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AO ESTUDO
DO DIREITO
Magnum Eltz
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-219-5
Introdução
Neste capítulo, você vai ler sobre o Direito Natural e o Direito Positivo,
duas fases importantes para o desenvolvimento do Direito como uma
ciência autônoma, como o conhecemos hoje.
Para tanto, estudaremos filósofos iluministas, a sua influência na sepa-
ração entre Direito e moral e os impactos dessa contribuição da filosofia
para a ciência jurídica.
Conceituando e caracterizando
o Direito Natural
O Direito Natural é a pedra fundamental da discussão por trás da reconstrução
do Direito após as revoluções burguesas que deslocaram o poder da Igreja
para o povo. Para tanto, a filosofia iluminista se debruçou sobre as origens do
homem e das regras sociais, a fim de tecer uma nova lógica que suplantasse a
vontade de Deus sobre os homens para justificar a figura do Estado, das leis
e da sujeição do homem a este ordenamento jurídico.
É nesse sentido que Rousseau (1996, p. 70) afirma que “Se considerasse
somente a força e o efeito que dela deriva, diria que quando um Povo é forçado
a obedecer e obedece, faz bem; entretanto, quando pode sacudir o jugo e o
sacode, faz ainda melhor, porque, recuperando sua liberdade pelo mesmo
direito que lhe foi tirada, ou pode retomá-la, ou não podiam tê-la tirado”.
88 Direito Natural e Direito Positivo
[...]
Assim, uma vez que o homem, no seu estado de natureza, atua com ampla
liberdade, somente por ela ele também pode se submeter ao domínio de outros
seres humanos.
Nesse sentido, Locke (2002, p. 81) reflete que:
Todo homem, como vimos, é naturalmente livre, e como nada pode sujeita-lo
a qualquer poder terreno senão sua própria vontade, é preciso esclarecer o que
deve ser entendido pode declaração suficiente do consentimento de alguém
em tornar-se súdito das leis de qualquer governo. É comum que se faça uma
distinção entre consentimento expresso e tácito, que se aplica ao caso presente.
Ninguém põe em dúvida que o consentimento expresso de alguém ao entrar
para uma sociedade torna-o perfeitamente membro dessa sociedade e súdito
do respectivo governo. A dificuldade reside no que deve ser considerado como
consentimento tácito, e até que ponto este vincula — isto é, até que ponto pode
considerar-se que alguém tenha consentido, e por isso mesmo tenha aceito
qualquer governo, uma vez que não tenha feito nenhuma declaração explícita.
Sobre isso opino que qualquer um que tenha posses ou goze de qualquer parcela
do território de um governo, por isso mesmo dá seu consentimento tácito e
está obrigado a obedecer às leis desse governo, enquanto durar o desfrute,
como qualquer seu dependente. Quer sua posse consista em terras, para ele e
para seus herdeiros, quer seja uma moradia efêmera, ou ainda apenas o viajar
livremente pelas estradas; e de fato, chega a abarcar a própria existência de
qualquer um dentro dos territórios deste governo.
Direito Natural e Direito Positivo 89
É por meio dessa ficção jusnaturalista que Rousseau (1996, p. 70) elabora
a sua tese do contrato social, em que afirma que:
[...]
[...]
Pode-se dizer então, que a família é o primeiro modelo das sociedades políticas:
o chefe é a imagem do pai, o povo é a imagem dos filhos, e tendo todos nasci-
dos iguais e livres, só alienam sua liberdade em proveito próprio. A diferença
toda está em que, na família, o amor do pai por seus filhos recompensa-o
pelos cuidados que lhes dedica, enquanto que no Estado o prazer de comandar
supera esse amor que o chefe não tem pode seu povo.
Aristóteles tinha razão, mas tomava o efeito pela causa. Todo homem nascido
na escravidão nasce para a escravidão, nada é mais certo. Os escravos tudo
perdem sob seus grilhões, inclusive o desejo de se livrarem deles; amam seu
cativeiro como os companheiros de Ulisses amavam seu embrutecimento. Se
há então escravos por natureza, é porque houve escravos contra a natureza. A
força fez os primeiros escravos, seu conformismo perpetuou-os.
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Dessa forma, pode-se dizer que o Direito Natural é uma contraposição ao império das
normas impositivas e despóticas que restringem a liberdade humana. O Direito Natural
busca uma origem comum da humanidade que garanta direitos fundamentais para a sua
existência e reflete a noção de Kant (2000) de que, se um organismo natural é dotado de
vida, este deve manter a sua saúde e liberdade para que possa satisfazer a sua finalidade.
Assim, uma vez que se compreende o Direito como ciência e que o seu objeto
são as normas que decorrem da natureza, assim como as demais ciências naturais,
Kelsen propõe uma separação entre o sistema moral — que pode variar de acordo
com a sociedade ou religião que o antecede — e o sistema jurídico — que deve
ser independente de um sistema anterior que macule a sua pureza científica.
Essa noção reflete a própria fundação do pensamento positivista, repre-
sentado pela obra de Compte, (1996, p. 26), em que afirma o seguinte:
Leitura recomendada
BOBBIO, N. Teoria geral da política. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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