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Airton Tomaz::;yni O -;:_ooltígi.11 danrante da TV· /acraias, .a,,-horras. tigrões e outros bicho,
infância, seja pela ginástica ou pela dança . •-\ dança, por sua e animam auditórios e audiências de norte a sul do país. São
vez, era classificada em duas modalidades: a que representava eles que dançam a dança da vassoura, da garrafa, da cadeira,
"o movimento solene dos belos corpos e a outra representan- que dançam a dança do Tchan e outras tantas variantes que
do o movimento ignóbil dos corpos feios" (Platão, 1999:310). surgem a cada ano.
:;s.; essa última categoria estava incluída a dança dionisíaca, por Como p roceder à analise A dança que na sua insistente,
seu caráter muito e.-..;:crovertido e licencioso. desse fen ômeno? Como clas-
incômoda e transgressora
Volto ao berço da m-ilização ocidental para iniciar a refle- sificar esse . .-ariado cenáno co-
reográfico mídiatizado?
existência vai, no ambiente
xão sobre a dança no século X..,\J:, quase trinta séculos depois,
mais especificamente sobre a dança na televisão.•-\ dança que, A problemática requer uma midiático, eX.tgir um outro
na sua insistente, incômoda e transgressora existência, vai, no atitude menos platônica e uma olhar...
ambiente midiático, e.-..;:igir um outro olhar para que se poss~ postura mais lúcida como nos
dar conta da problemática que se configura na cultura con- versos de Borges. Versos que revelam a lucidez de enfrentar a
temporânea. Uma dança que vai se deparar com tentativas de dimensão do problema de classificar seres tão díspares sem
ta.rnomia maniqueísta presentes no pensamento platônico. recorrer a categorias que não levem em consideração suas
Quem acompanha a programação nos canais abertos d\i. particularidades, por menos familiare~ que nos pareçam.
televisão brasileira nos últimos anos evidenciou o aparecimen- Borges olha para os fatos e deixa-os falarem.
to de uma boa dezena de danças dos mais diferentes estilos, Como os animais nesses versos, a dança na televisão apre-
impulsionadas pelos sucessos de grupos de gêneros musicais senta toda a sua variedade, assim como apresenta uma dimen-
que vão do sertanejo ao forró, do a,"<i music ao funk. Um uni- são e uma heterogeneidade que demandam uma atitude aten-
,-erso povoado tanto pelas loiras do Tchan 2 como por prota- ta às transformações estéticas, mas também às mudanças so-
gonistas identificados por nomes pouco usuais como Jacaré, ciais entre produtores e receptores, bem como aos modos de
Tigrão 3 e suas Cachorras 4 e Tchutchucas.5 São eles que, junto r_ec:epção e percepção do m.~ - Em função disso, ...--amos
com nomes que ficaram famosos como Carla Perez, Sandy & encontrar autores como Terry Eagleton; Nestor Garcia-
Júnior e o quinteto Rouge, pulam, giram, requebram, se sacodem Canclini e \"'\-alter Benjamin, que apontam caminhos teóricos
que não fogem desse desa.fio, escapando das armadilhas que o
É o Tchan surgm em Sah-ador, no começo dos anos 1980, com o nome de Gera percurso in,-estigativo do tema impõe.
Samba. .-\pós gra,-ar três discos, em 1995 a música S~11rao Tchtmprojeta o grupo,
que trazia junto a coreografia executada pelos bailarinos Carla Perez, Débora
.-\NL.\L-\IS Qt:E PERTENCEM .-\O L.\IPER.illOR E .-\.'-:L.\L-\.1S QüE SE .-'.GI-
Brasil e Jacaré.
· Tigrão significa o rei das gannhas e é o apelido de Leandro Dionísio dos Santos TA.M COMO LOUCOS
::\foraes, morador há 20 anos do bairro Cidade de Deus, uma das regiões mais
nolentaS do Rio de Janeiro. Ele lançou pela Sony Musico CD Bondt do Tiffào, que
traz, além do sucesso homônimo, o hit Tch11tdJ11cas.
Em fevereiro de 2003 não foi diferente. O carna...-al se apro-
Cachorras: Tati Quebra-Barraco no funk Gxhorra ChapaQ11ente. ximava. ,-\ mídia prepara-se para colocar em cena a dança que
' Garotas da periferia poderia ser a moda do verão. Loiras balançando as nádegas?
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Airto11 Toma~11i O ~onhgico dancante da TI/_· lacraias. cachorras. tigroes e olltmJ bichos
Tigrões com insinuantes movimentos de quadril? Que nada, o seguinte título, " Baixaria a galope: com a infame Égua
embalo que virou mania veio comandado por um negro, alto, Pocotó, o funk carioca está de volta" ,7 que deixava e,-iden-
magro, homosse...-ru.a.l e morador da periferia, de codinome te a de,quaiificação com que o fenómeno era tratado, clas-
Lacraia, que emp~cou nas paradas acompanhando o bit musi- sifican do-o co mo menor,
cal Egiii11/Ja Pocotó. com o v aticinaria Platão:
O cabeleireiro .:-.Iarco Aurélio Silva da Rocha, de 26 anos,
Não podem os desprezar os
" questionável".
Lacraia, ganhou o apelido porque se contorce como o hn- ::-,,;o Jornal da Tarde não se-
significados deste dançante
mônimo inseto. Ele dançava nos bailes fimks cariocas sob o ria muito diferente: "O suces- zoológico teleY-isiYo, que tem
pseudônimo 11argareth Robocop, quando passou a acom- so de Lac-raia, a cavalerra do questões a re,elar muito além
panhar MC Serginho. Resultado, o Furacão 2000 T1vister, dis- apo calipse".8 Aqui o bailarino do bem e do m al.
co que contém Egiii11ha Pocotó e ainda a canção Vai Lacraia, é comparado com a figura bí-
Yendeu de saída, mais de 150.000 cópias e levou a dupla a blica que anuncia o fim dos tempos. como se a S1J2._performance
fazer cerca de quinze apresentações por fim de semana a um representasse o fim da dança. Os dois exemplos, e p odería-
cachê médio de 2 mil reais. Além disso Lacraia ajudou o mos colecionar vários, consideram esse tipo de dança com o
Domingo Legal, de Gugu Liberato, a fazer 20 pontos no Ibope, forma menor, desqualificada, apelam-a e degradante. Parece 1
enquanto o Domingão do Faustão ficava nos 16. 6 E não demo- ecoar as premissas platónicas nas quais " o juiz assume seu posto i
ro u para que a co reografia extrapolasse os limites da p erife- como um mestre dos especradores, estando pronto para se ,4
ria do Rio de J aneiro e virasse mania de norte a sul do país, opor àqueles que lhes oferecem prazer de uma maneira incon- '4
sem respeitar classe, sexo e idade. As crianças repetem os veniente ou errônea" (Platão, 1999:112). ''
j
passo s, as danceterias juvenis incluem-na no seu repertório, Na impossibilidade de lidar apenas com animais perten- 1
e quem tiver freqüentado, no período, festas de casamento centes ao imperador ou embalsamados, aceitos e aclamados, 1
4
ou formatura poderia flagrar senhoras bem-Yestidas arris- verifica-se o julgamento de todos aqueles que não se enqua-
cando acompanharem a dança. dram nessa classificação. Os ~~'}!!e se agitam como lou- l J
;
Tão rápido como ela surgiu, surgiram os discursos que cos não são analisados em sua\ qualida~ ~ ~ sua e:xclu- l rJ.,
1 :i
deixariam Platão orgulhoso. Uma rápida percorrida nas edi-
ções on-li11e das renstas e jornais de circulação nacional no mês
são das categ_ow~ "nobres~'._ <.:..:::::...,. li
!1
de fevereiro daquele ano, por exemplo, mostra um horizonte ANThUIS QUE DE LONGE PARECEM MOSC.-\S l
de criticas ao sucesso de Lacraia, tratando de separar o joio
do trigo. O órulo de algumas delas deixa claro o tom de opo- Ainda que os textos não se proponham a uma análise profun-
sição e julgamento do fenómeno. Na Vqa 011-line aparecia o da da questão, creio ser oportuno perceber o tom de ambas as
abordagens, para ilustrar quão infrutífera será qualquer incursão
'. T ~ia On-áne/ Edicão 1.791. 26 de fevereiro de 2003.
I 90 On-line/ Edição 1.7 91. 26 de fevereiro de 2003. •}omal da Tarde/ quinta-feira, 13 de fe,·ereiro de 2003.
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r lirto11 Tomav::p11i O .--_ool.ógà-o da,zçante da 1V: lacraias, cachorras. tigmu t 011tro1 b1cho1
sobre o tema que dei..-..:e de considerar o perigo das ciladas de optando pela alternativa de trabalhar com pavimentos
determinismos, reducionismos ou idealismos que afastem a hierarquizados nos quais se separam a arte, a cultura popular
investigação da complexidade do problema. Não podemos -i· e a rrúdia. " Precisamos de ciências sociais nômades, capazes
desprezar os significados desse dançante zoológico de circular pelas escadas que
teleYisivo, que tem questões a revelar muito além do bem e ligam esses pavimentos. Ou
do mal.
A problemática da mídia e
melhor. que redesenhem esses
_-\ problemática da mídia e da cultura exige uma análise / planos e comuniquem os ní-
cultura exige uma análise
densa para se entender as implicações sociais, econômicas, es- >!" veis horizontalmente " densa pa.ra se entender a
céticas e políticas en,-oh-idas (tivemos, inclusive, uma vereadora (Garcia-Canclini, 1998:19). O implicações sociais, eco -
eleita no Rio de Janeiro, a :2\fãe Loura, uma das promotoras sucesso dessas dancas não se nômicas, estéticas e políticas
dos grandes bailes fimk.s d.a periferia). Como destacou Eagleton,
"la palabra ,cultura , contiene en sí misma uma tensión entre
.. (
\j ,
.. ~- explica apenas pela explora- enYolndas .
, ., ção pela mídia de produtos
producir y ser producido, entre racionalidad y espontaneidad
')
.•~ Y.
l
(sübcüffuraÍs:----: \ sua emergeucia faz --e ci:tme de demandas que
que se opone a la idea ilustrada de un intelecto inmaterial y \
suscitam que __,,
olhemos a. cultura c0memporàne:i. a fim de •
desencarnado, pero que también desafia al reducionismo culi- entendê-la lógica, esréuca e eucamence. Isso para não ficar-
tural imperante en gran parte del pensamiento contemporaneo" mos olhando de tão longe a ponto de julgarmos ser o hipo-
(Eagleton, 2001:16). pótamo uma mosca..
Precisamos, portanto, olhar para a dança na televisão ten-
tando enxergar nesse fenômeno os aspectos que lhe são ine- .-\i'\ffi.UIS DO~!ESTIC.-\IX)S,.-\..'\.""L', L-\IS E-\BCI.050S E C.:i.ES E.\l LIBERD.-illE
rentes e entlo podermos avançar na sua análise. Dentro dos
aspectos que parecem merecer destaque estão: Comecemos este percurso num br~ retrospecto de como
• o fato de a dança na tele\<-isão t~mar públicas coreografias}
que, de outra forma, ficariam restntas a grupos e comuruda- 3/ 1 as sociedades ocidentais encararam a dança ao longo da his-
tória, especialmente na sua tensão entre a dança considerada
des espeáficos; popular e a dança culca ou oficial. Durante a Idade ~Iédia, a
• o f:uo de a dança na televisão promover (e não apenas Igreja também fez suas distinções entre os tipos de dança,
ela) a relaçio das matrizes culturais populares com as novas guiada por pressupostos religiosos, m:is não conseguiu neu-
tecnologias, numa complexa rede de interações sociais que Jf:: tralizar as danças pagãs e te,e de abson-ê-las nos seus autos
trazem combinações, articulações e tensões ao cenário con- de fé. _-\s cortes européias também não puderam ficar alheias
temporâneo. às danças popubres. _-\s danças da corte, por exemplo, vão
In'"estigar esse intrincado universo cultural impõe um olhar ter sua origem nas danças populares dos camponeses (Bourcier,
menos intolerante a fim de trafegar pelas novas geografias, pelos 2001).
novos modos de produção e consumo, pelas novas estratégias sim- No século X\11, o soberano ab~olutista Luís XIY iria criar
bólicas. Seria pouco fértil, por isso, seguir qualquer investigação na França a _-\cademia Real de Dança para assegurar o padrio
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Airto11 Toma ~ o11i
O :;_oológico dança111t da TI ': ÚJtTaias. cachorras, tigroes
e 011tro1 b1cho1
telev isão ela pro, ocar á polé mica nos shou 1 . .:,. ...,.. .... Banda que surgiu cm 2001 em
Naral (R."'-'), mesc lando ritmos norde stinos e
s telev ision ados . ;_ '. · .: . t0111ttrym,isic Seu novo sucesso é O espo,ú da 11111
com o os de Eh·is Presley - cons ider ado obsc /ixr-O k.arati .•\lém dos músicos
eno por seus ( .;.::.....,- -? grupo é formado pelos dançarinos Nath:ília,Jean,
_::,::.:r .... -.-.. Tami!e, Daniele e los,. '
• - .
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.Airton Toma~ni O t;!)O!ligi,v dançante da Iv': !atraias. ,u,:horrar. tigoo ( OMtroJ ÍJ1~-hoJ
e sua turma. .-\rumais fubulosos misturam-se com animais do- tanto ao dei."{ar-se seduzir quanto ao estabelecer outro tipo de
mesticados e cães em liberdade, a ponto de muitas vezes ser interação e até mesmo contrapor-se a elas. " C ma pessoa pode
dificil a sua distinção. usar a cfu-ersida<le de modo a criar uma auto-identidade cfu-
cinta que incorpora positiva-
b.-t.TMER..Í. \BS .-u'\íL\L-\IS E ETCÉTER.-\ mente elementos de diferences Opor-se aos fatos antes de
cenários numa narrativa inte-
identificar o que eles nos
Independentemente de qualquer juízo diante dessas novas grada" ,.Giddens, 1997: 175).
configurações que a mídia traz, o que se venfica é que a televi- Parece pouco promissor
demandam pode ser fatil para
são acabou colocando na esfera pública inúmeras danças e, pensar em espectadores inca- a cri tic:i cultural.
mais do que isso, intensificando o contato en tre danças de di:- pazes de respostas diante de
,-ersos es tilos. Novos protagonistas assumem a cena, novos tal fenômen o, ainda que essa respos ta seja desligar o apar~-
corpos entram na danç:i., alheios aos padrões estéticos de lho de TY. É mais pertinente entender "os meios de co mu-
cânones como os do balé cl:íssico.•-\s danças que não freqúen- 1 nicacão como um grande · fórum de rnterpretações · que
cavam o OIClllto de espe°:~ºs_ nos palcos das ~ des cida-J >i/ cump re a funcão vi.tal na reflexindade ~oetal. ou scp, '-:lu-e
des ganham uma arena p nvilegrada: a tela da televisão. · habilita ,1 5 p e,~oa:- ::i. elabonr interp rer:iri,-:imenr~.su:is dú\-i- / I 1\
Se não chegamos ao ponto de uma radical democratização das., conflitos e. cerrez:is" (_-\ndacht. : OO I:179). E com esse
coreográfica, uma \·ez que outras tantas danças permanecem entendimento que proponho prosseguir nossa mirada sob re
excluídas do circuito nndiático, temos uma cfo.-ersificacão e essas danças rele\.-isi\-as, buscando \·eriiicar as signific:i.ções
uma plur:ilização em esc:tla até então nunca \-Ísta. _-\gora, essa que trazem à tona, os \-ÍOculos sociais que estabelecem. o s
profusão de imagens dançantes poderia ser entendida como afetos que mobilizam e os imaginários que suscit:un.
um dos males caracterisricos da pós-modernidade, tomando- ,# lj ~este caminho para entender como se processam essas ope-
se nocirn, imobilizando mais do que dinamizando o jogo so- ~ ; / ,/ rações simbólicas, é oportuno acompanhar o perrurso de Terry
cia1 ccsegundo Baudrillard, o ,excesso , de informação impos- cJ 'r I Eagleton ao obsen-ar, analisando o impacto do cinema na
sibilita a resposta por parte daquele que a recebe" 0Iorley, (f sociedade explicitado na obra de Walter Benjamin, que " o
1998: 10-1) . De acordo co m ele, estaríamos sujeitos a uma se- / filme transforma toda gente com algo parecido com um es-
dução banal e a uma fa:3cinação estúpida, restando apenas a pecialista - qualquer pessoa é capaz de tirar uma fotografia
passn-idade como alternati\·a de salvação. ou, pelo menos, reclamar que o filmem - e sub\·erte, assim. o
Sem entrarmos na defesa cie reses do papel ativo do recep- ritual da 'arte superior' tradicional" (1pJ1dSantaella, 1995:111).
tor, cabe contrapor essas considerações, que impossibilitam /.:Í Esse paralelo parece aplicar-se ao fenômeno da dança na
pensar em outras possí\-eis conseqüências diante da diversi- 1-- televisão. Essa arte tradicional é subvertida. Q ualquer pessoa
dade de imagens que a televisão disponibiliza ...-\o observar ~ pode dancar ou mesmo estabelecer a sua dança. "Claro que as
ou mesmo experimentar os passos dessas danças, o especta- relações não cos rumam ser 1gualitánas, mas é evidente que o
dor também constrói a sua própria rede de interpretações. poder e a co nstrução do acontecimento são resultado de um
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'l
.4rto11 Toma~mi
O z.aolrigi:r, danpante da TT '.· la<Taiar. cacliorras. tigroes t outros bichos
~
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uma variedade de opções disponíveis no consumo de bens e ser- cinematográfico de o'i:itros ichos animados), que fez \Valter
Yiços e a plurahuade de escolha é, em parte substancial, o resulta- \ Beni·amitr. refletir sobre as transformacões
, na sensibilidade e
do mesmo dos processos mercadorizados. Tamp ouco a na percepção que as nons tecnologias colocavam em cena.
. mercadoriza~o é meramente sinônímo de estandardização" Riso e distração não são p ara Benjamin fatos irrelevantes no
·. fGiddens,1997:184) . ..-\téporque o fenômeno da dança na televi- entendimento das operações simbólicas que se configuram.
são não está restrito a especradores no sentido comum como '~\ hilaridade colem-a representa a eclosão precoce e saudável
t·(!J•mrs, mas produz também corpos em moYimentos. Corpos dessa psicose de massa. ..-\ enorme qu,mti&.de de episódios gro-
que Yão experimen~~ças. Com marimeru.~e vão tescos atualmente consumidos no cinema constitu1m um índice
estabelecer as suafbmmivas inscritas em corpo singulares. impressionante dos perigos gue ameaçam a humanidade, resul-
tantes das repressões que a cirilização traz consigo. Os filmes
LEITÓES, SEP.El.-\S E ANIMAIS QUE ACABAM DE QUEBRAR A BILHA grotescos dos Estado Unidos e os filmes de Disney produzem
que tecem a rede de interações que envolvem as danças na f~:f : -.- Opor-se aos fatos antes de identificar o que eles nos de-
.;:~~tnandam
-~'";-·',··.· :
pode ser fatal para a critica cultural. ..\s categorias
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Airtun TomaZ?f)nÍ
,J O zf}(J/ógú:o dançante da TV: lacraiaJ• .achorras. tigro,.J 011tror biÚ',;H
dança. :\Ias toda essa mobilidade se dá em um corpo físico, ;j1' J./ ,-\."-.TIAOIT, Fernando. "Prozac, meios e máfia: o amanhecer
concreto, real. E é neste plano que precisamos mergulhar. 0 '.;;.-
de uma nova subjetividade". ln: úgarComum-Estudos
Como enfatizou a pesquisadora de dança e crítica do joro~ v1~'?'"'
de Jfidia, Cultura e Democracia, nº13-14. Rio de janeiro:
O E stado de São Paulo Helena Katz, recuperando o pensa- í-
Crm-ersidade Federal do Rio de Janeiro, 2001.
mento do cineasta John Ford: " Quando os fatos desmentem
BE>iJ _\~fI:-,;, Walter. "_\ obra de arte na era da
as lenda_s, é a lenda que acaba sendo publicada. Para evitar o ~
reprodutibilidade técnica". ln: Obras escolhidas - magta
fortalecunento das lendas, portanto, nos cabe o esclareci- ·
técnica, arte epolítica. São Paulo: Brasiliense, 1987.
menta dos fatos da dança" (Katz, 1999:1-1-). E se formos
BO CRCIER, Paul A h-istória da dança no Oàdmte. São Paulo:
olhar além da bisonhice da Lacraia, logo vamos nos deparar
com Caetano Yeloso incluindo o refrão da funqueira MC ).Iartins Fontes, 2001.
CCRR.:\..'(, James, ).fORLEY, Dand, W_\Ll(ERDI~E,
Beth " um tapinha não dói" (que também tem coreografia)~
\-alerie (comp). Est11dios t7tlturalesy comunitüción: aná!isi.s.
no seu show ou ainda o coreógrafo francês Jérôme Bel colo- ,
1 produción y consumo m!t11ra! de las políticas dt idtntidadJ !!
cando seus 20 intérpretes ara-daqçarem a macarena. Polê- \
. '
~ g ratwta, cnt1ca ou adesão? Çomo alertara Garcia- ·
. posmoderni.sma. Barcelona: Paydós, 1998.
G .\RCL\.-C..-\..'-.; C~l, _): es tor. Ú/buras hibritkIS: estratigiaspan
Canclini, os panmentos da arte, cultura p opular e cultura
massiva não estão tão separados assim. - entrar e sair da m,xkrnidade. São Paulo: Editora da L oiver-
Enfim, este bre,-e percurso pelsmais do que apre- sidade de São Paulo. 1998.
C\STRO, Ruy. Saudades do sirnlo 20. São P:mlo: Companhia
s~tar concl~s~e~ ~recipi_tadas º'¾ ilibar Lacraia, quis ini-
ciar uma traJetona m,-esuganva q sca avançar no en- das Letras, 1994.
tendimento do complexo fenômeno cultural. ,\ dança na E-\GLETO~, Terry: Laidtadem!t11ra. Barcelona: Paydós, 2001 .
televisão hoje precisa ser entendida como uma operação GIDDE'-.;S, Anthony. Modernidade e identidade pessoal Oeiras:
cultural multicondicionada. •\credito que, a partir desses Celta, 1997.
pressupostos, podemos partir para tentar entender a La- K.ATZ, Helena. " O coreógrafo como DJ". lo: PEREIR..-\ E
craia, tch11tchucas, cachorras e Tigrões, sem trancafiá-los SOTER (Orgs.) Llções de danfa I. Rio de Janeiro:
todos numa mesma jaula no zoológico dos que não perten- Cni...-erCidade, 1999.
cem ao imperador. Para enfrentar tal desafio, precisamos PL-\T_\O.As !eir, m1da !egishçiioeepinomis. Bauru: Edipro, 1999.
de uma taxonomia mais próxima da proposta de Borges, S_-\J.~T\ELL-\, Lucia. (A rte) & (C11!t11râ): eq11íroi:os do elitismo.
disposta a organizar os fatos a partir da análise e do enten- São Paulo: Cortez, 1995.
dimento das suas peculiaridades e singularidades, e não os ST_\?-.1, Robert. "~Iikhail Bakhtin e crítica cultural da esquer-
s eparar pelo julgamento de suas estranhezas e da". ln: Kaplan, _\nn. O ,nal-estar no pós-1J1odernismo: t~o-
disformidades. _\f"mal não é à toa que esses bichos passam riase práticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.
a povoar o nosso mundo.