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FACULDADE JOAO PAULO II

TEORIA GERAL DO DIREITO


PROF. DRA. CAMILE SERRAGGIO GIRELLI
TEORIA DO PENSAMENTO
JURÍDICO: JUSNATURALISMO

SUMÁRIO Conceito e caracteres


Jusnaturalismo cosmológico
Jusnaturalismo teológico
Jusnaturalismo racionalista
Jusnaturalismo contemporâneo
Críticas ao jusnaturalismo
A Lei - Frédéric Bastiat

“A Lei” foi publicada originalmente em francês no ano de 1850, dois


anos após a Revolução Francesa e alguns meses antes de sua morte
aos 49 anos, vítima de tuberculose.
O autor inicia a obra com a seguinte afirmação:
“A lei pervertida! A lei - e depois dela todas as forças coletivas da nação
- a Lei, digo, não apenas desviada de seu fim, mas aplicada na
consecução de um fim diretamente contrário! A Lei feita instrumento
de toda cupidez, em vez de ser seu freio. A Lei fazendo ela mesma a
iniquidade que tinha por missão punir! Se é esse o caso, temos aí
certamente um fato grave, e para o qual há de se permitir que eu
chame a atenção dos meus concidadãos.”
Com isso, o autor entende que a Lei serve como instrumento de poder, quando, em verdade, deveria ser
um instrumento para freiar o poder. Deveria servir de freio, mas serve de incentivo.
Depois disso, o autor a firma que “a vida é um dom de Deus”. A vida, no sentido amplo, seja ela física,
moral e intelectual. Mas ela não se mantém por si só, isso porque Deus nos deu, além da vida, o dever de
protegê-la, desenvolvê-la e aperfeiçoa-la, para isso ele nos deu a inteligência, os recursos naturais e a força.
A liberdade, a personalidade e a propriedade são os 3 pilares que formam a vida que Deus nos deu, e,
apesar de os políticos acreditarem que esses 3 elementos são consequência da lei, o autor afirma que a lei
só existe .por causa deles. Entende, também, que a força só deve ser usada para legítima defesa e não
para privar os direitos dos outros.
Esses direitos dados por Deus - liberdade, a personalidade e a propriedade - são, portanto, direitos
naturais, e estão acima de quaisquer legislações criadas pelo homem.
Mas, para que fosse possível conviver em sociedade, para que a justiça reine sobre todos, as forças
individuais são substituídas por forças coletivas, cada qual agindo dentro da esfera em que tem o direito
de agir, com o objetivo de garantir às pessoas suas liberdades e propriedades.
Tendo assegurado os direitos das pessoas, não seria necessária a presença do Estado interferindo em
questões privadas: o seu papel seria mais simples, mais econômico e menos pesado, cuidando apenas do
que lhe diz respeito, a segurança interna e externa. De forma mais resumida, Bastiat afirma o seguinte:
não é por causa da lei que existem a vida, a liberdade e a propriedade, mas por causa destas que os
homens fazem as leis, ou seja, para que nossos direitos naturais sejam garantidos e haja justiça em seu
cumprimento.
Nesse sentido, a Lei foi pervertida e utilizada para interesses pessoais. Prosperar e desenvolver-se é o
anseio de todos os homens (ou pelo menos deveria ser): alguns prosperam por meio do livre trabalho e
dos frutos que são gerados, enquanto outros veem o trabalho como um sacrifício e desejam prosperar à
custa de terceiros. Bastiat explica essa equação por meio da espoliação.
Espoliar: ato de privar alguém de algo que lhe pertence ou a que tem direito por meio de fraude ou
violência; esbulho.
Podemos considerar que o roubo, o furto e o estelionato – previstos e punidos pelo Código Penal – são um
tipo de espoliação extralegal, ou seja, algo que a lei não permite. Porém, quando são criadas leis para
favorecer um grupo de pessoas, chamamos isso de espoliação legal, como está acontecendo, por
exemplo, na Califórnia. Foi criada uma lei que transformou pequenos roubos e furtos de até US$ 950 em
contravenção: ou seja, há uma penalidade, mas quem cometeu o delito não é preso. A espoliação
legalizada também pode tomar a forma de tarifas, subsídios, incentivos, proteções, impostos etc.
Parece absurdo afirmar que somos roubados de forma legal, mas é exatamente isso que acontece. Como
o próprio Bastiat disse, o papel do governo deveria ser apenas o de manter a segurança interna e externa
por meio da justiça. Assim, o governo teria seu poder limitado, um estado enxuto e atribuições restritas
pela lei. Porém, na prática, o governo não se limita à segurança. Ao descumprir o propósito de proteger a
vida, a liberdade e a propriedade privada, as leis passam a ser utilizadas para espoliar os cidadãos.
Ainda sobre a espoliação, existem os garantidores dela, aqueles que exigem prestação de serviços por
parte do governo. Quando a população quer que o governo seja paternalista, ou seja, provedor (gerando
empregos, subsídios, moradia, alimentação e outras mordomias), aí estão as brechas para a espoliação. O
governo não produz riqueza, ou seja, sempre que há aumento de despesas e da máquina pública, é a
própria população que irá pagar por esses excessos. Muitas vezes, essa cobrança chega de forma sutil, sem
causar muito alarde, por exemplo: aumento na taxa de luz, saneamento, tarifas, impostos e vários outros.
De maneira irônica, Frédéric nos explica o seguinte: A lei é a Justiça, o papel da Constituição é garantir
que as leis sejam cumpridas em função dos direitos naturais. Enquanto isso, uma legislação desonesta
perverte a lei, criando mecanismos de distribuição de renda e criação de impostos (roubo legalizado). A
única forma de combater esse sistema é através da luta incessante pela redução do Estado, pela vida, pela
liberdade e pela propriedade privada.
O autor adota, diante dessas colocações, sua opinião política, entendendo que quanto maior o Estado,
maior sua interferência na vida privada, “desorganizando a justiça”. Mas nosso foco, embora abordado em
grande parte da obra, não é a análise política, apenas jurídica.
Por fim, o autor faz vários questionamentos e colocações pra tirar o leitor do sério ou da zona de conforto:
“Quais são os povos mais felizes, os mais morais, os mais pacíficos? Aqueles em que a Lei menos intervém
na atividade privada; em que o governo menos se faz sentir; em que a individualidade tem o máximo de
força, e a opinião pública o máximo de influência; em que as engrenagens administrativas são menos
numerosas e menos complicadas; os impostos menos pesados e menos desiguais; os descontentamentos
populares menos intensos e menos justificáveis; em que a responsabilidade dos indivíduos e das classes é
a mais operante, e em que, por conseguinte, se os costumes não são perfeitos, tendem invencivelmente a
corrigir-se; em que as transações, as convenções, as associações são menos entravadas; onde o trabalho, os
capitais, a população, sofrem menos deslocamentos artificiais; em que a humanidade mais obedece sua
própria inclinação; em que o pensamento de Deus mais prevalece sobre as invenções dos homens;
aqueles, numa palavra, que mais se aproximam a essa solução: dentro dos limites do direito, tudo pela
espontaneidade livre e perfectível do homem; nada pela Lei ou pela força que não seja a Justiça universal”.
“É preciso dizer; há no mundo um excesso de grandes homens, há um excesso de legisladores, de
organizadores, de instituidores de sociedades, de guias dos povos, de pais de nações, etc. Gente demais se
coloca acima da humanidade para governá-la, gente demais se ocupa de se ocupar dela.”
E você, concorda com o autor? Total ou parcialmente?
Discorda? Total ou parcialmente?
Sabe a qual corrente fundadora do Direito estas idéias do autor se enquadram?
OBRIGADA PELA ATENÇÃO!

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