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A RÉGUA DE VINTE E QUATRO POLEGADAS

Como utilizamos nosso tempo!


Alberto Da Costa Stein, A∴M∴
C∴B∴A∴R∴L∴S∴ Concordia et Humanitas Nº 56
3 de outubro de 2013

A maçonaria tem em seus simbolismos, uma série de ferramentas maçonicas


as quais servem e se mostram como símbolos para nosso trabalho espirtual e que nos
advertem para medirmos, pesarmos e ordenarmos, meticulosamente, todas as nossas
ações.
Dentro desta simbologia, a Régua de vinte e quarto polegadas e o Martelo
Pontiagudo ou Escoda, no Rito Schroder, completam os instrumentos do Aprendiz e
são utilizados para lapidar a Pedra Bruta.
A Pedra Bruta é o símbolo do trabalho do Aprendiz. Assim, como o predreiro
operativo inicia seu trabalho desbastando e polindo a pedra bruta para inserção na
obra, assim também, o Aprendiz Maçom deverá preparar e desenvolver seu interior de
acordo com nosso espirito.
Segundo o manual do Aprendiz:
Para que servem as ferramentas do Aprendiz?
A Régua de vinte e quarto polegadas, para dividir o tempo com sabedoria. O
Martelo Pontiagudo, para desbastar todas as arestas da imperfeição, a fim de que o
Esquadro da Verdade possa ser colocado justo e perfeito.
Em que trabalham os Aprendizes?
Na Pedra Bruta, símbolo das imperfeições da razão e do coração.
Nos Ritos Escoces e York junto ao Malho e o Cinzel, a Régua de 24 polegadas
completa os instrumentos de trabalho do Aprendiz Maçom. Observamos que a Régua
de 24 polegadas está intimamante ligada ao grau de Aprendiz.
A origem da palavra régua é francesa (règle) e significa “lei ou regra”.
Régua, segundo o dicionário é uma peça longa, fabricada de madeira, marfim,
celulóide, metal, etc. de superfície plana e arestas retilíneas, usada para traçar linhas
retas ou para medir.
Polegada, menor unidade de distância no sistema de medidas dos países
anglo-saxônicos. Um pé contém 12 polegadas, e uma jarda equivale a 36 polegadas. Já
o sistema métrico mede pequenas distâncias em centímetros e milímetros. Uma
polegada equivale a 2,54 cm.
A maçonaria adota a régua porque simboliza o dia com suas 24 (vinte e quatro)
horas. O Tamanho da régua já sugere que é um instrumento destinado à construção,
filosoficamente, o maçom deve pautar a sua vida dentro de uma determinada medida,
ou seja, deve programá-la corretamente e não se afastar dela.
A Régua de 24 polegadas, do latim “regula” (que derivou igualmente régua e
regra), representa o símbolo de precisão e exatidão na ação. Sabemos que exatidão e
precisão são essenciais para a boa conduta de nossas vidas.

A Régua de 24 polegadas figura nas Lojas simbólicas da Franco-Maçonaria


como instrumento de trabalho e medida do tempo, no sentido de que não se deve mal
gastar as horas na ociosidade e egoísmo, mas parte delas na meditação e estudo,
parte no trabalho, e parte no recreio e repouso, “porém todas no serviço da
humanidade”;

No grau de aprendiz, ela servirá para medir e traçar sobre a pedra bruta o corte
a ser efetuado. De nada nos serve o martelo pontiagudo símbolo da razão,
discernimento, da vontade, determinação e força executiva, sem as propriedades da
régua.
Sem diretrizes podemos fazer com que nossa pedra bruta torne-se mais
irregular ainda.
A régua nos mostra basicamente duas lições:
Primeira lição:
A primeira observação que fazemos é quanto as características básicas da
régua, um instrumento simples, milenar, que nos ensina de uma forma mais simples
ainda, o caminho direto entre dois pontos, dois destinos.
Filosoficamente, poderíamos dizer tratar-se de um caminho entre a norma e a
ordem, entre o que se quer fazer e o que se deve fazer, entre o passional e o racional,
indica a própria construção do homem, a lapidação de sua forma mais bruta em busca
da perfeição.
Com a régua medimos um segmento do infinito, uma parte de nossa vida, a
retidão que buscamos. Do ponto em que encontramos nossa Pedra Bruta até o
momento em que a tornamos a mesma lapidada, se é que este momento existe, pois
ao longo de nossas vidas estamos sempre lapidando a mesma, para nós e para a
sociedade, tornando-nos cada vez melhores.
O traço de retidão é visto de uma maneira muita rígida nos ensinos orientais.
No budismo, o Iluminado traçou aos seus discípulos os Oito Caminhos Nobres.
“Compreensão correta, Pensamento correto, Linguagem correta, Comportamento
correto, Modo de vida correto, Esforço correto, Desígnio correto, Meditação correta”.
Buda traçou com sua régua o código para que seus seguidores evitassem dissabores e
tristezas no caminho da vida.

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Analogamente, todo credo, nação ou instituição depende de regras para sua
identidade e funcionamento. Sem critérios, a vida seria por demais defeituosa e
complicada. Daí a necessidade que o homem teve em estabelecer leis e padrões de
conduta que norteassem suas ambições.
Cada nova ação proposta deverá ser bem estudada, analisada e para ser
edificada, basta incluí-la nos intervalos de cada ponto de nossa régua, utilizando para
isso os princípios éticos que envolvem a liberdade, igualdade e fraternidade.
Vivemos numa sociedade de leis, vai do direito internacional, às regras de
trânsito, no entanto nos deparamos constantemente com governos, corporações e
simples funcionários usando as leis existentes para cometer injustiças através de
manobras jurídicas.
Nem tudo que é legal é justo. Por esse motivo o maçom tem como
responsabilidade traçar para si padrões não apenas baseados nas leis, mas
principalmente na justiça irrestrita.

Segunda lição:
A régua de 24 polegadas representa o total de horas de um dia. Lembra-nos
que o dia deve ser vivido com critério, dividido entre o trabalho, laser, espiritualidade e o
descanso físico e mental.
Onde o homem deve distribuir seu tempo entre seus exercícios matinais, nem
sempre realizados, sua primeira alimentação, às vezes esquecida, seu trabalho, as
demais refeições, a necessária recreação, muitas das vezes não considerada, suas
reflexões, em geral pouco ou mal aproveitadas, e o merecido repouso, como nos prega
a mensagem da criação.
Organizar o tempo, dividí-lo adequadamente, observando as prioridades, dando
o ritmo necessário para cada etapa, faz com que o homem evolua, cresça, se realize e
desenvolva habilidades que de outra forma poderia pensar ser impossível realizá-las.
Em nome da competitividade e desta vida desenfreada que levamos, somos
obrigados ainda a consumir enormes quantias de tempo em: política, mercado,
trabalho, informações técnicas, mestrado, doutorado, pós-graduações, MBA’s, segunda
língua, terceira lingua, curso de especialização, reuniões, seminários, congressos, etc.
Em uma única edição de domingo do Jornal Folha de São Paulo, contém mais
informações do que um leitor médio encontraria durante toda a vida no século XVII. As
novas tecnologias de informação como celular, e-mail, internet, facebook, tablets,
twitter, msn, facetime, viber, messenger etc; somem-se ao trabalho todos os outros
papéis que temos que cumprir; somos filhos, pais, cônjuges, irmãos, amigos, membros
de uma igreja e maçons. Como reagir diante deste caos de demandas simultâneas?
A administração do tempo expressa na lição das 24 polegadas nunca foi tão
necessária como hoje em nossos dias. Para sermos felizes temos que reconhecer e
aceitar nossos limites, aprender a dizer não. Eliminar atividades desperdiçadoras de

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tempo. Estabelecer metas para a vida e realizá-las em ordem de prioridade. Para tanto,
utilizaremos nossa régua com simplicidade, habilidade e, acima de tudo, com paciência
e sabedoria.
O filósofo grego Demócrito, do século V, A.C, escreveu, - “Ocupe-se de pouco
para ser feliz”. Demócrito não pregava a ociosidade, mas sim a administração do
tempo. Dizia que uma única coisa deveria ser feita por vez. Hoje vivemos na era da
hiperatividade e da multitarefa. A dinâmica do trabalho na vida moderna nos exige cada
vez mais padrões de eficiência e resultado.
A Dra. Yuhong Jiang, pesquisadora da Universidade de Harvard – E.U.A. vem
reafirmar hoje o ensinamento feito por Demócrito 2.500 anos atrás. Seu trabalho
científico mostra que o cérebro humano é incapaz de processar duas coisas ao mesmo
tempo. O cérebro é capaz de receber estímulos simultâneos, mas não é capaz de
tomar decisões simultâneas. Ao receber múltiplas demandas, o cérebro sofre
alterações orgânicas e entra em exaustão. Por tempo prolongado, os danos são
catastróficos: estresse, depressão, síndrome do pânico, psicoses, insônia, mialgias,
doenças gastrintestinais, alteração de pressão arterial, etc.
A segunda medida fundamental no mundo físico é a medida do tempo, de
extrema importância em nossas atividades diárias e em todas as atividades humanas. É
bem conhecido o fato de que, para medirmos o tempo, necessitamos da noção de
movimento, de deslocamento, de distância, logo a medida do tempo depende também
da Régua. Isto nos mostra mais uma das lições simbólicas deste instrumento; devemos
medir e calcular o nosso tempo utilizando-o para a construção de ideais nobres.
E sob este aspecto é interessante notar como se comporta cada ser humano ao
implacável conceito de tempo. O que faz cada um com o seu tempo, o seu precioso
tempo. Servindo para ilustrar este tema, bem se aplica a frase de Rubem Alves:
"O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido
com as batidas do coração."
Podemos ficar apenas a contemplar o vicioso passeio mecânico dos ponteiros
do relógio, ou nos entregar de corpo e alma a doce tarefa de viver plenamente a vida e
aproveitar o pouco tempo que há a nosso dispor. Faz sentido agora citar o que nos
disse Marcel Proust:
"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."
Sófocles disse: "Ninguém ama tanto a vida como o homem que está a
envelhecer", afirmação que se completa com o que disse Chico Xavier: "Ninguém pode
voltar no tempo e fazer um novo começo. Mas podemos começar agora a fazer um
novo Fim!" Grandes verdades estão contidas nessas frases que nos convidam a fazer
severas reflexões a respeito de como estamos utilizando o nosso tempo.
Albert Einstein nos alertou:
"Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais."

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Com a régua de 24 polegadas, o aprendiz fará o planejamento do caminho a
percorrer, e aí cabe fazer uma importante reflexão:
- imagine que você seja uma enorme Pedra Bruta, e a cada dia você vai
desbastando as asperezas dessa Pedra Bruta. Ao longo do tempo você continuará uma
enorme Pedra Bruta, mas livre daquelas imperfeições que você decidiu eliminar.
- imagine agora que você seja outra enorme Pedra Bruta, e a cada dia alguém
vai desbastando as asperezas dessa Pedra Bruta. Ao longo do tempo você continuará
uma enorme Pedra Bruta, mas livre daquelas imperfeições que alguém decidiu eliminar
em você.
Vivemos nos queixando que não temos tempo para fazer nada, estamos
sempre a reclamar que nos falta tempo... Que não seriamos capazes de realizar outras
tarefas, mesmo sabendo serem necessárias e capazes de melhorar nossa vida,
pessoal e profissional, de nossa familia, de nossos amigos, de nossos filhos, de nossos
pais... Este é o melhor momento para utilizarmos o significado da “Régua de 24
polegadas”, pois o “homem deve saber valorizar seu tempo e norteá-lo de tal
forma que consiga superar suas fraquezas e limitações, e conseguirá então
alcançar seus objetivos”.

“Se um dia você tiver que escolher entre o mundo e o amor, lembre-se: Se
escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor, com ele conquistará o
mundo.” (ALBERT EINSTEIN)

Bibliografia utlilizada:

• Ritual Do Aprendiz Maçom, segundo Friedrich Ludwig Schroder, edição 2007,


Oriente de Porto Alegre
• FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Dicionário Aurélio
• As ferramentas do Grau de Aprendiz: Em http://www.guiadomacom.com.br
• REIS, Álvaro Botelho. A Régua de 24 Polegadas: Em
http://www.comunidademaconica.com.br
• DRINKS, José. A Régua de 24 Polegadas: Em http://luzdoocidente.org.br
• http://www.revistauniversomaconico.com.br/simbologia/regua-de-24-polegadas/
• Adoum, Jorge; GRAU DE APRENDIZ E SEUS MISTÉRIOS, ed. Pensamento -
1993.
• Figueiredo, Joaquim Gervásio de; DICIONÁRIO DE MAÇONARIA, ed.
Pensamento - 1994.
• http://www.perfeitaharmonia.mvu.com.br/site/regua-de-24-polegadas/
• http://www.maconaria.net / ÁLVARO BOTELHO REIS

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