Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Castelo Branco)
A HISTÓRIA É O
REGISTRO CIVIL
DA
HUMANIDADE
Nicola Aslan,
Josué Mendes e
Aylton de Menezes (suas luzes já se
integram à Grande Luz no Oriente Eterno)
Adelino de Figueiredo Lima,
A. Tenório de Albuquerque,
Morival de Calvet Fagundes,
Valério Alberton,
Nagib Alexandre Francês,
Fernando Cabral de Melo,
Jorge Luiz Vessia Lunkes,
Ivan Lima Verde,
Lagrange José Antônio Ferreira,
Waldemar Rodrigues da Costa,
Aírton Sales Coimbra e todos os Irmãos que sabem
honrar a Maçonaria Universal, particularmente, aos Amados Irmãos
Adonhiramitas,
Do Autor.
APRESENTAÇÃO
Eis um dos reclamos que faltava ser atendido: o preenchimento de uma lacuna que só o
poderiam levar à bom termo, a clarividência aqui manifesta, a dedicação aliada à cultura vasta e
desafetada e ao pendor inato para a pesquisa, os quais ornamentam em profusão a personalidade do
Autor deste trabalho. Na verdade, se o desconhecimento das verdadeiras origens da Constituição de
Anderson tem um certo ceticismo quanto à sua validade, por outro lado, a ausência de informações
históricas sobre o Rito Adonhiramita ensejou incompreensões e, mesmo, injustiças por parte
daqueles que se obstinaram em relegar a pureza genética e papel eminente e decisivo da Maçonaria
Adonhiramita em prol da nossa Independência e da organização da Maçonaria Nacional, fundando
o Grande Oriente do Brasil. Deixo, entretanto esse assunto às considerações do Autor, devendo
apenas registrar minha convicção de que já tardava vir à lúmen um trabalho desta natureza, cujo
conteúdo, pela importância inequívoca que encerra, certamente despertará, em quantos tiverem a
oportunidade e a felicidade de o lerem, maiores ânimo e zelo em favor da “Arte Real”.
Nossa respeitosa homenagem aos que nos antecederam e com o admirável exemplo de suas
vidas, nos legaram às colunas de nossos Templos de virtudes.
Foram gerações e mais gerações de obreiros que se sucederam no zelo e dedicação à Arte
Real e que nos deram, com humildade e amor, a Maçonaria Universal.
Seus ensinamentos estão vivos na memória de todos os Povos, ilustrando os feitos mais
memoráveis da História da Humanidade.
Conhecê-los, é conhecer tudo aquilo que de bom e de justo fez a nossa sublime Ordem,
desde as eras mais antigas, até nossos dias.
Pois a Maçonaria, como obra divina que é, nasceu com o primeiro homem criado à imagem
e semelhança de Deus.
Não podíamos, assim, desejar aos Amados Irmãos, melhor mensagem de afeição de que a
perfeitabilidade de nossos trabalhos em Loja – eles são os frutos que colhemos de nossos
antepassados.
Vivificando-os como Maçons, estamos vivendo a dignidade da pessoa humana, na sua mais
perfeita ascensão espiritual.
Que o Grande Arquiteto do Universo nos conceda a graça de sermos fiéis a nossa
Maçonaria Adonhiramita.
É o que lhes deseja, de todo o coração, esse humilde irmão, na qualidade de Delegado do
Rito.
CONSTITUIÇÃO
DE
ANDERSON
A CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON
Muito há que pesquisar e muito mais a deduzir, quando nos adentramos pela espessa e
exuberante floresta da História da Maçonaria nos períodos que precederam a Idade Média e no
espaço de tempo da vida medieval.
Os documentos confiáveis que sobreviveram ao tempo e chegaram aos nossos dias são
exíguos e por sua finalidade, não adiantam muito na História da Ordem no tempo em que vigeram e
muito menos, antes desse tempo.
Dos tempos medievais, os principais documentos que chegaram à luz dos dias atuais são as
chamadas “Old Charges” ou “Antigos Deveres” em que se preconizava uma espécie de ética de
comportamento social do Maçom e onde a crença no Ser Supremo, Uno e Trino (um único Deus em
Três Pessoas) espiritual e eterno, era exigência nunca esquecida para ser um Maçom. Delas provém
os “Landmarques”. A mais antiga das “Old Charges” de que se têm notícia é a Constituição de
York, do ano de 926. Outras “Old Charges” tiveram origem na França, na Alemanha, na Suíça, etc.,
mas também, não apresentam dados que possam elucidar questões históricas. No primeiro quarto do
século XVIII, essas “Old Charges” foram coligidas e deram origem à primeira Constituição
Maçônica com esta designação e com significado que tem ainda hoje. Era a Constituição de
Anderson, a “Magna Carta” Maçônica. À este propósito, nos transmite uma abalizada informação,
Valério Alberton, respeitável e erudito maçonológo e sem nenhum favor, um dos maiores do
mundo. Com a palavra, Valério Alberton:
“No dia 24 de junho de 1717, festa de São João, quatro Lojas de Londres, de nomes
pitorescos tirados das tabernas onde se reuniam, O Pato1 E A Grelha (The Goose and Gridiron), A
Coroa (The Crown), A Macieira (The Apple Tree) e O Copo E As Uvas (The Hummer and Grapes),
constituíram uma organização unificada sob o nome de Grande Loja e elegeram um Grão-Mestre,
Anthony Sayer, com autoridade sobre todos os Irmãos. No dia 24 de junho do ano seguinte, George
Payne, que lhe sucedeu, ordenou que se coligassem todos os escritos e cartas que interessavam à
Maçonaria. Substituído no ano seguinte por Jean-Theóphile Désegulièrs, Payne reassumiu o cargo
de Grão-Mestre em 1720 e determina a adoção de um primeiro regulamento em 1721, ao mesmo
tempo que o Duque de Montaigu era eleito Grão-Mestre.
Confiou-se, então, a redação das Constituições ao pastor escocês James Anderson, capelão
da Loja São Paulo. Este trabalho – livro das Constituições – que continha ao mesmo tempo a
história lendária da Fraternidade e as Obrigações dos Franco-Maçons, foi publicada em 1723.”
Este ano de 1723 pode ser considerado como a fronteira do tempo entre a Maçonaria
Operativa, praticada desde a Idade Média e a Maçonaria Especulativa, com as características que
apresenta atualmente.
Convém aqui lembrar que o movimento constitucionalista encetado e levado a efeito pelos
maçons de então, apesar de altamente meritório e benéfico, não foi, de todo, pacífico. Dele nasceu a
Grande Loja Unida da Inglaterra, que, com justiça, por ser a legítima depositária da primeira
legislação maçônica, cuja aceitação é universal, apesar de várias controvérsias surgidas, é
considerada a “Grande Loja-Mãe do Mundo”. Entretanto, a própria autoria da primeira constituição
é, injustamente, posta em dúvida com relação a pessoa de James Anderson, que, por alguns, como
A. Mackey, foi considerado um “espírito sem envergadura” para tal mister. Outros atribuem a
organização do trabalho constitucional à Jean-Theóphile Désegulièrs (1683-1744), homem muito
culto e Doutor em Direito. Na verdade, a História faz justiça à ambos. Se Anderson foi o
compilador e o organizador da Constituição que traz seu nome, Désegulièrs foi o pesquisador
1
Goose = ganso.
incansável da documentação até então conhecida. Ambos trabalharam em íntima associação na
elaboração da Constituição.
Se Désegulièrs foi o Sêneca da cultura maçônica de sua época, perseguindo a verdade
histórica sobre a Sublime Instituição, James Anderson, na qualidade de pastor presbiteriano da
Escócia, foi o exegeta do fortalecimento da fé em Deus, através da Revelação Bíblica, o teólogo por
natureza e condição, à fazer interagirem em um mesmo documento, a razão histórica e a
manifestação divina entre os homens. Daí o sentido eminentemente metafísico, místico e ético de
sua Constituição, conforme o demonstram os artigos 1o, 5o, e 6o , à seguir transcritos:
“Art. 1o . Um maçom é obrigado por sua condição à obedecer a lei moral, e se ele bem
entender da arte, jamais será um estúpido ateu nem um libertino irreligioso.
Posto que nos tempos antigos os maçons tivessem a obrigação de seguir a religião do
próprio país ou nação, qualquer que ela fosse, presentemente julgou-se mais conveniente obrigá-los
a praticar a religião em que todos os homens estão de acordo, deixando-lhes plena liberdade às
convicções particulares. Essa religião consiste em serem bons, sinceros, honrados, de modo que
possam ser diferenciados dos outros. Por esse motivo, a Maçonaria é considerada como o CENTRO
DE UNIÃO e faculta os meios de se estabelecer leal amizade entre pessoas que sem ela não se
conheciam.
“Art. 5o . Todos os MM∴ trabalham honradamente nos dias feriados, devendo, porém,
observar todas as festas reconhecidas pelas leis e costumes dos país... Ninguém deve invejar a
prosperidade de um Ir∴, nem buscar suplantá-lo ou afastá-lo de seu próprio trabalho de um outro
homem, a menos que seja para vantagem do Senhor...”.
Convencionou-se nunca falar sobre política, porquanto esta nunca contribuiu para o bem
estar da Loja nem jamais poderá fazê-lo. Isso deve ser sempre mantido e deverá ser estritamente
observado. Foi estabelecido desde que teve lugar a reforma na Bretanha, com a cisão da comunhão
romana (grifos do autor).
A Constituição de Anderson sofreu, ao longo do tempo, algumas alterações que, de
nenhuma forma, afetaram sua parte essencial. As principais ocorreram em 1738, 1756 e 1815.
Daí aos nossos dias, nenhuma evolução ocorreu; ao contrário, vários pronunciamentos
emitidos pela Grande Loja da Inglaterra, sob a forma de “Declaração”, confirmaram o espírito da
Constituição de Anderson, particularmente no que diz respeito à crença no Grande Arquiteto do
Universo. Neste sentido, vieram à luz as recomendações de 1885, 1927, 1949 e 1950, em que se
destacam algumas resoluções punitivas contra infratores do sentido de Deus na Maçonaria. Nesta
direção é que vem a resolução de 1971 contra a Grande Loja Alpina, da Suíça, acompanhada de
outras de mesmo diapasão contra outras organizações internacionais infratoras de tais princípios
constitucionais.
Dispenso-me de comentar aqui em profundidade, o “affair” do Grande Oriente de França,
que em 1877 eliminou de sua constituição a obrigatoriedade da crença em Deus, abolindo desta
forma o artigo primeiro da Constituição de Anderson, o que ensejou a repulsa veemente e imediata
da Grande Loja Unida da Inglaterra, que o julgou irregular até os dias de hoje. É assunto por demais
delicado e complexo para ser tratado em trabalho de natureza tão modesta como este.
A Constituição de Anderson tornou-se portanto, o fundamento legal de todas as
Constituições que regem a Maçonaria Universal. E neste entendimento está a Constituição do
Grande Oriente do Brasil que, por isso mesmo, é reconhecido pela Grande Loja Unida da Inglaterra,
como a única POTÊNCIA MAÇÔNICA REGULAR do Brasil.
Eis, pois, numa despretensiosa colaboração ao aculturamento dos Irmãos Adonhiramitas,
uma síntese da História das Constituições Maçônicas.
MAÇONARIA ADONHIRAMITA
A MAÇONARIA ADONHIRAMITA
Trazer à lúmen as origens históricas dos Ritos maçônicos é tarefa por demais grandiosa e
complexa para ser levada a cabo em um simples trabalho como este, que apenas intenta transmitir
uma ligeira notícia sobre o Rito Adonhiramita àqueles Irmãos que, com freqüência, tem apresentado
justificadas apreensões com a carência de informações históricas sobre este Rito.
Na verdade, a adoção dos Ritos pela Maçonaria remonta as épocas que se perdem no tempo
e foge aos registros históricos que seriam os maiores testemunhos de suas origens. Todavia, pode-se
afirmar, com relativa segurança, invocando o pensamento do pranteado Irmão Nicola Aslan em “Os
Landmarques”, que foi, durante a Idade Média, que mais se desenvolveram os principais Ritos
maçônicos que deram a base aos que hoje existem. Desta forma, de acordo com o que nos diz
Joaquim Gervásio de Figueiredo, em seu “Dicionário de Maçonaria”, à página 404, o Rito de
Kilwinning era praticado na Loja Capitular Canongate Kilwinning, da Escócia, em 1677. Nas Lojas
escocesas se praticavam também os Ritos de Clermont e o de Heredon (Monte Místico) e outros de,
aparentemente, menor significado histórico. Este Rito de Heredon era consagrado e adotado, em
Paris, pelo Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente. Tal entidade maçônica era um
Capítulo Filosófico que reunia as mais expressivas personagens da nobreza da época. Entre estas se
destacavam, por sua influência no Capítulo, o Conde de Ramsay e o Barão de Tschoudy (nascido
em Metz em 1730 e falecido em Paris em 1769), considerado o mais estudioso e culto dos seus
membros.
Em 1758, como fruto de estudos aprofundados sobre os Ritos de Kilwinning, de Clermont e
sobretudo, de Heredon, o Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente decidiu promover a
grande reforma ritualística, principalmente no que respeitava ao Rito de Heredon.
Daí se originaram vários Ritos, no mesmo ano da reforma e nos que a ela se seguiram.
Desta forma, em 1758, surgiu o Rito Escocês Primitivo ou Rito de Heredon ou de Perfeição, com 25
graus, que em 1786 forneceu as bases definitivas do atual Rito Escocês Antigo e Aceito e ensejou o
nascimento do Rito Moderno ou Francês; em 1769, o Rito Escocês Primitivo de Namur, com 10
graus; e posteriormente, o Rito Escocês Primitivo de Namur, com 33 graus. Ainda em 1758, como
decorrência direta da reforma do Rito de Heredon, nasceu o RITO ADONHIRAMITA, também
conhecido como Maçonaria Adonhiramita. O Rito Adonhiramita, organizado pelo Barão de
Tschoudy, teve suas bases no trabalho por este desenvolvido e intitulado “RECUEIL PRÉCIEUX DE
LA MAÇONNERIE ADONHIRAMITE”, divido em duas partes: a primeira, abrangendo os primeiros
graus, os simbólicos; a segunda, dedicada aos graus de Perfeição.
A obra foi, recentemente, reimpressa em fotogravura por “Les Rouyat Editeurs-13.122-
Ventabien en Provence-Paris-France”, compreendendo dois volumes. Este Rito é histórica,
característica e essencialmente metafísico, esotérico e místico, tornando-se esotérico quando exerce
o magistério de sua liturgia. Tem por bases teológicas as verdades bíblicas reveladas no Antigo e no
Novo Testamento, particularmente no que concerne à Construção do Templo de Salomão e às
origens do Cristianismo, com atenção especial voltada para os aspectos proféticos e apocalípticos de
ambos os documentos sagrados. Sua liturgia tem, por conseguinte, fundamento e expressão nesses
fatos que a História Sagrada nos revela e que a História profana dilata, sobretudo, com relação ao
período das Cruzadas. Sem ser uma religião, não deixa de ser religioso na medida em que os
homens que o abraçam hão de exercer a crença na existência de um Supremo Árbitro dos Mundos,
pessoal e providente, espiritual e eterno, criador e senhor de todos os seres e coisas. Sua
denominação deriva do nome do personagem central da Construção do Templo de Salomão,
Adonhiram, conforme nos asseguram os versículos 6 do Cap. IV e 13 e 14 do Cap. V do 3o Livro
dos Reis (AT), também insistentemente invocado no Ritual de Instalação de Mestre. Consagra e
pratica intransigentemente os princípios da Constituição de Anderson e os Landmarques da
Maçonaria Universal e assenta uma ética de comportamento para seus obreiros na prática da
nobreza de atitude dos antigos Cavaleiros Medievais, que a Tradição nos transmitiu. Daí o respeito
e o acatamento que o identificam a tudo quanto diz respeito à Tradição.
Propugna pelo engrandecimento moral da Humanidade com o objetivo de conduzir os
homens a uma harmonia de vida justa e perfeita sobre a Terra e, desta forma, contribuir para que
alcancem a suprema felicidade celeste ao passarem para o Oriente Eterno.
Inicialmente a Maçonaria Adonhiramita abrangia 12 graus, sendo três simbólicos:
Aprendiz, Companheiro e Mestre; e nove filosóficos: Mestre Perfeito, Primeiro Eleito ou Eleito dos
Nove, Segundo Eleito ou Eleito de Perpignam, Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze, Aprendiz
Escocês ou Pequeno Arquiteto, Companheiro Escocês ou Grande Arquiteto, Mestre Escocês,
Cavaleiro da Espada, do Oriente ou da Águia e Cavaleiro Rosa+Cruz. O Rito ou Maçonaria
Adonhiramita teve ampla expansão na Europa, particularmente na França e de onde se difundiu
para Portugal e chegou a dominar o Grande Oriente Lusitano. Todavia desvaneceu-se pouco a
pouco, não só em conseqüência da dispersão de seus praticantes, engolfados em lutas partidárias,
como, também, devido a eventos políticos que repercutiram danosamente contra as instituições
maçônicas de então. O fato é que a Maçonaria Adonhiramita ficou confinada no Reino de Portugal
onde suas atividades foram interditadas juntamente com as da Maçonaria como um todo, por ato de
D. João VI, expedido em 1818. No Brasil, o Adonhiramismo foi introduzido regularmente em 15 de
novembro de 1815, data da fundação da “Loja Comércio e Artes”, por Maçons obedientes ao
Grande Oriente Lusitano. Foi, portanto, o primeiro Rito à desenvolver-se regular e continuamente
no Brasil onde foi e é praticado, ininterruptamente até os dias de hoje.
O Rito Moderno (ou Francês) revelou sua presença efetiva no Brasil somente a partir de
1822, embora já aqui se tivesse manifestado em quase todas as atividades maçônicas isoladas
anteriores, particularmente, com a fundação da Loja “Reunião” em 1801, no Rio de Janeiro, e da
Loja “Virtude e Razão”, na Bahia, em 1802 (Manifesto de José Bonifácio difundido em 1832).
Todavia, estas duas Lojas tiveram duração efêmera e, com isto, esvaeceu-se, de certa forma, a
influência dinâmica do Rito Francês na Maçonaria Brasileira, durante as duas primeiras décadas do
século XIX. Entretanto, não é de todo improcedente deduzir-se, com base em várias circunstâncias
históricas, que, provavelmente conotou-se com o Rito Moderno a influência maçônica exercida em
vários episódios históricos da fase colonial , como nas Inconfidências Mineira, Fluminense e Baiana
ou dos Alfaiates, e na fundação e vida do Aerópago de Itambé de onde saíram os Heróis da
Revolução Pernambucana de 1817 e os da Revolução de 1824 ou Confederação do Equador, e os
fundadores da Loja “Seis de Março de 1817”, cujas colunas permanecem firmes até os dias de hoje,
no Oriente do Recife. Esta Loja, cujo Título Distintivo é uma homenagem à data em que irrompeu
aquele movimento liberal no Nordeste, veio à luz em 06 de outubro de 1821.
Quanto ao Rito Escocês Antigo e Aceito, só se tem notícia de sua presença no Brasil a
partir de 1832, desde quando vem prosperando admiravelmente e imprimindo sua beleza a todos os
rincões nacionais.
No que respeita ao Rito ou Maçonaria Adonhiramita, é historicamente confirmada a sua
atuação efetiva e contínua, em nossa Pátria, a partir de 1815. Neste sentido, o Dr. Aylton de
Menezes, profundo conhecedor da gênese e da vida deste Rito, em um artigo intitulado “As Luvas”,
publicado no número 3 (outubro-novembro-dezembro de 1964) de “O Noaquita”, nos transmite
uma importante informação sobre a presença da Loja “Comércio e Artes” no ano de 1815, quando
recebeu do Grande Oriente Lusitano o primeiro exemplar do Ritual Adonhiramita de que se tem
conhecimento no Brasil. Por conseguinte, desde 1815 os Irmãos Adonhiramitas já se reuniam sob a
égide de uma Loja que intitularam “Comércio e Artes” cuja instalação definitiva ocorreu no dia 2 de
junho de 1821. Nesta mesma data, os seus obreiros, preocupados com a criação de uma entidade
maçônica de caráter nacional, cogitaram desmembrá-la para fundarem mais duas outras Lojas: a
“Esperança de Niterói” e a “União e Tranqüilidade”. Compondo, destarte, um quadro de três
oficinas-base, aqueles Irmãos estavam preparando as condições propícias para o nascimento do
Grande Oriente do Brasil, que seria o baluarte de nossa Independência, de que foi artífice e fiadora
a Maçonaria Adonhiramita. Entretanto, as duas Lojas filhas só seriam fundadas quando da criação
do Grande Oriente do Brasil.
Em relação a este evento, se manifesta, magistralmente A. Tenório de Albuquerque em “A
Maçonaria e a Grandeza do Brasil”, às páginas 30 e 31. Com ele, a luz de maior esclarecimento
sobre o assunto:
Mário Melo escreveu, às páginas 195, 196 e 197 do “Livro Maçônico do Centenário”:
Nessa mesma reunião foi resolvido que a Loja Comércio e Artes se subdividisse, para ponto
de apoio da Grande Loja, ficando uma com o título primitivo e tomando as duas outras a
denominação de União e Tranqüilidade e Esperança de Niterói. E foram logo eleitos seus
Veneráveis, recaindo a escolha em três militares: da Comércio e Artes, o major de polícia Manuel
dos Santos Portugal; da União e Tranqüilidade, o major de granadeiros Albino dos Santos Pereira;
da Esperança de Niterói, o major ajudante de ordens de brigada da Marinha, Pedro José da Costa
Barros.
Realizou-se o sorteio dos Irmãos que deveriam compor as Lojas a 24 de junho, no sítio do
Meyer, perante uma comissão composta de Manuel dos Santos Portugal, João da Silva Lombra e
Antônio José de Souza, após um banquete maçônico.
A Loja Comércio e Artes e as que dela se derivaram trabalharam no Rito Adonhiramita.
O Grande Oriente do Brasil foi logo reconhecido pelos Grandes Orientes da França, da
Inglaterra e dos Estados Unidos.
Para maior autenticidade deste trabalho, transcreve-se, a seguir, a Ata de Fundação do
Grande Oriente do Brasil, documento cuidadosamente arquivado e preservado no Palácio do
Lavradio, no Rio de Janeiro:
Como estímulo à nossa curiosidade, orientemos a nossa atenção para dois aspectos
importantes que nos inspiram os termos deste venerando documento.
O primeiro diz respeito aos “nomes históricos” por que foram designados os componentes
da “Mesa Diretora da Sessão extraordinária” e que são características específicas do Rito
Adonhiramita. “O Venerável Graccho”, por exemplo, era o Capitão de Engenheiros João Mendes
Viana (1). O segundo aspecto se refere à data de fundação do GOB, aos “28 dias do 3o mês...”. Aqui
cabe uma explicação bastante oportuna.
O ano maçônico compreende duas partes. A primeira abrange o período de 4.000 anos A.C.,
cujo início, biblicamente e segundo o preâmbulo da Constituição de Anderson, corresponde à
criação do primeiro homem, Adão, que por suas condições de liberdade e pureza, é também
considerado o primeiro maçom. A Segunda parte é o espaço de tempo contado a partir da Vinda do
Cristo. A soma das duas partes forma o ano maçônico que, assimilando a tradição hebraica, se
divide em 12 meses. O primeiro mês maçônico é o mês de NISAN, que se inicia em 21 de março e
lhe corresponde com 31 dias. O terceiro mês é SIVAN, que tem início a 21 de maio e termina a 20
de junho, eqüivalendo-se a maio com 31 dias, (os demais meses maçônicos são, na ordem de
correspondência com os meses gregorianos ou profanos: TAMUZ = junho, AB = julho, ELUL =
agosto, TISRI = setembro, KESVAN = outubro, KISLEV = novembro, TEBET = dezembro,
SHEVAT = janeiro e ADAR = fevereiro). Portanto os “28 dias do 3o mês do Ano da Luz de 5822”
correspondem a 17 de junho de 1822 (2), que é a data da instalação do Grande Oriente do Brasil e
da decisão de fundação das Lojas “Esperança de Niterói” e “União e Tranqüilidade” que,
juntamente com a “Comércio e Artes”, ainda hoje funcionam, embora noutro Rito, e são relíquias
históricas integradas ao patrimônio do Grande Oriente do Brasil.
Até 1873, o Grande Oriente do Brasil manteve o governo não só dos graus simbólicos como
também dos que compunham os Corpos Filosóficos. Nesse ano o GOB abriu mão dos graus
filosóficos, transferindo-os à jurisdição de um Alto Conselho para cada Rito. Assim, o Decreto no
21 do GOB, de 24 de abril de 1873, cria, para o Rito Adonhiramita, o Grande Capítulo dos
Cavaleiros Noaquitas que, acrescido de mais um grau, o de Cavaleiro Noaquita (ou Prussiano), se
transforma em sua Grande Oficina-Chefe, a quem coube o governo dos graus filosóficos (do 4o ao
13o). Um século depois, a 2 de junho de 1973, após exaustivos estudos com vistas à uma adaptação
do Rito ou Maçonaria Adonhiramita “a índole dos seus praticantes”, reuniu-se o Mui Poderoso e
Sublime Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas para o Brasil com o fim de promover a sua
reestruturação. Das deliberações resultou a criação do Excelso Conselho da Maçonaria
Adonhiramita, que ficou incrementado, por inserção de mais 20 graus em sua hierarquia,
integrando, portanto, 33 graus, muitos dos quais já haviam sido compostos pelo Barão de Tschoudy.
Ficou, assim, definida a estrutura das classes e graus da hierarquia na Maçonaria Adonhiramita, da
maneira que se segue:
I – Primeira Classe (graus simbólicos, jurisdicionados ao GOB):
Grau 1 – Aprendiz,
Grau 2 – Companheiro e
Grau 3 – Mestre.
A organização da Maçonaria Adonhiramita está definida nos Artigos 36o e 37o da maneira
que se segue:
“Art. 36o – O Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita compreende a corporação de
Oficinas Litúrgicas classificadas e designadas segundo os graus da respectiva hierarquia e o Poder
Central ou União Corporativa, constituído pelos Altos Corpos do Governo.
Art. 37o – A soberania do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita emana dos
maçons que a praticam e em seu nome é exercida:
I – pela Soberana Consagração dos Grandes Patriarcas Inspetores-Gerais, que concentra
toda a Autoridade Moral, Esotérica, Litúrgica e Institucional da Maçonaria Adonhiramita;
II – pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, que exercem o governo político,
judiciário e administrativo”.
(1) Organização dos Quadros das três Lojas metropolitanas, oficialmente erigidas em 17 de
junho de 1822.
1. Catão (João Luiz Ferreira Drumond); 2. Esdras (José Joaquim de Gouvêa); 3. Adelaide
(Joaquim Valério Tavares); 4. ... (Domingos Alves Pinto); 5. Epaminondas (Luiz Manoel de
Azevedo); 6. Telêmaco (José de Souza Teixeira); 7. Franklin (João Militão Henriques); 8. Pelópidas
(Francisco José dos Reis Alpoim); 9. Dario (Manoel Pinto Ribeiro Pereira de Sampaio); 10.
Rousseau (Samuel Wook); 11. Hércules (João da Costa Silva); 12. Viriato (José Joaquim dos Santos
Marrocos); 13. Demétrio (Antônio dos Santos Cruz); 14. Penn (Dr. Manoel Joaquim de Menezes);
15. Magalhães (Miguel de Macedo); 16. Tito (José Joaquim dos Santos Lobo); 17. Ulysses (José
Ignácio Albernaz); 18. Niterói (João Antônio Pereira); 19. Arcádio (Euzébio José da Cunha); 20.
Orestes (Padre Manoel Telles Ferreira Pita); 21. Annibal (Major Albino dos Santos Pereira); 22.
Caramurú (Cypriano Lerico); 23. ... (João da Silva Feijó); 24. Napoleão (José Cardoso Netto); 25.
Pompeu (João Bernardo de Oliveira Barcellos); 26. Alcebíades (Capitão de Mar e Guerra José
Domingos de Athayde Moncorvo); 27. Coriolano (João José Dias Camargo); 28. Utúrbie (Major
Francisco de Paula Vasconcelos); 29. Diderot (Joaquim Gonçalves Lêdo); 30. Albuquerque (Luiz
Cypriano); 31. Camarão (Dr. José Clemente Pereira); 32. Cabral (Domingos José de Freitas).
(2) ...
(3) A bem da verdade histórica e para evitar dúvidas e confusões quanto às datas ligadas às
três Lojas metropolitanas, expõem-se adiante os dados mais significativos sobre suas instalações,
retiradas das atas das três primeiras sessões realizadas para a fundação e corporificação do Grande
Oriente do Brasil.
D – Conclusões:
1) Quanto à Loja “Comércio e Artes”, sua fundação se deu em 15 de novembro de 1815 e
sua instalação definitiva em 2 de junho de 1821;
2) No que respeita à Loja “União e Tranqüilidade”, considera-se mais coerente do ponto
de vista histórico, salvo melhor julgamento, que a data de sua fundação seja a de 9 de
janeiro de 1822 como definida em seu Timbre e não 21 de junho, conforme registrou o
Anuário do G∴O∴B∴ de 1970, à página 164;
3) Observação semelhante torna-se pertinente com relação à Loja “Esperança de Niterói”,
cuja data de fundação deveria ser a de 3 de junho de 1822 e não, 21 de junho Segunda
consta do mesmo Anuário, à página 162;
4) Os fundadores do G∴O∴B∴ e dessas Lojas, certamente tiveram, na definição das
datas de seus Timbres, alguma razão ponderável que não ficou, infelizmente,
explicitada nas atas de fundação, uma vez que, pela importância que representam, não
poderiam ter sido escolhidas aleatoriamente.
(4) Consoante, já disse alhures, outro trabalho de mais fôlego sobre esse assunto poderá vir
à luz. Este repetindo sua intenção já revelada, tem a função do pequenino pássaro, ainda
desajeitado no seu vôo incerto, a transmitir na mensagem de franqueza e de verdade, cheia
de amor e de zelo não só pelo tema, também pela avidez de conhecimento manifestado por
todos os Irmãos que tive e tenho a honra de conhecer. Falhas, muitas falhas, hão de ser
apontadas, fruto da escassez de abalizadas fontes de pesquisa e, sobretudo, das ilimitadas
limitações deste autor.