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ANÁLISE DA COMÉDIA NOVA DE MENANDRO COM SUA OBRA “O

MISANTROPO”

Denise Luiz RENZ, Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.1


Júlia Coelho de ABREU, Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.2
Juliano Vaz KIEVEL, Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.3
Luiz Antônio Nogueira FERNANDES, Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.4
Luiz Antonio PSZYBYSZ, Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.5
Vera Vilma Fernandes LEITE - Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz.6

RESUMO: O presente artigo tem por finalidade analisar uma das vertentes da cultura da
Grécia Antiga, a Comédia Nova, que por sua vez traz como principal teatrólogo da época
Menandro. Nos dias de hoje existe apenas uma obra de sua autoria que conseguiu sobreviver
inteira ao passar dos séculos, O Misantropo (ou Díscolo O mal-humorado), que será também
abordada neste artigo. O presente trabalho está dividido em explanação da Comédia Nova e
sua contextualização do momento histórico, com a observação das outras Comédias, tanto a
Antiga quanto à Média, para melhor contextualizar, que antecederam à Comédia Nova,
biografia do autor e sua relação com a polis e a família, uma breve apresentação do resumo da
obra O Misantropo e suas características fundamentais, uma relação entre a transferência de
abordagem do tema polis a família dentro das obras da Comédia Nova, mais especificamente
na obra de Menandro, o Misantropo. Ao final, as considerações finais com uma pequena
conclusão do total da obra.

PALAVRAS-CHAVE: Comédia Nova. Menandro. O Misantropo.

INTRODUÇÃO

As informações que dispomos sobre o gênero Comédia Nova se pautam em


descobertas realizadas durante o século XX, e que possibilitaram o acesso às informações
sobre esse gênero. As informações que dispomos foram encontradas principalmente em

1
Acadêmica do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
deniseluizarenz@hotmail.com
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Acadêmica do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
julia.coelhoabreu@hotmail.com
3
Acadêmico do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
julianokievel@hotmail.com
4
Acadêmico do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
luizantonio_nf@hotmail.com
5
Acadêmico do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-mail:
luiz-ps@hotmail.com.br
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Docente Mestre do curso de Letras – Português/Inglês do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz. E-
mail: vefele@hotmail.com
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citações de outros autores. O principal representante seria Menandro, o qual chegou apenas
uma única comédia completa até os dias de hoje, O Díscolo, o restante das obras são apenas
trechos incompletos.
Será apresentado neste artigo, a origem das comédias como introdução ao assunto
principal. Como também as questões dos autores que eram daquela época, com ênfase em
Menandro. A metodologia abordada pela pesquisa é a leitura biográfica que servirá de fonte
para as afirmações constadas no artigo e base para as argumentações.
Para explicitar as condições da época em contraste com a obra de pesquisa do autor
que será o norte da pesquisa, O Díscolo, única obra completa que existe de Menandro. Para as
considerações finais, será exposta os resultados das pesquisas entorno da obra e contará com
as conclusões dos objetivos propostos pela pesquisa, que a propósito, são as análises e
exposição tanto do contexto da época, quanto sobre o autor e a obra que serão analisados.

COMÉDIA NOVA

Ao referir-se sobre essa temática devemos levar em consideração as dificuldades de se


estabelecer contextos históricos específicos, assim como periodizações exatas sobre o
desenvolvimento da Comédia Nova, o que possuímos são algumas informações que nos
levam a estabelecer períodos.
Alguns autores como Aristóteles chegaram até mesmo a classificar a comédia como
gênero de segunda ordem, frente à tragédia. O festival de Komasts era celebrado em janeiro
nas Lenéias, onde os komos ático se reuniam com os comediantes dóricos e truões conhecidos
como mestres da farsa improvisada, devido ao seu caráter de farsa, e komos, o qual estaria
associado a um contexto de "despojamento por alguns dias de sua dignidade". A palavra
comédia é derivada de komos, que significa as orgias que os cavaleiros da sociedade ática
cometiam, onde eles se despiam de sua dignidade e saciavam sua sede de bebida, dança e
amor. Por isso a comédia se equivaleria de algumas discussões controvérsias. Mas, o que não
se pode deixar de observar, é que esse gênero teatral conquistou a Grécia e marcou espaços
subdividindo-se em: Comédia Antiga, possibilitada principalmente na cidade de Atenas por

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meio de um concurso, tendo como representantes Aristófanes, e o gênero Comédia Nova,
como a figura de Menandro.
Há algumas contrariedades sobre o surgimento da Comédia, alguns acreditam que
surgiu em Mégara Hyblaia, famosa por seus farsistas, mas as evidências dizem que de fato a
comédia surgiu na Grécia, onde ocorreram dois períodos fundamentais que marcaram a
histórica desse gênero teatral.
O primeiro marco histórico ficou conhecido como Comédia Antiga, que ocorreu em
486 a.C, em um grande concurso que aconteceu em Atenas que teve como principal
teatrólogo Aristófanes. Na Comédia Antiga, o tema mais abordado era a questão política e
social ateniense. Ela também possui outras características muito peculiares, pois buscou
sustenta-se sob a ótica do drama, assim como de abordagens de temas recorrentes à
divindades mitológicas, já a Comédia Nova não apresentava essa responsabilidade em discutir
as questões políticas de Atenas, o objeto era o homem e suas relações sociais. A Comédia
Antiga também apresenta uma divisão em partes que lhe é característico, e o qual a Nova não
possui:

1. Prólogo: exposição dos acontecimentos.


2. Paródo: intervenção inicial do coro, formado, inclusive, por seres humanos;
3. Ágon: disputa debate entre as personagens.
4. Parábase: momento no qual, na voz do coro, se dirige aos espectadores para
tratar de questões políticas sociais ou de qualquer outro assunto de relevância para a
comunidade.
5. Episódios.
6. Êxodos: exposição final do coro, com quase sempre a celebração de um banquete.
(SPINELLI, 2009, p.1.).

O segundo marco histórico foi chamado de Comédia Nova cujo principal teatrólogo
foi Menandro em 317 a.C.

Na NÉA não é possível perceber essa divisão que é recorrente nas obras da Comédia
Antiga, pois ela vai adquirindo novos elementos. Por exemplo, a questão do coro que
acompanhava as cenas de drama, já nas últimas obras de Aristófanes não possuem esse papel
de grande importância social. Mas na Comédia Nova, não podemos dizer que o coro foi

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totalmente suplantado, devido ao fato de que esse coro era parte de uma tradição, um ritual
para honrar o deus Dionísio.
Outra característica que acaba desaparecendo na Comédia Nova é a parábase, ou seja,
aquele momento que o coro dirige ao espectador a fim de problematizar questões pertinentes à
sociedade, mas o fato desse momento não ocorrer, não quer dizer que essas problematizações
não sejam feitas em outros momentos dentro do texto teatral. A Comédia Antiga apresenta
uma atenção especial ao ritmo que se segue a peça, já a Comédia Nova enfatiza a ação, e,
portanto “está mais viva e variada no que diz respeito ao tempo e a intensidade emocional"
(SPINELLI, 2009, p.2). Uma das preocupações da Comédia Nova é a vida privada dos
indivíduos, além das relações e desafios que eles travam em seu cotidiano. O homem não é
mais somente representado como uma figura pública, agora as complexidade do seu cotidiano
são abordadas. A Comédia Nova trouxe um novo ideal de peças, ao invés de abordarem
assuntos políticos, os comediógrafos focavam-se mais em temas relacionados ao
comportamento do homem, abordando seu modo de vida social, comportamental e amoroso.
O comportamento pessoal, diferente da Comédia Antiga, o qual não abordava esses
elementos, pois privilegiava o coletivo. No que se refere à estrutura do seu enredo:

Uma outra polêmica também surge no decorrer dos estudos acerca do material
crítico-teórico envolvendo a comediografia de Menandro e se relaciona exatamente
com à supracitada segmentação das suas comédias em 5 atos. [...] essa divisão de
cinco atos é coincidentemente, predominante nas comedias de Menandro, mas não
se estende às outras tantas produzidas por autores que nessa época produziram [...]
(LYRIO, 2010, p. 27-28).

Essa divisão em atos mencionada na Comédia Nova levanta alguns questionamentos,


pois os dramaturgos da antiguidade não possuíam a nítida concepção atual de divisão de atos.
O que se percebe é que a concepção de palco se modificou, as cenas mais importantes eram
apresentadas em outro lugar, uma plataforma Skene dividida em dois lugares. A comédia
exigia concentração individual, assim como atuação, para que ocorresse um bom andamento
do teatro era preciso que os atores estivessem em sincronia.
Lyrio (2010), retrata sobre o acervo das obras desses grandes períodos em questão:
“[...] Ao passo que o acervo aristofanico se constitui abundantemente de onze comédias
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completas cujas motivações predominantemente são pautadas na política ateniense, do
cabedal de peças de Menandro restaram-nos poucas produções inteiras.”
São pouquíssimas obras de Menandro que temos acesso atualmente, algumas obras
conhecidas do comediógrafo são “Epitrépontes” A arbitragem que contém cerca de 750
versos, esses fragmentos foram encontrados em papiro egípcio no século XIX. Porém ainda
restava uma obra completa, que mostrasse o verdadeiro talento desse poeta.
Em 1959 foi encontrada a obra de maior valor do poeta Menandro. Escrito em um
conservado papiro, a peça mais conhecida de Menandro é a “Dyscolos” (O Misantropo).
As obras mais significativas de Menandro são “O Citarista”, “O Herói”, “O espectro”,
“A mulher de Samos”, “O camponês”, “O Bajulador”, “A mulher de cabelos cortados” e os já
citados, “A Arbitragem” e “O Misantropo”.
Na transição entre a Comédia Antiga à Comédia Nova, após a morte de Aristófanes,
alguns escritores, começaram a produzir obras fugindo da temática da Comédia Antiga,
optando por temas que falassem do cotidiano, abordando temas levianos para aquele tempo.
Assim nasce a Comédia Média.
Na comédia Média os comediógrafos satirizavam as cortesãs, peixeiros, pequenos
funcionários, etc.
A Comédia Média foi de suma importância para o surgimento da Comédia Nova:

Muito tímida, a Comédia Média esquivava-se por completo das amarras das
discussões políticas e, já demonstrando certa “covardia” no tratar dessas temáticas,
preparava paulatinamente o terreno para o surgimento da comédia do grande
representante da NÉA, Menandro, possibilitando, com esse novo pensar, os
verdadeiros aparatos que de fato garantiriam em tempos futuros as notórias
distinções entre a antiga e a nova comédia grega. (LYRIO, 2009, p.16).

No que se refere à máscara, a Comédia Nova evitou a obrigatoriedade desse elemento


teatral, o qual era componente essencial na tradição do teatro latino clássico, não foi abolida,
apenas foi sendo utilizada de outra forma, a partir de um refinamento o qual poderia lembrar
as maquiagens contemporâneas realizadas para teatro. Outra característica da produção de
Menandro refere-se ao teor de sua obra:

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Para alguns estudiosos, as peças de Menandro seguem intrigas cômicas que se
aproximam do melodramático. No entanto, as gargalhadas desmedidas, o exagero no
âmbito dos usos da linguagem, a vulgaridade e a pornografia e/ou apelos que
remetem a quaisquer tipos de descomposturas são atitudes que não cabem na sua
comediografia. (LYRIO, 2010, p. 29).

A linguagem adotada na obra de Menandro é simples, e se pauta em elementos do


cotidiano, os sujeitos são representados realizando ações do seu dia a dia, e principalmente no
contexto familiar. Mas o que percebe-se nas peças do autor é que ocorre certa ironia, as falas
dos personagens insinuam situações, mas não as apresentam. Menandro, segundo Fernanda
(2010, p. 29), "buscou elegância vocabular e não admitia em sua própria escrita o uso de
gírias, palavrões ou palavras de baixo calão".
Quanto às produções de Menandro, apesar de sua relevância, suas obras, no entanto,
são criticadas pelas cansativas repetições de temas. Menandro gostava de retratar rapazes
apaixonados por moças, parentes perdidos e má relação entre pais e filhos, sempre finalizados
com um desfecho fácil e feliz.
Muitos conhecimentos e pesquisas ainda estão por serem desenvolvidos, a respeito da
Nova Comédia, assim como da figura emblemática de Menandro, o qual deixou em suas
obras uma forma de ter um reconhecimento somente depois de séculos, visto que em seu
período suas obras não eram observadas com apreço.

MENANDRO

Existem poucas informações sobre Menandro devido à falta de fontes históricas sobre
o autor, algumas peças teatrais que chegaram até os dias de hoje estão incompletas. O texto
mais estudado do autor foi “O Misantropo”, ou “Díscolo” (O mal-humorado), o qual em
alguns trechos apresentou os comportamentos na sociedade ateniense, assim como do próprio
autor em forma de relações individuais dos personagens.

Menandro é um ateniense do século IV a.C. um homem da época de Demétrio de


Falero e, talvez, mesmo por causa disso, um representante típico da rica burguesia
de seu tempo. Epicurista delicado culto e elegante, seu teatro, tomado em blocos, é
um finíssimo estudo de caracteres, uma pintura de costumes e um retrato da
sociedade elegante em cujo meio viveu. (BRANDÃO, apud. LYRIO, 2010, p. 29).
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Menandro era fruto de uma família tradicional, uma família rica de Atenas, a sua obra,
portanto segue o texto das representações das ações desses sujeitos, ele buscava representar
em sua obra a juventude, histórias de amor e vida cotidiana. O autor viveu em um período
conturbado da política e economia ateniense, suas obras aparecem em um contexto de crise da
Comédia proposta por Aristófanes, que acabavam se inserindo na produção de Menandro. Os
comportamentos eram vistos e analisados de forma individual, não deixavam de representar as
relações construídas em torno da polis grega, apenas configuravam-se sob um novo olhar.

Menandro nunca deixou Atenas e sua vila no Pireu onde vivia com sua amante
Glicera. De suas cento e cinco peças, apenas oito lhe valeram prêmios – três nas
Léneias, e cinco na Grande Dionisíaca de Atenas. Menandro viria a exercer grande
influência sobre os comediógrafos romanos Plauto e Terêncio, que viveram da
substância de sua obra. Ao lado do acervo de citações transmitidas, esses dois poetas
romanos foram, até os primórdios do século XX, as únicas testemunhas dos escritos
de Menandro. (CORBETTA, 2012, s.p).

O autor em vida teve poucos reconhecimentos em relação a sua obra, o que chegou até
os dias atuais forma poucos escritos, entre eles alguns fragmentos das obras de autores
romanos como Plauto e Terêncio, que mencionam algumas passagens da vida do autor.
Menandro como homem do seu tempo não poderia de deixar de se influenciar com fatos que
estavam ocorrendo na sociedade ateniense e por isso seus escritos são marcados por uma nova
escrita, com menos alfinetadas políticas, sem discussões sobre as instituições Atenienses e o
perfil dos homens públicos e a opção do autor por uma nova escrita, mais amena, ou seja, a
Comédia Nova.

O MISANTROPO

Na obra “O Misantropo”, Menandro cria a sua mais famosa comédia. Sendo que essa é
a única peça do autor que se encontra na íntegra, sendo encenada no ano de 318 a.C. em
Atenas (ano do início do governo de Demétrio de Falero). Nesta época Menandro estava com
25 anos, e ainda não mostrava toda sua intensidade de seu estilo. “O Misantropo” tem como
principal característica a estereotipação dos elementos da sociedade. Durante o governo de
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Demétrio difundiu-se a ideia de encorajar o casamento de pessoas de classes diferentes, tendo
em vista criarem uma classe média.
A obra tem como características a falta de sátiras violentas, e como tendência da
Comédia Nova a composição estuda as emoções do ser humano, buscando uma reflexão sobre
a vida e decência.
Em resumo a estória gira em torno de Sóstrato, que é apaixonado por Moça. Moça é
filha de Cnêmon (Misantropo que dá nome a obra, é um velho que gostava de viver sozinho e
tratava a todos com severidade e indelicadeza). Sóstrato tem que convencer o pai disso, o que
não é uma tarefa fácil.
Em suas tentativas Sóstrato conhece o irmão de Moça, Geórgias, rapaz de bom caráter,
fiel às tradições da época. Mas Geórgias não acredita no casamento dos dois, pois achava que
Sóstrato queria apenas se aproveitar de Moça;

Geórgia - Você devia tratar imediatamente de saber quem era esse rapaz que
cortejava a minha irmã e dizer a ele para ter cuidado, senão ele vai arrepender-se.
Em vez disso você ficou de lado, como se o caso não fosse conosco. Não se pode
ficar indiferente aos laços de sangue, Daos. Trata-se de uma irmã; eu ainda me
interesso por ela. Se o pai dela acha que deve viver como um estranho em relação a
nós, não vamos imitar a conduta grosseira dele, pois se ela for desonrada eu também
vou ficar humilhado. Quem olha as coisas de fora não vê o verdadeiro responsável;
só vê o resultado. [...] (VASCONCELLOS, 2008, s.p).

Ao longo da estória Sóstrato consegue as bênçãos de Geórgia, mas Cnêmon só muda


de temperamento quando recebe ajuda Sóstrato, pois Cnêmons havia caído em um poço e o
rapaz prontamente ajuda-o. Após o ocorrido ele recebe a mão de Moça.

DA POLIS A FAMÍLIA

As polis, na Grécia Antiga, eram as Cidades-Estados que surgiram na época. Muito


pouco se dividiam estas polis entre classes sociais já que, no qual todas eram unidas em uma
única sociedade, ou seja, tanto quem morava no campo quanto quem morava próximo à
Acrópole, tantos os burgueses da época quanto os que tinham pouca renda, tanto os que
possuíam família ou não possuíam, pertenciam à mesma polis, segundo Hannah:

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Em nosso entendimento, a linha divisória entre público e privado, família e Estado é
inteiramente difusa, porque vemos o corpo de povos e comunidades políticas como
uma família cujos assuntos diários devem ser zelados por uma gigantesca
administração doméstica de âmbito nacional (ARENDT, 2007, p. 37).

Neste trecho, temos como objetivo claro identificar a parte com o qual Menandro
relacionava suas obras dentro da polis ou se as encaixava de fato nelas.
Um dos acontecimentos que ajudaram a dissolução da Comédia Média e Antiga para a
ascensão da Comédia Nova foram crises dentro das polis gregas que culminaram de vez com
os antigos assuntos sobre políticas e os deuses mitológicos e que assim focaram nos
indivíduos e na família.
Por escritos teóricos recentes, teses dizem que Menandro participou da Comédia Nova
o qual, um dos aspectos era de que, se excluía a polis dos contextos e assuntos das obras
desses “novos” autores. Como diz Fernanda:

A Comédia Antiga carregou, no decorrer de sua existência, aparatos dramáticos que


mantinham relações diretas ou indiretas com as questões políticas da sociedade
ateniense. A Comédia Nova não. Com esse novo modelo de peça, os representantes
desse tipo de comédia dispunham de temáticas e de motivações que não tinham por
objetivos pensar ou repensar a política local, mas que se focavam basicamente na
figura do homem, fazendo vir à tona os seus comportamentos, as suas relações, as
suas paixões e as suas condições sociais. (LYRIO. 2010, p. 14).

Como citado acima, a Comédia Nova toma por objetivo a figura do homem e tudo que
nele pode-se ver em seus comportamentos e pensamentos, excluindo dessa forma a sociedade
de modo específico. Focavam apenas no ser individual do homem com suas aptidões, seus
desejos, seus sofrimentos, seus sentimentos e um mundo no qual a política como tema das
obras ficara com os autores da Comédia Antiga, os de classe inferior na polis ficara na
Comédia Média, e, o indivíduo como centro das obras, na Comédia Nova de Menandro.

A Comédia Nova volta-se para a vida privada, buscando a intimidade dos cidadãos,
fixando-se nos aspectos mais prosaicos e comuns da existência: o amor, os prazeres,
as intrigas sentimentais. À linguagem desabrida, violenta e pornográfica do poeta de
Lisistrata, a Comédia Nova com Menandro (eis o nome de seu grande astro)
respondeu com uma linguagem comedida, bem comportada, simples e quotidiana.
(BRANDÃO, apud LYRIO, 2010, p. 17).

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Contudo, as obras de Menandro de modo geral, abrandavam cidadãos exclusivos que
deixavam à vista toda a sociedade e como ela agia separadamente no seu interior.
Paradoxalmente, com as obras focadas nos indivíduos e em seus comportamentos e
sentimentos, ficava-se exposto toda uma sociedade da época, toda a polis poderia ser
analisada simplesmente com esses textos da Comédia Nova. Mas deixando claro que a relação
da polis com a Comedia Nova se restringe a este único e peculiar aspecto, já que
caracterizadamente nela focava-se o indivíduo. Por exemplo, o termo “Misantropo”.

Suas peças trazem de forma bastante cotidiana indivíduos comuns: soldados,


escravos, sogras, adúlteros, fanfarrões, avarentos, misantropos –, homens e mulheres
carregados de marcas e comportamentos individuais, mas que, paradoxalmente,
desembocam nas atitudes do coletivo, ou seja, num reflexo da sociedade burguesa
ateniense da época. (LYRIO. 2010, p. 22).

A família dentro da Comédia Nova era altamente mencionada e fazia jus a essa
menção, no qual individualizava as ações do homem e de sua família transformando-os em
casais que sempre vivem felizes para sempre nos finais de suas comédias. Menandro explorou
muito bem estes aspectos que descreve em suas obras acontecimentos corriqueiros dentro das
famílias com histórias habituais que os homens acarretavam na época, explorou bem essas
características familiares e deixou de herança para até hoje em nosso dia a dia. Exemplos
disso são, explicitamente, os finais felizes em contos infantis. Segundo Lyrio (2010), “a
linguagem comedida do ateniense é simples e cotidiana pela própria proposta da Comédia
Nova de representação dos indivíduos em situações habituais, corriqueiras e cujos
movimentos e ações sempre se desenvolviam no âmbito da família.”
E também afirma a ideia de finais felizes desde as obras da Comédia Nova:

Assim como recebeu fortes influências de Eurípedes e também de Epicuro – este,


concidadão de Menandro, contribuiu com os valiosos “empréstimos” de sua
Filosofia da Felicidade – de cujos preceitos foram retirados os finais felizes e
românticos das comédias do mestre da NÉA; (LYRIO. 2010, p. 32).

Entende-se então, que Menandro também colaborou, influentemente, para as histórias


e estórias que são escritas nos dias atuais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entende-se que Menandro restringiu-se ao assunto da polis pelo contexto social que
havia na época e como consequência disso trouxe à Comédia Nova um aspecto mais
individualista explorando os convívios, os sofrimentos, as alegrias, os prazeres, basicamente
todos os sentimentos como foco de suas obras e mostrando grande interesse em representar as
famílias tanto dos soldados, como dos camponeses, da burguesia, dos trabalhadores de baixa
aquisição econômica e vários outros, sem deixar que sua condição social e que sua própria
família o levasse a outro caminho como profissão.
Perpassando séculos e atravessando culturas, Menandro possui grande importância na
questão restrita sobre a Comédia Nova, porque ele é o maior percursor dessa Comédia grega,
e que mesmo. Este artigo concluiu seus objetivos norteadores de explicitar as condições do
contexto da época de Menandro, a história da Comédia Nova, suas obras e sua vida privada e
pública. Tende-se de deixar este artigo em aberto para novas pesquisas com base neste e
sugestões para novos trabalhos acadêmicos com o mesmo tema.

REFERÊNCIAS

ARENDT, H. A Condição Humana. 10.ed. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária,


2007.

CORBETTA, D. Resenha - O Misantropo. 2012. Disponível em: <http://x-


tudocultural.blogspot.com/2012/12/resenha-o-misantropo.html#iz z3kinpqg55>. Acesso em:
15 ago. 2015.

LYRIO, F. M. Nos meandros da Comédia Nova do Menandro. Revista Contexto, Espírito


Santo, n°17, p 10-41, 2010/1.

SPINELLI, H. de N. O Díscolo: Estudo e tradução. 2009. 123f. Dissertação (Mestrado em


Letras Clássicas). Faculdade de Filosofia Letras e Ciência Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2009.

VASCONCELLOS, E. Menandro e a Neo (Comédia Nova). 2008. Disponível em:


<http://pequenahistoriadoteatro.blogspot.com.br/2008/04/menandro-e-neo-comdia-
nova.html>. Acesso em: 12 ago. 2015

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