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MAÇONARIA EDITORA MENEZES


C AIXA POSTAL 854 --- FORTAIFZA
_

O
(a"
Que é Maçonaria?

1952
EDITORA MENEZES
Caixa Poetai, 854
FORTALEZA-CEARA
_

O
L
NO MUNDO:
HONRA AO MÉRITO DE

BENJAMIN FRANKLIN. —
filósofo e moralista eminente. —
glória da Maçonaria Universal
wrimegeli
NO BRASIL:
Justa Homenagem aos abnegados
apóstolos da doutrina da Frater-
nidade Humana,
GENERAIS:
JOSÉ MARIA MOREIRA GUIMARÃES

JOAQUIM MOREIRA SAMPAIO


NO CEARÁ:

HENRIQUE ELLERY .
ADRIANO FONSECA e
ANTÔNIO JUSTA, —
dignos obreiros da Boa Causa
um preito de saudades do
, AUTOR
WIP~WwillernINIUMP0,11

re
14

À minha espOsa,
a cuja inteligência.
amor e
virtudes.
devo os meus sucessos
na vida.
1
Aos meus
meus filhos.
testemunho de como
compreendi a
Grande Instituição.
E isto acontece, fõrça é confessar, porque os Templos
Maçônicos de hoje, têm as suas portas as escâncaras para
quem «deseje» ser «maçom», ingressando, assim, na Ordem,
os que não possuem inclinação e mentalidade para assimilar
e praticar os seus postulados de filantropia e RENÚNCIA.
Ninguém pode negar, e isso confrange a alma dizer, que
o nível cultural da Maçonaria baixou sensivelmente no Bra-
sil, nestes últimos anos. Um olhar retrospectivo para o pas-
sado confirmará essa assertiva.
sobejamente sabido que a fina flor da intelectualidade
brasileira, o que de mais elevado e representativo existia na
sociedade, — cultural e cientificamente —, se reunia nos
Templos Maçônicos, ilustrando e dignificando a maior Or-
dem que a humanidade já possuiu.
Mas, dai para sc afirmar que a Maçonaria é um con-
gresso de maus c de malvados, uma sociedade secreta de
fins amorais, criminosos ou políticos, a distância é longa.
Sejam quais forem os seus discípulos, — cultos ou medío-
cres —, a Maçonaria não perecerá, nem deixará de se pro-
por a unir fraternalmente os homens, mau grado tudo quanto
tende a separa-los.
Nas páginas que se seguem está a verdadeira resposta
à curiosa indagação de todos os tempos:
QUE É MAÇONARIA?
«A MAÇONARIA é um terreno neutral.
onde se defrontam tõdas as opiniões, todas as
crenças, tõdas as idéias sérias e de tio, fé.
para discussão pacifica, de cujo embate fra-
ternal resultem novas verdades a juntarem-se
as já descobertas, contribuindo, assim, para o
incremento do espirito humano, e para recres-
cer o bem estar da humanidade. Perdida seria
a Maçonaria quando se deixasse absorver ex-
clusivamente por qualquer doutrina particular
e distinta, ou por qualquer escola filosófica ou
social. Não mais seria o grande foco que ilu-
mina e aquece, que depura, anima, ensina e
despede todos os germens do bern, do bom e
do belo, que se achem na consciência humana».
(Cháine dllnion, 1889).
4
QUE É MAÇONARIA?
Esta pergunta é feita constantemente por muitos «pro-
fanos» e, até, por maçons que se não deram ao «trabalho»
de estudar a milenar Instituição dos «pedreiros livres».
Para o grande público a Maçonaria não é outra coisa
senão uma sociedade que oculta no mistério a puerilidade de
seu objetivo, o ridículo de suas cerimônias e a extravagância
de suas alegorias; uma Instituição sem razão de ser, sem fei-
tos notáveis que lhe dê ressonância, sem história, em uma
palavra.
Para certos sectários, malévolos ou ignorantes, é uma
conspiração constante contra Deus e o Estado, ou um centro
de perversão, cujos membros permanecem unidos pelos vícios
mais escandalosos. Para outros, não passa de uma associa-
ção secreta, clandestina, de abomináveis mistérios; de uma
associação de moralidade duvidosa, para destruição da or-
dem social; antro de crime ou sinagoga de Satanaz.
Destarte, nenhuma outra sociedade, entre as muitas que
têm existido no mundo, tem sido julgada com mais ligeireza.
nem mais paixão;, nenhuma mais ridicularizada pelos igno-
rantes, nem acerca da qual se hajam formado juizos os mais
contraditórios.
«Acusada aqui, porque é secreta; ali, porque é politica:
ocolá porque é inimiga da Religião; mais longe porque é re-
volucionária; e não falta quem a acoime de sanguinária, pro-
motora de guerras sociais, repastando-se nas desgraças da
humanidade».
Contra tudo isso revolta-se a verdade dos seus Anais,
através dos povos e do tempo.
A Maçonaria tem atravessado repetidos séculos, uma
vez que sua origem se perde na noite dos tempos. Sua filo-
sofia repousa na fé, na esperança e na caridade. É uma asso-
ciação completa, perfeita e forte, cuja história é um ensina-
mento de tôdas as virtudes, de tôda a moral, e dos mais
alevantados rasgos de patriotismo, dos mais arrojados come-
timentos e de tôda a escola da prática do bem.
A Maçonaria é uma Escola de dever, uma Academia
de moral; a única sociedade humana que, desde os mais
remotos tempos, se tem ocupado com o cultivo racional da
— 18 —•

inteligência, numa ascendente trajetória em busca da ver-


dade. Por isso já foi definida como «laboratório onde se
prepara os mais fortes laços de amizade, de solidariedade e
de amor», ou «religião da virtude».
Na sua atuação sempre adotou a verdade filosófica de
que «é necessário FAZER O HOMEM, antes de fazer pro-
gramai sociais, e fazer êsses programas somente para FA-
ZER O HOMEM». E. por isso, sempre foi sua a assertiva
do bom senso: oÉ necessário transformar o problema eco-
nômico em problema ético».
Associação universal e filosófica, reflexo de nobres ten-
dências inspiradas na mais perfeita tolerância pelas crenças
individuais, sua missão é, assim, altamente civilizadora, ten-
do por principio a lei do progresso, por divisa o sublime tri-
duo de «Liberdade, Igualdade e Fraternidade» e por objeto
lutar contra a ignorância debaixo de tôdas as suas formas.
Quem consultar, imparcialmente, a história de todos os po-
vos encontrará a Maçonaria pregando a unidade e a solida-
riedade humana; ora buscando a concórdia e a harmonia uni-
versal, ou exercendo a caridade acima de todo o pensamento
egoista.
A Maçonaria é alguma coisa mais do que o fundamento
de sua própria existência 'ou a legenda de sua origem; algu-
ma coisa mais do que a bondade escrita de suas doutrinas
e a consciência de sua duração. As Lojas são para alguma
coisa mais do que uma sonhadora espectativa ou a repetição
constante de suas cerimônias.
O desvio dessa rota, não cabe culpa á Magna Insti-
tuição e sim a adeptos seus que não puderam, ou não quise-
ram, compreender os seus objetivos de *Progresso» e de
«Humanidade». O mal não está, portanto, na doutrina, por./
que êle origina-se da fragilidade do homem. «É regra supre-
ma da Maçonaria: CUMPRA CADA UM O SEU DEVER.
ACONTEÇA O QUE ACONTECER. É uma questão de
caráter, e quem não se sentir capaz de sustentá-lo puro, em
teteias as emergências da vida, não será digno dessa Ordem».
E. por isso mesmo, uma alta autoridade da Instituição.
no Brasil, o grande jurista Antônio Joaquim de Macedo Soa-
res, seu 149 Grão-Mestre, afirmou certa vez numa Assem-
bléia da Instituição :

«Quem não for bom esposo, bom pai, bom ir-


mão; quem não compreender que a IGUALDA-
DE está na FRATERNIDADE; quem se não
— 19 —

sentir com ânimo viril para as batalhas e conquis-


tas da LIBERDADE, risque-se deste quadro, pois
não é digno do nome de MaçonD.

E é. ainda. dêsse eminente pensador e acatado homem


público, éstes conceitos:
«Somos associação secreta ? Mas a nossa
Constituição. os Regulamentos Gerais da Ordem.
os Códigos, os Rituais, os boletins são impres-
sos e correm mundo; são públicos aqui e em tõda
a parte da terra onde existem Lojas e Oficinas
maçônicas.
«Será porque trabalhamos de noite? É por
conveniência nossa; pois de dia temos as ocupa-
ções dos empregados civis, os encargos da famí-
lia, os mil afazeres da vida profana. Tambem tra-
balham de noite o Instituto Histórico e Geográ-
fico, o Liceu de Artes e Ofícios, a Sociedade Geo-
gráfica e tantas outras sociedades literárias e ar-
tísticas, institutos de educação, etc.
«Será porque não admitimos às nossas ses-
sões quem não faz parte do nosso grêmio? Mas é
de bóa educação e delicadeza de sentimentos dos
estranhos não virem, por vã curiosidade, espiar o
que fazemos. E demais, vós sabeis, tratamos aqui
de 'assuntos pessoais, obra de caridade, por exem-
plo, de Irmãos nossos ou de suas famílias, assun-
tos que não interessam senão a nós, que deseja-
mos praticar o bem segundo o preceito evangélico.
de dar tão ocultamente a esmola cora a mão di-
reita. que não saiba a esquerda.
«Será porque nos conhecemos e nos enten-
demos por «palavras». «toques». «passes» e «si-
nais», estabelecidos num ritual consagrado por
tradições seculares e universais ? Tambem os ,tem
as igrejas de tódas as seitas religiosas.
«Sociedade política! dizem os nossos adver-
sários. Sim, temos a nossa política. dela coaita-
mos e tratamos todos os dias. Mas, entendam-
nos, não exercemos a mesquinha política de al-
deia. de campanário, de partidos que ambicionam
o poder profano. porfiando no programa: Desce
tu. para que eu suba.
«A nossa política é mais elevada e digna; é
social e humanitária, e acha-se clara e explicita-
mente traçada nos primeiros artigos da nossa
Constituição.
«Mas sôis irreligiosos, sôis ateus! redarguem
os nossos mais implacáveis adversários.
«Não! não o somos. Nós trabalhamos sob os
auspicias do Supremo Arquiteto do Universo.
«Aquele a quem chamam ZEUS. os gregos:
DEUS os latinos; TEOVA os judeus; ALA os
maometanos, chamamos nós o Criador dos Mun-
dos, — GRANDE ARQUITETO DO UNI-
VERSO.
«E esta fórmula é compreensiva a tôdas as
crenças, de tõdas as religiões, de todos os indiví-
duos, de todos os povos, cujo estado cultural não
pode dispensar a idéia do ENTE SUPREMO,
por mais incógnita, por mais incognoscivel que
seja êsse ENTE, a misteriosa causa das causas.
«Revolucionários, anarquistas, sanguinários!
assacam-nos, ainda, estes epítetos.
«Mas às nossas revoluções são pacíficas, de
propaganda em favor do bem, da paz. da ordem
,social, da tranquilidade pública.
«No mais, não fazemos revoluções; a nossa
obra é coadjuvar a evolução do espirito humano
nas vias da razão e da 'justiça.
«Em vez de anarquizar, combatemos a anar-
quia .seja qual fôr o regime político que nos 'go-
verne. O que almejamos é, e tenho prazer em re-
peti4o, o bem estar da sociedade, a paz, que nos
permita viver tranquilos; a ordem, fundada na
justiça. Sem isso falharia o nosso programa de
melhoramento moral da raça humana».

Na marcha progressiva da civilização dos povos, até os


nossos dias, a Maçonaria há tomado parte sempre ativa, dou-
trinando incansavelmente a consciência do dever, do devo-
tamento, da disciplina, do respeito, da estima e da sinceri-
dade mútuas. Do amor, da virtude, da prudência e da jus-
tiça recíprocas. Da religião, da filosofia da ciência, sem a
estultice de absurdos dógmas. «LIBERDADE de exame: —
ela repele o fanatismo. Liberdade de pensamento. liberdade
de discussão — direitos imprescritíveis, cuja negação envi-
lece o homem e coloca-o no último degrau da escala de seus
sentimentos. Liberdade de palavras e de ação, enquanto não
for contrário ao direito dos outros. A Maçonaria propugna
pela IGUALDADE perante a Lei, sem distinção alguma; a
— 21 —

igualdade em tudo e por tudo; a igualdade na instrução, nos


direitos, nos deveres, nas funções públicas, impondo a todos
a responsabilidade dos seus atos.
A Maçonaria quer realizar a FRATERNIDADE. A
fraternidade que, destruindo o antagonismo desenfreado re-
gimentará as relações dos homens entre si. A fraternidade
que não consente inim homem morrer de fome à porta de
outro homem saturado de gozo e de prazeres, que renuncia-
rá à esmola humilhante para socorrer o infortúnio de uma
maneira mais nobre e mais digna». A fraternidade que.
suprimindo a guerra do povo ao povo, faça do universo uma
grande família, cuja 1verdadeira lei seja o amor.
A Maçonaria é, pois. antes de tudo, uma Escola. Escola
que ensina, pelo exercício do trabalho, da justiça e do dever,
a fortalecer o carater, a cultivar a bondade pela renúncia de
si próprio e em prol do bem coletivo, que é o único Bem.
N
A HISTÓRIA, não tem pátria a honrar,
não tem casta a defender, não tem família a
proteger. É Justiça que proclama a Verdade;
é marco, que aponta o passado; é luz, que cla-
reia os caminhos dos povos e das Instituições.
*A História não se rasga, não se amputa, não
se deforma, por considerações pessoais e me-
nos por espirito partidário. A História é um
processo judiciário onde se estabelecem as pri-
mícias, apuram-se as provas e profere-se a
sentença: — erga omites e adversas ornnes. —
contra todos e a favor de todos, conforme o
merecimento de cada um. Ao seu veredietum
não há meio de fugir. A execução será irnpla-
cavei e o juízo dos homens-imparciais ha-de,
com o sinete da autoridade, selar a autoridade
da Justiça


\I
ORIGEM E HISTORIA DA MAÇONARIA
Não é fácil afirmar-se a origem da Maçonaria, porque
a sua história, até o comêço de sua decadência, não foi
escrita.
O seu período prehistórico perde-se, assim, na noite
dos tempos. Sômente nos fatos gravados em pedras e em
mármores, e nos anais de Fraternidade semelhantes, e afins, •
podemos encontrar algo da primitiva Maçonaria, porque o
primeiro período é o da lenda, da tradição, da fábula, con-
tada de..bôca em bôca.
por isso que os escritores maçônicos divergem quan-
do tratam da origem da Ordem.
. Uns acreditam que os princípios maçônicos vêem do
Código de Maná: outros, das regras filosóficas dos ginoso-
fistas, dos Cataristas, dos Alquimistas, dos Ocultistas, dos
Cabalistas, dos Hermetistas. Muitos buscam a origem da
Maçonaria nos Mistérios dos Magos, dos Brâmanes, dos
Cabires, de Salomão, do Cristianismo, da Cavalaria.
Verdade é que remonta a milênios as Ordens iniciáticas.
Vassal diz que 100.000 anos da era vulgar, sábios Per-
sas, Hebreus e Caldeus formaram na Persia uma Associação
Mística, debaixo do nome de Magos.
A instituição dos Magos tinha por objetivo não só con-
servar secretos os vestígios das Artes e das Ciências dos
tempos primitivos, mas, também, a formação de um dogma
religioso que, sem assombrar os espíritos fracos, podasse con-
ter a fôrça brutal dos primeiros homens.
Desta sociedade em comum, nasceu a precisão de certos
símbolos, com o que a doutrina dos Magos se poude propa-
gar sem risco. A luz dos sábios foi, então, distribuida com
gradação, e seus iniciados nunca feiram acusados, nem de
aténs, nem de impostores.
Nos seus emblemas, nos seus princípios de moral, é que
alguns escritores vão encontrar a origem de certos graus da
Maçonaria.
Os Mistérios da 'India são de uma antiguidade tão re-
mota, que Buret de Longchamps a eleva a cincoenta séculos
antes da era vulgar, para estabelecer a História Geral do
Mundo.
— 26- —

O SCHASTA, primeiro livro indico escrito, ha hoje


5050 anos, parece ter sido o seu verdadeiro ritual.
Os Mistérios dos Bràmanes consistiam na Iniciação dos
sacerdotes que, sendo ao principio meritória e eletiva, se
tornou depois em casta privilegiada ...
A doutrina dêstes Mistérios era tõda teológica, e suas
experiências físicas, segundo Vassal, se aproximavam da
Maçonaria.
Os Mistérios da Cabires, que chegaram à Grécia 1950
anos antes da era vulgar, têm muita relação com a Ordem
Maçônica. Dèles, segundo Rhaer, Pitàgoras tirou a sua fa-
mosa Escola, dai porque alguns autores consideram Pita-
goras instituidor da Franco-Maçonaria.
Os Mistérios Judaicos. ainda que menos célebres que
os Mistérios Grêgos. não são, por isso, menos interessantes
a conhecer, porque, segundo a opinião de muitos eruditos,
servem, êles, de tronco à Maçonaria Moderna.
Alguns irraelitas, tendo habitado o Egito, e voltado de-
pois à Judéia, fundaram em 1550, antes da era vulgar, as
três seitas: CINIANA, RECABITES E ESSÊNIA. Mas de
tõdas, a última, que tambem foi a fonte do Cristianismo, é a
que mais relação tem com a Iniciação.
Os iniciados nos Mistérios Essénios viviam como ir-
mãos, e a iniciação a seus mistérios não era facilmente
concedida.
Quando um candidato se apresentava, êles o experi-
mentavam TRÊS ANOS, e antes de admitido era preciso
fazer o juramento de servir a Deus, amar e proteger os ho-
mens bons e, finalmente, guardar os segredos da Ordem, com
o perigo de vida. Os simbolos,as parabolas e as alegorias
eram para êles de uso familiar. Tal é a opinião de Filon,
Josef e Plínio.
Salomão, tendo sido iniciado nos Mistérios de Eleusis,
fundados por Orfeu, veio, no undécimo século, antes da era
vulgar, reorganizar em Jerusalém novos Mistérios Essênios.
Para alcançar tão justo fim. Salomão fez construir: não
só o singular templo material de Jerusalém, fazendo tratados
com Hiram II, rei de Tiro, e Hiram, o arquitéto; mas, tam-
bem, fundou um Templo alegórico para Iniciação, tomando
por modêlo a construção do primeiro, à qual se deu o nome
místico de MAÇONARIA, (denominação, que. segundo
Vassal e Dumart, não vem da Inglaterra, como quer Thory).
A Iniciação de Salomão teve por objeto um tríplice fim:
a TOLERÂNCIA, a FILANTROPIA e a CIVILIZAÇÃO
dós Israelitas. E é depois desta época que os Essênios foram
considerados como homens esclarecidos no meio de um povo
— 27 —

inculto, e tolerante, no meio de um povo fanático, tal é a


opinião de muitos sábios.
O Templo de Salomão foi destruido no ano 70 depois
de Cristo e os seus iniciados espalharam-se pela superfície
do globo e transmitiram os seus mistérios a outros povos.
A maioria dos escritores das ciências iniciáticas encon-
tram no Rei Salomão a origem da Maçonaria, chamando-a,
por isso, de ARTE REAL
Depois vêm os Mistérios do Cristianismo primitivo, cuja
doutrina se calcava em três grandes princípios: A Unidade
de Deus, a Liberdade do homem e a Igualdade ehtre os da
mesma familia.
Esses mistérios foram praticados por cerca de 200 anos,
em lugares subterrâneos e retirados. Vários escritores afir-
mam, também, que a Maçonaria é um ramo do Cristianismo
Primitivo. Os iniciados cristãos tinham símbolos para se en-
tenderem mais seguramente.
Por outro lado, a maior parte dos escritores franceses,
pretendem que os antigos Galos foram os primeiros povos da
Europa que tiveram iniciações maçônicas, atribuindo a sua
origem nos mistérios dos Cavaleiros e nos dos Templários.
Diz Llsero, que a Ordem do Templo e a Maçonaria
estiveram em contacto e se entenderam durante bastante
tempo, como o atesta, entre outras coisas, a semelhança exis-
tente entre o ritual de admissão dos templários e dos maçons,
semelhança que vai a tal ponto que um parece ter sido co-
piado do outro.
Depois da dissolução dos Templários, ainda afirma Use-
r°, muitos de seus membros passaram às Lojas Maçônicas
para salvarem-se, ali, das perseguições e da morte. Mas isto
ocorreu, também, com muitos perseguidos no transcurso dos
séculos, notadamente na Idade Média, quando existiram nu-
merosas Ordens Secretas, que defendiam idéias semelhantes
e eram perseguidas como heréticas.
Há entre os mais autorizados autores maçônicos, quem
vá buscar a origem da Maçonaria em Adão.
A chamada Constituição de Anderson, de 1723. no seu
Prólogo «para ser lido nas admissões de novos irmãos», in-
sinúa que os conhecimentos das Ciências Liberais, particu-
larmente de Geometria, veem do primeiro pai da humani-
dade:
«Indubitavelmente Adão ensinou GEOMETRIA a seus
filhos e o uso dela nas várias Artes e Ofícios, porque vemos
que Caíra edificou uma cidade, a que paz o nome do seu filho
HENOCH. Chegou Caim a ser o Príncipe da metade do
— 28 —

gênero humano e seus descendentes imitaram seu régio exem-


plo fomentando a nobre Ciência e a útil Arte.
«Não podemos supor que SETH estivesse menos ins-
truido, pois sendo Prçncipe de outra metade do gênero huma-
no, e o primeiro cultivador da ASTRONOMIA, teria muito
cuidado de ensinar GEOMETRIA e MAÇONARIA a seus
filhos, os quais tambem gozaram da enorme vantagem de que
Adão vivêra entre êles.
«Mas, prescindo-se de incertos relatos, podemos segu-
ramente inferir que o mundo antigo, que durou 1656 anos,
não podia desconhecer a MAÇONARIA, e que as famílias
de SETH e CAM construiram curiosas obras, até que ao
fim, NOÊ, o descendente de SETH, recebeu de Deus a
ordem de congtruir a ingente ARCA que, posto Risse de
madeira, foi fabricada segundo os princípios da Geometria
e as regras da Maçonaria.
«Noé e seus três filhos JAFETT. SEM e CAM foram
verdadeiros maçons, que depois do Dilúvio conservaram as
tradições e artes dos antidiluvianos e as transmitiram ampla-
mente a seus filhos, pois um século depois do Dilúvio, no
ano de 1810 do Mundo, 2194 a. de C., vemos grande núme-
ro deles, se não crida a raça de Noé, congregada no Vale
de Sinar ocupada, em edificar uma cidade e uma alta torre
que perpetuasse seu nome e evitasse a sua dispersão.
«Nas Comarcas entre o Tigre e o Eufrate floresceram.
depois, muitos eruditos sacerdotes e matemáticos, chamados
Caldeus e Magos que preservaram a nobre Geometria e os
rêis e magnatas estimularam a ARTE REAL.
«Portanto, a CIÊNCIA e a ARTE se transmitiram de
idade em idade a distantes climas, apesar da confusão das
línguas, que se bem divulgada entre os maçons a faculdade
e antiga e universal prática de conversar sem falar e conhe-
cer-se uns aos outros à distância, não foi obstáculo para o
progresso da Maçonaria em cada país e a comunicação dos
maçons em seu diferente idioma nacional.
«Não cabe dúvida de que a ARTE REAL foi introdu-
zida no Egito por Mitzrain, o segundo filho de Cam, seis
anos depois da confusão babilõnica e 160 depois do Dilúvio,
em 1816 da Criação do Mundo e 2188 a. de C.»
Em tudo isto está a razão porque não podemos saber,
claramente, onde começa e onde termina a verdadeira Maço-
naria, nos tempos primitivos.
Sabe-se, ainda, que. «muitos séculos antes das-Cruzadas
do Oriente, houve um Rei anglo-saxônio que esposara Edil-
berga, princesa cristã e se convertera ao cristianismo. Cha-
mava-se Edwino e foi Rei da Normandia.
— 29 —

Edwino procurou reformar os costumes de seu Pais, es-


forçou-se por ser um Rei justiceiro e dar aos seus suditos
os maiores benefícios possíveis. Reuniu em seus Estados
grande número de artistas e cuidou em agrupá-los conforme
os ofícios que êles desempenhavam, e a todos prodigalizava
honras e proteção.
Êsses artistas, operários que estavam encarregados da
construção dos edifícios públicoa, antes de começarem o ser-
viço qüotidiano, e depois que o terminavam, costumavam reu-
nir-se próximo das obras em um barracão, construção ligeira
provisória, como as que ainda hoje se fazem junto da pró-
pria obra e que serve para morada de um guarda ou vigia
para depósito de ferramentas e materiais. Daí é que vem
nome de loja e dessas reuniões nas chamadas lojas é que,
(segundo alguns), data a origem verdadeira da Maçonaria.
O Rei Edwino foi, destarte, o primeiro chefe da nas-
cente instituição maçônica.
Várias lojas reunidas constituiam uma Grande Loja e a
primeira Grande Loja, de cuja fundação existe documento
escrito e irrefutavel, é a de YORK, que data do ano de 926
da era vulgar, data da sua primeira Convenção, oficialmente
anunciada.
Não são mais fábulas e ficções, dizem uns. Aqui apa-
rece a historia escrita e documentada. Cessam as dúvidas.
Transparece a verdade dos fatos relatados em manuscritos
existentes.
Em seguida a fundação da Grande Loja de York, le-
vantam-se as de Strasburgo. Colônia, Viena e Berna.
Inicia-se a construção monumental das grandes cate-
drais da Europa. Tal é a suntuosidade dessas obras que
parece ser o Grande Arquiteto do Universo o Mestre que
as dirige! Não! São feituras de Maçons sômente, gênio de
iluminados, cuja glória perdurará pelos séculos dos séculos.
No século XII firmam-se as relações entre as Grandes
Lojas de vários paizes. Estabelecem-se Estatutos e Regula-.
mentos Gerais; a Maçonaria tende a ser universal. A Ingla-
terra conserva a hegemonia maçônica: os nobres ingleses
são maçons; os doutos, os grandes homens de Albion, são os
chefes da Instituicão.
No século XIII, na Alemanha, o bispo de Ratisbona, Al-
berto, — o Grande, frade dominicano, filósofo e teólogo de
nomeada, representa papel saliente na ARTE DE CONS-
TRUIR.
E a Maçonaria progride. reunindo em seu grêmio os
mais ilustres homens da época».
T--
Mesmo assim. Matias User°, missionario-católico, Ma-
estro Nacional, no México, conhecedor de obras clássicas
e autênticos escritos oficiais maçônicos, afirma que os pri-
meiros dados, rigorosamente históricos. sôbre Maçonaria.
são muito raros e escassos. As Atas mais antigas de reuniões
em 'Loja, segundo a autorizada opinião dêsse escritor, datam
de 1599. se bem, acrescente êle, que se conservem cópias das
antigas «Obrigações» e das «Leis IVIaçônicas», datadas do
século XIV.
A «Carta de Haliwel», por exemplo, data de 1390. sobre
o que ninguem pode pôr dúvidas.
Essas divergências veem, por certo, do fato de que a
Maçonaria, no segundo periodo, teve duas fases: a operativa.
vinda da antiguidade, isto é, das Construções, e a optativa,
— simbólica e moral, onde os seus adeptos são as pedras
para a construção de Templos à Virtude,.
Tanto é assim, que se dá oficialmente o século XVII
como a época da decadência da Maçonaria Inglesa. levando
Anderson e Desaguliers, dois devotados maçons, a se empe-
nharem para que a mesma voltasse ao «bom caminho». no
sentido espiritual, promovendo a sua reforma, reunindo, en-
tão, as quatro Lojas existentes em Londres, para constitui-
rem, a 24 de Junho de 1717. a primeira Grande Loja do
Mundo. do simbolismo iniciático.
Esses dois ilustres maçons, comissionados pela Ordem.
organizaram a nova Constituição, documento publicado em
1723. «dedicado ao Duque de Montagú, por ordem do Du-
que de Warton, Grão-Mestre dos «Franco-Maçons, por seu
Deputado, o obreiro J. T. Deasaguliers».
«Durante o século XVIII introduziu-se a Maçonaria em
quasi todos os paises da Europa: desde os mais poderosos
Remos e Impérios até os pequenos Condados, suportando o
embate das paixões do mundo profano, às ocultas ou de-
sassombradamente —, os maçons levantavam Templos à vir-
tude e cavavam masmorras ao vicio, defendendo os direitos
naturais».
Em Portugal, os ingleses estabeleceram a primeira Loja
Maçónica em 1733.
Da Europa passou a Maconaria à Asia à Africa. à Ocea-
nia e à América. No Novo Mundo a primeira Loja estabe-
lecida foi a do Canadá, no ano de 1721.

NO BRASIL

Na nossa Pátria, nademos afirmar com segurança, ante


os Anais Maçônicos Fluminenses, que as primeiras tentati-
— 31

vas de estabelecimento da Maçonaria datam do começo do


século XIX, embora que. oficialmente, se dê a data de 1822.
quando, em 17 de Junho dêsse ano, foi fundado o Grande
Oriente do Brasil.
Verdade é que desde o século dezoito, se encontravam
na Terra de Santa Cruz. maçons dispersos, iniciados no es-
trangeiro, mas que não ousavam formar lojas, receiosos da
perseguição do fanatismo dominante na época.
«Mas a civilização foi aplainando tõdas essas dificul-
dades, até que. no ano de .1800, cinco maçons, dêsses disper-

sos, formaram (no Rio de Janeiro) uma Loja e começaram,
com inviolavel segredo, a iniciar pessoas que gozavam de
crédito, instruidas e bem morigeradas. Esta primeira Loja,
que se chamou UNIÃO, avultou logo em adeptos e, como
nela se incorporassem outros maçons que já, então, princi-
piavam a trabalhar, concordaram todos, em memória disso,
em fazer um só corpo, para melhor se coadjuvarem, cha-
mando-se desde logo REUNIÃO».
«Já os maçons fluminenses trabalhavam com alguma
regularidade no antigo Rito dos doze graus quando, feita a
paz de Amiens, entrou no porto do Rio de Janeiro a Corveta
de guerra francesa «Hydre» ,com destino a Ilha de Borbom,
e porque Mr. Laurent e mais alguns oficiais Rissem maçons,
pediram para visitar a Loja e. cheios de admiração. à vista
do zélo com que debaixo de tantos perhos se trabalhava,
DERAM ATESTADO DO SEU RECONHECIMENTO e
aceitaram contentes a prancha que se lhes ofereceu para Filia-
rem a Laia REUNIÃO no Circulo do Oriente da ILHA DE
FRANÇA, o que se efetuou, recebendo-se dali, por intermé-
dia do mesmo Mr. Laurent. a CARTA DE RECONHECI-
MENTO E FILIAÇÃO. os Estatutos e Reguladores, que se
costumam dar em tais casos».
«Poucos meses depois. em 1804. apareceu, vindo de Lis-
boa. urn Delegado do Grande Oriente Lusitano com a Cons-
tituição e Regulamentos ali organizados, querendo, quase por
fõrça, que a èle se submetesse a Loja REUNIÃO».
Nesse particular a luta prosseguiu. Outras lojas fcram
fundadas na Bahia e Pernambuco, sob os auspicios do Gran-
de Oriente Luzitano e do Grande Oriente de França, e. al-
gumas independentes, sem obediência estrangeira, mas Cicias
trabalhando no Rito Adoniramita, ou dos doze graus.
«Mudando-se a Córte Portuguésa para o Brasil, as lo-
jas REUNIÃO. CONSTÂNCIA E FILANTROPIA e
EMANCIPAÇÃO, então existentes, prosseguiram em seus
trabalhos, não obstante a intolerância do Govérno, e insta-
lou-se outra loja com o titulo distintivo de S. JOÃO DE
— 32 —

BRAGANÇA, composta, em parte, de empregados do Paço


e com ciência do Príncipe Regente. além da loja COMER-
CIO E ARTES instalada em 1815 e que se conservava inde-
pendente, adiando a sua incorporação ao Grande Oriente
Lusitano, porque seus dignos membros aspiravam à instala-
ção de um Supremo Poder Maçônico Brasileiro».
Eram os ideais de patriotismo se confundindo com os
ideais maçônicos de Liberdade.
«Em Campos dos Goitacazes, existia, tambem, uma loja
independente a que seguiram-se outras com os títulos de
FIRME UNIÃO, UNIÃO CAMPISTA e FILANTROPIA
E MORAL. Na Bahia tinha se instalado uma Grande Loja
que não progrediu, nem se fez reconhecer, caindo progressi-
vamente em marasmo as lojas que lhe serviam de base, à
exceção da que tinha 'por titulo «HUMANIDADE».
«Em Pernambuco existiam algumas lojas em atividade e
um Capítulo que trabalhava regularmente e possuia as preci-
sas decorações».
Em outras Províncias os ideais maçônicos iam encon-
trando adeptos e outras lojas, aqui e ali, se organizavam.
Em 1817, com o rebentar da revolução em Pernambuco,
a Maçonaria passou a ser perseguida pelo Govêrno, sendo
suspenso o funcionamento das lojas, então existentes.
Afirma, porém, o autor da «Exposição Histórica da Ma-
çonaria no Brasil», que o zêlo maçônico não adormeceu.
«Reuniram-se em outros pontos, reconhecendo-se que o fim
da Ordem não era somente a beneficência, mas, tambem, o
melhoramento da espécie humana, pelo aperfeiçoamento dos
costumes, das ciências e das artes, pela liberdade do comér-
do e pelo desenvolvimento e' proteção à agricultura, fontes
primárias, tõdas essas, da riqueza das nações que têm amor
ao trabalho».
A opressão, ao invés de trazer esmorecimentos, fazia
que as reuniões das lojas tomassem fórça e vigor.
A Loja «Comercio e Artes», cuja atuação era das mais
importantes, em 1822, dividiu-se em três para dar lugar a
instalação do Grande Oriente do Brasil, poder maçónico in-
depente do de Portugal.
As três lojas, chamadas metropolitanas, tomaram as de-
nominações de «Comercio e artes», conservaçãe do nome
antigo, «União e Tranquilidade» e «Esperança de Niteroi».
O, novo Poder Maçônico, ou «Grande Oriente do Bra-
sil». conseguiu ser reconhecido pelas maçonarias da França,
Inalaterra e Estados Unidos, passando a ter uma atuação
brilhantíssima na história da recente Nação Brasileira.
Assim é que, nesse mesmo ano de 1822, na Assembléia
— 33 —

Geral do Povo Maçônico, realizada no dia 20 de Agosto,


a Independência do Brasil era solenemente proclamada. Pe-
dro I fóra iniciado maçon, tomando, assim, conhecimento do
movimento que se projetava.
Depois do 7 de Setembro, a Maçonaria experimentou
novas perseguições. Fundára-se uma sociedade com o titulo
de APOSTOLADO, adotando sinais, toques e palavras, di-
vidida em centúria e decúria, sendo um de seus fins guerrear
Grande Oriente do Brasil.
Em plena Câmara, membros do «Apostolado», chega-
ram a pedir a deportação dos verdadeiros maçons.
O Imperador Pedro I, então Grão Mestre, ordenou o
fechamento de' tôdas as lojas maçônicas, ato que foi entregue
ao eminente maçon Joaquim Gonçalves Lèdo, quando. no dia
27 de Outubro desse mesmo ano de 1822. presidia uma reu-
nião da Grande Loja, na qualidade de seu Primeira+ Grande
Vigilante.
Muitos maçons fôram, então, presos na Fortaleza de
Santa Cruz, processados e deportados. (1)
(1) Lista dos Maeons deportados, processados e perseguidos no
ano de 1822. sendo Ministro de Estado José Bonifácio de Andrade:
JOSE PEREIRA DA ~REGA — Brigadeiro, Ministro da Guerra.
Demitido logo depois da Aclamação, foi prêso com grande aparato, reco-
lhido b Santa Cruz e deportado para o 1-lavre.
JOSÉ CLEMENTE PEREIRA — Desembargador, Juiz de Fora e
Presidente da Câmara Municipal. Demitiu-se nos dias da intriga e reco-
lheu-se ao seu engenho. De lá mesmo foi arrancado prêso. recolhido
Santa Cruz e denortado para o Havre,
JANUARIO DA CUNHA BARBOSA — Sacerdote e professor público
de filosofia. Tinha Ido â Provinda de Minas aclamar o Imperador, vol-
tava dali concluldo éste serviço. Em caminho, e a 20 legues da Cidade
de Ouro Preto, foi preso por um oficial mandado da CfIrte com essa
comisslio; recolhido â Santa Cruz e dentro em poucos dias deportado para
Havre com os dois antecedentes.
JOAQUIM GONÇALVES LEDO—Conselheiro pela Provinda do Rio de
Janeiro. Foi grandemente perseguido, mas escapou-se por entre muitos
perigos e asilou-se em Buenos Aires, enquanto durou o Ministério An-
drads.
JOÃO MENDES VIANA — Capitâo do Corpo de Engenheiros. Tinha
sido enviado a Pernambuco, onde muitos e bons serviços prestou â cau-
sa do Brasil e do Imperador. Foi ali perseguido por ordem do Ministério,
pito, remetido ao Rio de Janeiro, onde por muitos meses foi conservado
incomunicável na Fortaleza da Lago, e em, seu processo se procurou todo
meio de o perder.
ANTONIO JOÃO DE LESSA — Sacerdote e -fazendeiro. Escapou a
milhares de perseguice5es e buscas, dormiu muitas vezes no mato, des-
confiado até de seus próprios escravos, peitados para o entregarem; refu-
giou-se em Buenos Aires donde voltou com Ledo, acabada a perseguiçâo
ministerial.
JOÃO SOARES LISBOA — Redator do «Correio». Sofreu muitos Incô-
modos. Fugiu tarnbem para Buenos Aires. (Os escritores liberais fáram
os mais perseguidos) Domingos Alves Branco, Munia Barreto, Todo Fer-
nandes Lopes, Pedro José da Costa Barros, Joaquim Valério Tavares,
Joâo da Rocha Pinto, Tomaz José Tinoco, José Joaquim de Govea e
Luiz Manoel Alves de Azevedo.
Todos estes macons fóram pronunciados na celebre Devassa. Meti-
doe em Santa Cruz, depois, por grande favor, removidos para a Ilha
das Cobras, onde permaneceram alguns meses, mas donde Beiram em
triunfo, por sentença que os declarou sem crime.
(Dos «Anais Maçónicos Fluminenses», de 1832, publicado
no Boletim do Grande Oriente do Brasil. n* 10, Dezembro
de 1898).
O «Apostolado», porém, teve duração efémera. Pouco
tempo depois do fechamento do Grande Oriente, o Impera-
dor invadiu, de surpresa, uma de suas sessões, ordenou a
retirada dos sócios, tomou conta do arquivo, dissolvendo,
destarte, a Sociedade.
«Mais tarde o Imperador, querendo mostrar-se arrepen-
dido, mandou decorar um Templo na sua quinta e chácara
da Ponta do Cajú e convOcou os Veneráveis das Lojas Me-
tropolitanas para que ali fõssem efetuar suas sessões. Con-
sultados, porém, os operários, êstes se recusaram acceder
ao imperial convite».
Obstinado, como era, o então Grão-Mestre e Imperador,
convocou os maçons funcionários públicos e outros elementos
de sua casa, reunindo-se em Loja, e, até, iniciando profanos.
Essas lojas provisórias não poderam prosseguir nos tra-
balhos maçônicos. Reconhecendo o Imperador a fraqueza do
seu malhete. nêsse particular, abandonou o intento de fazer
maçonaria à fõrça.
Com êsse incidente a Maçonaria Brasileira passou nove
anos adormecida, sem atividade digna de nota.
Em 1831 reinstalaram-se as lojas Metropolitanas. O
Grande Oriente reabriu as portas do Seu Templo. No ano
seguinte, organizava-se a Constituição Maçónica do Brasil,
(24 de Outubro de 1832»).
Nêsse mesmo ano foi sobredita promulgação realizada,
organizando-se a Companhia «Glória do Lavradio», enti-
dade que construiu o magestoso prédio onde, hoje, funciona
o Poder Central da Maçonaria Histórica do Brasil.
Proliferou, então, por tõdas as Províncias a criação de
Lojas Simbólicas e Capítulos Maçônicos, sendo que o Gran-
de Capitulo Provincial da Bahia. estabeleceu-se no mesmo
ano de 1832.
Os trabalhos maçônicos tomaram vigor, em nossa Pá-
tria, reunindo em seus Templos a fina flor do mundo brasi-
leiro e construindo um patrimônio histórico elevado. nobre e
patriótico.
— 35 —

TÁBUA CRONOLÓGICA DA MAÇONARIA


Datas oficiais da introdução da Maçonaria nos diversos
Estados do Glt5bo, desde a sua reforma, até 1830. conforme
4
• publicação em «I2EVUE MAÇ., n° I, do ano citado.
EUROPA:
Inglaterra, Escócia e Irlanda 1702 = França . 1725
Hespanha 1728 = Suécia . 1730
Nápoles. Holanda e Russia . 1731 = Toscana e Portugal 1733
• = Sardenha, Saxonia e Bar-
Arnburgo e Suissa 1736 viera . 1737
Prússia, Austria e Turquia 1738 = Polónia 1739
Malta 1740 — Dinamarca 1742
Boémia e Hungria 1744 — Noruega 1747
Guernesey e Jersey 1753 — Hanover 1754
ASIA :
Bangala 1728 — Turquia . 1738
Madrasta 1752 — Ceilão . 1771
Surate 1776 = Ilha do Príncipe de Gales 1780
Pérsia 1812 = Pondicheri e Bombaim 1820
AFRICA :
Cabo Costa 1736 — Ilha de Burbom 1774
Ilha de França 1778 = Cabo da Boa Esperança 1781
Santa Helena 1798 — Serra 1.~ 1819
Senegal 1822 — Ilhas Canárias 1823
AFRICA :
Canadá 1721 — Massachu.ssett 1733
Geórgia 1735 — Carolina do Sul 1736
New-York e S. Cristóvão 1737 = Martinica 1738
Antígoa . 1742 — Jamaica 1743
Ilha Real 1745 — S. Domingo 1749
Pensilvtinia 1753 = Barbada, Guadelupe, S.
Eustáquio . 1754
Nova Escócia 1762 — Grenada 1764
Virginia e Terra Nova 1765 = Guiana Holandesa 1771
I Bermudas 1774 — Lusiana 1784
S. Toma: 1818 = Honduras e S. Vicente 1819
Cuba 1821 = Dominica e Brasil (*) . 1823
Colámbia e México 1824 — Guiana Francesa 1827
OCEANIA:
Java 1769 — Sumatra 1772
Nova Gales do Sul 1828
(*1 A data mais certa é 1822,
quando foi fundado, oficial-
mente, o Grande Oriente do
Brasil.
A VERDADE é a irmã gêmea da CONS-
CIÊNCIA. «O homem tem uma necessidade
vivissima da verdade. E-lhe tão preciosa
como o ar que respira. Quando ouve uma
mentira, ofende-se; quando a diz, ofende e é
ofendido».
aA Consciência é a inspiradora dos deve-
res; é o coração da piedade, da humanidade e
de outras virtudes, menos pintadas que os me-
ros deveres e obrigações da razão».
Quando a Consciência morre, a verdade
adoece Quando a verdade se apresenta
altiva e forte, é gorque a Consciência está viva
e altaneira. É a glória de ambas, para a feli-
cidade de todos, — do passado, ou do pre-
sente.
r
epler - 41•ffileik ali
o

OPINIÃO PONDERADA E INSUSPEITA


DE FREI CANECA
Quem conhece um pouco de história do Brasil, não igno-
ra quem foi, entre nós, FREI JOAQUIM DO AMOR DIVI-
NO CANECA: Pernambucano ilustre, poeta, escritor e reno-
mado orador sacro. Amante da liberdade do seu povo e da
emancipação de sua Pátria, que soube amar com verdadeiro
patriotismo. teve ação destacada nas revoluções de 1817 e
na «Confederação do Equador», em 1824. custando-lhe anos
de prisões e, por último, o seu fusilamento.
Na sua obra politica e literária. volume 2. folhas 389.
vamos encontrar a valiosa, ponderada e insuspeita opinião
do erudito frade, a respeito das sociedades secretas, existen-
tes em Pernambuco em 1823, especialzuente sobre a MAÇO-
NARIA.
Diz ele :
«As sociedades, pois, que ouço dize haverem em Per-
nambuco, são a MAÇONARIA, a JARDINEIRA, ou LE-
PORÓTICA, o APOSTOLADO e a de SÃO JOSÉ ou
BENEFICENCIA.

«A MAÇONARIA, a JARDINEIRA, e BENEFICÉN•


CIA inculcam propor-se a fins justos, tendendo ao melhora.
mento da espécie humana e sua conservação, e nenhuma
envolve negócios de religião ou política, Porém o APOSTO-
LADO é todo e puramente político, porque o seu fim é cons-
tituir o império do Brasil. de um modo que eu direi».
Depois de tecer longos comentários e fazer importantes
revelações sobre essas sociedades, Frei Caneca dedica uma
Carta (10) a DAMÃO, particularizando a MAÇONARIA,
(Página 400). e assim elaborada :
«Meu caro Damão. — Pedindo a S. Jerónimo
Marcela. nobre matrona romana, que lhe explizesse
que era o ephod bad, e o Serafim dos hebreus. lhe
disse o santo doutor:
«Vós pensais que se eu possuo a cadeira dos
fariseus, para tendas as vezes que questionam das
palavras hebraicas, me escolherdes pór árbitro e juiz
— 90 —

da lide? (lib. 1. Ep. 44). Isto, que o santo doutor


clipe das palavras hebráicas, te digo eu a ti das ma-
térias, sobre que me tens consultado.
Não te importa, que elas sejam alheias da mi-
nha profissão, ou superiores à minha fraqueza, ou 3
não as tenha eu estudado previamente, o que queres
é ser instruido; e assentas que posto êste principio,
ou eu devo de adivinhar, ou por força se ha de veri-
ficar a meu respeito o nolf t cogitare quomodo vel
qttid loquamini. Fica, pois, certo de que essa pro-
messa do Salvador é relativa aos negócios da fé e
vida eterna, e às ocasiões, que lá sabe o mesmo Sal-
vador. Pelo que, não havendo eu praticado a máxi-
ma oportet studuisse, et studere, hei-de cair em mui-
tas falhas, porque nem sempre tenho tempo e como-
didade de ler, e ruminar o que leio; e estou pela opi-
nião do que disse, que saber as cousas mal, é pior
do que não sabê-las.
Eis o meu estudo quanto às sociedades secretas:
Para te satisfazer aos desejos, atropelei meus
trabalhos, dei quatro voltas ao miOlo; e assim mes-
mo sabe Deus quantas cousas disse, e hei de dizer,
que sejam objetos de riso aos que forem dessas con-
frarias. Mas como til queres que eu seja um vene-
ravel Beda, que em todas as matérias deu suas pe-
nadas, vou contigo; e quem não achar verdade e
exatidão no que hei dito e hei de dizer, tem à mão
o remédio, mostre-me a verdade, que lhe ficarei as-
saz obrigado, pois seguindo diversa estrada de ou-
tros, que querem passar por oráculo, e se escanda-
lisam das opiniões contrárias às suas, eu estimo em
mais confessar, que errei, e aprender, do que ficar
em êrro e bruto; não sou menos dócil, nem menos
amante da verdade, do que Gravesoud, que à face
de todo mundo protestava — Non pigebit etiam,
sicubi haereo, qucerare, et subsidio mihi diligentiaxn
comparare; sicubi nescio, discere, sicubi erro senten-
tiam mutare.
Depois do que te disse das outras sociedades de
,Pernambuco, só me resta falar-te da Franc-Maço-
naria, vamos, pois, ao negócio.
A Franc-Maçonaria está mais adiantada do
que a Jardineira, porque está aqui há mais tempo
estabelecida e mais acreditada pela sua antiguidade
no universo, universalidade na Europa, grandes per-
sonagens, que nela tem Figurado, pelos bens que há
— 41 —

feito à humanidade, mormente no tempo da revo-


lução francesa, e, de presente, na causa da nossa in-
dependência e liberdade politica.
Desta célebre sociedade muito se tem escrito
pró e contra, em todos os tempos e em tôdas as lín-
guas; e o homem que tem critério e tino, da compa-
ração destes diversos escritos, do peso de seus argu-
mentos, e da história do estabelecimento desta Or-
dem no oriente e ocidente, seus trabalhos, suas per-
seguições, pode fazer um juizo seguro do seu espiri-
to e fins, da justiça e injustiça com que se a trata
atualmente em Portugal e Brasil.
Entre a aluvião de livros, que correm a éste
respeito por mãos de todos, os que têm chegado às
minhas, que tu tambem pódes consultar, são estes:
Abade Barruel nas suas «Memórias do Jacobinis-
mo», o «Compadre Mateus», cap. 14; José Agosti-
nho de ,Macêdo na sua «Atalaia» contra Pedreiros
Livres: o marquez de Caraccioti no «Gozo de si
mesmo», cap. 31; o «Cidadão Lusitano» do abade
de «Medrões»: as «Cartas Maçônicas» de Hipólito
José da Costa: o «Manifesto» do brigadeiro Bran-
co; a «Resposta à carta do — Amigo da ordem»; a
«Atalaia», do Rio de Janeiro, ns. 2 e 3; o «Ritual»
da sociedade maçônica; as «Instruções dos graus su-
blimes»; o «Compêndio da História Eclesiástica»,
de Bérti; «Século XVIII e a «Enciclopedia Ingleza»,
artigo «Free maçonry», a «Livraria Maçónica», de
Samuel Cole; a «Resposta à Análise crítica do In-
vestigador».
Estou persuadido, que o teu juizo prudente e
crítico da lição dêstes escritos, conhecerá o que é
esta Ordem, as falsas idéias, que dela faz o vulgo.
a velhacaria em comum dos eclesiásticos sem dou-
trina, que, entregues ao ócio e indolência, fazem,
como diz o Psalmista, de se instruirem, só afim de
não se verem obrigados a seguir a verdade, e pra-
ticar o bem, anolunt intelligere, ut bene agerent».
A palavra Franc-Maçonaria significa: — re-
gra ou sistema de mistérios e segredos peculiares à
sociedade dos franc-maçons —. A Franc-Maçonaria
é uma antiga e respeitavel instituição, que abraça
indivíduos de tôdas as nações, de tôdas as religiões
de tôdas as condições. Na sua origem foi o con-
gresso dos sábios que, tratanto da arquitetura, a pri-
meira e mais útil profissão da sociedade, concentra-
— 42 —

ram em si os conhecimentos da geometria e filosofia


mecânica, das artes do desenho, da escultura e ou-
tros difíceis e elegantes ramos dos conhecimentos
indispensavelmente necessários para se formarem
aqueles arquitetos antigos; cujas obras, ainda nos
seus estragos, arrebatam a ,admiração dos sábios
modernos.
Para se conseguir este fim, os seus candidatos
eram obrigados por um solene juramento de nunca
divulgarem, aos que não eram iniciados, os segre-
dos da Ordem, que lhes haviam sidos confiados,
nem os processos e planos, em que se fundava a liga
fraternal; e afim de se não sujeitar êste juramento
ao risco de ser violado pela falta de conhecimento
dos que eram irmãos, estabeleceram-se palavras
apropriadas e sinais significantes, para se diferen-
çarem os irmãos da Ordem o direito, que se tinha
aos privilégios de irmão, e poder ser socorrido na
necessidade e desgraça, ainda em terras distantes.
Os membros se iam promovendo a diversos
graus, conforme o seu adiantamento nas ciências,
e desempenho dos ofícios da Ordem.
Em tempos regulares tinha a confraria suas
assembléias de banquetes nas lojas estabelecidas
para isto.
A temperança e a concórdia car,acterizatain
essas assembléias.
Punham-se de parte tõdas as distinções de qua-
lidade e representação civil, tõdas as diferenças de
sentimentos políticos e religiosos; e aquelas peque-
nas discórdias, que costumam perturbar o descanso
da vida privada, se esqueciam e deixavam de agitar
os espíritos.
Esta é a verdadeira descrição da origem, espí-
rito e fins desta sociedade, nada obstante haver
quem diga, que ela é invenção dos ex-jesuitas in-
gleses; outros, que foi do tempo das cruzadas, no
qual era uma segunda ordem de cavalaria; outros,
da instituição de Pitágoras: outro, finalmente, com
grande audácia e malícia, que ela procedeu das as-
sociações secretas contrárias aos interesses dos le-
gítimos governos, e que prosseguem o malvado e
quimérico projeto de nivelar as distinções, sociais,
e de libertar o gênero humano das sagradas obriga-
çõeses da religião e da moral: por quanto, no sábio
artigo Fite maçonry, da Encielopedia Inglesa, se
destroem como insubsistentes, fabulosas e calunia-
doras fedas estas opiniões com argumentos tão sóli-
dos e demonstrativos, que nada deixam a desejar-se.
A Franc-Maçonaria, portanto, presidiu a fábri-
ca das monstruosidades do Egito e nela foram admi-
tidos os sacerdotes dêsse reino. A instituição dos
mistérios eleusinos, a de pamatenea, e mistérios dio-
nisianos foi posterior, por isso se acham nestas algu-
mas coisas semelhantes às da Franc-Maçonaria, e
ela presidiu a edificação do tempo de Salomão; e,
por esta razão, havendo precedido aos Kacideanos,
destinados a guardar o templo de Salomão, e que
fôram o principio dos Essênios, não admira que
êstes tenham uma economia de seus colégios, alguns
ritos semelhantes aos das lojas maçônicas.
Passando-se do oriente ao ocidente, ela foi se
conservando até o tempo do Teodoro imperador,
em que a abolição dos ritos gentílicos fez um choque
terrivel em todo o império, e as associações secretas
fôram abolidas por um decreto do imperador; o
qual não obstante os antigos mistérios foram acul-
tamente observados até que, com o favor das cir-
cunstâncias dos tempos, apareceu na Europa a so-
ciedade comerciante dos Franc-maçons ou arquite-
tos, que fôram protegidos pelos bispos de Roma, e
alguns príncipes da Europa, para fábrica das gran-
des obras de arquitetura, quer profanas, quer sa-
gradas, que se admiram em tóda a Europa.
Éste favor lhe deu ocasião de se estabelecerem
na Escócia e na Inglaterra, onde floresceu no rei-
nado do Henrique VI.
Daqui se passou à França, onde padeceu suas
alterações; depois foi introduzida nas Índias Oci-
dentais, América, Alemanha, Africa e outras mui-
tas partes, que causaria enfado nomear.
Mas, ao mesmo tempo que a Franc-maçonaria
florescia nestes lugares, os negros fados lhe decre-
taram o sofrimento de perseguições em outras; e
aquela mesma Roma, que outrora havia acolhido a
sociedade dos arquitetos, e depois de utilizar-se de
seus conhecimentos, os havia desconhecido, agora
os persegue por uns mal fundados ciumes de Mi-
perantes despóticos e profunda superstição de al-
guns padres.
o douto Berti, que na sua História Eclesiás-
tica nos ensina, que príncipes podendo suspeitar,
- 44 -

que nesta sociedade, a que os franceses chamam Des


Pane- maçons, e os italianos Dê libere muaratori, se
maquinasse contra a república e os prelados da igre-
ja ,que houvesse algum fomento de vícios e erros,
Benedito XIV. e Clemente XIII, Pontífices Roma-
nos. e Carlos, rei das Duas Sicilias, á proscreveram
com leis rigorosas, fundadas naquela sentença do
Evangelho que já citei sobre a Jardineira, desconfi-
ando muito do segredo impenetravel, que elas pro-
fessavam, lembrando-se que dos esconderijos dos
Prescilianistas saira o ímpio axioma — Jura, perjura
secretum pandere noli, — jura e perjura mas não
reveles o segredo. — Ë digno de ler-se em já citado
Berti a maneira por que êle se explica sabre os mo-
tivos desta proibição (Tom. 2. Brev. Hist. Ecl.)
Estes motivos da Itália, que não são de forma algu-
ma indecorosos aos franco-maçons, fôram os mes-
mos que obrigaram aos Estados Gerais da Holanda
a fazerem a mesma proibição no ano de 1735, tra-
zida pelo redator da Atalaia do Rio de Janeiro. n9
2; e como a malícia daquele redator os suprimiu, só
a fim de fazer mais sólido o seu argumento contra
esta sociedade, que cordial e gratuitamente abor-
rece, nós as traladamos aqui da Enciclopédia In-
glesa.
Esta sociedade, pois, se acha aqui estabelecida
há muitos anos, e se tem propagado por tôda a Pro-
víncia. Tem sofrido uma oposição teimosa da parte
dos ignorantes, fanáticos e hipócritas, mormente
clérigos tumbeiros, e dos frades exorcismadores de
diabos e benzedores de quebranto. O povo. con-
duzido por tais mestres, que de puerilidades, incoe-
réncias e monstruosidade não pensa a respeito dás-
tes homens? Excitam a maior compaixão ao filósofo
e ao homem sensível. O que sucedeu na morte de
um oficial da marinha, Carvalho, foi o espelho em
que se viu limpamente a estupidez e a ignorância
dèste povo.
Morreu o Carvalho, e antes do seu trânsito
mandou dizer ao intendente da marinha, que éle
era maçon, queria ser enterrado com as decorações
do seu grau na Ordem, e que seus irmãos o acom-
panhassem à sepultura. O intendente afixou editais,
participando éste negócio aos que fôssem maçons.
Ai. temo-Ia boa. Vê tu lã ,meu Damão, que cousas
não haveriam!
— 45 —

Assanharam-se os eclesiásticos, discípulos de


Bosumbeau, os iniiãos da apainha, os procuradores
de causas, os capadócios, os capotes. os paia senho-
res, e tócla esta boa gente, que pisando aos pés os
deveres mais sagrados da religião, de súditos e ci-
dadãos, contam com o ceu só porque trazem penden-
tes do pescoço os bentinhos do Carmo, ou cingido o
cordão de S. Francisco, e ficaram tão arrepiados,
que eu sempre esperei alguma sedição, daquelas que
costumava fazer Barrabás em Jerusalem.
Que de extravagâncias se não ouviu da bóca
dèsses tais?
Uns pretendiam que o cadaver estivesse feden-
do a enxofre do inferno; outros, que o diabo ao
lado do morto espirrando, saltando, bodejando, fi-
zesse esgares e caretas horríveis: outros, outras vi-
sões dêste lote. Qual, porém. não foi a surpreza,
quando em lugar destas esperanças, acharam o ho-
mem condecorado de um avental e insígnias, em que
estavam esculpidos a cruz de Jesus Cristo, o vexilo
do cristão, o estandarte da igreja e figuras emble-
máticas de virtude!
Quando souberam pela confissão de um sacer-
dote, que assistiu o homem nos últimos paroxismos,
que êle era católico-romano, filho obediente da igre-
ja, de uma consciência pia e morigerada, e que mor-
rera socorrido dos sacramentos da igreja 1
Muito pode, meu Damão, a ignorância; e mui-
to mais se é soprada da hipocrisia e fanatismo. Há
muito que escreveu uma pena filosófica:
Cout ce qui a l'air de mystère, tont ce
qui est hors de la portée de l'intelligence et
de la conception du vulgaire, est à ses yeux
ou sacré ou profane, ou abominable, isto é,
tudo que tem ar de mistério, tudo que está
Fora do alcance e concepção do vulgo, é aos
seus olhos ou sagrado, ou profano. ou abo-
minavel».
Foi por êstes motivos, e pela demasiada curio-
sidade de algumas senhoras alemãs, que pretendiam
de seus maridos e adoradores a manifestação dos
segrédos da Ordem, que elas, inflamando o ânimo
de Maria Teresa, Imperatriz Rainha, obtiveram a
ordem de mandar surpreender todos os maçons das
lojas de Viena no tempo em que estivessem congre-
gados em lo'ja; o que não surtiu o desejado efeito.
por cuidar o imperador José J. que era éle mesmo
maçon, e declarar-se por fiador à Rainha da boa
conduta de seus irmãos, e mostrou ás senhoras e
aos seus amigos, que as acusações contra a Ordem
eram falsas e difamatórias, pelo que temendo os
maçons, amigos da igreja de Roma, outras perse-
guições, se refundiram em uma reforma debaixo do
nome Mópsos, admitindo nela as mulheres.
Não só a ignorância te 'lidado aso para a calú-
nia e perseguição dessas sociedades, como tambem
o ressentimento de alguns, por serem delas expul-
sos, e o de outros, por não serem admitidos. Do
primeiro caso nos oferecem um terrivel exemplo os
mesquinhos templários, ordem tão respeitável por
todos os títulos; os quais sendo acusados por dois
indignos membros, que tinham sido expulsos e casti-
gados. acharam na avareza e barbaridade de Fe-
lipe Formoso a sua ruína e a sua aniquilação. com
tanto estrangulamento da justiça, horror da huma-
nidade e escândalo do mundo universo. Do segun-
do, temos o exemplo em casa, com a oposição e ca-
lúnias feitas contra a Sociedade Patriótica por pes-
soas, que procurando ser nela admitidos, não con-
seguiram o seu intento, apesar de não ser esta so-
ciedade secreta; pois havia manifestado ao govèrno
a sua instalação e os seus fins, e foi acolhida pelo
mesmo goto, animada para continuar nos seus
trabalhos, como tudo se vê de dois ofícios insertos
na Cegarrega de 6 de Agosto de 1822, n^ 15.
Destas considerações se conhece, que a Maço-
naria não é oposta ao cristiânismo, nem tem cousa
alguma com as diferentes formas de govérno, pois
que se acha estabelecida e florescente em nações
republicanas, aristocráticas e monárquicas; o que
tudo é contrário às ilakões do pateta do Atalaia,
que, segundo o temperamento de todos os velhos,
se adianta em memória do que léu, e perde o racio-
cínio da idade viril.
Eis o que eu penso, meu caro Damão. da Frane-
maçonaria.
Depois de haver dito o que sabia das socie-
dades secretas de Pernambuco, extraido do que hei
lido e ouvido, devo desempenhar a palavra, que te
dei de fazer algumas reflexões sobre elas. Dos as-
suntos, que tem chegado às minhas mãos, o mar-
---'11•01~11,"0""li

— 47 —

quês de Caracioli é o que tem dito alguma coisa em


geral sobre as sociedades diferentes no Gozo de si
mesmo. Não falando êste autor com a exatidão,
que dele se esperava, ainda assim é menos escan-
daloso do que o charlatão do abade Barruel nas
suas Memórias sobre o Jacobismo, nada obstante
dizer o autor das Reflexões sobre a conspiração de
Lisboa de 1817, que Barruel, «melhor que ninguem,
profundou a história de todas as seitas secretas».
O voto clêste escritor é de nenhum pêso; basta
ler o que êle respondeu sobre a Maçonaria aos re-
datores do Investigador Português, para se conhe-
cer que, é um visionário sem critério nem tino; pois
confunde o rnaçonismo com o Iluminismo.
Apresenta a Weishupt Spartacus supremo, le-
gislador e chefe dos Iluminados, e de todos os Pe-
dreiros Livres, e faz uma tal mixórdia' de bom e mau,
falso e verdadeiro; causas e feitos, que enjoa ao es-
tômago mais forte,
Como é que podia Barruel profundar a história
de todas as seitas secretas sem ser sócio de todas
elas, como ele não era 7
Neste caso, os discursos são fundados em in-
formações arbitrárias, e as conseqüências, portanto,
inconcludentes. E aqueles que. debaixo da conduta
déste pedante. escrevem sobre estas matérias, não
fazem mais do que copiarem-se uns aos outros e
darem com os narizes nos mesmos sedeiros: pois
que lá diz o prolóquio português: A cabra vai pela
vinha, por onde vai a mãe, vai a filha.
Que esófago de peixe, que ventrículo de aves-
truz, que suco gástrico não é necessário para se de-
vorar e digerir o que engole e digere o bom do
autor das reflexões na sua Resposta à análise crí-
tica do Investigador?
Querendo êste escritor desembaraçar-se da
objeção dos redatores, que era preciso ficarem redu-
zidos a patetice tantos homens grandes em letras.
dignidades e virtudes, que condecoram a Maçona-
ria, corta o nó górdio, dizendo, que podendo res-
ponder com o que diz o seu forte, o seu Aquiles,
Barruel, que em algumas lojas mais conspícuas do
maçonismo se dá a alguns adeptos necessários, mas
que por sua perspicácia temíveis, uma certa bebe-
ragem, chamada agua tofana, que aplicada em certa
dose embota o juizo, em dose mais subida termina
— 48 —

a existência das pessoas, que lhes desagradam: con-


tudo acha mais natural dizer, que muitos désses
figurões. que enobrecem o catálogo da seita, já nas-
ceram patetas. e. conseguintemente, muito bem dis-
postos para engulirem tôdas essas pétas, com os la-
dinos veneraveis e os velhacos irmãos vouleurs, ou
alistadores, os quizerem iludir e embaraçar. Bisam
teneatis, amici !
Nasceram patetas o principe Edwino, irmão de
Athelstam, o primeiro Rei ungido dos inglêses, Hen-
rique Chicheley, arcebispo de Canterbury, Henrique
VI de Inglaterra, Elias Ashmole, sábio antiquário,
Santo Albano, protornartir de Inglaterra, Santo
Agostinho, o fundador da catedral de Canterbury.
João Lock, que escrevendo ao conde de Pembroke,
remetendo-lhe uns manuscritos de Henrique VI so-
bre a Maçonaria, encantado do que era ela, dizia
ao conde:
#A primeira vez que fôr a Londres, irei ser
maçom se me admitirem ?»
Nasceram patetas outros tantos Reis e Princi-
pes ingléses, lords. prelados e sábios, que aparecem
na Biblioteca Maçônica?
Nasceram patetas o barão d'Holbach, d'Alembrt,
Turgot, Condorcet, Diderot, La Harpe e Lamoig-
non, o chanceler, como trás o Atalaia no 2 ?
Nasceram patetas tantos homens extraordiná-
rios, imperadores da Alemanha, príncipes, prelados,
cardeais, sábios de tôdas as nações européias. de
uma e de outra América e do Brasil?
Quantos maçons se não encontram no congres-
so soberano do Rio de janeiro, e são patétas de
nascimento ?
desta maneira que se apresenta ao universo
o celebre escritor Respondão. Desta estôfa são tam-
bem os argumentos. que éle emprega para demons-
trar a malignidade da Maçonaria, sua obra na revo-
lução francesa, e a sua influência na conspiração
de Lisboa.
Que patetão !
Voltando-nos ao geral. diz o rnarqués de Ca-
raccioli, tratando das diferentes sociedades, que #o
amor próprio, sempre hábil em nos seduzir, imagi-
nou sociedades diversas que cada um quis abraçar
para adquirir crédito; que os encantos de um nome
singular, a novidade de uma seita original, o pra-
zer, finalmente, de fazer uma classe à parte, ganha-
ram homens de tódas as condições e de todos os
lugares: que os prejuizoá da educação e 'os intetes-
ses das famílias desapareceram para engrossar uma
t torrente de novas paixões, que tôdas de concerto
formaram cabalas».
É deveras êste falar muito inexato, e esta uma
origem muito injuriosa a muitas sociedades. Ao me-
nos algumas, das quais eu te tenho falado, não me-
recem êste conceito; porque, se os francêses, pelo
seu termo cabale, entendem o mesmo que nós pelo
nosso cabala, a saber, conspiração'de pessoas tôdas
reunidas para mau fim, isto só se pode verificar a
respeito do Apostolado; por quanto as outras, Jar-
dineira, Beneficente e Maçonaria, não tiveram esta
origem, nem se propõem a tais fins, como temos
feito vèr.
E se acaso aquêle escritor teve razão de assim
pensar sobre algumas sociedades antigas, não deixa
de ser injusto, quando quer medir a tôdas pela mes-
ma bitola..
Para seu juiso ser ajustado, seria preciso, que
êle entrando em cada uma delas, conhecesse o ;eu
espirito, o seu fim, e os meios que se empregam
para o conseguir, muito principalmente, quando
cada uma delas, mormente as de que tratei, se es-
condem às vistas daqueles, que não são da sua grei;
e as noticias que resumbram fora. além de muito
poucas, e de cousas acidentais, são alteradas e ine-
xatas, e as mais das vezes falsas.
Dos escritos dêsse autor sobre êste artigo se
conhece, que ele falava apaixonado e escandalisado
de ver o concurso dos homens para a Maçonaria.
Do qual diz: «é rediculo não prestar a seu irmão
pelo respeito de uma religião, em que se tem nas-
cido, para o fazer em atenção de uma Ordem, que
se escolhe por capricho: e que é cousa bem singu-
lar não se contentarem os homens de uma religião,
que é tesda de caridade. (a cristã) para se satisfa-
zerem e abraçarem uma seita, que se inculca feita
para se prestarem ofícios recíprocos» (a Maçona-
ria). Daqui se conhece, que o escândalo, que toma
o escritor, não passa de julgar supérflua a Maço-
naria, visto já haver o cristianismo, que obriga os
homens à mesma caridade.
Mas como a Maçonaria não se oponha aos fins
do cristianismo, nem o faça abjurar, antes tenha os
mesmos, que mal vêm a sociedade, que os homens
se prestem mutuamente por dois títulos, pela cari-
dade cristã e pelos preceitos do maçonismo ?
Se éste principio valesse, deveríamos não ter
admitido ou destruir as religiões monacais e mendi-
cantes, as ordens equestres; porque, para sermos
honrados e virtuosos nesta vida e adquirirmos a sal-
vação na outra, não precisamos mais do que obser-
var os preceitos do Evangelho, e não é necessário
praticar os conselhos; pois o fim desta corporação
é aspirar a maior perfeição pela prática dos conse-
lhos evangélicos.
Logo, se a sociedade, só para que hajam ho-
mens perfeitissimos em virtudes e ciências, tem pas-
sado por tantos dispéndios na fundação e conserva-
ção de tantas religiões, tem perdido tantos entes.
que podiam nascer de tantos cidadãos e cidadãs:
por que há de se supor a companhias, que prestando
os mesmos ofícios de caridade e socorro, não sobre-
carregam a república com dispêndio e nem desfal-
cam nos seus membros?
De mais, sabemos todos, que não obstante to-
dos os Cristãos estarem obrigados à caridade, con-
tudo como devem prestar na ocorrência das oca-
siões, e careça ter um espírito muito acêso nela, para
não deixar escapar alguma, são menos as vezes
que cumprem êste dever isolado, do que estando em
uma corporação, que procura pesquizar de propósi-
to éstes meios de se exercitar e faz com que os tíbios
se não diferenciem dos mais zelosos, e todos bene-
ficiem a humanidade, que nada se deve importar
com que o benefício lhe seja conferido pela cari-
dade cristã, ou pelos preceitos maçónicos ou kepo-
ráticos.
Finalmente, a rivalidade que há entre as diver-
sas religiões, e é motivo porque os cristãos só rece-
bam benefícios de outros cristãos, e os judeus de
outros judeus, os calvinistas, mahometanos, cismá-
ticos, luteranos, etc., dos da sua seita: na Maçona-
ria, porém. na «Jardineira», na «Beneficência», em
que não se tratando da diferença do culto ao Supre-
mo Autor da natureza, se unem todos em um só
ponto. o cristão recebe socorro e auxilio de tódas as
seitas, e vice-versa: é maior a beneficência, e nisto
não se ofende a religião de Jesus Cristo; a qual sen-
— St —

do a apuração da lei natural. não proibe a seus fi-


lhos de receber a caridade de algum seu seme-
lhante.
'nimbem pouco péso acho na reprovação des-
tas sociedades pela sua multiplicidade.
Parque. sendo o homem mais sensível, do que
espiritual, se deixa levar mais das exterioridades: e
estas nos agradam ou desgostam. conforme o nosso
temperamento. Portanto é necessário, que se coadu-
nem com suas circunstâncias; é necessário que haja
muitos caminhos para chegarmos ao mesmo fim.
Isto vemos na classe das ciências, nas quais há
sistémas, diversos métodos, diversos compêndios
para se aprenderem as mesmas coisas; vemos tam-
bem nas religiões monarcais tôdas dirigirem-se ao
mesmo fim da maior perfeição, porém debaixo de
diversos ritos, costumes e economias, tõdas alheias
dos negócios do século, mas tendo umas a subsis-
tência certa por patrimônios, como bernardos, bene-
ditinos, carmelitas; outras com o incômodo de pedi-
rem diariamente a caridade dos povos, como os
franciscanos: outras entregues à Divina Providên-
cia, como os caetanos.
Isto mesmo observamos na milida: todos os
corpos a compõem, dirigem-se à tranquilidade in-
terna da pátria e à defesa dos inimigos externos,
mas as armas são diversas: vemos infantes, caça-
dores, artilheiros, cavaleiros e dragões. Portanto;
tudo é que estas diversas sociedades se encaminhem
aos fins que eu tenho escrito, e não aos fins de
malignidade e ruma; porque. como diz um escritor:
«os preiuizos de um homem isolado podem facil-
mente destruir-se, porém quando éles são reduzidos
a sistemas em uma sociedade, que se forma para
os acreditar, está tudo perdido.
Aqui tens, meu Damão, o oriente em que se
termina a minha vista sobre as sociedades secretas.
Encher-me-ei de um prazer infindo, se estas poucas
palavras fazem parte para nue tu, deixando a es-
trada do povo ride, lances fora os prejuízos da má
educação, e sejas um homem racional e prudente».
O testemunho acima, por insuspeito e imparcial, —
vasado numa linguagem franca e desprovida de interésses
ocultos ou sectários —, dispenà quaisquer comentários de
nossa parte. e serve, grandemente, para ajudar a definição a
que nos propomos.
#
REGRAS ÁUREAS achadas nas rumas de Persépolls, Idade construiria por Dario e Incendiada por Alexan-
dre, em 331, a. C., gravadas numa pedra com um slmbolo maçónico:

DIGAIS SABEIS DIZ SABE DIRÁ NÃO SABE

FAÇAIS PODEIS PAZ PODE PARA NÃO DEVE

ACREDITEIS OUVIS ACREDITA OUVE ACREDITARA NÃO e

GASTEIS TENDES GASTA TEM GASTARA NÃO TEM

JULGUEIS VÉDES JULGA VÊ JULGARÁ NÃO f2

PORQUE
TUDO TUDO MUITAS
NÃO AQUELE O QUE
QUANTO QUANTO VEZES
QUE
LEIA-SE POR ORDEM: — a última e a primeira palavra da 14 coluna. — «NÃO DIGAIS». Depois, as
últimas e primeiras de cada coluna: — *TUDO QUANTO SABEIS».. Assim, suressivamente.
r
ep.....---

17
MORAL MAÇÔNICA
A Maçonaria, «síntese da Fé, da Arte e da Ciência»
tem uma moral, que é a moral da perfeição humana, a
4 qual ensina que o homem é partícula do grande corpo que
é a humanidade e, por isso, não deve ser egoista, odiento,
.intolerante, ou sanguinário.
«A moral ensina a moderar as paixões, a cultivar as vir-
tudeá e a reprimir os vícios». É uma planta cujas raizes es-
tão no céu, e cujos frutos e flores embelezam e embalsamam
a terra».
«É necessário uma profilaxia moral contra tudo o que
é coletivamente antivital»,
A Maçonaria entende a Moral como «ciência dos cos-
tumes», e dos deveres que provêm dessas relações.
ela que dá o verdadeiro conhecimento que deve exal-
tar os seres inteligentes, que desejam viver felizes em socie-
dade e, por isso, três são os seus fundamentos:
I A noção do bem e do mal:
II — A idéia do dever, ou a obrigação de fazer o bem
evitar o mal:
III — O conhecimento do mérito e demérito, ou seja:
a firme crença de que, o que faz o bem merece recompensa,
o que obra mal é merecedor de castigo.
«O primeiro destes princípios corresponde à filosofia,
segundo à política e o terceiro à Religião»,
«A pedra de toque de uma religião, filosofia ou sistema
político está na quantidade de luz que tenham sabido infun-
dir na alma humana: está na proporção em que tenham con-
seguido tornar melhor o homem».
Como nenhuma «ciência» é, nem pode ser mais do que
fruto da experiência, a moral universal deve estar de acor-
do com a natureza do homem, fundar-se sobre sua essên-
• cia, ou as qualidades espirituais que falam em todos os seres
de sua espécie. Assim, entende a Maçonaria, que Moral e
Religião são cousas distintas. Aquela, afeta à conduta do
homem com os seus semelhantes, esta, fala da crença pes-
soal ou relação com o Incognoscivel,
cA lei primordial da Maçonaria é a tolerância. Ela
inscreveu solenemente na sua Constituição geral o respeito
a tôdas as crenças, a tôdas as idéias e a tôdas as opiniões».
— 56 —

«Não impõe aos seus membros nenhum dogma, e não


os faz passar sob fôrças caddinas. Não lhe pede senão boa
vontade na livre procura das verdades cientificas, morais,
políticas e sociais, e zélo na propaganda dessas virtudes'«
Declara que o verdadeiro culto ao Grande Arquiteto do
Universo consiste nos bons costumes e na prática do bem,
pelo amor do próprio bem.
Aconselha a conservar sempre a alma em estado de
pureza para o comparecimento ao «Tribunal da Consciên-
cia».
Manda estimar os bons, lastimar os fracos, fugir dos
maus, mas sem odiar a ninguem.
Proclama que se fale sabiamente com os grandes, pru-
dentemente com os iguais, sinceramente com os amigos, deli-
cadamente com os pequenos e ternamente com os pobres.
Afirma que a lisonja é uma traição, porque corrompe
semelhante. Indica que é bom evitar as questões, previ-
nir os insultos, ficando sempre ao lado da razão.
Recomenda o respeito às mulheres, condenando que se
abuse da sua fraqueza.
Esta moral mais se aviva na consagração dos seus
graus.
«0 19 grau é consagrado ao desenvolvimento dos prin-
cípios fundamentais da Maçonaria e ao ensino de suas leis
usos: encerra-se todo nestas três palavras: DEUS, BENE-
FICÊNCIA E FRATERNIDADE.
29 é consagrado à direção da mocidade, à felicidade
possível, por meio do trabalho, da virtude e das ciências que
lhe são recomendadas,
39 é consagrado ao pundonor inflexível que não tran-
sige com o dever, e aos grandes homens, que se sacrifica-
ram pelo bem e segurança pública.
49 é consagrado à discreção do sábio e à vigilância
do bom obreiro.
59 è consagrado à perfeição do espírito e do coração,
a tõdas as grandes verdades, e a todos os conhecimentos
úteis, enumerados sobre a pedra cúbica.
69 é ao mesmo tempo consagrado à necessidade de
aprender, que produziu descobertas preciosas, e aos perigos
de uma vã curiosidade.
79 é consagrado à equidade severa com que devemos
julgar nossas ações.
89 é consagrado ao espírito de ordem e de análise.
99 é consagrado ao ido virtuoso, aiti talento esclare-
cido. que, por bons exemplos e generosos esforços, vingam a
verdade e a virtude contra o êrro e o vicio.
- 57 -

109 é consagrado à extinção de tõdas as paixões e de


tôdas as inclinações culpáveis.
119 é consagrado à regeneração dos costumes, das
ciências e das artes.
129 é consagrado à coragem perseverante.
13° é consagrado à memória dos primeiros institui-
dores da Ordem, Os Magos, os Pontífices de Misraim e de
Jerusalem.
149 é consagrado especialmente ao Grande Arquiteto
do Universo, debaixo do símbolo sagrado Delta.
159 é consagrado aos herois libertadores da sua
pátria.
169 é consagrado ao jubileu de seu triunfo.
179 é consagrado ao desenvolvimento das vantagens
da Maçonaria.
189 é consagrado ao triunfo da luz sobre as Trevas,
isto é, ao Culto Evangélico.
199 é consagrado ao pontificado da religião univer-
sal e regeneradora.
209 é consagrado aos deveres dos Chefes das Lojas
Maçõraicas.
219 é consagrado aos perigos da ambição e ao arre-
pendimento sincero.
229 é consagrado à glória da antiga Cavalaria, pro-
pagadora dos sentimentos nobres e generosos; e ao sacrificio
pela Ordem.
239 é consagrado à ativa vigilância dos conserva-
dores da Ordem.
249 é consagrado à conservação das doutrinas Ma-
çônicas.
259 é consagrado à emulação. que Produziu planos
úteis.
269 é consagrado à estima e à recompensa devida ao
gênio.
279 é consagrado à superioridade e à independência
que dão os -talentos e a virtude.
289 é consagrado à virtude sobretudo no que inte-
ressa a felicidade dos homens.
299 é consagrado à antiga Maçonaria da Escócia.
309 é consagrado ao fim mesmo da Maçonaria em to-
dos os seus graus. 4,
319 é consagrado à alta justiça da Ordem.
329 é consagrado ao comando militar da Ordem.
339 é consagrado à administração suprema do Rito,
— 58 —

Todo iniciado aprende que «A Maçonaria põe o Ideal


acima do homem e a humanidade acima do individuo», que
ela tem vivido, através da história dos povos e das civili-
zações, «edificando a liberdade, derimindo os conflitos, aba-
tendo as castas, derribando as tiranias; aproximando os
povos».
É por isso que afirmam os seus rituais: «A Maçonaria
não é um simples agrupamento de auxilio mútuo e de cari-
dade. Tem responsabilidade e deveres para com a socie-
dade e para com a humanidade».
Nela se trabalha «para acostumar o espirito a curvar-
se às grandes afeições e a não conceber, senão, idéias sóli-
das de virtude, porque, é sã regulando os costumes pelos
princípios eternos da moral que poderemos dar à nossa alma
ésse equilíbrio de força e de sensibilidade que constitui a
sabedoria, ou antes, a ciência da vida».
Para o homem ser um bom Maçon, «é preciso morrer
para o vicio, para os erros e para os preconceitos vulgares
e nascer de novo para a virtude, para a honra e para a sa-
bedoria».
«O Maçom deve combater, além de suas paixões, outros
inimigos da humanidade, como sejam: os hipócritas que a en-
ganam, os pérfidos que a degradam. os ambiciosos que a
usurpam e os corrutos e sem princípios, que abusam da con-
fiança das massas».
Assim, «o que em um profano seria uma qualidade rara,
não passa no Maçom do cumprimento dos seus deveres.
Tõda ocasião que perde de ser útil é uma iniquidade, todo
socorro que recusa é um perjúrio».
Esta é a moral maçónica, que em nada se antepõe à
moral do cristianismo; moral que, bem aceita e bem prati-
cada, fará a felicidade e o bem estar da humanidade, pela
perfeição de cada indivíduo, moral que tem por base a Lei
do Amor. E o amor sublimiza a alma, vitaliza o corpo, pro-
duz o bem. constroi a paz, ameniza a dor e evita os sofri-
mentos. Pelo amor o homem eleva-se à união íntima com
Deus. Eterniza-se. Vive no passado pelo reconhecimento:
domina o presente, pela prática do bem, conquista o futuro
pelo seu exemplo.
A Lei do Amor «é lei de progresso, porque harmoniza
os povos, é lei de bondade, porque desperta, a consciência,
é lei de grandeza e de prosperidade porque faz a união de
todos por um só ideial».
«A todos vence a magia da bondade, a tudo encanta
a harmonia do amor; a criação tinta se expande e o seu cân-
tico ressoa».
— 59 —

eA lei social do Evangelho, — «Ama o teu próximo


como a ti mesmo» representa hoje revolução completa
dos sistemas humanos, absurdo aparentemente irrealizável,
4 mas é a meta suprema, a realidade do amanhã. É a perfei-
ção; é a lei de quem chegou e o sonho de quem está à ca-
1 minho para chegar».
Dentro da simbologia dos números, em maravilhosa
síntese de ética, aponta aos seus «obreiros» a TRILOGIA
DO BOM SENSO, assim, concebida:
(Três cousas devem cultivar-se: — a sabedoria, a bon-
dade, e a virtude.
Três, devem ensinar-se: — a verdade, o trabalho e o
otimismo.
Três, devem desenvolver-se: — o valor, o cavaleirismo
o desinterêsse.
Três, devem governar-se: — o caráter, a língua e a
conduta.
Três, se devem apreciar: — a cordialidade, a amizade
o bom humor.
Três, se devem defender: — a Pátria, a honra e os
amigos.
Três, se devem respeitar: o lar, a mulher e a velhice.
Três, se devem amar: a beleza, a natureza e a fra-
ternidade.
Três, se devem admirar: — o talento, a dignidade e a
benevolência.
Três, se devem aborrecer: a crueldade, a insolência
a ingratidão.
Três, se devem desprezar: — a injúria, a embriaguez e
a gula.
Três, se devem perdoar: — a ofensa, a inveja e a pe-
tulância.
Três, se devem imitar: a honestidade, a constância e
a lealdade.
Três, se devem combater: — a mentira, a farsa e a
calúnia.
Três, se devem possuir: — a cultura, a urbanidade e a
honradez.
Três, se devem praticar: — a caridade, a justiça e a
verdade».
A tudo isso, pois, é que a Maçonaria chama de moral,
moral em que tem firmado os seus postulados, através das
raças e do tempo.
4
POSSUI o sentido da arte real quer. tem
«a Liberdade por lei, o Universo por templo
e a Consciência por altar;

PORQUE,
«O que forma o mais elevado grau da
Arte é a liberdade do espirito que tem a
consciência de si próprio".

E. ISSO,
é ter-se a exata concepção da verdade, da
nobreza e da generosidade.
r-
ARTE REAL
Chamam a Maçonaria de ARTE REAL, porque ela se
propõe a fazer o bem sem o estimulo do MEDO ou da
RECOMPENNSA. Diz a sua doutrina que aquele que con-
seguir fazer o bem sem ser movido pela esperança de uma
recompensa ou pelo medo de um castigo, atingirá a perfei-
ção humana. Ela ensina a fazer o bem pelo amor ao próprio
bem, naturalmente, e livre de tõdas as seduções da vaidade
e da ambição terrestre.
E é por isso que a Maçonaria SE ESCONDE no re-
cesso dos seus templos.
Para alcançar o seu nobre desiderato, afasta dos seus
recintos as controvérsias teológicas e as discussões políticas,
deixando a cada um a faculdade de pensar e de crer, embora
opondo resistência ao DIREITO de negar um «Principio
Criador» — Deus, que denomina de Grande Arquiteto do
Universo.
«A Maçonaria, neste ponto, escolheu a forma mais ade-
quada. Necessitava de uma base em que apoiar a sua dou-
trina e fazê-la aceitável para todos. Realizou éste pensa-
mento amparando-se na FRATERNIDADE, colocando-a
como pedra fundamental, sôbre a qual edificou o templo
onde rende culto a tudo quanto é grande e belo».
A fé Maçónica é independente de tõda opinião particu-
lar e dedicada ao advento de uma humanidade melhor, mais
clarividente e mais fraternal.
Assim compreendeu o Cónego Juliano de Faria Lobato,
virtuoso e culto vigário, no Rio de Janeiro. quando disse:
«A Maçonaria guia os povos para a conquista da verdade,
que é Deus, como a coluna de fogo guiava o povo de Moi-
sés à conquista da Terra da Promissão, A MAÇONARIA
é para os homens de ação, o que a Estrela do Oriente foi
para os Santos Reis Magos».
«Instituição essencialmente filantrópica, filosófica e pro-
gressista, tem a Maçonaria por objetivo o aperfeiçoamento
material, moral e intelectual da Humanidade, por meio da
investigação constante da verdade, do culto inflexivel da
moral e da PRATICA DESINTERESSADA DA SOLIDA-
RIEDADE».
Dentro dèstes salutares principias, «regida por leis per-
feitas e imutaveis, tiradas, Por analogia, das leis da gravita-
ção universal», tolera tôdas as crenças sem reconhecer dis-
tinção social, que não provenha da prática da virtude. A
Maçonaria sustenta como seu princípio cardial a mais com-
pleta liberdade de consciência, primando, assim, pelo exer-
cício inflexível da tolerância isque se traduz pelo respeito à
razão e às convicções individuais de cada um». Por isso,
é que. debaixo das abóbodas maçônicas, como facultam os
seus códigos, podem reunir-se homens de qualquer religião.
exigindo-lhes, apenas, que sejam bons e honestos, para que
possam ser úteis.
Ela quer a anseia os amigos da justiça e da verdade.
os de bom coração, os que não sejam jugulados por precon-
ceitos, os libertos de consciência e de ação, os discretos e
incorrutiveis, enfim, os que fazem da conduta o melhor
escudo de defesa.
Daí, os que se tornam elementos maus, faltando a ver-
dade, mentindo à consciência, negando à razão, enxova-
lhando a honra, são considerados indignos da Ordem.
estulticia, entretanto, entender que todo maçom é
um ser perfeito. O maçom é um homem como os outros, su-
jeito a erros, os mais variados, O que é preciso é que se
faça de material vivo, debastando-se a si próprio, e possa.
então, ser PEDRA POLIDA na construção do edifício mo-
ral da humanidade, consequentemente da paz e da felicidade
geral das Nações.
Por tão importantes razões e salutar princípio é que
estiveram CC)t13 a Maçonaria os maiores vultos de todos os
povos e de tódas as épocas.
Maçom foi Santo Albano, protomartir do cristianismo,
na Inglaterra, fundador da primeira Grande Loja, da Grã
Bretanha: macon, o Papa Pio IX. cujo nome está ligado a
várias tolas do Universo. Maçons foram, tambem. Carlos
Marte], Carlos Magno, Hugo Capêto, Jaime I, da Escócia:
Guilherme I. da Alemanha; Henrique VII. da Inglaterra; o
principe de Murat, da França: Jaime II, da Inglaterra; Du-
que de Worton. ria Espanha; Frederico II, da Prussia; Gus-
tavo I. da Suécia: o Cardeal Wollsey. Cromwel, Jorge
Washington, fundador da Republica Norte-Americana, Ge-
neral Lafaiete, Beniamin Franklin, Bolívar, Cambaceres,
Giusepe Garibaldi, Goethe, Mazzíne, Thomas Edson, La,
lange; Francisco Bacon, Honorato Balzac. Enrico Ferri, Hen-
rique Bergson, lacob Bossuet, Anatole France, Paulo Man-
tegazza. 1. Michelet, Maurício Maeterling, Juan Jacob Rus-
seau. Júlio Simon. Augusto Conte, Pierre Larouse, Júlio
— 65 —

Payot, Teodore Roosevelt ,Harding Jerfferson, Monroe,


Franklin D. Roosevelt; maçons. em nosso País. foram Pedro
José Bonifácio. Visconde de Albuquerque. Visconde de
Cair& Marquês de Abrantes, Visconde do Rio Branco, Quin-
tino Bocaiuva, Saldanha Marinho, Nilo Peçanha, Deodoro
da Fonseca, José Clemente Pereira Manuel Arão Du-
que de Caxias, Barão do Rio Branco, Cónego Januário Bar-
bosa, Gonçalves Lèdo, Rui Barbosa, General Joaquim Mo-
reira Sampaio, General José Maria Moreira Guimarães,
Mario Bhering, Otávio Kelly, eminente jurista, magistra-
do integérrimo e Ministro do Superior Tribunal Federal
e inúmeros outros vultos da nacionalidade: maçons são,
ainda hoje. os grandes estadistas, os vultos de destaque nas
letras, nas ciências, na indústria, no comércio, nas artes e
nos ofícios, como, também, há o humilde operário, porque
a Ordem aceita todos os cidadãos «livres e de bons costu-
mes» que desejem trabalhar pelos princípios de Liberdade,
Igualdade, Fraternidade, porque, na Maçonaria, só existe
ugia distinção — a distinção da virtude.
A lista seria infindável se fosse possivel catalogar todos
os homens notáveis. dêste e de outros séculos, que tiveram
assento nas COLUNAS da Maçonaria. Entretanto, para
melhor ilustrar a assertiva de que a Maçonaria é um terreno
neutral em religião, vão, aqui, mais uns nomes de altas dig-
nidades do clero romano: Azevedo Coutinho, bispo e escritor
celebre; Montalverne, o maior orador sacro de seu tempo:
Frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio. notável
polemista político; monsenhor Pinto de Campos, biógrafo ge-
nial de Caxias; Frei Caneca, martir da Revolução Pernam-
bucana de 1817; Conde de haja, bispo sagrador de Pedro
Padre José Caetano. primeiro presidente da Constituinte;
Padre Diogo Feijô, regente célebre do Império; padre Bel-
chior, com reais serviços à Independência: Cónego Leite
Bastos, estimado pelas suas virtudes cristãs; Padre Azevedo,
desditoso inventor paraibano da maquina de escrever; Có-
nego Carlos Monteiro, pai do grande José do Patrocinio;
Padre Manoel Bernardes, o grande mestre da língua.
Para que os TRABALHOS maçônicos nunca se des-
viem dos bons princípios da ARTE REAL. ou rota do Bem,
utiliza-se a Maçonaria da linguagem imutável dos símbolos,
que a muitos parecem inócuos e ridículos. Mas tudo, num
templo Maçônico, tem a sua significação iniciada*: demons-
tra um ensinamento, revela uma verdade, aponta um cami-
nho, chama ao dever, induz a desenvolver a inteligência e
a esclarecer a razão.
Através dos
dos símbolos, o maçon «encontra um horto
para o coração, uma esperança para cada tristeza, uma con-
solação para cada mágoa, uma piedade para cada infor-
túnio».
«Em suas analogias reveladoras aproxima o passado e
o presente, leva-nos do fenómeno à causa, do visível ao in-
visível. A solidariedade universal de estabelecer os limites
mais afastados — da matéria e do espirito — encerram-se
em grandioso circulo de luz, assimiláveis e eloqüentes. O
minério afiniza-se à planta, a planta aos sêres, os séres aos
planetas, os planetas aos sóis. os sóis às constelações, as
constelações ao Infinito. E dentro das linhas do Cosmos. em
vibrações de espiritualidade, irradia a Força Criadora. Una
e Eterna — DEUS».
E por último, ouçamos o testemunho de Rui, do grande
gênio brasileiro, que mais fortifica a assertiva de ser a Ma-
çonaria a Arte Real do Bem e do Dever: «Não é aqui. não
é nos nossos Templos. Templos da tolerância e da caridade.
que a política atenta contra Deus, que não é aqui que se legi-
tima o latrocínio, o homicidio, a prostituição; que aqui nto
é que se trama contra a liberdade e contra o povo. Por cada
gota de fel lançado ao nosso nome, uma dessas lágrimas
de que entre os homens se não sabe, mas que o ceu recolhe,
uma dessas lágrimas da miséria humana, aliviada por mão
que se esconde; uma dessas lágrimas, vertidas. talvez, no
desalento sem cura da viuvez solitária, ou — quem sabe ? —
sobre um berço órfão, deslizada silenciosamente de olhos
maternos, meio pranto de saudade, meio sorriso de espe-
rança, ou no leito aflito da doença, derramada à hora mis-
teriosa da última despedida; uma dessas lágrimas redentoras
recairá no fundo insondável cia Onisciência Eterna, como
uma prece. uma expiação, um selo celeste, sobre a memória
daqueles que nas páginas da boa nova não viram senão
amor, bendizer e benfazer»,
*O TRABALHO não é uma necessidade
económica, mas uma necessidade moral. O
conceito de trabalho económico, deve ser subs-
tituído pelo de trabalho função social; direi
mais: função biológica construtora, pois éle
tem a função de criar novos órgãos exteriores
(a máquina), expressão de psiquismo, a de fi-
xar, com repetição constante, os automatisrnos
(sempre escola construtora de aptidões), a de
coordenar o indivíduo no funcionamento orgâ-
nico da sociedade. Ao conceito limitadissinto,
egoista e socialmente danoso, de trabalho-ga-
nho, é necessário opor o conceito de trabalho-
dever e de trabalho-missão. Esse é o caminho
para o altniisnto; não um aleruismo sentimen-
tal e desordenado, mas R•ático e ponderado.
cujas vantagens sejam calculadas». —
di).

4
A MAÇONARIA E O TRABALHO
entendimento de que a sentença: «comerás o pão com
suor do teu rosto», foi um castigo imposto ao homem, como
expiação de culpa. é uma concepção errada, senão a nega-
ção da sabedoria e benevolência do Criador.
trabalho é uma bênção de Deus, ao invés de uma
punição. Se a Maçonaria podesse ter dogmas, seria o tra-
balho o seu dogma fundamental, porque ela interpreta o
sentido do trabalho como um dever iniludivel do homem.
cujo exemplo lhe dá a Natureza, constantemente agitada.
por um trabalho ou combate eterno, com as suas próprias
fôrças.
homem vive, como a Natureza, em constante desas-
sosségo no conflito, com inimigos interiores e exteriores, e
pelas necessidades insaciáveis de sua alma, que jamais pa-
ralisa na luta da aspiração para o infinito ...
trabalho é a grande idéia da Instituição Maçônica,
o pensamento dominante em cada um dos pontos dos seus
rituais.
A Instituição representa, invariavelmente. a Divindade.
como o Grande Arquiteto. como o Divino Artífice, como o
Mestre no trabalho do Universo: e divide a raça humana
em três classe de obreiros: Aprendizes. Companheiros e
Mestres, ou Vigilantes.
Tôdas as fórmulas, símbolos e cerimônias da Maço-
naria, provêm desta idéia, e apontam o trabalho corno o prin-
cipal dever da vida, e como a mais cligna de tôdas as vo-
cações.
Essas fórmulas representam Deus em ação constante,
para difundir mais beleza e mais ordem, mais bondade e
mais justiça nos mundos que criou e recomendam solene e
perpetuamente ao homem, que siga o divino exemplo. Ê éste
• primeiro ensino dado ao iniciado.
Trabalha, diz a Maçonaria, — trabalha com as mãos
com o coração, porque o Ceti trabalha sempre, e a natureza
ensina o trabalho da arte.
Todo maçom deve ser Obreiro, por isso que não há culto
mais elevado do que o trabalho, sempre exaltado pelos hinos
da criação.
- 70 -

A lei do trabalho foi a primeira descoberta feita pelo


homem, a primeira lição que aprendeu no livro da experi-
ência.
Esta lei simboliza-se nos seus mistérios, celebra-se nas
festas religiosas, e ensina-se com máxima clareza nos sábios
aforismos de Salomão, e de outros varões ilustres da anti-
guidade.
precisamente com o trabalho, que o homem realiza
incessantes progressos no caminho da perfeição.
trabalho fortalece o homem. O ignorante, por meio
do estudo e de diligente aplicação, pode chegar a ser um
sábio.
A verdadeira idéia maçônica, é a atividade do trabalho
— o progresso constante e o melhoramento da Sociedade, e
a lei invariavel do Universo.
A natureza animada oferece, tambem, o mesmo quadro
de trabalho universal, e de ação perpétua.
que significa todo êste movimento? Para que é êste
incessante conflito, e êste trabalho universal e constante ?
porque tódas as coisas têm em si o• elemento da pro-
dução e da destruição; é porque o universo está construido
de maneira, que a ordem e o progresso dependem da luta
constante e universal: por que o trabalho é uma lei penosa,
mas santa, que enlaça todos os seres e tôdas as coisas.
Trabalha, é a voz da natureza, que se dirige ao homem.
Trabalha, para a tua própria existência: para realizar
em volta de ti o glorioso ideia] da verdade e da justiça.
Trabalha, confirma a Maçonaria, para reformar a socie-
dade em que vives, se é má, e para a conservar, se está bem
constituida.
Se deixares ao acaso o cuidado do teu futuro: se te
submeteres à opresão material por um lado, e por outro te
descuidares da tua emancipação moral, serás vítima da am-
bição e do despotismo!
Trabalha, pois. seguindo sempre a tua vocação: tra-
balha para vencer o mal e alcançar o bem, por isso que o
maior pecado que o homem pode cometer, o maior dano que
pode causar à sua vida e à Sociedade, consiste na indolência.
Maçonaria é Escola de Trabalho. Os seus filiados,
obreiros do bem comum, em busta da Verdade, dentro da
Lei da Criação, — Lei Divina e Humana.
4:1

PUNEM-SE os assassínios que os parti-


culares cometem. E o que se dirá das guerras
e desses morticínios que chamamos gloriosos.
porque destroem nações? O amor das con-
quistas é unia loucura; os conquistadores são
Espetos mais funestos á Humanidade do que
os dilúvios e os terremotos. Alexandre ban-
dido desde a infãncia, destruidor de nações,
considera como bem supremo ser o tenor dos
homens. — &teca ).


C
A GUERRA
A Maçonaria, sendo uma instituição progressista, de
ordem e de paz, proscreve a guerra. Os maçons entendem,
por isso, que «a Guerra é uma maldição de nosso próprio
destino, um sintoma forte de barbaria e de imperfeição que
rasteja do passado e que não deixará de influir nos homens
até que éstes cheguem a um termo médio de normalidade, de
equilíbrio moral e da mais facil satisfação das necessidades
primordiais. Quando a solidariedade humana fôr um fato,
quando a totalidade não necessitar do roubo, nem do crime
para subsistir, a guerra não terá razão de ser.
Quando será isto? Quando o homem fôr mais humano,
menos bestial, quando deixar de estar agrilhoado às paixões
pessoais e sujeito às paixões alheias; quando os que crêem na
moral, se adaptarem estritamente à ela. Enfim, quando a
humanidade se vincular dentro de um fato real e positivo,
— a fraternidade que demanda e apregoa a Maçonaria.
A guerra não é um principio juridico, não é um direito
porque êste não pode estar subordinado à força; não é um
principio moral, porque a moralidade não pode estar sujeita
a capricho de ninguém; não é justa, porque a justiça é essen-
cialmente equitativa; não é civilizadora, porque a civilização
não pode ser causa nem consequência de barbaria; não é
humana, porque se dirige precisamente contra todo o princi-
pio humanitário.
Ao modo de ver da Instituição maçónica, a guerra é
a infração flagrante e generalizada de todos os códigos de
moral.
Se um semelhante assassina a outro, a Lei é inflexível
e diz: Morre!
Se o homicídio se faz com premeditação e vantagem.
com circunstâncias agravantes, a Lei diz com voz mais ter-
rivel ainda: Morre !
Se êsse homem matou dois, seis ou oito, nada pode sal-
var-lhe do raio da cadeira vingadôra.
Se extinguiu centenas de vidas, com horriveis tormentos,
— Barba Azul implacável, — parece a todos que não há
castigo compensador.
Porém, se êste homem mata na guerra um batalhão.
— 74 —

afunda um barco, assalta uma cidade e a saqueia ou degola


acaba uma raça de semelhantes, já não há lei que castigue,
nem fõrça. nem oprobiosa condenação; ao contrário, singe
as frontes do monstro uma coroa napoleónica: adorna seu
peito uma cruz, é aclamado pela história, se proclama Impe-
rador e dono do tempo, da existência, da consciência, da
propriedade de todos, porque tudo é seu: mulheres, terras.
palácios, quanto exista no universo para saciar paixões, vi-
cios, loucuras, desenfreio, vaidade e glória.
Então, em que mundo vivemos?
Porém chegará um dia na história do mundo, em que o
soldado será substituido pelo filantropo, o artista, o sábio,
trabalhador, o filósofo, o benfeitor. Um dia chegará em
que todos os armamentos serão ¡nados no mar, que será
tumba eterna: todo sos aparelhos de extermínio serão des-
truidos. desmontados, arremessados em pedaços no despe-
nhadeiro do esquecimento.
Então tôda a vida será respeitada por tócla a vida hu-
mana, e a leitura das velhas crónicas à luz de uma consci-
ência purificada será ouvida nos lares como sediça fábula de
aparecidos duendes que não existem jamais: como uma hor-
renda meinira dos séculos legendários afundados no pas-
sado.
Os futuros homens não poderão compreender que os
irmãos se repilam e se destruam aos milhões por nada e para
nada. Porque até os ódios mais terríveis dos povos inimi-
gos vão fugindo com tempo, e se perdem. e as nações rivais,
inimigas, furibundas, se abraçam e se confundem, se solidi-
ficam em um bloco de progresso e de paz, passados os anos
os anos».
A Luta contra a guerra, é, assim, um princípio ma-
çônico.
A guerra é a destruição do Templo de Deus; a vitória.
embora momentânea, do egoismo e da maldade.
Todo Maçom deve inculcar a paz na consciência uni-
versal.
0

A DEMOCRACIA e a CIÊNCIA são efe-


tivamente, os dois insubstituíveis suportes só-
bre os quais nassa civilização descansa. —
(Rodó).
A capacidade de justiça dos homens tor-
na a democracia possivel; mas a inclinação
dos homens para a injustiça faz da democra-
cia uma necessidade. — (Niebuhr).

o
1
5
DEMOCRACIA

Não há qualquer diferença entre Maçonaria e Demo-


cracia, porque aquela, podemos dizer com ênfase, é a 'mãe
dileta desta. — a sua propagadora entre os povos e sua
mestra mais abriegada no correr dos séculos.
No seu formoso livro xCincuenta lecciones de Ciltura
Mastinicax, o eminente pensador espanhol Luis Umbert
Santos. inseriu uma tése a respeito dessa doutrina, em mara-
vilhosa síntese, a qual bem traduz o que é Democracia e
as suas afinidades com a grande Ordem Maçônica:
«A Maçonaria é uma Escola de Democracia.
Que é Democracia ? O império da Razão e da Justiça.
A vontade suprema da maioria popular.
A Democracia não pode ser imposta a um povo. A
tirania pode ser estabelecida pela violência; um ditador
pode impor sua vontade por meio da fôrça armada; um
Hitler, um Franco, ou um Stalin pode conservar seu poder
por meio de leis arbitrárias e desumanas. Porém a Demo-
cracia não pode ser criada, nem viver assim.
Tddas as constituições e leis que possam escrever-se são
incapazes, por si mesmas, de estabelecer uma Democracia.
Esta só pode vir do povo, criar-se por sua vontade, cami-
nhar e viver por seu impulso, conservar-se por sua decisão
e prudência.
A Democrácia nãíy é um caso pessoal e individual. Se
o povo de uma nação carece de espirito democrático, não
pode haver Democracia. Porém onde o povo tem essa visão
em seu coração, os tiranos e as ditaduras não podem sobre-
viver largo tempo.
Não haverá verdadeira Democracia senão quando os
homens se unirem por laços de sincera fraternidade em uma
grande associação em que ninquern se descuide, nem se des-
preze, nem ninguem seja inferior a seus irmãos, e que a
ninguem se exclua.
O triunfo da Democracia só chegará quando cada qual
reconheça a dignidade de todo ser humano e trabalhe mo-
vido invariavelmente pelo sentimento de igualdade. sem
exceção de pessoas.
- 78 -
Os maçons, que crêem na Democracia, podem contribuir
para seu estabelecimento, infiltrando seus ideais e princí-
pios no coração e na mente dos homens e das mulheres.
Moisés durou quarenta anos conduzindo o povo de Israel
através do deserto, não porque necessitára dêsse tempo para
fazer a viagem do Egito à Terra Prometida, senão porque
não podia transformar uma horda de escravos em um povo
livre, em menos tempo.
Os maçons. amam a Democracia e podem contribuir
para sua instauração, para vigoriza-la e conservá-la, infil-
trando seus princípios no coração e na mente da juventude.
sobretudo, fazendo desses ideais a fôrça reguladora de
seus assuntos e guia de suas atitudes perto de seus seme-
lhantes».
HA DUAS liberdades: a falsa, em que
cada um é livre de fazer o que lhe apraz, e
a verdadeira, em que é livre de fazer o que
deve. — (Kingsle)
Subordinar-se aos preceitos da razão. eis
a verdadeira liberdade. — ( Plutarco).
LIBERDADE

Sem Liberdade não haverá Maçonaria. Aquela é o


clima desta, ou seja: o seu sol vivificador.
Daí porque, a Liberdade é cum dos três princípios que
compõem o lema emancipador e regenerador da Maçonaria>.
Quando a Liberdade se afasta de um povo, a tirania
dele se apodera, roubando-lhes as prerrogativas mais natu-
rais, como seja o próprio dever de pensar.
cLiberclacie, direito inerente à humana natureza e que
concede aos homens a faculdade de agir segundo os ditames
de sua consciência, pelo qual é dono e responsável de seus
atos.
A liberdade tem a Natureza por princípio, a Justiça por
'regra e por salvaguarda a Lei.
Seus princípios morais estão compreendidos na sublime
máxima que a Maçonaria coloca sempre em primeiro têrmo:
I a<0 que não queres para ti, não queiras para outro».
II — «Liberdade para h:idas as raças.
Este é o lema das sociedades que se propõem à obolição
da escravatura.
Nobre tarefa que encerra um dos mais belos ideais
maçónicos, o de apagar êsse padrão de ignominia para a
época moderna !
Liberdade ! Ê. a senda que seguem os maçons que se
tornam livres, perfeitos e fraternais.
A liberdade que buscam os maçons não é essa liberdade
de fazer exatamente o que lhes venha na vontade, senão a
liberdade apoiada na Ordem e na Lei. Liberdade de pen-
samento. liberdade de palavra falada ou escrita, liberdade
de trabalho e liberdade de seguir, ante Deus e ante os ho-
mens. os preceitos do amor.
O pensamento humano, com suas poderosas correntes,
atravessa o céu da liberdade. Para èle não existe fronteiras
sem fuzis.
Q triunfo da liberdade exige valor e perseverança. Os
povos que querem a liberdade, conquistam-na. Nada se
consegue sem luta, às vêzes violentas, ferozes, mas sempre
purificadoras. A vida do ser é precedida por derramamento
- 82 -

de sangue. A atmosfera se torna mais pura depois de urit


temporal.
Os maçons amam a Liberdade e lutam por ela, porque
a liberdade se opõe à escravidão que degrada o homem e
lhe subtrai as mais nobres faculdades.
Os problemas de liberdade e dignidade são ligados.
quere-los apagar com sangue é deixar vivos os germes
de novos conflitos. O anhelo de liberdade e de dignidade
agitarão sempre as consciências dos cidadãos e dos povos.
Liberdade ! É o sonho de ouro dos povos, porque ela
fará desaparecer a opressão, a tirania e a ignominia da
desigualdade social, porque os povos livres, fazendo uma
tocha de seus ensinamentos, converterão cada homem em
um cidadão amante da justiça e da verdade.
Por isso cantaram-na todos os poetas, defenderam-na
todos os mártires, predicaram-na todos os filósofos e pen-
sadores.
Se a Liberdade é o ideial do homem, todo homem deve
despojar-se do èrro que leva a sua alma para a sombra, e
seguir o caminho do bem. afinando seu espirito para a obra
do progresso, com idéias novas, inspiradas na perseverança
no trabalho ...
Porque a perseverança é vontade e o trabalho fonte
de vida de Vida a sociedade bem organizada, onde a justiça.
a liberdade são para os povos palavras de ordem e cami-
nho de perfeição.
Não tem havido um grito de liberdade na terra sem
que estivesse apoiado pela espada de um maçom.
Liberdade ! A medida que se desce os degraus da
vida social, se entra no conhecimento de um maior número
de tristezas e misérias. Ir em busca de uma justiça mais
humana, em um ambiente de injustiça Manifesta, e de um
amor entre o odio e a indiferença dos demais, em um mun-
do onde pouco se crér. e, assim mesmo, entre sorrisos, na
verdade o éaso é desesperador e irritante.
A liberdade consiste pois no esfõrço de não querer ser
escravo das paixões, das cousas e dos homens. De maneira
que. se o caráter das cousas e do mundo circundante. ou
seja, o mundo que nos rodeia, impulsiona a vontade de
agir em relação à preponderância do primeiro ou do segun-
do, determinada pela fõrça ou resistência de uma das duas.
lógico é chamar liberdade ao fato resultante da preponde-
rância pelo esfórço do caráter.
indubitável quê a felicidade é o triunfo da Liberdade
em sua luta de liberação contra as paixões, contra as cousas
e contra os homens».
A PRIMEIRA sensação que experimento
ao encontrar-me na presença de uma criatura
humana, por humilde que seja a sua condição,
é da igualdade originária da espécie. Uma
vez dominado por esta idéia preocupa-me mui-
to mais do que ser-lhe útil ou agradável, o
não ofender nem ao de leve a sua dignidade.
(Tocqueville).
IGUALDADE

A doutrina da Igualdade é esposada pela Maçonaria


como base dos direitos naturais do homem. Princípio jurí-
dico de que não deve existir privilégios de castas, ou de
individuos, porque todos se originam de uma mesma Fonte
Criadora, — Deus.
Ë a segunda das três palavras que formam o lema ma-
çônico. Traduz-se pela conformidade absoluta, pela ausên-
cia cbmpleta de todo privilégio, de tôda distinção de casta
e classes entre os homens, colocando todos os cidadãos em
uma mesma categoria, no conceito dos direitos e dos bens.
O sentido desta palavra somente se encontra clara-
mente determinado nas ciências positivas, nas quais se ex-
pressa a-' relação que existe entre duas quantidades, uma
não excedendo de outra. Mas, nas ciências morais e polí-
ticas, ainda que se empregue com frequência, esta palavra
não foi rigorosamente definida. Nem a antiguidade nos
oferece nada que seja aplicável ao presente, nem os legis-
ladores de nosso século poderatn encontrar ainda a fórmula
para estabelecer essa igualdade tão necessária como difícil,
se não de impossível realização, segundo opinam muitos
homens eminentes:
«A igualdade é a coisa mais natural e. ao mesmo tempo,
mais quimérica». (Voltaire).
«A igualdade é uma lei divina, uma lei anterior à tôdas
as leis, da qual tôdas devem se derivar». (Larouse).
«A igualdade é uma lei física, assegura uma parte de
liberdade». (Cavaignac).
*A igualdade natural dos homens, primeira base de
seus direitos, é o fundamento de tecla verdadeira moral»:
(Conclame°.
«A igualdade dos direitos não pode ser real mais do
que a igualdade, ou quasi igualdade, de fortuna». (Con-
dorcet).
«A igualdade está na liberdade moral», (Franklin).
«A primeira igualdade é a equidade.. (V. Hugo)
A Maçonaria cobre a todos ,debaixo do manto da mais
doce igualdade: a todos une debaixo do carinhoso titulo de
Irmão,
4

a*


PRA TERNIDADE é a elevação dos
sentimentos humanos à sua quintessencia; a
harmonia trauestida de amizade, para a feli-
cidade da vida; a luz espiritual que Ilumina
os caminhos da humanidade, para o transito
da paz; a fé que alimenta o amor, para a
realização do bem; a bússola que indica o nor-
' te eterno — DEUS.
FRATERNIDADE

O terceiro ponto do triângulo sócio-filosófico-maçónico,


chama-se Fraternidade.
«A Maçonaria é uma doutrina de fraternidade. Para
os Maçons, a fraternidade é um laço simbólico que une a
todos por igual; na superfície da terra: Pela fraternidade
«UM POR TODOS E TODOS POR UM», que é o sábio
apotégma da porta dos Templos maçônicos e é a razão de
ser no concêrto universal».
A Loja onde essa tocha tenha, por ventura, perdido
seu brilho, é Loja morta, — pedra de escândalo para a
Instituição. Demonstra que o seu nível mental baixou a
zero, ou os seus «operários» se acham abastardados de
egoísmo, inflados de errônea e lamentavel vaidade.
A prova da verdadeira Maçonaria, isto é, do cumpri-
mento de sua missão entre os homens, está, justamente, no
ensinamento e prática dessa sublime virtude, — a frater-
nidade.
Por isso, «o seu terceiro princípio social é o que, para
os maçons, constitue a dignidade e a prosperidade da Fa-
mília, da Sociedade e da Humanidade, em geral».
«Animados, os homens, pelo espirito de fraternidade,
(dizem Terrones Benitez e León Garcia, no magnifico livro
«Os Trinta e Três Temas do Aprendiz Maçom»), não
conhecerão o ódio, nem a inveja, pois não obstante ser ho-
mens, são tolerantes e generosos, para demonstrar à Divin-
dade, o afeto que confessam a seus semelhantes, e que, se
a imperfeição é inerente à nossa espécie, não deixam, por
ate úniéo fato, o conceito mais digno que têm da Divindade,
que sofre pelos vícios dos malvados, do mesmo modo que
sorri pelas virtudes dos bons».
«A fraternidade, na ordem social, constitue um princí-
pio para mitigar os pesares e para poder alcançar a verda-
deira felicidade, e distribuir, durante a curta viagem pelo
caminho da vida, os benefícios que a existência há inspirado
maçom dentro de ensinamentos simbólicos».
A Maçonaria é, não há como negar, a grande Escola
de Fraternidade. Na mudez imutável dos seus símbolos
está o grande livro, o magno ensinamento para todos os
seus adeptos, porque ela considera o «AMAI-VOS UNS
AOS OUTROS». Lei Suprema da Vida.
por isso que, com muito acerto, o erudito maçom
Gandara diz :
«O estudo da História nos demonstra que a fraterni-
dade é uma lei natural, e uma lei é igualmente experimen-
tada pelo que a desconhece, como pelo que está em har-
monia com ele. As nações, umas depois das outras, os
governos, uns atrás dos outros, têm sucumbido por ignorar
a Fraternidade»,
«Quando em uma civilização os fortes oprimem os
débeis em vez de protegê-los; quando os ricos exploram
os pobres, em vez de auxilia-los; quando os sábios abusam
da fraqueza dos ignorantes, em lugar de instrui-los, o
inexorável dedo da Natureza escreve sobre tal civilização;
«Condenada !»
«Transcorre, ainda, um curto lapso de tempo e a tal
civilização desaparece».
«Tão somente quando se pratica a Fraternidade, será
duradora uma civilização, e isto não pode acontecer se não
se preparam as partes que hão de estabelecer esta Frater-
nidade. Quando reina a ambição, o ódio a rivalidade e o
egoismo, não pode restabelecer-se a harmonia na coleti-
vidade. Necessário é, pois. antes de tudo, que a Maço-
naria ponha em prática os ensinamentos que constituem sua
finalidade a respeito de Deus, do Homem e do Universo».
Assim, não se pode ser, legitimamente, maçom sem
se possuir a «consciência» da Fraternidade. E. esta, só
se adquire pelo «conhecimento» da «Unidade», seja Ela:
Deus, Grande Arquiteto ou Causa Primeira. «já que sua
influência humana, mente, intelecto e emoções, não permi-
tirá sentir e compreender melhor a vida e dirigir suas rela-
ções, em sociedade, por um caminho de harmonia e de
amor. o que constitui a Fraternidade».
A CARIDADE é a lei que faz gravitar
as almas em volta de Deus de amor, quem
as atrai, lhes imprime movimento e lança por
caminhos de viva luz, como asas de ardentes
chamas, como astros formando chuva luminosa
em volta do Sol. — (Verdaguer).
«A CARIDADE é sofredora, é benigna:
a Caridade não é invejosa; a Caridade não tra-
ta com leviandade, não se ensoberbece.
«Não se porta com indecência, não bus-
ca os seus interesse& não se irrita, não suspei-
ta mal;
«Não folga com a injustiça mas folga
com a Verdade». — (S. Paulo).
9
A CARIDADE MAÇÔNICA

Nas antigas leis que limitaram a Ordem Maçônica, a


Caridade foi posta como sua coluna angular.
uma das principais e mais sérias recomendações aos
que trabalham nos seus Templos, porque «tem o privilôgio
de estabelecer a ordem humana», por ser a ampliação da
justiça.
A trilogia «Liberdade, Igualdade e Fraternidade», que
fulgura nos pórticos maçónicos, tem como síntese a Cari-
dade, a qual, como o sol, dá-lhe fulgor e vibração de vida.
A Caridade não tem pátria, e, nela, nunca há excessos.
itÉ a lei que faz gravitar as almas em volta de Deus:
quem as atrai, lhes imprime movimento e lança por cami-
nhos de viva luz, como asas de ardentes chamas, como astro
formando chuva luminosa em volta do sol».
Primeira virtude social, a que mais aproxima o homem
da Divindade, é a que deve distinguir o caráter do maçom
em tôdas ás fases da vida humana.
E já se proclamou que '«DEUS É CARIDADE. e que.
quem está na Caridade está em Deus e Deus ride».
é nesse sentido que os ensinamentos maçônicos
afirmam ser essa virtude tão satisfatória para quem a pra-
tica, como útil, para quem dela se aproveita, levando con-
sigo a devida recompensa pelos puros e suaves prazeres
que desfruta a pessoa que a exerce.
A Caridade contém, igualmente, ternas emoções para
que atentamente admira e imita a infinita bondade do
Criador e Senhor de todo o Universo. Segundo estatui a
lei moral da Maçonaria. «o maçom não pode negar um
socorro, sem cometer um perjúrio».
Ela deve ser praticada sem ostentação porque «a ver-
dadeira caridade é impalpável como a luz e invisível como
perfume: dá o calor, dá o aroma, mas não se deixa tocar.
nem ver».
»A Caridade, em suma, apresenta-se sempre aos nossos
olhos, sob as formas mais agradáveis; sentindo, por inter-
médio de suas celestes emanações, os efeitos delicioaos da-
queles sentimentos que enchem a alma de uma verdadeira.
inexprimível e duradora satisfação, dificil de compreender.
e que só é dado ao Supremo Arquiteto do Universo ex-
plicá-la.
Quão venturoso não seria o maçom a que Risse con-
cedido exprimir a felicidade daquele que, tendo unicamente
a Deus e ao seu coração por testemunhas de suas meigas
afeições. podesse recordar-se das resultantes ações bené-
ficas; ouvir as preces comoventes dos desditosos. a quem
socorreu nos seus infortúnios; receber as homenagens sin-
ceras do seu perene agradecimento, renovadas ininterrup-
tamente com as consolações que se expandem nas almas
opressas pela desgraça, pela miséria e pela dor !
A Caridade, essa virtude preciosíssima, mais cheia
de glória do que o primeiro raio de luz ao alvorecer de um
formoso dia, é o PRINCIPIO VITAL. da Maçonaria.
a base da bielas as ações relativamente aos maçons.
e a norma que dirige o seu zêlo e afã pelo bem do género
humano.
A caridade maçônica tem prazeres desconhecidos do
profano. ainda o mais lido. Só o verdadeiro maçom, aquele
que assimilou as doutrinas da ordem, é que a fundo conhece
êste afetuoso sentimento, e pode praticá-lo com a delicadeza
e consideração que exalçam o prêmio de uma obra meritória.
Cumprindo o que deve ao seu próximo, o bom maçom ouve
com paciência e docilidade a enumeração dos males que
pesam sobre o infeliz; enxuga as suas lágrimas; alivia as
suas precisões: anima e sustém o seu valor; faz-lhe sorrir,
enfim, a esperança. Alguns comparam-na cã fresca viração
que vem mitigar os ardores de um calmoso dia: à vibração
melodiosa que se exala das cordas de uma harpa; aos rdios
do sol após a tempestade; à estrela, em suma, que brilha no
firmamento em as noites mais sombrias».
A ocupação efetiva do maçom deve ser a de considerar
como próprios os trabalhos do seu próximo. A alma verda-
deiramente benefica sente sempre um júbilo intimo, e pode
dizer-se divino, quando antecipa os seus auxílios aos que
deles necessitam.
A caridade fraternal ainda é uma virtude que procura,
a quem a pratica o agradecimento, a estimação, a amizade.
enfim, a admiração dos homens.
E poderemos, por ventura, negar estes belos sentimen-
tos àquele que se constitui quase na obrigação habitual de
perdoar as fraquezas e os erros de seus irmãos; de enco—
- 95 -

brir as suas faltas, de ensiná-los a vencer as paixões. co-


nhecer a paz do coração e da alma, e conservar a amizade;
de fortalece-los com exemplos e bons conselhos nos prin-
cípios sagrados da sã moral: preveni-los de uma palavra.
dos seus desvarios, ensinando-lhe conjuntamente a perdoa-
rem as suas injúrias ? Tais são os impulsos deliciosos e
sublimes de um coração terno, que exerce a mirífica virtude
da Caridade, sob as suas multíplices manifestações, em si-
lêncio, sem orgulho e livre de tôda a ostentação; que pratica
o bem só por gemi°. lidando vigorosa e constantemente por
atingir a pureza e a perfeição.
Ocultando-se aos olhos do mundo, a Maçonaria ensina
«amar a vida pelo bem que podemos fazer».
E é por isso que faz da Caridade uma de suas mais
brilhantes jóias. com a qual se há adornado e se glorificado
através dos séculos.

e

1
CONHECER os homens é Sabedoria:
CONHECER-SE a si mesmo é Clarividência;
DOMINAR os homens é Poder; ..
DOMINAR-SE a si mesmo é Fôrça.
SABER FAZER é Superioridade;
PODER REALIZAR é Energia.
NÃO DESAGREGAÇÃO é Eternidade;.
O ALTRUISMO, depois da morte, é Imor-
talidade. — (Lao-Tsé).


4.........p,
I

0
TESTEMUNHOS VALIOSOS

Damos aqui os testemunhos de eminentes homens de


letras, cientistas, filósofos, historiadores, estadistas, poetas
e publicistas de renome que nos ajudam, sobremodo, a de-
finir O QUE É MAÇONARIA:
isA. MAÇONARIA tem por objetivo a educação huma-
na. Nela se reunern livremente homens de tôdas as classes
sociais com a educação que cada um pode adquirir dentro
cke sua esfera. Cada qual chega e dá o que tem: O pensa-
dor. conceitos determinados e claros; o homem de ação, a
destreza na arte da vida; o religioso, seu sentimento e o
artista seu entusiasmb». (João Fichte).
* * *

«QUANDO a Maçonaria se constituiu na Inglaterra,


no principio do século XVIII, sôbre as bases das antigas
corporações de pedreiros, teve à frente muitos intelectuais:
uns, como Payne e Desaguliers, que eram membros da
gRoyal Society»; outros. como Anderson, que possuiam
noção clara do movimento dos ideais religiosos que fazia
desenvolver a Reforma na Inglaterra para o método de
Weslary; todos profundamente possuidores da obra dos
Humanistas do século XVI, e precursores das luzes dos
fins do século XVIII».
00 Artigo Primeiro, da primeira edição das Constitui-
ções Maçônicas, merece ser recordado em sua forma antiga:

«UM MAÇOM ESTÁ OBRIGADO, EM VIRTU-


DE DO SEU TITULO. A OBEDECER A LEI
MORAL: E. SE COMPREENDE BEM A ARTE,
NÃO SERÁ NUNCA UM ESTUPIDO ATEU,
NEM UM ANTI-RELIGIOSO LIBERTINO».

«Nos tempos antigos os maçons estavam obrigados,


em cada Pais, a professar a religião de sua Pátria ou Na-
ção, qualquer que ela fôsse; porém, agora, deixando-lhes
suas próprias opiniões, não se encontra mais propósito em
obriga-los, tão somente, a seguir à Religião em que todos
— 100

os homens estão de acordo. Consiste em ser bons, sinceros


e modestos, homens de honra, seja qual for a Denominação
ou Credo particular com que se possam distinguir, donde
se deduz que a Maçonaria é um Centro de União e o meio
de conciliar uma sincera amizade entre as pessoas que,
sem ele, não teriam podido familiarizar-se nunca entre si».
(Pablo Esculisse).
*
«AGORA são três as idéias opostas e constituem dois
grupos antagônicos. Em três princípios se dividem o Mun-
do e a História: a autoridade, o individualismo e a frater-
nidade. Mas, enquanto que nesta época de individualismo
exagerado muitos crêem que o principio de autoridade é o
único que pode salvar o mundota Maçonaria, fiel à sua
Carta Fundamental, insiste em buscar a solução na síntese.
da liberdade individual e da fraternidade. A Maçonaria
se esforça por criar a síntese de todas as doutrinas que te-
nham tido por fim a evolução humana, seja que emanem
dos profetas de Israel, de Buda, do ensinamento simbólico
dos Mistérios da Grécia ou dos Evangelhos: mas deixa cada
um em liberdade de colocar sob sua lei moral o substrato
filosófico ou religioso que lhe apraz». (Luis Blanc).

*
O MAÇOM, por sua condição de maçom, é um cidadão
cosmopolita ou, para falar com mais exatidão, no sentido
dos nossos sábios, um teopolita, um membro da Universal
Cidade de Deus, onde Sóis e Mundos são moradas indivi-
duais e as inúmeras classes e gerações de seres, dotados
de razão e liberdade, são outras tantas famílias individuais,
unidas em pura harmonia por uma eternamente invariável
Lei Fundamental. Unicamente é esta suprema condição
da humanidade, à que todos os demais estão subordinados
e pela qual nossa presente vida se encadeia à outra mais
alta e futura, e se cimentam as três categorias essenciais da
Maçonaria: LIBERDADE. IGUALDADE, FRATERNI-
DADE: como verdadeiros polos de nossa Ordem que; pre-
cisamente por isto, constitui a mais nobre que se possa
imaginar.
Que ninguem. que não tenha compreendido assim, se
vanglorie de ter encontrado a «chave» dos nossos <misté-
rios». — (Wieland).
— tal —
***
«A FRANCOMAÇONARIA é uma instituição elevada
e sublime. Nunca poderá ser compreendida pelos cegos
do fanatismo.
É uma instituição humanitária e sublime que exalta
tudo o que une os homens e repudia aquilo que divide, por-
que aspira fazer da humanidade uma grande família de
irmãos e se põe sempre ao serviço dos movimentos morali-
zadores. Uma instituição de paz e de amor. aberta às mais
nobres aspirações. onde se realiza a união necessária e fe-
cunda do coração e do espirito; onde pelos seus ensinamen-
tos, se aquire o equilíbrio interior; onde os caracteres se
afirmam e se consolidam. Uma instituição em que a fra-
ternidade é urna influência ou guia espiritual, para uma con-
cepção mais elevada e mais nobre da Vida; que não vai
contra nada, nem contra ninguern. porque é uma fôrça in-
destrutível, nobre e generosa, porque é a luz da razão.
Uma instituição que prepara o terreno onde florescerão a
justiça e a paz, porque sua única arma é a espada da inte-
ligência. É uma instituição que ensina o valor eterno dos
princípios da cultura humana e individual, independente-
mente de lugares e épocas. Dá aos indivíduos, a seus agru-
pamentos, a noção clara e certa de solidariedade, de amor,
de direito, de justiça e de liberdade». — (Dr. Simarro).

«A MAÇONARIA não é obra exclusiva de uma época.


Pertence a tôdas às épocas e, sem aderir a religião alguma,
encontra grandes verdades em tôdas elas. A Maçonaria
ostenta a verdade comum às religiões superiores, a verdade
básica de tôdas, a fé subsistente em tôdas elas que formam
a abóbada de todos os credos, de igual modo como do Céu
acima e do leito do rio abaixo, vê o passar dos anos. Não
faz finca-pé, senão no tocante aos princípios extremamente
simples e profundos: o amor a Deus e o amor ao homem
(que em sua última análise leva dentro a Divindade e a vai
até Ela). Por isso tem sido, e é, em tôdas as épocas, um
lugar para onde convergem todos os homens, sejam quais
forem suas idéias, e uma profecia de união final de tôdas
as almas abnegadas e reverentes». — (Isac Newton).
34 *
«A FRANCOMAÇONARIA surgiu e se desenvolveu
com uma completa independência da «Igreja» e clia «Es-
— 102 —

tado», não obstante as perseguições de que foram objeto


os seus filiados em algumas nações, sendo tão somente tole-
rados em outras e malquistos em geral, como quase todos os
organismos humanitários que se propõem a fins coletivos.
A entidade que começou sendo um modesto núcleo consti-
tuido por indivíduos que sentiam entusiasmo por seus ideais,
chegou a ser uma fôrça social poderosa que contou com
milhares de adeptos em todos os Continentes. As tenta-
tivas para dissolvê-la fôram muitas, mas quase sempre infru-
tíferas, já que a Fraternidade foi estenden,do-se por onde
queria, havendo contribuído, em não escassa medida, para o
progresso dos povos, exercendo uma saudável influência na
ordem moral, florescendo o desenvolvimento dos ideais li-
bertadores». — (Gouldsmith).
338

«A MAÇONARIA (por sua doutrina) é a fonte sagra-


da onde se restaura a murcha beleza, se Esclarece à entur-
vada sabedoria e se vigoriza a debilitada fôrça. É (por
sua filosofia) o asilo da amedrontada lealdade, a consola-
dora da injuriada inocência, a recompensadora do impugna-
do amor. Destrói a parede divisória erguida para prejuízo
entre os homens; arranca o vestido de ouro que cobre o
corpo sem alma; coloca coração em frente de coração, men-
talidade era frente de mentalidade, fôrça em frente à fôrça...
Ensina a julgar a árvore pelos seus frutos e não pelo solo
em que medra, nem pela mão que a plantou». (Ludwig
Borne).
383

êA MAÇONARIA é para realçar e educar a mente dos


homens, como membros da Sociedade, de modo que sejam
mais virtuosos e mais caritativos».-- (Frederico, o Grande).
***

«APESAR de que se há culpado a Maçonaria de gran-


des erros, ela tem desafiado tôdas as perseguições. Os ma- a

çons aumentam constantemente na maioria dos países. A


resposta a isso, é simples: Consiste unicamente na fôrça in-
finita do pensamento maçônico dimanante do espirito de
seus símbolos, que nada têm a ver com as questões políticas,
uma vez que propende exclusivamente para o espiritual».
(Lennhoff).
eb1.10 fazer aos outros, aquilo que não
queremos que se nos façam»,
eis uma boa política.
a

1
4

MAÇONARIA E POLITICA

Diz-se que a Maçonaria não faz politica. E isto é certo,


se por tal entender-se a luta de bastardos interêsses pes-
soais, o pugilato grosseiro das vaidades, os ódios de ca-
marilha; tudo isso tão pequeno tão prosáico e tão miserável,
que têm por inspiradores as más paixões e por fim o lucro
de ambiciosos e perversos.
Não. A Maçonaria não faz politica assim. Os homens
que se dividem por diferenças fúteis, que se insultam e se
aborrecem na lut& de encruzilhadas, assaltos e vinganças
da politicagem, êsses, se querem penetrar no interior de
uma Loja consciente, têm de descarregar à porta o pesado
fardo de suas misérias.
Mas politica é a arte de bem governar os povos. E
nenhum • cidadão deixa de se esforçar para áer bem gover-
nado, por mais medianamente culto que se tenha; como ne-
nhum homem se resigna a vegetar na escravidão, se pode
viver feliz na liberdade.
A Maçonaria faz politica; mas política dignificadora.
Essa que se funda na prática das virtudes cívicas, no cum-
primento dos DEVERES inerentes à cidadania; essa que
tende para o melhoramento das relações sociais: à paz, à
ordem, ao progresso e à liberdade dos povos.
Não pode ser maçom quem não saiba ler e escrever.
Só com essa simples exigência iniludível, ela faz politica.
Porque o homem culto é capaz de cooperar para O bem da
coletividade; tem critério para apreciar e, ainda, resolver os
problemas palpitantes de seu tempo, e discernimento para
escolher o caminho da conveniência pública; enquanto o
ignorante, massa flexível na mão de exploradores e tiranos,
é b pior inimigo do engrandecimento de sua terra.
Deve ser livre o que bate em suas portas. E não é
livre o homem inculto, incapaz de compreender ideais de
Justiça e de Democracia.
Precisamente por isso têm combatido tanto a Maço-
naria monarcas déspotas e clérigos fanáticos. Êles viam
que a politica maçônica significava a condenação do espi-
106

rito humano contra seus empenhos de degradação, embru-


tecimento e exploração dos povos.
Aprende-se, em Loja, algo que faz muita falta no mun-
do profano para manter o equilíbrio social: o respeito às
opiniões alheias. Pode todos os maçons pensarem, de dife-
rente modo sôbre problemas da atualidade; mas não deixam
de se fraternizarem como irmãos no culto do ideal da re-
denção humana.
E êsse espirito de temperança, e êsse respeito mútuo.
influem diretamente nas relações dos partidos políticos, se
distanciados por procedimentos e irmanados no amor à
Pátria.
A vontade das maiorias, -- Juiz Supremo em tôda a
verdadeira Democracia —, constitui para o maçom algo
assim como um mandato divino, Assim a Maçonaria ensi-
na aos cidadãos a se submeterem à opinião dos demais, res-
peitando estritamente as leis, e sem que, isso, se entenda
que caem na humilhação de abjurar o seu critério. São livres,
de tal modo, de sustentá-lo no terreno legal, e até de ven-
cerem as maiorias, a seu tempo, raciocinando e persuadindo
A protestação honrada, o desentendimento franco, a
exposição desembaraçada da opinião própria, é uma virtude
maçônica. O homem deve dizer sempre o que nensa e o
que sente, dõa a quem doer, e morra quem morrer. A hipo-
crisia, o temor à impopularidade o dissimulo dos sentimen-
tos, tudo isso que os homens praticam por indisculpável
convencionalismo, repele-o a dignidade humana.
Cooperar com a redenção dos povos é fazer política
santa.
Nenhuma Instituição tende, como a Maçonaria, a fa-
zer livres os homens: livres na desfruta material da vida,
livres nos grandes desenvolvimentos.
Povo escravo é povo abjeto. Quem não luta por qual-
quer forma por libertar o seu país, não é homem completo.
Assim têm saído das Lojas maçônicas idéias dignificadoras.
que hão culminado na apoteose da Revolução Triunfante.
Assim o Maçom humilde tem assomado à tribuna dos Gi-
rondinos na Convenção francesa; ha lançado com Jorge
Washington os alicerces do maior e mais livre dos povos;
há libertado com José Marti, à bela escrava do Caribe. — •
a terra formosa onde se balançam as canas agitadas pelas
: brisas tropicais e elevam seu penacho as erectas palmeiras,
repetindo incessantemente o hino de dor de um povo tão
nobre quanto desventurado.
Igualmente têm estado sempre suas carinhosas simpa-
tias com Lafaiete, ajudando com sua espada à redenção dos
— 107 .-.

colonos do Norte; com Garibaldi, fazendo a unidade ita-


liana; com Kosciusko, o imortal Kosciusko; com Bolívar,
com Kruger, com todo o grande, o redentor, o livre e o
augusto.
A política, mais do que uma arte nobre, é essência das
atividades humanas, encaminhadas à mais perfeita organi-
zação dos povos.
Quem não faz política? Isto é, quem não anseia o
bem estar de sua familia, a riqueza de seu povo, o melhora-
mento de sua província e a grandeza de sua Nação 7
Que homem, medianamente culto, não busca a ordem,
a tranquilidade, o trabalho, a dignificação de todos; a honra
para sua bandeira, a fortaleza para sua raça, a fôrça e o
engrandecimento para sua Pátria?
E que maçom, — haja nascido no Trópico ou debaixo
dos climas polares, — não aplaude em outros homens êsse
anelo belissimo, eterno ideial de todo o espirito cultivado ?
Todos, todos fazemos política. As vêzes, até com o
pão que comemos e a água que levamos aos lábios.
A Maçonaria faz, sem cessar, a politica que enobrece,
a que dignifica, a que engrandece.
O que ela não permite é que seus adeptos deixem de
amar-se por diferenças de apreciação ou critérios de escô-
lha. Nem tolera que penetre em seus Templos quem não
consiga fazer-se superior às suas preocupações, arrojando,
antes de pisar o umbral, o fardo de suas misérias. (Trad...)
0

O sentimento, por meio do amor, busca


a beleza.
A inteligência, por meio do conhecimento,
busca a verdade.
A vontade, por meio da atividade, busca
o bem.
Portanto,
as três causas do mal são:
Ausência de Amor, ou Egoismo.
Ausência de conhecimento, ou Ignorância.
Ausência de atividade, ou Preguiça.
(Ituarte).


.

r
A MAÇONARIA E A HISTÓRIA DO BRASIL

Nume que é das liberdades públicas, tem sido a Maço-


naria. em tôdas as épocas, mesmo as mais remotas, a grande
vanguardeira dos direitos do homem, a coluna angular do
magestoso edifício da IGUALDADE da lei, e a incansável
e sublime pregadora da FRATERNIDADE humana.
Quando os povos se submergiam, ainda, no obscuran-
tismo mais lamentável, sem consciência dos seus direitos de
cidadania, vivendo escravizados por uma tirania inescru-
pulosa e embrutecedora, foi uma plêiade de homens ilumi-
nados que, esquecendo as canseiras e entregando-se ao
martírio dos déspotas, empunhou o lábaro da redenção,
pregando em todos os recantos o ideal de LIBERDADE,
IGUALDADE e FRATERNIDADE, preparando, assim, a
senda por onde a humanidade devia trilhar até alcançar
a plenitude dos seus destinos.
Por isso, a história da Maçonaria é feita de gloriosas
conquistas e de grandes contrastes. -
Na marcha progressiva da civilização dos povos, até
nossos dias, a Maçonaria há tomado parte sempre ativa,
doutrinando incansavelmente a consciência do dever, do
devotamento, da disciplina, do respeito, da estima e da
sinceridade mútuas. Do amor, da virtude, da prudência
e da justiça recíprocas. Da religião, da filosofia, da ciência,
sem a estultícia de absurdos dógmas.
No Brasil, tem, ela tambem, a sua grandiosa história,
interferindo de maneira sábia e proveitosa em tôdas as;
conquistas das liberdades pátrias.
Desde a conjuração de 1789, que a sua influência se
fez sentir na realização da independência nacional.
Foi o grande patriota dr. José Alvares Maciel que
inoculou no cerebro de TIRADENTES a idéia da liberta-
ção do País. E um grupo de homens livres, como Alva-
renga Peixoto, Domingos Vidal, Padres Rolim e Toledo,
cónego Luis Vieira, tendo à frente o Grande Alferes, pro-
jetou o patriótico levante de Ouro Preto, que outro fim não
tinha senão o de fazer a indepeàdência da terra brasileira.
O patriótico movimento tinha uma bandeira em fórmula
— 112 —

de «triângulo» com a expressiva legenda «Liberta güae seta


tamerm.
Se os heróis não venceram, conseguiram plantar, entre-
tanto, a semente que, regada com o sangue do mártir. --
21 de abril de 1792, germinou, cresceu e frutificou.
Poucos anos depois, 28 de janeiro de 1808, o glorioso
Grão Mestre José da Silva Lisboa, — Visconde de Cairu,
que ninguem desconhece, consegue a lei que torna franco os
portos do Brasil ao comércio das nações amigas, deixando,
assim, a nossa terra de ser simples colônia de Portugal
A benemerita Instituição não esquece os destinos da
Pátria um só instante e, nesse particular, não dorme. Os
seus trabalhos tomam fôrça e vigor. As suas COLUNAS
se conservam atentas enquanto os acontecimentos nacionais
seguem importantes rumos.
Depois do célebre Manifesto das 8.000 assinaturas,
dirigido ao Príncipe, verifica-se o «Fico».
O grande 'maçom José Clemente Pereira, assomando a
uma das janelas do Paço Real, a 9 de janeiro de 1822. anun-
cia ao povo que o Príncipe mandava dizer que, «como era
para bem de todos e felicidade geral da nação, ficava no
Brasil».
Isto deu lugar à formação de um ministério, com três
pastas e de que era chefe o 112 Grão Mestre dá Maçonaria.
José Bonifácio de Andrada e Silva.
Mas a obra não estava consumada. Oito meses depois,
7 de setembro do mesmo ano, graças, ainda, à ação benfa-
zeja da Maçonaria, pelos seus vultos preeminentes — José
Bonifácio, José Clemente Pereira, Frei Francisco Sampaio,
Gonçalves Ledo, Cónego Januário Barbosa e muitos outros,
a terra brasileira se tornava independente, abrindo-se uma
nova página de luz nos fastos da nossa história.
Estavamos, destarte, constituídos' em nação livre.
A primeira promessa da sublime trilogia maçônica: —
LIBERDADE, tornára-se uma realidade entre nós.
A tutela desaparece. As muralhas que impediam o pro-
gresso pátrio ruíram ante à fôrça da fé e do civismo de uma
plêiade de abnegados cidadãos.
A consolidação do magistral feito custou, ainda, sacri-
fícios ingentes. O sangue lavou a terra, mas a obra não
desapareceu.
A sublime Instituição continuou o seu afanoso e sacro-
santo labor. Os verdadeiros patriotas não podiam ensari-
lhar armas, porque outras conquistas se impunham para o
bem geral.
-• 113 •—•

Tratava-se de construir uma Pátria una, de uma só


gente, ligada pelos mesmos costumes, obedecendo às mes-
mas leis, procedente dos mesmos troncos, professando tuna
mesma fé, falando uma só lingua e essa Pátria não se podia
constituir com duas raças: a raça dos senhores e a raça
dos escravos.
Na terra livre existia uma lamentável casta de escra-
vos, criaturas sem direito de cidadania, para quem só existia
direito do trabalho como se fõra irracionais.
A sorte dêsses seres infelizes passava, assim, a merecer
especial atenção e positivo carinho dos obreiros do bom
combate.
A emprêsa era titânica, porém maior o sentimento de
humanidade que empolgava os que juraram lutar pela
IGUALDADE de todos perante a lei. Dessa conquista
muito lucraria o Brasil no concêrto das nações civilizadàs.
os maçons começaram a desbastar a primeira pedra
para a construção do magistral edifício, que teve a sua
fundação em 1850 com a promulgação da Lei que impedia
trafico de escravos na terra brasileira, lei de autoria do
saudoso maçom, o eminente estadista Euzébio de Queiroz,
, membro da Loja «Regeneração». de Niterói, consolidada
depois pelo Regulamento de 1854 da mesma autoria.
Levanta-se, então, a figura imponente e heróica do 7.?
Grão Mestre, José Maria da Silva Paranhos, Visconde do
Rio Branco. Era mister extinguir outra fonte de escravidão:
nascimento. Surge a lei do ventre livre — 28 de setem-
bro de 1871 — eliminando a regra do Direito romano que
parto segue o ventre. Ventre escravo, filho escravo. Mas
Paranhos reformara: «ventre livre, filho livre», e eliminou
de uma vez a escravidão nativa.
Rio Branco foi auxiliado pela Maçonaria. Lojas se
fundavam com o objetivo único da libertação de escravos e
traziam no artigo primeiro dos seus estatutos, que nenhum
maçom, pertencente ao seu quadro. poderia possuir es-
cravos.
é o próprio Visconde que. em sessão comemorativa
da «Lei do Ventre Livre», realizada na sede do Grande
Oriente do Brasil, em 2 de março do ano seguinte, declara:
«O mérito é vosso; a honra desta solenidade vos cabe
principalmente. Eu sou, apenas, a expressão personificada
do vosso generoso pensamento, pela dupta e transitória qua-
lidade que recebi da vossa confiança e do certamen da vida
política».
exército fraternizou com a Maçonaria e negou-se a
-• 114
manchar a farda de defensores da Nação na faina servil
de caçar negros fugidos à prepotência dos seus senhores.
Não bastava ainda. O que estava feito era insuficiente
o movimento libertador toma vulto, conseguindo empol-
gar a Nação um pugilo de abolicionistas.
Três anos depois, — 25 de março de 1874, — quando
ainda nos deliciavam a alma os cânticos uníssonos das hosa-
nas entoadas pelas mães escravas e pelos nascituros livres,
vem a lei Saraiva Cotegipe, libertando todos os sexagenários.
Nessa altura, os inimigos da Instituição, compreenden-
do a sua influência em todo o longo movimento libertário, e
receiando uma aliança entre a Maçonaria e o Trono, para
abatimento da nobreza privilegiada, iniciaram uma campanha
de ódio e de descrédito contra a mesma, campanha que
degenerou em tremenda luta e da ,qual foi figura épica,
pela causa maçônica, o grande Saldanha Marinho, que mais
tarde foi vitorioso, conseguindo a separação da Igreja, do
Estado, o casamento civil, a secularização dos cemitérios
o ensino livre.
Nada, entretanto, abalava o ânimo e os maçons se
descobrem para a luta, vindo ao cenário Joaquim Nabuco,
José do Patrocínio, Luiz Gama, Ferreira de Menezes e ou-
tros, que usam das armas mais valorosas, esgrimindo com
mestria a palavra falada e escrita. Da tribuna popular e das
colunas da imprensa, partem o fogo mais vivo, conseguindo
abrir fendas na alma da nacionalidde que se empolga e vibra
pela vitória final.
Nabuco e Patrocínio se fazem de colunas mestras do
esplendoroso movimento libero-cívico. Com êles estiveram
a postos outros maçons, como Manoel Pinto de Sousa Dan-
tas, presidente do Gabinete de 6 de junho, vencido no par-
lamento, mas vitorioso na opinião pública; José Mariano
Carneiro da Cunha, jornalista combatente: Quintino Bocaiu-
va, príncipe do jornalismo, cuja pena foi um facho de luz;
João Alfredo Corrêa de Oliveira, o presidente do Gabinete
que realizou a reforma, tendo por companheiros Luis Antô-
nio de Oliveira, então Grão Mestre da Ordem.
Em São Paulo chefiou a abolição Antônio Bento de
Sousa Andrade. enquanto em Campinas, Francisco Glicério
Manoel Ferraz de Campos Sales. arriscavam a vida pelo
ideal nobilitante.
No Ceará, &liguem ousará obscurecer a atuacão mar-
cante de "João Cordeiro. ajudado nela «Fraternidade Cea-
rense», loja de que era venerável, e de Carlos da Silva
Jatai. António Bezerra de Menezes e outros maçons ilustres:
Não comporta, aqui, o catalogar dos nomes de todos 05
PIIIIIII~11"1111.
11111111.1111"1"

— 115

maçons brasileiros que se empenharam na belíssima luta.


Vale, a pena, entretanto, citar as lojas que mais se desta-
caram na atuação anti-escravista.
Comecemos pelo Ceará, onde a 'grande benfeitora e
grande benemérita «Igualdade» tomou parte marcante na
obra libertadora, como se verifica dos seus anais. Em Ma-
naus, a loja «Amazonas» pôs à disposição da libertação da
Província todos os seus metais. Em São Paulo, a loja «Amé-
rica», filha dileta de Luiz Gama, muito produziu. A loja
«Segredo», do Poder Central, solenizava as suas festas al-
• forriando escravos à custa dos seus metais. A loja «Perse-
verança», de Paranaguá, dispendeu grandes somas liber-
tando crianças do sexo feminino.
E pelo Brasil afora, onde existia uma oficina maçônica
o trabalho era todo dedicado em bem da extinção do negra-
gado e infamante cativeiro.
Era que urgia debelar o mal, extirpar o cancro roedor
de uma nacionalidade nascente.
E a fé era tamanha, o trabalho tão intenso, que veio°
afinal a Lei Áurea, redimindo os .cativos, consolidando a
nação brasileira, embora o trono ficasse abalado...
A Princesa-D. Isabel, a neta do maçom Pedro I (irmão
Guatimozin) não trepidou. «Ante à glória efémera de con-
servar o trono de seus avós, preferiu a glória imperecível de
eregir um trono no coração dos seus compatriotas».
Destarte a obra esboçada por José Joaquim da Silva
Xavier, em 1789. continuada por José Bonifácio e Pedro I,
excelsos Grãos Mestres da Ordem, se acentuava de maneira
fulgurante com o 13 de maio de 1888, para se consolidar um
ano depois. — 15 de novembro de 1889, com a implan-
tação da República.
Nesta última etapa, forçoso é dizer, se fez sentir, ainda,
a ação da Maçonaria, pelos seus obreiros mais autorizados.
Não se pode negar que a República muito deve a Silva
jardim, Benjamin Constant, — o seu maior inspirador, Quin-
tino Bocaiuva. Aristides Lobo, Rui Barbosa e outros emi-
nentes maçons. dentre os quais o generalíssimo Manoel Deo-
doro da Fonseca, 129 Grão Mestre da Ordem, e seu conso-
lidador o maçom Floriano Peixoto.
Está, desta maneira, evidenciada a influência da Maço-
naria na conquista das liberdades brasileiras.
A Maçonaria fez assim, a independência do Império
realizando a LIBERDADE, a abolicão dos escravos, im-
plantando a IGTIALDADE: a nroclamacão da República,
anunciando a FRATERNIDADE, ligando à sua história,
a História do Brasil.

«Deus é Amor ...»


«0 principio da sabedoria é o temor de
Deus»;
u0 temor de Deus é aborrecer o mal
Logo: o principio da sabedoria é ser bom.

CRENÇA EM DEUS

Houve quem já afirmasse, por má fé ou ignorância,


que a Maçonaria é uma Corporação atéia, uma Assembléia
dos Sem Deus.
Nada mais falso, mais, estulto, mais errôneo e menos
ridículo.
<<Fla um principio fundamental em Maçonaria que forma,
digamo-lo assim, parte integrante da sua doutrina: a crença
em Algo Superior ao Homem.
Pessoas ilustradas que valem muito, mas que têm o
fanatismo do LIVRE PENSAMENTO, crêem incompatível
êsse princípio com a razão, e o interpretam como a imposi-
ção da crença de um Deus, dêsses a quem as religiões posi-
tivas têm investido de forma corporal e de anacrônicos
atributos.
E nada mais longe do que isso.
Precisamente, a Instituição maçônica, respeitando os
cultos, vive fora de todos êles, não encontrando em nenhum
a verdade estrita, nem o cumprimento da missão do homem
sobre a terra.
Exige a Maçonaria a crençá em um Algo Supremo,
como base indispensável de tôda moral. E está aqui as
causas do seu respeito a tentas as seitas religiosas, por mais
cheias de erros que resultem na aplicação de suas práticas.
Se o homem acreditar-se ser o Rei da Criação,
ciente e superior a todo o criado olvidará facilmente
seus deveres, erigindo-se em tirano e caindo na maldade
mais violenta.
Por isso têm sido cruel os déspotas da política. Por isso
tem havido os Néros, Cómodos, Napoleões e Hitleres.
Aquele que nega tôdas as formas da Divindade; aque-
le que abraça por convicção a seita materialista, não pode
deixar, de, pelo menos, reconhecer a impotência humana..
120 —

Reuni em um corpo tal quantidade de fosfato de cal,


de ferro, de arsênico, de todas as substâncias que alimentam
a nossa vida e tereis músculos, nervos, sangue, ossos. Com-
binai membros e vísceras e tereis um homem. Fazei cres-
cer esse homem e falará, sentirá, pensará.
Perfeitamente !
Mas, podeis reunir essas substâncias e realizar essas
combinações em um laboratório químico ? Existe alguma
máquina incubadora, feita por nós, para formar homens,
e temos algum processo mecânico para construi-Ias assim
como levantamos uma casa, ou tecemos um chapeu ? Não !
É a Natureza a única que pode realizar essa obra perfeita.
Acreditai na Natureza superior a vós, ainda que vos as-
suste indagar a origem dela, e, com isso, nos basta para
começar a educarmo-nos na verdade.
O homem pode deter o raio, sulcar os mares, preve-
nir-se contra o frio, afastar a nuvem e precaver-se da caida
do raio, secar os mares, impedir o frio. E, por muito grande
que se acredite, pode morrer queimado pela eletricidade, ar-
rastado pela corrente, esmagado por um edifício, ou asfixia-
do por pneumonia, por mais púrpura e sêdas que vista.
Acreditai-vos inferior ao Cosmos; proclamai a fõrça do
desconhecido, reconhecei vossa deficiência física e a insta-
bilidade de vossos passos pelo mundo e não vos será exigido
mais.
A Maçonaria, que não é seita religiosa, não pode exigir
a crença em tal ou qual Deus. Ela se conforma com que
o homem, vendo-se falível, imperfeito mortal, afaste de si
todo espírito de soberbia, para que possa praticar a cari-
dade era bem do próximo. Por isso exige de seus novos
adeptos que consignem no «Testamento», o reconhecimento
sincero de sua fé em um Grande Arquiteto do Universo.
Asseguremos ao avaro que não morrera nunca, e ente-
sourará todo o ouro da terra, ainda que a Humanidade mor-
ra de fome. Se alguma cousa gasta hoje é porque sabe que
não levará à tumba seus tesouros.
A Maçonaria quer apenas isso: que o homem se per-
suada de que não levará a eternidade as suas grandezas
sociais, para que as reparta entre seus irmãos.
Que o homem compreenda que não é causa, senão
efeito; que não é Onipotente, senão frágil, para que se
- 121 -

despoje de suas vaidades e, — em lugar da presunção da


soberbia —, busque o doce consôlo para o seu espirito. na
estima e na gratidão de seus concidadãos».
A doutrina da Divindade está expressa em vários sím-
bolos da Ordem. O Delta, por exemplo, é, para os maçons,
um testemunho perene dessa afirmativa, um marco sagrado
dessa fé. O iod que o a<G» traduz na eloqüência de sua
expressão muda, outra cousa não lembra, senão o Principio,
a Unidade, — Deus —, que chama de Grande Arquiteto
do Universo, como outros chamam de God, Allah, Elohim,
Sog, Iah, Adonai, Thios, Pussa, Ilos, Dore, Fenn, Elah,
Die, Dieu, Deo, etc.. etc.
Em nenhuma Lei Maçônica antiga, deixa de existir,
acentuadamente, a velha e confortadora fé no Criador dos
Mundos, o Doador da Vida, que nos dá 'a Liberdade da
luz, a Igualdade da origem e a Fraternidade do amor.
Em sua existência, pois, está a sublimidade do Homem,
sábre os outros animais, porque somente o Homem tem in-
teligência e concebe esperança
1‘

«O HOMEM há conquistado o poder fora


de si:•o domínio da terra; é necessário que
conquiste o poder dentro de si: o domínio do
espirito».

«O HOMEM é o artífice do seu destino;


a éle cumpre realizar o est 'Orço de criar-se a
si mesmo; o dever de esculpir a grande obra
do espirito na rude matéria da vido.


ê.

MAÇONARIA E COMUNISMO

Seria incompleta a nossa pretendida definição do QUE


MAÇONARIA, se não incluíssemos neste livrete o pre-
sente capítulo.
Muitas contendas se têm suscitado, nestes últimos tem-
pos, em tôrno destas duas idéias: Maçonaria e Comunismo,
criando-se sôbre o assunto uma imensa confusão que, nesta
oportunidade. achamos necessário esclarecer para que se
desfaçam os conceitos errôneos, as interpretações levianas
ou malévolas, a respeito.
Uns querem unir as duas doutrinas em um só ponto de
vista sócio-económico; outros. confundem-nas, maldosamen-
te, para declararem que uma é filha dileta da outra, com
um só objetivo: a destruição de Deus e da Pátria. Éstes,
acham-nas distintas, com rumos diferentes, mas perfeita-
mente compatíveis; aquêles, encontram em ambos os princí-
pios, inimigos ferozes, que se chocam, para se destruirem..
Nesta ordem de cousas tentaremos estudar a questão
em face da ortodoxia maçônica, sem paixões, ou ódios, nem
tão pouco com o desejo preconcebido de combates. Quere-
mos, apenas, que fique perfeitamente esclarecido o que há
de relações ou relativo, como de antagônico e incompatível
entre uma e outra idéia humana.
O que ficou escrito nas Rilhas percorridas date opús-
culo, por si só. seria suficiente para levar o leitor a conclu-
sões sôbre o tema aqui em tela. Mas, mesmo assim, não
fugiremos de abordá-lo de frente para que nenhuma dúvida
possa ficar na mente de quem deseje esclarecimentos mais
positivos e, por isto, mais verdadeiros, quanto iniludíveis.
Quem conhece a doutrina maçônica nas suas sábias
minudências; quem, de fato, perquiriu os segredos dos seus
símbolos, entendendo a sua imutável e eloquente linguagem
muda; quem se familiarizou com os Manuais e Códigos da
Ordem e tomou conhecimento, assim, das diretrizes filosó-
ficas da Instituição, não terá dúvidas em afirmar, com se-
i gurança e desassombro, a incompatibilidade entre a Maço-
naria e o Comunismo, como entre tôda idéia totalitária-
—• 126 —•

estatal, seja fascismo, nazismo, integralismo, ou qual deno-


minação se apresente na sociedade humana.
Particularizemos:
O Comunismo é uma doutrina econômica, sabemos to-
dos, mas tem uma filosofia que lhe serve de base. A Maço-
naria é uma instituição social, mas possui e propaga. tam-
bem, uma filosofia que é a razão primordial de sua exis-
tência.
E é aqui que está o choque frontal entre as duas idéias,
embora em outros pontos sejam, por vêzes, acordes.
A Maçonaria, como instituição social, proscreve, como
tambem faz o Comunismo, a exploração do homem pelo
homem, condenando que um morra de fome à porta de outro
saturado de gôzo e de prazeres, mas a sua filosofia tem
como regra A MORAL DO INDIVIDUO, proclamando,
por isso, que é pela perfeição de cada homem que virá o
bem estar de todos, — a bonança, a paz e a prosperidade
geral —, esposando, destarte, a tese de que o poder é uma
expressão da moral e que essa moral tem assento na alma
humana e origem na bondade incognoscivel de Deus
Senhor da Vida — a quem chama de Grande Arquiteto do
Universo.
Concebe a FRATERNIDADE internacional e a
IGUALDADE social, pelo AMOR, isto é, pela elevação es-
piritual de cada indivíduo, através da persuasão, numa edu-
cação permanente e liberta, que leva ao conhecimento da
JUSTIÇA.
Interpreta o Estado como uma fôrça moral, para a no-
bre finalidade do desenvolvimento coletivo e melhor aper-
feiçoamento da personalidade de cada cidadão, a quem apre-
senta um Código de DEVERES.
Justifica a propriedade privada, como necessária e útil
ao estímulo do indivíduo ao trabalho, e ao conhecimento de
suas responsabilidades espirituais como administrador dos
bens adquiridos e originários de Deus, negando. destarte.
seja a vida física e, consequentemente a económica, o des-
tino do homem, pelo que destaca e proclama a supremacia
dos valores morais.
Ensina o «sacrifício pelo serviço da Pátria, da ordem
pública e da humanidade» e recomenda o «respeito às leis
e a Constituição que contém as eternas garantias de liber-
dade», sem que isso implique na evangelização de qualquer
forma de ,govêrno, considerando «infeliz o maçom que con-
sentir em tornar-se instrumento da Santé, aoôio da usurpa- ,
ção e apologista da injustiça», porque a Ordem «repudia
IV

todo o despotismo, quer sôbre o corpo, quer sôbre a cons-


ciência».
Organização elevadamente democrática, a Maçonaria
faz da liberdade individual o seu maior postulado. Não im-
põe dógmas, se não os da bondade; não se inclina para
a esquerda ou para a direita, para não opor muros no campo
da investigação no limite da consciência e da razão. Sua
marcha é ascendente, em busca da verdade, nada aceitando,
por isso, como definitivo, além das virtudes que emanam
do amor, no sentido espiritual da perfeição humana, em
cuja doutrina tem firmado o pedestal de sua filosofia, razão
de ser da sua existência através das raças e do tempo.
Contrariamente a tudo, isso, é. por sem dúvida, a filo-
sofia em que se firma o Comunismo, ou seja: o materialismo
histórico pregado por Marx, que afirma, em síntese, que
«o curso da história, os costumes as formas de organiza-
ção social, as idéias predominantes e a vida da sociedade
humana dependem SólVIENTE das CONDIÇÕES DA
PRODUÇÃO, isto é, da técnica desta e da forma como se
organiza e se efetiva».
Nega, assim, a filosofia comunista, os valores morais e
a fôrça espiritual do homem, na causa da prosperidade e do
progresso dos povos, porque entende que a moral é, apenas.
uma expressão do poder econômico de cada coletividade.
E, desta forma, troca o homem pelo «partido», o indi,
viduo pela «massa», a iniciativa pessoal pelo «comité» a
dignidade humana pela obrigação para com o Estado, o
livre arbítrio pela «sociedade de resistência».
Ensina, em suma, essa doutrina materialista, negadora
de DEUS, que o úNICO fator da Vida e a CAUSA de tudo
é o FATOR ECONÔMICO.
De acôrdo com êsses preceitos negativistas o hontem
não pode. jamais, transpor o plano da animalidade.. porque
tudo que há de valoroso em nossa vida: o amor, a amizade,
o heroismo, o desinterêsse, a justiça, a honradez, a ai-mei
ciarão, denendem. até às últimas consequências, das conse-
quências econômicas.
Substitui, assim. os impulsos morais, pelo progresso da
técnica, declarando guerra às fôrças vivas do espírito, uma
vez que o homem. destarte, passa a ser um escravo' irrespon-
sável da fatalidade econômica.
A &orla do «materialismo histórico», que forma a filo-
sofia comunista, entende que, para se corrigir os males, ou
as injustiças sociais, modificar as instituições, os costumes,
os conceitos. as opiniões, basta modificar a técnica da pro-
— 128 —
dução, porque «esta é. a base, a chave e a essência da his-
tória».
Relacionada com essa teoria materialista da vida (his-
tórica, dialética ou científica), dando ênfase à filosofia do
Comunismo, vem o apregoado «determinismo econômico»,
que ensina que todos os fenômenos históricos se explicam,
conhecendo-se o estado econômico da Sociedade.
cA Estrutura econômica da sociedade, afirma a doutri-
na marxista, é a base real e efetiva sôbre a qual se traça a
estrutura jurídica e política, correspondente a formas deter-
minadas da consciência social».
Quer isso dizer que as «idéias e crenças de uma deter-
minada época se explicam, de maneira singela. pela inter-
pretação das condições da vida econômica dominantes na
mesma».
Para a teoria materialista concebida por Carlos Hen-
rique Marx e Frederico Engels e pregada no seu celebre
«Manifesto Comunista», — idéias de que Lenine fez o seu
apostoladk? go fato econômico é o cerne. a medula, a
essência e a subsistência final da vida individual e coletiva».
Dentro dêsses princípios é que «se pretende que as fun-
ções e as relações econômicas do indivíduo e da sociedade
determinam de MODO FATAL e EXCLUSIVO, TODOS
os' demais fenomenos de sua existência e de sua vida, tais
como idéias, atitudes, caráter, propósitos, conceitos morais
e religiosos, instituições, arte e ciência. TUDO obedece a
causas econômicas. TUDO deve explicar-se em termos eco-
nômicos».
E daí porque essa filosofia materialista «afirma que
TÔDA sociedade tem sido sempre a história de lutas de
classes: que a luta de classe é absolutamente ESSENCIAL
e INEVITÁVEL para o progresso da Sociedade». E pro-
clama «que a luta dos opostos é o ÚNICO processo vital
criador», dividindo a Sociedade, para isso, em dois gran-
de campos: a «burguesia» e o «proletariado». Neste parti-
cular, IVIarx declara que «a classe proletaria é a ÚNICA
que produz todos os valores». (Int. do Capital e o Tra-
balho).
Diversamente a isso, entende a Maçonaria, cuja dou-
trina é expressão de bom senso, de paz, de ordem e de pro-
gresso. Efetivamente. «um dos grandes erros do século
foi o de ver e por em evidência o lado involvido da socie-
dade humana: foi a incompreensão entre capital e ttabalho:
foi a luta de classes. Tudo isto exprimia, no campo econô-
mico, a universal visão materialista então operante. Não só
é dever do Estado não ser expressão dessa luta, como do-
— 129 —
minar te:das as atividades econômicas; ser o organismo ético
que absorva tôdas essas atividades, dando-lhes um fundo
moral e social, elevando-as a função.
«A luta de classes pode ser considerada uma enfermi-
dade social do período involvido. como um fato patológico
vencido. O sonho de demolir o capital para realizar o ad-
vento de um proletariado supremamente inapto, em sua
inconsciência, para qualquer função diretora, significa pecar
as fontes da riqueza de todos. Sobrepujamento e violência.
a exploração da ignorância popular por egoísmos políticos,
a greve e o «lok-out», não resolvem o problema da produ-
ção e da riqueza. Tudo isso é filosofia ecônomica de deca-
dência, .mecanismo de destruição. E &idas as classes encon-
tram no'colaboracionismo reconhecimento e proteção: o tra-
balhador do pensamento e o trabalhador da terra, o soldado
o operário. Colaboração. não luta de classes. A proprie-
dade é base natural do edifício econômico, como a família
é do edifício social; é, como esta, lei da natureza, apropria-
da também ao mundo animal. Destruir essas unidades pri-
mordiais insubstituíveis, é demolir a natureza humana».
Ora, pelo que acima ficou dito, mesmo em largos traços,
não se pode ter mais dúvidas da incompatibilidade frontal
entre as duas filosofias: a que serve de base ao Comunismo
a que prega a Maçonaria. Aquela é positivamente atéia,
iconoclasta, revolucionária e autoritária; esta, altamente es-
piritualista. nobremente conservadora, sabiamente progres-
sista e classicamente liberal.
Assim, enquanto uma doutrina, — a filosofia comunis-
ta se assenta no auto-dinamismo da matéria, achando que
problema da vida é fundamentalmente econômico, a outra
reconhece que tudo parte de uma questão moral, originária
do espirito criador de Deus. que acha ser o primeiro motor
das cousas. Aquela entende que o fundamento da FRA-
TERNIDADE está na resistência à exploração: esta, prega
que vem do amor, pela persuasão. que é o principio do pro-
gresso da consciência humana.
A Maçonaria concebe que «o segredo da reforma. ou
da completa renovação da ordem social, não está em esque-
mas externos ou mecanismos materialista», mas em fôrças
psicológicas vivas», porque o único elemento que pode tri-
unfar sôbre a paixão baixa e animal, que é o egoismo feito
crueldade social, são as fôrças do espirito.
«Abolir os controles morais, declarar guerra às fôrças
vivas do espirito, julgar o homem um escravo irresponsável
da fatalidade económica, pôr em liberdade as matilhas do
ódio, sob pretexto de emprega-las na causa justa do prole-
— 130 —

tarjado e. logo, pretender controlar tudo isso com simples


TÉCNICAS DE PRODUÇÃO, constitui a tática mais peri-
gosa e a experimentação mais absurda da história».
De acôrdo com os ideais maçônicos, e cristãos, «a hu-
manidade ao livrar-se do suave jugo do espírito, cairá de-
baixo do jugo implacável do Destino».
«A Ciência terá de se espirtualizar; exaurida a sua fun-
ção utilitária, sobrepujará esta sua característica, adquirin-
do valor moral, com objetivos espirituais».
O Maçom, portanto, cônscio da doutrina em que se ini-
ciou e de que se fez, espontânea e livremente, adepto e de-
fensor, não pode, em sã consciência, ser comunista, uma
vez que não é admissivel, corno nos parece, a separação do
Comunismo da dialética e filosofia em que tem assentado
os seus fundamentos e a sua doutrina.
Isto, porém, não quer dizer que êle fica obrigado a
tornar-se algoz dos discipulos de Lenine. ou dos seguidores
de Marx, porque a sua missão é de paz e o seu dever é o de
educar para a verdade e para o bem.
Economicamente, isto é, no sentido puramente político-ad-
ministrativo da economia pública — produção e consumo, —
não existem grandes abismos entre as duas instituições, salvo
no tocante ao postulado de que «os fins justificam os meios»,
ou da supressão da liberdade individual pelo bem social, por-
que a Maçonaria considera o desenvolvimento da personali-
dade do homem, bem supremo, embora ostente, também, a
expressão «bem social», mas achando ser êste uma decor-
rência daquela. que considera primordial.
Coerente com o seu postulado de TOLERÂNCIA —.
de grande importância para o bem social —. não entra, a
Maçonaria, em guerra, com quaisquer formas çle gtvèrno,
não se faz inimiga de quaisquer princípios políticos, porque
se reserva para estudá-los, sem o ódio que obnubila a razão.
Na química das idéias, a Maçonaria é o azeite que
sobrenada à superfície dos demais corpos.
Mesmo assim. a Grande Instituição. como é sabido por
todos, não tem conseguido existir aonde se instalam os
governos autoritários, como há acontecido na Alemanha
nazista, na Italia fascista, na Espanha franquista. no Por-
tugal corporativista. on na Russia zomiinista. ocorrências
que servem para enfatizar a incompatibilidade de tais dou-
trinas com o liberalismo maçônico.
Qualquer forma ditatorial de govérno, até o caricato
«Estado Novo», brasileiro, de execranda memória, dá com-
bate à Maçonaria, fechando-lhe os Templos, ou perseguindo

- 131 -

seus adeptos, por mais pacatos, ordeiros e tolerantes, se


apresentem na sociedade.
É a força bruta das paixões jugulando a liberdade: é
o despotismo político oprimindo a consciência; é a tirania
do egoísmo matando o progresáo; é o terrorismo da medio-
cridade sufocando a sabedoria; é o instinto da brutalidade
animal em luta com a razão.
A Maçonaria, que é luz espiritual, não pode, jamais,
unir-se com as trevas do materialismo, tenha êle o nome de
«histórico» ou de «dialético»; seja o Comunismo científico
igualitário, internacionalista e ateu; seja o fascismo totali-
tário, xenófobo, imperialista e obscurantista; seja o nazismo
racista, violento, coercitivo, militarista, anti-intelectual, auto-
dinâmico e animalizante; seja o integralismo estatal, místico,
intangivel, autoritário, despersonalizante, casuista, infalível
e antropólatra, ou ,mesmo, o capitalismo reacionário, ególa-
tra, retrógrado, medieval, hedonista, que forma a ditadura
dos fartos e saturados de prazer, para explorar os desnu-
tridos.
Com estas considerações, pois, cremos ter separado o
joio do trigo, e esclarecido mais ainda O QUE É MAÇO-
NARIA.
4'
PARA conhecer a validade do mundo,
único fim sério da ciência, é preciso entrar no
combate da vida como entram os paladínos
bastardos sem pai e sem padrinho. —, (Orti-
gão).

UMA sociedade de irmãos unidos vale


mais do que tOdas as muralhas do mundo. --
(Marco Aurélio).
r


AÇÃO SOCIAL DA MAÇONARIA

A ordem Maçónica, possuindo uma filosofia humanista,


de elevado alcance moral, que prega como doutrina salu-
tar e espiritualizante. não deixou de ser, por isso. Instituição
social, uma vez que é, também, como acentuam as suas leis
básicas. uma ASSOCIAÇÃO PROGRESSISTA.
A necessidade de redimir a plebe, ou seja: promover
o melhoramento humano possivel, foi sempre um dos ângu-
los do seu magestoso programa social, — todo êle consubs-
tanciado na maravilhosa síntese que ostenta através dos
anos: LIBERDADE. IGUALDADE, FRATERNIDADE.
Os «DIREITOS DO HOMEM», por cuja DECLA-
RAÇÃO se bateu em batalhas homéricas e clignificantes,
sempre lhe mereceram o maior carinho, por serem os mais
condizentes com a dignidade humana.
Na execução classe nobre desiderato, é que a sua dou-
trina humanista «reprova e despreza a vaidade, a soberbia,
a prepotência. a hipocrisia, os faustos da fortuna, e manda
combater tôdas as libidinagens contrárias ao dever, à ame-
nidade, à virtude», males e vícios que constituem obstáculos
evidentes ao melhoramento geral, ao triunfo da equidade, à
harmonia social, à abastança relativa para todos, como pre-
conizou Fichet, o grande maçom. na sua formula: «A CADA
QUAL CONFORME AS SUAS NECESSIDADES, A
CADA QUAL CONFORME A SUA CAPACIDADE».
«Para abater o orgulho, levanta a humildade que eno-
brece; para aniquilar o egoismo, combate-o com a abnega-
ção; para realizar o valor, dá-lhe a perseverança e, depois
disto, impõe o amor à família, o respeito à lei, o sacrifício
pela Pátria».
Nunca a Maçonaria se' abstraiu da luta de todos os
tempos entre o CAPITAL e o TRABALHO e da necessi-
dade de destruir êste prejudicial antagonismo. causa de
miséria, de desordens e do aniquilamento do progresso co-
letivo.
No DIREITO é que encontra a solução magna, porque
não fere a paz, nem promove a anarquia. O direito poderia
associar o Capital ao Trabalho, os patrões aos operários,
136 —

criando um interêsse comum, justo e suficiente, para que


uma classe não tripudie sôbre a outra. E a equidade ensina
que nem a exploração do Capital sôbre o homem, nem a di-
tadura do Trabalho sõbre a Sociedade, porque, assim, o an-
tagonismo permaneceria, mudando, apenas, o verso da
questão.
«O Direito racional, a verdadeira liberdade e a justiça,
perinitem à tôda Sociedade, à tõda Nação, decretar as leis
que julga favoraveis aos seus interesses».
O bom senso tem geralmente admitido que uma asso-
ciação, no sistema comanditário, entre o capitalista e o tra-
balhador, reparteriarn os benefícios da produção e do lucro
e a harmonia se sucederia pelo resultado do interêsse comum.
Urna lei que decretasse tal medida, como a que extin-
guiu a escravidão, seria justa e não atentaria contra qual-
quer direito natural e poria têrmo a ambição unilateral, e
a criminosa exploração do homem pelo homem, sinal de
ignominioso egoísmo.
Tudo isso está, e sempre esteve, nas cogitações da Ma-
çonaria, por intermédio dos seus obreiros mais esclarecidos,
os quais, através do tempo, sempre lutaram pelos princípios
de igualdade e fraternidade, entre os homens de tôdas as
nações.
Já em 1897, o Supremo Conselho da Ordem, em Fran-
ça, depois de minucioso exame de difamações e calúnias,
atiradas contra a Maçonaria, por adversários implacáveis
e de estudar a ação dos inimigos da emancipação política
e econômica dos povos, resolveu enviar a todas as Lojas
uma «DECLARAÇÃO», ou «Diretrizes Sociais», documento
que foi, também, profusamente distribuido no mundo pro-
fano, divulgado no Brasil em Fevereiro de 1898, e do qual,
como apôio à nossa tese, transcrevemos aqui seus melhores
e mais importantes trechos, donde melhor se inferirá da ação
social da secular Instituição:

«A Maçonaria despreza os ataques, as injú-


rias, as difamações e as calúnias dos seus inimigos
tradicionais e continua, na calma da sua fôrça, a
obra intelectual, moral, política e social que lhe le-
garam as gerações passadas.
Não reconhece outras verdades que não se-
jam as fundadas na razão e na ciência e é só com
os resultados obtidos pela ciência, que combate as
supertições em que adversários fundam a sua auto-
ridade.
A lei primordial da Maçonaria é a tolerância.
137

Ela inscreveu solenemente na sua Constituição Ge-


ral, o respeito a tôdas as crenças, a tôdas as idéias
e a tôdas as opiniões, e a sua propaganda é bené-
vola, porque sabe que todos os corações são fra-
cos e os cérebroá ignorantes.
devido a essa grande tolerância que a Maço-
naria deve ter visto, em tôdas as épocas, homens
pertencentes às escolas filosóficas, políticas e so-
ciais as mais opostas, e às religiões as mais diver-
sas, reunirem-se nas suas Lojas para trabalhar em
comum pela emancipação do espírito humano, pela
independência da humanidade.
A moral da Maçonaria não está ligada a ne-
nhuma crença religiosa, a nenhuma teoria filosófica.
Ela é formada dêsse conjunto de preceitos que ensi-
nam o homem a ser melhor a fim de tornar-se mais
feliz, e que encontram-se em tôdas as religiões, em
tôdas as filosofias em que fóram estabelecidas pelos
sábios de todos os tempos e de todos os países. A
sua origem cientifica está no estudo do coração
humano' e das qualidades individuais e socia4s do
homem e é diretamente a essa fonte que a Maço-
naria vai buscá-los para espalhar pelo mundo.
Ao mesmo tempo que a Maçonaria esforça-se
por emancipar os espíritos e por libertar a moral
das supertições; ao mesmo tempo que ela ensina
a procurar a recompensa dos deveres individuais,
familiares e sociais convenientemente cumpridos,
só na satisfação da consciência e na estima das pes-
soas de bem, tomou a si a missão de transformar
em cidadãos livres e iguais perante as leis, os ho-
mens que faz irmãos, tendo a honra de ser auxilia-
das nessa tarefa, pelas personalidades mais consi-
deradas de todos os tempos e de todos os povos.
No domínio social, a Maçonaria não fica me-
nos fiel aos dados da ciência, de que aos da moral
e da política. Sabendo pelas observações dos sá-
bios e dos filósofos que o homem herdou dos seus
antepassados, ao mesmo tempo, os sentimentos in-
dividualistas, onde está a fonte de todos os direitos
e de tôdas as liberdades, e os sentimentos altruistas
em que se acha o fundamento da família e da so-
ciedade, a Maçonaria tomou a si fazer realizar, pe-
las leis, a conciliação dos interesses da sociedade
.com os de cada um de seus membros, de modo que
a legislação social contribua para o desenvolvimen-
138 —

to paralelo e para a felicidade simultânea dos indi-


víduos, das famílias e da sociedade.
A história inteira da humanidade dá o teste-
munho da inevitável necessidade das leis sociais.
De um lado, mostra a rivalidade dos egoísmos in-
dividuais, determinando lutas constantes de inte-
résses e de paixões, de onde nascem, com as misé-
rias e os sofrimentos, os ódios sociais e as revolu-
ções; de outro lado, prova que a aplicação muito
exclusiva da inteligência do homem, à satisfação
não refletida dos seus apetites, atenua ou afasta a
ação de tõdas as coisas que, entre os outros seres,
determinam o progresso dos indivíduos, das raças e
.das espécies.
As lutas desenfreadas do Comércio e da In-
dústria, em que não se pretende ver senão uma cau-
sa de progresso, não ocasionam todos os dias, pela
falta de cuidados e pela precocidade ou zêlo de
trabalho, o desaparecimento de grande número de
crianças dos dois sexos, e a degeneração física ou
intelectual de uma parte dos homens e das mulheres
mais fortes e mais inteligentes, ao passo que uma
multidão de indivíduos sem fõrças nem inteligên-
cia, vivem e perpetuam-se, 'graças ao confofto da
fortuna, sem nada produzir de útil e deixando uma
descendência degenerada ?
As guerras para a conquista do solo, para o
triunfo das ambições aristocráticas, para a glória
egoista das famílias reais, ou para a satisfação bru-
tal de apetites desumanos dos conquistadores, não
Suprimem periodicamente centenas de milhões de
homens escolhidos, em tõdas as nações, entre os
mais fortes e os mais novos, ao passo que os indi-
víduos menos próprios para perpetuar as raças e
para fazer prosperar a espécie, são afastados dos
azares das inúteis batalhas ?
As rivalidades e as lutas sexuais, tão fecun-
das em progresso entre outros seres, não acabam,
muitas vezes, na espécie humana, pela degeneração
das famílias e dos povos ?
Mantida, entre os ricos, na ociosidade igno-
rante de um simples instrumento de prazer, sujeita,
entre os pobres, a um trabalho muitas vezes supe-
rior às suas forças a mulher não está, em um •gran-
de número de famílias, condenada a só agir, quan-
— 139 —

to à sua progênie no sentido da retrogradação físi-


ca e intelectual?
A missão social da Maçonaria é atrair para
êstes fatos e para todos os desta ordem, tão noci-
vos ao progresso das sociedades humanas, a aten-
ção da opinião pública, dos filósofos, dos legisla-
dores e dos governos, e provocar leis susceptíveis
de remediar êsses males,
a0 homem, com efeito, não deve cuidar menos
de modificar a natureza e o encadeamento dos fe-
nômenos sociais, de que resultem a miséria ou o
bem estar, o progresso ou a retrogradação, do que
de transformar as condições cósmicas que atuam
sõbre a sua vida par prolonga-la ou para encurtar
a sua duração. Assim como há uma higiene públi-
ca, tendo por fim subtrair os membros da sociedade
aos agentes nocivos e criar as condições favoráveis
ao.seu desenvolvimento e ao emprêgo das suas fôr-
ças, assim também há uma higiene social, tradu-
zível como aquela em medidas legislativas, de que
resultarão fatalmente, com o melhoramento das con-
dições em que os povos se movem, o progresso mo-
ral, intelectual e social dos homens e a dispersão da
felicidade nas suas coletividades.
essa legislação cabe: cnmbater a miséria,
que é a conselheira mais ativa dos maus costumes.
dos delitos e dos crimes e a causa mais importante
da degeneração de uma porção notável das socie-
dades humanas; proteger a criança contra as causas
múltiplas de morte e de atrofia moral, intelectual
e física a que está exposta: elevar o papel da mulher
na família e na sociedade; aumentar a dignidade do
trabalho e a tranquilidade dos trabalhadores: su-
primir os conflitos do trabalho ou atenuar a gravi-
dade, e faze-los abortarem antes que tenham pro-
duzido os seus efeitos, que são de fatal conseqüên-
cia para todos os interesses em jôgo; espalhar o
mais possível, nas diferentes partes da sociedade. o
ensino da moral individual, familiar e social que faz
os homens honrados e bons, e a instrução técnica
ou profissional que, abrindo o espírito às verdades
científicas, fornece ao homem a arma mais eficaz
',ara a luta pela vida
e o viático mais seguro atra-
vés dos azares da existência.
A Maçonaria nunca dissimulou as dificulda-
des múltiplas da tarefa tão vasta e tão complexa que
assume, no tríplice ponto de vista moral, político
— 140 —

e social, mas, tendo por si o tempo, pois que é perla


manente, e a consciência dos serviços a prestar à
humanidade e à Pátria, ela não se deixará desviar,
nem pelas resistências dos egoísmos particulares,
nem pelos ataques dos que assentam a sua prepon-
derância material e a sua autoridade moral, na igno-
rância e na miséria do povo.
O zèlo de todos os seus membros deve ser
tanto mais ativo quanto os progressos já realizados
asseguram o triunfo, no futuro, da admirável trilo-
gia em que se resumem os seus esforços seculares e
que é a única formula sagrada das suas reuniões.
Liberdade! Igualdade! Fraternidade!»

Os importantes trechos acima reproduzidos, pela auto-


ridade da sua procedência e a severidade que os anos lhe
imprimiram, dispensam maiores comentários, e não deixam
dúvidas, a. quem quer que seja, a respeito da ação social da
Maçonaria através dos anos, podendo, mesmo, serem to-
mados, neste particular, como uma verdadeira declaração
de princípios, para o momento atual, quando a questão preo-
cupa a tõdas as Nações.
Nenhum dos obreiros ignoram que é um dos postulados
maiores da Ordem Maçônica «TRABALHAR SEM DES-
CANSO PELO BEM ESTAR DA HUMANIDADE, POR
SUA EMANCIPAÇÃO PROGRESSIVA E PACIFICA»,
preceito que o Supremo Conselho de França soube traduzir
de maneira tão sábia e tão rigorosamente exata.
Este capitulo, pois, vem ajudar esclarecer, sobremodo,
o que é Maçonaria, que bem poderia ser definida, pelo con-
junto de suas leis, da sua filosofia, de sua moral e de seus
princípios sociais, como UMA ESCOLA DE HONRA E
DE DEVER.

SUBLIME JURAMENTO QUE ERA PRES-


TADO PELOS JOVENS ATENIENSES

clamais degradaremos a nossa Cidade


com atos desonrosos ou de covardia nem, tão
pouco, abandonaremos os nossos companhei-
ros quando a dor lhes oprima; sozinhos ou
acompanhados, lutaremos pelos ideais sagra-
dos da Sociedade. Acataremos e observaremos
as leis do pais c nos esforçaremos para que
sejam também obedecidas e acatadas, até mes-
mo pelos nossos próprios superiores. Lutare-
mos incessantemente para avivar as virtudes
cívicas. E, dêste modo, transmitiremos a nos-
sa Pátria, como uma herança, aos nossos su-
cessores, nem rebaixada, nem diminuida, mas
notavelmente engrandecida
----~emeffeemermil

c-
A OBRA MAGNA DO MAÇOM

«Existem na Maçonaria distintas tendências, diversas


ideologias, que caracterizam cada Obediência Maçônica:
mas quaisquer que sejam essas tendências, sempre a finali-
dade é única: a de levar a cabo a Grande Obra, a OBRA
MAGNA DO MAÇOM, como um ideal supremo para onde
obreiro orienta tôdas as suas ações, com todo o poder de
que é capaz, com todo o alento de sua alma, com tôda a
vontade de seu espirito. Tôdas as ações devem estar, pois,.
orientadas no sentido da consecução desta meta única que é
desenvolvimento sempre crescente, no indivíduo, de suas
capacidades morais, intelectuais e espirituais.
Algumas Obediências baseiam sua atuação no aspecto
histórico da Instituição. Têm, por assim dizer, um fundo
histórico, movendo-as, também, interêsses baseados no co-
nhecimento da história até agora comprovada da Ordem
Maçônica. Outras, se orientam fundamentalmente pata o
aspecto moral da doutrina, ampliando a história da Ordem,
pela tradição, e reforçando esta com investigações arqueo-
lógicas que deixam entrever a origem antiquíssima da Ma-
çonaria e sua influência .na vida dos povos.
Ainda 'dentro de uma mesma Obediência há Lojas ca-
racterizadas por tendência social, e seus membros tratam
de fazer um ambiente propicio para desenvolver tôdas as
promessas que vislumbram no meio em que vivetn, e os ve-
mos orientando as massas e o povo em geral por caminhos
retos e inspirados sempre na doutrina maçônica. Outras
se caracterizam por uma tendência prática, e vemos os seus
membros modelando-se a si mesmos, tratando de alcançar
unia estatura espiritual de tal natureza que lhes permita
serem valores decisivos na orientação dos demais.
Mas, no meio de tão diversas tendências encontramos
sempre que o Maçom trata de superar-se a si mesmo, de
encontrar na Instituição e em suas doutrinas, a orientação
necessária para converter-se em um verdadeiro ser humano,
em um. verdadeiro homem.
Isto ,é alentador. Por mais que alguns zombem da Ma-
çonaria, por mais que alguns maçons não tenham uma visão
— 144 —
completa da missão da Ordem, sempre encontra-se neles o
desejo intenso de uma superação constante. E. isto, é, na
verdade, confortador.
Há também no mundo profano muitos sistemas filosó-
ficos que tratam de orientar o homem no sentido moral; es-
colas que cuidam dêste, ou daquele modo, de desenvolver o
intelecto para capacitar o indivíduo na luta pela vida; há
enfim, descobrimentos maravilhosos no campo cientifico;
mas o homem, apesar de tudo isto, não se sente feliz. Atrás
de todo esfõrço, de todo lõgro. sente que há algo que ainda
não compreende, algo que lhe escapa, e que é necessário
que sua mente dê um salto par descobrir, em plena luz, a
verdade que se lhe oculta.
A civilização nos tem trazido descobrimentos que, atua-
lizados pelo homem, lhe deram poder; mas não lhe deram
felicidade. E, se meditarmos sabre isto detidamente, verifi-
caremos que todos êsses descobrimentos que a ciência põe
à disposição do homem, são como um traje que não lhe está
bem. E isto se explica, porque êsses descobrimentos, feitos
do ponto de vista científico, não se acomodam ao ser real
que 'é o homem, já que a ciência não nos dá ainda o conhe-
cimento de nós mesmos, do homem real.
O dr. Carrel, um dos homens de ciência do dia, afirma
que «o homem é um todo infracionável de extrema com-
plexidade. Não é possivel ter do mesmo um conceito sim-
ples. Não existe método capaz de colher simultaneamente
seu conjunto, suas partes e suas relações com o mundo ex-
terior. Seu estudo, que deve ser abordado com várias téc-
nicas utiliza várias ciências, e cada uma das quais, conclui,
naturalmente, em um conceito diferente de seu objeto».
O homem real, pois, escapa às investigações da ciência,
e o que dizemos da ciência, podemos também dizer das filo-
sofias baseadas nas ideologias como pedagogia, história,
sociologia, economia política e religiões que abandonando
o ensino primitivo, encaixaram sua estrutura entre os con-
ceitos correntes da ciência moderna.
Através de uma análise científica não é possivel en-
contrar a verdade última acérca do homem. Isto porque,
aiie nos diz a ciência do que é o homem? A Anatomia nos
faz a descricão de todos os seus tecidos, nos relata maravi-
lhosamente a relação entre uns e outros. Mas no fim de todo
êste processo não responde à nossa pergunta, senão entre-
gando-nos um cadáver dissecado, algo que não é o homem.
E a Fisiologia. a Química, a Psicologia, que respondem?
Entrenam-nos, também, o resultado de suas-próprias espe-
cialidades, descrições parciais que, somadas, não dão um
- 145 -

conceito cabal da realidade do homem. E desta forma, se-


gundo Carrel, «cada um de nós não é senão unia procissão
de fantasmas, no meio dos quais caminha a realidade in-
cognoscivel».
Como é possivel, então, aproveitar todos os descobri-
mentos científicos, se carecemos de uma «Ciência Humana»,
se não sabemos o que é o homem, se não temos o conheci-
mento de suas necessidades integrais, do que constitui a
fonte de sua felicidade?
Pelo que diz respeito à Filosofia, enquanto esta seguir
o roteiro da ciência. não nos entregará. tampouco, um co-
nhecimento integral do homem, de sua realidade e, portan-
to, não nos poderá ensinar um caminho para a sua liberação
das circunstáncias que o limitam, única forma de alcançar
a felicidade.
Êstes conhecimentos que não encontramos nas escolas
profanas, os dá a Maçonaria, que é um sistema científico e
Filosófico completo, porque compreende. em si uma «CIÊN-
CIA DA CONDUTA» que leva o homem ao conhecimento
de si mesmo. E se os homens de ciência, investigadores sin-
ceros. clamam pela necessidade de uma Instituição que crie
a CIÊNCIA HUMANA. devemos lhes fazer saber que essa
Instituição é a Maçonaria, que existe há muito tempo, e
que, através das idades, tem ensinado sempre a constituição
do homem e de sua última realidade.
De acôrdo com êste conceito, vamos estudar qual é a
OBRA MAGNA DO MAÇOM.

A Maçonaria é uma Instituição discreta. Qual é o seu


segredo? A verdade, a eterna verdade que se apresenta a
cada instante da existência humana é compreendida nas de-
clarações feitas pelos «Vigilantes» e que indica ao «Apren-
diz» que sua tarefa é «desbastar» a «pedra». O Maçom,
pois. tem um trabalho a fazer. Tem que levar a cabo unta
ação constante que o conduza à determinada meta, tem que
alcançar uma finalidade, tem que chegar à alguma parte.
Mas, aonde está a razão do segredo da Maçonaria? No
fato de a Maçonaria não fazer o que tôdas as Instituições
profanas. academias, escolas, universidades —, fazem, isto
é, um simples trabalho cultural, mas sim, desenvolve o sen-
tido moral, intelectual e espiritual do homem, fazendo dele
uni elemento eficiente no meio em que vive, um verdadeiro
orientador. Isso faz a Maçonaria, e tem que o fazer no seio
— 196 —

do silêncio, porque só no silêncio profundo pode o homem


encontrar-se a si mesmo, resolver sua eterna incógnita.
Mas, o que ela ensina acêrca desta verdade? Como
pode a Maçonaria orientar para a consecução deste ideial?
Vamos passo a passo. O homem é um ser complexo,
mas uma das grandes verdades de que podemos dar fé. é
que não pode negar-se a si mesmo, isto é, o fato de sua pró-
pria existência. A afirmação do «eu sou» não comporta
neuhma negação. O «eu sou», «existo», é a grande ver-
dade em que se basêia todo o ensino maçônico acêrca do
homem. Com o conhecimento desta verdade, desta profun-
da verdade, teremos de enfrentar o mundo para descobrir
nossa própria realidade.
Fora dêste conhecimento do «eu sou» e de todo outro
conhecimento baseado na própria experiência do «eu», nos-
sa consciência só se move em um mundo imaginário. Pri-
meiramente está o conhecimento do «eu sou». Em seguida,
o conhecimento resultante da nossa própria experiência, e,
depois, o que «presumimos saber», mas que na realidade
«cremos», e, por último, o que «não sabemos», e que sabe-
mos que não sabemos.
Pois bem: se fizermos uma análise dêstes conhecimen-
tos, veremos que a esfera mais restringida dos mesmos cor-
responde à primeira classificação, isto é, à do que «real-
mente sabemos» por nossa própria experiência. Mas as ou-
tras presumidas classes de conhecimento têm, também, uma
grande influência em nossa própria experiência, se bem que
temos de reconhecer que só por meio dessa experiência che-
gará o maço ma realizar a OBRA MAGNA, que não con-
siste em outra cousa senão em fazer passar, através da cens- .
ciência individual, a realidade eterna e única do universo
eterno: do Homem e de DEUS.
O acêrto dessa atuação, se apoiará, pois, em procurar
expressar de modo consciente a realidade do homem e em
não permitir que o seu intelecto se lance no mar das sim-
ples crenças e presunções, onde não encontraria nenhum
porto onde ancorar.
Assim, tôdas estas classes de conhecimentos têm uma
influência decisiva sobre a psicologia do maçom o qual deve
ser cauteloso quando fizer o balanço de sua capacidade cog-
nosciva em relação com o trabalho maçônico, que é obra
de tôda a vida, de todo o instante no seu próprio existir.
É desta maneira que surge diante dos «obreiros» o gran-
de problema: a OBRA MAGNA DO MAÇOM, isto é, co-
nhecer-se a si mesmo, chegar a ser o que é,
eneweemper,___
r
- 147 -

Já sabemos que através ,da análise não se pode encon-


trar a última realidade, mas só um conhecimento superficial
da sombra da realidade. Kant afirma que a coisa em si se
nos escapa constantemente. Porém o ensino essencial da
Maçonaria é que se pode obter o conhecimento real por meio
de um esforço individual continuo. O trabalho do Maçom
é, pois, superar-se, uma superação constante. E esta tarefa
da superação está contida no ensino de dois símbolos muito
conhecidos entre os maçons. que os orientam para êsse co-
nhecimento que constantemente nos escapa: está tôda teci-
da, por assim dizer, entre a «Pedra B;.o e a «Pedra C.•.».
De um a outro dêstes símbolos se tece, em uma gama infi-
nita, de possibilidades, a história da evolução da natureza
e do homem. Porque a realidade da evolução é outra das
grandes verdades a que nos conduz no nosso estudo. Já a
ciência afirma o fato da evolução da vida e da forma, sendo
a evolução o passo do simples ao complexo, do homogêneo
ao hecterogêneo, do menos ao mais. E êste ensino forma
parte do conhecimento direto do maçom. Cada um pode
dar fé de que a evolução é um fato, com o simples jnves-
tigar no passado de nossa própria existência. Cada um
pode afirmar que, desde o nascimento até à madureza, se
verificaram algumas mudanças e'm si mesmos, o nosso cor-
po físico sofre uma série de transformações que lhe condu-
zem do menos ao mais, capacitando-o para emprêsas de
maior responsabilidade. O mesmo se pode dizer de nossa
emotividade, assim como de nosso intelecto. Ambos sofre-
ram uma transformação e são hoje mais capazes do que
eram em nossa meninice. A essa mudança constante é que,
com toda propriedade, se pode chamar de «evolução». Não
obstante, apesar dessas mudanças, apesar de que fomos.
de certo modo, do menos ao mais, não somente no aspecto,
como, tambem. no emocional e no mental, há algo em nós
que não muda, que é eterno e constante: o sentimento do
«eu sou». Somos. e somos através dessas tnudancas cons-
tantes dos veículos, por meio dos quais nos manifestamos.
Este é o ensino que transmite a doutrina maçônica, e
esta é, também, a tarefa que «o obreiro» deve levar a cabo:
• encontrar a si mesmo, permanecer à margem dos domínios
da forma, do mundo exterior, para liberar-se, não somente
no intelectual e psicológico, como, também, no espiritual.
E êste ensino chega através do símbolo, porque o,sím-
bolo, não somente tem uma mensagem moral, como é, além,
disso, a encarnação viva do Verbo, e cada símbolo sussur-
ra no ouvido e prende no coração dos maçons, uma verdade
eterna que lhe ensina como concentrar suas energias para
— 148

ase salto que o liberte dêste mundo das formas cambiantes


que vão e vêm constantemente.

* * *

A Obra Magna do Maçom é, como já ficou dito, supe-


rar-se a si mesmo, aperfeiçoar-se, em suma, até alcançar
a estatura do homem perfeito. E somente recorrendo, ao
caminho do sacrifício, dominando, antes que tudo, a sua
natureza-inferior, poderá surpreender a aurora de um novo
dia, no despertar da realidade mesma.
Há vários caminhos (segundo a doutrina maçônica)
que levam à consecução desta meta, entre os quais a Arte
é um deles.
O artista, antes de tudo, é capaz de perceber a unidade
da Vida, de sentir pulsar em seu coração a única verdade,
a verdade eterna e imutável através de todos os tempos e
de tódas as mudanças: a unidade da Eterna Existência. O
artista vê, ouve, sente, conhece esta maravilha e pode en-
contrar-se face a face com Deus e expressar sua grandeza
por meio de sua técnica. O artista da cor, percebe a única
realidade como uma intensa luz. Para êle, tudo é luz. O
universo é uma imensa fogueira, a Fogueira Eterna que
arde com a mesma intensidade de uma a outra eternidade.
E nessa fogueira, imensa de luz, luz única, se bem que. com
distintas colorações e matizes, destacam-se tambem como
centros de luz, a montanha• e a rosa, as aguas sonoras do
arroio, tudo, tudo é luz pura, sem sucessão, que, pela magia
da técnica do artista, plasma na tela seu jogo de cores,
refletindo em seus matizes essa comprensão da Vida Única,
excelsa e inefavel. que em instante, como num segundo,
pôde alcançar o artista. Por isso, em contacto com uma
obra de arte, sentimos palpitar o Espírito Divino, se ex-
pressando , com maior ou menor intensidade, mas sempre
refletindo a eterna e Única Realidade.
O artista do som, considera o universo como uma imen-
sa sinfonia e todas as coisas aqui abaixo, e os astros na
imensidade dos ceus, cantam para expressar essa plenitude
de que nos fala Dante, essa graça que inunda e que percebe
o eterno canto da Vida Una. E é por isto que encontra-
mos nas antigas doutrinas cabalisticas e nos Mistérios do
Oriente e do•Ocidente, e mesmo no Evangelho de São João,
como o Grande Arquiteto do Universo se expressa pela pri-
meira vez em sua Obra Magna, como o Verbo que vibra
e constitui o coração dos mundos.
14§

E é assim que, quando contemplamos ou escutamos uma


obra de arte, se reflete através de nossos sentidos o pano-
rama eterno da Criação e sua eterna sinfonia.
Assim se destaca o artista no ambiente medíocre em
que vivemos, por que êle é o homem que sabe ver Deus e
expressar a sua obra. E sabe 'Lambem, por meio da técnica
criadora, elevar o nível de quem escuta ou admira.
Eis, aqui, a razão porque a Maçonaria coloca a Arte
ao lado da Ciência e da Filosofia; porque a Arte é, por ex-
celência, a técnica divina de encontrar-se face a face com
Deus e poder expressar sua eterna grandeza.
Éste trabalho do homem de encontrar-se a si mesmo é um
trabalho árduo e fatigante; e se êle quiser ser verdadeiro re-
presentante da Augusta Doutrina Maçônica, terá de sacri-
ficar sua natureza inferior em benefício dos profanos, dos
que sofrem, dos que não têm o privilégio de conhecer essas
doutrinas.
* * *

Chegar à suma perfeição, repetimos, é a Magna Obra do


Maçom. E deve chegar ao fim com o conhecimento de si
mesmo, da natureza, do meio em que vive e da Causa única,
fonte de tôdas as inspirações: o Grande Arquiteto do
Universo.
O Maçom que levar a cabo uma obra desta natureza,
atua de uma maneira diferente à daqueles com quem está em
contacto durante sua existência. Deve ser facho que ilu-
mine os caminhos do mundo, porquem ninguém pode ver
Deus, de frente a frente, sem se sentir verdadeiramente ins-
pirado, com entusiasmo vivo, de fogo que queima, para
poder transmutar sua graça.
O elemento necessário para pisar êste caminho é, pois,
um elemento psicológico. E as viagens simbólicas, são im-
possíveis de fazer-se sem êste elemento vivo que é o can-
didato.
Mas não se deve esquecer que neste campo de Deus
ha muitos caminhos para se chegar a Me, tantos como os
homens que dedicam sua vida inteira para lograr este co-
nhecimento.
Qual é a razão por que o Maçom se vê na necessidade
de concluir esta Obra Magna? A razão não importa: pode
ser tini intenso amor pelos que sofrem, pode ser um desejo
vivíssimo de liberar-se de tôda a limitação, ou a ânsia in-
vencível de ter essa visão divina e encontrar-se cara a cara
com a realidade mesma. O motivo não importa.
— 150 —

A Maçonaria não necessita nada cie nenhum sistema


filosófico, nem de nenhum sistema científico para guiar seus
adeptos na busca do bom caminho. Porque a antiga dou-
trina dos seus ilustres antepassados conhecia perfeitamente
qual é o fim do homem e qual, também, a Magna Obra a
realizar através de sua existência. Essa Instituição é van-
guardista e constitui a fonte de tódas as inspirações, e o
Maçom que trata de compreender sua doutrina deve ser
sempre Lider, — um orientador que sabe para onde enca-
minha seus semelhantes.
Nesta época materialista, nesta época em que todos se
absorvem no trabalho constante e penoso para resolver o
problema econômico, pareceria um sarcasmo falar dêste
caminho para uma superação; e não obstante há uma fôrça
interna irresistivel que o homem move neste sentido.
Sabemos e compreendemos que «se temos dois pães
devemos vender um e comprar um lírio». Esta é a doutrina
eterna daquele Grande Maçom que passou pelo mundo fa-
zendo o bem e que ensinou que «NÃO Só DE PÃO VIVE
O HOMEM».
Só através de uma convicção semelhante, de uma ânsia
intensa de liberação, poderá o maçom realizar a «Obra
Magna», a criação perfeita. E para isso não se encontre
melhor lema para se fazer lembrado à mente, e traze-lo
constantemente ao coração, do que aquele inspirado no su-
blime provérbio maçônico, que tantos seres, no rrkundo, já
o escutaram:
«TRANSMUTAI-VOS. TRANSMUTAI-VOS DE
PEDRAS MORTAS EM PEDRAS VIVAS FILÓSOFI-
CAS».
(*) Traduzido de uma edição da Cooperativa «Fraternidade Uni-
versal», S. C. de R. L. — México).
PARA exercer o altruismo e a friter-
nidade, preciso é que tenhamos uma firme dis-
ciplina; por isto é que a Franco-Maçonaria
não deve admitir sinão «espiritas» capazes de
compreender esta disciplina e submeter-se de
boa vontade a ela. Para adquiri-la é sufici-
ente ter «bom senso». Um homem de «senso
comum» é sempre tolerante e, afinal de contas,
capaz de compreender tudo o que fraternal-
mente se dirige à sua razão e a seus senti-
mentos. — (L. U. Santos).
1
OS DESAJUSTADOS

Em tõdas as instituições humanas, religiosas, filosó-


ficas, educacionais, cientificas ou profissionais —, existem
os desajustados, isto é, - os que não assimilam os seus dita-
mes, e por isso, fogem aos deveres de filiados. •
A Maçonaria não podia escapar à regra, ela que é,
tambem, como as demais, uma instituição de homens, e exige
dos seus adeptos uma série de renúncias individuais em bem
da coletividade.
<<A Maçonaria não promete satisfazer nenhum interêsse
mesquinho, nenhum intuito egoista. Seu objetivo é altamen-
te nobre, sua missão exclusivamente humanitária; trabalha
para fomentar a caridade e a filantropia nos homens de tõ-
das as classes, condições e crenças religiosas».
«Pretender incorporar-se à ela por interêsses privados
ou por objetivos particulares, seria um absurdo, e o efetua-
lo, sem encontrar em si tôda a abnegação que ela pede. um
engano».
Daí o desajustamento de muitos que, por isso, são con-
siderados «espúrios».
Oficina de deveres. Escola, de Moral, «Igreja láica em
que os homens se recolhem para refletir sôbre o bem», de
acôrdo com o Código da dignidade humana: — Liberdade.
Igualdade. Fraternidade —, a Maçonaria, por isso, tem a
apontar, de vez em quando, um maçom espúrio.
«De tal pode qualificar-se o «Irmão» que se separa das
rotas da Moral e o que não atende, com amor e desválo, os
deveres do seu lar.
O Lar é o Templo do amor, da Moral e da Democracia.
Nele devem render-se devoção às mais excelsas virtudes.
Para o Maçom espúrio, a vida só tem uma significação
puramente material: beber, comer, estirar-se na cama, dor-
mir, desfrutar as larguezas das potencialidades da vida físi-
ca, sem se preocupar se tem, ou não, uma alma».
. É porque sua alma está cheia de ambições e seu cora-
ção séco de altos sentimentos. Esquece que em Maçonaria
tudo é amor. Amor ao belo, amor ao nobre, amor ao eleva-
do, amor à honradez, amor à lealdade, amor ao próximo,
o

— 154 —

amor aos semelhantes, amor a si mesmo, amor às obras


pessoais, amor às boas obras dos «Irmãos». Desentóa, o
que canta hinos de ódio e de rancor na orquestra sinfónica
da Maçonaria Universal».
cA Virtude, a Moral, a Oiscreção e a Honradez são
as qualidades características que devem distinguir o verda-
deiro Maçom. Não é por «sinais», ou «toques», nem pelo
prestigio dos graus e cargos, que êle deve dar-se a conhecer,
mas por suas virtudes, que são as que constituem a direção
dos seus atos».
Quem não assimila, por tanto, a sublime doutrina de
fraternidade, de democracia, de moral e de renúncia, que
constitui a razão de .ser da Maçonaria, torna-se um Ma-
çom espúrio, mesmo que continui pagando as suas quotas
e assistindo às sessões da Loja.
E o número dêstes, lamentavelmente, já vai crescido,
causando o desprestigio da Ordem -
Os Códigos maçônicos, seus símbolos, e Rituais, dizem:
«Ser Maçom é querer a harmonia das famílias, a con-
córdia dos povos, a paz do gênero humano.
Ser Maçom é derramar por tõda a parte os divinos es-
plendores da instrução, educar para o bem a inteligência,
conceber os mais belos ideais do direito, da moralidade e
do amor, e praticá-los.
Ser Maçom é levar à prática aquele formosíssimo pre-
ceito de todos os lugares e de todos os séculos, que diz com
infinita ternura a todos os homens e a todos os povos, desde
alto de uma cruz e com os braços abertos ao mundo: ,--
cAmat-vos uns aos outros, formai uma só família, sécle todos
irmãos».
O egoísmo é contrário aos ensinamentos maçônicos; a
vaidade, prejudicial ao seu progresso; o ódio, inimigo de
sua harmonia; a prepotência, causa da sua desagregação e
enfraquecimento; a injustiça, motivo para sua vergonha.
Maçom espúrio é, pois, o causador de todos êsses
danos...
Mas, proclamemos a verdade, com o poeta:

«Não digas que por falta de'ideal,


a Ordem morrerá um dia:
poderá não haver maçons,
mas sempre haverá Maçonaria 1».
ADITAMENTO
O MAIS ANTIGO DOCUMENTO MAÇÔNICO

Em um dos capítulos anteriores nos referimos à CAR-


TA DE HAL1WEL ou MANUSCRITO RÉGIO, como sen-
do o documento maçônico mais antigo, conhecido nos tem-
pos atuais.
Assim afirmámos porque, do nosso conhecimento, não
existe, efetivamente, outro de data anterior.
«A Constituição de Anderson», diploma tambem muito
antigo, data de 1717 e teve publicidade em 1723. Os «Es-
tatutos Gerais», que regem a Maçonaria Escocês& traduzi-
dos por Tadeu, datam. tambem. de 1723, possivelmente ori-
ginários da codificação andersoniana. Os LAND-MARKS
(ou Lindeiros), em que se assenta a organização das Gran-
des Lojas é, não há como negar, um documento antiquissi-
mo. tomado como a lei não escrita da Maçonaria, ou tradi-
ção, mas, sem data certa de sua gênese. Sabe-se, porém,
que em 1813 Lojas inglesas adotaram alguns dos seus «ar-
tigos» e que a sua compilação se deve ao ilustre maçom
Alberto G. Mackey.
Alphum Sair, no seu prólogo à «Maçonaria Iniciática»,
afirma que o documento mais antigo, modernamente conhe-
cido, data de 1649, encontrado no Castelo de Pontcraft. na
Inglaterra sem, entretanto, esclarecer a espécie do docu-
mento.
A «Carta de Haliwel», porém. está datada de 1390,
sendo, assim, o documento. mais antigo da Maçonaria. Por
sua importância e vetustez queremos transcrever, nesta
oportunidade. alguns dos seus textos, em os quais encontra-
mos os princípios deistas da Ordem e a ética que vem ado-
tando através dos tempos e que. ainda hoje, constituem as
suas bases espirituais, apesar de tantas doutrinas dissolven-
tes e destruidoramente materialistas que se hão propagado
entre os homens.
Seibre êsse «Régio Manuscrito», o insigne maçom es-
panhol Luis Umbert Santos, 'grande Inspetor Geral do Su-
premo Conselho Geral, para a Espanha e suas dependên-
cias, em seu magnifico livro «Filosofia Masonica», assim se
expressou:
— 158 —

«Pelo ano de 1839 foi (o mesmo) encontrado na Biblio-


teca Régia, do Museu Britânico, por James O. Haliwel, que
não era maçom.
-s
«Trata-se de um velho pergaminho em forma de livro.
e foi publicado em 1840. Firma-se a época do «manuscrito»
em 1390. Está escrito em forma de poema, com 794 versos,
encimados com a seguinte legenda: — «Aqui começam as
Constituições da Arte da Geometria, segundo Euclides».
«Os versos, de 11 a 56, descrevem como Euclides (*)
foi empregado para ensinar a Geometria, aos filhos dos
nobres do Egito: do 57 ao 86 referem-se à chegada da «fra-
ternidade» na Inglaterra, nos tempos do bom Rei Adelsto-
nus, e como o Rei convocou uma Assembléia em a qual fi-
ram adotados «15 artigos» e «15 pontos». Da alínea 87 à
260 se expõem os 15 artigos, e da alínea 261 à 470, se rela-
cionam os 15 pontos.
«Em seguida define a maneira como a Assembléia de-
via se reunir, cada ano, em lugar apropriado, a que «todos
os homens da fraternidade devem assistir». Descreve-se,
depois, o martírio dos Ars cuator coronatorum, ou quatro
cinzeladores e fabricantes de imágens que, por amor a Jesus,
não quiseram fazer um ídolo e Riram executados por man-
dato do Imperador.
«Mais adiante reporta-se a edificação da «Torre de
Babel» e sua interrupção pela confusão das línguas, e como
Euclides ensinou a «Fraternidade da Geometria», terminan-
do com uma descrição das sete ciências.
«Uma análise de todo o documento revela nue o noeta-
autor o copiou DE OUTRO DOCUMENTO MUITO
MAIS ANTIGO, como demonstram palavras e frazes do
inglês primitivo.
«Esse documento é tão rnarcadamente teista que chega
a ter uma prece a Deus e à Virgem Maria».
As nossas afirmativas, pois, não são destituidas de
razão.
Por êle se comprova, ainda, que a Maçonaria Moder-
na tem as suas leis e ética baseadas nos textos dos 15 pon-
tos e 15 artigos, partes que, aliás, constituem o fundamento
da «Carta» em apreço, a qual, sem qualquer dúvida, é o
documento maçônico mais antigo, aceito, como tal, pelas
mais autorizadas e maiores autoridades da Ordem, no mun-
do inteiro.
A versão do magno documento, do inglês para o cas-

(*) Geórnetra grego, que enifinava em Alexandria no Reinado de


Ptolomeu I. (306-283 a..1. C.).
— 159 —
telhano, em versos livres, e que abaixo transcrevemos, com
a devida vênia do seu tradutor, é do eminente maçom cuba-
no Aurélio Almeida, um dos poucos perquiridores da histó-
ria da Ordem, nos tempos atuais. Serve como uma valiosa
comprovação do que ficou dito fólhas atraz, em relação a es-
piritualidade e moral da Instituição, e para estudo de leitores
curiosos, maçons ou não, visto que o documento é de pouca
divulgação.
Para melhor juizo e maior exatidão do texto é que nos
poupámos à tradução para o português, como era do nosso
desejo.
Apreciemo-lo:

ARTICULO PRIMERO

Primer articulo de esta geometria :


El Maestro masón debe ser muy seguramente
Celoso, e a la vez fiel y leal?
Que asi no cendre nunca de quê arrepentirse :
Y pagarás a tus obreros según el costo
Que la manutención lop traiga, bien lo sabes;
Y les pagarás fielmente, sobre tu dê,
Lo que ellos puedan merecer :
Y no los apliques sino a aquello
Para que puedan ser utiles;
Y abstente, ni por amor ni por temor.
De recibir soborno de ninguno;
De sefior ni de compafiero. quienquiera que sea,
No recibas ninguna suerte de paga;
Como uni juez mantente recto,
Y luego haz a ambos cumplida justicia;
Fielmente cumple esto donde quiera que vayas,
Tu consideración y provecho serán mayores.

ARTICULO SEGUNDO .

El segundo articulo de buena Masoneria,


Cemo podeis oirlo aqui especialmente,
Es que todo Maestro que sea Masón
Deve concurrir a la Congregacion general,
Siempre que le sea avisado en tiempo razonable
Donde ha de celebrarse la asamblea;
Y a dicha asamblea precisamente ha de acudir;
A menos que tenga suficiente excusa,
O que sea desobediente a la fraternidad.
O que con falsedad sea extraviado,
— 160 —

O que enfermedad tan fuerte le aqueje.


Que no pueda acudir entre ellos;
Esta és una excusa buena y hábil.
Para con dicha asamblea, sin fingimiento.

ARTICULO TERCERO

El tercer articulo es ciertamente


Que el Maestro no tome aprendiz
Sin tener buena seguridade de permanecer.
Siete afias con el como yo os digo.
Para aprender el oficio y ser de provecho;
En menos tiempo no puede hacerse hábil
Para beneficio dei duelo y de si proprio,
Como podeis saber por buenas razones.

ARTICULO CUARTO

ET articulo cuarto este sabe ser :


Que el Maestro mire bem.
Y no baga aprendiz a ningrun siervo.
Ni por codicia alguna lo tome;
Pues el sefior a quien pertenece
Puede recuperar su aprendiz donde quiera que vaya
Si a Logia -hubiera de nevaria,
Macho disturbio podria producir en ella,
Y tal podria acontecer.
Que hubiera de agraviarse algunos o todos.
Pues los rnasones que alli se hallan
Bien se encuentram todos juntos.
Si uno tal entrara en dei
De varios inconvenientes podria hablaros:
Para más tranquilidad, pues. y mayor honra.
Tomad aprendiz de ia clase de los otros.
De antiguo se encontraba escrito
Que el aprendiz debia ser de honrada estirpe;
Y asi algunas veces hijos de grandes Seriares
Adoptan esta geometria, que es muy buena.

ARTICULO QUINTO

Debe cuidar, según podeis oir,


Que tenga todos sus miembros sanos:
Seria para el oficio gran vergüenza
Admitir a un lisiado o a un cojo,
Pues un hombre imperfecto en esa forma
- 161 -

Haria muy poco bien a la fraternidad.


Asi podéis saber todos; y cada uno,
Que el oficio requiere un hombre fuerte;
Un hombre mutilado no ticne fuerza,
Esto lo habréis comprendido hace largo tiempo.

ARTICULO SEXTO

El sexto articulo no debéis olvidar:


Que el Maestro no haga ai seiior ningun perjuicio,
Tomado de él por su aprendiz
Tanto como por los comparieros, en todos sentidos.
Porque estos son en el oficio muy perfectos,
Y el otro no bien lo podeis ver.
Tarnbién seria contra la recta razón
Ganar el aprendiz tanto jornal como los campatieros.
Este mesmo articulo. en tales casos,
Ordena que el aprendiz tome menos
Que los compafieros que están bien adiestrados
En diversos casos, según sea preciso,
El maestro puede informar a sua aprendiz
Que su salario puede crecer bien pronto,
Y tal vez antes de acabar su término
Su jornal será muy mejorado.

ARTICULO SEPTIMO

El séptimo articulo, que ahora 'lega.


Claramente os dirá a todos juntos
Que nimnin maestro, por favor ni miedo,
Deberá obligar ni mantener a un ladrón.
De estos no protegerá jamás a ninguno,
Ni a quien haya muerte, a un hombre.
Ni ai que tenga mala reputación.
A fin de que la Fraternidad no se avergiience.

ARTICULO OCTAVO

El octavo articulo ensefia lo siguiente:


Que el maestro pueda muy bien,
Si tiene un hombre dei oficio,
Y éste no es tan hábil como debiera.
Proceder a cambiado por otro
Y tomar en su lugar a un hombre más diestro:
Pues aquel por su ignorancia
Podria hacer muy poco favor a la Fraternidad,
— 162 —
ARTICULO NOVENO

El articulo dice cozi harta razón


Que el maestro sea sabia y fiel:
Que no ernprenda obra ninguna,
Sino pudiéndola hacer y rematar.
Para que aun tiempo se beneficie el duelo
Y también la Fraternidad. donde quiera que sea,
Y que los cimientos scan tan sólidos
Que la obra ni se bunda ni se quiebre.

ARTICULO DÉCIMO

El décimo es para que sepáis


Los dei oficio, altos y bajos,
Que ningún maestro ha de suplantar a outro,
Sino proceder entre si, como hermana e hermano
Eu este curioso oficio y en todas y en cada una
De ias cosas concernientes a un maestro masón.
Ni ha de suplantar a ningún otro hombre
Que haya tomado sobre si una obra
Bajo penas tan fuerte
Que importe no menos de diez libras:
A menos que se halle ser culpable
El primeiro que se encargo de la obra.
Pues ningún hombre en Masoneria
Suplantará a otro, seguramente.
Sino en caso que este baga tan mal trabajo
Que la obra resulte inútil:
Entonces puede un masón solicitaria
Para Salvaria en provecho dei duetio;
Sólo cuando tal cosa acontezca
Puede un masón mezclarse en obra ajena:
Pues el que empreZó los cimientos,
Si es masón bueno y hábil
Tiene seguramente el ânimo
De llevar el trabajo a feliz término.

ARTICULO UNDÉCIMO

El undécimo articulo yo os digo


Que es a la vez soble y liberal,
Pues ordena en su poder
Que ningún masón trabaje de noche,
Excepto para ejercitar su inteligencia,
A fin de perfeccionarla.
163 —

ARTICULO DUODÉCIMO

El duodécimo articulo es de alta honradez,


Para todo masón, donde quiera que se halle:
No desacreditará el trabajo de sus companeros,
Sino salvará su buen nombre;
Con buenas palabras los recomendará
Por el saber que Dias les concedi&
Y todo lo remediará como pueda,
Entre uno y °ft& sin dificultad.

ARTICULO DÉCIMO TERCIO

El articulo décimo tercio, asi Dios me salve,


Es, que si el maestro tiene un aprendiz,
Lo instruya por completo
Y le enserie los puntos y medidas.
Para que habilmente ejerza el oficio
Por doquiera que vaya bajo el sol.

ARTICULO DÉCIMO CUARTO

El articulo décimo cuarto, por buena razón,


Ensena ramo debe conducirse el maestro.
No debe tomar aprendiz
Sino cuando tenga diversas obras que hacer.
Aprender de el los diversos puntos.

ARTICULO DÉCIMO QUINTO

El articulo décimo quinto es el último


Y amigo es dei maestro;
Ha de enseilar ai aprendiz de modo que por nadie
Profiera ni sostenga una falsedad,
Ni apoye a sus compaiieros en tal pecado.
Por ningún bien que pueda ganar:
Ni les permita jurar en falso,
Por temor a ia suerte de sus almas;
No sea que la Fraternidad sufra vergüenza.
Y él mucho vituperio.
— 164 —

PUNTO PRIMERO

En esta Asamblea se ordenaron otros puntos.


De grandes saores y también de maestros;
Que quien conozca este oficio y adquiera dignidad,
Amará siempre a Dios y a la Santa Iglesia,
Y asimismo a sua maestro o con quien está,
Donde guiara que vaya. en campo o bosque;
Y a sus compafieros amará tanibién,
Puas la Fraternidad le tratará como él la trate.

PUNTO SEGUNDO

El segundo punto, como os digo,


Es que el masán trabaje los dias hábiles
Tan fielmente como sepa o pueda,
A fin de merecer su salario el dia de nesta;
Y honradamente ejecutará la ta rea
Para ser digno de recompensa.

PUNTO TERCERO

El tercero punto debe severamente


Ser bien sabido por los aprendices;
Las decisiones de sus maestros guardarán y callarán,
Y las de sus compafieros, com buen propósito.
Los secretos de la Câmara no revelarán a ni.nguno,
Ni nada que se hiciera en la Logia;
Cualquier cosa que oigan o vean hacer
No la digan a nadie, vayan a donde fueren;
Y los acuerdos de todos y cada uno
Guardarán bien y con grau honor,
Para que no les venga menosprecio.
Ni a la Fraternidad grau menoscabo.

PUNTO CUARTO

El cuarto punto tanbién nos ensaia


Que ningún hombre debe ser Falso con sus compafieros.
Ni debe sostener ningún error
Contra la Fraternidad, sino dejarlos pasar:
No causará perjuicio alguno
A su Maestro. ni tampoco a sus compafieros;
Y para que el aprendiz guarde respeto
Deberá curnplir la misma ley.
— 165

PUNTO QUINTO

El quinto punto es, sin duda alguna.


Que cuando el inasán tome su paga
Dei maestro, según le este sefialada,
Lo haga con anicha mansedumbre, como debe ser;
También debe el maestro, por buenas razones,
Darle aviso lealmente a solas
Cuando no quieta proporcionarle más trabajo.
Como lo habia hecho antes;
A esta ordem no deberá desobedecer,
Si tient interés en prosperar.

PUNTO SEXTO

El sexto punho es buena que lo conozcan


Tanto los altos como los humildes.
Pues tales casos pueden ocurrir.
Entre los masones de todas clases,
Por envidia o odio mortal,
Que a mentido se suscitan graves debates.
Entonces debe el masón si le es posible,
Hacer que se reunan um dia dado:
Más no fijará fecha para la reconciliación
Tal que caiga en dia de trabajo;
Entre los de fiesta puede hallar muy bien
Lugar bastante para hacer las paces.
A fin de que en los dias comunes,
No se interrumpa la obra con tales assuntos;
De tal manera, pues. los ha de conducir.
Que se conseryen firmes en la ley de Dias.

PUNTO SÉPTIMO

El séptimo punto bien podeis recordar,


Durante toda la vida que os conceda Dios
Pues prescribe de modo muy claro
Que no yaceréis con la mujer de vuestro maestro,
Ni con la de vuestro compafiero, en forma alguma,
Para que la fraternidad no sufra desdoro;
Ni con la concurbina de un compafiero;
Como no desearias que hicierran con la vuestra.
La pena de ello será segurainente.
Que el aprendiz cumpla otros siete anos,
Si faltare a algunos de estos preceptos;
De tal modo será entonces castigado,
— 166 — .
111".
T

Y asi pondrá excesivo esmero


Para no incurrir en pecado tan feo y mortal.
ir
PUNTO OCTAVO

Dei octavo punto puede estar seguro


Di en dlo tienes algún cuidado;
A tu maestro haz de ser fiel
Y de eso nunca te arrepentirás:
Debes ser bueno mediador
Entre tus maestro y tus leales compafieros
Y Ilevar a cabo con honradez cuanto puedas
Em bien y provecho de ambas partes.
PUNTO NOVENO

El noveno punto lo llamaremos;


Que guiem sea mayordomo de nuestra sala.
Cuando esternos en asamblea juntos
Sirva a unos y a otros con jovial continente;
Buenos companeros lo debêis saber;
Pues ai ser mayordomo por turno
Semana por semana, sin duda alguna,
Habéis de pasar de uno a ctro lado
Amablernente sirviendonos a todos
Como se fuesemos hermana y hermano.
Ninguno se aprovechará a costa ajena
Sin sufrir carga ninguna
Pues todos deben por igual contribuir
Al gasto, sea qual fuere.
Cuidad de pagar a todo el mundo
Los viveres que hayáis consumido,
Para que ninguna reclarnación os hagan
Ni a vuestro compafieros en grado alguno;
A hombre o mujer, sean quienes fueren,
Pagaréis bien y lealmente, pues tal es nuestra voluntad
Tú y tu comparlero Ilevaréis buena cuenta
De todo gasto que hagáis,
Para que ni el compafiero se avergüence
Ni tú vengas a sufrir gran vituperio.
II
Tan exactas cuentas debêis llevar
De los efectos que hayãis tomado.
Asi como de los que consumais de vuestro hermano
cómo y para quê fin;
Estas cuentas presentaréis.
Siempre que vuestros hermanos lo pidan.
167 —
PUNTO DÉCIMO

El décimo tingia muy buena vida


A los que no quieran cuidados y trastornos;
Pues si el masón se conduce mal.
Y en sus obras es falso, y ciertamente
Con su desleal proceder
Perjudicare sin razón a sus hermanos,
Muchas veces sufrirá grave dano.
Y producirá tacha a la Fraternidad.
Si hiciera a la Institucián tal villania,
Seguramente no le hagáis favor alguno,
No lo sostengáis en su malvada vida.
Para que no hayáis penas ni sinsabores;
Mas con él no permitireis demora
Y desde luego le obligaréis
A que comparezca donde queráis.
En cl lugar que fuere. bajo o alto;
Para Ia siguiente asamBlea le citareis,
A que comparezca ante todos sus hermanos
Y si ante ellos no se presentare,
Será forzosamente echado de la Fraternidad:
Y se le castigará según la ley
Que fué hecha en los antiguos tiempos.

PUNTO UNDÉCIMO

El undécimo punto es de buena discreción,


Como podeis saber por buenas razones:
El masón que en este oficio sea instruido,
Y viere a •un compafiero labrando la piedra,
A minto de echarla a perder.
Debe enmendarla si pudiere
Y ensefiarle la manera de hacerla,
Para que toda la obra no se arruine,
Con facilidad debe mostrarle el modo de remediada,
Con buenas razones COM() fios se ias ha dado:
En nombre del está sentado arriba.
Con dulces palabras cultivará su cario.

PUNTO DUODÉCIMO

El duodécimo punto es de gran realeza;


Que quando a asamblea se está celebrando,
Habrá maestros y también companeros,
Asi como otros grandes sefiores;
— 168 —
Y asistirá el scheriff dei Condado,
Y el mayor de la ciudad,
Y Caballeros y Escuderos
Y otros principales, según veréis;
Las Ordenanzas que alli se hicieren,
Las mantendán todo en mancomún
Contra todo hombre, quien quiera que sea,
Que pertenezca a la Fraternidad como miembro libre
Pues si alguna falta contra ella cometiere.
Será puesto bajo la custodia de aquellos.

PUNTO DÉCIMO TERCIO

El punto décimo tercio es para nosotros muy querido-


Jurará el compafiero no ser ladrón,
1 14i encubrir a ninguno en su mala obra,
i Por ningún bien que haya secuestrado.
Si lo supiere o lo viere;
Sin consideración a sua fortuna ni a su familia.

PUNTO DÉCIMO CUARTO

El décimo cuarto punto es muy buena ley


Para aquel que la sepa respetar;
Un juramento fiel y leal debe prestar
A su maestro y compafieros que con él estén;
Deve ser firme y honrado en cumplir
Todas sus Ordenes donde quiera que vaya,
Ya su Sefior natural el Rey
Guardar fidelidad sobre todas Ias cosas.
Todos los puntos que antecedem debeis jurar.
Cumplir hien y fielmente,
Y todos debéis prestar el mismo juramento
De los masones, ya os plazca o no.
Sobre todos los puntos aqui escritos
Que han sido ordenados com muy buenas razones.
Y se inquirirá de todos los hermanos
Si entre los suyos llega a su noticia
Que alguno haya sido culpable
Especialmente contra alguno de estos puntos;
Y sea quien fuere, búsquenlo,
Y condúzcanlo ante la asamblea.
— 169 —

PUNTO DÉCIMO QUINTO


El décimo quinto punto es muy buena disposición
Para los que juren obedeceria;
Esta Ordenanza fué acordada en Ia asamblea
De grandes seãores y maestros, segun queda dicho;
Para aquel que sea desobediente, en verdad,
Contra ias disposiciones .contenidas
En estos artículos que alli se promulgaron,
Por grandes senores y inasones congregados.
Si le probaren abiertamente a alguno
Ante ia asarnblea algún dia,
Y no ofrece reparación de sus culpas,
Entonces debe salir de ia Fraternidad;
Y de consiguiente, renunciar ai oficio de
Y jurar que nunca más lo efercerá,
Pero Si se prestare a ofrecer reparación
Y prometiere no ofender nuevatnente al gremio,
Y luego faltaré a sua compromiso.
El scheriff lo detendrá
Y lo encerrará en profunda carcel
Por el delito cometido,
Y pondrá sus bienes y ganados
En manos dei rey, todos y cada uno,
Y lo mantendrá en tal estado
Mientras su Majestade otra cosa disponga.
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ÍNDICE
Página
I — Introdução
13
II — Que é Maçonaria 17
RI — Origem e História da Maçonaria 25
IV — Opinião ponderada e insuspeita de Frei Canecas 39
V — Moral maçônica 55
VI — Arte Real 63
VII — A Maçonaria e o Trabalho 69
VH1 — Guerra 73
IX — Democracia 77
X — 1 ii'enlacie 81
XI — Igualdade 1 85
XII — Fraternidade 89
XIII — A Caridade maçônica 93
XIV — Testemunhos vatiosos 99
XV — Maçonaria e Política 105
XVI — A Maçonaria e a História do Brasil 111
XVII — Crença em Deus 119
XVIII — 'Maçonaria o Comunismo 125
XIX — A Obra Magna do Maçou 143
XX — Ação social da Maçonaria 135
XXI — Os desajustados 153
Aditamento — O mais antigo docum. maçon1co 157
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