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DRAMATURGIA

Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta

A origem da dramaturgia remonta à tragédia ática, encenada na Grécia Antiga.


O enredo destas obras era baseado nos antigos mitos de criação, que simbolizam o
eterno conflito entre as forças obscuras que dominam o homem e a sua vontade
consciente.
Em grande parte das situações trágicas, observamos um retorno a esse tempo
primordial, através da repetição das mesmas estruturas coletivas e suas pulsões de criação
e destruição. O tempo mítico difere do tempo judaico-cristão, linear e progressivo,
caracterizando-se pela ideia de circularidade. Dessa forma, as tragédias não se atêm a um
tempo histórico demarcado nem se localizam num espaço específico, o que significa que
podem ocorrer “em qualquer tempo”, “em qualquer lugar”. As estruturas mitológicas
fazem parte do “inconsciente coletivo” da humanidade, o que explica essa ruptura na
dobra espaço-temporal. Como observa o crítico Anatol Rosenfeld:

Na dimensão mítica, passado, presente e futuro se identificam: as


personagens são, por assim dizer, abertas para o passado que é presente
que é futuro que é presente que é passado ‒ abertas não só para o passado
individual e sim o da humanidade; confundem-se com seus predecessores
remotos, são apenas manifestações fugazes, máscaras momentâneas de
um processo eterno que transcende não só o indivíduo e sim a própria
humanidade: esta, reintegrada no Arqui-Ser, que a ultrapassa e abarca, é
parte da luta eterna entre as forças divinas e demoníacas; é portadora de
uma mensagem sobre-humana; ergue-se prometeicamente contra as
divindades; é expulsa da unidade original; sofre a tortura de Sísifo num
mundo absurdo; vive a frustração do homem que almeja chegar ao
Castelo dos poderes insondáveis.

Essa anulação espaço-temporal que marca o retorno ao caos aparece desde


as tragédias de Sófocles, autor de Édipo Rei, até a dramaturgia moderna, como no caso
de Álbum de Família, de Nelson Rodrigues. Tal constatação é uma prova de que, em
pleno século XX, o mundo ainda se encontraria sob o domínio de forças que antecedem
à criação.

Outro aspecto central do universo dramatúrgico é a força do destino e da


fatalidade, que, muitas vezes, se manifesta na forma de profecia ou maldição. Pode-se
observar esse atributo em situações como a cegueira de Édipo, na obra de Sófocles, e a
queda de Macbeth, na peça homônima de Shakespeare.

Um Pouco de História – de Aristóteles a Técnica do Drama


Katia Kreutz
Tudo começou com uma obra pioneira na teoria dramática: a “Poética”, de
Aristóteles, lá por volta de 335 a.C. Analisando as tragédias teatrais, o filósofo
grego estabeleceu relações entre personagem, ação e diálogo, dando exemplos do
que seriam boas narrativas e examinando as reações provocadas pelas histórias na
plateia.
Muitas dessas “regras” narrativas são referidas hoje como “drama
aristotélico”, e incluem conceitos como o da anagnórise (quando um personagem
descobre informações essenciais, até então desconhecidas, sobre si mesmo ou sobre
outra pessoa relevante na história) e o da catarse (momento que ocorre através de
uma grande descarga de sentimentos e emoções). Foi Aristóteles também quem
dividiu as peças teatrais em narrativas com início, meio e fim, sempre com algum
conflito e uma resolução.
Foi somente no século 18 que o termo “dramaturgia” passou a ser usado,
oficialmente, para descrever uma teoria de estrutura narrativa. O autor e teórico
Gotthold Ephraim Lessing, do Teatro de Hamburgo, estabeleceu a fundação do que
seria a dramaturgia moderna, tendo em vista as performances dos atores e a
manipulação da narrativa para refletir o cenário sociocultural e as referências do
mundo no qual ela se encontra. Para ele, o dramaturgo era uma espécie de “juiz
dramático”, responsável por entender as motivações dos personagens e por envolver
o público na história sendo contada.
A partir da obra de Lessing, outros importantes autores, como Goethe,
Schelling, Thornton Wilder, Arthur Miller e Tennessee Williams, começaram a
refletir sobre o ofício da dramaturgia. Já no século 19, o escritor alemão Gustav
Freytag fez um resumo dessas reflexões no livro “A técnica do drama”,
estabelecendo também um modelo de estrutura narrativa em cinco atos
(exposição/introdução, ação crescente, clímax, ação em queda e
resolução/denouement). As ideias de Freytag serviram como base para o que viriam
a ser os manuais de roteiro dos dias de hoje.

Estrutura Dramática
Os autores desse tipo de texto são chamados de dramaturgos, que junto aos
atores (que encenam o texto), são os emissores, e por sua vez, os receptores são o
público.
Assim, os textos dramáticos, além de serem constituídos de personagens
(protagonistas, secundárias ou figurantes), são compostos pelo espaço cênico (palco
teatral e cenários) e o tempo.
Geralmente, os textos destinados ao teatro possuem uma estrutura interna
básica, a saber:
-Apresentação (início): faz-se a exposição tanto dos personagens quanto da ação a
ser desenvolvida.
-Conflito (complicação): o momento em que surge as peripécias da ação dramática.
-Clímax: estado máximo de intensidade dramática e emocional, atingido no
momento da catástrofe.
-Desenlace (resolução e desfecho): Momento de conclusão, encerramento ou
desfecho da ação dramática.

Além da estrutura interna inerente ao texto dramático, tem-se a estrutura


externa do gênero dramático, tal qual os atos e cenas, de forma que o primeiro
corresponde à mudança dos cenários necessários para a representação, enquanto o
segundo, designa as mudanças (entrada ou saída) dos personagens. Observe que
cada cena corresponde a uma unidade da ação dramática.
As didascálias, ou rubricas, que são a voz direta do dramaturgo, diferenciam-
se visualmente do resto do texto por estarem escritas entre parêntesis ou por
estarem impressas em itálico, ou de qualquer outra forma que marque bem que se
trata de um texto à margem das falas das personagens. Tais indicações cumprem
uma dupla função: situam o diálogo, a ação, num contexto imaginário, a nível do
acontecimentos ficcional (aproximando-se do papel da descrição no género
narrativo) e, a nível da representação, fornecem instruções àqueles que transformam
o texto em espetáculo (encenadores, atores, cenógrafo …). A segunda função evoca
o significado da palavra grega que está na origem do termo “didascália” –
“didaskália” (“instrução”) e do verbo “didáskein” (“ensinar”).
As didascálias incluem as indicações espaciotemporais, as indicações cénicas, as de
movimento, de ação, as de expressão facial , também as tom de voz e de atitude, o
nome das personagens à esquerda das suas falas, tudo o que permite determinar as
condições em que o diálogo é enunciado.

Exemplos de Textos Dramáticos


• Tragédia: representação de acontecimentos trágicos, geralmente com finais
funestos. Os temas explorados pela tragédia são derivados das paixões humanas,
do qual fazem parte personagens nobres e heroicas, sejam deuses ou semideuses.
• Comédia: representação de textos humorísticos que levam ao riso da plateia. São
textos de caráter crítico, jocoso e satírico. A principal temática dos textos de
comédia, envolvem ações cotidianas do qual fazem parte personagens humanos
estereotipados.
• Tragicomédia: união de elementos trágicos e cômicos na representação teatral.
• Farsa: surgida por volta do século XIV, a farsa designa uma curta peça teatral de
caráter crítico, formada por diálogos simples e representada por personagens
caricaturais em ações corriqueiras, cômicas, burlescas.
• Auto: surgido na Idade Média, composição teatral que transita entre o religioso e
o profano, suas personagens alegóricas simbolizam as virtudes, os pecados,
anjos e demônios

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