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ATUAÇÃO MAÇÔNICA EM ARACAJU: ASSISTENCIALISMO E FILANTROPIA

NA LOJA MAÇÔNICA COTINGUIBA (1895 – 1920)

1. INTRODUÇÃO
A atuação da maçonaria e suas relações sociais ao longo da história são temas ainda
pouco recorrentes e trabalhados na academia brasileira, embora encontremos alguns poucos
estudos de grande relevância (BRAGANÇA, 1987; CAMINO, 1983; COUTO, 2006); bem
como trabalhos publicados na Revista Ciência e Maçonaria. A maior parte das pesquisas trata
da maçonaria no Brasil, com resquícios em Sergipe, e maiores considerações em sua capital.
Em linhas gerais, a Maçonaria é uma sociedade secreta, que surgiu com o intuito de
difundir valores liberais, filosóficos, filantrópicos, educativos, progressistas, que adota a
investigação da verdade, em regime de plena liberdade. Sendo um grupo que por trás de toda
sua simbologia possuía uma ideia de sociedade que se pautava no debate sobre os grandes
temas (questões sociais, melhor modelo de governo, etc.), que, em nosso caso naquele
contexto procuravam contribuir para a construção da identidade nacional anos antes da
República.
Em vez de um ’’culto religioso’’, a Maçonaria pode ser referenciada como uma
sociedade ética e moral. Valores éticos como ‘’amor fraternal, ajuda ao próximo e verdade’’
são ensinados através da prática do ritual e do cerimonial. Esses ensinamentos são reforçados
pelo uso de numerosos símbolos nas Lojas Maçônicas e nos ensinamentos Maçônicos.
Símbolos esses, tais como o esquadro, o nível e o prumo são tirados da área de construção.
Entre suas diversas inciativas de manifestação de ideais, destaca-se seus projetos sociais,
como os que resultaram na criação de instituições de auxílio mútuo, de beneficência (asilos,
hospitais e orfanatos) e de educação.
A Maçonaria em Sergipe nasceu em meio a dificuldades sociais e políticas, quando o
Brasil ainda se ressentia da guerra do Paraguai. Maçons sergipanos, intensamente
comprometidos com as lutas em torno da liberdade, fraternidade e humanidade, vinculados
aos ideais republicanos e com a propaganda em favor da escravatura negra, fundaram a 10 de
novembro de 1872 a Loja Maçônica Cotinguiba.
A Loja Maçônica Cotinguiba era, no fim do império, começo da República, único
refúgio sergipano de liberais, resistência de uma elite que não deixava a liberdade de
pensamento soterrada pela violência dos autoritários e dogmáticos. Ela enfrentava, por isso,
muitas lutas e era estigmatizada e perseguida pelo clero católico, principalmente1.
A história da igreja católica no Brasil e o seu relacionamento com a Maçonaria,
refletem traços peculiares a própria história da Igreja no mundo. No Brasil, à época da
República, a Igreja abandonava pouco a pouco a estrutura do poder e os hábitos do período
colonial. Depois veio a ameaça dos protestantes e dos comunistas iniciados nas Lojas
maçônicas, despertando certa agressividade apostólica.2

1 Anderson Nascimento, 2000, p. 28.


2 Anderson Nascimento, 2007, p. 140-141
1
No ano em que irrompia a famosa ‘’Questão Religiosa’’ 3 desencadeada pelo bispo de
Olinda, D. Vital, que perseguiu os maçons de irmandades católicas e, mais tarde, a escalada
do protestantismo em Estância, provocou ao longo dos anos grandes fissuras na hegemonia do
pensamento católico dominante. A atuação dos maçons era muito discreta, imperceptível na
maneira de agir, enquanto que a dos protestantes era ostensiva, desabusada na afirmação de
sua crença.
Outro aspecto que merece ser apontado refere-se à relação da Maçonaria com o
protestantismo no Brasil, correntes que estabeleceram estreitos vínculos no decorrer do século
XIX. Ao compartilharem de interesses comuns, dentre os quais se destaca a secularização da
sociedade, como meio de garantir não só a liberdade civil e religiosa, mas, sobretudo, de
neutralização da ação anti-progressista da Igreja. A aproximação entre a elite liberal brasileira
– fortemente inserida na maçonaria, e os protestantes tinha um caráter estratégico. Esta elite
reconhecia na educação pragmática protestante, inclinada mais para a ciência e às tecnologias
do que para as ‘’belas letras’’, uma via para o progresso do país e um contraponto à ação
pedagógica tradicional e escolástica oferecida pela Igreja Católica às elites. Deste modo, a
ideia de ‘’progresso’’ na sua concepção mais ampliada, apoiada no princípio da liberdade
individual, serviu como elemento de ligação entre liberalismo, maçonaria e protestantismo no
Brasil estando a imigração protestante diretamente relacionada à entrada de novos
conhecimentos, novas tecnologias e, por conseguinte, ao crescimento econômico.
A Loja Maçônica Cotinguiba, desde então primava em manter-se misteriosa, com
reuniões secretíssimas. Portanto, causou alvoroço a notícia da sua primeira sessão de caráter
público, realizada em 6 de julho de 1873, com o comparecimento maciço da sociedade
aracajuana, em sinal de júbilo pelo fato de ter o Imperador Pedro II, por esforços da
Maçonaria, dado provimento ao recurso imposto pela Irmandade do SS. Sacramento da Igreja
de Santo Antônio do Recife, relacionado à suspensão que lhe impôs o então bispo, em face
daquela corporação não haver expulsado do seu seio, um sócio que era maçon.
À época, já funcionava em Aracaju a Loja ‘’Segredo e Amizade’’. E os seus membros
somaram-se aos da Cotinguiba, numa sessão conjunta, em 14 de outubro de 1873, para
reafirmarem os seus princípios em torno da emergente liberdade de culto, em clara rivalidade
com a Igreja Católica.
Nos anos de 1918 e 1919 os maçons da Cotinguiba cessaram de bater os malhetes 4 e
arregaçaram as mangas para o desempenho de um trabalho invulgar de combate à epidemia,
denominada influenza espanhola, que assolou a capital sergipana, por mais de um ano.

3 Questão Religiosa. Sequencia de atritos entre a Igreja Católica e o governo imperial brasileiro, relacionados
com a postura adotada por alguns bispos católicos contra a Maçonaria. Esses conflitos revelaram o
enfraquecimento do poder político da hierarquia católica no Brasil e desgastaram o prestígio do império,
constituindo-se num dos fatores que conduziriam ao fim da monarquia e à proclamação da República. Desde o
século XIX, a Maçonaria teve entre seus quadros importantes personalidades públicas, ligadas aos movimentos
de emancipação nacional e posteriormente, militantes decididos da causa republicana. As lojas maçônicas
aceitavam adeptos de todas as crenças religiosas, incluindo altas autoridades católicas. Em 1872, alguns bispos
resolveram aplicar uma antiga bula papal, que proibia a participação do clero nas lojas maçônicas. O governo
imperial intercedeu em favor dos religiosos que pretendiam continuar ligados aos maçons. De início, o papa
procurou um acordo com o imperador, mas depois que os bispos contrários a maçonaria foram condenados à
prisão pela justiça brasileira, entenderam que a sentença era um insulto pessoal e, em represália, deu todo seu
apoio à luta contra o setor maçônico do clero. O imperador viu-se obrigado a conceder anistia aos bispos
sentenciados.
4 Malhete, pequeno martelo de madeira, símbolo da autoridade colocado sobre a mesa ou trono do Venerável,
para, por meio de golpes, dirigirem os trabalhos maçônicos. Deixar ou cessar de bater os malhetes significa a
suspensão, temporária, das atividades da loja.
2
Juntaram-se às autoridades públicas tentando minimizar os efeitos da gripe espanhola que
vitimou as vidas de inúmeras pessoas.
Clodomir Silva acentua que pelo seu trabalho de assistência social, a Loja Maçônica
Cotinguiba foi destacada pelo governo do estado, em Mensagem Presidencial de 1919, assim
registrada:
Associados à obra do Governo, diversas corporações puseram-se logo a
campo no intuito de trabalhar pela causa comum. Dentre ellas avultou
pelo desinteresse e pela abnegação com que se movimenta a ‘’LOJA
MAÇÔNICA COTINGUIBA’’.
Esta sociedade sem perceber do Estado um ceitil 5, desenvolveu a mais
nobre e a mais grandiosa tarefa, merecedoras dos maiores elogios. Seus
filiados percorriam as ruas que lhe foram destinadas, entregavam os
medicamentos que serviam ao período da moléstia em que estava o
doente, recolhiam observações, e, assim, em um lapso de tempo
pequeno relativamente à zona de que ocupavam – Avenida Barão de
Maroim até a extremo do local denominado Carro Quebrado – puderam
dar como não carecendo de mais cuidado, o trecho que lhes coube,
podendo, por este motivo extender mais a sua acção.
Era este dividido e 7 districtos, sendo sua sede em um posto à rua de
Itabaiana, onde se distribuíam sopas, leite e alimentos outros, os quaes
também ministravam os encarregados aos atacados em seus domicílios.
Dos 885 doentes que estiveram a seu cargo, falleceram 19.
Superintendia o serviço geral o professor José de Alencar Cardoso, e o
serviço clínico o dr. Berillo Leite.6

A Loja Cotinguiba não se descuidou de suas atividades culturais e dos seus trabalhos
filosóficos, contando com muitos obreiros que militavam na vida política do estado, nas
letras, na magistratura, na advocacia e no magistério, devendo-se destacar os nomes de:
Clodomir Silva7, Epifânio Dória8, etc.
Ademais, os Maçons da Loja Cotinguiba, atendendo sempre às necessidades sociais do
povo (considerando a campanha liderada por Olavo Bilac, que situava o analfabetismo como
problema nacional, responsável pelo atraso político, cultural e econômico) resolveram criar,
em 24 de setembro de 1916, a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, visando erradicar o
analfabetismo em Sergipe.

5 Ceitil. Moeda portuguesa antiga.


6 Silva, 1920, p. 123.
7 Clodomir de Souza e Silva. Advogado. Jornalista. Político e folclorista, nasceu em Aracaju (SE), a 20/02/1892.
Venerável da Loja de 1924 a 1925. Deputado Estadual (1920/25). Teve marcante atuação na vida literária de
Sergipe. Publicou ‘’Minha Gente’’, o ‘’Álbum de Sergipe’’ e vários artigos em jornais da época. Redator do
Sergipe Jornal. Diretor de A Folha. Grau 33 da Loja Maçônica Cotinguiba. Cofundador da Academia Sergipana
de Letras, onde ocupou a cadeira número 13, que tem como patrono Frei Santa Cecília. Faleceu a 10/08/1932.
8 Epifânio da Fonseca Dória. Político. Historiador. Nasceu em 7 de abril de 1884. Foi Deputado Estadual e
Secretário de Estado. Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Diretor da Biblioteca Pública,
que hoje leva o seu nome. Venerável da Loja de 1926 a 1927. Faleceu em 8 de junho de 1976.
3
Sincronizada com os acontecimentos dos principais centros urbanos do país, a
campanha estadual seguiu o exemplo da Liga Brasileira contra o Analfabetismo (LBCA).
Essa associação foi fundada, por sua vez, no Clube Militar do Rio de Janeiro, em 21 de abril
de 1915, por membros das forças armadas, do direito, das letras e medicina, dentre eles, o
poeta Olavo Bilac. A principal meta da LBCA foi livrar o país do analfabetismo até o ano do
primeiro Centenário da Independência do Brasil (1922).
Em Sergipe, a ideia da criação de uma liga contra o analfabetismo já circulava desde o
ano de 1915. Itala Silva de Oliveira foi quem primeiro se manifestou a respeito e criticou a
demora da adesão estadual ao movimento nacional pró-educação elementar. Incomodada com
a baixa escolaridade dos sergipanos, ela produziu uma série de artigos que publicou na
imprensa local e nacional, com denúncias acerca da vergonha que o analfabetismo impunha
ao país. Parecia-lhe um vexame sem tamanho a morosidade com que os seus conterrâneos
tratavam a questão, considerando o fato de Sergipe contar apenas 17% da população
escolarizada.
A primeira medida efetiva em prol do funcionamento da LSCA foi a criação de uma
escola noturna feminina por iniciativa de Thales Ferraz. Diretor-gerente da fábrica Sergipe
Industrial e renomado filantropo de Sergipe, ele atendeu ao pedido de Ítala Silva de Oliveira
para dar impulso a longa campanha educacional. Foram criadas trinta e oito escolas até 1950,
mantidas com recursos próprios, subvenções públicas e particulares, especialmente doadas
por entidades como estas: Academia Sergipana de Letras, Cruz Vermelha de Aracaju, Centro
Cívico Amynthas Jorge, Clube Esperanto, Loja Maçônica Cotinguiba e Rotary Club de
Aracaju.
A história da LSCA traz um forte apelo aos brasileiros do passado, no sentido de
honrar a pátria, com ações efetivas em prol do bem comum. Ao presente, lança questões, pois
diz respeito às possibilidades dos indivíduos se organizarem em prol da melhoria de vida, sem
esperar da ação governamental, apenas, as soluções para os problemas sociais. Quiçá, os
homens e mulheres de hoje que ainda se veem incomodados com a situação educacional do
país possam se inspirar nessa história!

2. OBJETIVOS

2.1. Geral
O trabalho consiste em analisar a maçonaria sergipana, representada no final do século
XIX e início do XX (1895 – 1920) pela Loja Maçônica Cotinguiba do Oriente de Aracaju
através, inicialmente, de uma percepção social e das ações assistencialistas desta associação
na capital sergipana e seus embates com a Igreja Católica. No decorrer do trabalho
monográfico posterior, tentarei se possível, pesquisar alguns de seus aspectos secretos e de
difícil acesso a informações, dos quais coloco em pauta na justificativa.

2.2. Específicos

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Analisar, inicialmente, as práticas dessa loja no momento em que a mesma vai atender
parte das necessidades em relação à educação e saúde das comunidades carentes de Aracaju,
como:
• Empreender um estudo sobre esta “associação” e sua atuação na prática educativa e em prol
da erradicação do analfabetismo em Sergipe no início do século XX com a criação da Liga
Sergipense Contra o Analfabetismo;
• Analisar a atuação dos maçons na luta contra a epidemia de sífilis proliferada no ano de
1919 na capital sergipana através da criação do Dispensário Contra a Syphilis;
• Avaliar a importância da atuação maçônica para a população carente de Aracaju com o
conceito de sociabilidade.
• Entender estas ações com o conceito de cultura política aplicado e identificar a
repercussão em toda a comunidade.

3. JUSTIFICATIVA
Esse projeto de pesquisa tem como cerne a observação da atuação da Loja Maçônica
Cotinguiba no cenário social, cultural e educacional de Aracaju, no período entre o final do
século XIX e início do XX. É um estudo de cunho documental, que desenvolvi no sentido de
identificar as possíveis estratégias de intervenção de uma rede de sociabilidade maçônica no
processo de expansão de suas ações sociais, em conformidade com um projeto de reforma
social mais amplo. Em continuidade a essas análises, o projeto propõe identificar quais foram
às estratégias de resistências instituídas pela Igreja Católica frente ao projeto liberal
maçônico.
Dentre o conjunto de estudos historiográficos sergipanos, a carência acerca dos
estudos sobre a maçonaria é bastante evidente, notando-se poucas publicações e
pesquisadores interessados na temática ou até mesmo nos assuntos relacionados. Essa
escassez e falta de interesse de conteúdo publicado, somada a admiração pelo tema, foram os
principais motivos que me despertaram para a pesquisa. Faltou-me tempo e fontes suficientes
para analisar seus aspectos mais misteriosos, como o caráter das reuniões secretas, os
principais temas discutidos nas reuniões, como fazia para se tornar um membro, se tinham
algum tipo de ritual ou cerimônia de iniciação.
Sabendo que a maçonaria foi e é uma instituição de grande relevância e que muitas
vezes possuiu o papel de agente econômico-social na história da sociedade, o estudo em
relação ao assunto torna-se de fundamental importância para o mundo acadêmico e toda a
comunidade sergipana, principalmente a aracajuana.
O presente estudo tem buscado, assim, abordar as ideias e atitudes de atores
envolvidos no contexto da promoção de políticas públicas, de forma a inseri-las no conjunto
das práticas sociais, procurando identificar quais os pressupostos que embasaram o
pensamento destes intelectuais e as formas de difusão de suas ideias no seio de uma
‘’sociedade secreta’’ que é a Maçonaria na sociedade aracajuana, representada pela Loja
Maçônica Cotinguiba que em vista desses grandes serviços, foi elevada a categoria de
Benemérita da Ordem Maçônica, pelo que ficou intitulada: Augusta e Benemérita Loja
Capitular Cotinguiba.

5
Portanto, a relevância deste estudo assenta-se na possibilidade de compreender a
dinâmica estabelecida entre a concepção liberal maçônica e a ação conservadora da Igreja
Católica frente ao processo de escolarização da sociedade aracajuana nas primeiras décadas
do século XX. Neste caso, estudar a Maçonaria em Aracaju seria uma das possibilidades de
compreender as inúmeras relações de poder que se estabeleceram nesta sociedade, onde se
pode perceber em seu contexto sociocultural a presença de vários projetos de escolarização
em disputa.
Além disso, sem desconsiderar as particularidades que envolveram tal contexto, esta
pesquisa, em certa medida, nos permitiria ainda, divisar os meandros da ação efetiva de uma
rede de sociabilidade no processo de secularização da sociedade brasileira, bem como a
constituição de diferentes projetos de Nação, e, por conseguinte de Educação, que se
configuraram a partir da década de 1920 em nosso país.

4. HIPÓTESES
A maçonaria contribuiu para a profissionalização das camadas mais humildes de
Aracaju, através da Liga Sergipense contra o Analfabetismo (que inicialmente foram
operários para as fábricas têxteis do Bairro Industrial e outros prestadores de serviços como
ferroviários, marítimos, comerciários e artesãos) de acordo com a demanda de vagas nesses
setores.

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Torna-se importante ressaltar que em Sergipe quase não existe outros trabalhos sobre a
política social maçônica da Loja Cotinguiba, especialmente quando deixamos de lado o
dicionário de Armindo Guaraná, o álbum de Clodomir Silva, as Efemérides de Epifânio Dória
e um trabalho de José Anderson Nascimento, que dedicam fragmentos a parte do tema em
questão, já que nestas leituras podem-se encontrar informações sobre a Loja Maçônica
Cotinguiba e suas contribuições para a prática educacional, mas que infelizmente são
limitadas por sua abordagem descritiva, apesar de ter encontrado um fundamentado suporte
teórico.
Encontrei apenas dois trabalhos somados a esta lista – estes de cunho analítico – que
foram transformados em dissertações de mestrado, um de Clotildes Farias de Souza e outro de
José Anderson do Nascimento.
Como nosso foco são programas assistencialistas desenvolvidos através da política
social maçônica, em especial a Liga Sergipense contra o Analfabetismo e também o
Dispensário contra a Syphilis, que desenvolveram várias atividades e programas deste cunho,
percebe-se que estes trabalhos incipientes, não dão conta dos objetivos, mas que irão ajudar
de forma significativa no desenvolvimento inicial da pesquisa.

6. REFERENCIAL TEÓRICO
No campo teórico, buscaremos dialogar com algumas produções sobre a Maçonaria no
Brasil, principalmente artigos presentes na Revista Ciência e Maçonaria (disponível online);
6
principalmente com os trabalhos desenvolvidos em Sergipe (NASCIMENTO, 2000, 2007,
2010; SOUZA, 2004).
Assim, pode-se dizer, que enquanto restrição em relação ao objeto abordado, usarei a
‘’redução de escala’’ defendida por Carlo Ginzburg, uma vez que tomamos como foco um
curto espaço de tempo (1895 – 1920) e pequenas ações, como as sociais (a criação da Liga
Sergipense contra o Analfabetismo e também o Dispensário contra a Syphilis). Buscaremos
desenvolver nosso estudo pautado nos conceitos de sociabilidade (MOREL, 2001) e de
Cultura política (MONTALVÃO, 2008).
Os trabalhos historiográficos mais recentes, que tiveram a Maçonaria como objeto de
pesquisa, buscaram compreendê-la como um espaço de sociabilidade moderna, através do
qual se permitia um amplo movimento de ideias que ultrapassavam os limites desta
organização se difundindo pelos núcleos urbanos. Esta instituição era marcada por conflitos
de influências de contextos diversos, buscava através de um grupo social organizado seu
engajamento na promoção de uma verdadeira reforma social. Assim, a Maçonaria passa a ser
entendida como uma escola de formação política, onde os homens aprendiam novas regras
que deveriam ser difundidas para nortear a vida de uma sociedade. Ou seja, uma forma
associativa moderna de sociabilidade e cultura política.
Por sociabilidade, Morel defende como um objeto de reflexão social, psicológica e
política, pelas quais se devem abordar as relações de poder que se formam para além do
aparelho estatal, que como categoria histórica possibilita compreender estas organizações
como uma estrutura associativa que fixou-se ao longo do tempo, formada pela densidade de
existências de outras constituídas e suas mutações num quadro geográfico e cronológico
delimitado, ou seja, parte de uma malha de organizações que se colocam entre o cidadão e o
poder, que participam da estruturação da vida política de uma determinada sociedade, mesmo
não concorrendo para o exercício direto do poder. Estrutura associativa esse que se situa entre
a família e o espaço público, que é voluntariamente organizado onde as tradições têm uma
determinada dimensão simbólica, falando-se até em identidades culturais.
Neste caso, conhecer o espaço associativo maçônico implica conhecer também a rede
de relações que se estabelece dentro desta instituição, formada por atores inseridos em um
determinado contexto sociocultural.
Então, para Montalvão, pode-se compreender a atuação desta rede de sociabilidade
como um grupo de intelectuais engajados na vida social, porém, não perdendo de vista que tal
estrutura se organiza também em torno de uma sensibilidade ideológica ou culturais comuns e
de afinidades mais difusas, mas igualmente determinantes. Deste modo, ele entende que para
a Nova História Intelectual política situa-se na noção de ‘’engajamento’’ na vida da cidade
como ator político. O intelectual se põe a serviço da causa que defende, sendo sua notoriedade
de natureza sociocultural, ou seja, seu reconhecimento ou distinção é dado pela própria
sociedade em que atua que legitima o seu engajamento.
Assim, esta pesquisa visa, sem perder de vista o contexto histórico mais amplo, numa
perspectiva de complementariedade entre o macro e as nuances mais particulares do espaço
urbano aracajuano, abordar tal prática associativa como era concebida em tempo por seus
pares, enquanto uma via privilegiada de transformação de uma sociedade tradicional numa
sociedade baseada no princípio contratual de relação com a autoridade, que outorgava a este
espaço de sociabilidade uma ação pedagógica definidora de uma nova racionalidade na
formação da opinião pública sergipana.

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7. FONTES E METODOLOIGAS
O acervo da própria loja que disponibilizou para o estudo, os livros das atas
correspondentes ao período trabalhado, na qual se relata, entre encontros e reuniões, muitas
decisões de fundamental importância: a constituição do Grande Oriente do Brasil e o
Regulamento Geral da Ordem, para que se possa entender de forma justificável a ação desta
associação maçônica na atuação social; e o Estatuto da Liga Sergipense contra o
Analfabetismo, para que seja compreendido os objetivos do programa, bem como sua função
para a pesquisa.
O trabalho será elaborado a luz desse material, extraindo e analisando todas as
informações possíveis, ou seja, todos os registros. Dentre as fontes coletadas, todas foram
bem exploradas para a obtenção de bons resultados. Buscaremos dialogar com o método
indiciário de Carlos Ginzburg (1989).
Ginzburg é fascinado por uma investigação quase criminal, detetivesca, que desvenda
o mistério baseado em indícios imperceptíveis para a maioria das pessoas. Buscando uma
documentação diferente para a interpretação dos feitos históricos, lança mão de documentos
iconográficos, edifícios, medalhas, moedas, atas judiciais e processos inquisitoriais, em geral
tratados com certo preconceito pelos historiadores tradicionais. Método capaz de despertar o
olhar do historiador para detalhes aparentemente tidos como secundários, mas que podem
esconder a chave de entendimento de uma sociedade num determinado período de tempo,
com interpretações que abrem a possibilidade de permitir visões distintas de um mesmo
assunto ou objeto, chegando a verdades e verossimilhanças diversas. Constrói, dessa maneira,
visões alternativas que se contrapõem as oficiais e chama a atenção para os problemas que
isso pode acarretar. A existência de abertura para diferentes interpretações e pontos de vista é
possível no momento atual, em que se privilegia a diferença, a diversidade, o específico, a
problematização, mas que teria sido difícil fazê-lo no século passado ou na primeira metade
deste, quando praticamente não havia interrelação entre os campos disciplinares e eram
contempladas a s verdades absolutas.
Assim, para a construção do corpo documental, a pesquisa apoia-se em diversas
fontes. A escolha pauta-se nos mais diversos registros que possibilitem o diálogo com o tema
a ser estudado, a fim de se obter uma maior compreensão deste objeto. Tal diversificação
pode revelar aspectos e características diferenciadas das relações do homem, quer sejam com
outros homens ou com o meio em que vive.
A coleta desses dados deu-se a partir do contato com estas fontes e com uma posterior
transcrição, para um melhor manuseio destas. Posteriormente, foi feito o choque e o
cruzamento de informações das mesmas a fim de verificar sua veracidade. Feito isto, somei
tais informações e resultados ao conteúdo extraído das referências bibliográficas para a
formulação da discussão interdisciplinar teórico-metodológica e posterior redação final.

CRONOGRAMA

Atividades Tempo: 1 ano - Último Trimestre de 2016 e 2017 completo

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2017 2017 2017 2017 2017 2017 201 2017 2016 2016 2016 2016
7
Modificação no
projeto para
atender a x
críticas e x x x
progressão das
pesquisas
Coleta de mais
dados x x x
Análise e
processamento
x x x
Redação
x x
Correção do Set Out Nov Dez
texto e relatório 2017 2017 2017 2017
final x x x x

FONTES
Arquivo da Loja Maçônica Cotinguiba: Livros de Atas de 1910 a 1920.
Arquivo da Loja Maçônica Cotinguiba: Constituição do Grande Oriente do Brasil.
Arquivo da Loja Maçônica Cotinguiba: Regulamento Geral da Ordem.
Arquivo da Loja Maçônica Cotinguiba: Estatuto da Liga Sergipense Contra o
Analfabetismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Oficial, 1987.
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quadro teórico. 6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
BARATA, Alexandre Mansur. Luzes e Sombras: a ação da maçonaria brasileira (1870-
1910). 1. ed. Campinas: Editora da Unicamp – Centro de Memória da Unicamp, 1999.
BARROS. José de Assunção. O Campo da História. 6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
DÓRIA, Epifânio. Efemérides Sergipanas. (Org. Ana Maria Fonseca Medina. Aracaju:
Gráfica Editora J. Andrade Ltda. 2009.

9
DÓRIA, Epifânio. Veneráveis da Loja Contiguiba. Aracaju: 1961.
SILVA, Clodomir de Souza e. Álbum de Sergipe (1820 – 1920). Aracaju: Estado de Sergipe,
1920.
GUARANÁ, Manoel Armindo Cordeiro. Dicionário Bibliográfico Sergipano, (Edição do
Estado de Sergipe) Rio de Janeiro: Oficinas e Empreza Gráfica Editora Paulo, Pongetti & C.
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Morfologia e História. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, pp. 143-180.
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em Aracaju (1970-1980). São Cristóvão, SE, 2010. 85 f. Dissertação (Mestrado em
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__________. A Loja Maçônica Cotinguiba nos Caminhos da História. Aracaju: J.
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__________. Carvalho Neto - Série Vultos da maçonaria. Aracaju (SE): Loja Maçônica
Cotinguiba; Criação, 2013.
__________. Clodomir Silva - Série Vultos da maçonaria. Aracaju (SE): Loja Maçônica
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__________. Igreja e Maçonaria. Cadernos UFS – Direito/Universidade Federal de Sergipe.
– vol. 5 (1999), fasc. IX – Vol 5 – São Cristóvão: Editora UFS, 2007.
__________. Olhares Sobre a Loja Maçônica Cotinguiba. Aracaju: Criação, 2012.
MONTALVÃO, Sérgio de Sousa. Cultura Política: História e possibilidade de um
conceito. In: Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella
(org.). Caderno de resumos & Anais do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia.
A dinâmica do historicismo: tradições historiográficas modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 2008.
Disponível em: http://www.seminariodehistoria.ufop.br/seminariodehistoria2008/t/sergio.pdf.
Acessado em: 23/09/2016.
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http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2147/1286. Acessado em:
23/09/2016.

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