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Liberdade, propriedade, vida: os direitos naturais no

Segundo tratado do governo civil, de John Locke


( aula de 10 de outubro )

Nasceu em 1632;
Trava amizade com Lord Ashley, futuro líder da
oposição Whig à monarquia absoluta de Carlos II,
que morre em 1685;
Sucede-lhe o irmão Jaime II; o conflito político
também tem motivações religiosas;
Lord Ashley é preso e Locke foge para a Holanda em
1683.
Revolução Gloriosa: 1688 – 1689: Guilherme III de
Orange quebra a linhagem dos Stuarts e torna-se
novo rei de Inglaterra;
Locke regressa a Inglaterra a Inglaterra em 1689;
Intervém na vida política, influencia a « Declaração
de Direitos de 1689 », faz parte do Board of Trade;
Morre em 1704.

A obra está dividida em duas partes. Vamos trabalhar sobre a segunda.


Mas o que está na primeira?

Patriarcalismo de Robert Filmer:


- Poder político decorre do poder familiar, mantendo ambos uma relação de
interdependência;
- Jusdivinismo;
- Legitimação do absolutismo;
- Indivíduos não têm direito natural à liberdade
Críticas de Locke ao patriarcalismo de Robert Filmer:
1- Má leitura das Escrituras;
2- Poder político é diferente do poder privado;
3- A filosofia política não é uma derivação da teologia;
4- O fundamento da filosofia política não é uma autoridade, mas a razão.

Locke rejeita a perspetiva de Filmer e propõe uma conceção alternativa de lei


natural.

De que se trata, quando falamos de lei natural lockiana?


Conjunto de deveres vinculativos do indivíduo ( a não matar, a não roubar, a
não escravizar ) ;
Encontra-se oculta e só a razão a pode revelar ( é preciso que cada indivíduo
ative a sua racionalidade intrínseca );
São leis morais que transcendem o indivíduo e têm precedência sobre o direito
positivo;
Os indivíduos têm naturalmente desejos, mas a lei natural serve para bloqueá-
los ou moderá-los;
Deus é a fonte da lei, o primeiro legislador;
A vontade de Deus é que o indivíduo se preserve e garanta a paz;
Mas a lei natural não é revelada, é descoberta racionalmente;
É universal e aplica-se a todos os indivíduos de igual modo ( isto implica que
o soberano também obedece à lei natural – o príncipe ou monarca ).
Locke pressupõe que a razão permite alcançar não só o conhecimento da lei
natural, como a própria natureza humana.

O que é a natureza humana?


a) A essência do indivíduo;
b) Esta essência só pode ser conhecida num estado pré-político, onde ainda
não houve mediação pela comunidade política ( a política só nasce quando
há Estado );
c) Este estado pré-político – ao qual Locke chama de estado de natureza – é
governado não por leis civis, mas pela Lei natural;
d) Mais uma vez, é a razão que permite conhecer a lei natural, na qual se
enuncia, à partida, a igualdade entre todos os indivíduos.

A conceção de estado de natureza lockiana é diferente da conceção hobbesiana.


Para Locke, o estado de natureza já não é, necessariamente, o estado de guerra de
todos contra todos ( poder ser como pode não ser ).
A lei natural, por ser revelada racionalmente, protege cada indivíduo contra o
excesso, aquilo que pode pôr em causa o princípio da preservação do indivíduo.
A lei natural afirma que cada indivíduo tem igual legitimidade para usufruir e
desfrutar dos seus direitos naturais ( direito à liberdade, direito à propriedade, Direitos que nascem conosco
direito à vida ).
Tendencialmente, o estado de natureza é um estado de paz.

Não há garantias de que os indivíduos ajam de forma racional, ou seja, a razão não é
uma garantia a 100%, existe sempre uma potência de que o estado de natureza não
se torne num estado de paz, mas que possa degenerar num estado de « guerra de
todos contra todos » - já conhecido em Hobbes.
A diferença: para Hobbes degenerava sempre, para Locke, existe sempre essa
possibilidade.
O problema é a extrema subjetividade ( cada um interpreta como quer a lei natural )
Para Locke, a razão nunca é suficiente para todos os casos; existe sempre a
possibilidade de que o estado de natureza degenere, ou seja, a razão não é
vinculativa da paz ( a razão em Locke tem um papel mais moderador ).

A lei precisa de um agente que a execute. Quem o faz num estado de natureza, onde
não existe uma autoridade política?
1- Todos os indivíduos podem punir quem transgride a lei natural ( em
Hobbes também existia este mesmo problema );
2- Locke pressupõe que essa punição é mediada racionalmente ( um certo
otimismo ) e, nessa medida, não alcança o potencial de violência que
víamos em Hobbes ( significa que o estado de natureza lockiano nunca vai
adquirir o grau de violência / caos que víamos no estado de natureza
Hobbesiano – onde os indivíduos puniam da forma que achavam mais
adequada – Locke diz que no estado de natureza os indivíduos conseguem
temperar o seu desejo de vingança );
3- Os transgressores desobedecem à lei natural e não agem racionalmente;
4- Se não agem racionalmente, não acedem à lei natural na sua plenitude e
não podem usufruir dos seus direitos naturais;
5- Em último caso, o transgressor irracional não tem direito à propriedade, à
liberdade e à vida.
Locke afirma, no entanto, que há inconveniente no estado de natureza, por não
existir um árbitro comum para os conflitos, a não ser a justa e definitiva forma de
interpretar a lei natural através da razão.
Argumento Hobbesiano: é sempre preferível / adequada qualquer tipo de
organização política ( determinação soberana ) do que regressar a um estado de
natureza. Locke diz-nos algo diferente: o estado de natureza não é o pior estado
possível ( em termos de organização política ), o pior estado possível é a realização
efetiva da tirania do despotismo do século XVII – Monarquia absoluta
(Absolutismo).

No estado de natureza reside, então, uma possibilidade, uma potência, de que se


possa não alcançar um estado de paz, mas um estado de guerra:
Para Locke, o estado de natureza encontra-se, assim, num estado intermédio:
MONARQUIA < ESTADO DE NATUREZA < ESTADO CIVIL

| Na monarquia absoluta, o dever de obediência que era, de certa forma,


sublimado por Hobbes, é visto em Locke como um risco moral, um risco político. É
mais suportável viver num estado de natureza sem segurança do que viver num
regime governado por um absolutista, onde as vontades de cada indivíduo estão
sempre subordinadas à injustiça, isto é, no estado de natureza, há sempre a esperança
de que a justiça prevaleça, apesar de ser muito errado nessa ideia. |
O estado de natureza pode ou não ser um estado de paz

Paradoxo: os indivíduos precisam uns dos outros para florescer ( para atingir
determinados objetivos ), mas as vontades diferentes podem gerar conflito e
transformar o estado de natureza em estado de guerra.
Que fazer?

Locke afirma que a razão ( a razão de certa forma interpreta a lei natural ) dita a
criação da sociedade civil ( subjetividade unitária – soma de vontades individuais ),
na qual cada um prescinde de ser executor da lei natural

Surge um árbitro que irá executar a lei, de forma imparcial, que estará agora
determinada como direito positivo

Isso será garantido através de um contrato social, que garantirá a paz, a vida e a
segurança. O contrato social ( pacto originário ) preserva a paz e a propriedade.
Para Locke : Estado – governo civil -, autoridade externa que era necessária

O direito à vida e à liberdade são importantes, mas para Locke, há um direito


natural específico que, de certa forma, transcende os outros em termos de relevância
moral , relevância política e relevância jurídica:

Diferenças entre Locke e Hobbes:


Hobbes nega que existe um direito natural à propriedade:

No estado de natureza Hobbesiano não existe direito de propriedade sobre as coisas


( para Locke, no estado de natureza, os indivíduos já nascem com direito à
propriedade, ou seja, a serem proprietários de recursos e de uma outra coisa… );
No estado de natureza Hobbesiano, não existe direito de propriedade ( porque
propriedade implica a existência de limitações jurídicas / normas que possam punir
transgressões, roubos a apropriações ilegítimas ) sobre os corpos
No estado de natureza Hobbesiano não existia propriedade, existia posse.
Para Hobbes, a propriedade é convencionada, só surge no estado civil, depois do
pacto originário ( só há autoridade quando há autoridade )
Para Hobbes, o instinto de auto-preservação é a única pulsão que se assemelha a
um direito natural, mas trata-se mais de um instinto inato

Os argumentos de Locke rejeitam estas premissas Hobbesianas.

Para Locke, o que é a natureza?


A natureza não tem qualquer valor intrínseco;
A natureza só ganha quando o indivíduo mistura o seu trabalho com os
recursos naturais e os transforma ( é a ação do indivíduo que dá valor à
natureza );
Os recursos naturais são escassos; Locke diz-nos que há limites à apropriação
ilimitada de recursos, ou seja, há princípios de justiça que devem ser tidos em
conta para legitimar a apropriação de um determinado recurso;
Por os recursos serem escassos, Locke dirá que a grande ameaça aos
indivíduos no estado de natureza não são os outros indivíduos, como afirmou
Hobbes: a grande ameaça ( à vida de cada indivíduo ) é a fome.
Dois tipos de propriedade:
Auto-propriedade:
O indivíduo é proprietário do seu corpo e proprietário dos frutos do seu trabalho
Em certa medida, o direito à vida está subordinado neste direito natural de auto-
propriedade

Propriedade sobre coisas:


É moralmente legítimo que o indivíduo se aproprie de parte dos recursos naturais
( é legítimo que o indivíduo se possa apropriar daquilo que se encontra
naturalmente em comum dos recursos naturais, mas isso só poderá acontecer se
cada indivíduo misturar o seu trabalho com a natureza * ), que se encontrariam
num estado de propriedade comum

É neste preciso momento que se constrói uma fundamentação moral para a


propriedade privada

Quando o trabalho sobre um determinado recurso natural o transforma, o produto
dessa transformação torna-se propriedade legítima do indivíduo

* Tentativa moderna de legitimar moralmente a existência de propriedade privada.

Cláusulas para uma apropriação legítima:


Não é necessário o consentimento de todos para legitimar a propriedade privada,
mas existem limites à apropriação, ditados pela lei natural:

1. Suficiência de recursos:
a. Cada indivíduo deve deixar o suficiente ( deve deixar quantidade e qualidade
suficiente para que possa estar disponível por outro indivíduo ) de um recurso
no estado comum, para que os outros indivíduos possam aplicar o seu trabalho
sobre esse mesmo recurso;
b. Não existe um direito à monopolização ( os mares e os oceanos, e outras
riquezas naturais, devem estar disponíveis para que qualquer indivíduo possa
misturar o seu trabalho com um desses tipos de recursos e daí extrair riqueza
privada ) de um recurso.
2. Proibição do desperdício de recursos:
a. As coisas apropriadas devem ser utilizadas para beneficiar a vida dos indivíduos;
b. A lei natural não permite que uma coisa ou um bem seja apropriado caso possa
ser desperdiçado ou sofra algum tipo de deterioração por não ser usufruído;
c. O indivíduo também não pode acumular bens ou coisas que não o beneficiem ( o
dinheiro ) utilitariamente.

Contudo, estas duas cláusulas não impedem a acumulação irrestrita da


riqueza. Porquê ?

Porque os indivíduos inventaram o dinheiro:

Locke fala de um acordo tácito entre indivíduos que criaram o dinheiro e lhe
atribuíram um valor;

Locke não está a desativar as duas cláusulas anteriores sobre a apropriação


justa. Está apenas a referir que ( um paradoxo ) a acumulação ilimitada de
recursos é moralmente ilegítima, mas a acumulação de dinheiro, pelo
contrário respeita a lei natural, pois:

I. Permite o nascimento do comércio, que faz prosperar a comunidade ( faz
com que o indivíduo se sublime através da troca )
II. A própria acumulação é um incentivo ao trabalho e é o trabalho que
permite que o indivíduo floresça ( tese lockiana )

1º. Se o dinheiro está moralmente justificado pela lei natural


2º. Se uma das características do dinheiro é que pode ser acumulado de forma
irrestrita
3º. Se esta acumulação está legitimada pela lei natural, então
4º. A desigualdade entre indivíduos está igualmente legitimada pelos ditames
morais da lei natural

Estamos perante um enunciado económico que provém da Filosofia política
e da Filosofia moral dizendo que a desigualdade entre os Homens é justa
(pode estar moralmente justificada pela lei).
Pode haver indivíduos mais ricos que outros, mas mesmo o indivíduo mais
pobre dessa sociedade não vai ser miserável, vai sempre ter, pelo menos a
capacidade suficiente para preservar a sua vida e a da sua família. O
miserável, o pobre, não é o trabalhador, é precisamente aquele que não quer
trabalhar ( ociosos ). Para Locke, aqueles que trabalharem, vão conseguir
uma vida boa.
Os Homens nascem livres, mas ainda no estado de natureza tornam-se
materialmente desiguais entre si ( são TODOS iguais perante a lei ):

( 1 ) Igualdade de direitos é conciliável com a desigualdade de possessões


( 2 ) A desigualdade material pode provocar riscos para quem detém mais bens

Existe sempre o risco de esta propriedade ser roubada.
Os indivíduos procuram segurança para a sua propriedade de si e das suas coisas

Para Locke, é o desejo de proteção desta dupla propriedade que está na raiz do
nascimento da comunidade política

O nascimento da sociedade civil deve-se à instabilidade do estado de natureza (


perante esta instabilidade – os indivíduos ao consultarem a consultarem a sua
própria razão vão perceber que o mais adequado e o mais razoável a fazer é não
esperar que o estado de natureza se torne num estado de paz nem arriscar que o
estado de natureza se degenere num estado de guerra, portanto, o mais ajuizado que
os indivíduos têm a fazer é constituírem-se enquanto sociedade civil ):
A razão determina que o mais ajuizado é constituir a sociedade;
Os indivíduos querem que os seus direitos naturais sejam preservados;
A sociedade é o produto do consentimento individual.
⇒ Num segundo momento, surge o governo, que tem um mandato claro:
garantir a segurança da propriedade, da vida e da liberdade dos indivíduos.
⇒ O governo está limitado a estas funções de proteção dos direitos.

Porque é o estado de natureza instável?


Porque não existe ninguém que desempenhe a função de arbitrar imparcialmente (
de forma neutral ) os conflitos potenciais que possam surgir entre indivíduos

Indivíduos têm de prescindir de dois direitos que tinham no estado de natureza:
( 1 ) Direito a julgar pela lei natural;
( 2 ) Direito a executar a lei natural.

Nasce a autoridade política ( Estado do governo civil ):
PODER LEGISLATIVO + PODER EXECUTIVO E FEDERATIVO
Sociedade civil nasce da instabilidade do estado de natureza
É a razão que indica que é mais apropriado abandonar o estado de natureza.
Porque é mais racional?

( 1 ) Para proteger os indivíduos do perigo e da insegurança;


( 2 ) Para garantir o instinto primordial de auto-preservação;
( 3 ) Para garantir o cumprimento do respeito pelos direitos naturais ( propriedade,
liberdade, vida )

Surge o pacto originário da sociedade civil e o abandono definitivo do estado de
natureza. É um pacto que tem origem em motivações distintas do Hobbesiano

Sociedade civil corrige os erros e lacunas do estado de natureza ( estado de


segurança sempre potencial ), criando uma arbitragem imparcial de conflitos:
Lei civil é aplicada a todos;
Lei civil é fundamentada na lei natural e visa preservar os direitos naturais.

No pacto originário da sociedade civil, os indivíduos prescindem de executar a lei
natural:
- Execução da lei deixa de ser privada, como até então acontecia no estado de
natureza, e passa a ser pública ( passa a ser executada pelo soberano – autoridade
externa );
- O objetivo de preservar o indivíduo transforma-se na preservação do coletivo.

| Qualquer norma de direito positivo que atente contra o direito natural à vida
/ à liberdade / à propriedade, é uma lei fundamentalmente injusta. Até é mais do que
isso, é ilegítima do ponto de vista jurídico!
No estado de natureza, o que encontrávamos era direito privado, o que
passámos a encontrar depois da criação de uma sociedade civil é direito público ( este
só nasce efetivamente com o contrato social / pacto originário ).
A auto-preservação ( aquele instinto conhecido da antropologia hobbesiana )
vai ter de dar lugar a uma outra preservação – preservação do coletivo. A função do
governo civil é garantir a preservação do coletivo ( preservação da sociedade civil ). |
Duas etapas na saída do estado de natureza: um movimento a dois tempos
( 1 ) Constituição da sociedade civil através do consentimento de cada indivíduo,
refletido no pacto originário
( 2 ) Criação do governo civil pelo consentimento da sociedade civil

Locke diz-nos que são duas etapas, cada uma delas representativa de um tipo
particular de consentimento:
( 1 ) A sociedade civil é instaurada pelo consentimento explícito dos indivíduos (
ato político evidente e ativo );
( 2 ) O governo civil é instaurado pelo consentimento tácito dos indivíduos ( ato
político implícito e passivo )

A sociedade civil é lógica e temporalmente anterior ao governo civil.


Exemplo de comportamento tácito: passar a passadeira.

O governo civil é composto por três poderes:


1- Poder legislativo: a sociedade civil confia o poder de julgar a uma assembleia;
2- Poder executivo: a sociedade civil confia o poder de executar a um magistrado;
3- Poder federativo: a sociedade civil confia o direito de fazer guerra com outros
governos ao mesmo magistrado que detém o poder executivo.

| O que é necessário para executar uma lei? ⇒ é preciso força, exercício de coerção,
exercício de violência legítima
O poder federativo e o poder executivo devem estar nas mãos do mesmo magistrado
/ no mesmo corpo de magistrados ( é mais seguro assim ) pela simples razão de que
a natureza do poder executivo e a natureza do poder federativo são muto
semelhantes nesta questão de efetivação ou de atuar através da violência / guerra /
coerção
Há uma peculiaridade : existe uma igualdade jurídica – cada representante ( aquele
que fala em voz da soberania ) tem os mesmos direitos de qualquer membro da
sociedade civil |
´
O GOVERNO CIVIL: O PODER LEGISLATIVO
« O Poder Supremo da comunidade política »
Os seus membros são escolhidos pela maioria dos membros da comunidade
política;
Numa democracia perfeita, o consentimento é dado pela sociedade civil;
A representação política do poder legislativo institucionaliza o consentimento
e é o consentimento que dá legitimidade ao governo;
Para Locke, a soberania está no poder de fazer as leis;
Poder legislativo resulta da necessidade de estabelecer um juiz comum;
Deve aplicar uma conceção de bem à sociedade, formulada já na lei natural e
que, agora, se encontra no conteúdo das leis positivas.

LEI NATURAL
( geral e fundamental )

LEIS POSITIVAS OU CIVIS


( aplicações particulares da lei natural )

Poder federativo
Poder executivo


Relações exteriores da comunidade
Executa as leis produzidas pelo política
legislativo


Herdeiro da noção de que as
Herdeiro do poder natural de diferentes comunidades se
execução da lei natural relacionam entre si como os
indivíduos se relacionam no estado
de natureza: sem um árbitro
imparcial
Existe separação entre o poder legislativo e os outros, mas não entre o executivo e o
federativo

Os poderes executivo e federativo requerem e dependem do mesmo: da aplicação da
força ( coerção )

Locke abre a possibilidade de, em casos muito particulares, ser necessário ao
executivo ir além da lei para garantir o bem público e a conservação da comunidade
política

A este poder excecional, Locke dá o nome de direitos de prerrogativa:


- Nem tudo pode ser previsto pela lei positiva e, às vezes, é necessário ir além dela;
- Mas este poder excecional do executivo é perigoso e precisa de ser vigiado, pois
pode tornar-se tirânico ou despótico. Quem pode vigiar e julgar o executivo, quando
este excede o seu mandato de conservar a comunidade política?

| Ideia de prerrogativa: Às vezes num estado de necessidade, quando surge um


imprevisto ( que possa tornar um Estado numa anarquia ), é necessário que o
governo civil disponha de algumas liberdades que não são conseguidas a priori pela
lei. Há sempre algo que escapa à lei |
É a sociedade civil que pode julgar o executivo que foi além da confiança depositada
nele, quando age arbitrariamente. Caso o tenha feito, o governo deixa de ser
legítimo aos olhos da sociedade civil e pode ser deposto.

Neste caso, falamos de um direito à revolução ( este direito é muito peculiar )

O governo legítimo é aquele que tem a sua ação dependente do cumprimento das
leis positivas decorrentes da lei natural, podendo agir excecionalmente para garantir
com maior eficácia o cumprimento dos direitos individuais. Quando tal não
acontece, o povo tem o poder de destruir o governo, através do direito à revolução

Trata-se de um direito de resistência que decorre do instinto natural de auto-
preservação, que motiva o indivíduo a resistir a qualquer ato que viole os seus
direitos

Locke fala de um direito a dissolver pela força o governo civil que se torne ilegítimo
Este direito significa que a sociedade civil não pode prescindir totalmente do seu
poder de execução, que encontrávamos no estado de natureza

A sociedade civil tem o direito a julgar se a ação do governo respeita a lei natural e,
por isso, é o árbitro supremo

A revolução acontece quando a autoridade legítima se transforma em dominação
ilegítima, ou melhor, quando o Estado civil se degenera em estado de guerra

| Com Hobbes, o contrato implica que os indivíduos prescindam totalmente as suas


liberdades individuais em troca de uma obediência incondicional.
Não estamos perante uma obediência incondicional com Locke, pelo contrário, a
sociedade civil emerge sempre como o último guardião da justiça, o último
repositório da lei natural significa que, em casos extremos de arbitrariedade do
poder soberano, a sociedade civil pode reclamar e pode agir como agia no estado de
natureza, pode julgar e executar segundo a lei natural; isso só pode acontecer
quando a soberania, ou seja, a autoridade legítima, se transforma em dominação
ilegítima ( estado de guerra ) |

a) Para Locke, a propriedade está na raiz da necessidade de se criar uma


sociedade civil;
b) Existem duas cláusulas para a apropriação legítima de recursos naturais e
bens;
c) O dinheiro permite a acumulação, porque tem características diferentes dos
bens escassos;
d) O pacto originário lockiano tem como propósito proteger os direitos naturais
dos indivíduos;
e) Há duas formas de consentimento: um explícito, que origina a sociedade civil;
um tácito, que faz nascer o governo civil;
f) Divisão de poderes: o poder legislativo é o poder supremo e está nas mãos de
uma assembleia; os poderes executivo e federativo são mandatos a
magistrados e a eles fica atribuído o exercício da força;
g) As leis positivas estão sempre dependentes dos princípios da lei natural;
h) O executivo pode extravasar os limites impostos pela lei, mas esse direito de
prerrogativa deve ser moderado, sob o risco de a sociedade civil dissolver o
governo;
i) A sociedade civil é a última salvaguarda do bem público e o vigilante da ação
governativa, mas também deve julgar com razoabilidade;
j) Começa-se a desenhar uma teoria política liberal de checks and balances.

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