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SECOND TREATISE OF GOVERNMENT

CHAPTER I
 Tendo o primeiro Tratado demonstrado que o poder político não pode derivar da
herança do poder paterno e privado absolutos de Adão (seja porque este não
possuía autoridade absoluta sobre seus filhos e sobre o mundo, seja porque,
mesmo se tivesse, seus herdeiros não possuiriam, seja pois, mesmo que
possuíssem, não seria possível encontrar-se o legítimo herdeiro), faz-se
necessário encontrar-se um outro fundamento para tal poder, de modo que não
se firme este apenas sob a força e a violência.
 Desse modo, é preciso, antes de tudo, definir-se poder político, diferenciando-o
dos demais tipos de autoridade.
 Locke então lança sua definição: poder político é o direito de formularem-se
leis, às quais cominam-se desde a pena capital até as penas mais brandas, para a
regulação e a preservação da propriedade e de empregar-se a força da
comunidade para a execução de tais leis e a proteção contra inimigos externos
com o objetivo de se alcançar o bem público.
CHAPTER II
 Para se entender o poder político, é preciso compreender o estado em que os
indivíduos estão naturalmente; tal estado é um de perfeita liberdade para se agir
e dispor de seus bens dentro dos limites da lei natural e igualdade entre os
indivíduos, de modo que ninguém deve obediência a outrem.
o A igualdade para Hooker seria o fundamento para o amor recíproco entre
os homens.
 No entanto, a mencionada liberdade não significa licenciosidade: ninguém a tem
para destruir a si mesmo ou a outrem, posto que: os indivíduos servem ao
propósito do Criador e, portanto, só este pode dispor de suas vidas; além disso,
sendo os homens iguais, ninguém possui direito sobre a vida de outrem.; dessa
forma, ninguém pode violar os bens, a vida, a liberdade e a integridade física de
alguém, pelo que, caso isso se dê, qualquer um terá (o direito é comum a todos,
pois deve-se buscar a preservação da lei natural) o direito de punir o infrator,
pois este violou a lei natural: somente nesse caso é que alguém adquire poder
sobre outra pessoa no estado de natureza, ou seja, quando visa-se a resguardar a
lei natural, que foi maculada pela infração; no entanto, a punição deve ser
sempre feita segundo uma justa medida.
o Para justificar a existência da lei natural e do direito, no estado de
natureza, que cada homem possui de punir o ofensor de tal lei, Locke usa
o exemplo da punição a um estrangeiro, que, mesmo sem vínculo civil
com o Estado em que se encontra, pode ser punido pelo direito natural,
que independe das leis.
 Além do direito de punir comum a todos, há ainda um direito à reparação,
relativo apenas ao particular (ou a um terceiro) prejudicado; dessa forma, sendo
esse direito pertinente ao particular, somente este pode renunciar a ele,
desobrigando o ofensor a reparar o dano causado.
o Locke faz uma defesa da pena de morte, cabível contra assassinos.
 As punições devem ser tais que o agressor seja prejudicado e possa-se prevenir,
por meio da dissuasão, o cometimento do mesmo crime; portanto, a pena de
morte é a mais severa, mas penas menores podem e devem existir.
 Objeta-se, no entanto, que os homens, no estado de natureza não serão justos e
favorecerão a si ou prejudicarão aos outros quando lhes for conveniente; Locke
reconhece-o, mas afirma ser o Estado absolutista ainda pior, sendo que no estado
de natureza as pessoas conservam pelo menos sua liberdade.
 Por conseguinte, pergunta-se onde existe ou existiu esse estado de natureza, pelo
que Locke responde serem os diversos Estados, que não estão regidos por uma
lei comum, o exemplo maior do Estado de natureza (mesmo que haja
associações pontuais entre eles, não há uma unidade de poder); o caso de
populações isoladas também é um exemplo.
 Para concluir, Locke traz a ideia de Hooker de que quando os homens não são
mais capazes de suprir as suas necessidades no estado de natureza, associam-se;
além disso, afirma que tal entrada numa comunidade é sempre voluntária.
CHAPTER III
 Tendo demonstrado em que consiste o estado de natureza, Locke passa a tratar
do estado de guerra, o qual se instaura quando alguém possui uma pretensão
destrutiva (e injusta) contra a vida de outrem; tal estado permite que o
ofendido/ameaçado também adquira uma pretensão contra a vida do agressor
(que violou a lei a razão), pois deve proteger a sua (inocente que é).
 A ameaça à/violação da liberdade (no sentido amplo, por meio da força) também
constitui a formação de um estado de guerra, pois se alguém toma a liberdade de
outrem, poderá tomar-lhe tudo o mais (a liberdade é o limite que assegura a
preservação dos indivíduos); isso se aplica tanto ao estado de natureza quanto ao
de sociedade.
 Isso justifica o ato de se matar um ladrão, pois este declara guerra contra a
vítima ao tolher-lhe sua liberdade.
 Dessa forma, enquanto o estado de guerra é aquele em que, não havendo
autoridade para defender os particulares, usa-se a força contra estes, o estado de
natureza é, quando não há autoridade, as ações dos indivíduos são baseadas na
razão. No primeiro caso, é preciso dizer, mesmo que se esteja no estado de
sociedade, se não há proteção do particular contra a força, instaura-se um estado
de guerra, pelo que o ofendido/ameaçado tem o direito de insurgir-se contra a
vida do agressor.
 No entanto, se, no estado de sociedade, a força cessa, os indivíduos podem se
amparar na determinação justa da lei, pelo que o estado de guerra também cessa;
já no estado de natureza, não cessa o estado de guerra até que o agressor ofereça
paz e repare o dano causado; outrossim, no próprio estado de sociedade isso
pode ocorrer se a justiça estiver corrompida e o remédio para a agressão injusta
não for oferecido.
 Locke então conclui que a repulsão do estado de guerra é um dos motivos para o
ingresso dos homens no estado de sociedade.
CHAPTER IV
 Tratando agora acerca da escravidão, Locke afirma que a liberdade natural é
aquela de alguém não estar submetido a nenhuma autoridade terrena senão à da
lei natural; já a liberdade civil consiste em não se submeter a outra lei que não
àquela estabelecida pelo consentimento; não é fazer tudo o que a alma deseja,
mas poder fazer tudo o que a lei não proíbe (lei que garante segurança contra
poderes arbitrários).
 Tal liberdade é tão necessária à conservação dos indivíduos que eles não podem
dispor dela, de modo a se entregarem à escravidão (pois não possuem o poder
para disporem de suas vidas); a única hipótese legítima para a escravidão seria
aquela em que alguém perde o direito à sua vida por algum delito que cometeu:
aí, o responsável pela pena de morte pode utilizar a vida do condenado a seu
favor, escravizando-o.
CHAPTER V
 Nesse capítulo, Locke fundamentará a origem da propriedade, ou seja, o
argumento fundamental que justifica a apropriação de coisas. Primeiramente,
explica que tanto a razão (que mostra que cada um tem o direito à sua
preservação) quanto a revelação demonstram que o mundo foi dado aos homens
por Deus; contudo, ainda subsiste o problema de como alguém adquire
propriedade sobre algo que era comum, pois é preciso haver uma apropriação,
uma vez que as coisas são consumidas pelas pessoas.
 Identifica, por conseguinte, o fundamento da propriedade no trabalho humano,
isto é, aquilo que é adicionado a um objeto da natureza, modificando-o de
alguma forma; é tal labor que exclui o direito comum dos outros sobre algo.
 Em seguida, pergunta-se a partir de que momento alguém adquire tal
propriedade: a partir da primeira ação do trabalho sobre a coisa.
 Mas, então, surge o questionamento, não seria necessário o consentimento de
toda a comunidade? Não, pois se, sempre que para alguém consumir algo, isso
fosse necessário, os bens da natureza se tornariam inúteis.
 Tal lei da natureza (a do trabalho como gerador da propriedade) se aplica tanto
aos povos “não-civilizados” quanto aos “civilizados”; mesmo no estado de
sociedade, repleto de leis que regulam a propriedade, ainda restam espaços de
aplicação dessa lei.
 Não obstante, Locke levanta uma objeção: não poderia alguém se apropriar de
tudo que quisesse? Não, pois a apropriação deveria ser somente daquilo que
servisse para o usufruto; o que excedesse isso não poderia ser apropriado (esse
argumento é o que será usado adiante para justificar a troca e a invenção do
dinheiro).
 A apropriação da terra, da mesma forma, seguiria as mesmas leis de apropriação;
também por haver terra suficiente para todos, a apropriação não prejudicaria
ninguém.
o No princípio, as leis eram favoráveis à apropriação, mas então (à época
de Locke) nas propriedades comuns passou a ser desfavorável.
 Por conseguinte, a medida de apropriação da terra é a da extensão do trabalho
humano e da conveniência da vida; assim, ninguém poderia se apropriar de mais
do que daquilo de que necessitasse; assim ainda ocorreria hoje não fosse a
existência do dinheiro (e do acordo tácito dos homens em utilizá-lo) a criar
enormes propriedades.
 Mas embora houvesse tal limite, que permitiria que a ninguém faltasse terra para
cultivar, é certo que a apropriação é benéfica para a humanidade, pois amplia as
reservas comuns, uma vez que uma só terra cultivada pode substituir uma
multiplicidade de terras não cultivadas; no entanto, se alguém se apropria e
desperdiça a terra, não possui a propriedade dela.
 Da ideia anterior se segue que a maioria dos bens que os seres humanos possuem
advém do trabalho; disso, por sua vez, segue-se que é preferível a multiplicidade
de homens à de terras.
 Mas não é apenas o trabalho diretamente envolvido num bem que confere valor
a ele; é todo o trabalho envolvido na cadeia produtiva em que aquele bem está
inserido.
 Em seguida, John Locke faz um último apanhado sobre a função do trabalho
como fundamentador da propriedade, ressaltando que, se não fosse a criação do
dinheiro e das leis, esse ainda seria o modo primitivo de apropriação (ainda que
em certas partes do mundo naquela época fosse possível haver esse tipo de
apropriação).
 Nesse sentido, para delinear como se deu o advento do dinheiro, Locke introduz
a noção de que a maioria dos bens utilizados pelos seres humanos no princípio
era de curta duração; como, outrossim, pela lei natural, ninguém poderia
apropriar-se do que não usaria, ou seja, desperdiçar bens, uma solução para
evitar essa violação seria a doação ou a troca; tal troca foi o que primeiro
favoreceu a criação do dinheiro; assim, o intercâmbio entre diferentes
“indústrias” fez com que o dinheiro tivesse que ser utilizado, o que, por sua vez,
favoreceu o aumento das propriedades, das produções.
CHAPTER VI
 No esteio de diferenciar o poder político das outras espécies de poder, Locke
dedicará este capítulo para definir o poder paterno. Inicia, pois, afirmando que
“parental power” é um termo melhor que “paternal power”, pois ressalta a
partilha de autoridade entre pai e mãe.
 Passa, então, à justificação da autoridade dos pais sobre os filhos: as crianças,
apesar de terem nascido para um estado de igualdade, ainda não estão nele, pois
não estão sujeitas às leis da razão (uma vez que não têm acesso a esta); por
conseguinte, não são sequer livres (pois é a lei que os faz livres) e dependem dos
pais para guiarem sua vontade (além de para manterem sua subsistência); assim,
a sua liberdade é adquirida com a maturidade, quando as leis (sejam leis da
razão sejam leis civis) passam a se aplicar a eles.
 Em seguida, Locke estabelece quais são os limites da autoridade pátria, a qual se
caracteriza como sendo sempre um “poder-dever”, pois a autoridade dos pais
está sempre associada às suas responsabilidades para com os filhos; não têm
poder absoluto sobre sua progênie (ainda que os filhos, mesmo após a
maturidade, devam reverência aos pais – isso é uma lei da natureza).
 Uma vez que a obrigação dos pais, portanto, advém da lei natural, subsiste no
estado de sociedade, pelo que o poder do príncipe não pode se confundir com o
de um pai (ou todos os pais seriam príncipes).
 Locke também acrescenta outro poder à disposição do pai, que é o de dispor de
sua herança; tal poder faz com que os filhos dediquem maior honra a ele na
expectativa de herdarem seus bens, o que, por sua vez, faz com que os filhos
tenham de se sujeitar ao governo em que já estavam (a propriedade é
consentimento tácito - § 119)
 Para concluir, Locke apresenta a ideia de o fato de os patriarcas no princípio
terem em geral também o poder político se justifica da seguinte maneira: não
havendo governo, o mais razoável era continuar se submetendo à autoridade do
pai, que eles tinham aprendido a obedecer, mas isso mediante consentimento: os
filhos crescidos teriam de consentir (além da esposa)
 A ideia, então, é a de que o poder paterno não se confunde com o poder político,
por tudo o que foi exposto.
CHAPTER VII
A ideia de Locke nesse capítulo é definir o que é uma sociedade política, além
de fazer uma distinção entre ela e os diferentes tipos de sociedade em que os indivíduos
podem estar inseridos (diferenciando-as, é dizer, no que concerne a seus fins, vínculos e
limites). Para isso, naturalmente, retoma algumas ideias que já havia introduzido, como
a da relação entre pais e filhos e entre senhor e escravo, adicionando as da sociedade
conjugal e da monarquia absoluta.
Assim, dos §§ 77 a 83, Locke descreve a sociedade conjugal, a primeira das
sociedades, cujo fim capital é a continuação da espécie. Quanto aos vínculos dessa
relação, Locke demonstra que, diferentemente de todas as outras espécies, o ser humano
tem a necessidade de prolongar o laço conjugal, haja vista que leva muito tempo para
que o rebento torne-se independente dos pais, fazendo dessa relação mais duradoura,
sem que, no entanto, não possa ter um termo. Por fim, com relação aos limites, Locke
argumenta que o poder que o marido tem sobre a esposa (por ser mais forte e capaz)
atinge apenas aquilo que é de seu interesse comum, não se estendendo para o âmbito
privado da vida da mulher, pelo que não é absoluto (tal poder tem de se ater aos fins da
sociedade conjugal).
Com relação à associação entre pais e filhos, Locke remete o leitor ao já
discorrido anteriormente.
No que toca a relação de senhor e servidor, afirma ser ela temporário, nos termos
do contrato, salvo se o servidor for um escravo (obtido numa guerra justa), hipótese em
que nem cidadão pode ser mais considerado.
Assim, chega à conclusão de que o mestre de uma família tem um poder bem
diferente daquele de um monarca, sobretudo por não ter direito sobre a vida e a morte
dos seus (à exceção do escravo).
Chega, então, à caracterização de uma sociedade política: é aquela organização
formada quando todos renunciaram ao seu poder natural de punir, integrando-se a um só
corpo, com uma lei estabelecida e uma judicatura à qual apelar, com autoridade para
decidir controvérsias e punir os infratores da lei; quem não o possui ainda se encontra
em estado de natureza. Essa é, ademais, a origem dos poderes legislativo e executivo.
Por fim, chega à conclusão de que, dado o que foi argumentado, uma monarquia
absoluta é incompatível com uma sociedade civil, pois se não há, com relação ao
monarca e aos súditos, alguém para se apelar frente às decisões deste que firam a
propriedade, subsiste o estado de natureza (mesmo que haja um juiz para conflitos entre
súditos).
CHAPTER VIII
Esse capítulo é dedicado a justificar a tese de que só o consentimento é apto para
por os indivíduos no estado de sociedade, ou seja, o consentimento é a forma por meio
da qual uma sociedade política passa a existir.
Após erigir o consentimento como fundador do estado de sociedade, Locke
afirma que o corpo político surgido do consentimento de qualquer número de homens
deve ser regido pela maioria, pois, se ele deve se mover para alguma direção, deve ser
na da que pende para a vontade da maioria; caso contrário, o pacto não tem sentido, uma
vez que o indivíduo ficaria tanto livre quanto era no estado de natureza, alheio às
determinações do corpo; ou então, se se trocasse a regra de maioria pela de
unanimidade, o pacto também seria desfeito, uma vez que chegar a um consenso
absoluto é quase impossível. A única outra possibilidade é um número maior que a
maioria.
Locke, então, coloca a si duas objeções à tese do consentimento, que tentará
responder. A primeira é a de que não há comprovação histórica de homens iguais entre
si que se juntaram e formaram um governo. A ela responde que há poucos registros para
épocas tão antigas e os que há comprovam sua hipótese. Além disso, argumenta que,
apesar de a monarquia ter sido sempre a forma mais presente de governo ao longo das
eras, isso só se deu por necessidade e conveniência. Mas quando a ambição e a luxúria
desvirtuaram o propósito do monarca, os homens então passaram a refletir mais sobre
modos de limitar o poder.
A segunda objeção é a de que, havendo todos nascido no seio de governos, não é
possível começar um novo, pois devem se submeter ao que estão vinculados. Mas, diz
Locke, como então existem tantas monarquias no mundo? Argumenta, então, que os
filhos têm a mesma liberdade dos pais, podendo desmembrar-se a qualquer momento do
governo em que nasceram, salvo se quiserem gozar da propriedade de seu genitor. Por
fim, comprova que nenhuma criança nasce súdita de um governo.
Então, se é o consentimento que liga os homens a uma sociedade política, deve-
se perguntar qual a forma de tal consentimento. Responde Locke que pode ser expresso
(não havendo mais explicações para esse termo) ou tácito, problema de que vai se
ocupar em seguida. Afirma, por conseguinte, que quando alguém possui propriedades
ou usufrui de algum domínio do governo, concordou tacitamente em fazer parte daquela
sociedade política. Disso se segue que quando alguém adere a uma comunidade coloca
também seus bens sob a jurisdição desta. Ainda, a obrigação de quem não concordou
expressamente começa e termina com a propriedade. Por fim, a mera submissão às leis
de um governo não é suficiente para fazer de alguém um membro seu.
CHAPTER IX
Aqui, Locke identificará a finalidade das sociedades políticas e do governo, qual
seja, a da preservação das propriedades dos homens, justificando-o pelo fato de que, no
estado de natureza, apesar da perfeita liberdade e de o direito natural proteger sua
propriedade, o gozo desta é extremamente incerto, uma vez que há carências inerentes a
esse estado. Aderindo à sociedade, então, o homem abre mão dos poderes que tinha no
estado de natureza.
Reconhecendo, então, a finalidade da sociedade política e do governo, Locke
identifica as três carências que o estado de natureza possui e que o impedem de alcançar
essa finalidade, a saber, a proteção da propriedade. Quais sejam: ausência de uma lei
estabelecida, fixa e conhecida (feita pelo consentimento); inexistência de um juiz
imparcial com competência para decidir as controvérsias entre os particulares; falta de
um poder para dar base e garantia de execução à sentença. Isso é, por conseguinte, o que
leva os homens a entrarem em sociedade, abrindo mão de seus poderes e entregando-os
a um só ente: abre mão da sua liberdade segundo os limites da lei natural para uma
liberdade segundo os limites da lei positiva; por outro lado, renuncia ao seu poder de
punir os violadores da lei natural e entrega-o nas mãos do poder executivo.
Apesar disso, o poder da sociedade não pode extrapolar os limites do bem
comum, tendo como tarefa a proteção da propriedade, provendo soluções contra as três
carências mencionadas: estabelecimento de leis fixas e duradouras, existência de juízes
conhecidos e imparciais e aplicação da força da comunidade para executar as leis e
proteger a sociedade de injúrias externas.
CHAPTER X
Esse breve capítulo se volta a elencar as diferentes formas de uma sociedade
política e em que a divisão de tais formas se baseia: democracia, oligarquia e monarquia
(que pode ser eletiva ou hereditária) – depende de quem detém o poder de legislar (por
ser o legislativo o poder supremo). Segue-se, ademais, uma conceituação de
“commonwealth”.
CHAPTER XI
O poder legislativo de uma sociedade política é o seu poder supremo, mas possui
também limites, posto que constituído pela sociedade e para o benefício desta.
Locke não explica de forma explícita por que o legislativo é o poder supremo,
mas adianta que o primeiro ato de todas as sociedades políticas é o seu estabelecimento,
haja vista que somente mediante leis a propriedade pode ser protegida.
Sendo supremo, então, não se submete a nenhum outro poder e toda a obediência
começa e termina nele.
Seus limites são: não pode ser arbitrário sobre as vidas e os bens das pessoas,
não podendo ir contra a lei da natureza e devendo observar o bem comum; deve atuar
mediante leis promulgadas e fixas e por meio de juízes conhecidos e autorizados; não
lhe é permitido tomar parte da propriedade de qualquer um sem o consentimento deste,
é dizer, arbitrariamente, devendo os próprios tributos serem estabelecidos mediante
consentimento
CHAPTER XII
No entanto, à medida que a atividade legislativa é rápida e não permanente, a
execução das leis deve ser duradoura e contínua e a concentração do poder de legislar e
executar as leis num mesmo poder pode levar à perversão de tal poder, tais poderes não
podem estar concentrados numa mesma pessoa ou conjunto de pessoas.
Assim, o poder executivo deve ser responsável por manter as leis sempre em
execução, ou seja, deve ser permanente.
Há, porém, um outro poder, aquele que lida com as controvérsias com agentes
externos à comunidade política: poder federativo.
Como esse poder dificilmente pode ser conduzido por leis anteriores, depende da
prudência daqueles encarregados do bem público, que não raramente coincidem com os
membros do próprio poder executivo, pelo que ambos os poderes não necessitam de
serem separados.
CHAPTER XIII
Sendo supremo o legislativo, todos os demais poderes lhe devem subordinação;
entretanto, como é depositário da confiança da sociedade, esta pode remover ou alterar
o legislador quando este não se voltar aos fins do pacto; assim, a comunidade é, na
verdade, o poder supremo, mas somente quando ocorre uma dissolução do governo;
enquanto este perdura, entretanto, continua a sê-lo o poder legislativo.
Porém, em certos casos, dado o caráter transitório desse poder, pode ele
depender do poder executivo para certos propósitos, ou ainda, pode ser que a pessoa que
detém o poder executivo esteja numa condição de supremacia; apesar disso, nunca o
poder legislativo deixará de ser supremo, pois o executivo no máximo se encontrará
numa posição de fiel depositário do legislativo (para o convocar, por exemplo).
CHAPTER XIV
Tendo introduzido, no capítulo anterior, algumas atribuições do poder executivo
resultantes da inatividade do legislativo, neste Locke continuará nessa ordem de ideias,
mas apresentando aquilo que compete a aquele pela incapacidade de o legislador prever
pela lei tudo o que possa ser útil à comunidade, pelo que o executor agirá seguindo a
discrição, não necessitando de lei, portanto, mas atentando-se ao bem público.
“Prerrogativa não é nada além de se fazer o bem público sem uma regra.”
Caso, porém, haja um conflito entre o povo e o poder executivo sobre a questão
da prerrogativa, o problema vai ser resolvido segundo o critério do bem público.
A prerrogativa dá um poder de até mesmo ir-se contra o comando da lei quando
esta favorece menos o bem público.
CHAPTER XV
Tendo até então tratado das diferentes formas de poder separadamente, Locke
percebe que é necessário também considerá-las conjuntamente, pelo que neste capítulo
fará um apanhado geral acerca do conceito, da origem, da finalidade e dos limites de
cada poder (paterno, político e despótico).
Conclui, então, afirmando que o primeiro está aquém dos poderes do segundo e
o terceiro, além dos deste
CHAPTER XVI
Locke começa com este capítulo a tratar das formas de perversão do poder
político. Aqui, tratará da conquista (de uma nação por outra). Centrar-se-á em duas
possibilidades, a da guerra injusta e a da guerra justa, demonstrando que tipo de poder
tem o conquistador sobre o conquistado e a quem esse poder alcança (quem é de fato
conquistado).
Primeiramente, descarta a conquista como uma forma de origem do governo: só
o consentimento pode sê-lo; ainda que a conquista possa alterar a constituição da
sociedade.
Em seguida, analisa a conquista numa guerra injusta, argumentando que desta
não pode advir nenhum título de sujeição e obediência com relação ao conquistado.
Passa, então, à análise da conquista obtida numa guerra justa, ou seja, quando o
vencedor está certo, verificando qual poder tem o conquistador e sobre quem: não tem
poder sobre aqueles que lutaram ao seu lado na conquista; tem poder somente contra
quem realmente se engajou ou não se opôs à guerra injusta (não pode força-los também
a aderirem ao seu governo); tem poder somente sobre a vida dos conquistados, não
sobre suas posses, a não ser para reparar os danos que sofreu (ainda assim, deverá
respeitar o direito dos filhos e da esposa, sendo que aquele que menos tiver para
sobreviver terá prioridade).
CHAPTER XVII
Aqui, Locke tratará da “conquista doméstica”, uma vez que a conquista
propriamente dita seria uma “usurpação estrangeira”; a usurpação, porém, nunca é
direita e diz respeito somente à troca de pessoas e não à alteração das regras de governo
(isso seria o caso de tirania adicionada a ela).
Tal pessoa não deve ser obedecida.
CHAPTER XVIII
Por fim, Locke chega à tirania, que é o exercício do poder além do direito, de
acordo com os desígnios particulares de que o detém e fora dos ditames da lei; não
apenas na monarquia, porém, em todas as formas de governo.
Discute, ademais, o direito do povo de resistir aos comandos do príncipe.
CHAPTER XIX

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