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Conceitos básicos -
velocidade e aceleração
Introdução
Velocidade máxima para mim, nunca foi fácil, quando criança era um
dos primeiros a sair na frente, mas curiosamente um dos últimos a
chegar. Dentre todas as capacidades físicas, essa é a que eu tinha
mais dificuldade.
Passei a adolescência inteira e o começo da vida adulta na água na
modalidade natação e com cerca de 23 anos “voltei para terra” e co-
mecei a me dedicar no esporte ao futebol americano flag. Fazia testes
do combine, e eu sempre um dos melhores nos testes de agilidade,
entretanto nas 40 jardas... marcar 5.3 completamente na mão para um
OLB/DE é HORRÍVEL. Mas eu não ligava para velocidade máxima,
achava (assim como muitos que vão ler esse livro) que futebol ameri-
cano é somente sobre aceleração e mudança de direção.
Em 2017 fui para o Corinthians Steamrollers e virei Defensive End.
Meu primeiro passo é e sempre foi muito rápido. Mas ir atrás do QB
em um rollout ou scramble? Nunca cheguei a pegar ninguém. Meu
treinamento, do qual sempre fui responsável, era cheio de agacha-
mentos, olímpicos pesados e saltos, então para que treinar velocidade
máxima?
Fui para a Europa jogar no Lisboa Devils com a intenção de conseguir
uma carreira de futebol americano, e antes de voltar para o Brasil con-
quistei o Campeonato Português.
No meio do caminho, apareceu uma grande chance de um Combine
da Podyum, na Alemanha, com vários coaches da Div. 1 alemã. Uma
grande chance, certo? Eu teria que melhorar minha velocidade máxi-
ma se quisesse alguma chance nas 40 jardas.
Foi aí então que comecei a estudar afundo o treinamento de velocida-
de, e descobri, como vocês vão ler neste livro, que ela pode impactar
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muito mais o seu jogo que você imagina, e é tão importante quanto a
aceleração ou mudança de direção.
Em meus estudos me deparei com um artigo do técnico Cam Josse,
que trabalha com Joe DeFranco, preparando, entre outros esportes,
atletas de futebol americano nos Estados Unidos, desde o High Scho-
ol e College para o Combine, além de veteranos da NFL.
Boa Leitura!
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Quando um zagueiro toma um drible da vaca, ele não vai colocar as mãos
no chão para ir atrás do atacante, que após fazer o toque do drible, está
em arrancada na postura alta para finalizar o lance.
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Sinto muito em quebrar seu coração porque seu wide receiver favorito é
um monstro na escada de agilidade, e como ele é muito rápido, você acha
que o treino de escadinha o deixou assim. Mas o trabalho geralmente
executado na escada de agilidade não tem nada a ver com o trabalho de
velocidade. Seu WR é muito rápido independente da escadinha, e atletas
rápidos tem melhor coordenação motora do que atletas lentos, por isso ele
vai bem no trabalho de escada.
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Pense assim: Você tem problemas com seu agachamento com 150kg
nas costas. Você acredita que somente educativos vão solucionar o pro-
blema?
Passe três semanas sem agachar, só utilizando corretivos, e me diga como
você se sente após essas duas semanas quando você voltar a colocar
uma barra com peso nas costas.
Identifique o problema, procure soluções simples e efetivas para melhorar
o que realmente importa: o sprint.
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Utilizar competições.
Muitos atletas fazem isso. Acreditam que por estarem competindo, vão
correr mais rápido. Mas não é bem isso. Quando você compete, o seu foco
passa a ser o outro, e não você. Esquece as correções técnicas que você
precisa executar durante um sprint, e o nível de tensão aumenta. Para
ficarmos mais rápidos, precisamos ter total atenção aos nossos pontos
técnicos e manter um estado ótimo de relaxamento/tensão.
Tudo isso vai para os ares em uma corrida contra alguém.
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Esses momentos que descrevi não são a única coisa que acontece em
um jogo. Na verdade, a maior parte do jogo é gasto longe da bola. Pensar
em um único gesto/momentos esportivo e basear todo seu treinamento
nele, é limitar seu atleta e colocar uma barreira no seu desenvolvimento
físico-técnico-tático-mental.
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Desenvolvendo um
programa efetivo de
melhora da velocidade
máxima.
Agora que já elencamos os “nãos”, vamos trabalhar nos “comos” e nos
“sims”! O que queremos:
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Pirâmide da técnica
Postura
Como podemos ver na imagem acima, a POSTURA é o primeiro e
mais importante fator a ser analisado e trabalhado. Corrigindo a postura,
muito das ações de perna e braço são corrigidas por arrasto, como con-
sequência.
Posicionamento pélvico
Vamos considerar dois posicionamentos básicos da pélvis:
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e desliga”.
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Menos comum, mas ainda assim ocorrente, são atletas que correm cor-
cunda, em flexão excessiva, especialmente na parte superior das costas,
ou na coluna torácica superior.
Três maneiras para corrigir o problema: o primeiro é solicitar ao atleta que
pare de exagerar, tanto na vontade ou em menores casos no relaxamen-
to. Isso demanda que o atleta tenha ótima consciência corporal. Caso ele
não consiga corrigir isso dentro dos tiros, reforce as posturas dentro dos
educativos, o que também exige um certo nível de consciência corporal.
Por fim, para atletas com baixa consciência, comece com o exercício ga-
to-camelo.
Esse exercício é ótimo, por que vai ensinar ao atleta o que é flexão e
extensão da coluna, nos seus diversos segmentos, e como sustentar ou
mudar essas posições. A partir daí você reforça os posicionamentos nos
educativos e depois nos tiros.
Rotação de tronco
Pode estar relacionada ao movimento dos membros superiores (como
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veremos adiante), mas também pode ser um fenômeno por si só. Quere-
mos evitar ou minimizar rotação de tronco excessiva por que, ao girar o
tronco, estamos quebrando o momentum que está acontecendo para o
deslocamento linear que é o trabalho de velocidade máxima.
Movimentação de pernas
Muitos pensam que a movimentação de pernas é o principal aspecto a
ser corrigido. Como já disse anteriormente, corrigindo a postura, muito da
movimentação de perna vem por consequência. Mas ainda assim, pode-
mos ver erros acontecendo mesmo com a melhora postural. Irei compar-
tilhar os erros mais comum que vejo com atletas que trabalham ou que
jogam/jogaram comigo.
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total.
O atleta está sim em explosão e máxima velocidade, mas também en-
contrando um equilibrio com o natural e o relaxado. Como não há exten-
são total, o atleta mantém o perfeito alinhamento postural e pode iniciar
sua próxima passada sem maiores problemas.
Deixando bem claro, não busque extender totalmente a perna que está
em contato com o solo. Não chute a porta de trás.
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do modelo biomecânico.
Não estou dizendo que seus pés não devam abrir um pouco após você
elevar os joelhos.
Eles na verdade devem, ou você não irá atacar o solo de maneira adequa-
da. Mas, na minha experiência, quando ensinamos os atletas conceitos
de postura e de exagero de passada, eles ajustam muito naturalmente
para próximo do ideal.
Quanto mais alto você levanta o martelo, mais forte acerta o prego.
Diferentes atletas respondem de maneira diferente a diversas solicitações
de mudança de técnica, mas eu percebi que para a maioria dos atletas,
insistir em educativos específicos, trabalho de parede e tiros em ritmo são
ótimos para solucionar esse problema.
Irei abordar os educativos e os outros exercícios que mencionei mais à
frente.
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Pés “frouxos”
Você corrigiu sua passada, sua musculatura posterior é potente e você
consegue manifestar toda sua velocidade de maneira relaxada. Tudo isso
se converte para um único ponto: seus pés e tornozelos e o momento
em que eles atacam o chão. Agora é a hora da verdade. Por que você
quer converter tudo isso em contato, aplicar força rápida no chão, para
ele te devolver essa força e você ser propulsionado. Mas seus pés estão
frouxos, fracos, fora de posição. Toda aquela energia gerada é dissipada
quando você atinge o solo. Triste demais, e eu já estive no seu lugar.
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Movimentação de braços
A movimentação de braços geralmente apresenta menores proble-
mas, e corrigindo os outros problemas (postura e perna) ela tende a vir de
arrasto. Mas existem alguns aspectos na movimentação de braços que
são comuns e podem acontecer por si só e influenciar o resto da cadeia.
Vou citar os que mais comumente vejo em atletas.
Se este for o seu caso, primeiro de tudo, aprenda a respirar pelo dia-
fragma. Segundo a tensão tem uma velocidade horrível. Já o relaxamento
é muito rápido. Jogue seus ombros para suas orelhas o mais alto possível.
Sinta seu trapézio superior encolher, fazer força. Agora faça o oposto. Fuja
os ombros das orelhas. Você irá sentir o trapézio inferior (no “miolo das
costas”).
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Eles estão duros, rígidos, tensionados? Talvez sim, alguns atletas soltam
os ombros quando soltam as mãos, e para outros é o contrário. Não tente
descobrir qual deles é você. Solte esses dois locais e corra mais rápido.
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Educativos
Educativos são essenciais, mas como meu técnico de sprint Carlão
da CH Runners sempre me diz, tem de haver intenção. Drills espalhados
e feitos de qualquer maneira não vão ajudar ninguém a ficar mais rápi-
do. É preciso que os drills sejam escolhidos para atacar os problemas da
melhor maneira com otimização do tempo e menor gasto de energia. Se
você quer melhorar seu tackle, não vai ficar fazendo duas horas de catch,
vai? Vou listar aqui os educativos que melhor atacam os problemas mais
comuns em jogadores de campo/quadra.
Wall Drill
Esses educativos são ótimos, pois isolar o atleta em uma parede de
modo que ele possa focar exclusivamente em aspectos posicionais, pos-
turais e de movimentação de membros inferiores antes de também se
preocupar também com deslocamento e equilíbrio como em educativos
de pista.
Vamos pedir para o atleta fazer o movimento cíclico das pernas en-
quanto está apoiado na parede. Dividindo o movimento em três etapas,
a primeira é o calcanharr pra bunda. Essa fase é onde o atleta inicia a
recuperação de perna para início do próximo ciclo. Uma ótima dica aqui
é que o atleta preste atenção no nível de tensão que ele está fazendo em
sua musculatura de posterior de coxa. Atletas tendem a tencionar excessi-
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vamente esses músculos para realizar essa tarefa. E sim, o joelho pode e
deve começar a subir enquanto o calcanhar vai para a bunda.
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Marcha
Aqui vamos inserir deslocamento em baixa velocidade e exigir um con-
trole mais dinâmico. Devemos tentar carregar as dicas do exercício da
parede para a marcha. Como evolução, você pode solicitar ao atleta que
após o contato com o chão, ele fique na ponta dos pés, mas de maneira
reativa ao contato e não como se estivesse na musculação.
Bicicleta
O atleta vai realizar o movimento cíclico completo, mas sem sair em
sprint. Sim, vai parecer estranho. O ponto aqui é buscar manter o movi-
mento uniforme, achando um equilíbrio entre giro de membros e força. O
atleta deve sentir que está acelerando e ficando mais rápido conforme a
distância progride. 2 a 3 repetições de 30 metros, voltar andando.
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Corrida de ritmo.
Esse não é um educativo per se, mas funciona muito bem para começar
a transferir o que você aprendeu nos educativos, para a corrida em velo-
cidade em si. Dentro da distância escolhida, o atleta irá reproduzir o que
imagina ser a técnica perfeita da corrida de velocidade máxima. Mas você
não vai correr em velocidade máxima. É RITMO. Parece que você enga-
tou a quinta marcha, mas ainda está na velocidade de segunda. Está OK.
Se você sentir o corpo querendo acelerar, melhor ainda. Tudo bem ir mais
rápido conforme a distância aumenta. Só não transforme essa corrida em
um tiro. Pense em utilizar 70 a 80% da sua capacidade máxima.
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Tiros de velocidade
Como já disse anteriormente, educativos são importantes quando
escolhidos e bem direcionados. Mas você deve realizar corridas em ve-
locidade caso queira ficar mais rápido. Não dá para colocar 50kg no seu
agachamento sem agachar. É a mesma razão pela qual a conversação é
tão enfatizada em cursos de inglês.
Continuum da prescrição
A metragem que vamos prescrever e o intervalo de descanso entre
cada repetição são determinados pela sua velocidade, peso, e prática de
atletismo. Um wing que foi corredor de 100 metros na escola, e pesa 80kg
vai precisar de metragens e descansos muito maiores do que um pivô
do handebol que nunca fez um educativo de corrida. Isso porque o atleta
mais rápido é capaz de produzir maiores níveis de potência e velocidade,
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Como guia, vocês podem utilizar a tabela abaixo. Lembre-se que nada
disso está escrito em pedra. Existem atletas leves que não são tão rápidos,
e atletas maiores que são rápidos. Além disso, conforme o atleta evolui e
melhora sua velocidade e conhecimento, ele pode “migrar” de uma ponta
para o meio, ou do meio para a outra ponta.
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Fall in
Aqui o atleta basicamente vai correr a distância prescrita inteiramente
em velocidade máxima. 20 a 60 metros, não importa. O detalhe desse tiro
é a saída. O atleta não vai sair de uma posição estática (2, 3 ou 4 pontos),
mas sim de um movimento dinâmico. Posicionado de pé, o atleta vai deixar
seu corpo iniciar uma queda livre, ou então de maneira fluida e dinâmica o
atleta vai de uma posição alta para uma posição agachada ou curvada e
inicia o tiro. Isso ajuda a entrar em uma postura e em uma sensação mais
próximas da velocidade máxima e a entender a transição de aceleração
para velocidade.
FLYS
Vamos determinar duas metragens. A primeira metragem é a de ace-
leração, onde você vai construindo a velocidade, para quando chegar na
segunda metragem você atingir velocidade máxima. Por exemplo, um tiro
de 30m fly pode ser dividido em 20 metros de aceleração e 10 metros de
velocidade máxima.
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Floating
Esse método é especial para ensinar o atleta a relaxar durante a fase de
velocidade máxima, mas ainda assim aplicar “intenção”.
Imagine que você está coma sua moto, quinta marcha, 140km/h em uma
reta. Velocidade máxima. Você está com o acelerador no talo, injetando
o máximo possível de gasolina. Agora você encontra uma descida. Você
precisa continuar injetando gasolina no talo para manter a velocidade de
140km/h? Não, você mantém na quinta marcha, diminui o giro no acele-
rador e relaxa. Essa é a fase de flutuação, você já atingiu sua velocidade
máxima antes, na fase de decolagem. Agora é relaxar e manter o que já
foi alcançado. Eu não disse para colocar no ponto morto. Você ainda está
pilotando, ainda tem técnica, ainda tem intenção, mas você não precisa
mais socar tanta gasolina (esforço) para atingir o máximo.
Por via de regra, se você incluir a fase de aceleração ela sempre tem
que ser a primeira, e uma fase de flutuação nunca vai ser a primeira Fora
isso, sinta-se livre para montar o floating como quiser. Vou dar algumas
sugestões de divisão para ficar mais fácil a visualização.
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Exemplos:
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Conclusão
Aqui, descrevi uma metodologia, um plano eficaz e seguro para trabalhar
velocidade máxima no contexto do esporte coletivo. Coloquei também
meus melhores insights de um trabalho que continuo aprimorando, em
mim e em outros atletas. Espero com esse trabalho ajudar a desenvolver
uma cultura de treinamento de velocidade dentro do esporte coletivo,
para que nossos atletas tenham melhores condições de treino, menores
chances de lesões e um melhor desempenho.
Bibliografia
https://simplifaster.com/articles/rethinking-speed-american-football/
https://simplifaster.com/articles/nfl-speed/
https://simplifaster.com/articles/four-coactive-model-player-preparation/
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28658072/