Você está na página 1de 50

O Malhete

Informativo Maçônico, Político e Cultural


Linhares - ES, Setembro de 2023 - Ano XV - Nº 173 - E-mail: omalhete@gmail.com

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, MAÇONARIA E


PATRIOTISMO: ONDE ESTÁ O PROBLEMA? 1
Editorial
Caros leitores, ção do suicídio, não poderíamos deixar de abordar
esse tema tão relevante. "Setembro Amarelo é o
Neste mês de setembro, dedicamos nossa atenção Mês de Prevenção do Suicídio" traz uma análise
a um tema central e intrincado: a relação entre a sobre como a maçonaria pode contribuir para a
independência do Brasil, a maçonaria e o senti- conscientização e o apoio às pessoas que enfren-
mento patriótico que permeia nossa história. A tam essa difícil batalha emocional.
capa desta edição da Revista O Malhete não ape-
nas aborda um tópico fascinante, mas também A geração Y, ou os millennials, representa uma
incita reflexões profundas sobre os valores que nova geração de membros em potencial para a
moldaram nossa nação e as questões que ainda maçonaria. Em "Geração Y: A Maçonaria Está
persistem no cenário contemporâneo. Pronta para Receber os Milenários?", exploramos
as expectativas e desafios que os mais jovens
Ao celebrarmos mais um aniversário da indepen- podem trazer para a ordem e como a maçonaria
dência do Brasil, questionamos: "Independência pode se adaptar para atrair e incorporar essa nova
do Brasil, Maçonaria e Patriotismo: Onde está o geração.
problema?" A conexão histórica entre a maçona-
ria e a independência do Brasil é indiscutível. A Como não poderíamos deixar de fazer, também
maçonaria desempenhou um papel significativo nos perguntamos o que a inteligência artificial
no processo de emancipação, com muitos dos pensa da maçonaria. Em um mundo cada vez mais
líderes proeminentes da época sendo membros digital e interconectado, as opiniões das máquinas
desta ordem secreta. Mas, à medida que a história sobre a maçonaria podem nos dar uma perspecti-
evoluiu, surgiram questões e controvérsias em va única e intrigante sobre essa ordem secular.
torno dessa relação. Como a maçonaria influenci-
ou nossa independência, e qual é o seu papel na Que esta edição inspire reflexões, questionamen-
sociedade brasileira contemporânea? tos e diálogos, pois é assim que evoluímos como
indivíduos e como nação. Juntos, continuaremos
Nossas páginas exploram a relação entre o estoi- a desvendar os mistérios da história e a construir
cismo e a maçonaria, destacando como os princí- um futuro mais luminoso.
pios do estoicismo têm influenciado os maçons ao Fraternalmente,
longo dos séculos, moldando seus valores e ações.
Além disso, com o mês de setembro também Luiz Sérgio Castro
sendo dedicado à conscientização sobre a preven- Editor

Expediente
As opiniões expressas pelos autores nos artigos indivi-
duais não representam a orientação e pensamento da
direção da Revista O Malhete.

Para qualquer informação, escreva para omalhe-


te@gmail.com ou entre em contato com a redação. Para
o mesmo endereço de e-mail, é possível enviar suas
contribuições exclusivamente em formato Word.

Agradecemos a todos os irmãos que contribuíram com


o conteúdo da revista com seu trabalho neste mês.

2
GLMEES LANÇA PROJETOS COM FOCO NO
FORTALECIMENTO DO HOMEM MAÇOM

A Grande Loja Maçônica do Estado do Espírito Por meio do programa, são oferecidos descon-
Santo (GLMEES) lançou, no último dia 10 de tos, vantagens e benefícios aos Irmãos e à famí-
agosto, os projetos REMAR - Rede de Relacio- lia maçônica.
namentos Maçônicos e Escola de Estudos e Os convênios já celebrados estão disponíveis
Instruções Maçônicas a Distância. Por meio des- n o s i t e d a G L M E E S
sas iniciativas, a GLMEES pretende estimular o (https://glmees.org.br/clube-beneficios). Os
networking na família Maçônica e a busca pelo interessados em serem parceiros da Grande Loja
saber maçônico, fortalecendo o homem Maçom. podem acessar a minuta do convênio no mesmo
A aula inaugural da Escola de Estudos e endereço eletrônico.
Instruções Maçônicas a Distância foi ministrada
pelo Sereníssimo Grão-Mestre da GLMEES,
Valdir Massucatti, e exibida em primeira mão
para os Irmãos durante o evento. O lançamento
ocorreu em formato híbrido, com transmissão
ao vivo pelo canal na Grande Loja no Youtube,
para alcançar os Irmãos de todas as regiões do
Estado.
No dia 22 de agosto, por sua vez, o Sereníssi-
mo Grão-Mestre recebeu empresários e profissi-
onais liberais para a assinatura dos primeiros
convênios ofertados pelo Clube de Benefícios.

3
José Bonifácio, D. Pedro I e Gonçalves Lêdo

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, MAÇONARIA E PATRIOTISMO:


ONDE ESTÁ O PROBLEMA?
O patriotismo, ao contrário, é uma virtude que vai
Podcast Ouça a matéria clicando aqui muito além do simples respeito às tradições culturais
do país ou de reações emotivas orgulhosas diante dos
Por Miqueas Liborio de Jesus símbolos nacionais, trata-se de um sentimento que se
encontra com inúmeras outras virtudes como a grati-
Confesso que o tema “independência do Brasil” me dão, a humildade e o altruísmo.
causa certa inquietação, posto que toda revolução, No mesmo viés, o jurista arremata:
especialmente aquela que resulta na emancipação de A pátria assegura ao indivíduo as condições indis-
uma nação, representa movimento transformador que pensáveis para seu desenvolvimento intelectual,
irradia sobre todas as pessoas e forja, no subconscien- moral, social e econômico, portanto, a pessoa necessi-
te social, o senso patriótico, que se transmite de gera- ta reconhecer o que sua pátria lhe deu e o que lhe dá,
ção a geração. para, a seguir, atuar justamente com ela.
O patriotismo conduz à unicidade de um povo. Nos dias contemporâneos, os grandes vultos e fatos
Exprime o sentimento de amor e devoção à Pátria e marcantes da história estão, na maioria das pessoas,
seus símbolos (como a Bandeira, o Hino Nacional, o adormecidos e não reproduzem ecos. Mesmo entre os
Hino da Independência, etc.), os quais representam as maçons, infelizmente, o dia 07 de setembro não repre-
lutas de outrora e ressaltam a superação de uma nação. senta qualquer relevante simbolismo cívico/social. É
Neles está encarnada a própria história, ao mesmo dizer: não passa de um singelo feriado sem significado
tempo que exaltam os sacrifícios dos antepassados, maior.
despertando nas futuras gerações o altruísmo, o desejo É neste ponto que o título deste arrazoado vem à
de defender os interesses comuns e, principalmente, a tona: independência do Brasil, maçonaria e patriotis-
vontade de manter uma integração social. Sobre o mo: onde está o problema?
tema, o advogado e cientista político Glauco Requião É quase impossível compreender plenamente o
escreveu: processo de Independência do Brasil sem estudar o
papel da maçonaria em seu advento. Desta simbiose,

4
depreende-se o entendimento de inúmeros fatos atuais quente de todas era, obviamente, a América que, depo-
e seus efeitos. is de três séculos de colonização, começava a se liber-
É inconteste que a Ordem Maçônica muito contri- tar de suas antigas metrópoles e a testar essas novas
buiu à emancipação político-social do Brasil. A ideias políticas implantando regimes até então prati-
influência decisiva da Maçonaria na Independência é camente desconhecidos, como a república.
um assunto pouco comentado fora dos círculos maçô- No Brasil não poderia ser diferente. Larentino
nicos, e, apesar do amplo acervo documental existente Gomes relata que as primeiras Lojas Maçônicas brasi-
a respeito, é difícil deparar, dentre os leigos, com leiras surgiram em meados do período colonial, pon-
alguém que efetivamente conheça do assunto. tuando vagas referências, sem a devida comprovação
Em todo o mundo, as sociedades maçônicas sem- da presença de maçons na inconfidência mineira de
pre se organizaram no escopo de lutar e combater a 1789 e na conjuração baiana (também denominada
tirania. Laurentino Gomes, em sua obra “1822: como por revolta dos alfaiates, datada de 1798), dentre
um homem sábio, uma princesa triste e um escocês outros movimentos. Na corte do Rei Dom João VI,
louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, ademais, existiam lojas maçônicas em funcionamen-
um país que tinha tudo para dar errado”, afirma: to, duas delas fundadas em 1815, uma delas denomi-
Em 1717, ano oficial do nascimento da maçonaria, nada São João de Bragança, uma suposta homenagem
as quatro Lojas de Londres se unificaram numa única velada ao Rei, suspeito de conhecer e tolerar as ativi-
Grande Loja. […]. A esta altura, porém, os maçons dades maçônicas nas dependências do palácio.
não guardavam apenas segredos profissionais. O século XIX foi um período de grandes transfor-
Tinham uma agenda política. Empenhados em com- mações. Laurentino afirma que o País de hoje deve sua
bater a tirania dos reis absolutos, lutavam contra a existência à capacidade de vencer obstáculos, os quais
escravidão e por leis que assegurassem direito de defe- pareciam insuperáveis em 1822. O autor sustenta que
sa, liberdade de pensamen- o Brasil:
to e de culto, participação […] conseguiu se sepa-
no poder e ampliação das rar de Portugal sem romper
oportunidades para todos. a ordem social vigente. Vici-
Isso os colocava em con- ada no tráfico negreiro
fronto com a nobreza que durante os mais de três sécu-
até então comandavam os los da colonização, a eco-
destinos do povo. nomia brasileira dependia
A maçonaria estaria por por completo da mão de
trás de virtualmente todas as grandes transformações obra cativa, de tal modo que a abolição da escravatura
ocorridas nos dois séculos seguintes. na Independência revelou-se impraticável. Defendida
A história exalta inúmeros eventos com evidente por homens poderosos como Bonifácio e o próprio D.
atuação maçônica. Dentre eles, se releva a Revolução Pedro I, só viria acontecer 66 anos mais tarde, […].
Francesa, contexto no qual foi cunhado o lema “liber- A emancipação brasileira possuía todos os ingredi-
dade, igualdade e fraternidade”, presente na franco- entes ensejadores de um fracasso. O extrato social da
maçonaria. Contudo, é a independência norte ameri- época acenava para um futuro incerto e prenunciava
cana que mais evidencia a presença da ordem, posto um banho de sangue. Sobre isto, escreveu Laurentino:
que dos 56 homens que assinaram a declaração de inde- De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros
pendência, cinquenta eram obreiros. Ora, inclusive os foros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma popula-
símbolos maçônicos estão internalizados na arquite- ção pobre carente de tudo, que vivia à margem de qual-
tura da capital americana, assim como na nota de quer oportunidade em uma economia agrária e rudi-
dólar. mentar, dominada pelo latifúndio e pelo tráfico negre-
Laurentino Gomes relata que, no começo do século iro. O medo de uma rebelião dos cativos assombrava a
XIX, “a maçonaria era uma organização altamente minoria branca. O analfabetismo era geral. De cada
subversiva, comparável ao que seria a Internacional dez pessoas, só uma sabia ler e escrever. Os ricos eram
Comunista no século XX.” Observa, no mesmo esco- poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isola-
po que: mento e a rivalidade entre as províncias prenunciavam
Nas suas reuniões, conspirava-se pela implantação uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do
das novas doutrinas políticas que estavam transfor- território nacional, a exemplo do que já ocorria nas
mando o mundo. Cabia aos seus agentes propagar vizinhas colônias espanholas.
essas novidades nas 'zonas quentes' do planeta. A mais Não bastasse o exposto, o contexto fático ora expli-

5
citado era passível de gravames, consoante o que dis- longínquos rincões brasileiros.
põe o Autor: E, assim, a história registrou que a independência
Para piorar a situação, ao voltar a Portugal, em brasileira foi proclamada por um grão-mestre maçom,
1821 – depois de 13 anos de permanência no Rio de D. Pedro I, cuja ascensão na maçonaria foi meteórica.
Janeiro -, o rei Dom João VI havia raspado os cofres Registros oficiais apontam que sua iniciação se deu na
nacionais. O novo país nascia falido. Faltavam dinhei- Loja Comércio e Arte, no dia 02 de agosto de 1822,
ro, soldados, navios, armas e munição para sustentar a com o nome de Guatimozim – em homenagem ao últi-
guerra contra os portugueses, que se prenunciava mo imperador asteca –, que teria sido promovido ao
longa e sangrenta. As perspectivas de fracasso, por- grau de mestre três dias mais tarde e elevado ao posto
tanto, pareciam bem maiores do que as de sucesso. máximo da organização, o de grão mestre, dois meses
A independência brasileira foi arquitetada pelos depois, conforme relata Laurentino, o qual destaca,
portugueses, justamente aqueles que mais tinham a sobre o exercício de tal incumbência por D. Pedro, que
perder com a autonomia da colônia, decorrente da ele:
fuga da coroa portuguesa, nos idos 1808, para o Rio de Exerceu a função de poder apenas 17 dias. Em 21
Janeiro, fato que culminou numa profunda e acelerada de outubro (uma semana após a aclamação como impe-
transformação contextual no curso dos anos em que a rador), mandou fechar e investigar as lojas que havia
corte permaneceu nas terras brasileiras. Curioso ajudado a proclamar a Independência. Quatro dias
observar, nas palavras de Laurentino, que “ao contrá- mais tarde, sem que as investigações sequer tivessem
rio do que se imagina porem, a ruptura resultou menos começado, determinou a reabertura dos trabalhos
da vontade dos brasileiros do que das divergências “com seu antigo vigor”.
entre os próprios portugueses”. Há quem sustente o comportamento errático e con-
No cenário caótico narrado, notavelmente se fez traditório do Grão-mestre Imperador em relação à
fundamental o papel da maçonaria, realçando dúvi-
maçonaria à consolidação das sobre a forma da atuação
da independência pátria. uníssona dos maçons nas
Contudo, enganam-se aque- decisões que culminaram
les que acreditam que os na independência brasilei-
maçons atuaram de forma ra. Para outros, o Impera-
unânime e homogênea. dor teria traído seu jura-
Acerca disto, corrobora mento ao determinar o
Laurentino Gomes: fechamento das lojas e proibir seus
Em 1822, a maçonaria brasileira estava dividida trabalhos, cujo feito teria, supostamente, culminado
em duas grandes facções. Ambas eram favoráveis a em sua abdicação no ano de 1831, como ato de vingan-
independência, mas uma delas, liderada por Joaquim ça.
Gonçalves Ledo, defendia ideias republicanas. A Embora a história convencional pouco relate sobre
outra, de José Bonifácio de Andrada e Silva, acredita- a atuação da maçonaria no movimento da independên-
va que a solução era manter D. Pedro como imperador cia, é certo que ela usou de diferentes grupos de pres-
em regime de monarquia constitucional. Esses dois são e por eles foi usada, tratando-se de “um elemento
grupos disputaram o poder de forma passional, envol- poderoso no jogo de pressões que se estabeleceu no
vendo prisões, perseguições, exílios e expurgos, […]. momento em que o Brasil dava seus primeiros passos
Pedro, por curiosidade ou interesse, participava como nação independente”.
ativamente das duas vertentes mencionadas. Nas alu- Não obstante a importância da maçonaria para o
didas lojas, foram estudadas, discutidas e aprovadas movimento emancipatório de 1822, é imperioso des-
inúmeras decisões importantes, como o manifesto que tacar que o triunfo da independência se deu mais em
resultou no “Dia do Fico” (09 de janeiro de 1822), a decorrência das fragilidades do que pelas virtudes
convocação da constituinte, os detalhes da aclamação brasileiras, conforme observa Laurentino. Segundo o
de D. Pedro como “defensor Perpétuo do Brasil” e, autor:
finalmente, como imperador (12 de outubro). É inegá- Os riscos do processo de ruptura com Portugal
vel a imensa e expressiva contribuição da maçonaria eram tantos que a pequena elite brasileira, constituída
para o movimento da independência, especialmente por traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de
por inexistirem, à época, partidos políticos organiza- engenho, pecuaristas, charqueadores, comerciantes,
dos. Foi ela que, na qualidade de sociedade tratada por padres, advogados, se congregou em torno do Impera-
secreta, conduziu as sementes emancipatórias aos dor Pedro I como forma de evitar o caos de uma guerra

6
civil ou étnica que, em alguns momentos, parecia ine- havendo uma forte presença maçônica no movimento
vitável. Conseguiu, dessa forma, preservar os interes- que culminou no nascimento do novo país, percebe-se
ses e viabilizar um projeto único de país no continente que os rumos traçados e tomados foram outros.
americano. Cercado de repúblicas por todos os lados, Passados mais de dois séculos da independência, é
o Brasil se manteve como monarquia por mais de meio inegável que, nas terras brasileiras, floresceram belas
século – “uma flor exótica na América”[…]. sementes sociais, das quais brotou um povo belo, gen-
Esta pequena passagem ilustra o Brasil do século til, cortês, hospitaleiro e trabalhador. Todavia, as
XIX, dominado por oligarquias concentradas e assen- entranhas sociais se acham impregnadas de vícios
tadas na cúpula da república. Laurentino explica que: quase intransponíveis, ao ponto do homem desani-
Como resultado, o país foi edificado de cima para mar-se da virtude, a rir-se da honra e ter vergonha de
baixo. Coube à pequena elite imperial, bem-preparada ser honesto, aqui parafraseando o imortal Rui Barbo-
em Coimbra e em outros centros europeus de forma- sa, maçom ativo e presente no período da proclamação
ção, conduzir o processo de construção nacional, de da república.
modo a evitar que a ampliação da participação para o A passividade do povo brasileiro é tamanha que
restante da sociedade resultante do caos e rupturas assusta, na medida em que assiste a tudo sem manifes-
traumáticas. Alternativas democráticas, republicanas tar ânimo para se rebelar contra os males que afetam
e federativas, defendidas em 1822 por homens como estruturalmente a nação. Analogamente, há de se equi-
Joaquim Gonçalves Ledo, Cipriano Barata e frei Joa- parar os males de hoje àqueles descritos por Joaquim
quim do Amor Divino Caneca, líder e mártir da Confe- Gonçalves Ledo na carta ao hesitante príncipe D.
deração do Equador, foram reprimidas e adiadas de Pedro, exortando-o a tomar uma decisão:
forma sistemática. […] Sim, o Brasil podia dizer a Portugal: “Desde
Impregnada dos princípios maçônicos, especial- que o sol abriu o seu túmulo e dele me fez saltar para
mente dos ideários concer- apresentar-se ao ditoso
nentes ao lema “liberdade, Cabral a minha fertilidade,
fraternidade e igualdade”, a minha riqueza, a minha
pode-se dizer que a inde- prosperidade, tudo te sacri-
pendência do Brasil afetou fiquei, tudo te dei, e tu que
circunstancialmente o povo me deste? Escravidão e só
brasileiro. Embora D. escravidão.
Pedro I e outros Obreiros Cavavam o seio das mon-
tivessem ideias e projetos tanhas, penetravam o cen-
que ainda hoje seriam dotados de sentido e coerência, tro do meu solo para te mandarem o ouro, com que
os mesmo não foram levados a termo. Mormente à pagavas as nações estrangeiras a tua conservação e as
observação supra, Laurentino escreveu: obras com que decoras a tua majestosa capital; e tu
Convicções e projetos grandiosos, que ainda hoje quando a sôfrega ambição devorou os tesouros, que
fariam sentido na construção do país, deixaram de se sob mão se achavam nos meus terrenos, quisestes
realizar em 1822 por força das circunstâncias. José impor-me o mais odioso dos tributos, a “capitação”.
Bonifácio de Andrade e Silva, um homem sábio e expe- Mudavam o curso dos meus caudalosos rios para
riente, defendia o fim do tráfico negreiro e a abolição arrancarem de seus leitos os diamantes que brilham na
da escravatura, reforma agrária pela distribuição das coroa do monarca; despiam as minhas florestas para
terras improdutivas e o estímulo à agricultura familiar, enriquecerem a tua grandeza, que todavia deixava cair
tolerância política e religiosa, educação para todos, das enfraquecidas mãos … E tu que deste? Opressão e
proteção das florestas e tratamento respeitoso aos vilipêndio!
índios. […]. O próprio imperador Pedro I tinha ideias Mandavas queimar os filatórios e teares, onde
avançadas a respeito da forma de organizar e governar minha nascente indústria beneficiava o algodão para
a sociedade brasileira. A constituição que outorgou em vestir os meus filhos; negavas-me a luz das ciências
1824 era uma das mais inovadoras da época, embora para que não pudesse conhecer os meus direitos nem
tivesse nascida de um ato autoritário – a dissolução da figurar entre os povos cultos; acanhavas a minha
assembleia constituinte no ano anterior. indústria para me conservares na mais triste depen-
Ora, a história mostra que importantes ideias não dência da tua; desejavas até diminuir as fontes da
saíram do papel e isto contribuiu para forjar uma soci- minha natural grandeza e não querias que eu conhe-
edade absolutamente desigual, originando legiões de cesse o Universo senão o pequeno terreno que tu ocu-
brasileiros marginais, socialmente falando. Mesmo pas. Eu acolhi no meu seio os teus filhos a que doirava

7
a existência e tu me mandavas em paga tiranos indo- Um verdadeiro Cidadão consciente deve olhar para
máveis que me laceravam […]. o passado, viver o presente e traçar os rumos do futuro,
De uma breve incursão na história brasileira, se sem jamais esquecer que deve se distinguir por seu
constata que somos frutos da exploração, da servidão comportamento exemplar, baseado em princípios
e, principalmente, da corrupção. Iniciamos como uma morais. Não se trata, contudo, da moral comum do
colônia de exploração e enfrentamos um processo de homem mediano, mas sim daquela universal, de cujo
independência que deu origem a um império instável, postulado exsurgem os conceitos de liberdade, frater-
forjado a partir dos desejos de uma minoria que ansia- nidade e igualdade, conduzindo à construção de uma
va, acima de tudo, a manutenção de suas conquistas. sociedade justa e fraterna, com condições igualitárias
Ainda que a independência tenha se dado sem um rom- a todo ser humano.
pimento da ordem social vigente à época, os efeitos Façamos, então, do dia 07 de setembro uma data
hoje percebidos denotam a apatia que desde então aco- para refletir sobre o futuro que desejamos, e, como
metia o povo, posto que este não foi conclamado à legítimos homens livres e titulares do poder, tomemos
uma participação efetiva, condição da qual decorre as rédeas do futuro e façamos do Brasil um modelo,
sua ausência de patriotismo. com um povo heroico e honrado, patrono das melho-
No século XIX, o inimigo a ser combatido era Por- res virtudes.
tugal, face aos grilhões que impunha e à pesada servi- Nós, Cidadãos de bem, devemos estar sempre pron-
dão. Hoje, o grande inimigo está em cada um de nós. tos a servir ao Brasil na luta contra toda forma de desi-
Diante deste paradigma, remanescem duas grandes e gualdade e injustiça, assim como fizeram aqueles
inquietantes indagações: onde estão os heróis de valorosos Homens nos idos de 1822, cujas memórias
outrora? Onde estão os cidadãos virtuosos, altruístas e aqui reverenciamos, pois, como guerreiros destemi-
capazes liderar um movimento de verdadeira indepen- dos e incansáveis, combateram e alcançaram a utópica
dência? Lembremo-nos da advertência final de Joa- liberdade. A nós cumpre o dever de honrar a tradição
quim Gonçalves Ledo ao príncipe D. Pedro: de eternos rebeldes insurgentes, e, nesta qualidade, é
[…]O Brasil, no meio das nações independentes, e nossa missão lutar contra a nefasta propagação do
que falam com exemplo de felicidade, não pode con- germe da corrupção no território pátrio, que se alastra
servar-se colonialmente sujeito a uma nação remota e como se fosse epidemia, contaminando e destruindo
pequena, sem forças para defendê-lo e ainda para con- os princípios morais e básicos da civilidade, inclusive
quistá-lo. As nações do Universo têm os olhos sobre comprometendo as futuras gerações.
nós, brasileiros, e sobre ti, Príncipe! Cumpre aparecer
entre elas como rebeldes ou como homens livres e
dignos de o ser. Tu já conheces os bens e os males que
te esperam e à tua posteridade. Queres ou não queres?
Resolve, Senhor!
Miqueas Liborio de Jesus
Como diria Martin Luther King: “O que mais preo-
Joinville - SC
cupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos,
nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais
preocupa é o silêncio dos bons.”

8
de dois mil anos, sua filosofia ainda é relevante nos
Podcast Ouça a matéria clicando aqui dias de hoje e muitas pessoas ainda estudam e prati-
cam suas idéias em todo o mundo.
Amados irmãos, tema relevante, inebriante e Um dos princípios que a filosofia estoica nos
extremamente atual e quase sem literatura pertinen- ensina, é aceitar o que não pode ser mudado, e se
te que permita um aprofundamento doutrinário de concentrar em controlar nossas próprias reações e
maior envergadura. Iniciaremos esse ensaio des- emoções em relação aos eventos externos.
mistificando o conceito filosófico do que é o Outro princípio é que que todos os seres huma-
Estoicismo. nos têm a capacidade de viver de acordo com a
A filosofia Estóica, foi fundada por Zenão de razão, e não somente sendo levado pelas emoções.
Cítio, um filósofo grego que viveu no início do E tal aforisma é fundamental para alcançar a felici-
século III a.C. dade e as virtudes
Ele estudou com os filósofos cínicos Crates de O estoicismo também nos ensina sobre a impor-
Tebas e Estilpo de Mégara antes de fundar sua pró- tância da autodisciplina, autocontrole e da prática
pria escola filosófica em Atenas, que mais tarde das virtudes. Para os estoicos, esses traços de cará-
ficou conhecida como a escola estoica. ter são essenciais para viver uma vida plena e signi-
Zenão começou a ensinar sua filosofia, nos ficativa.
pórticos de Atenas e atraiu um grande número de Após essa breve "dissecação acadêmica" sobre
seguidores. tão pulsante doutrina, vemos à luz de nossos usos e
Ele ensinava que a felicidade e a virtude depen- costumes, uma paridade ipsis litteris entre a doutri-
dem de viver de acordo com a razão e em harmonia na maçônica e a Estoica.
com a natureza. Argumentava ainda que todas as A autodisciplina, autocontrole, prática das virtu-
coisas na natureza estão conectadas e que devemos des, viver sob a égide da razão, aprender a controlar
aprender a viver em harmonia com as leis naturais. as emoções, vencer as paixões profanas, exortam à
Sua filosofia também enfatizava a importância tanta verossimilhança, até nos ratificam que ambas
de cultivar virtudes, também a justiça e a autodisci- tem raízes entrelaçadas no aperfeiçoamento moral,
plina. intelectual e ético da formação do carácter do ver-
Ao longo do tempo, a escola estoica se expandiu dadeiro iniciado, como uma corrente cuja caracte-
e se desenvolveu com outros filósofos, como Crisi- rística central, é o pensamento de que todo o cos-
po e Cleanto e se tornou uma das principais escolas mos é regido por uma harmonia que determina
filosóficas da Grécia Antiga. todos os acontecimentos. A esse Macrocosmo, a
Embora o estoicismo tenha sido fundado há mais Maçonaria denomina da Grande Arquiteto do Uni-

9
verso. ito.
Ambas as doutrinas nos oferecem um Portfólio A filosofia maçônica nos impele à levar para o
interessante para ser ensinado: nosso cotidiano, os ensinamentos aprendidos que
Nos mostram que praticando a autodisciplina, devem ser aplicados em muitas áreas da vida, inclu-
lidando com a dor e a adversidade e aprendendo a se indo no trabalho, nos relacionamentos, na saúde
recuperar de falhas. mental e na tomada de decisões importantes.
Vivendo de acordo com seus valores, descobrin- Sobre o valor da simplicidade, Os estoicos acre-
do-os quais são esses seus valores e aplicando-os na ditavam que a vida simples e despretensiosa era a
sua vida profana e maçônica. Isso pode ajudar aos melhor maneira de se alcançar a felicidade. Eles
irmãos a tomarem decisões mais sedimentadas, valorizavam a moderação, a frugalidade e a renún-
balanceadas e a viverem uma vida mais significati- cia aos prazeres extravagantes. Isso está implícito
va. em nossa doutrina, que nos impele a cavar masmor-
Aprendamos com nossos erros - todos comete- ras aos vícios e a levantar templos às virtudes.
mos erros, mas é importante aprendermos com eles Viver no presente -os estoicos acreditavam que a
e não repeti-los. Analise- vida só pode ser vivida no
mos nossas falhas, descu- momento presente, e que
bramos o que pode ser devemos estar presentes e
reparado e trabalhemos conscientes em cada
para melhorarmos no futu- momento da vida. Eles
ro o nosso interior de acreditavam que a felici-
forma progressiva e con- dade só pode ser encontra-
tínua. da no momento presente, e
A importância da razão não no passado ou no futu-
é a capacidade mais ro. Nesse ponto há peque-
importante do ser huma- nas divergencias, pois a
no, e que devemos usá-la Maconaria cultua seu pas-
para viver bem e tomar sado glorioso, e apesar do
decisões sábias. Ostracismo inercial do
Viver com virtude - a presente vivenciado pela
filosofia estoica, assim Ordem, onde estamos pre-
como a doutrina maçôni- senciando cismas por vai-
ca, coloca grande ênfase dades pessoais, ainda augu-
na virtude, que é vista ramos um Futuro menos
como o objetivo supremo inóspito nos Horizontes de
da vida. As principais nossa Sublime Instituição.
virtudes são a coragem, a Outro princípio do esto-
justiça, a sabedoria, a Honestidade, a pureza e a tem- icismo que também é ratificado em nossa doutrina é
perança que "A mudança é interna" - estóicos acreditavam
Sobre o auto aperfeiçoamento - ambas as doutri- que devemos nos esforçar para mudar a nós mes-
nas preconizam que devemos nos esforçar constan- mos, em vez de tentar mudar o mundo ao nosso
temente para nos aperfeiçoarmos e melhorarmos redor. Eles acreditavam que a verdadeira mudança
como seres humanos. Isso envolve trabalhar para começa de dentro para fora, e que devemos nos
superar nossos vícios, cultivar nossas virtudes e esforçar para melhorar como pessoas em vez de
aprender com nossas falhas. tentar mudar os outros. Assim que cada um nós lapi-
A interconexão de todas as coisas - o esoterismo demos nossa própria Pedra Bruta e esqueçamos de
maçônico coaduna com a doutrina estoicista que querer lapidar a pedra de nosso irmão.
acredita que todas as coisas estão interconectadas e O Imperador Marco Aurelio, era um Estoicista e
que devemos viver em harmonia com o universo. em suas inúmeras meditações que anotou, há uma
Eles também acreditavam que devemos cuidar do muito atual: “Se você trabalhar naquilo que está
meio ambiente e tratar todas as criaturas com respe- diante de você, seguindo a correta razão com serie-

10
“O objetivo da vida não é estar do lado da maio-
ria, mas escapar de se encontrar nas fileiras dos
loucos.”( Marco Aurélio).
Poderíamos continuar dissertando sobre tão
maravilhoso tema filosófico ainda por muitas e
muitas laudas, e confesso aos amados irmãos que
em minhas pesquisas sobre o Estoicismo, vislum-
brei o quanto meu vulgo profano se doutrinou nessa
empreitada, e que a sede de aprender e conhecer
mais e mais tão diferenciada escola filosófica, se
tornará presente em meus estudos. Terminamos
trazendo à baila o Grande SÊNECA, que foi um
dos mais importantes filósofos estoicos de Roma.
Uma das suas ideias mais importantes é que a
verdadeira felicidade e a paz interior são encontra-
das dentro de nós mesmos, e não em bens materiais
ou conquistas externas.
Sêneca argumentava que devemos nos concen-
trar em desenvolver a nossa própria virtude e em
controlar nossas emoções, em vez de sermos con-
trolados por elas.
dade, vigor, calma, sem permitir que nada mais o "Todos os homens, caro Galião, querem viver
distraia, mas mantendo pura a sua parte divina, felizes. Mas, para descobrir o que torna a vida feliz,
como se você devesse devolvê-la imediatamente; vai-se tentando, pois não é fácil alcançar a felicida-
se você se apegar a isso, nada esperando, nada de, uma vez que quanto mais a procuramos mais
temendo, mas satisfeito com sua atividade presente dela nos afastamos. Podemos nos enganar no cami-
de acordo com a natureza, e com a verdade heróica nho, tomar a direção errada. Quanto maior a pressa,
em cada palavra e som que proferir, você viverá maior a distância. Determinemos, em primeiro
feliz. E não há ninguém que seja capaz de evitar lugar, o que desejamos e, em seguida, por onde
isso. ” podemos avançar mais rápido".Seneca
“O que fazemos agora ecoa na eternidade.”
“Você tem poder sobre sua mente – não sobre Bibliografia
eventos externos. Perceba isso e você encontrará 1) Cadernos Filosóficos- Araraquara SP
sua força.” 2) O Estoicismo- George Stock
“Pense na beleza da vida. Observe as estrelas e 3)Diario Estoico Ryan Holiday
veja-se correndo com elas.” 4)Grandes Mestres do Estoicismo- Epicteto de
“A felicidade de sua vida depende da qualidade Hierápolis
de seus pensamentos.” 5)Um Café com Sêneca- David Fideler
“Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um 6)MEDITAÇÕES- Marco Aurelio
fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva, não a
verdade.”
“Não perca tempo discutindo sobre o que um
bom homem deve ser. Seja.”
“A maior vingança contra um inimigo é ser dife-
rente dele”.
“Não é a morte que um homem deve temer, mas
ele deve temer nunca começar a viver.”
“A alma é tingida com a cor de seus pensamen-
tos.”

11
EDUCAÇÃO MAÇÔNICA:
ALÉM DAS INSTRUÇÕES EM LOJA
“A Maçonaria, meus Irmãos, é estudo, estudo e estudo... Os Maçons têm o dever de
estudar para estarem em condição de investigar a Verdade e aprofundar os
Mistérios de nossa augusta Instituição... que luta sem parar contra a ignorância,
sob qualquer forma que ela se apresente.
(Luis Umbert Santos, citado por Nicola Aslan, pág. 744, 2012)
outras condições, claro, e tiverem um dia a felicidade
Podcast Ouça a matéria clicando aqui de serem Iniciados na Maçonaria, poderá comprovar
que essa é uma fonte inesgotável que faz jorrar conhe-
Por Ir.’. José Ronaldo Viega Alves cimentos, que deverão ser sorvidos aos poucos e cum-
prindo-se várias etapas chamadas Graus. E talvez,
INTRODUÇÃO somente para aqueles, “ser um eterno Aprendiz” não
Então: para aqueles apreciadores da cultura de um tem prazo de validade nenhum.
modo geral, buscadores do conhecimento e que são Albert Mackey (1807-1871), um dos maiores estu-
conscientes de que a aquisição deste adquirir cultura diosos da Maçonaria, em um trecho bastante difundido
serve para expandir os horizontes do homem; para aque- da sua obra, assim se pronunciou:
les, que ao natural, cultivam o hábito da leitura, gostam “Nenhum Maçom consegue chegar, em nossos dias,
de estudar, são inquietos e curiosos em relação ao a uma situação mais ou menos notável dentro da Fra-
mundo e ao universo; para aqueles que reúnem estas e ternidade se não for suficientemente instruído. Se os

12
seus estudos ficarem limitados ao que ensinam as não passam de meras e pálidas cópias de trabalhos
breves instruções da Loja, é-lhe impossível apreciar encontráveis no Ritual ou na internet. Quanto ao que
com exatidão as finalidades e a natureza da Maçonaria poderia ser um hábito salutar: trabalhos sendo apresen-
como ciência especulativa. As instruções não passam tados pelos Irmãos Mestres, com uma certa regularida-
de esqueletos da ciência maçônica. Os músculos e os de, afora os trabalhos para a passagem de Grau, isso em
nervos e os vasos sanguíneos que devem animar o nome do enriquecimento intelectual de todos, além de,
esqueleto sem vida e dar-lhe beleza, saúde e vigor, são um caminho natural para a evolução de todos os Irmãos
contidos nos comentários destas instruções, que o estu- que compõem a Oficina, praticamente não ocorre, ou se
do e a pesquisa dos escritores maçônicos dão ao estu- ocorre, podemos dizer que são apresentações muito
dante em Maçonaria.” esporádicas. Até porque, não são ações que mereçam o
O que este trabalho que mal começou já torna evi- devido respaldo e incentivo de todos aqueles de quem
dente é que, se à época em que viveu Albert Mackey, a se espera esse tipo de iniciativas.
Maçonaria como ciência especulativa já exigia bastan- Se a Maçonaria pode ser considerada uma escola, os
te estudo tal como ele e outros deixaram e vem deixan- ensinamentos ministrados em nossos Templos (e muito
do subentendido em seus textos, o nosso mundo pouco aprofundados), deverão receber sim uma com-
moderno não ajuda em nada para sanar o problema. plementação (o dever de casa), o estudo de cada um em
Tempos pretéritos X tempos modernos: o problema se particular, o que denota que Maçonaria depende de
intensificou? Nosso mundo moderno, em meio a um cada um demonstrar interesse e vontade própria em
bombardeio de informações verdadeiras ou falsas, em aprender cada vez mais. Aqui vale a antiga fórmula:
meio a tantos afazeres, compromissos, obrigações e querer é poder.
correrias que permeiam a rotina diária de cada um, vem A pergunta que serve para a nossa reflexão é a
contribuindo para a evasão de muitos Maçons das seguinte: Será que é possível evoluir numa instituição
Lojas? de natureza iniciática sem que haja estudos que não
E como fazer para inculcar nos Irmãos recém inicia- sejam conduzidos com a profundidade que certos
dos a ideia e o compromisso de que eles devem obriga- assuntos vão requerer?
toriamente complementarem as instruções ministradas
em Loja com base em seus Rituais ou que estejam afe- O APRENDIZ
tas ao conteúdo doutrinário da Maçonaria, que lhes são O 1º Grau da Maçonaria Simbólica tem a denomina-
repassadas em Loja a cada sessão, com a realização de ção de Aprendiz-Maçom. Do ponto de vista do simbo-
leituras, estudos e pesquisas? lismo isso corresponde à infância maçônica, onde
Será que podemos acreditar sobre ser possível, uma “Seus olhos fracos ainda, não podem contemplar dire-
vez por semana, numa sessão maçônica, num espaço de tamente o fulgor do Sol, e por isso é que, na Loja, está
15 minutos dedicado à Instrução (e que muitas vezes sentado ao Norte, no topo da Coluna B...”. (Girardi,
não perfazem esses 15 minutos) absorver uma parcela
razoável de conhecimentos maçônicos a ponto de se
transformar e poder transformar com o tempo aqueles
que vivem em seu entorno ou a própria humanidade no
sentido mais amplo? Quem não concorda com a ideia
de que a qualidade das Instruções fica bastante compro-
metidas às vezes, em virtude de uma razão simples: o
tempo exíguo que acaba sendo dedicado para a prepa-
ração de uma instrução causa um efeito dominó onde,
instruções mal preparadas são mal ministradas e, por-
tanto, mal absorvidas. Quantas são as instruções que
não passam de leituras mecânicas e apressadas de texto
que são retirados da internet?
Afora as instruções, temos a apresentação de peças
de arquitetura e os trabalhos para aumento de salário.
Se coincidirem na mesma noite, a Instrução (que é obri-
gatória nas sessões econômicas) e a apresentação de
um trabalho, muitos Irmãos já ficam a consultar as
horas. Aliás, nesta última categoria, ou seja, trabalhos
em Loja, não é difícil de se constatar que muitos deles

13
pág. 36, 2008)
Como o Aprendiz ainda é dono de uma personalida-
de rude, o seu primeiro trabalho é o de desbastar a
Pedra Bruta (simbolizada pelo seu ego), o que significa
simbolicamente aplainar as arestas com o objetivo de
transformá-la em pedra cúbica. Esse é um período que,
se bem aproveitado, será de muito aprendizado e des-
cobertas. Seguindo a lógica das escolas iniciáticas, na
Maçonaria, o Aprendiz irá aprender para ser um Com-
panheiro futuramente e este último irá aprender para
ser um Mestre.
Além das instruções normais, os Aprendizes deve-
rão receber as cinco instruções obrigatórias que estão
contidas no Ritual.
Do livro de autoria do Irmão Carlos Brasílio Conte
“A Doutrina Maçônica”, extraio o trecho abaixo:
“O Aprendiz-Maçom, para alcançar o Grau de
Companheiro, deverá apresentar alguns trabalhos
escritos, dissertando sobre temas maçônicos referen-
tes ao seu grau e poderá, inclusive, ser convidado a ler
estes trabalhos 'em Loja', ou seja, durante a sessão
maçônica. Esse procedimento visa avaliar o seu apro-
veitamento e progresso no simbolismo liturgia e filoso- dente de alguma outra ministrada em Loja e que não
fia maçônica e é com base nele que a Loja decide se o faça parte do Ritual.
Aprendiz está apto (ou não) a receber 'aumento de salá- Nas palavras de Theobaldo Varoli Filho:
rio' (promoção de grau).” “Além de ser o mais histórico, o mais científico e o
mais realista dos graus maçônicos, o ciclo do Compa-
COMENTÁRIOS: nheiro-Maçom é verdadeiramente o único da mais
Evidentemente há pequenas variações sobre o que o antiga tradição.”
autor escreveu acima, não tanto no que concerne às
Lojas, mas, no que se refere ao Rito praticado e à Potên- COMENTÁRIOS:
cia a que pertence. Para chegar ao Grau de Mestre-Maçom, o Compa-
De qualquer forma, endossaria o plural utilizado no nheiro deverá subir os degraus da Escada-Caracol, a
que se refere à apresentação e dissertação de trabalhos que aparece em seu painel alegórico. Simbolicamente
escritos relativos ao Grau: que sejam apresentados vári- significa o quanto é tortuoso e difícil o caminho que o
os trabalhos, isso vai possibilitar uma avaliação melhor levará até seu Mestrado.
sobre o mesmo estar apto para o seu aumento de salá- Será que existem sessões suficientes do Grau de
rio. Companheiro-Maçom e consequentemente uma quan-
tidade mínima de instruções, para que o Grau deixe de
O COMPANHEIRO ser visto como somente um Grau intermediário e não
O Companheiro deverá progredir quando demons- recebendo o trabalho intelectual que lhe e devido?
tra interesse em interpretar os símbolos fundamentais
concernentes ao seu Grau. Já ouvimos bastante aquela O MESTRE
definição cômoda de ser dita sobre o Grau de Compa- Do “Vade-Mécum Maçônico” de autoria do Irmão
nheiro ser somente um Grau intermediário, o que reve- João Ivo Girardi, do verbete “Mestre-Maçom” extraio
la o desconhecimento por parte de quem diz com respe- o que segue abaixo:
ito à riqueza de temas que pode englobar, a exemplo do “1. Todo Mestre consciente de sua responsabilidade
estudo das Ciências Naturais, da Cosmologia, da Filo- sabe que sua função principal é desempenhar na
sofia, enfim das investigações concernente à origem de Ordem todas as funções administrativas das Lojas, a
todas as causas de todas as coisas. dirigir os Aprendizes nas pesquisas intelectuais e auxi-
O Companheiro-Maçom deverá receber três instru- liar os colegas Mestres no traçado simbólico das pran-
ções com a participação do Ven.·. M.·., Orador e 1º e 2º chas simbólicas. 2. 'Nós nos descobrimos Mestres
Vigilantes, as quais estão contidas no Ritual, indepen- quando nos descobrimos eternos Aprendizes'.”

14
tes ao Simbolismo, à Filosofia, ao cultivo das virtudes,
dos valores morais e da Ética. A Maçonaria dá as ferra-
mentas para que sejam usadas.
Existem temas que devem ser aprofundados já que
servem para pautar nossos atos individuais e conscien-
tizar-nos da nossa condição. O desbaste da pedra bruta,
para citar um só, é um processo que envolve diretamen-
te o Aprendiz, mas, indiretamente, vai envolver nós
todos, independente do Grau em que se esteja colado,
ou não nos autodenominamos “eternos aprendizes”?
Podemos afirmar que essa prática acompanhada da
reflexão, devem ser incorporadas à nossa rotina diária,
eis que, não é fácil desvencilharmo-nos dos nossos
defeitos, num mundo onde as pessoas se preocupam
em enxergar os defeitos dos outros. O Grau de perfei-
ção que podemos atingir como seres humanos nunca
nos será de todo conhecido e nunca saberemos sobre
estarmos prontos o suficiente, daí, esta persistência do
Maçom em melhorar, em se aprimorar, em evoluir sem-
pre.
O Mestre-Maçom possui em seu Ritual quatro ins- O R.·.E.·.A.·.A.·., sabemos, é de uma riqueza inco-
truções para sua leitura e meditação. mum quando comparado a outros ritos. Como enten-
der, como decifrar, como absorver a sua filosofia, a sua
COMENTÁRIOS: história, a sua ritualística, as suas influências, o seu
Na tentativa de corroborarmos tudo o que foi dito simbolismo, se não desejarmos ir além, se não estudar-
logo acima, é de se acrescentar ainda que, à expressão mos com o propósito de entendermos realmente o que
utilizada por alguns em referência àquele que acabou viemos fazer na Maçonaria?
de ser exaltado, quando é dito que ele atingiu a sua ple- Como é bom trilhar esta estrada de eterno buscador,
nitude maçônica, seria bom que se fizesse ela ser acom- a estrada que nos conduzirá ao conhecimento, à Luz.
panhada da explicação de que o Mestre passa a ter, isso
sim, o completo uso dos seus direitos maçônicos e de FONTES DE CONSULTA:
que, a eles correspondem deveres considerados impos- ASLAN, Nicola. “Grande Dicionário Enciclopédi-
tergáveis. Isso para que a pessoa menos esclarecida não co de Maçonaria e Simbologia” – Editora Maçônica “A
fique acreditando que a partir daí o Mestre saiba tudo Trolha” Ltda. - 3ª Edição - 2012
sobre Maçonaria porque é Mestre, ou que ele já não tem COMTE, Carlos Brasílio. “A Doutrina Maçônica” –
mais nada a aprender dali para a frente. Aliás, será por Madras Editora Ltda. - 2005
isso que alguns aí estacionam? E quanto mais antigos, GIRARDI, João Ivo. “Do Meio-Dia à Meia-Noite
parece mais acomodados em sua mesmice. Então a Vade-Mécum Maçônico” - Nova Letra Gráfica e Edito-
pergunta que cabe agora é: Mestres de quê? Além de ra – 2ª Edição – 2008
que: Mestres ensinam. VAROLI FILHO, Theobaldo. “Curso de Maçonaria
Vou acrescentar aqui, a título de ilustração, essa que Simbólica - Companheiro (II Tomo)” – Editora “A
é a opinião de um grande Maçom Edouard Quartier La Gazeta Maçônica” – 1ª Edição - 1976
Tente a respeito dos Graus Simbólicos:
“A maioria dos adeptos da Arte Real contenta-se
em 'receber' os Graus Simbólicos; mas, eles não os
'possuem' jamais efetivamente. Eles têm nas mãos um
tesouro, mas ignoram o seu valor e não tiram nenhum
partido disso.” (Vade-Mécum Maçônico, 2018, pág. Ir.’. José Ronaldo Viega Alves
246) Loja Saldanha Marinho,
“A Fraterna”
Or.’. de Santana do Livramento –
CONCLUSÃO:
RS.
Cabe aos dirigentes de uma Loja, cabe aos seus Mes-
tres, numa perfeita combinação, a missão de proporcio-
nar os ensinamentos maçônicos fundamentais, referen-

15
16
AGENDE SUA CONSULTA: 27 3371 - 1505
Av. João Felipe Calmon,1098- Centro - Linhares - ES
Anexo a Clínica Santa Lúcia

17
BREVE HISTÓRIA DO RITO ADONHIRAMITA
Apesar disso, Oscar Argollo, autor maçônico das
Podcast Ouça a matéria clicando aqui primeiras décadas do século XX, classifica o Rito Ado-
nhiramita como um dos mais antigos, associando sua
origem a um ritual de 1248, utilizado pelos construtores
Por Sérgio Emilião
da Catedral de Colônia, Alemanha, que chamou de Rito
Primitivo do Egito, do qual os rituais Adonhiramitas
Místico, espiritual, histórico, ortodoxo e tradicional.
teriam se originado. Afirma ainda que há indícios da
Muitos são os adjetivos empregados para definir o Rito
prática do Rito Adonhiramita em 1616. Na verdade,
Adonhiramita.
mesmo que essas afirmações até certo ponto surpreen-
Definir suas origens e história é algo tão difícil quan-
dentessejam verídicas, esse Rito com certeza não possu-
to apaixonante e desafiador. Pelas mais diversas razões a
ía o nome de Adonhiramita.A denominação Adonhira-
literatura dedicada é bastante escassa, e documentos
mita é posterior a 1725.
referentes aos primórdios de sua prática são bastante
No anterior a 1750, quando ocorreu a explosão de
raros.
Ritos na França, a Maçonaria continental tinha a mesma
O Rito Adonhiramita é definido por muitos autores
prática das ilhas britânicas, ou seja, havia rituais com
como preservador de sua essência original, mantenedo-
diferenças entre si, mas não Ritos como os conhecemos
ras tradições ritualísticas e práticas iniciáticas das esco-
atualmente.
las de mistério da antiguidade, e das ordenações do
Em 1781, o ritualista Louis Guillemain de Saint-
período operativo da Maçonaria. É metafísico, teísta,
Victor publica na Filadélfia, EUA, o primeiro volume da
esotérico e místico.
obra intitulada Recueil Précieux de la Maçonnerie Ado-
O Rito Adonhiramita é fruto da evolução e do aperfei-
nhiramite, Compilação Preciosa da Maçonaria Adonhi-
çoamento dos Ritos de Kilwinning, York e Clermont,
ramita em nosso idioma, que abordava os três Graus do
praticados pelas Lojas britânicas, e, sobretudo, do des-
Simbolismo e o Grau de Mestre Perfeito. Posteriormen-
dobramento do Rito de Heredon (Monte Místico), tam-
te publica o segundo volume contendo do Grau Cinco ao
bém chamado de Rito de Perfeição, originário da Escó-
Doze, correspondendo este último ao Grau de Cavaleiro
cia e amplamente praticado na França no século XVIII.
Rosa-Cruz que classificou como nec plus ultra, expres-
Porém, o Rito Adonhiramita não absorveu os concei-
são latina que significa nada há além. Esta é considerada
tos jacobitas inseridos pelos exilados na França da linha-
a obra de referência do Rito Adonhiramita.
gem escocesa dos Stuarts, adotando os conceitos da
A primeira edição dos dois volumes da Compilação
Maçonaria inglesa, particularmente da corrente denomi-
Preciosa da Maçonaria Adonhiramita postulava a
nada de Modernos, após a fundação da Grande Loja de
seguinte hierarquia de Graus, divididos do 1 ao 4 no pri-
Londres e Westminster em 1717.

18
meiro volume e do 5 ao 13 no segundo: tintiva em São Gonçalo, Rio de Janeiro em 1812 e da
Grau 1 - Aprendiz Maçom fundação da Loja Comércio e Artes no Rio de Janeiro em
Grau 2 - Companheiro Maçom 1815, todas sob a égide do Rito Adonhiramita, sendo as
Grau 3 - Mestre Maçom duas últimas obedientes ao Grande Oriente Lusitano.
Grau 4 - Mestre Perfeito Estas hipóteses na atualidade têm sido exaustivamente
Grau 5 - Primeiro Eleito ou Eleito dos Nove investigadas, e as descobertas têm trazido enorme enri-
Grau 6 - Segundo Eleito ou Eleito de Perignan quecimento sobre os primórdios da Maçonaria no Brasil
Grau 7 - Terceiro Eleito ou Eleito dos Quinze e do próprio início do Grande Oriente do Brasil.
Grau 8 - Pequeno Arquiteto Porém, há registros da prática do Rito Adonhiramita
Grau 9 - Grande Arquiteto ou Companheiro Escocês em período anterior, entre 1813 e 1815, no que foi o pri-
Grau 10 - Mestre Escocês meiro embrião de uma Potência Maçônica brasileira
Grau 11 - Cavaleiro da Espada, do Oriente ou da fundada em Salvador, Bahia. Neste sentido, o Museu da
Águia Grande Loja Unida da Inglaterra – GLUI, possui em seu
Grau 12 - Cavaleiro Rosa-Cruz acervo um ritual Adonhiramita traduzido por Hipólito
Ocorre, no entanto, que neste segundo volume da José da Costa, talvez o maçom brasileiro mais proemi-
Compilação Preciosa foi publicada a tradução de um nente na Europa do século XIX, que comprova de forma
ritual alemão, que anteriormente já havia sido feita no documental a prática do Rito Adonhiramita no Brasil
Jornal de Trevoux, que se referia à antiga Ordem dos antes mesmo de nos tornarmos uma nação independen-
Cavaleiros Noaquitas ou Prussianos, traduzido para o te.
idioma francês por De Bérage, que sugeria a existência Após a fundação do Grande Oriente do Brasil, no dia
de um décimo terceiro Grau e causando uma enorme 17 de junho de 1822, o Rito Adonhiramita permanece
controvérsia em relação ao número de Graus original- sendo praticado aqui de forma regular e goza de período
mente praticados pelo Rito de amplo crescimento, nota-
Adonhiramita. damente após a fundação do
O exame dos textos de Grande Oriente do Vale dos
Saint-Victor revela a possi- Beneditinos, ou Grande Ori-
bilidade de tratar-se de uma ente do Passeio, cujas Lojas
espécie de Grau honorífico, seriam mais tarde integradas
pois era condição sinequa ao Grande Oriente do Brasil.
non para ser decorado com Em 2010 o Rito Adonhi-
ele que o Mestre Maçom ramita faz o caminho de
possuísse o Grau de Cavale- volta à Europa, de onde sur-
iro Rosa-Cruz, ou seja, o giu, e passa a ser praticado
Grau realmente existia. novamente em Portugal.
O fato é que durante muito tempo o Rito Adonhirami- As três Potências Simbólicas Regulares do Brasil
ta foi conhecido como Rito dos Treze Graus e seus prati- possuem Lojas Adonhiramitas.
cantes chamados de Cavaleiros Noaquitas. O primeiro Atualmente o SCAB – Supremo Conselho Adonhira-
Ritual Adonhiramita publicado em solo brasileiro, pelo mita do Brasil é uma Potência Filosófica que administra
Grande Oriente do Brasil, em 1836, tinha essa configu- os Altos Graus do Rito Adonhiramita em território brasi-
ração. leiro, com a prática dos 33 (trinta e três) graus, sendo da
Desde sua formalização o Rito Adonhiramita ganhou sua competência e organização os graus do 4 (quatro) ao
muitos adeptos na França, porém, a convulsão social 33 (trinta e três).
pela qual o país atravessava naquela década o levou pro- Os maçons Adonhiramitas usam terno preto liso, os
gressivamente ao declínio. mestres usam chapéus também pretos, faixas azul celes-
Certamente a religiosidade do Rito Adonhiramita, te e espadas.Todos os maçons Adonhiramitas usam
teísta e com forte influência cristã, chamou a atenção dos luvas e gravatas brancas.
maçons portugueses, maior nação católica da Europa à Se tratam por “Amados Irmãos”, pois isso induz
época, fazendo com que ele migrasse para as terras lusi- subliminarmente o princípio da ampla e irrestrita frater-
tanas e suas colônias, onde teve mais aceitação, dentre nidade que deve nortear a relação entre os maçons. Por
elas o Brasil. essa razão também é chamado de “Rito do Amor”.
Sua chegada ao Brasil ocorreu presumivelmente É um Rito dos mais atraentes, que faz da requintada
entre o final do século XVIII e início do século XIX. Há liturgia, da musicalidade presente nas sessões, e da espi-
menções à fundação da Loja Reunião em 1801, no Rio ritualidade suas principais características.
de Janeiro sob obediência do Grande Oriente da Ilha de
França, atuais Ilhas Maurício; da fundação da Loja Dis-

19
UM INTERESSANTE LEMA MAÇÔNICO:
“DEUS MEUMQUE JUS”
mente traduzida como "Deus e meu direito", ou mais
Podcast Ouça a matéria clicando aqui apropriadamente "Deus e meu direito moral". No
entanto, existe um elemento de mal-entendido em
A frase latina Deus Meumque Jus se traduz literal- relação à tradução da frase.
mente como 'Deus e meu direito'. Deus é bastante simples de entender, pois é comu-
Muitos lemas famosos contribuem para as grandes mente referido como a palavra latina para Deus. A
tradições e mística do Artesanato. Um dos mais intri- confusão reside na palavra Jus, no que se refere à lei e
gantes é "Deus Meumque Jus", que aparece com des- à justiça, por isso alguns especulam que o lema na ver-
taque nos trajes maçônicos, notadamente em objetos dade se traduz como "Deus minha justiça" ou "Deus
dos 32º e 33º graus do Rito Escocês Antigo e Aceito. minha lei".
Dada a sua posição de grande importância nos O Irmão Christopher Haddop resume perfeitamen-
emblemas, é claro que o lema é particularmente signi- te as origens controversas do lema quando escreve:
ficativo e merece uma exploração aprofundada. "O lema é a versão latina de uma frase francesa
Vamos examinar as origens do “Deus Meumque Jus” e originária da Inglaterra e usada em um sistema de
entender por que ele é um lema tão importante dentro graus maçônicos nomeado após a Escócia, que des-
da Maçonaria hoje. cendeu de fontes francesas via Haiti com a ajuda de
um comerciante holandês via Jamaica e que acabou
O que isso significa? sendo quase completamente redefinido nos os Estados
"Deus Meumque Jus" é uma expressão latina comu- Unidos.'

20
O mesmo autor diz-nos que a tradução francesa da cem um modelo pelo qual vários aspectos do eu
frase – “Dieu et Mon Droit” – é na verdade o lema real podem ser colocados em ordem, de modo que as par-
do Reino Unido. Acredita-se que este seja o resultado tes inferiores do eu sejam feitas para serem servas do
de um lendário grito de guerra proferido pelo rei divino interior.
Ricardo I da Inglaterra durante uma batalha em 1198. Quanto ao lema, Deus Meumque Jus poderia ser
O lema refere-se à noção de longa data do direito divi- entendido como a lei e ordem interna (Jus) estabeleci-
no dos reis. da dentro do eu (Meumque), pelo eu divino (Deus)
Apesar das origens um tanto falaciosas do lema, como soberano.
dentro da Maçonaria entendemos a frase como “Deus
e minha retidão moral”. Acredita-se que quando visto O lema visto nos trajes maçônicos
nos trajes maçônicos dos 32º e 33º graus, este é o signi- Conforme discutido, o lema Deus Meumque Jus
ficado pretendido. aparece com destaque nos trajes maçônicos, particu-
larmente nos graus 32 e 33 do Rito Escocês.
O uso do lema na Maçonaria hoje A águia de duas cabeças é o símbolo principal do
O lema está associado ao número 33 na Maçonaria. 33º grau do Rito Escocês, e o lema pode ser visto ins-
Acredita-se que esta tradição venha do fato de que este crito ao pé do símbolo.
número é sagrado no Cristianismo e no Hinduísmo e A águia de duas cabeças geralmente é adornada
existem 33 vértebras na coluna vertebral. Na Maçona- com anéis e chapéus usados pelos irmãos do Rito Esco-
ria, o lema é comumente visto nas insígnias do 33º cês. A este respeito, é considerado um símbolo de pres-
grau. tígio, sendo o Rito Escocês
O número não foi esco- uma secção bastante exclu-
lhido ao acaso pelos funda- siva da Maçonaria.
dores do Rito Escocês. Você pode identificar a
Especialmente no Cristia- águia de duas cabeças pela
nismo, 33 é significativo. disposição de suas asas.
Sabemos que significa a Nas insígnias, as asas são
Santíssima Trindade (Pai, geralmente apontadas para
Filho e Espírito Santo), e baixo, embora às vezes
também nos é dito que Cris- sejam apontadas para cima.
to tinha 33 anos quando Se as asas da águia de
ascendeu ao céu. Além dis- duas cabeças estiverem
so, os Evangelhos listam 33 apontando para cima, geral-
milagres realizados por mente é um status de
Cristo ao longo de sua vida maçom, e em algumas
na terra. jurisdições da Maçonaria, as asas apontando para
cima são reservadas apenas para maçons do 33º grau.
Então, qual é a conexão entre o número e a moe- No geral, como maçom do Rito Escocês, você vive
da? sob a proteção simbólica oferecida pela Águia de
Talvez seja melhor compreendido dentro desta Duas Cabeças. Toda a força, coragem e visão da águia
estrutura religiosa. Extraído literalmente do seu signi- se manifestam nos irmãos do rito escocês.
ficado latino, o lema significa a relação de um irmão
com o Ser Supremo. É um lembrete da necessidade de Conclusão: Deus Meumque Jus
viver virtuosamente sob o olhar atento de Deus, ao Como já exploramos, o lema maçônico “Deus
mesmo tempo que nos comportamos de maneira con- Meumque Jus” tem origens um tanto falaciosas.
sistente com os valores da fraternidade. Porém, hoje é uma expressão extremamente impor-
No entanto, uma interpretação mais profunda pode- tante dentro da Maçonaria. O fato de aparecer de
ria ser a de que representa um reino interno do divino forma tão proeminente nas insígnias do exclusivo 33º
dentro de cada maçom individual. Por exemplo, se grau do Rito Escocês demonstra esta importância.
olharmos para a estrutura de rituais maçônicos especí- O significado do lema reside na sua base religiosa.
ficos, vemos um espelho externo dos elementos inter- Os fundadores do Rito Escocês o adotaram delibera-
nos do ser. damente.
Em termos simples, para um irmão significa que os
ensinamentos maçônicos dentro de sua loja estabele-

21
“Um grupo de maçons reunidos em um lugar sagrado” conforme percebido pelo gerador de imagens de inteligência artificial artssy.co

O QUE A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PENSA DA MAÇONARIA?


muito tempo. Na verdade, o termo foi cunhado em
Podcast Ouça a matéria clicando aqui uma conferência de verão no Dartmouth College em
1955. Mas mesmo antes disso, em 1942, o autor
Parece que as manchetes hoje em dia estão repletas Isaac Asimov escreveu o romance “Runaround”.
de histórias sobre como a Inteligência Artificial vai Nesse livro, ele apresentou as 3 leis da robótica que
deixar todos nós sem trabalho. Os geradores de arte regeriam a “ética” dos robôs. Como isso é relevante
de IA roubarão o mercado dos artistas, a escrita de IA para a Maçonaria, você diz? Os robôs provavelmen-
deixará os escritores sem trabalho. A IA assumirá o te não invadirão nossas lojas tão cedo. E não vejo a
marketing, a redação de discursos, a manutenção de Inteligência Artificial tornando-nos, humanos,
registros e as atividades criativas. Basicamente, o “obsoletos” na nossa loja.
céu está caindo – de novo. Na época em que as tele- O efeito mais imediato que a Inteligência Artifici-
visões foram introduzidas, eles disseram que isso al provavelmente terá sobre a Maçonaria é o que ela
iria matar o rádio. Não mudou – mas o rádio mudou. pensa sobre nós.
Quando o Netflix foi lançado – eles disseram que iria Em outubro do ano passado, comecei a investigar
matar a TV. Não mudou – mas a TV mudou. Estas a IA através de um gerador de imagens. Eu me ins-
“Novas Tecnologias” pelas quais as pessoas se sen- crevi para uma assinatura do “Artssy.co”, que pro-
tem ameaçadas são o que chamamos de “Disrupto- metia cuspir imagens com base na entrada de texto
res”. A nova tecnologia “perturba” os negócios nor- de humanos. Foram necessárias algumas tentativas
mais. E talvez isso seja uma coisa boa. e erros para digitar o texto e obter uma imagem que
Essa ideia de “Inteligência Artificial” já existe há se aproximasse do que eu procurava. Comecei a ten-

22
tar gerar imagens “esotéricas”. Eles eram estranhos
e assustadores. Então comecei a inserir instruções
mais “complexas”. Tentei ser mais genérico e pedi à
IA que me desse uma imagem de “um grupo de
maçons reunidos num local sagrado”. Retornou a
imagem do início deste artigo – 5 homens reunidos
em torno de um altar. Aparentemente, pensa que a
maioria de nós é careca!
Em novembro do ano passado (2022), o ChatGPT
foi lançado e recebeu muita atenção da mídia. GPT
significa “Transformador pré-treinado generativo
de bate-papo). Esta nova “IA” foi na verdade basea-
da em software criado em 2020 pela OpenAI. A “IA”
recebe informações humanas e produz “respostas”
com base na experiência anterior. O resultado pode
incluir escrever um artigo, criar uma imagem ou
responder a uma pergunta. E é esse último que nos
afetará primeiro. Essas questões colocadas à IA cer-
tamente incluirão algumas perguntas sobre a Maço-
naria. Curioso sobre a Maçonaria? Pergunte à Inteli-
gência Artificial. Quer saber mais sobre as gradua-
ções? Pergunte à IA. A Maçonaria faz parte dos Illu- nati?”.
minati? A IA provavelmente saberá. Preparem-se. A AI respondeu com “Não, os
Resolvi conversar com a IA e ver o que ela pensa maçons e os Illuminati não são a mesma coisa, não
sobre a Maçonaria. Mais do que apenas responder há nenhuma evidência que sugira que eles estejam
perguntas, é suposto cuspir pensamentos e resumos relacionados de alguma forma”. Boas notícias para
complexos. Primeiro fiz uma pergunta básica “O nós.
que é a Maçonaria?”. Respondeu: “A Maçonaria Com base na minha interação inicial, parece que a
baseia-se num sistema de ensinamentos morais e IA tem uma imagem positiva da Maçonaria. Qual-
alegóricos, muitas vezes expressos em termos sim- quer pessoa que procure informações sobre a Maço-
bólicos, que se destinam a promover o crescimento naria através da IA provavelmente obterá respostas
pessoal, o comportamento ético e a responsabilida- reais sobre quem somos, em vez de disparates cons-
de social”. No geral, uma ótima resposta. Eu cavei piratórios. Mas isso mudará? Tudo isso depende de
mais fundo. Perguntei “A Maçonaria é uma reli- onde a IA obtém a “educação” adicional e de quem
gião?” tem o controle. E se alguém responsável tivesse uma
A AI respondeu: “Não, a Maçonaria não é uma experiência ruim com um maçom, poderia chegar ao
religião… Embora a Maçonaria exija que os seus ponto de sabotar essa “percepção” da IA? Como
membros acreditem num Ser Supremo, ela não pro- qualquer outra coisa, a tecnologia é tão boa quanto
move nenhuma religião ou doutrina religiosa em aquilo que lhe dizemos para fazer. No momento,
particular”. Hum, até aí tudo bem. Eu tentei “Os devemos estar cientes de que a IA sabe muito sobre
maçons matam pessoas?” A AI respondeu: “A Maço- nós e as pessoas vão pedir informações a ela. Mas
naria é frequentemente associada a teorias de sigilo não importa o que a IA divulgue, o primeiro passo
e conspiração, o que alimentou muitos rumores e será sempre quando um buscador entra em contato
acusações infundadas sobre as suas atividades”. Dei com um Maçom para descobrir como ingressar. Por-
um passo adiante e perguntei: “O que é o caso Mor- tanto, a melhor representação da Maçonaria conti-
gan?” A AI respondeu com um relato verdadeiro do nua sendo os Maçons. Devemos sempre nos lembrar
que aconteceu, incluindo comentários de que “ne- de melhorar e suavizar nossa pedra bruta.
nhuma evidência concreta foi encontrada” e “o Caso
Morgan prejudicou a reputação da Maçonaria”. Fraternalmente,
Resolvi fazer perguntas ao avô que certamente seri- Bo Buchanan
am nossa ruína. “Os maçons também são os Illumi- Editor da Revista Arizona Masonry

23
ONISMO:
Oferecendo uma nova definição para a maçonaria
Coil) e "uma escatologia" (Albert Churchward) até
Podcast Ouça a matéria clicando aqui a própria "marcha e luta em direção à Luz" de
Albert Pike. " (2°, Palestra "Companheiro de Ofí-
Por John P. Gilbert cio", Moral e Dogma). Essas definições podem não
apenas parecer um pouco difíceis de entender para
Existem percepções errôneas generalizadas da muitos, mas também parecem contradizer a rejei-
Maçonaria entre o público, e talvez isso possa ser ção da Maçonaria ao status de religião, especial-
resolvido por uma nova definição da natureza do mente quando associada a termos como "ritual" e
Ofício. É bastante fácil definir a Arte em termos do "templo", que são usados simbolicamente na Maço-
que ela não é: não é uma religião, não é dogmática, naria, mas muitas vezes são interpretados literal-
não é uma seita e não é uma alternativa à religião. mente, e assim religiosamente, para o mundo exte-
No entanto, tais "definições por exclusão" pare- rior.
cem defensivas, quase como negações e evasões. A posição de retorno usual é dizer que a Maço-
Por outro lado, as definições positivas historica- naria é uma filosofia. No entanto, se isso for verda-
mente em oferta também são de pouca ajuda. Tais de, qual é a "filosofia" da Maçonaria? É aqui que
caracterizações, muitas vezes de nossa própria lite- nos encontramos voltando ao dilema familiar de
ratura, descrevem a Maçonaria em termos que vari- muitas respostas concorrentes. De acordo com o Ir.
am de "uma religião primitiva" (Henry Wilson David Harrison, por exemplo, a filosofia da Maço-

24
naria é "tornar o mundo um lugar melhor". Deus... a cada um de seus Iniciados para buscar o
Em O Significado da Maçonaria (1922), Walter fundamento de sua fé e esperança nas escrituras
Leslie Wilmshurst opina que a filosofia maçônica é escritas de sua própria religião" (14°, Palestra "Elo
religiosa que "nos fornece uma doutrina do univer- Perfeito", Moral e Dogma). É e foi uma noção revo-
so e de nosso lugar nele". Isso novamente sugere lucionária e única.
incorretamente que a Maçonaria é, de alguma for- Com essa ideia na frente e no centro, estabeleci o
ma, um substituto para a religião. termo Onismo, cunhado pelo poeta inglês vitoriano
Eu sugeriria que o ponto de partida de toda a Philip James Bailey (1862-1902) que é um reco-
Maçonaria é seu ritual e as noções de que, desde a nhecimento e respeito por todas as religiões e um
abertura da loja até o grau de Mestre Maçom, os reconhecimento de que todas elas apontam e se
homens ali reunidos podem ser de qualquer fé. Esta esforçam para uma única causa transcendente.
é a característica distintiva da Maçonaria, separan- Como o colega poeta de Bailey, William Blake
do-a da religião propriamente dita. Eu diria que (1757-1827), expressou ainda mais poeticamente
esta é a filosofia central da Arte também. Como em sua coleção de 1788 de Aforismos Todas as Reli-
disse Pike, "a Maçonaria, em torno de cujos altares giões São Uma, "As Religiões de todas as Nações
o cristão, o hebreu, o muçulmano, o brâmane, os são derivadas da recepção diferente de cada Nação
seguidores de Confúcio e Zoroastro, podem se reu- do Gênio Poético..." Talvez nutrindo o termo onis-
nir como irmãos e se unir em oração ao único mo e esta noção iluminada, podemos definir

UNIVERSALISMO E MAÇONARIA
John M. Bozeman

Os leitores do artigo de John Gilbert acima sobre onismo


podem ser levados a se perguntar como a Maçonaria é dife-
rente do Universalismo. Esta questão aparentemente direta
poderia facilmente evoluir para uma discussão envolvente,
mas, por enquanto, uma breve olhada na história será sufi-
ciente.
A Maçonaria se originou na Europa Ocidental antes de se
espalhar para a América do Norte e o resto do mundo.
Nesse contexto, tentou-se conscientemente ajudar seus
participantes a representar os aspectos divinos e morais da
vida, sem endossar nenhuma noção particular do divino. O
aumento da consciência das fés não ocidentais resultou na
expansão das noções maçônicas da Divindade ao longo do
tempo, embora sempre com o desejo de expressar respeito
tanto às religiões humanas quanto ao Divino. A esse respei-
to, pode ser visto como "universalista".
Eu argumentaria, entretanto, que a Maçonaria não deveria
ser vista simplesmente como uma forma de "universalis-
mo". Historicamente, o Universalismo frequentemente tem
sido associado a grupos religiosos específicos e suas visões
particulares do destino humano sobrenatural. Nos Estados
Unidos, por exemplo, já houve uma grande denominação
cristã conhecida como Igreja Universalista da América.
Essa instituição religiosa acreditava que todas as almas
iriam para o céu, mas "céu" era entendido em termos expli-
citamente cristãos.
Na melhor das hipóteses, a Maçonaria tenta evitar esse
particularismo implícito, por mais bem-intencionado que
seja. É esse mesmo desejo de inclusão respeitosa isso leva à
discussão contínua da Maçonaria sobre quais palavras
melhor explicam essa busca para o mundo mais amplo

25
26
26
A PORTA DO TEMPLO co) ou por esfinges em frente às pirâmides egípcias.
Podcast Ouça a matéria clicando aqui A porta do templo pode, portanto, assumir dois sig-
nificados diferentes: num primeiro sentido, pode apa-
A palavra porta, que deriva do latim e significa passa- recer como um convite e uma abertura, enquanto num
gem estreita, evoca uma noção antiga e sagrada, já pre- segundo sentido, pode parecer hostil e só pode ser aber-
sente entre os egípcios que construíam pilares com ta se alguém for digno. Neste caso torna-se hermetica-
passagem estreita na entrada dos templos, que com seu mente aberto, ou seja, acessível apenas aos iniciados.
frontão sugeriam uma ponte entre dois mundos. A porta Na milenar civilização egípcia, a majestade e a seve-
do templo é tradicionalmente um dos elementos mais ridade dos animais selvagens refletiam-se na iconogra-
ricos do ponto de vista artístico. As portas dos templos fia de divindades como Anúbis, o deus com cabeça de
costumam ser adornadas com pinturas e esculturas que chacal, que guiava as almas dos falecidos para o reino
funcionam como um livro ilustrado. do outro mundo, vigiava os portões do o submundo e
Exemplo desta característica podem ser encontra- presidiu o julgamento das almas na balança de Maat.
dos nos portais das catedrais góticas ou românicas de No que diz respeito ao templo maçónico, não se
Chartres, Reims ou outras, onde se podem admirar trata de uma realidade arquitectónica, mas sim de um
representações de cenas bíblicas, virgens com criança, “templo em espírito”, que se inspira na construção do
figuras de santos e apóstolos esculpidas em pedra e templo de Jerusalém do rei Salomão, narrada na Bíblia,
destinadas a transmitir aos à população analfabeta uma mas de origem mais antiga, ou seja, egípcio. A entrada
mensagem cristã de valor educativo. do templo, segundo esta tradição, era fixada no Hekal
A intenção das decorações era também estimular os (parte coberta reservada aos sacerdotes) por duas colu-
fiéis a se aproximarem de Deus, a entrarem na igreja, a nas de bronze erguidas por Hiram e denominadas Jakin
cruzarem o limiar do despertar. e Boaz; Jachin significa “aquele que estabelece” em
Este convite para entrar na igreja pode parecer con- hebraico e Boaz significa “força nele”.
trastar com o simbolismo usado pelos antigos egípcios O acesso ao templo estava indissociavelmente liga-
e pelas próprias tradições maçónicas e hindus, que con- do às suas duas colunas que, no entanto, não sustenta-
cebem a porta do templo como um lugar a ser guardado vam nada e esta passagem, reservada apenas ao inicia-
(defendido por guardas ou feras, leões, dragões ou gri- do, ativou uma dinâmica de construção e consolidação,
fos colocados nas laterais de templos como o babilôni- ajudando a fortalecer o templo, atraindo a força divina.

27
A soleira do edifício sagrado, símbolo da dimensão tante etapa em sua existência. Mesmo no adro, em fren-
cósmica da Arte Real, abre-se para Poente, onde o sol te à porta, realizam-se gestos sagrados e solenes.
desce e vira-se para Nascente, no centro do arco solar Na Bíblia, a soleira do templo às vezes é cenário de
entre o ponto mais baixo e o ponto mais alto. Ladeiam- maravilhas. Nos Atos dos Apóstolos, capítulo 3, é nar-
no duas colunas solsticiais, representando o deus rado um aleijado de nascença que pedia esmola na
Janus, senhor das portas, detentor das chaves e com porta do templo e Pedro e João lhe intimaram, em nome
duas faces. O seu olhar tem um duplo sentido: um espa- de Jesus: “Levanta-te e anda” e o milagre acontece. . Lá
cial, que zela pelo acesso ao templo, impedindo a entra- fora, em frente à porta, o rei administra a justiça.
da ao profano, e um interno, que garante a harmonia A porta do templo é o símbolo da transformação que
que ali reina. O outro significado é temporal: em har- o leigo deve fazer para ter acesso à sabedoria maçôni-
monia com o ciclo solar, Janus representa o segundo ca. Não é uma simples abertura, mas um limiar que
São João, guardião não só dos portões celestes, mas exige mérito, sacrifício e vontade. O leigo vendado
também do início do ciclo anual no solstício de inver- deve se curvar para passar pela porta estreita, como se
no, quando a luz solar está no seu melhor mínimo e fosse renascer para uma nova vida, deixando para trás
inicia sua subida. Janus era a divindade latina das por- as trevas da ignorância e aproximando-se da luz do
tas e é também o mais antigo dos deuses latinos, sem- conhecimento. Ele também deve enfrentar as prova-
pre invocado antes de Júpiter. Ele presidiu os portões ções dos três elementos, guiado pelas duas colunas que
do céu e o domínio dos deuses. Deus romano dos come- representam a dualidade do ser humano e a porta do
ços, entradas e passagens, teve o papel de iniciador. templo é o símbolo da transformação que o leigo deve
Janus, o guardião dos umbrais, sempre apareceu fazer para ter acesso à sabedoria maçônica. Não é uma
com duas caras: com um olhar examinava o passado e simples abertura, mas um limiar que exige mérito,
com o outro o futuro; ou com um dirigiu-se à terra e o sacrifício e vontade. O leigo vendado deve se curvar
outro ao céu, em virtude da para passar pela porta estrei-
sua "dupla ciência" que lhe ta, como se fosse renascer
foi concedida pelo deus para uma nova vida, deixan-
Saturno em troca da sua do para trás as trevas da igno-
fidelidade. Os seus santuári- rância e aproximando-se da
os ficavam às portas das luz do conhecimento. Ele
cidades; em Roma seu tem- também terá que enfrentar
plo tinha a particularidade as provações dos três ele-
de ter as portas escancara- mentos, guiado pelas duas
das em tempos de guerra, colunas que representam a
para indicar que o Deus havia partido para a batalha, e dualidade do ser humano e seu equilíbrio. Entre as colu-
fechadas em tempos de paz porque voltava ao seu local nas é gerada uma força ternária, uma energia vital, uma
de culto para proteger a cidade. A porta do templo, além alma nova, capaz de praticar V.I.T.R.I.O.L., ou a busca
de ter um valor estético e arquitetónico, era sobretudo pela essência interior. Assim o profano despoja-se do
uma “passagem” que implicava uma dualidade: havia velho e da sua vida profana, e dedica-se a trabalhar a
o fora e o dentro, o antes e o depois, o ruído e o silêncio. pedra bruta para transformá-la em pedra cúbica, cons-
Em todas as tradições, rituais com forte significado truindo o seu templo interior.
simbólico foram associados a este acesso. A porta do templo é também o símbolo do desejo de
Em quase todas as culturas encontramos nesta pas- ir mais longe, de se encontrar consigo mesmo e com os
sagem um rito antigo, o da purificação, que permitiu outros, de se aproximar do sagrado e da transcendên-
aos fiéis de todas as religiões, e ao iniciado maçónico, cia. Entrar no templo significa mudar de dimensão,
serem dignos de entrar no santuário. assumir uma solenidade, sair da condição humana e
Com as mãos protegidas por luvas brancas, símbolo entrar em comunhão com o divino. Por fim, a porta do
de pureza, o maçom coloca seus metais na entrada do templo é o símbolo do sentido da vida, de uma nova
templo. Assim como os cristãos se borrifam com água ética, da compreensão das portas que atravessamos e
benta para entrar na igreja, ou os muçulmanos tiram os que voltaremos a cruzar. O tempo não para, mas o pas-
sapatos para entrar na mesquita. sado e o futuro se encontram no presente, e olhar para
Além disso, a porta do templo marca solenemente as as nossas ações é sempre uma oportunidade de cresci-
fases da vida de quem por ela passa. Na religião cristã, mento.
por exemplo, a noiva vai à igreja ao lado do pai e sai C.L.
acompanhada do marido, selando uma nova e impor-

28
DESCUBRA QUEM É O GADU…
Pedreiro”.
Podcast Ouça a matéria clicando aqui No Antigo Testamento, a palavra em si ocorre ape-
nas três vezes:
Por Gérard Lefèvre Hebreus capítulo 10 “Porque ele esperou pela cida-
de que tem fundamentos, cujo construtor e construtor
O autor oferece-nos uma leitura pessoal em torno é Deus”,
desta referência comum a todos os maçons tradicio- · Êxodo 25-8-9 Eles me farão um santuário, e habi-
nais, regulares ou... outros. Recorda duas personali- tarei no meio deles. Você fará o tabernáculo e todos os
dades da onda ocultista do século XIX. Ele escreve: seus utensílios conforme o modelo que vou lhe mos-
Se a evocação do Arquiteto deve ser diferenciada, trar
para alguns, daquela de um Deus dogmático, procure- · Salmo 126/127: A menos que Deus edifique a
mos o que é evocado nestes termos: casa, os construtores trabalham em vão.
“É verdade que para nós, judaico-cristãos, é costu- E no Novo Testamento é o pai de Jesus quem é “ark-
me pensar e evocar o Deus das nossas religiões, quan- hitektôn”, ou “carpinteiro”. Isso é um sinal?
do falamos do Grande Arquiteto”. Sujeito a um estudo mais preciso, a expressão apa-
Se este nome provém do grego “ arkhitektôn ” que rece também na Epístola aos leitores da edição de
significa “mestre carpinteiro”, não podemos deduzir 1567 da Arquitetura de Philibert Delorme, na qual o
que ele designasse o “construtor-chefe de um monu- autor evoca “este Grande Arquiteto do Universo,
mento”. Manteremos para esta tarefa específica de Deus todo-poderoso” que colocou os sete planetas no
construtor o termo “Mestre Construtor ou Mestre céu para governar a terra. Além disso, ele acrescenta:

29
Deus é aquele, o grande e admirável Arquiteto, para os imaginativos imaginarem o que gostam; se
que ordenou e criou com sua única palavra toda a nisto são influenciados pelas reminiscências, quando
máquina do mundo, tanto celestial quanto terrestre, atacam uma realidade demasiado vasta e elevada para
com tão grande ordem, tão grande medida e tão admi- se deixarem conter na estreiteza de uma fraca mentali-
ráveis proporções, que o ser humano a mente sem sua dade humana.
ajuda e inspiração não pode compreendê-lo…” O mistério nos obcecará para sempre, saibamos
Assim diz Jules Boucher, de convicção alquimista reservar-lhe a sua parte, para nos apegarmos sem dis-
e ocultista: “Não vamos transformar o Grande Arqui- trações à nossa tarefa positiva.
teto do universo num objeto de crença. Vamos vê-lo Ora, como acabo de dizer, um símbolo não é adora-
como um símbolo para estudar, como qualquer outro, do porque o pensador a quem ele se dirige esforça-se
para construir as nossas convicções pessoais.” por compreender o seu significado.
Oswald Wirth (1860/1943), outro ocultista, adepto O simbolismo se opõe a toda idolatria e conduz a
do tarô, Martinista e Rosacruz (Ordem Cabalística), um idealismo reservado aos iniciados por força das
escreve que O ritual inglês, tal como foi introduzido circunstâncias, porque os crentes materialistas, que
no continente, no período mais ativo do Iluminismo, materializam o espírito, não conseguem compreender
estava longe de se satisfazer a genialidade do nosso o alcance da palavra símbolo.
povo, que quer que tudo seja logicamente coordena- Tornemo-nos simbolistas em filosofia e a nossa
do. Os maçons franceses sentiram, portanto, desde o visão mental ganhará profundidade e amplitude. Os
início, a necessidade de retocar o que lhes parecia bas- símbolos nos ajudarão a compreender tudo e nos impe-
tante inapropriado. dirão de sermos tacanhos.
Estas linhas são mais nacionalistas do que qual- Eles nos tornarão indulgentes com as imagens cari-
quer coisa que alguns “au- caturais, que traduzem as
tores” tenham escrito! impressões recolhidas pela
Melhor, eles têm uma forma inteligência humana na sua
de aversão. Seu próprio aspiração de penetrar no
significado literal indica mistério insondável que a
isso. obceca.
Na boca de um pedreiro, Quanto ao Grande
imbuído de universalismo, Arquiteto do Universo,
são ilógicos e até grotescos. livre para os maçons deístas
Todas as Grandes Lojas ou teístas identificá-lo com
do mundo professam, o Criador, livre para os
segundo a tradição, a existência de um Deus e dão esta outros implicarem exatamente tudo o que acreditam
famosa definição “Para a glória do Grande Arquiteto ser verdade por meio desta fórmula.
do Universo”. Em nenhum lugar se trata de propor o Grande
O Grande Arquiteto como tudo que encontramos Arquiteto como um símbolo puro.
na alvenaria, é um símbolo para alguns? Nenhuma edição posterior do código maçônico,
Para esses, um símbolo não é adorado... nenhum ritual do século XVIII, ou mesmo nenhum
O principal para os iniciados é que a sua concep- autor maçônico jamais disse que o Grande Arquiteto
ção, seja ela qual for, corresponda a uma realidade. era apenas uma fórmula simbólica, deixada às dispu-
Ora, o Grande Arquiteto, sem dúvida porque é tas individuais dos iniciados.
menos transcendente para alguns do que o Deus dos É por isso que devemos continuar a cortar a nossa
teólogos, alude a uma entidade que existe incontesta- pedra bruta, para que fique perfeitamente cúbica.
velmente, porque o trabalho construtivo dos maçons é Concluída esta obra, poderemos retomar o nosso
inspirado por um ideal que impulsiona uma energia lugar no edifício e fundir-nos com o Todo e, portanto,
tremenda. com o Grande Arquiteto do Universo.
Uma força superior a eles faz com que os maçons Para concluir, recordemos também as palavras de
atuem e coordenem seus esforços com uma inteligên- Santo Agostinho no Prólogo do Evangelho de João:
cia que eles estão longe de possuir individualmente. “'[...] e o Verbo era Deus'... se você não consegue
Tal é o facto brutal que se observa e diante do qual nos entendê-lo, espere até que você cultive alimentos
curvamos grandes demais para você . »
Deixe que cada um interprete à sua maneira. Livre

30
ETERNO APRENDIZ, NUNCA PARARÁ DE APRENDER
mento. Tudo isso serve para potencializar as
Podcast Ouça a matéria clicando aqui
mentes que servirão para estar em melhor comu-
nhão consigo mesmas e com o universo ao seu
Por Adolfo Ribeiro Valadares redor, inclusive com o resto da humanidade.
Tanto aprendizado é inútil se não for com o pro-
O homem e a renovação maçônica pósito de dar ao indivíduo uma alma em contato
A vida é uma escola contínua que temos desde o com seus semelhantes.
dia em que nascemos e até darmos o nosso últi- E existe a possibilidade do homem de bem,
mo suspiro, estaremos sempre em contínuo que ama a liberdade e se qualifica para viver em
aprendizado. Esse processo talvez passe des- harmonia com seus irmãos, ajudar o Grande
percebido pela maioria dos indivíduos que sim- Arquiteto do Universo na árdua tarefa de cons-
plesmente passam pela vida e não aprendem truir um mundo melhor e mais justo. A Maçona-
nenhuma lição útil para alegrar seus espíritos. ria Universal permite a quem nela ingressa unir
Porém, ainda que não frequentemos escolas esses dois elos edificantes: o aprendiz e o
comuns, temos à nossa disposição os costumes, conhecimento, com o estrito respeito de que o
tradições, normas de conduta transmitidas homem é um eterno aprendiz e que jamais
pelos idosos, experiências e conceitos de ética e interromperá seu processo de escolarização. Na
moral que nos são colocados à disposição. Maçonaria, o lema do aprendizado deve ser
Algumas pessoas têm a sorte de frequentar sempre entendido como a busca incessante da
escolas, cursos profissionalizantes, universida- verdade e a evolução do espírito.
des e expandir esse conhecimento além da maio- É uma escola que se apresenta como uma
ria das pessoas, como pós-graduações, mestra- faculdade de vida e que estimula seus membros
dos, doutorados e o que estiver disponível para a estarem em contato constante com as lições
colocá-los acima da média na área do conheci- que servem para renovar o homem em todos os

31
seus aspectos, moral, espiritual, familiar, pro- tido na Maçonaria seja um homem plenamente
fissional e humano. O maçom é um aprendiz renovado em sua forma de encarar o mundo e
assíduo e devotado, que cultiva a virtude e com- de se relacionar com os demais indivíduos que
bate os vícios que o desviam do caminho da per- vivem ao seu redor. Se não nos tornarmos
feição. Em nossas lojas, buscamos aprender melhores entrando em nossa ordem sublime, de
com nossos irmãos como melhorar nossas edi- nada valerá a herança das lições que nossos mes-
ficações interiores através da prática destes tres nos transmitiram e todo o tempo que dedi-
princípios: o exercício do amor, da tolerância, carmos às nossas reflexões e todos os esforços
da humildade e da harmonia que deve reinar que empreendermos na busca pois a verdade e a
nas relações de todos os homens. evolução terão sido em vão de nossas mentes.
Cada Maçom é um aprendiz que tem ao seu Se não somos capazes de esculpir a pedra bruta
lado um mestre pronto para ajudá-lo a revisar a que está em nós e não nos tornamos pedra poli-
lição e aprimorar o ensinamento que lhe foi da ou cúbica, o erro terá sido nosso de não ter-
dado. Para que o aprendiz consiga abstrair em mos sido férteis na virtude e não nos despojar-
toda a sua essência o ensinamento que lhe foi mos de nossas vontades e imperfeições.
dado, é necessário despir-se das camadas e rou- O escritor francês Saint-Exupéry nos deixou
pas que atrapalham essa evolução, por isso se lições primorosas sobre o sentimento de reno-
diz que um bom aprendiz consegue superar vação que cada indivíduo precisa para crescer e
suas paixões e superar sua vontade de crescer. evoluir. Renovar significa ser melhor a cada
Somente com a mente aberta e livre de desejos dia, abandonando os vícios da sociedade con-
que nos prendam aos vícios e manchas trazidas temporânea como o imediatismo, o egoísmo, a
pelas más experiências podemos elevar nosso intolerância, a concorrência desleal e a hipocri-
ânimo ao bom aprendizado e crescimento que sia. Todos nós temos a oportunidade de nos rein-
buscamos. Para ingressar em nossas fileiras, o ventar todos os dias. Só quem tem vontade e
indivíduo deve acreditar na existência de um disciplina consegue se renovar graças ao apren-
princípio criativo que chamamos de Deus, o dizado que a vida nos permite.
Grande Arquiteto do Universo.
Assim, é fundamental que cada irmão admi-

32
GERAÇÃO Y
A maçonaria está pronta para receber os milenários?
As características dos Milenários variam de
Podcast Ouça a matéria clicando aqui acordo com o contexto geográfico e a condição
socioeconômica em que se encontram, mas
Por F.B. - Fonte: Revista Athanor compartilham alguns aspectos: são usuários
assíduos de redes sociais, não imaginam a vida
A Geração Y, também conhecida como Milená- sem tecnologia, demonstram forte impaciên-
rios, abrange os nascidos entre a década de cia, não respeitam a autoridade, não se impor-
1980 e o início dos anos 2000. O termo foi tam com as hierarquias (tanto na escola, no tra-
cunhado pelos sociólogos William Strauss e balho e na família), possuem maior criativida-
Neil Howe em seu livro Generations (1991), de e adaptabilidade, são frequentemente criti-
para designar a primeira geração que vivencia- cados e acusados de inconstantes, egocêntricos
ria o advento do novo milênio. A geração do e "parasitas" pelos pais.
milênio se enquadra entre a Geração X (aque- Os Milenários são uma geração excepcional
les nascidos entre 1965 e 1980) e a Geração Z que experimentou em primeira mão as profun-
(aqueles nascidos entre 1997 e o início dos das transformações tecnológicas e sociais do
anos 2000). nosso tempo. Desde o berço, eles foram envol-

33
vidos por uma atmosfera digital que influenci- de aproveitar o momento. Por esta razão, eles
ou seu estilo de comunicação, aprendizado e estão mais inclinados a aproveitar plenamente
relacionamento. Por esse motivo, muitas vezes o presente e seguir suas paixões.
são considerados narcisistas, devido à tendên- Um traço distintivo da geração "Y" é sua curio-
cia de mostrar sua imagem nas redes sociais e sidade insaciável, seu desejo de entender as
compartilhar inúmeras mensagens por dia. causas e razões de seu entorno. Ele não se deixa
Mas a geração do milênio não para por aí. Eles persuadir por afirmações dogmáticas ou impo-
também são uma geração viva, flexível e ino- sitivas, como "assim se faz" ou "porque eu
vadora, que sabe se adaptar às mudanças rápi- digo" que as gerações passadas aceitaram sem
das e inesperadas do mundo. Não se limitam a objeções. Esta geração exige respostas. As res-
uma vida monótona e repetitiva, mas estão sem- postas dão sentido à sua indagação e alimen-
pre em busca de novos tam o motor de sua
estímulos e oportuni- motivação. Ao contrá-
dades. Para eles, o tra- rio, quando as respos-
balho não é apenas um tas são escassas, ela
meio de subsistência, emperra, para, desmo-
mas também uma fonte raliza.
de gratificação pessoal Os jovens do nosso tem-
e a realização de seus po, embora exprimam
sonhos. traços de individualis-
Os Milenários são o mo, materialismo e nar-
futuro da sociedade, cisismo, não carecem
mas também um desa- de qualidades louváve-
fio para instituições, is. Eles representam
empresas e famílias uma transformação
que devem compreen- radical de perspectiva
der as suas necessida- em relação às gerações
des, valores e ambi- anteriores que não
ções. Só assim poderão requer avaliações nem
garantir-lhes as condi- comparações com o
ções óptimas para passado. É uma dife-
expressarem as suas rença essencial, não
potencialidades e parti- uma superioridade ou
ciparem no progresso inferioridade. Os
coletivo. jovens de hoje desafi-
A geração do milênio am a autoridade dos
entendeu que a vida é um presente inestimável mais velhos porque têm oportunidade e expe-
e passageiro que não deve ser desperdiçado em riência, resultantes do acesso contínuo à infor-
expectativas inúteis ou remorsos infrutíferos. mação e à tecnologia. O mundo moderno está
"Nada pode acontecer." Esta é a lição que eles mais próximo de seu espírito e conhecimento,
aprenderam desde crianças, observando os trá- fazendo com que possuam um poder que as
gicos eventos que chocaram o mundo ao vivo, gerações passadas conheceram apenas em
desde crises econômicas, até desastres natura- casos excepcionais.
is, ameaças à segurança, emergências de saú- A geração "Y" adquiriu um conhecimento
de; isso os tornou mais maduros e conscientes vasto e profundo que lhe permitiu desenvolver
do significado de Carpe diem, ou a sabedoria a capacidade de análise e comparação, levan-

34
do-a a questionar o que lhe é proposto, não por endermos e não os envolvermos, corremos o
espírito de rebeldia, mas por curiosidade e pela risco de perdê-los e com eles a Tradição que
procura pela verdade. A geração "Y" não se con- pretendemos salvar.
tenta com as respostas dos outros, mas busca de Não significa que tenhamos de renunciar à
forma independente as informações que lhe nossa identidade e ao nosso património históri-
interessam, utilizando as diversas fontes à sua co e cultural. Pelo contrário, devemos valorizá-
disposição. Além disso, a geração do milênio é lo e torná-lo acessível e atrativo para as novas
ativa na criação e divulgação de suas próprias gerações. Devemos estar abertos ao diálogo e
opiniões, que compartilha constantemente ao confronto, sem preconceitos e sem medo.
com outras pessoas, gerando um clima de plu- Temos de ser flexíveis e criativos, sem perder a
ralismo e troca. É uma geração de Milenários seriedade e o rigor. Devemos ser Mestres e
que conseguiu quebrar os moldes e as conven- Irmãos, sem ser autoritários ou paternalistas.
ções, mostrando um forte impulso de renova- Temos que ser fiéis a nós mesmos, mas de
ção, criação, inovação e desafio contínuo. forma renovada. Um método que sabe envol-
Envolve-se no desenvolvimento de novas idei- ver os jovens, fazendo-os sentir-se membros de
as e projetos, tanto de forma independente (em- uma grande família que os encoraja a crescer e
presários) como dentro de uma organização. a aperfeiçoar-se, ajudando-os a encontrar o seu
Em 2025, a geração “Y” representará 75% da papel no mundo. Uma modalidade que sabe
força de trabalho mun- fazê-los entender que a
dial e, em 2040, 100%. Maçonaria não é uma
Ela será, portanto, realidade obsoleta e
quem julgará nosso pre- ultrapassada, mas uma
sente. realidade viva e atual
Temos a responsabili- que tem muito a ofere-
dade de passar a tocha cer e a ensinar.
da tradição maçônica a Esta é a tarefa que nos
esta geração se quiser- espera se quisermos
mos que a Instituição se que a tocha da tradição
perpetue e não pode- maçônica continue a
mos fazê-lo apenas segundo os modelos atuais iluminar o futuro. E tenho certeza que podemos
porque não somos os guardiões de um ideal, ou ter sucesso se todos trabalharmos juntos, em
seja, aquele que une todos os maçons espalha- espírito de cooperação e fraternidade, porque a
dos pela superfície do planeta. Maçonaria é uma força positiva que pode
Isso nos leva a refletir sobre como envolver a mudar o mundo para melhor. E sobretudo por-
geração “Y” e garantir que amanhã eles pos- que os jovens são a nossa esperança e o nosso
sam continuar a propagar nossos ideais. recurso mais precioso.
Uma pergunta que muitos estão fazendo é: por Temos medo de falhar? Ainda falharemos se
que temos que fazer isso? A Maçonaria não é não tentarmos porque, gostemos ou não, serão
talvez uma instituição antiga e solene que não as novas gerações que permitirão que a Maço-
precisa se adaptar às novas circunstâncias e naria sobreviva e se não fizermos o possível
inclinações dos jovens? Não é a Tradição tal- para transmitir todo o nosso conhecimento a
vez o nosso bem mais precioso, que devemos eles e da maneira mais agradável para eles, tere-
preservar com cuidado e transmitir fielmente? mos pecado de egoísmo e seremos responsáve-
Porque os jovens de hoje são diferentes de nós, is pelo fracasso que agora queremos evitar.
têm outras necessidades, outras expectativas,
outras formas de interagir. E se não os compre-

35
QUEM ERA NIMROD Os críticos sugerem que sob sua liderança as pessoas
Podcast Ouça a matéria clicando aqui foram oprimidas e ele fez de tudo para consolidar seu
poder.
Por Maarten Moss De acordo com este ponto de vista, o reinado de Nim-
rod foi marcado pela crueldade, tirania e despotismo.
A conexão entre a Maçonaria e a figura bíblica Nimrod Esta interpretação é baseada principalmente em lendas e
tem sido objeto de debate e especulação há muitos anos. textos externos, em vez de evidências diretas da Bíblia.
Embora os principais estudos maçônicos não reconhe-
çam qualquer associação direta entre os dois, surgem O Envolvimento de Nimrod na Torre de Babel
interpretações variadas e teorias da conspiração que os A história da Torre de Babel se encontra no Livro do
ligam. Gênesis, onde a humanidade se une para construir uma
A Maçonaria é uma organização fraterna que remonta cidade e uma torre que chegue aos céus.
às guildas medievais de pedreiros. O motivo por trás deste projeto ambicioso é muitas
Ao longo do tempo, a organização evoluiu e incorpo- vezes atribuído ao desejo de alcançar maior poder e esta-
rou vários elementos simbólicos e filosóficos de diferen- belecer um nome para si, como afirma Gênesis 11- 4:
tes fontes, incluindo figuras religiosas e mitológicas. “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre
A Maçonaria enfatiza os ensinamentos morais e éti- cujo topo chegue aos céus, e façamos para nós um nome;
cos, o desenvolvimento pessoal e a fraternidade. Embora caso contrário, seremos espalhados por toda a face da
inclua referências a várias figuras religiosas, a organiza- terra.”
ção em si não é afiliada a nenhuma religião específica. Embora Nimrod não seja explicitamente mencionado
na parte específica da narrativa da Bíblia, estudiosos e
A Figura Bíblica Nimrod intérpretes fizeram uma conexão entre ele e a Torre de
Nimrod é um personagem mencionado no Livro do Babel devido à sua reputação como um poderoso caçador
Gênesis, onde é descrito como bisneto de Noé e um pode- e governante de várias cidades.
roso caçador. Algumas interpretações da Bíblia associam Algumas fontes judaicas antigas, como o Talmud e o
Nimrod à construção da Torre de Babel, retratando-o Midrash, associam ainda Nimrod ao episódio da Torre de
como um governante poderoso e ambicioso. Babel. Segundo estas fontes, ele foi o iniciador ou o prin-
Retratos negativos de Nimrod muitas vezes o retratam cipal apoiador da construção da torre.
como um tirano, enquanto interpretações alternativas A associação de Nimrod com a Torre de Babel pode
tentam apresentá-lo de uma forma mais positiva, concen- ser vista de duas maneiras distintas. Os críticos muitas
trando-se em sua liderança e contribuições para a civili- vezes interpretam o seu envolvimento como evidência da
zação humana. sua arrogância e rebelião contra a autoridade divina, ten-
Um aspecto significativo das representações negati- tando usurpar o governo de Deus e desafiar o seu poder.
vas de Nimrod é o seu papel como governante tirânico. Por outro lado, interpretações mais positivas conside-

36
ram o seu envolvimento como representativo da sua ambi- história de Nimrod.
ção e impulso para o avanço da civilização humana,
embora com possíveis equívocos sobre as suas conse- Maçonaria e Nimrod: Avaliando as Conexões
quências. Ao examinar as conexões entre a Maçonaria e Nim-
rod, é crucial diferenciar entre evidências sólidas e espe-
A Conexão com a Maçonaria culações infundadas.
A conexão entre a Maçonaria e o envolvimento de Nenhuma evidência histórica ou factual credível
Nimrod na Torre de Babel é derivada principalmente de apoia uma ligação direta entre a Maçonaria como organi-
interpretações especulativas e teorias da conspiração. zação e Nimrod. A maioria dos estudiosos maçônicos
Algumas pessoas acreditam que as origens espirituais rejeita tais afirmações como infundadas.
dos maçons remontam aos construtores da Torre de A Maçonaria incorpora uma ampla gama de símbolos,
Babel, e que Nimrod, como iniciador ou principal apoi- alegorias e referências de diversas fontes, incluindo figu-
ante do projeto, desempenhou um papel crucial no esta- ras bíblicas e mitológicas.
belecimento da Maçonaria. No entanto, a sua ênfase está nos ensinamentos morais
Nesta visão, a torre representa o primeiro esforço con- e éticos, no desenvolvimento pessoal e na fraternidade,
junto em grande escala em engenharia e arquitetura, lan- em vez de em figuras religiosas ou históricas específicas.
çando as bases para as tradições e práticas da alvenaria. Como tal, qualquer tentativa de estabelecer uma ligação
Algumas teorias da conspiração afirmam que Nimrod direta entre a Maçonaria e Nimrod é infundada.
foi o fundador ou figura significativa da sociedade secreta Além disso, é essencial reconhecer que as interpreta-
da Maçonaria. Estas teorias alegam que a Maçonaria per- ções do caráter e das ações de Nimrod são diversas e não
petua ou continua o legado são universalmente acorda-
de Nimrod e procura estabe- das. Enquanto alguns o retra-
lecer uma nova ordem mun- tam como um tirano ou envol-
dial. vido na narrativa da Torre de
No entanto, é essencial Babel, outros o apresentam
reconhecer que tais alega- como um líder habilidoso e
ções carecem de provas his- uma figura essencial no
tóricas ou factuais credíveis. desenvolvimento da civiliza-
A maioria dos estudiosos e ção humana.
especialistas maçônicos Cada perspectiva deve ser
rejeitam tais teorias como avaliada criticamente, tendo
infundadas e infundadas. em conta as limitações do
Perspectivas alternativas texto bíblico e a influência
sobre o personagem de Nim- potencial de fatores externos,
rod retratam-no como um tais como preconceitos cultu-
líder e protetor habilidoso, rais ou religiosos.
enfatizando sua capacidade No geral, a conexão entre a
de unir pessoas e estabelecer estruturas sociais. Maçonaria e Nimrod é de especulação e interpretação, ao
Estas interpretações sugerem que Nimrod desempe- invés de fatos baseados em evidências. Embora algumas
nhou um papel crítico na manutenção da ordem e da segu- teorias da conspiração e conexões marginais sugiram
rança dentro dos seus domínios, organizando e governan- uma ligação direta entre os dois, os principais estudos
do eficazmente as comunidades. maçônicos não endossam ou reconhecem tal relaciona-
De acordo com alguns pontos de vista, Nimrod pode mento.
ser considerado uma figura central no desenvolvimento Ao examinar as diferentes perspectivas sobre o carác-
da civilização humana. Essa perspectiva o associa à fun- ter de Nimrod e avaliar o grau em que estas interpretações
dação de cidades e ao avanço das conquistas culturais e são apoiadas pelo texto bíblico, torna-se claro que qual-
tecnológicas. quer associação direta entre a Maçonaria e Nimrod é
Ao enfatizar as suas contribuições para a urbanização infundada.
e o estabelecimento de instituições sociais, estas interpre- A ênfase da Maçonaria nos ensinamentos morais e
tações colocam Nimrod como um catalisador para o pro- éticos, no desenvolvimento pessoal e na fraternidade
gresso e a civilização. distancia ainda mais a organização de figuras históricas
Vale ressaltar que interpretações positivas de Nimrod ou religiosas específicas, incluindo Nimrod.
não são aceitas ou apoiadas universalmente, pois o pró-
prio texto bíblico fornece informações limitadas sobre o Fonte: The Square Maazine
personagem. No entanto, essas perspectivas alternativas
fornecem lentes diferentes através das quais se pode ver a

37
A MAÇONARIA E O RELEVO DAS TRADIÇÕES
buscamos o renovo de nossas almas imortais e da
Podcast Ouça a matéria clicando aqui elevação de nossas consciências. Sobrepujar as
tradições seria o mesmo que voltar ao estado fun-
Por milênios, tradições sempre foram objeto da damental, primitivo e incauto de onde cada um de
observância das sociedades mais evoluídas. Para nós um dia saímos. Os tijolos que construímos
alguns, o excesso de apego as tradições pode nossa nova identidade são forjados no fogo subli-
levar ao nanismo social e ao subdesenvolvimen- me das tradições e dos Ritos memoráveis de nos-
to. Porém, essa é uma visão equivocada, visto sos antepassados e daqueles que vieram antes de
que, tudo, em excesso, mesmo à inovação, pode nós para nos exortar e ensinar a ser homens
ser prejudicial. melhores, extinguindo-nos do fogo efêmero das
Porém, numa sociedade onde os ritos e a dinâmi- vaidades e das superficialidades que, um dia,
ca da própria vida é ditada sob a égide do consu- tomou conta de nosso espírito e nos fez como
mismo e do materialismo extremado, nada mais aqueles que correm atrás do vento e nada constro-
comum do que combater tradições, pois são elas em.
que fincam os pés do homem na rocha serena da Infelizmente, existem pedras brutas que são difí-
sabedoria e, dá ao mesmo um grau de consciência ceis de serem lapidadas e insistem em existir no
e elevação espiritual, que não é interessante para estado de monolito, ao invés de torna-se diaman-
aqueles que se alimentam da ignorância e a utili- tes nas mãos do Eterno Ourives. Muitos desses,
zam para lucrar, para sobrepor valores e para man- estão entre nós e, por não entenderem o grande
ter a hegemonia do seu Status Quo. mistério que é ser um Maçom, levam uma vida
Nós, Maçons, somos tradição. É nos Ritos Anti- conformada e incipiente nos átrios laterais, à reve-
gos e consolidados por nossos antepassados que lia do oceano de sabedoria a ser navegado prefe-

38
rem ficar apenas nas margens insulares do conhe- tuição com contendas e com a falta de razoabili-
cimento, o que, para eles já é mais que o bastante. dade, fazendo com que voltemos a nos asseme-
Muitos desses, são movidos por ventos de doutri- lhar aos profanos, que pelejam por qualquer coi-
na ou por ideologias efêmeras e transitórias, que sa, sem se utilizar da dialética da razão para resol-
existem hoje, mas que daqui a alguns meses ou ver seus conflitos. Nós Maçons, devemos nos
anos, serão apenas história. opor a essa linha de conduta e voltar nossos olhos
Devemos observar que o homem que abraça essas para a coluna central de nosso templo interior: a
“pantomimas” temporais é semelhante a nuvem sabedoria.
que não traz chuva ou a semente que ocupa a terra, Existe algum modo de sabedoria entre Irmãos que
mas não cresce e não traz frutos. O grande perigo contendem pela hegemonia da razão? Existe algu-
de abraçarmos ideologias progressistas ou que ma razoabilidade em manter esticado o cabo de
refutem as tradições é o fato de nos tornarmos guerra que atiça os humores entre irmãos? Existe
qualquer outra coisa que não seja mais nossa alguma paz onde diferentes correntes ideológicas
Amada Maçonaria. Como Maçons, devemos nos buscam puxar para si o controle de mentes e cora-
precaver dos efemerismos atemporais que sur- ções? Não Irmãos, não existe.
gem e desaparecem de tempos em tempos e focar- O verdadeiro Maçom é comparável a nuvem que
mos em nossa maior e mais sublime coluna: as traz chuva, a semente que é plantada em boa terra
tradições. e a voz que traz a razão. Nenhum Maçom deve se
Abraçar ideologias que são passageiras deturpa o ater a discussões que gerem contendas com seus
estado de nosso espírito e nos leva as contendas Irmãos e, se assim o for, esse ainda não entendeu o
apaixonadas pela hege- grande mistério da Maço-
monia da razão, um naria, qual seja: transfor-
campo vasto e perigoso, mar a pedra bruta em dia-
no qual todos querem mante lapidado pela
sobrepor seus pontos de moral, pela ética e pela
vista e visão de mundo, elevação espiritual.
esquecendo-se do ato Por isso Irmãos, esse
fundamental da escuta. pequeno aparte, não tem
Numa terra em que todos o objetivo de constranger
querem ter razão e na qual ninguém sede é extre- os Irmãos ou mesmo servir de “pito”, àqueles que
mamente difícil manter a razão e o espirito eleva- abraçam posturas progressistas ou qualquer
do. Esse, porém não é um convite ou uma orde- outra, mas tão somente servir como ponto de
nança a humildade irracional, subliminar e com- reflexão para que, a todo instante, nos lembremos
pulsória, mas um alerta sobre a importância de de onde viemos e para onde estamos caminhando.
manter o foco na razão e nas colunas que construí- Viemos do deserto da ignorância dos incautos, no
ram e mantiveram nossa ordem a atravessar os qual vivemos em algum lugar de nossa história e,
séculos que nos trouxeram até aqui. a partir do momento que abraçamos o sublime
No passado, não muito distante, diversas ideolo- caminho, que leva aos Portais Sagrados da sabe-
gias surgiram e desapareceram sem deixar rastros doria, adentramos em um mundo novo, no qual a
no panteão da história moral da humanidade e, as sabedoria e a razão se tornaram nosso estandarte e
poucas que ficaram, só nos servem hoje como nossa estrada, ou, como diz o texto sagrado dos
motivo de contenda e de dissolução. Qual o obje- cristãos, “A lâmpada para nossos pés”, portanto,
tivo então se lutarmos tanto, uns contra os outros convoco os Irmãos a prestarem mais a atenção
para manter acesa a chama de ideologias, que ao nas tradições milenares que são formatadoras de
invés de nos unir, nos espalha como grãos levados nossa Ordem, que nos induz a lutar pela elevação
pelo vento, que ao invés de caírem numa terra fér- do homem, pela harmonia e a fraternidade entre
til, nos espalham pelos desertos da ignorância? os Irmãos e pela paz com todos, pois é assim que
Essas ideologias hoje, contaminam a nossa Insti- construímos seres mais elevados e mais adequa-

39
dos a levar sobre seus ombros a responsabilidade sua sabedoria as sombras da ignorância, jamais se
de ser um verdadeiro Maçom. junta a ela em sua transitoriedade, mas serve sim,
Acreditamos que não é quebrando Ritos e derru- de Coluna para que aqueles que necessitam de um
bando os marcos antigos que iremos evoluir referencial o vejam como tal.
enquanto pessoas e enquanto civilização. Abraçar Que o Grande Arquiteto Do Universo nos ilumine
ideologias vazias e efêmeras, que não resistem ao a todos e nos conceda vida para que possamos
escrutínio do tempo, não nos torna mais Irmãos entender os Mistérios que virão e aqueles que
ou mesmo melhores Maçons, pelo contrário, que- ainda não conseguimos entender, que nos dê sabe-
bra a lança que nos conduz a sabedoria e ao enten- doria para buscar sua compreensão. Nos faça uno
dimento dos macrocosmos que vivemos e nos e não como as folhas que são levadas pelos ventos
deixa vulneráveis a comparação inevitável com do outono cinzento da vida, mas que nos fortaleça
os profanos, que ainda não alcançaram o saber como os rochedos que se atracam em luta violenta
maior que é viver em harmonia entre Irmãos. O com o mar, mas que não são atingidos por tais
verdadeiro Maçom não vive sozinho, não anda mares e lá estão sob a dura clava do tempo, incor-
por caminhos tortos, não rompe acordos ou trai ruptíveis e inexpugnáveis, para todo o sempre,
seu Ritos. O verdadeiro Maçom deve sua lealdade independentemente das doutrinas ou das ideolo-
e sua existência apenas à construção de um ser gias que vem e que vão à revelia da sabedoria mile-
humano melhor, mais evoluído, sob o escudo da nar.
sabedoria suprema do Grande Arquiteto Do Uni-
verso, que é aquele que detém todos os Mistérios. Narciso Bastos PORTELA - Membro da Loja
Se sob a pedra angular da sabedoria erguemos União e Resistência n. 30 e Fênix de Brasília n.
nossa comunhão e nossa Ordem, então qual o 40, Oriente de Brasília-DF
objetivo de abraçarmos ideologias progressistas
que atentam contra essa harmonia? Desse modo, Leonardo MARCHEZI dos Reis – Membro Loja
a alma de um verdadeiro Maçom deve estar cativa Irmão Oswaldo Albernaz n. 3258 do Oriente Vitó-
ao entendimento de que ele é, para esse mundo ria-ES
torpe e vazio, um farol de luz, que ilumina com

40
SHAMIR:
O VERME QUE CONSTRUIU O TEMPLO DE SALOMÃO
para esculpir as pedras do Templo, enquanto a
Podcast Ouça a matéria clicando aqui
Bíblia também afirma que as pedras foram
talhadas? Os sábios judeus oferecem uma res-
Por Amit Naor posta simples: as pedras foram preparadas em
outro local e transportadas de lá para o canteiro
Será que uma criaturinha misteriosa, o de obras no Monte do Templo. O Livro dos
enigmático "Shamir", realmente ajudou a Reis ainda traz suporte para esta explicação: “E
construir o Primeiro Templo? o rei ordenou, e extraíram pedras grandes,
O Livro dos Reis contém uma descrição pre- pedras pesadas, para lançarem os alicerces da
cisa da construção do Primeiro Templo: suas casa (com) pedras lavradas”. (1 Reis 5:31).
dimensões, as vigas de cedro e cipreste que Mas o nosso interesse aqui é a explicação
cobriam as paredes, os ornamentos e esculturas alternativa, que aparece na literatura rabínica,
douradas e os dois querubins que ficavam de segundo a qual as pedras foram talhadas com a
pé, asa a asa, acima da Arca da Aliança. . Tam- ajuda de algo chamado Shamir . O obscuro Sha-
bém inclui este versículo intrigante: “E a casa, mir aparece na própria Bíblia, embora não no
quando estava em construção, foi construída Livro dos Reis. Em Ezequiel (3:9) está escrito
de pedra acabada na pedreira, e não se ouviu que Shamir é “mais forte que a pederneira”. O
nem martelo, nem machado (nem) qualquer texto hebraico de Jeremias 17:1 também faz
ferramenta de ferro na casa, enquanto ela esta- menção a Shamir , embora versões em inglês
va em prédio." (1 Reis 6:7) tenham traduzido a palavra como “pederneira”
Como é possível que não tenham sido usa- ou “diamante”: “O pecado de Judá está escrito
dos martelos, cinzéis ou ferramentas de ferro com uma pena de ferro, com uma ponta de dia-

41
mante [ Shamir ] , gravado na tábua do seu cora-
ção e nas pontas dos seus altares.” Estas passa-
gens sugerem claramente que Shamiré algum
tipo de material duro.
O Talmud fornece informações adicionais
sobre o misterioso Shamir . Por exemplo, no
Tratado Avot, Shamir é mencionado como uma
das dez coisas criadas na “véspera do sábado”,
antes da conclusão do ato da Criação. As subs-
tâncias criadas naquele momento eram de natu-
reza um tanto enigmática, incluindo o Shamir
que tinha o poder de talhar pedras. O Tratado
Sotah (48b) explica que o Shamir foi usado
para gravar as pedras inseridas no peitoral berg, “As Lendas dos Judeus” , bem como uma
sacerdotal ( Hoshen ), que foram cortadas versão em hebraico que está disponível online
“como um figo que se abre no verão”. Também (em Kol Agadot Yisrael , ed. Israel Benjamin
diz lá que, como nada poderia resistir à força do Levner, Tushiya Publishing).
Shamir , ele é armazenado em tufos de lã, numa No comentário de Rashi à lenda, ele deduziu
caixa de chumbo cheia de farelo de cevada. que a galinhola era na verdade uma poupa (
O Talmud, Tratado Gittin (68a) contém a duchifat em hebraico, ‫)דוכיפת‬, que se tornou um
lenda mais detalhada em torno do Shamir . elemento popular nas lendas do rei Salomão.
Segundo a história, o Rei Salomão perguntou Mas, mais especificamente, ele sugeriu que o
aos seus conselheiros como as pedras para o Shamir não era de forma alguma uma pedra ou
Templo poderiam ser preparadas sem o uso de outro objeto inanimado, como pode ser assu-
machado ou cinzel, pois era inapropriado usar mido a partir de algumas versões da lenda, mas
ferramentas de derramamento de sangue e de era na verdade uma criatura viva – um verme. A
guerra para construir tal edifício. Eles lhe con- fonte da explicação de Rashi não é clara, mas a
taram sobre o milagroso Shamir , mas não sabi- frase “verme Shamir” nasceu e até apareceu
am onde encontrá-lo. O rei então convocou nos escritos de Mendele Mocher Sforim (Sho-
espíritos e demônios, mas estes também não lem Yankev Abramovic, 1836–1917), que men-
foram capazes de dizer onde poderiam ser ciona o Shamir como uma das criaturas mara-
encontrados. Eles, no entanto, sugeriram que vilhosas que Benjamin III se propõe a encon-
Salomão consultasse seu senhor, Asmodeus, trar em suas viagens.
rei dos demônios, que poderia saber a resposta. Os comentaristas religiosos não concordam
O rei Salomão enviou seu general, Benayahu, se Shamir era uma criatura viva ou uma espécie
filho de Yehoyada, que subjugou Asmodeus e o de pedra com poderes milagrosos. Por outro
levou ao palácio do rei. Asmodeus (ou Ashme- lado, com base no Talmud (Tratado Sotah 48b),
dai) revelou a Salomão que oShamir estava na eles determinaram que após a destruição do
posse do Senhor do Mar, guardado por um Templo, o Shamir foi obliterado do mundo. No
certo pássaro, uma galinhola, de acordo com a entanto, há cerca de dois anos, uma equipe de
maioria das versões inglesas da história. Salo- pesquisadores nas Filipinas descobriu um
mão rapidamente enviou outro de seus servos verme capaz de comer calcário. Embora o cal-
que prevaleceu sobre a galinhola e conseguiu cário seja uma forma de rocha relativamente
roubar o Shamir . A partir daqui a história con- macia, a existência de um verme escultor de
tinua, com mais reviravoltas. Você pode ler pedra pode não ser uma noção tão irrealista,
uma versão da lenda no clássico de Louis Ginz- afinal…

42
Cultura

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CONSCIÊNCIA


Por Prof Antonio Binni, referir com a palavra "consciência".
Grão-Mestre Emérito do GLDI Em um ponto, no entanto, podemos concordar ime-
diatamente. Ou seja, pelo menos originalmente, esse
Uma premissa essencial. fenômeno obscuro era completamente desconheci-
Definir a consciência implica e acarreta, muito de do. Na Grécia antiga, um lugar arquetípico por defi-
perto, as mesmas dificuldades com as quais Agosti- nição, a consciência não existe. Não apenas como
nho foi forçado a enfrentar e colidir quando, no con- uma palavra; mas nem mesmo como um conceito.
texto de seu sistema filosófico, se viu na necessidade Com efeito, sabe-se que, na civilização grega, o ele-
de circunscrever e caracterizar o conceito de tempo. mento fundador não era o indivíduo, mas o sujeito
De fato, se o passar das horas é muito evidente para social, ou seja, o homem que se relacionava e se com-
todos, como a água imparável em seu caminho, parava com outros falantes. Daí o hábito de escutar
muito mais complexo e difícil, segundo o santo filó- vozes que vinham "de fora", e não, ao contrário, de
sofo, é apreender a essência do tempo e depois expli- uma voz interior. Daí, no homem grego, uma reco-
citá-la para fins definidores. nhecida incapacidade para o monólogo interior,
O mesmo vale para a consciência que, por mais fami- para proferir um diálogo silencioso totalmente alhe-
liar que seja, assim como o tempo, é um fenômeno io à sua mentalidade que não conhecia precisamente
elusivo. Indescritível porque não pode ser rastreada o isolamento do indivíduo, mas apenas a sua imer-
a um conceito unitário, além de ter um conteúdo são no social.
incontestável. Tanto que muitos filósofos a identifi- Tampouco - note-se - esta realidade é contrariada
cam com um autêntico mistério, sem saber a que se e negada pelo imperativo délfico do "conhece-te a ti

43
mesmo". Este apelo, longe de ser uma exortação à reza: como monólogo interior e como sentinela vigi-
descoberta da experiência interior, foi antes - e ape- lante que, no cristianismo, conduz depois ao exame
nas - um apelo à consciência dos próprios limites do de consciência.
homem. Fronteiras intransponíveis. A penalidade Posteriormente, o tema permanece aberto a uma
incorre em arrogância. Dada essa premissa, as vozes pluralidade de respostas. Tantos quantos foram os
interiores - assim se acreditava - só poderiam vir dos filósofos que investigaram o assunto. Começando
deuses. Não é um sangue mental. por Descartes e depois, gradativamente, Locke,
Isso fica evidente, por exemplo, ao se atentar Leibniz, Hume, todos, ainda que com nuances dife-
para a Ilíada onde nunca se faz referência à mente rentes, se voltaram para o estudo da mente para che-
das personagens, mas sim ao seu corpo e partes do gar à consciência concebida em termos kantianos do
corpo, aos quais são atribuídos movimentos, agita- eu penso que é a consciência da unificação de todos
ção, atenção, etc. os sensato. Portanto, uma função e uma síntese de
A palavra psyché também não deve ser enganosa todas as percepções.
porque esse termo é usado apenas para indicar o que Tendo em conta a sede, seria até irreal entrar no
deixa o guerreiro moribundo. Esse perfil também mérito das diferentes opiniões expressas sobre o
confirma a estranheza da voz interior, que deve ser assunto por filósofos individuais.
obedecida unicamente por ser de origem divina ou Porém, no aniversário de 80 anos da publicação
semidivina, como aquela que rege a vida ética de de "O Ser e o Nada" de Jean-Paul Sartre, não pode-
Sócrates. mos deixar de lembrar que, em uma das várias ver-
Na passagem do mito ao logos - que se deu com o tentes desenvolvidas naquele texto, certamente sua
contributo decisivo da sofística - neste perfil toma- mais importante obra especulativa, o filósofo fran-
mos a liberdade de recordar o nosso anterior artigo cês que também aborda o problema da consciência,
"Por uma reavaliação da argumentando que a liber-
sofística" publicado nesta dade é o modo adequado
Revista a 10 de julho de de consciência. Tese,
2023 - o interior a voz atri- diga-se de passagem,
buída aos deuses perde silenciosamente não com-
seu caráter sacral para se partilhada por quem escre-
abrir ao confronto consigo veu estas notas porque a
mesmo através de um monólo- liberdade não pode ser dissociada da finalidade
go interior. A auto-investigação torna-se então moti- perseguida pela ação.
vo e matéria de especulação a ponto de assumir a O argumento então se desenvolveu ao longo do
forma de consciência moral. tempo. Neste percurso recorde-se, pela sua indiscu-
Esse caminho, ainda não concluído, pode ser per- tível importância, que, em meados do século XIX,
cebido pela reflexão sobre a Apologia de Sócrates. se regista o nascimento da psicologia como discipli-
Na verdade, Platão representa seu mestre que se con- na empírica também dotada de léxico próprio. Isso
fronta ao declarar que não sabe, embora seja consi- dá origem a uma disputa acalorada sobre se a psico-
derado o mais sábio dos gregos. logia empírica pode ser reconhecida como uma ciên-
O tema do confronto consigo mesmo, sempre nos cia rigorosa. Questão, à qual Kant dará então uma
matizados termos platônicos mencionados acima, resposta negativa pela razão - nesta perspectiva deci-
também pode ser encontrado na Ética a Nicômaco siva - de que não se pode generalizar sensações empí-
de Aristóteles (1095 a 25). ricas que, como subjetivas, seriam, por definição,
No entanto, é somente quando a cultura grega intransferíveis.
desemboca no latim que o uso do termo, depois de se Por razões óbvias, não podemos sequer nos deter
firmar como um co-conhecimento, adquire uma especificamente nos vários problemas enfrentados
conotação moral definitiva - e preeminente. O que é pela psicologia, que agora ascendeu definitivamente
evidente em Sêneca. De fato, no sujeito que sonda à categoria de ciência.
seu próprio interior, o filósofo estoico reconhece a Portanto, nem o tema da relação entre consciência e
presença contemporânea - e, portanto, a coincidên- atenção (palavras, como se ensina, devem ser manti-
cia - tanto do acusado quanto do juiz. das distintas) não será objeto de análise; nem a rela-
A consciência acaba por reconhecer uma dupla natu- ção entre tempo e consciência (tema abordado -

44
ainda que em termos filosóficos - agudo e original - não pode haver seres etéreos conscientes, ou seja,
por Bergson que destacou um tempo pessoal, isto é, desprovidos de propriedades físicas subjacentes.
um tempo vivido profundamente ligado à consciên- Quanto à sua estrutura, para dar crédito à visão
cia e, portanto, completamente independente do dominante, a consciência nada mais é do que uma
tempo da física); nem, finalmente, a importância das inúmeras funções próprias da mente. Termo - se
que, na complexidade do assunto, tem a linguagem é permitido jogar com as palavras - que, consciente-
(porque o nosso dilacerar-se em escolhas difíceis se mente, tem sido assumido de forma genérica justa-
faz sempre pela palavra, monólogos interiores aper- mente porque a palavra permite reconduzir a unida-
tados, às vezes com a aparência artificial de diálo- des várias funções, diferentes entre si, como falar,
gos). lembrar, agir, sentir emoções, etc. Todas as funções
Em todo o caso, para dar corpo e alguma substân- estão sujeitas a diferentes níveis de consciência.
cia à nossa intervenção, preferimos assim limitar o Cada uma dessas funções pode, de fato, ser desem-
tema apenas aos pontos essenciais enquanto úteis penhada com um grau de consciência mais ou
para efeitos de reconstrução de um conceito que con- menos refinado.
tinua a ser difícil de enquadrar, traçando assim um Além disso, é indiscutível - e esta é outra peculia-
espécie de introdução ao posterior aprofundamento ridade do fenômeno - que a consciência, afinal, se
do tema por parte de quem depois se quer lançar reduz a uma forma especial de conhecimento carac-
nesta escorregadia estrada. terizada por sua natureza elevada, pois a consciência
Fiéis à escolha preparatória adotada, indicamos a desempenha uma função valorativa fundamental.
seguir os caminhos-sinais necessários para tentar Na verdade, a consciência motiva a ação e justifica
reconstruir o conceito de "consciência" entendido as escolhas. A partir deste perfil dá um sentido pro-
como fenômeno passível de análise minuciosa, fundo à nossa vida, fazendo-a valer a pena ser vivi-
tendo em vista, é claro, a longa história do pensa- da.
mento formado sobre o assunto : uma reflexão que, Ao escrever este texto, com evidências claras, volta-
na verdade, nunca sofreu interrupções, continuando mos nosso olhar para o fenômeno, privilegiando o
ainda hoje, devendo-se reconhecer, porém, que a perfil filosófico. Como já mencionamos acima, por
filosofia conduz sua própria disputa com as ciências honestidade intelectual, porém, devemos reconhe-
da mente, as ciências cognitivas e as neurociências. cer que a filosofia, no estudo da consciência, tem
Como será melhor explicado a seguir. permanecido em segundo plano porque, hoje, sobre
Retomando de onde momentaneamente paramos, o assunto, dominam incontestavelmente as ciências
entre os pontos essenciais, começamos por introdu- da mente, as ciências cognitivas e as neurociências,
zir uma distinção fundamental entre a psicanálise e o tendo superado largamente a análise filosófica.
estudo da consciência como fenômeno. Enquanto a Assim, se não se quer reduzi-la a um mero exercício
primeira se compromete a conhecer os conteúdos da estéril de reflexões mentais, a filosofia não pode
consciência, a segunda, ao contrário, investiga sua escapar à contribuição - decisiva - que o pensamento
estrutura, concentrando, preliminarmente, a pesqui- científico deu à matéria.
sa na identificação do local de emergência do fenô- Se cientificamente informada, a filosofia só pode
meno. tirar certa vantagem disso.
Deste último ponto de vista, ensina-se que a cons- Estamos diante de um desafio que os filósofos
ciência é um sentimento interior. Quanto a dizer morais não podem deixar de aceitar.
uma tentativa em primeira mão. Portanto, um fenô- Afinal, em um assunto tão complexo e delicado,
meno primorosamente subjetivo como tal intransfe- como aquele para o qual nos permitimos chamar a
rível. Mesmo que possamos saber o que outro ser atenção do leitor curioso, é verdadeiramente essen-
humano sente porque a semelhança biológica nos cial tratá-lo em termos interdisciplinares.
permite projetar-nos no lugar de outros com certeza
suficiente. O que - na negação de Kant - constituiria
então o fundamento de uma perspectiva objetiva do
fenômeno. Com tudo o que se passa com ele.
O «como se sente», como antecipámos, é um
fenômeno próprio do sentimento interior. Clara-
mente, portanto, pressupõe um ser físico. Portanto,

45
Sou parceiro oficial do magazine Luiza
Centenas de produtos com desconto
Credibilidade e segurança a cada compra
Suporte e acompanhamento ao cliente
27 99968-5641
Sou
Parceiro Magalu
A parceria entre a Revista O Malhete e o portal Magalu chegou para disponibilizar uma
loja virtual onde podemos vender nossos produtos online com um valor acessível de
frete e uma estrutura sólida de entregas para todo o Brasil. Para incentivar nossos
Leitores a comprarem de casa.

Clique aqui46e confira


SETEMBRO AMARELO É O MÊS
DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
Campanha ocorre durante todo o mês, e o Dia Mundial de
Prevenção ao Suicídio é celebrado no dia 10 de setembro
Setembro Amarelo marca a campanha de cons- Segundo a OMS, são registrados mais de 700
cientização sobre a prevenção do suicídio. mil suicídios em todo o mundo. Mas também
Durante todo o mês, a iniciativa tem como obje- informa que existem episódios subnotificados,
tivo chamar a atenção para a importância de dis- o que pode chegar a mais de 1 milhão de casos.
cutir e promover ações a respeito do suicídio. No Brasil, a estimativa é de 14 mil casos por
De acordo com a Associação Brasileira de ano, o que leva em média trinta e oito pessoas
Psiquiatria (ABP), desde 2014, em parceria cometem suicídio por dia. Entre 2010 e 2019, o
com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o país registrou em torno de 112.230 mil mortes
Brasil realiza essa campanha de conscientizar a por suicídio.
sociedade e fomentar com informações relacio-
nadas à prevenção do suicídio no país. Suicídio de trabalhadores
Nesse sentido, em sua nona edição, o tema é Embora a campanha não se concentre exclu-
“Se precisar, peça ajuda!”. Vale ressaltar que a sivamente em trabalhadores e trabalhadoras, o
campanha é realizada durante todo o mês de ambiente de trabalho é um assunto importante
setembro, mas o Dia Mundial de Prevenção ao para abordar a questão do tema e reduzir o estig-
Suicídio é celebrado no dia 10/09 e endossado ma associado à saúde mental e promover solu-
pela Organização Mundial da Saúde (OMS). ções e apoio para aqueles que lutam contra pen-

47
samentos suicidas. dos 13 mil suicídios no país, sendo 12 mil casos
De acordo com especialistas, o suicídio de em população de 14 a 65 anos. No entanto, 10
trabalhadores (as) e a saúde mental no ambiente mil casos correspondem as pessoas em ativida-
de trabalho são preocupações importantes a de de trabalho, sendo 77% dos suicídios ocorre-
serem discutidos. Observam ainda que o estres- ram entre homens.
se no trabalho, pressão excessiva, assédio, Ainda segundo estudos, os suicídios e tenta-
carga de trabalho excessiva e falta de apoio emo- tivas de suicídio têm efeito dominó, os quais
cional podem contribuir para problemas de afetam diretamente o indivíduo e, consequente-
saúde mental entre os trabalhadores e as traba- mente, as famílias, comunidades e sociedade.
lhadoras. Especialistas da área da saúde, principal-
De acordo com a Pesquisa Nacional de mente os especialistas da Fundacentro, salien-
Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro tam a importância das empresas e empregado-
de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2019, res adotarem medidas proativas para promover
10,2% das pessoas com 18 anos ou mais recebe- um ambiente de trabalho saudável e de apoio.
ram o diagnóstico de Implementar programas
depressão. Estados do e ações de bem-estar
sul e sudeste têm 15,2% mental, a promoção de
e 11,5%, respectiva- uma cultura de respeito,
mente, de adultos com apoio e empatia com os
diagnóstico confirmado (as) trabalhadores (as),
de depressão. Em segui- sobretudo com aqueles
da, o centro-oeste que fazem tratamento
(10,4%), nordeste contra depressão, ansie-
(6,9%) e norte (5%). dade e outros.
A Fundacentro, por “Segundo dados da
sua vez, exerce um Previdência Social, a
papel fundamental de terceira maior causa de
pesquisa na área de segu- afastamentos por auxí-
rança e saúde no traba- lio-doença acidentário é
lho – fomentando estu- de transtornos mentais,
dos que possibilitem a como a depressão, que
prevenção de doenças, pode ser um dos moti-
acidentes e mortes nos vos, entre outras associ-
ambientes de trabalho. A biblioteca da institui- ações da ideação suicida”, afirma o diretor de
ção disponibiliza uma série de conteúdos técni- Conhecimento e Tecnologia da Fundacentro,
co-científicos em SST, acesse o acervo de forma Remígio Todeschini. “Situações de assédio
gratuita e também da Revista Brasileira de moral também podem levar a transtornos men-
Saúde Ocupacional - RBSO. tais. É importante que a Cipa esteja atenta a qual-
quer tipo de assédio no trabalho”, completa.
Crescimento do suicídio Também é importante que a pessoa que esti-
Os óbitos de trabalhadores (as) são, segundo ver enfrentando problemas relacionados à
estudos, desencadeados por adoecimento no saúde mental procure ajuda profissional.
trabalho. Essa manifestação trágica engloba Para as pessoas que querem e precisam con-
uma série de fatores complexos e interligados, versar, o Centro de Valorização da Vida
que podem incluir questões pessoais, ambienta- (CVV)realiza apoio emocional e prevenção do
is e organizacionais. Em 2019, foram notifica- suicídio, por meio do telefone: 188.

48
Prezados leitores,
É com grande satisfação que compartilhamos uma
maneira pela qual vocês podem contribuir direta-
mente com o nosso Blog e a Revista O Malhete.
Ao realizar a compra de qualquer produto através
do Magazine Helena Castro, uma loja parceira
reconhecida do Magalu, uma comissão será gera-
da. Essa comissão desempenha um papel funda-
mental em sustentar e aprimorar o conteúdo que
oferecemos, permitindo-nos continuar a explorar
temas relevantes e a fornecer conhecimentos signi-
ficativos para a comunidade maçônica.

49
50

Você também pode gostar