende entrar no mundo do
crime, é uma linha amarela. Uma pena é uma sansão que se impõe, pois elas visam, para além da
prevenção, ressarcir as vítimas, o Estado, a sociedade, para além de diminuir a superlotação das
cadeias e reduzir os custos ao Estado.
Estas medidas, de forma alguma, devem ser, na sua aplicação, comparadas às medidas que são
aplicadas aos condenados quando vão trabalhar fora dos estabelecimentos prisionais, onde são
acompanhados por uma segurança armada para um grupo de prisioneiros porque a quem é
imposta uma medida de segurança vive na sua casa devendo se apresentar ao local do
cumprimento da medida num determinado tempo e trabalhar durante um número determinado de
horas.
Serão os agentes comunitários a darem palestras no início e no fim do cumprimento das penas, e
só estes agentes poderão fornecer melhor informação por interacção com os agentes do Estado,
Pá gina 33
bem assim a promoção da educação cívica nas vítimas, com vista a se sentirem conformados a
aceitarem.
Assim, estas condições serão práticas, precisas e em número tão reduzido quanto possível,
visando evitar a reincidência e aumentar as oportunidades de reinserção social do delinquente, e
tendo também em conta as necessidades da vítima.
Em certos casos, convém, no âmbito da aplicação de uma medida não privativa de liberdade,
preparar diversas soluções tais como métodos individualizados, terapias de grupo, programas
com alojamento e tratamento especializado de diversas categorias de delinquentes, tendo em
vista responder mais eficazmente às necessidades destes últimos.
O tratamento deve ser efectuado por especialistas com a formação necessária e uma experiência
prática apropriada.
O número de casos atribuídos a cada agente deverá manter-se, tanto quanto possível, a um nível
razoável a fim de assegurar a eficácia dos programas de tratamento. A autoridade competente
deverá abrir e gerir um processo individual para cada delinquente.
Pá gina 34
3.8) Disciplina e desrespeito das condições impostas
O desrespeito das condições a observar pelo delinquente pode conduzir à modificação ou à
revogação da medida não privativa de liberdade.
O insucesso de uma medida não privativa de liberdade não deve conduzir automaticamente a
uma medida de prisão”, para quem em caso de modificação ou revogação da medida não
privativa de liberdade, a autoridade competente tentará encontrar uma solução de substituição
adequada.
Uma pena privativa de liberdade só pode ser pronunciada se não existirem outras medidas
adequadas.
A competência para capturar e deter o delinquente sob supervisão, em caso de violação das
condições impostas, será estabelecida por lei.
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Capitulo III
4) Princípio da humanização da pena na execução penal
A constituição da república prevê como um dos direitos individuais da pessoa, em seu art. 40, a
proibição de adopção de penas cruéis em nosso ordenamento jurídico, em razão do
reconhecimento da dignidade humana como um dos fundamentos do Estado.
Por penas cruéis, entende – se aquela que viola a dignidade da pessoa, causando sofrimento alem
do inerente a pena aplicada. Assim, não são apenas os tratamentos cruéis que tem essa atribuição.
Este inciso abrange também outros tipos de pena, como as penas privativas de liberdade de longa
duração, pois retira a esperança de liberdade da pessoa causando intenso sofrimento psíquico.
Os países que ratificam essas convenções e seus protocolos adicionais precisam incorporar essas
garantias no direito interno, assegurando – se as pessoas que cumprem sanção criminal18.
Tendo em vista estes direitos, que são decorrentes do princípio da humanidade, previsto na CRM
e nas convenções internacionais ratificadas por Moçambique, pode – se decompor este princípio
em algumas faces, que devem ser respeitadas pelo direito moçambicano, tais como: a vedação da
pena de morte, a proibição das penas e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, a proibição
da prisão da prisão perpétua e das penas de longa duração, a proibição da pena de banimento e de
trabalhos forcados. Há, ainda a finalidade de readaptação social da pessoa privada de liberdade,
que, apesar de não estar na CRM, é prevista em alguns textos internacionais.
Apesar de o texto constitucional parecer conferir esses direitos apenas as pessoas submetidas a
pena privativa de liberdade, eles também devem ser aplicados as demais formas de privação de
liberdade, previstas no ordenamento jurídico-penal, que são a medida de segurança na
18
VALOIS, 2013. P- 159
Pá gina 36
modalidade de internação o e a medida socioeducativa de internação. O carácter sancionatório e
punitivo da medida de segurança e da medida socioeducativa impõe que o texto constitucional
seja interpretado de maneira ampla, fazendo com que o termo pena passe a adquirir o conceito de
sanção penal. Assim todas as pessoas privadas de liberdade devem ter sua dignidade respeitada.
Essas violações também ocorrem porque alguns dispositivos da legislação penal contrariam o
princípio da humanidade, mesmo que aplicados conforme a legislação e também, porque, em
alguns casos, apesar de a legislação ser condizente com a humanidade, os aplicadores da lei
fazem interpretação que diverge deste princípio.
Esta é, realmente, uma atitude simplista que, às vezes, mete pena quando escutamos estes
pronunciamentos. Porém, quando olhamos para o criminoso e procuramos compreender a génese
do crime, aí buscamos a afirmação de um Estado de Direito Democrático, onde procuramos
causas da prática do crime; o meio social que rodeia o criminoso; o que o Estado oferece ao
criminoso para a sua reinserção; o que o Estado oferece à vítima do crime; e o que a sociedade
oferece à vítima para amortecer a dor de ter sofrido um crime.
Em Estados anti-democráticos, olha-se para o criminoso como um ser inútil que deve ser
erradicado da sociedade porque incomoda o Estado e o Estado usa o seu poder punitivo, e até usa
esse poder de forma brutal, tal como o criminoso, tornando-se assim num Estado criminoso.
Pá gina 37
Em Estados de Direito Democrático, busca-se as razões do crime e as formas eficazes de
combate, pois quanto mais brutais forem as formas de combate, mais formas brutais de prática de
crimes ocorrem, isto é, os criminosos tornam-se mais violentos e organizados.
Nos ocorre que seja justo que a AR, depois de colocar ao povo “o que é proibido cometer e como
se comete a proibição”, deve também informar quais os procedimentos que devem ser seguidos
para se aplicarem as penas.
Assim, o Código do Processo Penal deve reflectir a ideia do Estado de Direito Democrático; o
papel do infractor das leis do Estado; o papel da vítima; o papel das vítimas vulneráveis, como
sejam menores, incapazes, idosos e mulheres, para no fim posicionar-se sobre como punir ou
proteger, de forma adequada, estes vulneráveis.
Por exemplo, temos de ver como o Código do Processo Penal trata a violação de uma menor e de
uma pessoa adulta. Será justo seguir o mesmo encaminhamento processual? E como ele deve
tratar os dementes?
Para a nossa fonte é urgente que se introduza a figura de psicólogo nos estabelecimentos
prisionais, de modo a ser avaliada a saúde mental dos reclusos, visto que, neste momento,
doentes mentais estão no mesmo lugar que os de mente sã; ou os psicopatas cometem crimes nas
cadeias sem que recebam tratamentos de controlo.
Dessas violações, tem – se aquelas que com esforço político e social podem ser corrigidas, como
o caso dos tratamentos cruéis dispensados as pessoas privadas de liberdade, os programas
socioeducativas de educação e profissionalização, o trabalho dentro das prisões, o tratamento
oferecido para os que cumprem medidas de segurança, a falta de estrutura física., material e
humana, bem como o funcionamento do cárcere como factor criminógeno.
Para evitar que haja tal descompasso entre a lei e sua aplicação, é necessário a adopção de
medidas que efectivem as regras da execução de penas. Por exemplo, deve haver maior esforço
de diversas autoridades em realizar visitas a estabelecimentos destinados ao cumprimento da
Pá gina 38
pena privativa de liberdade, para acompanhar a execução dessas penas e tomar as medidas
necessárias para punir os servidores responsáveis pelas violações dos direitos das pessoas presas,
como determina o protocolo facultativo da convenção contra a tortura e outros tratamentos e
panas cruéis, desumanas ou degradantes, adoptado pela Assembleia Geral das nações Unidas,
alem de maiores investimentos na estrutura física e humana dos locais de internação.
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4.4) A Sernap Deve Garantir Respeito Pela Dignidade Humana
A direcção do Serviço Nacional Penitenciário (SERNAP) deve trabalhar para que esta instituição
paute pelo respeito à dignidade humana e a observância dos direitos dos reclusos, assegurando os
serviços sociais essenciais como nutrição, saneamento, assistência médica, actividades de
recreação e prática religiosa, entre outras.
Por exemplo, promover acções que concorram para o melhoramento e modernização das
condições de segurança dos estabelecimentos penitenciários, de modo a reduzir os casos de
evasão nas cadeias.
Pá gina 40
Conclusão
Findo o processo de elaboração do trabalho podemos concluir que a execução de penas no direito
penitenciário moçambicano não respeita a dignidade do preso, o preso é submetido a tratamento
desumano e degradante, em razão da falta de estrutura dos estabelecimentos penitenciários e em
razão do tratamento dispensado pelos próprios funcionários dos estabelecimentos e agentes
responsáveis pela guarda dos presos. Não é incomum a denúncia de ocorrência de tortuta dentro
desses locais. Em alguns estabelecimentos penitenciários, os presos são submetidos a rígida
disciplina, alem da necessária para a manutenção da ordem e organização internas, o que pode
acarretar problemas psicológicos futuros nos presos.
Os direitos dos presos também são desrespeitados e alguns presos são submetidos ainda a uma
pena cruel que é o regime disciplinar diferenciado, onde o preso permanece 20 horas por dia
isolado em sua cela, sendo esta pena, portanto, excessivamente aflitiva e com objectivo de
segregação do preso.
A reintegração da pena privativa de liberdade não é alcançado, pois, além das violações aos
direitos já citadas, não há estabelecimentos suficientes e adequadas para todas as fases de
progressão de regime. O programa de estudo e trabalho oferecidos dentro dos estabelecimentos
penitenciários tem pouca utilidade quando fora da prisão, tendo em vista a qualidade precária
deles, e a prisão traz consigo alguns efeitos negativos inerentes a ela agravados diante do cenário
de abandono do cárcere.
Estes efeitos que mais se agravam quanto mais tempo a pessoa fica submetida a pena, dificultam
a reintegração do indivíduo com a sociedade.
O tratamento médico oferecido nestes locais, quando existente, não é capaz de cessar a
periculosidade do internado e permitir o seu retorno a sociedade, pois são ineficientes e
desactualizados. Com todas as características dos manicómios judiciários, a doença tende a
cronificar – se afastando definitivamente a pessoa de sua família e da sociedade. Ainda, mesmo
que o tratamento recomendado a uma pessoa for o ambulatório, ela pode ser impedida de ter
acesso ao melhor tratamento para o seu caso por ter praticado uma infracção para a qual é
cominada pena de reclusão, pois neste caso a lei impõe a internação.
Pá gina 41
Recomendações
Recomendamos que seja fundamental a realização de acções de capacitação e formação
do pessoal afecto nos estabelecimentos prisionais, de modo a melhorar o seu
desempenho.
Recomendamos igualmente que prime por uma gestão criteriosa e transparente dos
recursos financeiros, materiais e humanos, através do cumprimento dos procedimentos
legais aplicáveis aos processos administrativos, para conferir maior eficiência e
sustentabilidade económica e financeira à instituição.
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Referências Bibliográficas
FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução Raquel Ramalhete. 29. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2004.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral, vol. 1. 14. Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2012.
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Código de Processo Penal – aprovado pelo Decreto n.º 16489, de 15 de Fevereiro de
1929, mandado aplicar à Moçambique através do Decreto n.º 19 271, de 24 de Janeiro de
1931
Internet
http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/51940-penas-e-medidas
alternativas-a-prisao-um-desafio-ao-estado-e-a-sociedade.html 19/07/2018.
http://jornalnoticias.co.mz/index.php/politica/47219-ldh-defende-criacao-de-juizes-
de-execucao-de-penas.html 15/07/2018
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