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Os Maçons
Há décadas, paródias apresentando cultos misteriosos e sinistros
têm sido um entretenimento favorito da cultura pop – irmãos fraternais são
frequentemente representados em algum tipo de covil subterrâneo,
vestidos com mantos cerimoniais extravagantes e suas faces cobertas por
capuzes, sentados em volta de uma longa mesa, repleta de cálices góticos,
crânios e tesouros sombrios cintilantes. Filmes apresentando um lado mais
mórbido podem ainda apresentar imagens tenebrosas com sangue, tortura e
sacrifícios.
Assim como em todo tipo de arte, a criatividade é aguçada por uma
fonte de inspiração, e uma das musas inspiradoras mais conhecidas para
este tipo de cenas é a maçonaria. Acredita-se que esta sociedade antiga,
que descende da antiga cultura da cantaria[1], possui as mais profundas,
sombrias e inexplicáveis verdades do universo. Diz-se que seus membros
possuem poderes místicos como nenhum outro – talvez até mesmo
mágicos. Mas será que este estigma possui algum mérito, ou apresenta-se
como um severo mal-entendido?
Como muitos o sabem, os maçons têm estado presentes na
sociedade há séculos. O Renascentismo, que teve seu auge entre os séculos
XIV e XVI, presenciou um estouro de criatividade e avanços em uma
grande variedade de formas de arte por toda a Europa. As alianças dos
canteiros[2] lideraram as marés de mudança; aprendizes não mais
precisavam se restringir apenas ao comércio. Grande parte deles era
composta de artistas e pensadores livres, embora ainda jurasse aderir à
tradicional cultura dos “cortadores de pedra”. Esta nova espécie de
canteiros separou-se da ortodoxa cantaria “operacional”, e começou a
fomentar o que ficou conhecida como a cantaria “especulativa”.
Como na maioria das lendas, as que relatam as origens da
maçonaria disputam lugar até os dias de hoje. A mais antiga menção à esse
tipo de sociedade data do Manuscrito Halliwell, ou Poema Regius,
supostamente elaborado em algum momento entre o fim do século XIV e o
início do século XV. O manuscrito, redigido em requintada caligrafia e
Inglês Médio, consistia de 64 páginas e 794 linhas de rimas. É considerado
o primeiro dos manuscritos maçônicos consagrados no tempo, e é
geralmente aceito como a história “verdadeira” das origens da
fraternidade. O poema em questão inicia-se com Euclides, matemático
grego do século IV a.C., conhecido hoje como o “pai da geometria”.
Acredita-se que o matemático tenha incorporado as ciências geométricas
em um novo campo, que ele apelidou de “alvenaria”. Com esse novo e
refinado tipo de ciência, ele viajou ao Egito, onde transmitiu sua sabedoria
aos filhos dos nobres egípcios.
A despeito das origens da organização, o crescente fenômeno se
transformaria um dia na Sociedade da Maçonaria, os portadores de
segredos divinos, e uma das mais fascinantes e controversas irmandades da
história da humanidade. Os Maçons: A História da Maçonaria e a
Sociedade Secreta Mais Famosa do Mundo examina as origens e a história
da fraternidade, sua expansão pelo mundo, e algumas das alucinantes
teorias de conspiração que cercam a sociedade até os dias de hoje.
Juntamente com imagens que representam pessoas, lugares e eventos
importantes, você aprenderá sobre os maçons como nunca antes.
Os Maçons: A História da Maçonaria e a Sociedade Secreta Mais Famosa
do Mundo
Sobre a Charles River Editors
Introdução
As Origens da Maçonaria
Schaw, a Escócia, e a Supressão
A Essência do Ofício
Disparates, a Intervenção, e o Projeto Americano
Os Anti-Maçons
Cismas, Tramas, e os Maçons Modernos
Recursos Online
Bibliografia
Livros Gratuitos pela Charles River Editors
Livros com Desconto pela Charles River Editors
As Origens da Maçonaria
“O carpinteiro estende a régua, desenha-o com uma linha, aplaina-
o com a plaina, e traça-o com o compasso; e o faz à semelhança de um
homem, segundo a forma de um homem, para habitar em umacasa .” –
Isaías, 44:13
A arte única e multifacetada da cantaria faz-se presente desde os
primórdios da civilização, particularmente desde a Revolução Neolítica de
10.000 a.C., quando as pessoas aprenderam a dominar os animais e a terra.
Acompanhados da revolucionária descoberta do fogo, esses primeiros
humanos começaram a criar uma coleção primitiva de ferramentas de
construção. Inovações vieram com o tempo. Aquecer pedra calcária em
almofarizes com uma mistura de água produzia um elemento branco e
corrosivo conhecido como “cal viva”. Uma saudável mistura de areia,
cimento e pedra calcária moída criava o gesso, usado em muros, telhados e
outras superfícies, para um acabamento suave e resistente.
A cantaria presenteou o mundo com todas suas maravilhas feitas
pelo homem. Canteiros, também conhecidos como “cortadores de pedra”,
ajudaram a projetar túmulos, as tradicionais pirâmides do Egito e as
estupendas pirâmides escalonadas usadas em comunidades incas, maias, e
em outras comunidades mesoamericanas. A próspera comunidade dos
cortadores de pedra mais tarde desempenhara um grande papel na
construção dos primeiros templos, catedrais e castelos em todo o mundo,
bem como os famosos e renomados marcos da Muralha Inca de Cusco, o
Stonehenge, as Estátuas da Ilha de Páscoa, dentre muitos outros.
Esses cortadores de pedra também foram os pioneiros no campo da
caligrafia. Eles foram os primeiros a gravar mensagens em pedra, que
serviram como o primeiro meio de comunicação humana. Acredita-se que
os canteiros egípcios foram os primeiros a desenvolver a linguagem dos
hieróglifos, um sistema de símbolos inscritos em paredes e tabuletas de
pedra para transmitir mensagens uns aos outros, bem como para transmiti-
las a seus descendentes. À medida que a sociedade se desenvolvera em
todo o mundo, os seres humanos adotaram o método de escrever em pedra,
imortalizando as escrituras e diferentes obras da literatura.
Os canteiros pertenciam às chamadas guildas, associações de
artesãos e comerciantes com mentalidade semelhante que praticavam o
mesmo comércio. As primeiras guildas abrigavam membros de uma cidade
singular, mas, na época da Idade Média, quando a demanda por canteiros
qualificados aumentara, as guildas se expandiram. Nobres mais ricos e
líderes de terras próximas e distantes passaram a convocar estes canteiros
para assistência em uma grande variedade de projetos de construção.
Como resultado, muitos descreviam os canteiros como marginais da
sociedade, uma vez que viviam vidas instáveis e nômades, flutuando de
um lugar para outro à medida que seguiam o aroma do emprego.
Os canteiros eram divididos em três classes – os aprendizes, os
artífices (journeymen) e os mestres canteiros. Os aprendizes eram artesãos
novatos e aspirantes, que serviam como estudantes e trabalhadores
contratados para seus mestres, em troca de treinamento individualmente
especializado. Os artífices eram aqueles que já haviam completado o
treinamento requerido, e, assim como seu nome sugere, acompanhavam
seus mestres para auxiliar em projetos de construção em cidades distantes.
Os mestres canteiros eram a classe mais prestigiada, um título concebido
apenas aos mais sábios e habilidosos de todos os artesãos da guilda. Os
mestres possuíam a palavra final, e tinham completa autoridade sobre os
locais de construção, bem como sobre todos os carpinteiros, construtores e
artesãos abaixo deles.
Os canteiros desenvolveram uma variedade de ferramentas que os
ajudaram a aperfeiçoar sua arte. Os primeiros canteiros utilizavam outras
pedras abrasivas como ferramentas de escultura. Mais tarde, a descoberta
de mais metais deu lugar às invenções de cinzéis, malhos, martelos, brocas
e serras de ferro. Uma das ferramentas de cantaria mais utilizadas era o
martelo de perfuração – um martelo especial, com uma cabeça estreita e
multifuncional, tornando mais fácil modelar pedras. Outra ferramenta
apreciada era o conhecido esquadro e compasso maçônico, que consistia
de um compasso de desenho e um esquadro unidos. Após cada projeto,
cada guilda deixava um tipo de “cartão de visita”, um símbolo
diferenciado talhado na estrutura, como faziam os artistas em suas obras-
primas.
Essas guildas medievais logo desenvolveram comunidades, cada
uma delas abrigando um “mistério” próprio. Os mistérios eram
organizados, e escolas de conhecimento esotérico giravam em torno da
metodologia e dos conceitos por trás da construção das torres e estruturas
majestosas e intrincadas. Não muito diferente de empresas modernas como
a Coca-Cola e a KFC (Kentucky Fried Chicken), famosas por seu
compromisso de não revelar os ingredientes secretos de suas receitas, os
segredos do comércio dos canteiros eram feitos para viver e morrer dentro
da guilda. Apenas os mestres canteiros possuíam as cobiçadas chaves deste
conhecimento escondido.
A partir de então, a arte florescente da cantaria abriu caminho pelo
mundo. No século X, a moda chegou à Inglaterra, que, na época, era
liderada pelo Rei Etelstano, um monarca conhecido por seu amor pela
arquitetura. Os canteiros da terra pediram ao rei uma orientação em relação
ao comércio. O rei reuniu todos os duques, condes, eruditos e nobres da
terra, e juntos, elaboraram uma série de artigos e pontos que serviriam de
base para sua orientação, bem como um manual de comportamento moral
e de operações comerciais a serem seguidas por mestres, artífices e
aprendizes.
Conforme ditado pelos artigos, um mestre canteiro deveria ser
genuíno, firme e saber como exercer bom juízo. Pela lei, os mestres
deveriam pagar a seus homens salários iguais e justos. Todos os aprendizes
deveriam passar pelo mesmo processo de triagem, e o suborno daqueles
que ansiavam por um atalho até a guilda deveria ser rejeitado sem qualquer
questionamento. Mestres deveriam comparecer à todas as reuniões
religiosamente, e só poderiam ser poupados em caso de problema de
saúde. Eles deveriam examinar todos os projetos por completo antes de
aceitá-los, e garantir o uso adequado do orçamento e de recursos.
Aprendizes só poderiam ser admitidos se pudessem dedicar os
requeridos sete anos ao treinamento do ofício. A maioria dos aprendizes
era composta de jovens robustos e em ótima condição física, uma vez que
acreditava-se que os enfermos e deficientes apenas desacelerariam o
progresso – assim, aqueles que falhavam em atingir tais padrões eram
imediatamente substituídos. Ainda mais importante, aprendizes deveriam
ter suas fichas tão limpas e impecáveis quanto seu estado de saúde.
Ladrões, estupradores e assassinos não tinham lugar na sociedade.
Um código estrito de respeito mútuo e disciplina era enfatizado
para operações diárias. Os mestres eram proibidos de roubar os projetos de
outros colegas. Os mestres gananciosos que o faziam deveriam pagar uma
multa de 10 libras da época (aproximadamente US$ 10.600 dólares hoje
em dia). Os canteiros evitavam críticas derrogatórias e forneciam apenas
conselhos construtivos aos irmãos com os quais eles não concordavam – as
questões deveriam ser resolvidas de forma pacífica e civilizada. Os
mestres canteiros (mestres maçons) eram os responsáveis por defender o
sentimento de unidade, integridade e profissionalismo dentro de suas
guildas.
Os primeiros membros eram devotos discípulos tementes a Deus,
que juravam amor e respeito a seus mestres e irmãos a todo custo. Todos
os membros juravam nunca contestar uma palavra sobre os ensinamentos
das guildas. Eles não deveriam causar nenhum dano uns aos outros, desde
cobiçar a mulher do irmão até cometer atos de violência física. A
sociedade deveria manter uma atmosfera disciplinada mas também
harmoniosa, repleta de amor fraternal e desejo de progredir no ofício.
Reuniões deviam ser convocadas regularmente sob a aprovação do
monarca regente – idealmente, uma vez por ano; ou então, no mínimo,
uma vez a cada três anos.
O poema original também fazia uma das primeiras referências ao
Sancti Quatuor Coronati, ou, em português, os “Quatro Mártires
Coroados”. Este foi um nome dado dois corajosos grupos de cristãos,
todos escultores, gravadores e artesãos do comércio. O imperador ordenara
a cada grupo que criasse uma mostra de pinturas, murais e esculturas em
seu próprio nome, o que significava que todas as imagens de Cristo
deveriam ser removidas das casas de todos os habitantes, sendo
substituídas pela imagem impiedosa do imperador. Todos os convocados
recusaram a tarefa, e, portanto, cada um deles foi condenado à terríveis
sentenças de morte.
Em 1861, Matthew Cooke publicou uma outra versão do conto da
origem da maçonaria. Desta vez, ao invés de em pergaminhos, o trabalho
fora impresso em velino, um pergaminho especial feito de pele de bezerro.
O surgimento desta nova literatura reanimou a curiosidade sobre a
maçonaria no Reino Unido. O manuscrito de Cooke estabelecia uma breve
visão geral das sete Ciências Liberais. Primeiro, havia a Gramática, o
bloco de construção primário de todas as ciências, fornecendo a estrutura
para leitura e escrita. Em seguida, vinha a Retórica, feita para treinar o
indivíduo para comunicar-se com dicção e eloquência. Em terceiro vinha a
Dialética, também referida como Lógica, que fornecia a habilidade de
distinção entre verdades e falsidades. A quarta era a Aritmética, a estrutura
geral da ciência dos números. Em quinto vinha a Geometria, a arte dos
pesos e medidas, um elemento crucial na construção de todas as coisas.
Então, vinha a Música e, por último, a Astronomia.
A segunda metade do manuscrito detalhava a outra visão sobre o
nascimento da maçonaria. O documento afirmava que os gênios por trás
das Grandes Ciências foram os filhos de Lameque, a sexta geração
descendente de Caim, mais conhecido pelo relato da Bíblia sobre
assassinar seu irmão. Jabal, o filho mais velho de Lameque, fora creditado
por descobrir a geometria e a alvenaria. Ele, que estava dentre os
carpinteiros com melhor reputação de seu tempo, exibia suas habilidades
excepcionais construindo milhares de casas na vila. Logo, ganhara o título
de mestre canteiro, servindo diretamente sob o próprio Caim. Acreditava-
se que os dois construíram Enoque, localizada a leste do Éden, considerada
a primeira cidade do mundo.
Jubal, o segundo filho de Lameque, descobrira a música, e
desenvolvera os primeiros instrumentos, incluindo o kinnor, uma harpa
antiga, e o uggab, uma flauta de madeira. Tubalcaim, meio-irmão de Jabal
e Jubal, deparara-se com a arte da metalurgia, a ciência dos metais, e
tornara-se, supostamente, o primeiro ferreiro do mundo. Uma das filhas de
Lameque, Naamá, teria fundado a arte de tecer, montando as bases para a
arte da confecção de roupas.
Os habilidosos irmãos compartilhavam a profecia do inevitável fim
do mundo, acreditando que o mesmo, um dia, seria devorado pelo fogo,
pela água, ou por outro desastre natural. Eles decidiram, portanto, deixar
seu conhecimento nas mãos das gerações futuras, e eternizaram sua
sabedoria sagrada das Sete Ciências em um par de pilares de pedra – um
projetado para ser insubmersível, e o outro à prova de fogo. Séculos após o
dilúvio devastador que vira o surgimento de outro líder bíblico – Noé –, os
pilares, conforme previsto, flutuaram na superfície. Um desses pilares foi
descoberto por Hermes, estimado filósofo e fundador do Hermetismo. O
outro foi tirado da água por Pitágoras, outro que tornar-se-ia um nome
distinto no mundo da matemática.
Estas Sete Ciências foram, finalmente, transmitidas a Nimrod, o
principal arquiteto da Torre de Babel. Mais tarde, o conhecimento abrira
caminho nas mãos de Abraão, que um dia se tornaria um dos amados
patriarcas do Judaísmo. De Abraão, o rio de conhecimento percorreu
Euclides, os egípcios, os israelitas, e assim por diante.
Curiosamente, o mais popular dos contos de tal origem vem da
especulação e da tradição, ao invés de ser baseado em evidências, e mesmo
assim é adotado por muitos maçons modernos. A história remonta ainda
mais no tempo, pelo menos há um milênio antes do nascimento de Cristo.
O Rei Salomão de Israel planejava construir um lugar espetacular de
adoração em Jerusalém, mas, para alcançar este ambicioso projeto, ele
precisaria pedir ajuda a Hirão, o Rei de Tiro. Em cima de uma lista de
materiais que faltavam a Salomão, ele solicitara um talentoso artesão. Este
artesão, Salomão escrevera, seria um homem “astuto [o suficiente] para
trabalhar em ouro, em prata, em bronze, em ferro e em púrpura, em
carmesim e em azul.” Após pensar um pouco, o Rei de Tiro aceitara o
pagamento de Salomão, de milho, vinho e óleo. Em troca, ele lhe dera
pilhas de árvores de cedro recentemente cortadas de florestas libanesas,
juntamente com seu artesão mais precioso. Este era Hiram Abiff, filho de
um falecido trabalhador e uma “viúva da tribo de Naftali”. Abiff encarou o
desafio, exalando confiança e impulso impressionantes. Logo, ele provou
sua aptidão em alvenaria, e foi posteriormente promovido a mestre
canteiro sob Salomão, encarregado da construção empreendedora do agora
fabuloso Templo de Salomão. Mais de 85 mil homens foram convocados
para realizar o projeto sob o comando de Abiff, que levaria um total de
sete anos para ser finalizado. Aqueles que se dedicassem incessantemente
ao trabalho durante todos aqueles sete anos, do começo ao fim, seriam
coroados mestres canteiros na conclusão do projeto.
Imagem de Wolfgang Sauber, de uma representação em vitral de
Hiram Abiff
O Templo de Salomão tornar-se-ia o maior e mais sagrado de todos
os templos, pois seria a casa das tabuletas originais que continham os “Dez
Mandamentos”. Acredita-se que os planos para layout e design altamente
avançados foram transmitidos a Salomão pelo único e Todo-Poderoso.
Como esperado, este valioso conhecimento fora mantido em segredo,
revelado a apenas uma alma – Abiff.
Schaw
O jovem William conseguiu desmantelar-se do escândalo de seu
pai, determinado a moldar sua carreira por conta própria. Primeiro, ele se
tornou um mensageiro do tribunal de Edimburgo, e, depois, um
cronometrista na comitiva de Esmé Stuart, o Duque de Lennox. Criado
como um anglicano, William posteriormente assinou um juramento que
prometia fidelidade à Igreja da Inglaterra, consolidando seu vínculo com a
coroa. No ano seguinte, em abril de 1581, com 31 anos de idade, William
foi homenageado por seu patriotismo e presentado com terras em Kippen,
uma aldeia no oeste de Stirlingshire.
Em 21 de dezembro de 1583, o Rei Jaime VI da Escócia (e future
Rei Jaime I da Inglaterra) nomeou William como o Mestre de Obras para a
Coroa da Escócia, um título assegurado com um pagamento antecipado de
₤166 (US$ 38.270,00). A primeira tarefa oficial de William consistia em
reorganizar as lojas maçônicas. Ele dirigiu-se ao trabalho imediatamente.
Em 1598, em meio a uma reunião com os mestres maçônicos do sudoeste
da Escócia, William revelou sua primeira versão dos “Estatutos de
Schaw”.
Rei Jaime VI
Os primeiros estatutos delineavam novos títulos, como
administradores e diáconos, e traçava um órgão governamental mais
centralizado. Os deveres foram explicados e distribuídos a todos aqueles
em cada posição. Além disso, os estatutos incluíam penalidades para
aqueles cujo trabalho não atendesse aos padrões adequados, bem como aos
culpados por trabalhar de forma insegura. William pediu aos maçons que
fossem “verdadeiros uns com os outros e vivessem juntos,
harmoniosamente, como irmãos jurados e companheiros do ofício.”
Uma versão revisada dos estatutos foi emitida um ano depois. A
disputa doméstica por status de poder entre as lojas maçônicas levou ao
estabelecimento da vertente de Edimburgo como a “primeira e principal
loja”, com a loja de Kilwinning em segundo lugar. É importante ressaltar
que os estatutos modificados foram o primeiro o documento a fazer
referência a um “conhecimento esotérico” guardado no coração da
maçonaria. Finalmente, as lojas passaram a ser obrigadas a manter
registros detalhados, também conhecidos como “minutos de reunião”, e a
comparecer regularmente nas conferências anuais.
Sackville
A partir de então, a situação piorou. O autor escocês Andrew
Michael Ramsay havia sido escolhido para escrever e proferir um discurso
no dia da eleição de Radclyffe. Em março de 1737, Ramsay enviou uma
cópia revisada do discurso ao Cardeal André-Hercule de Fleury, que
também servia como o Ministro-Chefe do Rei Luís XV da França. Em sua
carta, Ramsay havia anexado um pedido de aprovação formal das lojas
maçônicas francesas. Ao invés de conceder suas bênçãos, o cardeal, que
não se importava com o conteúdo do discurso, exaltou-se, reportando os
maçons para a Igreja Católica como “traidores”. Pouco tempo depois, ele
ilegalizou a vertente francesa da sociedade. Essas tensões, juntamente com
as investigações em curso da Itália, apenas aumentaram.
André-Hercule de Fleury
No ano seguinte, em 28 de abril, o Papa Clemente XII emitiu a
primeira das proibições papais da maçonaria, o que ele chamou de “In
emeinenti apostolatus.”. Se as irmandades ousassem proferir mais
juramentos ímpios, se submeteriam a “graves penas”. O papa também
afirmou que “juntar-se a tais associações [era] precisamente sinônimo de
incorrer-se na mancha do mal e da infâmia.” Se os maçons realmente não
estivessem envolvidos em ações impróprias, eles não se empenhariam
tanto em esconder suas práticas do público. O papa concluiu, “As
sociedades secretas chamadas de maçonaria são depravadas e pervertidas.
Elas impõe um grande perigo às almas da fé. Portanto... nós ordenamos
muito estritamente que nenhum católico ouse entrar, propagar ou apoiar
estes maçons, sob pena de excomunhão.”
Revere
Hancock
Não obstante os movimentados rumores, o número de maçons na
América continuou a vivenciar uma saudável taxa de crescimento. No final
do século XVIII, a nação viu o surgimento de uma onda de lojas
independentes. Lojas verdes perceberam que a documentação adequada
para autorização seria muito dispendiosa e demorada para ser obtida, já
que a Grande Loja mais próxima estava localizada na pátria-mãe. Sem
demora, essas lojas se deram início por conta própria, e apenas solicitaram
autorização quando estavam certos de que sua comunidade sobreviveria
por pelo menos uma década.
O dia 13 de outubro de 1792 marcou outro momento pivô na
história da maçonaria. Nesse dia, George Washington, o primeiro
presidente dos Estados Unidos, e Joseph Clark, o Grande Mestre de uma
loja sediada em Maryland, reuniram-se para colocar a primeira pedra
angular do Capitólio dos Estados Unidos em uma cerimônia maçônica.
Um trio de Adoráveis Mestres também compareceu, carregando ofertas de
milho, vinho e óleo, inspirados pelos presentes do Rei Salomão. Ao fim da
cerimônia, Washington cavou a terra pá por pá, com uma enxada
maçônica, e o simbólico azulejo de diamante foi colocado na terra. O
avental e a faixa de Washington ainda podem ser encontrados na Grande
Loja Maçônica da Pensilvânia. Sua pá posteriormente seria usada nas
cerimônias fundamentais de outros prédios históricos, incluindo o
Monumento a Washington e o Edifício Herbert Hoover.
Pike
Cismas, Esquemas, e os Maçons Modernos
“Tenha a certa de que suas mais sábias palavras sejam aquelas que
você não diz.” – Robert W. Service
O movimento da maçonaria eventualmente se espalharia por todo o
mundo, mas seu impacto na França se estabeleceria como um de seus
principais triunfos. No início do século XIX, haviam estimados 10 mil
maçons na França. Ao fim do século, o número dobrou, e em 1936, o
mesmo havia aumentado para incríveis 60 mil.
Inicialmente, a sociedade havia apelado por homens que pensavam
livremente, e se encontravam cativados pelo lado místico da maçonaria.
Muitos gostavam de socializar com os colegas de visões semelhantes, em
grupos exuberantes, e consideravam emocionante envolver-se nesses
rituais elaborados. Nos anos que se seguiram, à medida que a cultura
maçônica se desenvolveu pela Europa, a sociedade tornou-se um centro da
política e dos negócios franceses.
Gradualmente, os maçons franceses se desvincularam da ideologia
primária da sociedade, de igualdade social e vida ética. Mais políticos
entraram na sociedade, com outros funcionários públicos, na esperança de
conquistar uma plataforma mais ampla e uma melhor chance de ganhar
eleições e promoções. Estalajadeiros e donos de hotéis também
constituíam grande parte dos membros, buscando ampliar suas bases de
clientes. Outros empresários exploravam a oportunidade de conexão com
seus colegas para apostar em novas oportunidades de negócios. Outra
vantagem adicional eram os 10% de desconto que cada maçom recebia em
cada compra ou transação feita com um colega fraternal.
Em um caso de déjà vu, o público francês começou a desconfiar
dos maçons. Quando eles não puderam encontrar respostas, começaram a
criar suas próprias. Eles acusaram os maçons de controlar o governo nos
bastidores, e de disseminar propaganda que glorificava a anti-religião e
outras visões materialistas.
Seja como for, historiadores modernos insistem que esses fatos
tenham sido embelezados. Mesmo que os maçons franceses tivessem
apoiado certas visões antirreligiosas, essas ideias já existiam na França
muito antes de sua chegada. Essas tensas relações vieram à tona no início
do século XX.
Em 1904, um partido radical liderado pelo Ministro da Guerra
Emile Combes chegou a um acordo implícito com a Loja Grand Orient de
France. Como constituinte do acordo, os maçons foram encarregados de
espionar uma série de oficiais do exército, principalmente sobre suas
visões políticas e religiosas. Estes espiões lançariam então uma campanha
de difamação contra os católicos. Esta trama foi eventualmente frustrada,
levando à demissão de Combes em 1905, e à dissolução final do partido.
Este evento vergonhoso é hoje em dia conhecido como “Affaire Des
Fiches”.
Combes
Com o tempo, os maçons franceses encontraram novo inimigo na
vertente inglesa. Acredita-se que a semente da desconfiança fora plantada
durante a assembleia da Grand Orient de France, em 1877, onde foi
decidido, por voto, que era chegada a hora de ajustar a constituição
antiquada. O documento original dizia, “Seus princípios são a existência
de Deus, a imortalidade da alma, e a solidariedade humana”. Agora, ele
diria, “Seus princípios são a absoluta liberdade de consciência e
solidariedade humana.” A Grande Loja Unida da Inglaterra ficou chocada
com a notícia. Eles rapidamente emitiram uma resposta, declarando
severamente que eles não poderiam, em sã consciência, reconhecer
irmandades que negassem a existência do “Grande Arquiteto do
Universo”, ou seja, Deus ou qualquer outro ser supremo.
As tensões voláteis apenas se agravaram a partir de então. Os
franceses não apreciavam a fraternização da sede inglesa com a Coroa e a
Igreja Protestante. Por outro lado, os ingleses ficaram indignados com a
fantasia de seus irmãos franceses de manchar um dos princípios mais
fundamentais da sociedade – uma crença inabalável no Todo-Poderoso.
Apesar da postura vocal da sede inglesa sobre o assunto, sua afiliação com
a Grand Orient da Bélgica, que também havia votado para remover a
necessidade de um ser supremo em sua constituição, permaneceu intacta.
Naturalmente, isto apenas complicou as relações entre as duas irmandades
com o tempo.
Nenhum desses rumores compara-se àqueles que surgiram na
década de 1890. Em 1885, um escritor francês, Marie Joseph Jogand-
Pagès (nome de escritor Léo Taxil), converteu-se à fé católica. Isto foi
especialmente um choque, pois durante décadas, suas controversas visões
anticatólicas haviam sido seu ganha-pão. Com o novo modelo de vida, os
dedos ansiosos de Taxil logo encontraram outro foco de escrita. Desta vez,
ele tinha um novo inimigo em mente – os maçons. Durante a década de
1890, Taxil produziu volumes de panfletos e livros, estrelando os rituais
malignos e secretos da maçonaria. Essas afirmações cresciam
absurdamente com cada publicação, as quais centravam-se em acusações
de uma suposta devoção da sociedade a Satanás e em hábitos de culto
bizarros e assustadores, reforçadas por depoimentos de testemunhas.
Acredita-se que uma das publicações de Taxil, “O Diabo no Século XIX”,
tenha sido escrita por uma mulher chamada Diane Vaughan, que
supostamente tomou parte em rituais satânicos. Seus diversos encontros
com demônios do submundo recordavam viagens psicodélicas induzidas
por drogas, incluindo o episódio de um demônio fazendo cócegas nas
chaves de um piano em forma de crocodilo.
Taxil
Os livros de Taxil tornaram-se best-sellers instantâneos,
acumulando uma base de fãs quase puramente católica. À medida que
Vaughan continuou a divulgar mais algumas publicações, seus fãs
imploraram que ela aparecesse publicamente. Em abril de 1897, Taxil
decidiu dar ao povo o que eles queriam e organizou uma conferência de
imprensa. O público esperou ansioso, apenas para Taxil anunciar que na
realidade ele era o único que havia escrito os livros. Pior ainda, ele
calmamente revelou que nenhuma palavra que ele havia escrito sobre os
maçons era verdadeira, e agradeceu aos jornais católicos por permitirem
que ele divulgasse seus contos bizarros. Por último, ele admitiu que
Vaughan não era mais do que sua simples secretária, que havia estado
disposta a permitir-lhe que usasse seu nome.
Os maçons continuam a ser tópico polêmico para teóricos de
conspiração nos dias de hoje. Além das conjecturas usuais envolvendo
supostos guerreiros inclinados à dominação mundial ou reptilianos em
trajes de forma humana, os maçons têm sido foco de uma gama de teorias,
que vão desde o selvagem e cômico ao horroroso e assustador.
Uma das histórias se dá acerca da Fábrica de Cerveja Latrobe,
sediada na Pensilvânia. O rótulo de uma das cervejas mais populares da
empresa, a “Rolling Rock”, contém o número “33” ao fim de seu texto.
Muitos insistiram que o número “33” fazia referência ao 33º Grau dos
Ritos Escoceses. Este rumor apenas foi dissolvido em 1986, quando um
jornalista descobriu que o “33” simplesmente indicava o número de
palavras na frase e era meramente um erro de impressão.
Alguns teóricos da conspiração afirmam ter encontrado algumas
revelações sobre o design de Washington D.C. Diz-se que o esquadro e
compasso maçônico torna-se claramente visível de um ponto de vista
aéreo. A capital situa-se no topo do compasso. Um eixo liga a capital à
Casa Branca, e outro ao Memorial de Jefferson. Por fim, o Memorial de
Lincoln é ligado tanto à Casa Branca quanto ao Memorial de Jefferson,
formando o esquadro e completando a imagem. Por mais plausível que
esta teoria pareça ser, têm sido descreditada por inúmeros historiadores.
De acordo com os “estraga-prazeres”, essas conexões e padrões são
inevitáveis quando se trata de cidades projetadas em um sistema de rede, e
estão longe de serem exclusivos.
Algumas dessas conspirações inspiradas nos maçons vêm com um
toque mórbido. Uma das mais disseminadas destas teorias sugere que
Albert Pike, cujas obras foram taxadas de propaganda supremacista,
haveria fundado o notório Ku Klux Klan. Embora teorias do tipo tenham
sido refutadas muitas vezes, elas ainda podem ser encontradas em diversos
sites.
Outro teórico da conspiração, Billy Morgan, leva o caso ainda mais
longe: ele afirma saber do mais profundo e mais sujo dos segredos dos
maçons – sodomia ritual. Isto, Morgan insiste, é uma tática de controle
mental, predominantemente realizada em crianças entre 2 e 4 anos de
idade. Diz-se que o processo é feito para induzir apagões de memória e
uma jornada psicológica que abre o “terceiro olho para a iluminação
luciferiana”. Sobretudo, historiadores modernos estão de acordo que essas
afirmações são absolutamente fictícias e difamatórias, geradas pelas
invenções de imaginações excepcionalmente distorcidas.
Atualmente, os maçons, juntamente com centenas de grupos
afiliados pelo mundo, continuam a avançar, doando centenas de milhões à
organizações de caridade todos os anos. Os maçons estabeleceram lojas
em todos os continentes do planeta, exceto na Antártica. Em 2016, a
Grande Loja Unida da Inglaterra registrou um quarto de milhão de maçons
sob seu domínio, e um total de seis milhões em todo o mundo, com
estimados 2 milhões nos Estados Unidos.
É seguro dizer que não importa o que digam sobre eles, o legado
dos maçons perdurará indefinidamente.
[1]
A cantaria é conhecida como o ofício ou arte de talhar blocos de rocha bruta de forma a
constituir sólidos geométricos de variada complexidade, utilizada na construção civil. Seu
enfoque principal é o “(...) desenvolvimento das competências sobre a análise das técnicas
antigas de corte, entalhe e estereotomia das pedras.” (CECI – Centro de Estudos Avançados da
Conservação Integrada, 2017).
[2]
Como é chamado o profissional que exerce o oficio da cantaria.