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Ad Universi Terrarum Orbis Summi Architect Gloriam

A⸫R⸫L⸫S⸫ “Luz do Meio-Dia” Nº 4234


Federada ao Grande Oriente do Brasil
Jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil de São Paulo

R⸫E⸫A⸫A⸫

Peça de Arquitetura

“Jachin”

C⸫ M⸫ Gustavo Pereira CIM 323.655, luisgdpereira@gmail.com

V⸫M⸫,

Ir⸫ 1º Vig⸫,

Ir⸫ 2º Vig⸫,

Meus IIr⸫.

Or⸫ de São Paulo - SP


Fevereiro de 2022
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1 FINALIDADE

A presente Peça de Arquitetura tem por finalidade condensar as

informações obtidas durante a pesquisa sobre “Jachin” como Trab⸫ integrante


do Gr⸫ de C⸫ M⸫.

2 INTRODUÇÃO

Como partes de seu conjunto simbólico, a M⸫ adota duas Col⸫,

Jachin e Boaz, conforme citadas em I Reis 7:21 e 2 Crônicas 3:17, cujo


posicionamento no T⸫ depende do rito praticado. O escocismo prevê-se sua

localização na parte externa, à direita e à esquerda do pórtico e nas cores

vermelha e branca ou preta, respectivamente1.

Considerando que no R⸫E⸫A⸫A⸫ cada elemento adotado como


simbólico guarda pelo menos sete linhas de significado, objetiva-se por meio

desta sintetizar os principais conceitos e relacionados a Jachin, bem como

assinalar sua importância para os Obr⸫ de modo geral e para o Gr⸫ de C⸫M⸫,

de forma particular.

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3 JACHIN

CCol⸫ gêmeas constam em culturas de várias das antigas

civilizações como símbolos de certos


atributos de suas respectivas
deidades. Encontram-se referências,

por exemplo, na mitologia egípcia, na


cultura fenícia, no Livro de Enoch e no

Grande Templo de Melkarth em


Tiro5;8. Figura 1- Esboço sobre o Grande Templo de Melkarth, de Garcia
y Melido

Segundo a Lenda da Construção do Templo de Salomão, este,

conforme a prática corrente em sua época, mandou erigir no pórtico duas


CCol⸫ imensas e ricamente ornamentadas, às quais foram chamadas de

“Jachin” e “Boaz”8.

Mackey (1884) indica que a palavra Boaz deriva de dois termos do

hebraico: “b” como sendo “em”, e “oaz” como “força”; para Jachin, atribui
origem em “Jah”, “Deus” e “Iachin”, “firmar, estabelecer”. Dentre as várias

possibilidades existentes, esses termos podem ser entendidos em conjunto


como “Deus firmará em sua força”. Uma das interpretações mais aceitas dessa

proposição sugere que simboliza um desígnio de Deus9, no sentido de


estabelecer firmemente seus edifícios moral e espiritual por meio de homens
justos e corretos8.

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Figura 2 - recriação digital do Templo de Salomão, por Bible Scenes.

Segundo Lomas (2018), Boaz também teria sido o nome do avô


de Salomão, grande rei de seu tempo, enquanto Jachin, o do grande sumo

sacerdote que oficiou na dedicação do Templo de Salomão. Nesse raciocínio,

as CCol⸫ caracterizariam também as duas principais forças que normalmente

agiam sobre as sociedades antigas e, de certo modo, ainda se perpetuam: a


secular, do Rei ou governo (autoridade material), que rege, protege o povo e

seu espaço, e a religiosa (autoridade espiritual) dos sacerdotes, que guiam sua
vida moral e espiritual. Por essa acepção, as CCol⸫ como um só símbolo
representariam a estabilidade resultante da operação conjunta e equilibrada

dessas duas forças: se uma delas se sobrepuja à outra, a respectiva sociedade


seria invariavelmente condenada a um ou outro tipo de despotismo, nenhum

dos quais seria desejável5.

Em foco distinto, Dyer (2006), por sua vez, sugere que Jachin
corresponde ao espírito e Boaz, à matéria, de forma que a combinação das

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duas resultaria no homem em seu sentido mais completo, sendo que nenhuma

dessas partes mostrar-se-ia integralmente produtiva se isolada11. A concepção


de uma delas necessita, obrigatoriamente, que se considere ao mesmo tempo
sua contraparte. Tais forças operam sempre em conjunto: Jachin, muitas vezes
traduzido como “estabilidade”, fornece propósito, proteção e firmeza a Boaz,
que, por sua vez dá corpo e prosseguimento a tais diretrizes, justificando, assim,

sua comum tradução como “força”2;5.

Jachin corresponde, ainda, à Col⸫ “J”, diretora do Gr⸫ de C⸫M⸫,


orientado diagonalmente pelo 1º Vig⸫1. Tendo assimilado a base dos

ensinamentos e comportamentos já trabalhados enquanto Apr⸫ na Col⸫ do

N⸫, o C⸫ M⸫ passa, então, a se empenhar mais detidamente no exercício de


sua imaginação, bem como em apurar sua sensibilidade e habituar-se a

raciocinar baseado principalmente na razão. Desenvolve, assim, seu intelecto

de forma consistente e estruturada, o que se configura como uma das


principais tarefas desse Gr⸫4. Nesse âmbito, Jachin corresponde à mente ativa,

objetiva, consciente, voluntária, e Boaz, à subjetiva, subconsciente,

involuntária².

Esse tipo de dualidade foi identificado pelos antigos egípcios

como manifestação de um dos sete princípios herméticos: o princípio do


gênero, sendo Boaz relativa ao princípio feminino/formativo/passivo e Jachin,

ao masculino/criativo/ativo1;2. Tal princípio define que há gênero manifestado


tudo o que possa existir, sendo o aspecto sexual dos seres animados tão-
somente uma manifestação desse princípio em determinados planos da

existência2. Pelo Princípio do Gênero, entende-se que a parcela feminina de


qualquer tipo de ente é atraída e passa a procurar ativamente por uma união

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com sua contraparte masculina, sendo incitada a isso pelo impulso natural de

“criar”, no sentido de propiciar, por meio de transformações, novas formas de


matéria ou energia. Tal movimento baseia todos os eventos do mundo sensível,
como, por exemplo, luz, calor, eletricidade, magnetismo, atração, repulsão e
afinidade química. Por isso, os representantes do princípio feminino, depois de
influenciados atrativamente pelos masculinos, são os mais ativos trabalhadores

no campo da natureza e da geração de quaisquer coisas. Como exemplo,

pode-se citar a movimentação do elétron (carga negativa/feminina), necessária


a todas as aplicações de eletricidade, que busca seu correspondente positivo.

Toda essa mecânica provém do Princípio do Gênero no campo da Energia2.

Por esse ângulo, o princípio masculino (Jachin), tendo como


propósito constituir uma certa energia atrativa, fornecendo impulso, direção e

proteção, mas o princípio feminino (Boaz) é sempre o único que executa

diretamente a obra criadora em todos os planos. Não obstante, cada um, se


isolado, acaba sendo insuficiente para qualquer atividade operativa2. Como

alegoria relativa a esse princípio, Salomão emitiu as diretrizes e suporte, e

Hiram-Abiff, indo ao encontro de suas determinações, cumpriu-as


diligentemente utilizando os recursos disponíveis para criar o que houvera sido

solicitado (2 Cr 4:11).

Em uma das acepções contidas no escopo do grau de C⸫M⸫,

Jachin corresponde à parte da mental criativa, onde o Obr⸫ deve procurar


manter sua ação para dirigir com confiança, estabilidade e diligência, a outra
parte, a mental formativa, de maneira a atingir efetivamente seus objetivos.

Consciente desses dois âmbitos da realidade mental, em vez de seu raciocínio


ficar à mercê das circunstâncias do momento ou de influências externas, passa

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a ser subordinado diretamente à sua própria vontade e direção, o que permite

um nível de concentração adequado, firmeza e direção em processos


cognitivos e decisórios, aumentando, assim, a eficiência de seus esforços e a
qualidade de seus resultados1;2.

Buscando talvez uma visão mais moral, Urbano Júnior (2019)


remete Jachin à confiança do C⸫M⸫ nos procedimentos da Francomaçonaria

e no firme e estável propósito de prosseguir em sua missão. Como significado


moral, associa ao estado de evolução da consciência, de serenidade, de
estabilidade, firmeza e de paz produtiva6. Sobre esse aspecto, sintetiza o autor:

“Nunca é demais repetir que C⸫M⸫ é aquele que tem educado sua
alma para subir os cinco degraus que conduz à porta do templo,
que é capaz de contemplar com serenidade a vida agitada dos
homens, porque conquistou a estabilidade, ou seja, a paz da alma,
e está preparado para escutar a voz que vem do mais além do ruído
do mundo, ou para bater na porta do Templo e pedir a presença do
Mestre... Tal é o significado da iniciação psíquica e transcendental
neste grau de Companheiro, sugerido pela palavra sagrada do
C⸫M⸫.” (URBANO JÚNIOR, 2019).

Figura 3 – Espiga de milho próximo a uma fonte de água, símbolo do proceder


a ser perseguido por um C⸫M⸫, por Robert Lomas.

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4 CONCLUSÕES

A partir das informações reunidas para compor a presente Pr⸫,

foi possível compreender que Jachin corresponde a uma parcela do princípio


universal de gênero, o elemento estabilizador, criativo, diretor, mas que nem
por isso pode ser isoladamente compreendido tampouco operar sem o

concurso de sua contraparte, Boaz, o elemento fortificador, formativo,


executor.

Verificou-se, ainda, que quaisquer processos criativos ou


transformadores baseiam-se no movimento de busca entre esses dois tipos de

energia, base de todos os fenômenos observáveis em todos os planos da

existência. Disso decorreu ser preferível que tais energias estejam em constante
movimento em direção ao equilíbrio entre si, uma vez que polarizações

extremas podem provocar consequências normalmente indesejáveis.

No âmbito mental, pôde-se perceber que Jachin corresponde à

sua porção ativa e criativa, em que o C⸫M⸫ deve focar para dirigir sua
correspondente passiva e formativa e, com isso, desenvolver seu intelecto de

forma consistente, edificando, assim, um fundamento estável, firme e contínuo


que lhe permitirá cumprir suas tarefas de maneira cada vez mais produtiva.

Pelo exposto, concluí que o conhecimento de Jachin reveste-se


de importância significativa ao C⸫M⸫ por lhe permitir identificar uma das duas
principais forças operativas do universo e, com isso, utilizá-la mais

conscientemente para operar nos diversos planos da existência.

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5 REFERÊNCIAS

1
BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. 2ª ed. São Paulo: Pensamento, 2015.

2
TRÊS INICIADOS. O Caibalion.1ª ed. 2ª reimp. São Paulo: Pensamento, 2014.

3
LEADBEATER, C. W. A Vida Oculta na Maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2013.

4
D’ELIA JÚNIOR, Raymundo. Maçonaria: 50 Instruções de Companheiro. São Paulo: Madras,
2019.

5
LOMAS, Robert. O Poder secreto dos símbolos maçônicos. São Paulo: Madras, 2018.

6
A’L KHAN, Ali, S⸫I⸫ / URBANO JÚNIOR, Helvécio de Resende. Arsenium: o simbolismo
maçônico. São Paulo: Isis, 2016.

7
MACKEY, Albert G. An Encyclopedia of Freemasonry. Philadelphia: L. H. Everts & CO, 1884.

8
STREET, Oliver Day. Symbolism of the Three Degrees – Part Two – The Fellow Craft Degree.
Washington (USA): The American Masonic Press, Inc, 1929.

9
QUATUOR CORONATI. Ars Quatuor Coronatorum. The Two Brazen Pillars. Vol. V. London
(UK): Keble’s Gazette Office, 1892.

10
DYER, Colin. O Simbolismo na Maçonaria. São Paulo: Madras, 2006.

11
PALAZZO, R⸫W⸫ Robert, DDGM. The Esoteric Meaning of the Twin Pillars Boaz & Jachin.
Masonic Grand Lodge of Rhode Island. Disponível em: <
https://www.rimasons.org/trestleboard/212-the-esoteric-meaning-of-the-twin-pillars-boaz-
joachim >. Acesso em: 31.01.2022.

BATISTA, Flávio Tadeu Ferreira. Manual Maçônico de Normas Técnicas para o Tempo de
Estudos. São Paulo: GOB, 2016.

ABNT. NBR 14724. Informação e documentação – Trabalhos Acadêmicos –Apresentação. 3ª


ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.

ABNT. NBR 10520. Informação e documentação – Citações em Documentos –


Apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ABNT. NBR 6023. Informação e documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro:


ABNT, 2002.

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