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A teoria liberal
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O burguês não se vê apenas como superior social
e moralmente aos nobres, mas também como superior
aos pobres. De fato, se Deus fez todos os indivíduos
iguais, se a todos deu a missão de trabalhar e a todos
concedeu o direito à propriedade privada, então os po
bres são culpados por sua condição inferior. Como não
são proprietários, têm a obrigação de trabalhar para
outros. São pobres porque são irresponsáveis, gastando
o salário em vez de acumulá-lo para adquirir proprie
dades, ou porque são preguiçosos e não trabalham o
suficiente para conseguir uma propriedade.
O Esta d o li bera l
Se a função do Estado não é a de criar a proprieda
de privada, e sim a de garanti-la como um direito na
tural e defendê-la contra a nobreza e os pobres, qual é
o poder do soberano?
Com base nas ideias de Loc ke, dos realizadores
da Independência dos Estados Unidos e da Revolu
ção Francesa (século XVI I I) e de pensadores como o
escocês Adam Smith (1723-1790) e o alemão Max
Weber (1864-1920), podemos dizer que, para a teoria
liberal, a função do Estado é garantir três liberdades
ou direitos:
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A ascensão do liberalismo
Do ponto de vista prático, as monarquias absolu
tistas terminaram com as revoluções burguesas (como
a Independência dos Estados U nidos e a Revolução
Francesa). Do ponto de vista teórico, terminaram quan
do a teoria política consagrou a propriedade privada
como direito natural dos indivíduos, e não como uma
concessão feita pelo soberano.
O que as teorias políticas liberais afirmam?
• Afirmam que o indivíduo é a origem e o destina
tário do poder político, e este nasce de um con
trato social voluntário, no qual os contratantes
cedem poderes, mas não cedem sua individuali
dade. O indivíduo é o cidadão.
• Afirmam também a existência de uma esfera de
relações sociais separadas da vida privada (a família)
e da vida política (o Estado). Essa esfera é a socie
dade civil organizada. Nela, proprietários privados
e trabalhadores criam suas organizações de classe,
realizam contratos, disputam interesses e posições
sem que o Estado possa aí intervir, a não ser que
uma das partes lhe peça para arbitrar os conflitos
ou que uma das partes aja de modo que pareça
perigoso para a manutenção da própria sociedade.
• Afirmam o caráter republicano do poder, consti
tuído por três poderes: o Legislativo, o Judiciário
e o Executivo. O Estado é o poder público e nele
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A cidadania liberal
A ideia de revolucão
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populares radicais no interior das revoluções burguesas,
que o filósofo francês Régis Debray (1940-) denominou
"revoluções nas revoluções". As classes populares, que
haviam participado da vitória da classe burguesa, de
sejavam muito mais: ansiavam instituir uma sociedade
inteiramente nova, justa, livre e feliz.
Ora, as classes populares ocidentais não possuíam
teorias políticas de tipo filosófico e científico. Para
explicar o mundo em que viviam e o mundo que de
sejavam, dispunham de uma única fonte: a Bíblia. Por
meio da religião, possuíam duas referências de justiça
e de felicidade: a imagem do Paraíso terrestre (no An
tigo Testamento) e o Reino de Deus na Terra ou Nova
Jerusalém (no Novo Testamento), que restauraria o
Paraíso depois que Cristo voltasse ao mundo e, no fim
dos tempos, derrotasse para sempre o Mal. As classes
populares revolucionárias dispunham, portanto, de
um imaginário messiânico e milenarista, ligado à ideia
de uma promessa salvadora que livraria a humanida
de dos males e das penas.
Co m pa ra n d o li bera lismo e
m ovi m e ntos revolucionários
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As filosofias políticas
Eis por que, em todas as revoluções burguesas, ve
mos sempre acontecer o mesmo processo:
• a burguesia estimula a participação popular por
que precisa que a sociedade toda lute contra o
poder existente;
• consolidada a mudança política, a burguesia con
sidera a revolução terminada;
• as classes populares, porém, prosseguem a revo
lução, pois aspiram ao poder democrático e de
sejam mudanças sociais;
• a burguesia vitoriosa passa então a reprimir as
classes populares revolucionárias, desarma o po
vo que ela própria armara, prende, tortura, mata
os chefes populares e encerra, pela força, o pro
cesso revolucionário;
• por fim, a burguesia garante, com o liberalismo,
a separação entre Estado e sociedade.
As revolucões sociais
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Marx afi rmava que a revolução social ista ou comu
nista não seria, como a bu rguesa, uma revolução política
pa ra m uda r os donos do poder. A revolução socialista
seria uma revolução social orga n izada por u m a classe
socia l consciente de si (a classe trabal hadora) para termi
na r com a exploração e a dominação de classe, fundadas
na propriedade privada dos meios socia is de produção.
O fi m da propriedade privada dos meios sociais de
prod ução por meio de sua tra nsformação em proprie
dade social dos meios sociais de prod ução não sign ifi
ca ria o fi m da propriedade privada i n d ividual de bens
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