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CAPÍTULO XIX

DISCURSO NA COLOCAÇÃO DA PEDRA FUNDAMENTAL EM


MOUNT ECCLESIA

Cristo disse:

“Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estarei no meio


deles”1

Essa declaração era a expressão da mais profunda sabedoria divina, assim como
todos os Seus ensinamentos. Ela se apoia sobre uma lei da natureza, tão
imutável como o próprio Deus.

Quando os pensamentos de dois ou três focalizam-se sobre qualquer objeto ou


pessoa determinada, gera-se um poderoso pensamento forma. Resultado da bem
definida projeção de suas Mentes conjuntamente ajustadas para o propósito
almejado. Seus efeitos ulteriores dependerão da afinidade entre os pensamentos
e a natureza do alvo que os recebe. Pois, para gerar uma correspondência
vibratória sobre a nota soada por um diapasão, é necessário outro diapasão
afinado no mesmo tom.

Se forem projetados pensamentos e preces de natureza inferior e egoísta, apenas


criaturas inferiores e egoístas responderão a eles. Essa espécie de oração nunca
chegará até Cristo, como a água não pode subir montanha acima. Ela gravita
em torno de demônios ou elementais: criaturas totalmente indiferentes às
sublimes aspirações manifestadas pelos que estão reunidos em nome de Cristo.

Estamos aqui reunidos hoje, neste lugar, com a finalidade de assentar a pedra
fundamental para a construção da Sede de uma Associação Cristã. Tão certo

1
N.R: Mt 18: 20
como a gravidade atrai uma rocha em direção ao centro da terra, o fervor de
nossas unidas aspirações atrairá a atenção do Fundador de nossa fé, o Cristo.
Estamos confiantes que Ele está entre nós. Com a mesma certeza na qual
diapasões com a mesma afinação vibram em uníssono, também o augusto
Cabeça da Ordem Rosacruz, Christian Rosenkreuz, empresta sua presença
nessa solene ocasião, quando a Sede da Fraternidade Rosacruz está tendo início.

O Irmão Maior inspirador deste movimento está presente e visível, pelo menos
para alguns de nós. Somando o número dos presentes nesta maravilhosa
ocasião, todos diretamente engajados no projeto, temos como resultado o
número perfeito, 12. Isto é, há três guias invisíveis que estão além do estágio da
humanidade comum, e nove membros da Fraternidade Rosacruz. Nove é o
número de Adão, ou humanidade. Destes nove membros, cinco (número ímpar
masculino) são homens, e quatro (número par feminino) são mulheres. O
número três, relativo aos guias invisíveis, apropriadamente representa a
Divindade assexuada.

O número dos que atenderam ao convite não foi programado pelo orador. Os
convites para tomar parte nesta cerimônia foram enviados a muitas pessoas, mas
apenas nove compareceram. E, como não acreditamos no acaso, a presença
deve ter sido conduzida de acordo com os desígnios de nossos Guias invisíveis.

Esse sincronismo também revela a força espiritual por trás deste movimento.
Como prova evidente desse argumento observemos a extraordinária expansão
dos Ensinamentos Rosacruzes. Nos últimos anos disseminaram-se por todas as
nações da Terra. Despertam aprovação, admiração e amor nos corações das
pessoas da mais variadas classes e condições, especialmente entre os homens.

Enfatizamos isto por ser um fato notável. Todas as outras organizações


religiosas compõem-se majoritariamente por mulheres. Entretanto, os homens
são maioria entre os membros da Fraternidade Rosacruz. Também é
significativo que os membros da área médica sejam mais numerosos em relação
às demais profissões, e em seguida encontram-se os ministros das igrejas. Isso
demonstra a crescente conscientização da estreita relação entre
desenvolvimento espiritual e saúde. A fraqueza do Corpo reflete a fraqueza da
Alma. Muitos estão se esforçando para compreender essas relações e, assim,
garantir melhor assistência aos enfermos.

Demonstra que os orientadores espirituais, cuja tarefa consiste em zelar pela


saúde das almas, estão também empenhados em socorrer mentes exigentes e
inquiridoras. Dessa forma podem recuperar o vigor da fé, por vezes já muito
empobrecida, das Mentes inquietas que anseiam por explicações consistentes
sobre os mistérios espirituais. Com a razão satisfeita, reafirmam seus laços com
a Igreja.

Explicações não sustentadas pela razão, que apelam para máximas


inquestionáveis e dogmas inflexíveis, abrem totalmente as comportas para o
mar agitado do ceticismo. Afastam aqueles que procuram a luz por meio do
porto seguro da Igreja. Lamentavelmente arrasta-os para a escuridão do
desespero materialista.

A Fraternidade Rosacruz recebeu o abençoado privilégio de poder atender às


necessidades dos irmãos que buscam sinceramente a verdade. Com entusiasmo
procuram a luz, guiados pelo intelecto. São incapazes de acreditar por
imposição e aceitar explicações incompatíveis com a razão. Mas, quando
podem compreender que o conjunto de dogmas e doutrinas apresentadas pela
Igreja está em fundamental harmonia com as leis da natureza, então, muitos
retornaram mais fortalecidos à sua congregação. Enriquecidos pela luz,
convertem-se nos melhores e mais ativos membros. Compartilham alegria e
entusiasmo com seus companheiros.
Qualquer movimento para perdurar deve possuir três qualidades divinas:
Sabedoria, Beleza e Força.

Ciência, Arte e Religião: cada uma possui, por sua natureza, uma dessas
correspondentes qualidades. O objetivo da Fraternidade Rosacruz é uni-las em
um conjunto harmonioso. A religião deve ser tanto científica como artística.
Todas as igrejas devem se unir numa só grande Irmandade Cristã.
Presentemente, o relógio do destino marca um momento auspicioso para o
início das atividades da construção da Sede. Então, vamos erigir um Centro
visível de onde os Ensinamentos Rosacruzes possam irradiar uma benéfica
influência. Seu propósito é elevar o bem-estar de todos que estão moral, mental
ou fisicamente enfermos.

Agora, cavemos a primeira pá de terra no local da construção, acompanhada de


uma prece pela Sabedoria, para guiar esta grande escola no caminho certo.
Sulquemos o solo uma segunda vez, com uma súplica ao Mestre Artista pelo
direito de introduzir, aqui, a Beleza da vida superior, de tal maneira a torná-la
atrativa para toda humanidade. Rasguemos o solo pela terceira e última vez,
nesta cerimônia, suspirando uma prece pela Força. Para que assim, com
serenidade e diligência, sejamos dignos de prosseguir no bom e perseverante
trabalho de converter este lugar num prodigioso fator de elevação espiritual,
superando o resultado dos seus antecessores.

Já escavado o local do primeiro prédio, continuemos agora plantando o


maravilhoso símbolo da vida e do ser, o emblema da Escola de Mistérios
Ocidentais. Agora descreveremos seu simbolismo. A cruz representa a matéria.
As rosas, envolvendo e rodeando o tronco, sugerem a vida em evolução subindo
cada vez mais alto através da cruz.

Cada um de nós, os nove membros, participará deste trabalho de escavação para


este primeiro e mais importante elemento distintivo de Mount Ecclesia. Vamos
fixá-lo numa posição onde os braços apontem um para Leste e outro para Oeste,
enquanto o Sol meridional projeta-o inteiramente em direção ao Norte. Assim,
ele estará alinhado com as correntes espirituais que vitalizam as formas dos
quatro reinos da vida: mineral, vegetal, animal e humano.

Sobre os braços, na parte superior da cruz, podemos divisar três letras douradas,
“C.R.C”, Christian Rosenkreuz, ou Christian Rose-Cross, as iniciais do
Augusto Chefe da Ordem.

O simbolismo da cruz está parcialmente elucidado aqui como também em nossa


literatura. Mas seriam necessários volumes para dar uma explicação completa.
Vamos lançar o olhar para adiante, vejamos o significado da lição oferecida por
este maravilhoso emblema.

Quando vivíamos na densa atmosfera aquosa da antiga Atlântida, estávamos


submetidos a leis completamente diferentes das que vigoram hoje. Quando
deixávamos o corpo, não o percebíamos, pois, nossa consciência estava mais
focalizada no Mundo espiritual do que nas densas condições da matéria. Nossa
vida não sofria quebras de continuidade: “Não percebíamos nem o nascimento
nem a morte”.

Ao emergirmos para as condições aéreas da Época Ária, o mundo atual, nossa


consciência do Mundo espiritual desvaneceu-se e a percepção da forma tornou-
se mais proeminente. Teve início uma existência dupla. Cada fase bem
delimitada e diferenciada. O nascimento e a morte demarcavam seus limites.
Numa etapa o espírito vivia em liberdade no reino celestial. Na outra,
encontrava-se aprisionado no corpo terrestre. Essa etapa pode ser considerada
como a morte virtual do Espírito. Assim está também simbolizado na mitologia
grega, nas figuras de Castor e Pólux2, os gêmeos celestiais.

2
N.R.: No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe, porém têm pais diferentes - o que significa
que Pólux, por ser filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era.
Já foi elucidado, em diversos pontos de nossa literatura, como o espírito livre
ficou emaranhado na matéria pelas maquinações dos espíritos lucíferos. Cristo
classificou-os de falsas luzes. Isso ocorreu na ígnea Lemúria. Portanto, Lúcifer
pode ser chamado o Gênio da Lemúria.

Os efeitos da intervenção dos Anjos Lucíferos ganharam maior transparência


na Época de Noé, abrangendo o final da Época Atlante e o início da presente
Época Ária.

O arco-íris não podia ganhar forma sob as condições atmosféricas da Lemúria.


Entretanto, inaugurou o céu cristalino da Época de Noé, coloriu o fundo azul e
elevou-se acima das nuvens. Imprimiu nas alturas uma inscrição mística
proclamando o início dos ciclos alternantes, enchente e vazante, verão e
inverno, nascimento e morte. Durante a vigência desta era, o espírito perdeu sua
ampla liberdade e devia permanecer confinado num corpo mortal.

Agora os corpos são gerados sob a influência da paixão satânica engendrada


por Lúcifer. O espírito empreende repetidas tentativas de regresso à Casa
Paterna, no anseio de permanecer no seu verdadeiro lar celestial. Mas é
frustrado pela lei dos ciclos alternantes, pois, ao livrar-se de um corpo pela
morte será novamente conduzido ao renascimento, quando o ciclo se completar.
Engano e ilusão não podem perdurar eternamente.

Nasceu entre nós, então, o Redentor para purificar o sangue cheio de paixão e
para pregar a verdade que nos libertará deste corpo de morte. Veio para
instaurar a Imaculada Concepção, em harmonia com a evolução dos
conhecimentos sobre a ciência genética e a erradicação das deformações físicas.
Profetizou uma nova Era, um novo Céu e uma nova Terra, onde Ele, a
verdadeira Luz, será o novo Gênio. A humanidade encontrará a plena realização
de seus anseios nessa nova era onde florescerão a virtude e o amor.
Tudo o que dissemos e o nosso caminho evolutivo estão representados na cruz
de rosas diante de nós. Na rosa a seiva da vida está inativa no inverno e ativa
no verão. Ela bem ilustra o efeito da lei dos ciclos alternantes. A tonalidade da
flor e seus órgãos reprodutores lembram o nosso sangue. No entanto, sua seiva
flui com pureza e sua semente é gerada imaculadamente, sem paixões.

Quando também alcançarmos tal pureza, tão bem simbolizada, estaremos


libertos da cruz da matéria. As futuras condições etéricas do novo milênio já
estarão presentes.

A aspiração da Fraternidade Rosacruz é abreviar os dias para celebrarmos a


chegada desse feliz momento, quando a tristeza, a dor, o pecado e a morte
desaparecerão. Estaremos, enfim, redimidos das fascinantes, porém
escravizantes, ilusões da matéria. Despertaremos para a suprema verdade da
realidade do Espírito. Que Deus frutifique nossos esforços e antecipe esse dia.

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