MACONARIA

Fatos revelados
sobre a fraternidade
que influencia
o mundo
História em Foco Maçonaria - Ano 4, nº 4

QUESTÃO
POLÊMICA
INTERPRETAÇÃO Por que a
DOS SÍMBOLOS Maçonaria
Os códigos maçons tem fama de
(quase) secretos machista?

OS SEGREDOS DA ORDEM
Desvendamos o que há por trás da sociedade secreta
responsável por mistérios que atravessam os séculos

272537_6.pdf_March 3, 2017_15:43:19
 Editorial

Raio x
CHAPÉU

maçônico
E
mbora não pareça, tudo o que envolve a Maçonaria – em
suas variadas abordagens – colabora e muito para compreen-
dermos a trajetória e os valores que permeiam a sociedade
contemporânea. Até porque, com raízes oriundas de tempos
longínquos, a ordem secreta traz consigo uma infinidade de simbologias,
conhecimentos, práticas e influências. Obviamente, muita coisa não
passa de mito. Porém, nesta edição de História em Foco – Maçonaria,
Ilustrações: Daniel Razabone/Colaborador

elaboramos um vasto material de pesquisa sobre as lendas e verdades

relacionadas à fraternidade.
Se você sempre teve vontade de compreender o que move milhões de
maçons espalhados pelo mundo, esta é a oportunidade de destrancar
os cadeados dos templos, dar fim aos mistérios e tirar suas próprias
conclusões de maneira definitiva. Claro que segredo bom é aquele bem
guardado, mas, certamente, sua percepção não será mais a mesma depois
das páginas a seguir.
Boa leitura!
A redação CAPA
Produção Gráfica Ana Paula Maldonado
Tratamento Edson Iukawa
Imagens iStock.com/Getty Images e
Shutterstock Images

Índice
3Bem-vindos à Maçonaria
A trajetória da sociedade secreta que fascina o mundo é
repleta de mistérios. Confira as explicações para a origem,
12A força da simbologia
Seja através de ícones, imagens, emblemas ou cumpri-
mentos, os maçons baseiam seus ritos em códigos (quase) secretos
desenvolvimento e influência da Ordem

8 Os tijolos brasileiros
Você nem imagina que a Maçonaria pode ter envolvi-
mento com diversos eventos importantes da história do país
16Por trás das fechaduras
Entre as diversas teorias sobre a Ordem, uma das
mais difundidas é a de que os templos maçônicos abrigam
práticas satanistas e rituais ocultistas

10 O lugar das mulheres

Conheça as explicações para a ausência feminina
desde a criação da sociedade secreta
18 Em busca do Templo
Não basta ter vontade ou fé. Para ser aceito na Ma-
çonaria, é preciso de alguns outros preceitos

272540_4.pdf_March 3, 2017_16:51:08
 Bem-vindos à
Maçonaria
Foto: iStock by Getty Images

A trajetória da sociedade secreta que fascina o mundo é repleta de mistérios.

Confira as explicações para a origem, desenvolvimento e influência da Ordem
Texto Bruno Ribeiro Design Ana Paula Maldonado/Colaboradora
3

272538_5.pdf_March 6, 2017_18:18:48
 Segredos
H
á quem diga que o
maior segredo da Ma-
çonaria é, justamente,
não ter segredo algum.
Mas, convenhamos: mesmo com
mistérios atados pelos juramentos
impostos aos maçons, é impossível
ignorar as teorias que envolvem prá-
ticas ocultas, favorecimentos e jogos
de interesses. Verdades ou lendas, a
complexidade por trás da sociedade
secreta foi capaz de conduzi-la ao
século XXI com o mesmo poder e
influência de milhares de anos atrás.
Sendo assim, sem mais delongas:
vamos às questões – e à infinidade de
respostas – que talvez expliquem a for-
ça e o fascínio inerentes à Maçonaria.
Como a Ordem surgiu?
Há diversos mitos – alguns propaga-
dos pelos próprios maçons – de que a
origem da Maçonaria tenha ficado “na
noite dos tempos, nas antiquíssimas
primeiras civilizações, das quais se
perderam os vestígios e a memória”.
Contudo, estudiosos e pesquisadores
costumam dividir o processo de sur-
gimento em três estágios distintos:
primitivo, operativo e moderno – no
caso do último, também conhecido
como especulativo.
Em relação à primeira, uma das
versões mais difundidas assegura que
as raízes ideológicas que orientam a
Ordem já estavam presentes entre os
operários que construíram o Templo
“A reforma protestante
abalou a unidade
cristã e culminou com
o enfraquecimento da
igreja romana”
de Salomão, cerca de quatro mil anos O que caracterizou
antes da Era Cristã. Esses trabalha- esta fase?
dores eram liderados pelo mestre- Com caráter mais histórico do que
construtor Hiram Abif, integrante de mítico, esta versão situa a origem
uma fraternidade chamada Artífices da Maçonaria durante a Idade Mé-
de Dionísio, cujos membros se comu- dia, na época de Numa Pompilio,
nicavam por senhas e sinais secretos, o segundo soberano de Roma que
além de fazerem ações beneficentes reinou entre os anos de 716 e 673
para ajudar os desfavorecidos. a.C. Nesse período, surgiu a primeira
Operários de todos os cantos do associação de mestres construtores,
mundo e com os mais diversos graus chamada Collegia Fabrorum. Seus
de conhecimento foram contratados membros eram chamados collegiati
para a construção do Templo. Assim, e acompanhavam as tropas romanas
para tirar o máximo do que cada que partiam em busca de novas con-
um deles podia fazer, Abif dividiu quistas territoriais.
os trabalhadores em três categorias: Com a função de dar apoio es-
aprendizes, companheiros e mestres. tratégico e logístico, os membros
Além disso, criou sinais, códigos e edificavam pontes para atravessar
cumprimentos próprios para cada desfiladeiros, bem como reerguiam
um desses níveis, de modo que se construções destruídas nas batalhas
relacionassem secretamente e man- para que cidadãos romanos pudes-
tivessem o conhecimento de seus sem habitá-las. Assim, os “primei-
respectivos ofícios em sigilo. Dessa ros maçons” foram fundamentais
maneira, anos depois, a perpetuação na expansão que robusteceu o Im-
da sapiência maçônica levaria à fun- pério Romano. Porém, mais do que
dação da fase operativa. o talento para as obras, os collegiati
Parentes próximos?
O elo com a construção do Templo de Salomão ainda proporciona teses de que a Maço-
naria pode ter algo em comum com a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo Salomão
– mais famosa como Ordem dos Templários. Mas, para se entender a relação, é preciso
retornar a 1571, quando o arquivo central dos Templários, até então localizado na ilha de
Chipre, foi destruído.
Ali teria se perdido qualquer material envolvendo os monges-guerreiros. Por isso, boa
parte do que se tem hoje é considerado material sem credibilidade. Com a extinção
dos Templários, em 1312, fica a pergunta: para onde foram os antigos membros, então
perseguidos? Algumas vertentes históricas cogitam uma explicação: Escócia e Portugal
Foto: Shutterstock Images
teriam sido os destinos considerados seguros para os cavaleiros. Mas como a persegui-
ção permaneceu intensa, os Templários decidiram se disfarçar, fundando assim uma nova
ordem – supostamente, a Maçonaria. No entanto, a versão é veementemente negada
pelos próprios maçons.
272538_5.pdf_March 6, 2017_18:18:50
chamavam a atenção por serem ho-
mens de formação religiosa profunda,
relacionando tudo o que faziam com
a esfera espiritual – vale lembrar que,
após o declínio imperial, a Igreja Ca-
tólica é quem passaria a se beneficiar
das estruturas e propriedades por eles
construídas.
Com o tempo, a acumulação de
saberes milenares viabilizou que al-
cançassem postos-chave na admi-
nistração romana. É verdade que
Collegia Fabrorum entrou em deca-
dência juntamente com o Império,
no século 4 d.C., mas muitos de seus
integrantes fugiram de Roma levando
segredos da arte da construção, do
conhecimento científico e do mundo
“Seus membros são cultos, esclarecidos
espiritual. e buscam elevação a partir da igualdade,
da liberdade e da fraternidade”
E como ocorreu a con-
solidação da Maçonaria
moderna? nização dos maçons operativos aos nem de prestação de serviços, mas
Com o passar do tempo, a ascensão ingredientes fundamentais do pen- suas várias organizações administram
do mercantilismo tornou as cons- samento iluminista, inaugurava-se a excelentes instituições de caridade.”
truções feudais cada vez mais raras. Maçonaria moderna. Nesta definição feita pelo escri-
Além disso, a reforma protestante Regularmente, costuma-se colocar tor maçom Christopher Hodapp,
abalou a unidade cristã e culminou 1717 como o ano de sua fundação, conseguimos observar em quantos
com o enfraquecimento da igreja visto que a data marca o início da campos diferentes a Maçonaria está
romana. Porém, todos esses fatores reconstrução física da cidade de Lon- envolvida: religioso, político e social.
favoreceram o surgimento do Ilu- dres – não é à toa que a capital inglesa Por isso, sua influência ao longo dos
minismo no século XVIII – o qual é considerada o berço do estágio es- séculos não poderia ser mais forte.
tinha os princípios voltados à razão. peculativo. Por isso, muito mais do Apesar de a discrição ser uma das
Assim, atrelando os moldes de orga- que erguer edifícios, catedrais ou es- ideias mais respeitadas dentro da
tradas, parece claro que o objetivo Ordem desde a sua fundação, a Ma-
“Entendem o segredo era mais profundo: arquitetar ideais. çonaria sempre esteve presente em
momentos de grandes definições da
como necessário para De que maneira a socieda- História. Nos Estados Unidos, por
evitar a vulgarização de se tornou tão influente? exemplo, ela está profundamente
“Maçonaria é um tema estranho. ligada à história de desenvolvimento
ou a profanação dos Não é religião, mas é religiosa. Não é do país.
conhecimentos e valores um movimento político, mas os seus E já que uma das bases da filosofia
membros foram alguns dos maiores maçom é a frase “Liberdade, Igual-
que norteiam as ações reformistas políticos e sociais da His- dade e Fraternidade”, não é difícil de
da irmandade” tória. Não é um clube de caridade associar a que grande evento francês

272538_5.pdf_March 6, 2017_18:18:51
 Segredos

CHARLES CHAPLIN: ele é creditado por diversas lojas

por circular no rol dos maçons ilustres. Entretanto, a
relação de Chaplin com a Maçonaria é controversa.
Batizado pela Igreja Anglicana, declarava-se agnóstico
e ateu, embora Deus estivesse presente em algum
de suas citações. Aliás, ao final do filme O Grande as
Ditador, seu personagem cita um trecho da Bíblia.
tudo para dizer que a contradição mora justamenteBem, na
crença em Deus, uma vez que exercê-la é pré-requisito
para pertencer à sociedade.

estadista
WINSTON CHURCHILL: o ente por
britânico, fam oso principalm
tro do Reino
atuar como primeiro-minisGuerra
Unido durante a Seg und a
ante seu
Mundial, teria feito bonito durUnited
disc urso de iniciação, na loja
de 1901,
Studholme, em 24 de maioçom.
onde tornou-se me stre ma

GEORGE WASHINGTON: primeiro presi

dente
norte-americano também pertenceu a essa o político
misteriosa ordem. Fotografias mostram .
ao lado de itens da simb ologia maç ônica
nte
Grão-mestre da loja Alexandria, o ex-presideington.
inspirou a arquitetura da cidade de Wash nciam
No senado, há também pinturas que denu
a influência da sociedade secreta. os
BILL CLINTON: o  ex-presidente dos Estad e – o
Unidos, que nasceu William Jefferson Blyth ar o
“Clinton” só veio depois de o político adota Ordem
sobrenome de seu padr asto –, conh eceu
natal.
DeMolay na cidade de Arkansas, sua terra

272538_5.pdf_March 6, 2017_18:18:52
 WALT DISNEY: nascido em Chicago, no
dia 5 de
dezembro de 1901, o produtor cinematog
cineasta, diretor, roteirista, dublador filant ráfico,
ropo e co-
fundador da The Walt Disney Company torno
conhecido, nas décadas de 1920 e 1930
,
personagens de desenho animado, com
Mouse e Pato Donald. Essa parte de suao Mickey
todo mundo já sabe. Novidade é o fato dehistória
Disney ter sido um grande DeMolay, torna
ndo-s e,
posteriormente, um Grão-Mestre maçom.
Foto: Shutterstock Images/Wikimedia Commons
“Mais de 70% dos
u-se
por seus
maçons do planeta
estão concentrados
Walt
na América do Sul,
Central e Norte”
essa sociedade secreta também está
diretamente ligada. Sim, a Maçonaria
também esteve presente na Revolução
Francesa, assim como em tantas ou-
tras revoluções e lutas por liberdade e
emancipação, inclusive aqui no Brasil
(leia mais na página 8).
Não resta dúvida, portanto, de que
a Maçonaria, por pregar a liberdade
de consciências, permitir e estimular
o livre debate, além de ser um espaço
privilegiado de discussão, acabou por se
tornar uma espécie de escola de forma-
ção política. Não à toa, historicamente,
há uma alta proporção de maçons en-
gajados no progresso cultural e da vida
em sociedade. No entanto, mais do que
mencionar momentos específicos em
que eles estiveram envolvidos, os ma-
çons preferem se orgulhar do altruísmo
e sacrifício em prol dos outros.
Por que os maçons prezam
tanto pelo sigilo?
É estranho pensar que uma fra-
ternidade que quer o bem da huma-
nidade se esconde. Mas, a própria
Maçonaria não se considera uma
sociedade secreta, mas sim uma
“sociedade discreta”. Isso acontece
porque entendem o segredo como
necessário para evitar a vulgarização
ou a profanação dos conhecimentos
e valores que norteiam as ações da
irmandade. Tais valores estão con-
densados nos princípios imutáveis
que fundamentam as leis da Ordem
Maçônica, os chamados landmarks.
Espalhada por diversos países e
com séculos de história, é natural
que tenha surgido várias versões de
quais seriam esses princípios. Além
disso, muitas vezes, são confundidos
com os “antigos deveres” e os “antigos
regulamentos e encargos”. Mas são
todos conceitos diferentes entre si.
O que pode se dizer com certe-
za é que seus membros são cultos,
esclarecidos e buscam elevação a
partir da igualdade, da liberdade e
da fraternidade. Ou seja: muito an-
tes da Revolução Francesa marcar a
História, milhares já se reuniram em
nome de seus ideais.
Como a Maçonaria está
espalhada pelo mundo?
Segundo dados da pesquisa List of
Lodges, realizada no ano de 2012,
mais de 70% dos maçons do plane-
ta estão concentrados na América
do Sul, Central e Norte. Os Estados
Unidos possuem o maior número
de membros do mundo, com apro-
ximadamente 1,5 milhão de partici-
pantes. A Inglaterra fica em segundo
(230 mil) e o Brasil (190 mil) aparece
em terceiro. Na Europa, países com
menor tradição maçônica têm sur-
preendido pelo número de mem-
bros crescendo, enquanto lugares
mais tradicionais como a França, por
exemplo, parecem estáveis.
Para se ter uma ideia, algumas lojas
na Noruega chegam a receber até 300
membros em uma reunião, enquanto
na Espanha a média não ultrapassa
15 pessoas. Já na África e na Ásia, a
Maçonaria apresenta pouca represen-
tatividade, possuindo poucos membros
filiados e números mínimos de lojas.
FONTES Pequena História da Maçonaria, de Charles
Webster Leadbeater; O que você precisa saber sobre
a Maçonaria, de Elias Mansur Neto;
Artigo História e Historiografia: Maçonaria, de Célia
Marinho de Azevedo.
272538_5.pdf_March 6, 2017_18:18:56
 Brasil
Os tijolos
brasileiros
N
Você nem imagina ão temais ímpias
que a Maçonaria pode falanges, que apre-
ter envolvimento sentam face hostil;
Vossos peitos, vossos
com diversos eventos braços, são muralhas do Brasil. Brava
importantes da gente brasileira! Longe vá... temor
servil: ou ficar a pátria livre, ou mor-
história do país rer pelo Brasil...”. Esses versos fazem
parte do Hino da Independência. E
sim, estão impressos em uma revista
Texto Nathália Piccoli/Colaboradora sobre Maçonaria. Você deve estar se
Design Ana Paula Maldonado/Colaboradora perguntando o porquê, não é mesmo?
Mas, para explicar, precisamos voltar
ao século XIX, quando personalida-
des históricas do país eram membros
da fraternidade maçônica. Então, a
Maçonaria pode ter influenciado nos
rumos do Brasil? É isso que muitos
historiadores acreditam ser verdade.
8
Em 1822, já em terras tropicais, a
Ordem passava por um momento de
divergência – as ideias republicanas
não eram unanimidade. De um lado, o
grupo liderado por Joaquim Gonçalves
Ledo (1781-1847), republicano – refor-
çava que a República seria a saída para
o cenário político do país – e apoiador
do Dia do Fico. Do outro lado, lidera-
dos por José Bonifácio (1763-1838),
não abriam mão de Dom Pedro e seus
poderes monárquicos.
Dom Pedro, aparentemente neutro,
chegou a participar de reuniões das
duas frentes. Contudo, após algum
tempo, foi preciso tomar uma decisão.
Tanto que, em um dos encontros,
teria jurado lutar a favor da liberda-
de e independência do país, em um
272539_2.pdf_February 20, 2017_17:58:27
discurso totalmente convergente com
as propostas de José Bonifácio.
Um jovem, uma influência
Inexperiente em posse do trono e
cercado de pensadores influentes – e,
também, integrantes da Maçonaria –
Dom Pedro deveria retornar imedia-
tamente ao seu país em 1821, quando
notou que “o circo pegava fogo”. José
Clemente Pereira, eleito presidente do
Senado da Câmara, foi um dos pri-
meiros a manifestar sua insatisfação
quando o príncipe declarou sua célebre
frase sobre permanecer no Brasil. Nesse
momento, Dom Pedro foi agraciado,
pela Maçonaria e pelo Senado, com o
título de Defensor Perpétuo do Brasil.
Mas, a influência da Ordem não pararia
por aí. Antes desse acontecimento, o
maçom José Bonifácio teria, também,
aconselhado que o monarca assinasse
um decreto invalidando os próprios
decretos de Portugal.
Passados um ano, José Clemente,
Gonçalves Ledo e Januário Barbosa
também mostraram que podiam ar-
gumentar e influenciar Dom Pedro
no caminho à independência, tanto
que a Assembleia Constituinte convo-
cada pelo imperador foi, justamente,
ideia do trio. Dali, surgiria a Primeira
Constituição de 1824, e, dias depois,
uma importante loja, a Comércio e
Artes (da qual Dom Pedro, com o
Comprometimento
Ao contrário do que se vê hoje – ou com
menor discrição – os meios de filiação
eram mais claros, de modo que só po-
deria tornar-se membro da Maçonaria
quem fosse realmente comprometido
com a causa da independência.
nome de Guatizomim, fazia parte)
na Idade de Ouro, criaria outros dois
núcleos da Ordem: as lojas Esperança
de Niterói e União e Tranquilidade.
A consequência dos fatos deu ori-
gem ao Grande Oriente do Brasil,
formado por José Bonifácio como
Grão-Mestre, Gonçalves Ledo como
1º Vigilante, e Padre Januário Barbosa
como Grande Orador.
Grão-Mestre da
Independência
Após tornar-se Grão-Mestre em
1822 – especula-se, com propósitos
políticos – e mesmo com toda a si-
tuação de instabilidade, Dom Pedro
também foi aclamado imperador.
Disposto a estabilizar os ânimos dos
descontentes, foi do Rio de Janeiro a
São Paulo, quando recebeu uma sur-
presa ao voltar: cartas da Coroa foram
enviadas ao príncipe e muitas dessas,
o fizeram sentir-se perseguido. Com
o ego ferido, declarou: “Nada mais
quero do Brasil e proclamo o Brasil
para sempre separado de Portugal”.
As decisões não saíram baratas –
várias delas, como se conclui, com
a influência do poder da sociedade
secreta – e muitos conflitos surgi-
ram decorrentes da independência
e marcam a história do país.
A Inconfidência que
marcou uma sociedade
A narrativa que deu origem a liga-
ção da Maçonaria com a Inconfidên-
cia Mineira (1789) deve-se ao histo-
riador e professor Joaquim Felício
dos Santos – que curiosamente não
era maçon. Em sua obra Memórias
do Distrito Diamantino da Comarca
do Serro Frio, escrita em 1868, ele
afirma que a Conjuração Mineira foi
um movimento estreitamente ligado
A sociedade brasileira
A primeira loja maçônica no Brasil foi
instalada em 1801, filiada ao Grande
Oriente da França. Na mesma década,
foram fundadas várias lojas no Rio de
Janeiro e em Pernambuco. Atualmente
no Brasil, são reconhecidas as seguintes
confederações: Grande Oriente do Bra-
sil (fundada em 1822), Confederação da
Maçonaria Simbólica do Brasil (fundada
em 1965) e a Confederação Maçônica
do Brasil (1973).
à Ordem dos Pedreiros Livres.
Ainda que não existissem lojas em
funcionamento – proibidas na época
– grande parte dos participantes da
Inconfidência Mineira, inclusive o
próprio Tiradentes, eram maçons que
se reuniam disfarçadamente nas resi-
dências de Thomaz Antonio Gonzaga,
José Alvares Maciel, Padre Rolim,
Claudio Manuel da Costa e de outros
homens para participarem de arcádias
literárias, saraus e reuniões culturais.
Com a divulgação da List of Lod-
ges 2012 (publicação anual das lojas
reconhecidas das Obediências Re-
gulares do mundo), é possível saber
o tamanho da Maçonaria brasileira.
Somando todos os membros filiados
das três confederações regularizadas,
é possível ter um total de mais de 200
mil maçons, distribuídos em aproxi-
madamente seis mil lojas. Para ter uma
Foto: Reprodução
noção, no continente americano o
Brasil só perde para os Estados Unidos
– a maior Maçonaria do mundo. No
ranking mundial, o país garante o 3º
lugar, atrás dos EUA e da Inglaterra.
FONTE Artigo Um Panorama da Maçonaria no
Mundo, Kemyo Ismail
272539_2.pdf_February 20, 2017_17:58:30
 Maçonaria
feminina

O templo das
mulheres
Conheça as explicações para a ausência feminina desde
os primórdios da Ordem
Texto Nathália Piccoli/Colaboradora Design Rafael Nakaoka

N
enhuma mulher pode se
candidatar ou tentar ser
iniciada em uma loja
maçônica. Não existem
mulheres na Maçonaria. Esposas não
podem acompanhar os maridos duran-
te as reuniões. Mas por que todas essas
restrições com o público feminino?
Os maçons justificam essa ausência
utilizando uma só palavra: tradição.
Basicamente, como a intenção dessa
Ordem, é perpetuar a missão desde
sua formação, só poderia ser de praxe
que as antigas regras e rituais perma-
necessem intocáveis.
10
Além da questão histórica, há ou-
tros pontos apresentados para validar
a ausência das mulheres na Maçonaria.
Um deles trata da sexualidade dentro
da fraternidade. Os homens, muitas
vezes considerados machistas, acreditam
que o ingresso do sexo oposto poderia
desviar a atenção de alguns membros
durante as reuniões. Ou ainda, se um
homem e uma mulher maçons tivessem
uma relação sexual, a irmandade entre
eles estaria prejudicada.
Contudo, não existe uma unanimida-
de negativa para a presença feminina nos
templos. Algumas unidades maçônicas
não predominantes admitem mulheres
e homens, ou exclusivamente mulheres.
Enquanto o Grande Oriente (poder
supremo) da França já se acostumou
com a presença do sexo oposto, as bra-
sileiras ainda lutam pela sua autentici-
dade. Tendo em vista essa luta, algumas
outras vertentes tentam cumprir o papel
inclusivo da ala feminina. Assim, como
a ordem DeMolay, que é voltada para
garotos que ainda não têm idade para
a iniciação, o grupo Arco-Íris, a
Ordem das Mulheres Maçons
e a Ordem Amaranth abrem
espaço para as mulheres.

272541_3.pdf_February 22, 2017_15:30:31


Um passo de cada vez
Embora não reconheça formalmente as
Ordens das Mulheres, a United Grand
Lodge of England (Grande Loja Unida
da Inglaterra) – maior potência maçom
– se pronunciou sobre a existência de
uma Maçonaria do sexo feminino. A
GLOE admitiu que essas instituições
são “regulares na prática”, apesar de
não serem “regulares na origem”. Já a
respeito das obediências mistas, a insti-
tuição se mostrou contrária.
A senhora maçom
Antes do surgimento das moder-
nas Grandes Lojas Maçônicas, uma
jovem irlandesa foi iniciada – aciden-
talmente – na sociedade a que seu
pai pertencia. A história conta que
Elizabeth St. Leger Aldworth, como
era chamada, adormeceu enquanto
Sociedade unida
Um dos juramentos que a Maçona-
ria prega em seus rituais de iniciação
é “não estar presente em uma cerimô-
nia de iniciação feminina”, o que se
tornou uma obrigação inquebrável.
Institucionalmente, a Ordem Maçô-
nica tradicional é restrita para maio-
res de 21 anos e do sexo masculino.
Todavia, existe certa preocupação
em integrar, de algum modo, toda a
família por meio de organizações e
vertentes, como a Ordem DeMolay
(saiba mais na página 18) e o grupo
Arco-Íris. Essa ideia surgiu com o
primeiro maçom, Mark Sexson, ao
perceber que a família poderia e de-
veria permanecer unida por meio da
sociedade a qual pertencia.
Arco-íris
A Ordem Internacional do Arco-Í-
ris para Meninas foi fundada nos
Estados Unidos em 1922, voltada para
a entrada só acontece depois de uma
avaliação feita pelas meninas do gru-
po. A exemplo dos DeMolay, a Ordem
destaca sete virtudes representadas por
suas cores, estrategicamente colocadas
em forma de um arco. Esse é o modo
de conectar suas participantes com as
lições também ensinadas a seus pais,
amigos e irmãos na Ordem Maçônica.
Maçonaria brasileira
A Ordem de Mulheres Maçônicas no Bra-
sil cultiva laços com as ordens de outros
países, como França, Inglaterra e Portu-
gal. Sua principal loja fica em São Pau-
lo, mas existem outras espalhadas pelo
país. Em seu site na internet, elas refor-
çam: “A Maçonaria não é religião, seita
ou coisa semelhante, nem está ligada a
elas. Somos uma entidade cívica e nada
fazemos às escondidas; se temos segre-

Ilustrações: Shutterstock Images e iStock.com/Getty Images

lia na biblioteca próxima ao local
onde os membros da Maçonaria se
reuniam. A construção inacabada
permitiu que ela fosse acordada pelas
vozes que ouviu através da porta.
Curiosa, decidiu espiar o que acon-
tecia ali dentro.
Ao assistir à cerimônia, foi pega
de surpresa pelo mordomo da casa.
O homem, então, chamou a todos –
inclusive o pai da jovem – e decidiram
iniciá-la na loja.
garotas com idade entre 11 a 20 anos
que desejam aprender e desenvolver
princípios de liderança e comunica-
ção, podendo servir à comunidade.
Assim como sua sociedade “mãe”,
pode ser encontrada em diversos paí-
ses – Austrália, Filipinas, Alemanha,
Canadá, e, claro, Brasil.
Para ser admitida, é preciso estar
dentro do limite de idade e ser indi-
cada por um maçom ou outra garota
Arco-Íris. Assim como na Maçonaria,
dos é parte para manter nossa organiza-
ção livre de corruptos e interesseiros”.
Já a Grande Loja Maçônica Mista do
Brasil tem sede no Rio de Janeiro e foi
fundada há muitos anos, em 1919, por
Alfredo Cabral, maçom membro do
Grande Oriente do Brasil, adepto do
pensamento democrático liberal. Para
ele era impensável que uma mulher fos-
se proibida de conhecer a sabedoria ma-
çônica e defendia: “somos todos iguais”.

VERMELHO: é a primeira estação e representa o amor, que enfatiza a importância do sentimento em casa e com a família.
LARANJA: representa a religião, que enfatiza a importância do companheirismo e da ativa participação na igreja.
AMARELO: é a cor que representa a natureza, responsável por nossa vitalidade.
VERDE: significa a imortalidade, pois mesmo que o corpo morra, a alma vive pela eternidade.
AZUL: é atribuída à fidelidade, e significa a importância da lealdade para a Ordem.
ANIL: retrata o patriotismo, representa a importância do respeito às leis de seu país e de sua bandeira.
VIOLETA: a última cor, ou sétima estação, dá ênfase ao serviço, a principal causa enfatizada pelos membros maçônicos.

E, por fim, com a junção de todas as cores do Arco-Íris, chega-se à cor branca, simbolizando a pureza, a sabedoria.

11

272541_3.pdf_February 22, 2017_15:30:34

Representações

A força da
simbologia Seja através de ícones, imagens, emblemas
ou cumprimentos, os maçons baseiam seus
ritos em códigos (quase) secretos

Texto Bruno Ribeiro Design Mary Ellen Machado

V
elada por alegorias e ilustrada por
signos, a Maçonaria adota um mé-
todo de instrução calcado na sim-
bologia. Não à toa, a revelação dos
conceitos e significados aos membros é distribuída
pelos diversos graus que compõem os ritos. Uma
parcela considerável desses símbolos é represen-
tada por instrumentos empregados na construção
civil, reforçando junto ao maçom a necessidade
constante de aprimoramento moral, intelectual
e espiritual. Porém, embora a metodologia visual
seja valorizada, dificilmente você verá um deles
prestando homenagens ou se curvando diante
de imagens. 
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 De fato, tal identi-
dade confere à Ordem
uma atração movida
pela curiosidade acer-
ca de seus misteriosos
emblemas, visto que
alguns foram concebi-
dos com interpretações
específicas, enquanto
outros são utilizados
com diferentes significa-
dos pelo restante da socie-
dade. Sendo assim, confira
o significado de alguns deles:

Emblema
Três elementos compõem a insígnia
máxima da Maçonaria: o compasso,
o esquadro e a letra G. Quanto ao
primeiro, faz referência às diversas
formas de pensamento e raciocínio,
ou ao espírito de uma maneira geral.
Outro ponto é relativo à construção
dos círculos, posto que estes represen-
tam as lojas maçônicas e os compassos, Já o esquadro, resultado da
por sua vez, geram os pontos iniciais união da linha horizontal
(ou absolutos). com a linha vertical, sig-
nifica a ação do homem
sobre a matéria e sobre si
“Acredita-se que, ao mesmo. Também é consi-
cumprimentarem-se derado como o símbolo
da retidão, pois, segundo
com um aperto de mão, os preceitos maçônicos, os
Fotos: Shutterstock Images e iStock.com/Getty Images

por exemplo, existem indivíduos devem regular

suas ações e condutas pela
detalhes sutis, como o linha concebida pelo Criador.
posicionamento dos Por fim, a presença do “G”
representaria a geometria como
dedos, que deixam grande ciência maçônica, muito
escapar o vínculo embora outras teorias defendam uma
daquela pessoa com a referência a God (Deus, em inglês)
ou ainda que a letra signifique um
sociedade secreta” grande mistério maçônico, talvez
nunca revelado.
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Representações
Acácia
Encontra-se ligada a aspec-
tos religiosos, já que seu sig-
nificado estaria atrelado à vida
após a morte. Nos rituais maçô-
nicos, o ramo de acácia costuma
ser colocado no manto de pessoas
que estão recebendo algo (na Maço-
naria, chamados de recipiendários).
Contudo, sua principal atribuição
relaciona-se com os ofícios fúnebres.
As acácias são colocadas nos caixões
dos maçons para recordar às que
foram plantadas no túmulo
de Hiram Abiff, figura ale-
górica mencionada no ri-
tual maçônico, o qual é
rotulado como o mestre
de construção do tem-
plo do Rei Salomão.
Olho que
tudo vê
Também conhe-
cido como “Olho
da Providência”, re-
presenta o conheci-
mento espiritual e a
onisciência. Pode ser
apresentado de manei-
ras diferentes, adquirin-
do outros significados para
cristãos, illuminatis e islâmi-
cos. Porém, na Maçonaria, faz
referência ao “Grande Arquiteto”,
que observa e acompanha as ações
dos membros da loja, com o intuito
de que todos ajam de forma correta.
“É comum que alegorias e símbolos maçônicos
sejam encontrados em obras e monumentos
históricos. A Estátua da Liberdade, por
exemplo, foi construída pelo maçom francês
Frederic Auguste Bartholdi”
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Três Pontos
Inicialmente, o chamado “Triponto”
não estava na Maçonaria Universal, e
originou-se nos ritos franceses. Pre-
sente nas abreviações, manuais e ri-
tuais, sua analogia a um triângulo dá
margem para muitas interpretações
– sempre simbólicas e esotéricas, como
beleza, força, perfeição ou outros atri-
butos relevantes. Quanto aos pontos,
são tidos na geometria como a origem
de toda linha, como também o lugar
onde duas linhas se encontram.
Estrela de
cinco pontas
Simboliza o homem perfeito, em
seus cinco aspectos: físico, mental,
emocional, intuitivo e espiritual.
Também está relacionada aos cinco
elementos: água, ar, terra, fogo e éter
– a suposta essência do cosmos. A
estrela também pode ser considerada
como a sobreposição de dois triângu-
los (considerados a forma geométrica
perfeita para os maçons). Por isso,
muitos utilizam três pontos em suas
assinaturas, que representam os três
vértices do triângulo.
O pavimento em mosaico
preto e branco
Também conhecido como piso xa-
drez, acredita-se que este “recurso de-
corativo” já existia nos templos desde
os tempos do antigo Egito. Porém, na
verdade, o pavimento possui signi-
ficados esotéricos. Para os maçons,
seria uma analogia à diversidade do ser
humano, mas sempre representada pela
dualidade de forças: positivo e negativo,
luz e escuridão, espírito e corpo, virtude
e vício, sábio e ignorante, rico e pobre,
entre outras dicotomias. Além disso, o
piso é a área onde ocorrem as iniciações
aos diferentes graus maçônicos.
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 Trolha
A chamada colher de
pedreiro é utilizada na
construção civil para
estender a argamassa e
cobrir todas as irregulari-
dades. E, justamente por
isso, a Maçonaria a ado-
tou como um símbolo de
tolerância e benevolência.
Assim, a expressão “passar a
trolha” sugere perdoar alguma
falha, desfazer injustiças ou dei-
xar pra trás algum ressentimento,
estimulando um amor fraternal
entre todos os maçons.

Avental
Peça obrigatória na vestimenta, os ma-
çons recebem o avental logo na iniciação, sendo
proibida a permanência na loja sem estar com o seu.
Inicialmente, os aventais costumavam ser confeccionados
de maneiras diversas e particulares – não à toa, muitos deles se
tornaram verdadeiras obras de arte. Atualmente, porém, o utensílio
acabou padronizado e através dele se identifica o rito empregado e o
grau do membro.

Arquitetura
Por sua história ligada aos construtores medievais, a Maçonaria sempre
teve um cuidado mais que especial com a arquitetura de suas construções.
Os templos maçônicos modernos trazem diversas colunas e cada um desses
pilares tem um significado particular. As estruturas são esguias e cilíndricas,
e os materiais utilizados podem ser pedra, tijolo ou madeira. Dentro do tem-
plo, as colunas possuem o estilo grego, mantendo vivo ainda hoje o caráter
clássico de suas construções.
Além disso, é comum que alegorias e símbolos maçônicos sejam encontrados
em obras e monumentos históricos. A Estátua da Liberdade, por exemplo, foi
construída pelo maçom francês Frederic Auguste Bartholdi. Assim, ele teria
incorporado elementos familiares à Ordem, como a tocha, o livro e o diadema
de sete espigões em torno da cabeça – com a inspiração da deusa Sophia.
Para a pesquisadora Marilei Moreira de Vasconcellos, autora do livro
Aleijadinho: Iconografia Maçônica, toda a obra do escultor mineiro contém
símbolos maçônicos ocultos. O lavabo da Igreja de São Francisco de Assis,
esculpido em pedra-sabão, em Ouro Preto (MG), é um deles. Consideradas
obras-primas, suas esculturas dos Doze Profetas de Congonhas do Campo
(MG), além de retratarem secretamente os conjurados da Inconfidência
Mineira, também esconderiam uma série de símbolos da sociedade secreta.
Identificação
A Maçonaria tornou-se
uma Ordem tão organizada que
seus membros desenvolveram códigos para po-
derem identificar uns aos outros sem que seja
necessária uma só palavra. Acredita-se que, ao
cumprimentarem-se com um aperto de mão,
por exemplo, existem detalhes sutis, como o po-
sicionamento dos dedos, que deixam escapar o
vínculo daquela pessoa com a sociedade secreta.
O polegar dobrado sobre a mão que se está cum-
primentando seria característico dos aprendizes.
Já se os polegares tocarem o pulso um do outro
depois do cumprimento, aí é sinal de que os dois
maçons se reconheceram. Por sua vez, durante o
abraço, os braços se cruzam nas costas, formando
um “X”. Depois disso, os maçons bateriam três
vezes nas costas um do outro.
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 Folclore

Por trás das

fechaduras Entre as diversas teorias sobre a Ordem, uma das mais
difundidas é a de que os templos maçônicos abrigam
práticas satanistas e rituais ocultistas
Texto Bruno Ribeiro Design Mary Ellen Machado

“A
bandone a Maçonaria,
abandone o Satanis-
mo e vem correndo
para Deus”. Este foi o
recado do parlamentar Cabo Daciolo
(PTdoB-RJ) para o presidente Michel
Temer, em mais um episódio singular
durante um discurso no Plenário da
Câmara dos Deputados, em Brasília.
Afinal, depois de assumir o lugar de
Dilma Roussef, uma das muitas po-
lêmicas em torno do chefe executivo
do país foi a notícia de que ele seria
um dos membros ilustres da socie-
dade secreta.
A história foi confirmada por Te-
mer: segundo o próprio político, ele
foi maçom entre os anos de 2001 e
2015, porém, pediu afastamento da
fraternidade, uma vez que as obri-
gações em Brasília o impediriam de
frequentar as reuniões semanais. A
necessidade de desvincular sua ima-
gem pública da Ordem também pode
estar relacionada à aura de mistério
– e uma certa rejeição – que envolve
a Maçonaria. Basta ver as acusações
do deputado, que a rotulou como
uma organização satânica, num
pensamento que também habita o
imaginário do senso comum. Mas
como este processo foi concebido ao
longo dos anos?
Cismas
Desde o século XVIII, para muitas
pessoas, os integrantes da Maçonaria
praticavam o culto e glorificação de
lúcifer, o qual seria venerado e a quem
deveriam obediência incondicional.
Alguns temas, como o aspecto filo-
sófico, a religiosidade e a participa-
ção da Maçonaria em determinados
movimentos geraram dificuldades
de interpretação sob os objetivos da
Ordem – confundindo-a com uma
religião, seita ou filosofia de vida.
E o gênesis da imagem negativa
deve-se a duas razões principais: pri-
meiramente, os conflitos da Maçonaria
com a Igreja Católica, sobretudo nos
séculos XVIII e XIX, posto que a insti-
tuição romana pregava a ideia de que
ser maçom e católico era contraditório.
Isso porque, embora as reuniões
maçônicas promovam a crença em
Deus, um exame mais detalhado

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 revela que os deuses do Islamismo,
Ilustração: Eugênio Tonon/Colanorador
Hinduísmo ou qualquer outra reli-
gião mundial também são aceitos, e
não necessariamente só a divindade
cristã. E isso fere um dos grandes
princípios bíblicos, o qual afirma que
Jesus Cristo é “a verdade, o caminho
e a vida (João 14-6)”, e ninguém vai
ao Pai se não for por ele. Logo, a alta
Imagens: Shutterstock Images
cúpula do Vaticano publicou diversos
manifestos condenando as práticas
heréticas da sociedade secreta.
O outro motivo seria o próprio ca-
ráter discreto e fechado da instituição
– bem como os juramentos de seus
membros, comprometendo-se a ja-
mais revelarem os segredos. Somados
à simbologia, os mistérios maçônicos
dão margem para a especulação so-
bre seus dogmas, princípios e, prin-
cipalmente, rituais, quase sempre
relacionados às práticas ocultistas.
Caveiras e caixões
A internet sempre foi um prato cheio
para a propagação de mitos e lendas.
Com a Maçonaria, não poderia ser
diferente. No YouTube, por exemplo,
é possível ter acesso a centenas de de-
núncias, acusações e até mesmo relatos
e revelações de supostos ex-membros
da Ordem. Porém, antes mesmo que o
mundo digital viesse à tona, algumas
teorias sobre como os integrantes são
iniciados já perambulavam por aí – e
uma das mais famosas é a chamada
“câmara da reflexão”.
Depois de passar por uma auditoria são utilizados nos mais diferentes rituais
e pela aprovação dos outros maçons, maçônicos, como espadas, o capuz, o
o candidato seria colocado em local chapéu de aba caída e outros tantos.
pintado de preto, com luz fraca (re-
metendo a uma catacumba), várias
inscrições nas paredes e cercado de
símbolos de destruição e morte; há,
por exemplo, uma mesa coberta com
um tapete e uma caveira, um caixão,
uma cova com um cadáver, etc.
O ritual significaria a morte do
profano (como são chamados os não
maçons) e o começo da vida maçôni-
ca, deixando para trás qualidades in-
feriores, vícios, paixões do intelecto,
crenças e preconceitos para aprender
a pensar. A câmara representaria o
isolamento do mundo exterior para
que o candidato conheça a si mesmo.
Depois disso, o iniciado – com a
camisa caída do lado esquerdo, dei-
xando o coração exposto, com a calça
levantada, uma corda no pescoço
(que indica que ele correria perigo se
tentasse fugir e também o estado de
escravidão em que vive o profano)
e olhos vendados – passa por uma
série de tarefas, por um juramento
de fidelidade e promete guardar
o segredo.
Finalmente lhe é tirada a corda
do pescoço e a venda para que ele
possa enxergar a “luz” e receber seu
avental de aprendiz e a revelação dos
segredos referentes a este estágio, como
toques, sinais e palavras. Além da corda
e da venda, há ainda vários objetos que
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272543_5.pdf_February 22, 2017_16:22:55
 Iniciação

Em busca
do Templo
Não basta ter vontade ou fé. Para
ser aceito na Maçonaria, é preciso
de alguns outros preceitos
Texto Nathália Piccoli/Colaboradora
Design Ana Paula Maldonado/Colaboradora

U
ma sociedade de cava- ta vontade ou fé. É necessário ser do do candidato. Histórico de brigas, ví-
lheiros preocupados sexo masculino, ser maior de idade e cios, bebedeiras, dívidas e traição, por
com os valores morais acreditar em um Deus. Geralmente, exemplo, são considerados inaceitáveis
e espirituais, além de o homem interessado demonstra sua e funcionam como fator eliminatório.
uma das fraternidades mais antigas e vontade em fazer parte da Maçonaria Nenhum novo membro entra para
populares do mundo”, essa é a defini- para algum membro da loja em que ele a loja sem o consentimento de todos
ção que Christopher Hodapp, maçom pretende ingressar. Assim, o maçom os maçons. A escolha acontece por
desde 1998, apresenta no livro Ma- pode indicá-lo dentro de seu grupo meio de bolas brancas e pretas que
çonaria para Leigos. E é justamente a para que possam avaliá-lo. O possível são colocadas pelos filiados dentro de
combinação dessa popularidade junto novo irmão terá toda a sua vida in- uma espécie de urna, chamada caixa
ao mistério envolvido que faz com que vestigada e avaliada por um período de escrutínio. As bolas brancas indi-
tantas pessoas tenham curiosidade em que varia entre seis meses a um ano. A cam aprovação, enquanto as pretas,
sobre como é o processo para fazer sociedade secreta vai pesquisar sobre reprovação – o indivíduo só é aceito
parte dessa sociedade secreta. a família, os amigos, a vida financeira, se a urna estiver “limpa” (apenas com
Para se tornar um maçom não bas- os hábitos e até mesmo a ficha policial bolas brancas).

Editora-chefe Viviane Campos Editora Carolina Firmino Redação Bruno Ribeiro e Érica Aguiar Design Zu Fernandes (Editora-chefe), Mary Ellen Machado e Rafael © EDITORA ALTO
Nakaoka Estagiários Fabio Toledo, Nathália Piccoli, Rafael Guimarães e Vinícius Gálico (redação); Ana Paula Maldonando (design) Tratamento de imagem Edson Iukawa ASTRAL LTDA. TODOS OS
(Editor especial), Ariane Silva, Sarah Cazzoni Grupo Editorial Raquel Luciano (Editora-chefe), Fernanda Villas Bôas (Assistente editorial), Otávio Mattiazzo Neto (Criação DIREITOS RESERVADOS.
História em Foco e desenvolvimento de produto), Lissandra Mahnis (Circulação) Impressão GRAFILAR Gráfica Distribuição Total Express Publicações PROIBIDA A REPRODUÇÃO.
Maçonaria - PRESIDENTE João Carlos de Almeida DIRETOR EXECUTIVO Pedro José Chiquito DIRETOR COMERCIAL Silvino Brasolotto Junior DIRETOR DE REDAÇÃO Sandro Paveloski EDITORIAL Gerente Mara De Santi PUBLICIDADE
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272544_6.pdf_March 3, 2017_16:51:49
 A iniciação
Após a votação, se ocorrer tudo bem
e o candidato for aceito, o novo irmão
participará do ritual de iniciação, assu-
mindo deveres que o acompanharão
por toda sua jornada dentro da Ordem.
Mas, o que são esses juramentos? De
acordo com um artigo publicado na
revista Universo Maçônico, os votos
são palavras ritualísticas que, quando
pronunciadas por um membro, tra-
zem “um influxo de ideias que têm a
intenção de excitar-lhes a imaginação
e a mente, a fim de que refletindo sobre
cada passagem dos compromissos, pos-
sa aperceber-se dos seus significados
ocultos, substância primordial e in-
substituível da sua imersão na Ordem”.
O voto maçom pode ser conside-
rado um contrato no qual o membro
não pode – sem qualquer exceção –
quebrar alguma das regras. Após as
investigações, a aceitação e a inicia-
ção realizada, o iniciante é reavaliado
constantemente, principalmente sobre
suas obrigações com a fraternidade.
As reuniões costu-
mam acontecer uma vez por
semana e durar a noite toda – é
extremamente proibido faltar a qual-
quer uma delas. Para deixar de ir, mes-
mo que o motivo seja muito sério, é
preciso pedir autorização para
os outros membros.
Ritual maçom
É muito difícil saber com exatidão o
momento do juramento maçom, pois o
pacto de silêncio sobre os rituais é feito
nesse momento. O que conhecemos e
temos como base são relatos de histo-
riadores e ex-maçons, que revelam o
passo a passo do ritual.
Na cerimônia que concede o título
de Aprendiz, o iniciado fica de joelhos,
com os olhos vendados, representando
o período em que ainda não consegue
ver a luz. A mão direita é colocada sobre
o livro sagrado da loja, enquanto com
a mão esquerda segura o compasso,
com as pontas apoiadas no peito, sim-
bolizando o reconhecimento pleno da
harmonia. Assim, começa a recitar o
juramento perante a assembleia.
A primeira obrigação do juramento
é o pacto de silêncio. A segunda regra
é a de não registrar sinal revelador. Isso
significa não escrever, gravar ou formar
nenhum sinal que possa revelar algo so-
bre a Maçonaria. Já o terceiro princípio
diz respeito à “união com a fraternidade
espiritual”, se comprometendo a aju-
dar seus irmãos sempre que preciso,
compreendendo que a Ordem é um
só corpo. Após ter jurado sobre essas
três regras, a cerimônia passa a tratar
da moral maçônica, com a história da
Ordem, a importância do trabalho, da
família e de manter uma conduta que o
torne digno da estima de seus irmãos.
Em seguida, é apresentado a eles os
símbolos da Maçonaria e a partir de
então, entende-se que o iniciado, enfim,
tornou-se um maçom.
O grupo dos jovens
Os membros da Ordem DeMolay
são jovens rapazes, entre 12 e 21 anos,
que praticam rituais secretos, envoltos
de mistérios e são mais numerosos do
que se imagina. Mas, afinal, o que é ser
um DeMolay? Essa ordem foi criada no
dia 24 de março de 1919, pelo maçom
Frank Sherman Land. A inspiração
do grupo é a vida e morte de Jacques
DeMolay – patrono do grupo – e seus
preceitos que são a fraternidade e o
companheirismo. Destinado aos jovens,
é financiado e mantido pela Maçonaria.
Hoje, a base da Ordem são os grupos
denominados Capítulos. Neles são feitos
os trabalhos de iniciação, ou o Grau
Iniciático. Com o desenvolvimento do
jovem, ele pode ser iniciado também
na Ordem Sagrada dos Soldados Com-
panheiros de Jacques DeMolay. Nas
reuniões do grupo, os jovens aprendem
muita coisa: a doutrina maçônica, co-
mo falar em público, os procedimentos
parlamentares, conceitos de hierarquia,
respeito às regras e os conceitos de res-
ponsabilidade. O mantra principal des-
ses jovens é: “Para ser útil à sociedade
não é necessário ser um DeMolay, mas
para ser um DeMolay é necessário ser
útil à sociedade”. Estima-se que a Ordem
tenha aproximadamente quatro milhões
de jovens em todo o mundo. No Brasil,
são cerca de 790 Capítulos, que recebem
em suas reuniões 200 mil jovens.
Juramento
Segundo o livro Ritual do Simbolismo
Aprendiz Maçom, do autor J.M Rigon,
este seria um trecho do juramento reali-
zado pelo Aprendiz durante a cerimônia
de iniciação: “Eu (cita o seu nome), juro
e prometo, de minha livre vontade e por
minha honra e pela minha fé, em presen-
ça do Grande Arquiteto do Universo e pe-
rante esta assembleia de maçons, solene
e sinceramente, nunca revelar qualquer
um dos mistérios da Maçonaria que me
vão ser confiados, senão a um legítimo
irmão ou em loja regularmente constituí-
da; nunca os escrever, gravar, imprimir ou
empregar outros meios pelos quais possa
divulgá-los. Se violar este juramento, seja-
me arrancada a língua, o pescoço cortado
e meu corpo enterrado na areia do mar,
Foto: Shutterstock Images
onde o fluxo e o refluxo das ondas me
mergulhem em perpétuo esquecimento,
sendo declarado sacrilégio para com Deus
e desonrado para os homens. Amém”.
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