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Autor: Arist(Jteles

Fdiçâu: Imrrensa Nacional-Casa da Moeda

OmcefJçâo grâjlcu: Derartamento Editorial ela INCM

'limJ<em: 2000 exemrlares

!Jutu de impressâu: .Julho de 2005

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POETICA
Tradução, prefácio, introdução, comentário
e apêndices de Eudoro de Sousa

7.' edição

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U.F.M.G.. BIBLIOTECA UNIVERSITARIA

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Estudos Gerais Sene Universitario • Cíóssicos de Filosofia


dispensar-se da leitura de um tratado que punha muito
mais problemas do que aqueles que resolvia em termos
acessíveis a pessoas não afeitas à disciplina escolar. É
sabido como, efectivamente, o epítome repele da tradição o
livro que resumiu. Sobram os exemplos do lamentável e
lamentado desaparecimento de tantas obras, cujo teor mal
se adivinha através das mutilações a que foram submetidas
por indivíduos que não tinham a mais pálida ideia acerca
das melhores qualidades dos textos que se propunham vul-
garizar. Que diremos, efectivamente, do Tractatus Coisli-
nianus que reduziu a intragável "pastiche" da definição de
tragédia ( Poet. c. VI) provavelmente todo um capítulo do
II livro da Poética? E da doxografia, se compararmos o
que nos resta de antigas histórias da "Física" com o longo
fragmento de sensu, da autoria de Teofrasto? E dos mitó-
grafos e heortógrafos, se medirmos a distância que separa a
Biblioteca do pseudo-Apolodoro, e algumas notícias de
escólios e léxicos, do que se pressente através dos poucos
fragmentos do 1Hpl. lJúvv do verdadeiro Apolodoro de
Atenas? E dos atidógrafos, se confrontarmos um ou outro
artigo de Harpocrácion ou do Etymologicum Magnum, que
os citam, com a imagem, longínqua e evanescente, da rica
messe de informações que F. Jacoby nos deixou entrever?
Eis por que perdemos o segundo livro da Poética, e por
que só nos resta o primeiro.

CONTEÚDO ORIGINAL DA POÉTICA

Tracemos, agora, um breve escorço do tratado, tendo em


conta, não só a doutrina exposta no I livro, mas também o
presumível argumento do segundo.

Obedecendo ao plano estabelecido de início: "falemos da


poesia- dela mesma e das suas espécies", Aristóteles
desenvolve nos primeiros capítulos o conceito de poesia,
pelas suas notas fundamentais; e resultando ser ela "imita-
ção de acção", praticada mediante a linguagem, a harmonia

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e o ritmo, ou só por dois destes meios, divide as espécies de


poesia pelas qualidades dos indivíduos que praticam a
acção (objecto), do meio por que se imita e do modo como
se imita; e essas espécies vêm a ser: ditirambo, nomo,
comédia, tragédia, epopeia ...
Mas, quanto ao modo de imitar, todas as espécies se
agrupam em duas grandes divisões, conforme a imitação se
realiza mediante narrativa ou mediante actores, isto é, nar-
rando o poeta os acontecimentos, seja na própria pessoa,
seja por intermédio de outras, ou representando as perso-
nagens a acção e agindo elas mesmas. Fica, portanto,
determinada a matéria a tratar: por um lado, a epopeia
(narrativa), por outro lado, a tragédia e a comédia
(dramáticas).

A segunda parte é justamente dedicada ao estudo da tra-


gédia e à comparação dos géneros trágico e épico. Começa
por dar a famosa definição: "é, pois, a tragédia imitação de
uma acção austera ... " (c. VI), enumerando depois os diver-
sos elementos do drama: espectáculo, melopeia, elocução,
pensamento, mito e carácter. Estes são os elementos quali-
tativos, porque as partes, considerado o poema trágico do
ponto de vista quantitativo, vêm designadas no c. XII; são
o prólogo, o episódio e o êxito (partes recitadas ou dialo-
gadas), e o coral, composto de párodo e estásimo (partes
cantadas). De todas, só as primeiras merecem a atenção de
Aristóteles neste livro, pois as segundas pertencem a um
daqueles elementos- a música (o outro é o espectáculo
cénico)- que, diz ele, não são essenciais à tragédia.
Dos outros elementos qualitativos, o mito é o mais
importante, pois a elocução, o pensamento e o carácter
podem, de certo modo, reduzir-se ao mito. E assim, todas
as páginas que vão desde o princípio do c. VII até ao fim
do c. XVIII- apenas com duas interrupções, a do c. XII
(partes quantitativas) e a do c. XV (caracteres)- são intei-
ramente preenchidas por uma teoria da efabulação trágica.
O problema de Aristóteles é determinar o procedimento a
seguir pelo poeta, para obter do mito as emoções de terror

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e piedade. É então que introduz o "reconhecimento" e a
"peripécia". o "nó" e o "desenlace" da intriga, que devem
resultar da trama dos factos, conformemente à verosimi-
lhança e à necessidade.
E porque considera a epopeia na perspectiva teórica da
tragédia, sendo-lhe portanto aplicáveis, mutatis mutandis,
as regras precedentemente expostas, Aristóteles esboça, nos
cc. XXIII, XXIV e XXV uma breve teoria do poema épico,
terminando esta parte pela comparação da epopeia com a
tragédia, em termos que, dir-se-ia, preparam as páginas
subsequentes, que se propõe dedicar à comédia e à poesia
jâmbica.
Uma vez definida a comédia em termos análogos àqueles
em que definira a tragédia (c. VI da Poet. e Tract. Coisl.,
§ 3), isto é, posto o ridículo em lugar do austero, e o pra-
zer e o riso em lugar do terror e da piedade, procederia
depois à enumeração e definição dos elementos da comé-
dia, que são os mesmos da tragédia ( Tract. Coisl., § 7) ---
mito, caracteres, pensamento, elocução, melopeia e espec-
táculo-, dando ainda e em conformidade com o seu
conceito de artes miméticas especial relevo a certos meios
de obtenção do cómico, designadamente aos que são redu-
tíveis ao mito, e excluindo outros, por acessórios ( Tract.
Coisl., § 8). Como já dissemos, é de presumir que a exposi-
ção terminasse pelo confronto entre a arte dos comediógra-
fos e a de Homero, pela parte da poesia jâmbica que lhe
era atribuída, porquanto no I livro (c. IV, pág. 1448 b 33)
já afirmara que Homero "tal como foi supremo poeta no
género sério ... assim também foi o primeiro que traçou as
linhas fundamentais da comédia, dramatizando, não o
vitupério, mas o ridículo".
A essência da poesia, considerada como imitação de
acção austera ou ridícula- eis, por conseguinte, o pro-
blema que Aristóteles enuncia e resolve nestes dois livros,
coordenadamente com os problemas éticos e políticos e,
talvez, os físicos, que enunciara e resolvera noutros trata-
dos e subordinadamente à sua teoria geral da ciência. Não
é esta a oportunidade para tentar a prova do que em tão

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poucas linhas deixamos escrito. Queremos apenas sugerir
que, na Poética, a teoria da acção dramática está mais
próxima do que inadvertidamente se poderia supor, da teo-
ria do movimento, exposta na Física; aludir à dependência
dos juízos críticos, expressos na Poética, em relação aos
princípios estabelecidos na Ética; e lembrar que talvez não
haja outra solução do problema da catarse, além da que se
infere da Política.

OS ESCRITOS CONGfNERES

Mas o nosso texto, além das teorias da tragédia e da


epopeia, que formam, digamos assim, o tronco da obra,
apresenta também outras, como que excrescentes e acessó-
rios ramos, que só não atingiram o completo desenvolvi-
mento porque, se o atingissem, excederiam a finalidade
proposta e viriam a constituir outros tantos tratados inde-
pendentes. Entre essas partes, contamos, na ordem em que
se nos deparam: I) as notícias históricas acerca da origem
da tragédia e da comédia (cc. III-V); 2) as definições e a
classificação dos elementos da linguagem (cc. XIX-XXII);
3) os problemas críticos e as respectivas soluções, princi-
palmente no que respeita aos poemas homéricos (c. XXV).
Por outro lado, também são notabilíssimas as omissões;
e a do lirismo, por exemplo, mais notória, dá lugar a justi-
ficada perplexidade, tratando-se, como se trata, de poesia.
É certo que o desenvolvimento do conceito fundamental:
poesia= imitação de acção exclui a lírica de entre os géne-
ros poéticos. Mas se o metro (e, por conseguinte, o ritmo)
não é artifício do escritor, estranho à essência da poesia,
como se depreende de certas passagens em que Aristóteles
nos diz que "o engenho natural encontra o metro adequado
ao poema", que "a epopeia e a tragédia diferem pela
métrica", que "o ritmo jâmbico melhor se adapta à lingua-
gem corrente", "o tetrâmetro trocaico, à dança e ao satí-
rico", e "o hexâmetro à epopeia" (cf. Índice Analítico, s. v.
METRO)- teremos de concluir que, inscritos à margem da

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