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A tragédia é uma forma dramática ou peça de teatro, em geral solene, cujo fim é excitar o terror ou a piedade,
baseada no percurso e no destino do protagonista ou herói, que termina, quase sempre, envolvido num
acontecimento funesto. Nela se expressa o conflito entre a vontade humana e os desígnios inelutáveis do
destino, nela se geram paixões contraditórias entre o indivíduo e o coletivo ou o transcendente. Em sentido
lato, pode abranger qualquer obra ou situação marcada por acontecimentos trágicos, ou seja, em que se
verifique algo de terrível e que inspire comoção.
A palavra tragédia vem do grego trágos + odé, que significa canto dos bodes ou canto para o bode. Crê-se que
resultou de os atores se vestirem com pele de cabra ou de, primitivamente, na Grécia, nas festas em louvor a
Dionísio (o deus grego do vinho e da alegria, tal como Baco entre os Romanos), se sacrificar um bode (tragos)
ao som de canções (odé) executadas por um corifeu (elemento destacado do coro, que pode cantar sozinho)
acompanhado por um coro.
A origem da tragédia como teatro parece ter acontecido em 534 a.C., quando um corifeu chamado Téspis
decidiu encarnar a personagem Dionísio, dramatizando os ditirambos (composições líricas corais) num diálogo
com os restantes elementos do coro, que passou a ter um papel de espectador privilegiado ao interpretar os
sentimentos dos outros espectadores.
Se os cantos e as danças, entusiastas, com sátiras a alguns aspetos da vida permitiram o aparecimento da
comédia, as reflexões mais sérias e tristes que mostravam os aspetos negativos da existência, muitas vezes
pela crença num destino funesto, provocaram o aparecimento da tragédia.
Ésquilo é o primeiro poeta trágico clássico, a que se lhe seguiram Sófocles e Eurípides, que acrescentaram outros atores
ao corifeu, podendo cada um desempenhar vários papéis com recurso a máscaras. Entre os romanos, foram importantes
dramaturgos Lívio Andrónico e Séneca; na época clássica, merecem referência Shakespeare, Calderón de la Barca,
Corneille, Racine ou o português António Ferreira, com A Castro; na época moderna, os grandes representantes da
tragédia são Ibsen, Strindberg e Tchekhov.
Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett, apesar de ser um drama romântico, pode aproximar-se da tragédia clássica na
medida em que é possível encontrar quase todos os elementos da tragédia, embora nem sempre obedeça à sua
estruturação objetiva. Tal como foi teorizada e cultivada pela Antiguidade greco-latina e pela literatura clássica, a
tragédia, com o seu conjunto de convenções rígidas de género, com a intervenção de personagens heroicas em conflito
com deuses vingadores, subordinadas a um fatum inelutável, é um género extinto desde o Romantismo (cf. STEINER,
George - La Mort de La Tragédie, Paris, 1965). Quando se fala de "tragédia" na época contemporânea, é necessário
lembrar a distinção estabelecida por G. Genette (cf. Introduction à l'Architexte, Paris, 1979) entre "tragédia" e "trágico",
pelo que não se deve confundir o género "tragédia", definido na Poética de Aristóteles, por oposição a outro género
nobre, a epopeia, e a um género menor, a comédia, com outra realidade "puramente temática e de ordem mais
antropológica do que poética: o trágico, isto é, o sentimento da ironia do destino ou a crueldade dos deuses" (id. ibi., p.
25, trad.). O recurso ao "trágico" na época contemporânea pode traduzir-se na introdução do arcaboiço temático ou
estrutural da tragédia sob outros discursos, como o romanesco, como sucede, por exemplo, em Os Maias, de Eça de
Queirós.