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DE TORRE DE MONCORVO
(SÉCULOS XV-XVII)
Adriano Vasco Rodrigues
Maria da Assunção Carqueja
A cultura pode ser vista de diferentes ângulos, dando lugar a várias defini-
ções, todas limitativas. Uma das primeiras deve-se a Edward Taylor, que em
1871 afirmou: cultura é um conjunto complexo, que integra o conhecimento, a
crença, a arte, a lei, o costume e qualquer outro hábito e aptidão que o homem
adquiriu como membro de uma sociedade.
Outra definição, mais sintética, é a do francês Mounier: cultura é o que
resta quando esquecemos tudo quanto aprendemos.
Podemos acrescentar uma mais recente, ao gosto dos sociólogos norte-
-americanos: cultura é tudo que se aprende socialmente, compartilhado pelos
membros de uma sociedade.
É evidente que a cultura faz parte de uma herança social, podendo ser con-
siderada através dos seus efeitos materiais e não materiais. Os vínculos de
associação e interdependência que unem as pessoas em sociedade fazem parte
da cultura. Mas as fronteiras da cultura e da sociedade nem sempre são as mes-
mas. As ideias e os valores marcam a cultura como um sistema integrado. Os
anglo-saxónicos inferem daí os folkways. Ora, com esta introdução procuramos
fundamentar o tema que nos motivou, baseando a investigação em unidades de
cultura. Não limitamos este conceito à reflexão abstracta de ideias e informa-
ções recolhidas exclusivamente nas fontes escritas documentais. Quando elas
escasseiam, ou calam, é legitimo pesquisar os efeitos da cultura sobre o mundo
material. Essa via é tão legítima como qualquer outra, pois o conceito de docu-
mento histórico não se limita aos escritos. Isto não significa que na elaboração
deste trabalho tenha excluído as fontes escritas, ou as não elaboradas.
Pelo condicionamento do tempo que me foi dado para apresentar esta
comunicação, procurei ser o mais sintético possível.
É inegável, nos séculos que referi (XV ao XVII), a influência permanente
da Igreja, mesmo quando no Renascimento se impôs um Humanismo pagão.
Aparentemente isolada ao norte do Douro, Torre de Moncorvo foi local de
passagem e encontro, entre o norte e o sul de Portugal, no caminho para o
Estrangeiro. As barcas do Douro e do Sabor serviam esse trânsito. A criação da
feira de Moncorvo por D. Dinis, transformada em feira franca por D. João I,
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Retábulo de Moncorvo
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O púlpito faz lembrar um enorme cálice, com elegante pé. Difere do de Santa
Cruz pois aquele falta o dossel e está adoçado à parte interior, que o protege, con-
servando-o em excelente estado. Representa os doutores ou pais da Igreja: São
Jerónimo, Santo Agostinho e São Clemente, rodeados de profetas e sibilas.
Se sabemos que João de Ruão foi o autor do de Santa Cruz, ignoramos
quem esculpiu o de Torre de Moncorvo. É inegável que se trata de uma valiosa
obra artística, sem dúvida inferior à de Coimbra, mas testemunhando a pre-
sença nesta vila de gente com sensibilidade e conhecimento do Grande Renas-
cimento, que se processava na Itália, França e Espanha…
No decorrer do século XVI e no seguinte, os Moncorvenses também não
permaneceram isolados. Além do papal jurídico e administrativo da Vila ocu-
pando posição chave nas relações entre a Beira, o Minho e o Noroeste, procu-
raram ganhar preponderância na gestão religiosa, como veremos adiante.
O progresso económico e cultural da vila, no século XVI e XVII, testemu-
nha-se na construção da Igreja Matriz, na capela da Misericórdia e na presença
de uma Colegiada de Jesuítas, que teve a sede no Colégio de Bragança.
O Velho Rabinato Judaico motivou a presença de um Comissariado da
Inquisição, servido por prisão preventiva, que ainda se conserva.
A edificação da Igreja iniciou-se em 1540, estando muito adiantada no
tempo de D. João III, como se vê por datação de duas portas laterais, 1562 e
1567. No interior erguem-se oito volumosas colunas, preparadas para aguentar
as abóbadas polinervadas.
A evolução política nacional reflectiu-se nos trabalhos. A conclusão do edifí-
cio ocorreu já em pleno período filipino, recebendo influencias de Espanha, paten-
tes na fachada principal, que mostra o desacordo estilístico com o resto do monu-
mento, embora dentro de linhas renascentistas. A fachada principal concilia o
estilo do Renascimento tardio com a corrente herreriana, tão ao gosto filipino, pela
austeridade tridentina. É nítida a diferença entre a fronte e o corpo do edifício.
As semelhanças desta fachada com a da Igreja renascentista de La Mes-
quita, na Galiza, são evidentes e penso que as estou a acentuar pela primeira
vez, mostrando a analogia. Ambas as Igrejas têm pórtico de volta inteiro, com
vãos na fachada saliente, formando um grande paralelepípedo rectangular. A de
Moncorvo é mais elevada e rematada por balaústres.
A leitura que melhor se faz da linguagem renascentista destes edifícios,
mostra a influência da contra-reforma posterior ao Concílio de Trento. O estilo
expressa força e pureza, reduzindo ao máximo a ornamentação.
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