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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

CLA – Centro de Letras e Artes.


Curso: Cenografia e Indumentária
Disciplina: Transformações das Tradições Teatrais Clássicas e Medievais
Professora: Inês Cardoso
Aluna: Amanda Barroso, João Carneiro e Thalita Braga Pereira

Tragédia: forma de arte e instituição social.


Os dois elementos que ocupam a cena trágica (coro e
protagonistas) e a estrutura da tragédia.

Junho 2023
A tragédia surge na Grécia no fim do século VI e enquanto gênero literário,
aparece como a expressão de um tipo particular de experiência humana, ligada a
condições sociais e psicológicas definidas.
A própria consciência trágica nasce e desenvolve-se com a tragédia,
exprimindo-se na forma de um gênero literário original, possuidor de regras e
características próprias, que constituem o pensamento, o mundo, o homem trágicos.
É uma forma de expressão específica que traduz aspectos da experiência humana
até então despercebidos.
A tragédia também marca uma etapa na formação do homem interior, do
homem como sujeito responsável. É um espetáculo aberto a todos os cidadãos,
dirigido, desempenhado, julgado por representantes qualificados. A cidade se faz
teatro, se toma de certo modo como objeto de representação e se desempenha a si
própria diante do público. Nesse sentido, a tragédia parece estar, mais do que
qualquer outro gênero, enraizada na realidade social, não de modo a refleti-la, mas
sim de forma a questioná-la.

Os dois elementos que ocupam a cena trágica: o coro e protagonista.

O coro nos momentos de canto problematiza, interrompe, interroga e


questiona, instiga uma perspectiva questionadora na peça. É uma personagem
coletiva e anônima, encenada por um colégio de cidadãos cujo papel consiste em
exprimir em seus temores, em suas esperanças e julgamentos, os sentimentos dos
espectadores que compõem a comunidade cívica. Nessas partes cantadas, o coro
exalta as virtudes exemplares do herói (personagem trágica individualizada) e
também se questiona e se interroga a respeito de si mesmo, o dramaturgo Brecht
vai se utilizar disso posteriormente, chamando de distanciamento.
O protagonista, é a personagem trágica vivida por um ator, individualizada
por sua máscara em relação ao coro. Essa máscara integra a personagem trágica
numa categoria social e religiosa bem definida: a dos heróis. A ação desta
personagem individualizada forma o centro do drama e tem a figura de um herói de
uma outra época, a quem sempre é mais ou menos estranha a condição normal do
cidadão. Vale a pena ressaltar que na tragédia há mais narrativa do que ação, toda
ação já aconteceu. Nesse sentido, o quadro do jogo trágico denota-se de
sentimentos das contradições que dividem o homem contra si mesmo
correspondendo a uma dualidade entre o coro e o herói trágico, portanto, esse
aspecto de ambiguidade permite caracterizar o gênero trágico.
De acordo com o pensamento de Louis Gernet, a verdadeira matéria da
tragédia é o pensamento social próprio da cidade. Os poetas trágicos utilizam de um
vocabulário que se relaciona e revela mudanças de sentido, traduzem conflitos com
uma tradição religiosa juntamente com uma reflexão moral.
Os gregos não têm ideia de um direito absoluto, fundado sobre princípios,
mas sim na justiça de Zeus e na responsabilidade do homem, que coloca em
questão problemas morais. Quando se edifica o direito no mundo grego, ele toma
sucessivamente o aspecto de instituições sociais, de comportamentos humanos e
de categorias mentais que definem o espírito jurídico, por oposição a outras formas
de pensamento, em particular às religiosas. Assim, também com a cidade
desenvolve-se um sistema de instituições e de comportamentos, um pensamento
propriamente político.

A Estrutura da Tragédia

A tragédia desenvolve-se entre uma alternância entre o que é falado e o que


é cantado. Entre a ação narrativa e os comentários (partes cantadas). O que os
espectadores vêem são relatos através de narrativas de ações que já aconteceram.
Sua estrutura inicia-se pelo prólogo, uma exposição de acontecimentos, introdução
e preparação para a entrada do coro. É a parte inicial da peça que prepara o palco,
apresentando o contexto da história. Também podem haver diálogos entre
personagens ou monólogos. Seguido do prólogo, o párodo, a primeira parte do
coral, que estabelece a intervenção inicial da parte lírica da tragédia, o coro,
elemento interrogador, não mitológico e coletivo, que declama e/ou canta.
A peça trágica caminha com uma série de episódios, alternados com
estásimos. Os episódios incitam a narrativa e evidenciam os conflitos, as escolhas
e os desafios encarados pelos personagens principais. Os episódios exploram o
desenvolvimento do drama e a jornada emocional dos personagens.
Os estásimos, correspondem a entrada do coro em cena e trazem
normalmente a informação ao público sobre o assunto a ser tratado. É uma ode
cantada que transmite o que se passa nos eventos da peça e no decorrer da
tragédia, os estásimos se alternam com os episódios e compõem o coral.
Finalmente, o êxodo, que é o momento em que é evidenciada a coerência no
final da obra. Tratar do êxodo de uma tragédia consiste em analisá-lo, bem como
recuperar a leitura de toda a obra. No texto A Poética de Aristóteles, o pensador
refletiu sobre o êxodo destacando ser uma parte completa, a qual não é seguida por
uma fala do coro. O êxodo envolve o último canto, o último episódio e a saída do
coro. O exôdo sempre vai ser um comentário, nesse caso, um comentário final. No
caso das tragédias de Eurípedes, destaca-se a importância do desfecho da tragédia
pois observa-se ali se tudo está bem conectado, como os personagens, o enredo, a
trama, a divisão dos episódios, etc.
Mesmo que seja possível de considerar uma forma geral de estrutura de
tragédia grega, as peças e os dramaturgos e encenadores individualmente podem
se desviar dessa estrutura. Cada dramaturgo tinha seu próprio estilo e inovações,
também os elementos específicos e a ordem das partes puderam e podem variar
em diferentes tragédias e ainda na cena dramatúrgica atual que bebe da fonte da
tragédia grega.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Jean-Pierre Vernant e. Pierre Vidal-Naquet. Comila Jeo. FFLCH 2007. 34-C. 1. O


Momento Histórico da. Tragédia na Grécia.

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