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A tragédia e o trágico

● A tragédia grega é uma performance dramática encenada em Atenas nos festivais


em honra ao deus Dioniso
● Os temas das tragédias eram, geralmente, retirados da mitologia grega
○ A plateia, na maioria das vezes, conhecia a história;
○ São narrados acontecimentos terríveis, grandes aventuras ou desventuras,
que geralmente acabam com um final infeliz, embora não sempre
● A tragédia é uma instituição indispensável para a democracia ateniense, uma vez
que o momento das performances trágicas é o momento onde as pessoas
constroem narrativas em comum, que serão usadas para discutir e refletir sobre a
realidade

O teatro grego
● As peças gregas são marcadas por uma polaridade: de um lado, há os atores e, do
outro, um coro, que era comandado por um líder —o corifeu— e que performava por
meio do canto e da dança
○ Segundo Aristóteles, a presença do coro nas tragédias se daria devido ao
ditirambo, tipo de poesia cantada em coral e que teria se desenvolvido,
dando origem ao gênero trágico — na história da tragédia, portanto, o coro
antecede os atores
● A tragédia, em seus momentos iniciais, seria composta de um coro em diálogo com
apenas um ator
● Ésquilo: primeiro tragediógrafo a colocar dois personagens com falas em cena,
além do coro
● Sófocles: adiciona três personagens com falas interagindo no palco, influenciando
as fases posteriores de Ésquilo
● Os três tragediógrafos cujas obras chegaram até a contemporaneidade foram
Ésquilo, Sófocles e Eurípides — todos viveram durante o séc. V a.C, sendo
Ésquilo o mais velho e Eurípides o mais novo do trio
● O séc. V a.C é marcado como o século de auge da tragédia grega, bem como o
século de ouro de Atenas;
● As peças eram apresentadas para praticamente toda a população da cidade, ou
seja, cerca de 12 a 17 mil pessoas;
○ A tragédia, assim, seria um momento pedagógico no qual os cidadãos
atenienses passavam, coletivamente, por uma experiência artística na qual
se refletiriam as grandes questões e conflitos da existência humana, bem
como a insolubilidade de muitos desses problemas
● Os atores —sendo que todos eram exclusivamente homens— faziam uso de
máscaras durante a performance;
● O coro desempenha um papel passivo na maioria das peças, sendo os atores os
verdadeiros responsáveis pela ação e desenvolvimento do enredo.
● A tragédia, desde seu início, é associada à Dioniso, deus da loucura, da
irracionalidade e do vinho e seus efeitos;
○ Por serem apresentadas no contexto de um festival religioso, as tragédias
integram um rito
● A experiência da tragédia é a de um êxtase coletivo;

A tragédia segundo Aristóteles


● Na Poética, Aristóteles define a tragédia como uma representação dramática que
suscita a piedade e o medo e, através desses sentimento, provocar a catarse;
○ O conceito de catarse, no entanto, não é explicado por Aristóteles;
● Catarse
○ A catarse pode ser considerada análoga ao sentimento que temos após
vermos um filme muito triste: sendo assim, o catártico estaria ligado à
apreciação estética de uma obra de arte;
○ Além disso, o sentimento catártico estaria ligado ao prazer do conhecimento:
aprender e entender os sofrimentos humanos, por mais dolorosos que estes
sejam, ainda é satisfatório para o espectador e o ensinaria a lidar melhor com
suas próprias dores

● Segundo Aristóteles, a tragédia aborda histórias de grandes heróis que passam da


fortuna para o infortúnio devido à uma hamartia (erro trágico), que não
necessariamente é ligado a uma falha moral;
○ Embora Aristóteles traga reflexões válidas acerca da tragédia, seus
julgamentos são muito restritivos, uma vez que o autor utiliza a tragédia
Édipo Rei para caracterizar todas as outras — não é possível julgar uma
tradição trágica inteira a partir de um único momento de sua história;

A tragédia segundo Jean-Pierre Vernant e Pierre Vidal-Naquet


● Vernant e Naquet procuram interpretar a tragédia a partir de sua dimensão histórico-
social, pensando-a não só enquanto criação estética, mas enquanto um momento
onde surge, entre os gregos, uma visão de mundo trágica
● Para os autores, a marca da tragédia grega seria o conflito radical presente em
todas as peças: o herói trágico, diferente do herói épico, não é um modelo a ser
imitado, e sim um problema para si mesmo e para os demais
○ O trágico é marcado pelos conflitos onde os heróis trágicos se vêem
envolvidos
● O final das peças trágicas nunca encerra o conflito por completo — a tensão
permanece;
● A linguagem da tragédia, segundo Vernant e Naquet, seria ambígua: os
personagens falam coisas que têm sentidos que eles mesmos não conseguem
compreender;
● Os personagens não percebem que as palavras que eles usam podem ser utilizadas
de outro modo
○ Assim, o sentido pleno da linguagem só é transparente para o espectador, na
medida que ele percebe que as palavras possuem duplo sentido,
reconhecendo, deste modo, que o universo é conflitual e que a tragédia está
mostrando o conflito entre valores e palavras;
● A tragédia expõe a complexidade da realidade, também sendo contemplada pela
cosmovisão do sacrifício

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