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INTRODUGAO 1 SE VOCE ESTIVER INTERESSADO EM SABER, DIGAMOS, © que € “mecanica celeste”, 0 caminho natural sera perguntar a.um professor de fisica, nao é mesmo? Depois, recomenda-se consultar um manual ou uma boa enciclopédia. Caso vocé seja do tipo desconfiado, que nfo se satisfaz com a primeira explica- 0 (um pouco de desconfianga é sempre aconselhavel, nesses casos), vocé repetird a pergunta a outros professores, consultard algum astrénomo, se tiver a sorte de contar com um por perto, ird a biblioteca, atras de outros manuais e outras enciclopédias, ¢ pedird a seus amigos que facam a mesma pergunta a quem eles considerem em condigdes de responder. E por que niio re- correr, ainda, a internet? L4 vocé encontrar, numa fracio de se- gundo, 1.400.000 ocorréncias para “mecanica celeste” (Google, 18/t1/2010). Sou capaz de apostar que o esforgo trara como resultado, inde- pendentemente da prodigiosa variedade de “explicag6es” que vocé possa encontrar, a mesma resposta, qualquer que seja o namero de professores ¢ astrénomos, manuais e enciclopédias consultados, Por qué? Porque “mecanica celeste” constitui um saber universal, que independe de interpretagées subjetivas e circunstancias cultu- rais ou de época. O que se sabe a respeito do tema, em suaacepcio classica, é essencialmente o mesmo, desde os tempos de Galileu ¢ Newton (Géculos XVI e XVID. Foi preciso esperar até o inicio do século XX para que Einstein, com sua teoria da relatividade, introduzisse algo novo na matéria. Agora, se estiver interessado em saber o que € poesia (acho que € 0 seu caso, sendo vocé nao teria comegado a ler este livro), nao siga 0 mesmo caminho. $6 na internet, na mesma data mencio- nada dois parégrafos atras, o Google despejaria sobre vocé nada menos que 35.100.000 de entradas para “poesia”. E isso mesmo: GAMOS, verguntar nenda-se voc’ seja aexplica- el, nesses onsultara Dor perto, clopédias, aa quem 3e nao re- cdo de se- Google, ado, inde- que voce Gmero de asultados, universal, vias culeu- sacepsio 2 Galileu $0 inicio atividade, acho que vr0), nao 1 mencio- océ nada » mesmo: mais de 35 milhGes! Nada impede que vocé recorra a especialistas na matéria, nem que consulte manuais e enciclopédias. Acontece que vocé nio terd basicamente a mesma resposta. A previsao € que, acada consulta, havera uma resposta diferente. Por qué? Porque “poesia” nao constitui um saber universal, Seus conceitos e defini- ‘ces — que existem, é claro, e em grande quantidade ~ dependem de circunstancias culturais ¢ histéricas; dependem também, muito, da interpretagdo subjetiva das pessoas. Posso dar um exemplo. Estou escrevendo este livro num escri- t6rio forrado de estantes, livros em quantidade, que vim lendo e acumulando ao longo dos anos, pelo menos metade deles sio de ou sobre poesia. E meu assunto predileto. Na internet, claro, hé muito, muitissimo mais do que isso. A propésito, eu me sinto re- lativamente & vontade para ir navegando naquele megaoceano de 35 milhdes de ocorréncias, sempre com algum proveito, mas acho ‘que me sentiria perdido se tivesse de comecar por ai. Mas voltemos aos meus livros de e sobre poesia. Numa das estantes, hd algumas dezenas de obras que véo da Poética, de Arist6teles (éculo TV a.C), até, por exemplo, La gravi- tation poétique, do especialista francés Jacques Garelli, um tratado moderno ¢ avancado, (Nio estévamos falando de mecanica ce- leste? Nesse caso, “gravitacdo poética” até que vem a propésito.. Pois bem, eu poderia resumir e comentar, para voce, as definicées, 0s conceitos, os principios, os argumentos, as classificagées tudo o mais que encontrasse nessas péginas repletas de sabedoria. Para inicio de conversa, seria necessério ordenar cronologicamen- te todo o material, para que vocé tivesse uma visio histérica da evolugio do ou dos conceitos de poesia, tarefa consideravelmen- te mais simples no caso de mecanica celeste. Seria um trabalho cansativo, para mim e para voce. E com um agravante: depois de ler meus resumos ¢ comentarios, vocé talvez nfo ficasse sabendo, efetivamente, o que é poesia. A nfo ser que nos contentéssemos com uma definigao formal, dessas que podemos ter na ponta da lingua, para quando nosso conhecimento é testado. Vocé sabe: questionérios, testes de avalia¢ao, provas e exames, o vestibular, ou simplesmente nfo fazer feio em determinada roda... ‘Voltemos entio ao ponto de partida, Saber que mecdnica ce- este é “um ramo da astronomia que tem por objeto de estudo 0 movimento dos astros sob a ago da gravitago universal”, como nos diz qualquer enciclopédia, ndio chega a ser um conbecimento na acepcdo plena. Munido dessa definigao, e s6 dela, vocé poderia ‘tranquilamente afirmar: “Bu sei o que é mecanica celeste”, mas seria leviandade sair por af dizendo que conhece mecanica celeste. Conhecer, no sentido em que estou empregando o tetmo, vai mui- to além de saber. Por outro lado (veja como as palavras sio ardilosas, é preciso muito cuidado com elas), também é possivel entender conbecimento como algo que esté nao além, mas aquém das definigdes. Vocé talvez nio saiba o que é poesia; se alguém Ihe pedir uma definico, € possivel que vocé se enrole com as palavras, Mas, apesar disso, no tenho a menor dtivida em afirmar que vocé conbece poesia, pela razio simples de que vocé vive cercado de poesia, por todos 6s lados, sob as mais variadas formas, desde que nasceu. As can- ‘ses de ninar, ouvidas na infincia; as cantigas de roda; as letras dos hinos; as letras das miisicas; a infinidade de versos e estrofes que todo mundo sabe de cor e que a gente diz ou ouve, frequen- temente; certos amincios, certos cartazes, certos grafites... Nao é “bvio que tudo isso pelo menos contém poesia? ‘Mesmo que vocé ndo tenha o habito de folhear livros de poe- sia, ndo se trata de um objeto desconhecido para vocé, como era desconhecida a mecanica celeste, antes que a pesquisa o esclare~ cesse. O fato é que vocé vem experimentando poesia, vivenciando poesia, desde sempre, e possui dela algum conhecimento, mesmo que no saiba. Claro, estamos lidando aqui com outro tipo de co- ahecimento, diferente daquele que seria necessdrio para que vocé pudesse afirmar, no exemplo anterior, “Eu conbepo mecdnica celes- te”. O conhecimento que vocé tem de poesia é 0 que os teéricos chamam de empirico ou pré-conceptual, querendo dizer que éum conhecimento ainda nio sistematizado em conceitos ¢ definigses, ‘Mas nem por isso deixa de ser conhecimento, Eu diria, mais, que o verdadeiro conhecimento de poesia nfo se preocupa muito com definig6es ¢ conceitos, s6 um pouco. A po- esia espera de nés mais do que isso. Ou menos, depende do ponto de vista. Espera nosso envolvimento pessoal, espera que nos apro- ximemos dela dispostos a sentir, experimentar, vivenciar. Nesse sentido, apesar de todo 0 respeito que os especialistas merecem, apesar da ext eles que eu s que € poesia. diretamente envolva algu ainda nfo sa pergunta nc Arriscadc tiamos extra Lemos poesia. & Bem, mesme os poetas jar Professores € se ficarem ar mas 0s poeta Veja.o cas escolha do ex uum poeta a « tiva, estimul: exato, precise o distante, 0 outra coisa. ( contrarios... caceleste”, su apostando qu poeta adorme ‘Meus am Vocé esté for muito bem qu é oespacoon nfo € nada d cor azul-clari cientistas... Para os px tém muitos se senhora “gent para um poet iam, tambén | ee

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