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A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL – 195 ANOS

I – INTRODUÇÃO

Dos muitos comentários,


apresentações, escritos e afins sobre a
Maçonaria e a Independência do Brasil
que compõem a nossa literatura,
infelizmente boa parte dela, sob a óptica
da autenticidade histórica, não é de
conteúdo muito recomendável,
principalmente quando tratamos de
autores ufanos que fazem o jogo da
parcialidade e produzem escritos
tendenciosos.
Na realidade essa presunção acabou, às vezes, por trazer uma narração
distorcida e ineficaz dos fatos, o que acabou em prejuízo para as gerações
futuras.
Essa alusão é feita principalmente àqueles maçons
maniqueístas que num desmedido esforço ufanista tem levado os incautos a
acreditar que todo o vulto de destaque da História é, ou foi um Maçom por
princípio e por definição, enquanto que os de destaques negativos passam
providencialmente despercebidos.

Sob a óptica de se vangloriar e arrogar méritos extraordinários,


alguns, sem uma análise mais crítica dos fatos, ainda acreditam que muitos
acontecimentos históricos da humanidade se deram pela participação ativa da
Maçonaria.

Devido a esse equivocado meio de observar a história é que


datas foram alteradas, documentos esquecidos, fatos verdadeiros postergados
e mal interpretados, outros ainda simplesmente inventados, transformando boa
parte da literatura da história num tribunal tendencioso onde os fatos verdadeiros
são julgados, contados e difundidos segundo visões absolutamente temerárias.
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É fato, entretanto que nem tudo tem sido elemento perdido, pois
a verdadeira pesquisa e historiografia maçônica têm evoluído bastante nos
últimos anos, graças a um restrito grupo de pesquisadores sérios que trabalham,
ou trabalharam, incansavelmente com fatos e dados comprovadamente
primários e cientificamente elaborados e organizados em oposição à fantasia, à
quimera, às especulações e a lei do menor esforço.

Assim, sem o propósito de servir de um tribunal é que escrevo


esse pequeno arrazoado, suportado por uma bibliografia confiável, sobre alguns
fatos que construíram a história da nossa independência.

Se for o caso, quaisquer críticas sobre os fatos e os personagens


aqui mencionados ficam por conta do discernimento e do raciocínio crítico dos
meus leitores. Não há pretensão alguma que esse conteúdo venha induzir ou
influenciar a opinião de alguém.

Desse modo é oportuno mencionar aqui o que escreveu Pitigrilli,


em “O Experimento de Pott”: “O espetáculo de um homem julgando o outro, me
faria rir, se não me causasse piedade”.
Com o propósito de abordar alguns fatos relativos à
Independência do Brasil não poderia ficar de fora o protagonismo dos maçons
brasileiros do Grande Oriente do Brasil - a primeira Obediência maçônica
brasileira que foi fundada a l7 de junho 1822 e se envolveu de modo oficial na
campanha separatista do Brasil de Portugal.

É inquestionável que a Independência do Brasil e a Maçonaria


Brasileira tenham caminhado lado a lado nesse mosaico da História do Brasil,
tornando-se um atrativo principal para a elaboração dessa peça de arquitetura
que, embora sucinta, traz no seu conteúdo o ideário temático deixado por dois
dos mais respeitáveis autores da vertente autêntica da Maçonaria – Irmãos José
Castellani e Frederico Guilherme da Costa.

II – O PRINCÍPIO DA MAÇONARIA NO BRASIL.

Nos primeiros tempos de existência de agrupamentos maçônicos no


Brasil, esses de maneira geral objetivavam acabar com o regime colonial
imposto por Portugal, o que acabaria por produzir a participação maçônica
como movimentos autonomistas regionais, geralmente mais dirigidas para a
implantação de repúblicas individuais ou delimitadas, do que para a
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emancipação de todo o Território brasileiro. A despeito disso, entretanto, não
deixava de ser o princípio de um movimento que viria culminar em 1.822 com
a independência do nosso País.
Embora inúmeras especulações sobre terem Lojas maçônicas
existido no Brasil a partir da metade do século XVIII, na verdade, de acordo com
o manifesto do Grão-Mestre José Bonifácio de Andrada em 1.832, tomando-se
em conta a regularidade de uma Loja Maçônica, a primeira Loja regular foi
fundada em 1.801 no Rio de Janeiro, sob o título distintivo de “REUNIÃO” e era
movida pela liturgia e com fins político-sociais. Era filiada ao Oriente da Ilha de
França, representada pelo cavaleiro Laurent, que na oportunidade presidira a
sua instalação.

Segundo o mesmo manifesto, dois anos depois o Grande


Oriente Lusitano desejando também propagar no Brasil a verdadeira doutrina
maçônica, nomeou três delegados para criar Lojas regulares no Rio de Janeiro,
o que resultou na instalação das Lojas CONSTÂNCIA e FILANTROPIA, as quais,
em conjunto com a primeira – a REUNIÃO – serviram de centro comum para
todos os Maçons existentes no Rio de Janeiro.

Consideradas como regulares essas foram às primeiras Lojas


em solo brasileiro, embora até existissem outros agrupamentos secretos, mais
ou menos nos moldes maçônicos, a exemplo do Areópago de Itambé que existiu
nas raias entre a Paraíba e Pernambuco em 1.796.

Após a fundação das três primeiras Lojas “oficiais” espalharam-


se nos primeiros anos do século XIX muitas Lojas maçônicas nas províncias da
Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro.

Entretanto, fatos ligados à Corte portuguesa e sob o governo do


Conde dos Arcos – D. Marcos de Noronha e Brito, inimigo ferrenho da Maçonaria
– último dos vice-reis do Brasil no período compreendido entre 1.806 até 1.808,
ano da chegada da família real portuguesa ao Brasil, tinha o mesmo instruções
da Coroa para perseguir e fechar Lojas. Assim, as Lojas Constância e a
Filantropia, em 1.806, contiveram as suas atividades, o que provocaria uma
interrupção nos trabalhos maçônicos, pelo menos no Rio de Janeiro, já que na
Bahia e em Pernambuco, eles continuaram.

Mesmo no Rio de Janeiro, não demoraria a que os trabalhos


secretamente fossem retomados, a exemplo da Loja São João de Bragança que
reunia a elite maçônica carioca, principalmente os que pertenciam à Corte,
embora esses também estivessem livres das perseguições do Conde dos Arcos.

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Destarte as perseguições sofridas, a Maçonaria continuava a
crescer em solo brasileiro pelo surgimento de mais Lojas como, por exemplo, a
Virtude e Razão (mais tarde Virtude e Razão Restaurada) na Bahia, a
Restauração, a Patriotismo, a Guatimozin, a Regeneração em Pernambuco.

Cabe mencionar que a Loja Regeneração foi criada com


finalidade política e como cerne de instalação para outras Lojas, pois dela
fizeram parte os principais próceres da Revolução Pernambucana datada 06 de
março de 1.817.

Outra Loja importante que merece menção pela sua atividade


política foi a “Distintiva”, fundada em 1.812 na freguesia de São Gonçalo com o
objetivo revolucionário e republicano.

A despeito da importância de todas as Lojas dessa época, sem


dúvida a mais importante para o ideário da Independência do Brasil foi a Loja
“Comércio e Artes”. Essa Loja permanecia independente e adiava a sua filiação
ao Grande Oriente Lusitano, já que os seus membros pretendiam fundar uma
Obediência exclusivamente brasileira e com fins políticos para emancipação do
território brasileiro. Assim, em 1815 era fundada no Rio de Janeiro à Rua
Pedreira da Glória, na casa de João José Vahia, a Loja Comércio e Artes.

III – AÇÕES DA MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA.

Com o fracasso da

Revolução Pernambucana de

1817, era então expedido a 30

de março de 1818 o alvará que

proibia o funcionamento das

sociedades secretas. Com isso as Lojas resolveram cessar as suas

atividades até que pudessem, sem correr perigo, ser reabertas.

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Embora a latente proibição, mesmo assim os maçons continuavam

secretamente a trabalhar no Clube da Resistência, fundado por Joaquim da

Rocha, na sua própria casa que ficava situada na Rua da Ajuda no Rio de

Janeiro.

Em 1821, isto é, três anos mais tarde, certos acontecimentos


fariam com que a Maçonaria brasileira voltasse à atividade abertamente.

Com a insurreição das tropas que impunham ao rei D. João o


juramento à Constituição Portuguesa, o fato provocou intensa conspiração dos
brasileiros (dentre os quais muitos Maçons) que visavam à imediata ação para a
Independência do Brasil.

Os acontecimentos seguintes e ocorridos nos dias 20 e 21 de


abril do mesmo ano fizeram com que os eleitores revoltados exigissem a
permanência do Rei no Brasil, o que provocou a pronta reação das tropas
portuguesas para garantir o embarque da família real.

Embora, devido aos acontecimentos existisse uma especial


vigilância policial contra os maçons, o fato mesmo assim não impediu que a Loja
“Comércio e Artes” voltasse a trabalhar secretamente, sendo a mesma
reinstalada na Rua São Joaquim, esquina com a Rua do Fogo no dia de São
João, a 24 de junho de 1821, conforme consta na sua ata de reinstalação.

O grande número de adesão à causa da Independência nos meses

subsequentes, fez com que acendesse a chama de se criar uma Obediência

Maçônica genuinamente brasileira, o que acabaria acontecendo já no ano

seguinte no dia 17 de junho de 1822, poucos meses antes da Independência,

com a divisão da Loja “Comércio e Artes” que formaria um trio de Lojas

fundadoras do Grande Oriente do Brasil.

A partir destes acontecimentos, a Maçonaria Brasileira deixava


de ser um grupo heterogêneo de Lojas, transformando-se em mais uma célula
do sistema obediencial, inserindo-a no contexto de toda a Maçonaria mundial.

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IV – OS ACONTECIMENTOS DE 1822 E A LUTA PELA INDEPENDÊNCIA.

Garantido o embarque e o retorno da família real, bem como a permanência

do Príncipe Regente D. Pedro I no Brasil, o clima político parecia bastante

temerário quanto à volta de um Brasil Colônia com desfazimento do reino de

Portugal-Brasil e Algarves, fato que causaria retrocesso na condição

sustentada até então pelo Território brasileiro.

A luta pela independência do Brasil era a meta específica dos fundadores

do Grande Oriente Brasílico, posto que o processo emancipador já houvesse

sido iniciado antes mesmo do dia 17 de junho de 1.822, a data da fundação

da Obediência.

O primeiro passo oficial dos

Maçons nesse sentido foi o “Dia do

Fico” que se deu em 09 de janeiro de

1822 e representou a desobediência

aos decretos 124 e 125 emanados das

Cortes Gerais Portuguesas que

exigiam o imediato retorno do príncipe a Portugal e a reversão do Brasil para

a sua condição colonial.

O episódio do “Fico” foi arranjado sob a liderança dos Maçons José

Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira, bem como a representação de

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diversas províncias que alimentavam a desobediência aos decretos e a

permanência do príncipe no país.

Em 24 de dezembro de 1.821, a representação paulista, redigida pelo

maçom José Bonifácio, com a virilidade que sempre o caracterizou,

mencionava o seguinte:

“É impossível que os habitantes do Brasil, que forem honrados

e se prezarem de ser homens – e mormente os paulistas –

possam consentir em tais absurdos e despotismos... V. Alteza

Real deve ficar no Brasil, quaisquer que sejam os projetos das

Cortes Constituintes, não só para o bem geral, mas até para a

independência e futura prosperidade do mesmo. Se V. A. Real

estiver (o que não é crível) deslumbrado pelo indecoroso decreto

de 29 de setembro, além de perder para o mundo a dignidade

de homem e de príncipe, tornando-se escravo de um pequeno

grupo de desorganizadores, terá que responder perante o céu,

pelo rio de sangue que , decerto, vai correr pelo Brasil com a sua

ausência ...”

Assim também se deu com a representação fluminense escrita no

Convento de Santa Tereza e que foi redigida pelo maçom e Orador da Loja

“Comércio e Artes”, frei Francisco de Santa Tereza de Jesus Sampaio. Nos

trechos principais do manifesto redigido em 29 de dezembro de 1.821, pode-

se ler o seguinte:

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“(...) Na crise atual, o regresso de S.A. Real deve ser

considerado como uma providência inteiramente funesta aos

interesses nacionais de ambos os hemisférios. (...) Se os

motivos que as Cortes apontam para fazer regressar S.A. Real,

é a necessidade de instrução, de economia política, que o

mesmo senhor deve adquirir, viajando pelas Cortes da Europa,

o povo julga que se faz mais necessário, para a futura glória do

Brasil que S.A. Real visite o interior deste vastíssimo continente

desconhecido na Europa Portuguesa e, por desgraça nossa,

examinado, conhecido, descrito, despojado pelas nações

estrangeiras... (...) Sendo, portanto, de esperar que todas as

Províncias do Brasil se reúnam nesse centro de idéias e que se

espalha a lisonjeira notícia de que não se verificou o regresso de

S.A. Real.

No dia 09 de janeiro de 1822, na sala do trono e interpretando o

pensamento geral do povo brasileiro, cristalizado nos manifestos dos paulistas

e dos fluminenses e no trabalho de atrair dos mineiros, o Maçom José

Clemente Pereira, presidente do Senado e da Câmara, pronunciou inflamado

e contundente discurso referindo-se a permanência no Brasil do Príncipe-

Regente. Esse precioso texto esconde uma advertência e uma sutil ameaça

focalizando as intenções republicanas. Note-se a intenção e o subterfúgio

para alertar o príncipe:

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“(...) Ah, Senhor! E será possível que estas verdades, sendo tão

públicas, estejam fora do conhecimento de Vossa Alteza Real?

Será que V.A. Real ignore que um partido republicano, mais ou

menos forte, existe, semeando aqui e ali, em muitas províncias

do Brasil, por não dizer em todas elas? Acaso os cabeças que

intervieram na explosão de 1817 (Revolução Pernambucana)

expiraram já? E se existem e se são espíritos fortes e poderosos,

como se crê que tenham mudado de opinião?”

É inquestionável que essa colocação textual e ameaçadora pesou em

muito na decisão do príncipe em não atender

aos decretos que exigiam o seu retorno a

Portugal.

A alusão às hostes maçônicas era explícita e D.

Pedro conheceu-lhes a força e a influência.

Entendendo o recado declarou que pela

felicidade geral da Nação permaneceria no

Brasil.

Começava o aliciamento do Príncipe por parte dos Maçons, cuja

continuidade se daria logo depois, quando os Maçons fluminenses, sob a

liderança de Joaquim Gonçalves Ledo, resolviam, a 13 de maio de 1822,

outorgar-lhe o título de Defensor Perpétuo do Brasil.

O ato se deu numa cartada política pela qual não faltavam interesses das

lideranças que pretendiam melhorar as relações junto ao Regente e suplantar


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o prestígio do ministro todo-poderoso das pastas do Reino e de Estrangeiros,

José Bonifácio. Nas entranhas do aliciamento já afloravam os sentimentos

republicanos em oposição aos os monarquistas.

Na verdade, a chama da república fazia parte de uma ala que lutava pela

Independência e representada pelo seu grande líder Joaquim Gonçalves Ledo

que, em oposição a Bonifácio – de tendências monarquistas – propiciaria mais

tarde, célebres escaramuças entre monarquistas e republicanos. Embora

esse não seja um fato que mereça atenção no tema proposto (república x

monarquia), ele foi aqui citado apenas como exemplo para mostrar que

mesmo com tendências políticas antagônicas, os Maçons lutaram unidos por

um mesmo ideal - a Independência do Brasil.

Se o objetivo principal dos maçons em 1822 era conquistar a

Independência, outro fato relevante que deu suporte ao intento foi à fundação

do Grande Oriente do Brasil. Obediência criada com fins político-sociais, lutou

intensamente para a emancipação política do Brasil de Portugal.

A reinstalação da Loja Comércio e Artes, líder do movimento de

emancipação, fez com que houvesse um grande número de adesão,

resultando dela, por desdobramento, mais duas outras. Foi assim que sob os

auspícios deste triunvirato de Lojas foi fundado a 17 de junho de 1.822 o

Grande Oriente que seria a célula mater da Maçonaria brasileira, cuja qual

nos anos posteriores ainda seria partícipe de outros grandes acontecimentos

político-sociais da História do Brasil.

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Começando já no ano da sua fundação com a participação no movimento

pela emancipação política do Brasil, os seus fundadores ao encerrarem a

Sessão, prometiam solenemente que o Grande Oriente teria como meta

específica de seus esforços a Independência do Brasil.

Segue um pequeno trecho dessa promessa, a qual consta na Ata de

fundação e na oportunidade em que Joaquim de Oliveira Alvarez – delegado

do Grão-Mestre, prestava o seu juramento:

“(...) Prometo preencher todas as obrigações do meu cargo,

conformando-me com a Constituição deste Oriente e com os

Regulamentos, de uma maneira que possa promover o

aumento e glória deste Oriente e de todas as Lojas do

seu círculo, e empregar todos os meus esforços, sempre

que forem necessários, a bem dos maçons, e

sustentando a causa do Brasil, quanto compatível for

com as minhas faculdades... (...)”.

Funcionando num sobrado localizado na esquina da Rua São Joaquim

(hoje, Rua Marechal Floriano), com a Rua do Fogo (hoje, Rua dos Andradas),

o Grande Oriente Brasílico, logo depois iria se mudar para um prédio

localizado na Rua Nova do Conde n.º 4, no Rio de Janeiro.

A ata mostra que, para que fosse fundado o Grande Oriente Brasílico –

assim era chamado na época – a Loja Comércio e Artes, fundada em 1815,

formou por sorteio entre os seus membros, mais duas Lojas, a saber: a

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Esperança de Nicteroy e a União e Tranquilidade, cujas quais seriam

instaladas a 21 de junho de 1.822.

Consta na Ata que a Administração do Grande Oriente ficou assim

constituída: Grão-Mestre – José Bonifácio de Andrada e Silva, Delegado do

Grão-Mestre – Mal. Joaquim de Oliveira Alvarez, 1.º Grande Vigilante –

Joaquim Gonçalves Ledo, 2.º Grande Vigilante – Cap. João Mendes Viana,

Grande Orador – Cônego Januário da Cunha Barbosa, Grande Secretário –

Manoel José de Oliveira, Grande Chanceler – Francisco das Chagas Ribeiro,

Promotor Fiscal – Francisco Luiz Pereira da Nóbrega, Grande Cobridor – João

da Rocha e Grande Experto – Joaquim José de Carvalho.

Para a Loja Comércio e Artes, Venerável Mestre – Manoel dos Santos

Portugal; para a Loja Esperança de Nicteroy, Venerável Mestre – Pedro José

da Cunha Barros e para a Loja União e Tranquilidade, Venerável Mestre –

Albino dos Santos Pereira.

Todas estas informações constam nas dezenove Atas do Grande Oriente

do Brasil, desde a sua fundação até outubro de 1822 quando, os

acontecimentos internos (desentendimentos entre Ledo e Bonifácio) levariam

o Grão-Mestre D. Pedro I a suspender dos trabalhos no Grande Oriente que

seriam reabertos somente em 1831.

As dezenove atas contemporâneas dos acontecimentos da

independência eram produzidas de cinco em cinco dias como ficou

determinado na ocasião da fundação do Grande Oriente, quando então as

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Lojas fundadoras realizariam sessões, cada qual por sua vez, no espaço de

cinco dias.

Ainda, no tocante a condição para se ingressar no Grande Oriente,

seguem ilustrações que comprovam a adesão à causa da Independência.

Consta na ata da quarta Sessão do Grande Oriente, realizada em 08 de

julho de 1.922:

“(...) Para se evitar irregularidades a imperfeições nas

informações de adoção, estabeleceu-se que elas devem tocar

em quatro objetivos, em relação ao candidato: 1 – Estado civil:

se é casado, que tratamento dá à esposa e à família e, se é

solteiro, que decência observa de costumes; 2 – Emprego: que

crédito tem, no desempenho dos seus deveres civis e morais; 3

– Política: quais os sentimentos pela causa do Brasil e de

sua Independência; 4 – Costumes, em geral: que amor à

beneficência e adesão à amizade.”

Na quinta Sessão do Grande Oriente, realizada em 12 de julho do mesmo

ano consta:

“(...) Francisco Gomes da Silva... foi reprovado... por indiferença

a causa do país e mesmo de imoralidade.”

Mais adiante na mesma ata:

“(...) Que, em todas as Lojas do círculo do Oriente Brasílico haja

um Livro chamado dos Juramentos, no qual assinem os atuais

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operários e todos os filiandos e iniciados, fazendo-se expressa

menção da Defesa do Brasil e da sua Independência, sob os

auspícios de seu Augusto Defensor”.

V – A INICIAÇÃO DE D. PEDRO I.

O próximo passo para a concretização final do aliciamento do Príncipe

seria a proposição de sua Iniciação nos Mistérios da Ordem, o que ocorreria

no dia 02 de agosto de 1.822 por proposição do Grão-Mestre da Maçonaria

brasileira, Irmão José Bonifácio de Andrada e Silva. Consta na Ata da Nona

Sessão:

“(...) O Grão-Mestre da Ordem,

então o conselheiro José Bonifácio

de Andrada e Silva, ter proposto

ser Iniciado nos mistérios da

Ordem S.A. D. Pedro de Alcântara,

Príncipe Regente do Brasil e seu Defensor Perpétuo. E que,

sendo aceita a proposta, com unânime aplauso, e aprovada por

aclamação geral, foi imediata e convenientemente comunicada

ao mesmo proposto, que, dignando-se aceita-la, compareceu

logo na mesma sessão e sendo também logo Iniciado no

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primeiro Grau, na forma regular e prescrita na liturgia, prestou

juramento da Ordem e adotou o nome heroico de Guatimozin”.

Na Sessão seguinte, a Décima Sessão, realizada no dia 05 de agosto e

presidida interinamente pelo 1.º Grande Vigilante, Joaquim Gonçalves Ledo,

consta:

“(...) ter sido proposto e aprovado, para o Grau de Mestre

Maçom, o sobredito Ilustre Aprendiz Guatimozin, ficando

encarregado de conferir-lhe o Grau o Irm Manoel dos Santos

Portugal, Venerável da Loja Comércio e Artes, a cujo quadro

pertence aquele Irmão”.

Desse modo o processo maçônico para alavancar o ato de emancipação

política acabava de se consolidar com a Iniciação do Príncipe, cabendo agora

apenas esperar o momento oportuno para o alcance da meta.

VI – O SETE DE SETEMBRO.

Os últimos acontecimentos no Brasil exigiam por parte da Corte

Portuguesa o retorno imediato do príncipe para Portugal e, no dia 7 de

setembro de 1.822, na província de São Paulo, ocorreria à proclamação da

Independência a qual passaria para a história como o “Grito do Ipiranga”, isso

por ter surgido de uma exclamação exaltada de D. Pedro quando se

encontrava às margens do Riacho do Ipiranga na capital da província.


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É certo que o teatral gesto foi apenas o corolário de uma intensa luta

anterior e que apenas marcou uma posição simbólica, a partir da qual se fez

realmente a independência do Brasil.

Saliente-se que até mesmo neste gesto teatral houve a participação de

um maçom, o Grão-Mestre do Grande Oriente, José Bonifácio que, graças à

sua posição de prestígio no governo, conseguiu manobrar todos os cordéis e

scripts desse anfiteatro da história.

Antônio Menezes de Vasconcelos Drummond, destacado maçom e

emissário da Maçonaria nas províncias da Bahia e Pernambuco, de onde

havia recém regressado no

final de agosto de 1.822,

testemunhou os prévios

acontecimentos onde relata em

suas “Memórias”:

“José Bonifácio havia, também, naquele dia ou na véspera,

recebido novas de Lisboa; e, juntas estas com aquelas que eu

trazia (da Bahia), julgava conveniente acabar com os

paliativos e proclamar a independência (o grifo é meu). Fosse

essa ou a causa isolada, ou cumulativa com os seus desejos de

ser, a independência, proclamada na sua província, o caso é que

ele, desde logo entendeu que se não devia adiar para mais tarde

esse ato. O príncipe já estava em São Paulo e se a ocasião não

fosse aproveitada, quem sabe se outra poderia se propiciar tão


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cedo. Despediu-me e ordenou que eu me achasse às 11 horas

da manhã, no paço de São Cristóvão, mas que lhe entregasse

antes, todos os papéis que eu trazia, e para o que me esperava

até às 9 horas. Às 8 horas, eu já estava com ele, entreguei os

papéis... Às 11 horas, me achei no Paço de São Cristóvão, José

Bonifácio lá estava. Havia Conselho. Beijei a mão à princesa. No

Conselho se decidiu de se proclamar a independência.

Enquanto o Conselho trabalhava, já Paulo Bregaro (o emissário

de Bonifácio), estava na varanda, pronto para partir em toda

diligência, para levar os despachos ao príncipe regente. José

Bonifácio ao sair, lhe disse: - Se não arrebentar uma dúzia de

cavalos no caminho, nunca mais será correio; veja o que faz.

Não sei se Bregaro arrebentou muitos cavalos; o que sei é que

ele deu boa conta de sua missão e que fez a viagem em menos

tempo do que até então se fazia muito à pressa.

Os documentos levados pelo correio Paulo Bregaro e que acabariam

proporcionando os acontecimentos na colina do Ipiranga eram: a carta de D.

João ao seu filho; carta da princesa Leopoldina; carta de Chamberlain, agente

secreto do Príncipe; instruções das Cortes exigindo o regresso imediato de D.

Pedro e a prisão de José Bonifácio; e uma carta do próprio Bonifácio que

certamente pelo seu teor, influiu nos acontecimentos.

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Não menos importantes entre os outros documentos, a carta de Bonifácio

e da princesa Leopoldina, retratam com clareza a trama e as intenções de

induzir imediatamente o Príncipe a concretizar o ato da independência.

Em uma análise atenta do texto das duas cartas, vê-se como estavam

afinados o ministro e princesa, e como era grande a influência dele sobre ela,

sempre no caminho da independência do Brasil.

Por intermédio da Princesa, José Bonifácio fez com que suas palavras

convencessem o Príncipe a permanecer no Brasil separando-o de Portugal.

Por ela as suas palavras teriam mais peso e alcançariam o resultado

almejado.

A seguir vão os dois textos das cartas.

A primeira, de José Bonifácio:

– “Senhor, as Cortes ordenaram minha prisão por minha

obediência a V. Alteza. E no seu ódio imenso de perseguição

atingiram também aquele que se preza em o servir com a

lealdade e dedicação do mais fiel amigo e súdito. O momento

não comporta mais delongas ou condescendências. A revolução

já está preparada para o dia de sua partida. Se parte, temos

revolução do Brasil contra Portugal e Portugal atualmente não

tem recursos para subjugar um levante, que é preparado

ocultamente, para não dizer, quase visivelmente. Se fica, tem V.

Alteza contra si o povo de Portugal, a vingança das Cortes, que

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direi?! Até a deserdação, que dizem esta combinada. Ministro

fiel, que arrisquei tudo por minha Pátria e pelo meu Príncipe,

servo obedientíssimo do Senhor D. João VI, que as Cortes têm

na mais detestável coação, eu, como Ministro, aconselho a

Vossa Alteza que fique e faça do Brasil um reino feliz, separado

de Portugal, que é hoje escravo das Cortes despóticas. Senhor,

ninguém mais do que sua esposa deseja sua felicidade e ela lhe

diz em carta, que com esta será entregue à Vossa Alteza deve

ficar e fazer a felicidade do povo brasileiro, que o deseja como o

seu soberano, sem ligações e obediências das despóticas

Cortes portuguesas que querem a escravidão do Brasil e a

humilhação do seu adorado Príncipe Regente. Fique , é o que

todos pedem ao magnânimo Príncipe que é Vossa Alteza para

orgulho e felicidade do Brasil. E se não ficar, correrão rios de

sangue, nesta grande e nobre terra, tão querida do seu Real Pai,

que já não governa em Portugal, pela opressão das Cortes;

nesta terra que tanto estima a Vossa Alteza e que tanto Vossa

alteza ensina”.

A da Princesa Leopoldina:

– “Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no Paço há

revolucionários. Até portugueses são revolucionários. As Cortes

portuguesas ordenam a vossa partida imediata, ameaçam-vos,

humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar.


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Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças se

partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que têm sofrido

nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não

governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes,

que perseguem e humilham os soberanos, a quem devem

respeito. Chamberlain vos contará tudo o que sucede em Lisboa.

O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer

para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele

fará a sua separação. O pomo está maduro. Colhei-o já, senão

apodrece. Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio

que conheceu todas as cortes da Europa, que vale de vosso

Ministro fiel, é maior de vossos amigos. Ouvi o conselho de

vosso Ministro, se não quiserdes ouvir o de vossa amiga. Pedro,

o momento é o mais importante de vossa vida. Já dissestes aqui

o que ireis fazer em S. Paulo. Fazei, pois. Tereis o apoio do

Brasil inteiro e contra a vontade do povo brasileiro os soldados

portugueses que estão nada podem fazer”.

A preciosidade do texto fala por si.

O resultado dessa intenção pode ser avaliado pelo texto escrito pelo

Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, membro da Loja Comércio e Artes que

acompanhava a comitiva do príncipe D. Pedro naquela oportunidade.

Portanto, um testemunho do acontecimento.

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Segue a carta do Padre Belchior publicada em 1.826 por M. J. Rocha. Diz

a mesma em seus principais trechos. É antológica essa preciosidade:

“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo

Bregaro e Antonio Cordeiro”. (...) D. Pedro, tremendo de raiva,

arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-

os e deixou-os na relava. Eu os apanhei e guardei. Depois,

abotoando-se e compondo a fardeta (pois vinha de quebrar o

corpo à margem do riacho Ypiranga, agoniado por uma

disenteria, com dores, que apanhara em Santos), virou-se pra

mim e disse:

- E agora, padre Belchior?

- E eu respondi prontamente: - Se V. Alteza não se faz Rei do

Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas.

Não há outro caminho senão a independência e a separação.

- D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente,

acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em

direção aos nossos animais, que se achavam à beira da estrada.

De repente, estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me:

- Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes

me perseguem, chamam-me, com desprezo, de Rapazinho e de

Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho. De hoje

em diante estão quebradas as nossas relação: nada mais quero

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do governo português e proclamo o Brasil para sempre separado

de Portugal!

(...) E arrancando do chapéu o laço azul e branco, decretado

pelas Cortes, como símbolo da nação portuguesa, atirou-se ao

chão dizendo:

- Laço fora, soldados! Viva a independência, a liberdade, a

separação do Brasil.

- Respondemos com um viva ao Brasil independente e separado

um viva a D. Pedro.

O príncipe desembainhou a espada, no que foi acompanhado

pelos militares; os paisanos tiraram os chapéus.

E D. Pedro disse:

- Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu “DEUS”, juro

fazer a liberdade do Brasil.

- Juramos! Responderam todos.

D. Pedro embainhou a espada, no que foi imitado pela guarda,

pôs-se à frente da comitiva e voltou-se, ficando em pé nos

estribos:

- Brasileiros, a nossa divisa, de hoje em diante, será

Independência ou Morte!

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“(...) Firmou-se nos arreios, esporeou sua besta baia e galopou,

seguido de seu séqüito, em direção a São Paulo, onde foi

hospedado pelo brigadeiro Jordão, capitão Antonio da Silva

Prado e outros, que fizeram milagres para contentar o príncipe.

Mal apeara da besta, D. Pedro ordenou o seu ajudante de

ordens que fosse às pressas ao ourives Lessa e mandasse fazer

um dístico em ouro, com as palavras “Independência ou Morte”,

para ser colocado no braço, por um laço de fita verde e amarelo.

E com ele apareceu o espetáculo, onde foi chamado o rei do

Brasil pelo meu querido amigo alferes Aquino e pelo padre

Ildefonso (...).”

Além do relato, até emocionante, descrito na carta do padre Belchior,

existem outros depoimentos e documentos que comprovam que o “Grito do

Ipiranga” foi verdadeiramente um fato e não uma lenda. Entre eles destaque-

se o relato do coronel Manoel Marcondes de Oliveira e Mello, comandante da

Guarda de D. Pedro; a descrição da viagem do Príncipe, do Rio de Janeiro a

São Paulo, feita pelo gentil-homem de sua câmara, Francisco de Castro Canto

e Mello; relato de Paulo Antonio do Valle, participante da comitiva do Príncipe;

relato contido no diário particular de Antonio Mariano de Azevedo Marques; a

Proclamação de D. Pedro aos paulistanos, assinada pelo príncipe no dia 08

de setembro e afixada em todos os lugares públicos da cidade; documentos

existentes no Museu Paulista, construído junto ao Monumento do Ipiranga;

etc.

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É unânime entre os autênticos historiadores que no exame de todas as

narrativas, se podem notar, principalmente pelos relatos integrais das

testemunhas, que as narrativas são conscientes em todos os pontos. Delas a

indisposição do príncipe, acometido por uma disenteria que o obrigava a

constantes paradas; a chegada de Paulo Bregaro, o correio; a leitura das

cartas e a revolta do Príncipe; o gesto teatral da “Independência ou Morte!”

com todos os detalhes; a recepção no teatro, à noite, e a saudação do povo

ao príncipe tratando-o como “Rei do Brasil”.

Um fato pitoresco fez com que

alguns historiadores desatentos,

embarcassem em um erro histórico

produzido pelo pronunciamento de

Joaquim Gonçalves Ledo no dia 09 de

setembro de 1.822 no Rio de Janeiro.

Alheio aos acontecimentos do dia 07 de setembro em São Paulo,

conforme consta na ata da Décima Quarta Sessão do Grande Oriente

realizada no Rio de Janeiro no dia 09 de setembro, nela consta que foram

convocados os maçons membros das três Lojas Metropolitanas para esta

Sessão Extraordinária, com o especificado fim adiante declarado, sendo

também presidida pelo sobredito 1º Grande Vigilante Joaquim Gonçalves

Ledo, no impedimento do Grão-Mestre José Bonifácio, dirigindo, do sólio,

enérgico e fundado discurso, demonstrando com as mais sólidas razões, que

as atuais políticas circunstanciais de nossa pátria, o rico, fértil e

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poderoso Brasil, demandavam e exigiam, imperiosamente, que a sua

categoria fosse inabalavelmente formada, com a proclamação da nossa

independência e da Realeza Constitucional, na pessoa do Augusto

Príncipe, Perpétuo Defensor do Reino do Brasil (o grifo é meu). Consta

também, que esta moção fora aprovada por unanimidade e simultânea

aclamação expressada com ardor do mais puro e cordial entusiasmo

patriótico.

Pelas circunstâncias e pelas dificuldades de uma época em que num

Brasil colonial as dificuldades de locomoção e a distância fazia enorme

diferença, já que os correios eram feitos nos lombos de animais, a notícia da

proclamação da independência por D. Pedro apenas chegou ao conhecimento

do público no Rio de Janeiro no dia 10 de setembro.

Nessa conjuntura é que Ledo, alheio ao acontecido por falta de

informação, proferiu o enérgico discurso no dia 9 de setembro, dois dias

depois da Independência proclamada em São Paulo.

Embora a falta de informação natural da época, não se pode tirar o mérito

deste grandioso maçom e importante personagem na luta pela independência

da nossa Pátria.

Joaquim Gonçalves Ledo, que adotou o nome histórico de Diderot,

nascido em 1.781 no Rio de Janeiro, seguramente foi um dos maiores maçons

brasileiros da sua época, tendo sido bastante injustiçado na História do Brasil,

pois a historiografia, de maneira geral, pouco o cita no movimento

emancipador brasileiro.
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Ledo lutou de modo austero pela independência e fez da Maçonaria um

centro incrementador das idéias de liberdade. Em 1821 fundaria com o

cônego Januário da Cunha Barbosa, o Revérbero Constitucional Fluminense,

jornal que teve formidável influência no movimento libertador, pois contribuiu

para a formação de uma consciência brasileira, despertando a alma da

nacionalidade. Trabalhou pela reinstalação da Loja Comércio e Artes em

1.831. Em 13 de maio de 1822, por obra do seu grupo, o Príncipe Regente

recebia o título de Defensor Perpétuo do Brasil. Foi um dos fundadores do

Grande Oriente do Brasil e nele ocupou o cargo de 1º Grande Vigilante.

VII – CONCLUSÃO.

Com esses apontamentos, mesmo que de modo compacto, esperamos

ter trazido um pouco de luz sobre os fatos acontecidos há cento e noventa e

cinco anos atrás com a participação dos ícones da história da Independência

do nosso País, destacando como partícipe o Grande Oriente do Brasil que

também nascia no ano de 1822 para servir à causa separatista.

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

SET/2017

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ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO SUMÁRIO

CASTELLANI, José – Maçons na Independência do Brasil, Editora Maçônica A

Trolha, Londrina, 1993.

CASTELLANI, José – História do Grande Oriente do Brasil, GOB, Brasília,

1993.

CASTELLANI, José; COSTA, Frederico Guilherme da – Conjuração Mineira e a

Maçonaria que não Houve – Editora Maçônica A Trolha, Londrina,

1989.

COSTA, Frederico Guilherme da – Breves Ensaios sobre a Maçonaria Brasileira,

Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1993.

ARÃO, Manoel – História da Maçonaria Brasileira, Recife, 1925.

BRASIL, Grande Oriente do – Primeiras Atas 1822 – Rio de Janeiro.

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