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A tragédia tem sua origem no mesmo contexto em que

surgiu o teatro, quando os rituais primitivos eram o elo entre


os homens e seus deuses. Esses rituais eram realizados em
forma de catarse, onde todos os praticantes se envolviam no
transe sem distinção de papéis. Na medida em que os rituais
primitivos vão se estilizando e tornando-se litúrgicos, vai
surgindo uma hierarquia, indispensável para a organização
dos cultos aos deuses e em se tratando de teatro ao deus
Dionísio. Esta hierarquização vai criando os papéis dos
sacerdotes e celebrantes dos cultos, surgindo nesse processo
pessoas centralizadoras do "culto" e as participantes do
mesmo, dando início aos elementos atores e público. A
tragédia surge juntamente com a comédia, no teatro grego,
sendo que a primeira possuía um caráter nobre dentro das
comemorações ao deus da fertilidade, capturava a essência
humana e a sua relação com os sentimentos profundos de
amor, ódio, medo, traição, etc., enquanto que a comédia
surgiu das canções fálicas e tratava de assuntos do cotidiano,
da vida comum dos homens. Nas dionisíacas, festas em
homenagem ao deus Dionísio, havia concursos de tragédias,
cujo prêmio para o vencedor era uma cabra. Acredita-se que
a origem da palavra tragédia tenha vindo de "tragos", que em
grego significa cabra ou bode, animal que era sacrificado para
o ritual dionisíaco. Há outra possibilidade sobre sua origem,
que poderia ter surgido da palavra "tragoi", que em grego
significa adoradores ou seguidores de Dionísio.

O filósofo Aristóteles, em sua “Arte poética”, organiza a


tragédia em diferentes elementos que tem como finalidade a
purgação de emoções como a compaixão e o terror.
Inicialmente apresenta o personagem (ethos) com elementos
estranhos e indesejáveis, para que no decorrer da
apresentação, ele venha gradativamente passando por
situações catastróficas, não alcançando seus objetivos,
gerando no público uma identificação e por fim o efeito de
catarse. Aristóteles entende que a tragédia precisa ser um
espetáculo belo, onde se reúna o canto (melopéia,
composição melódica), a harmonia e o ritmo. Ele qualifica a
tragédia em seis elementos constitutivos, sendo elas a fábula
(ação ou enredo), o personagem (ethos, caráter), a elocução
ou dicção, o pensamento (dianóia), o espetáculo em cena, e o
canto (melopéia). Porém o seu modelo de estrutura da
tragédia inicia com o “prólogo” e segue com os “párodos,
“episódio”, “estásimo” e por fim o “êxodo”.

A evolução cênica da apresentação de uma tragédia começa


quando os personagens são apresentados com seus
“caracteres”, sua forma de agir e sua “dianóia”, a forma do
seu pensar que irá gerar determinadas ações. Em seguida o
espetáculo precisa fazer com que o público se identifique com
os personagens, gerando a “harmatia”, que é a impureza e a
falha de caráter do personagem, característica própria do ser
humano comum. Esta harmatia é a causadora da “empatia”,
que é a relação de comunicação entre o ator e o público, mas
em se tratando de tragédia não pode haver calmaria, então
entra em cena a “peripécia”, transformando de forma
repentina o destino do personagem, fazendo-o agonizar em
sua existência. Este personagem central, que costumava ser
o corifeu, líder do coro, possui a estratégia da “anagnorisis”,
onde discursa pelo reconhecimento da sua própria falha,
aceita e confessa seu erro, buscando a sua redenção, mas o
sistema trágico aristotélico não para por aí, é preciso a
“catástrofe”, o desmoronar de toda a estrutura ethos, o final
terrível próprio de uma tragédia. Por fim é nesta evolução que
o público realiza a sua “catarse”, a purificação da harmatia
apresentada no início do espetáculo trágico. Na Grécia do
século V a.C. acreditava-se que ao assistir as apresentações
das tragédias, saia-se do teatro purificado e transformado. Os
tragediógrafos mais conhecidos do período clássico são
Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Suas obras são apresentadas
até hoje.

A sátira grega também era uma vertente da tragédia, que


acontecia num tempo menor e tratava de assuntos
depreciativos do ser humano, passando pela ironia e pelo
cômico. Era sempre apresentada após três tragédias e uma
comédia nas festas dionisíacas.

A tragédia influenciou os códigos teatrais até o período do


“classicismo francês”, que após este momento o drama, e o
melodrama, começa a se desenvolver. Atualmente, quando se
refere ao termo tragédias clássicas, busca-se indicar àquelas
realizadas nos teatros grego e romano, e as tragédias
neoclássicas são as obras de períodos “recentes” que foram
buscar referências nas tragédias clássicas

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