Você está na página 1de 26

Direito Civil I – Parte Geral

AULA 3

PESSOAS NATURAIS

Professora: Carla Froener


E-mail: carlafroener@gmail.com
SUMÁRIO DA AULA

1. Pessoas naturais
2. Personalidade
3. Capacidade civil
4. Incapacidade
5. Ausência e morte presumida
PESSOA

Ente reconhecido pelo direito como sendo sujeito de direitos e obrigações.

Pode ser:

NATURAL (FÍSICA)
ou JURÍDICA
PESSOA FÍSICA OU NATURAL

O Direito brasileiro reconhece a todas as pessoas naturais a condição de


sujeitos de direito.

Não há forma ou pena que gere a perda dessa condição.

Art. 1º CC. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.


PERSONALIDADE

É a aptidão reconhecida à pessoa para adquirir direitos e contrair


obrigações.

Inicia com o nascimento com vida, mas a lei resguarda, desde a concepção,
os direitos do nascituro (ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre
materno).

Art. 2º CC. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;


mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Direitos do nascituro

O nascituro não tem personalidade, mas há uma expectativa legítima de


adquiri-la. O Direito brasileiro reconhece alguns fatos jurídicos relacionados ao
nascituro como válidos, ainda que o direito a eles dependa do nascimento com
vida.

* Doação e herança
* Proteção da vida
* Reconhecimento de paternidade
* Indenização
* Alimentos gravídicos
CAPACIDADE CIVIL

Surge com o reconhecimento da personalidade.

Divide-se em:
CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO – toda e qualquer pessoa possui.

CAPACIDADE DE EXERCÍCIO OU DE FATO – é a aptidão para praticar


pessoalmente (sozinho) os atos da vida civil.

A capacidade civil é PLENA quando a pessoa possui as duas capacidades


(plenamente capaz) e é LIMITADA quando possui apenas a capacidade de
direito, necessitando de outra pessoa que o represente ou assista.
INCAPACIDADE

É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei aos
que necessitam de proteção.

Estas pessoas serão representadas ou assistidas, dependendo o grau de


incapacidade (absoluta ou relativa), ex. crianças.

Arts. 3º e 4º CC.
INCAPACIDADE Divide-se em:

INCAPACIDADE ABSOLUTA (art. 3º) – é a falta completa de aptidão para atos


da vida civil. Outra pessoa praticará os atos em seu nome. Ela será representada.
• Menores de 16 anos

INCAPACIDADE RELATIVA (art. 4º) – é a falta de aptidão para certos atos da


vida civil ou a forma de exercer. A pessoa será assistida.
• Maiores de 16 e menores de 18 anos
• Ébrios habituais
• Viciados em tóxico
• Pródigos
• Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade
INCAPACIDADE RELATIVA

Ébrios Viciados em tóxicos Pródigos

Pessoa que dilapida seu


Pessoa viciada em Pessoa viciada em
patrimônio. Como essa
álcool. drogas. incapacidade não afeta
outros aspectos da vida,
só há assistência em atos
de conteúdo patrimonial.
Impedidos, por causa transitória ou permanente, de exprimir sua vontade.

Não se trata de enfermidade ou deficiência mental, mas de toda e qualquer


causa que impeça a manifestação da vontade do agente.

Ex.: doenças graves que tornam a pessoa completamente imobilizada, sem


controle dos movimentos e incapacitada de qualquer comunicação (isquemia e
derrame cerebral); doenças degenerativas do sistema nervoso, que deixam a
pessoa sem lucidez; indivíduo em estado de coma.
CAPACIDADE - INCAPACIDADE RELATIVA - INCAPACIDADE ABSOLUTA

Exemplos para discussão:

Criança de 5 anos? Viciado em drogas?


Ébrio?
Usuário de cadeira de rodas? Pessoa com câncer?
Pródigo?
Adolescente de 17 anos? Pessoa em coma?
Lei n° 13.146/2015
Estatuto da Pessoa com Deficiência

Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
FIM DA INCAPACIDADE POR IDADE

Cessa a incapacidade relativa a partir dos 18 anos (maioridade), quando


a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
A incapacidade relativa pode cessar, a partir dos 16 anos, pela
emancipação.

EMANCIPAÇÃO

É a aquisição da capacidade civil antes da idade legal. Entretanto,


mantem-se algumas limitações, ex: não é permitida a emissão de CNH,
ingestão de bebidas alcóolicas, responsabilização criminal.
FORMAS DE EMANCIPAÇÃO (art. 5º CC)

1 - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação judicial (emancipação
expressa ou voluntária)
2 - sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos
(emancipação judicial)
3 - pelo casamento (emancipação tácita ou legal)
4 - pelo exercício de emprego público efetivo (emancipação tácita ou legal)
5 - pela colação de grau em curso de ensino superior (emancipação tácita ou legal)
6 - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos
tenha economia própria (emancipação tácita ou legal)
RESPONSÁVEIS PELO INCAPAZ

São as pessoas apontadas pela lei ou pelo juiz para cuidar dos incapazes.
Classificam-se em três tipos:

1º Representante legal: é o pai e/ou a mãe do menor, desde que no exercício


do poder familiar.

2º Tutor: é nomeado pelo juiz para cuidar da pessoa do menor e administrar


seus bens.
É necessário quando os pais são incapazes, ocorre a perda de poder familiar,
o desaparecimento ou morte dos pais (art. 1.728 CC).
3º Curador: é nomeado pelo juiz para cuidar de pessoa maior e/ou
administrar seus bens que quando ela não pode fazer por si mesma.

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de


direito, curador do outro, quando interdito.
§ 1o Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta
destes, o descendente que se demonstrar mais apto.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do
curador.

Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá
estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa.
AUSÊNCIA (art. 22-39 CC)

Ausente é aquele que desaparece de seu domicílio, sem dar notícia do seu
paradeiro.

Duas questões caracterizam a ausência: (1) a não-presença da pessoa;


(2) falta de notícias da pessoa.

A ausência é declarada pelo juiz, a requerimento de qualquer interessado


ou do Ministério Público, sendo nomeado um curador.

Este processo tem três fases, conforme a menor possibilidade de


reaparecimento do ausente.
FASES DA DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA

1ª FASE - Curadoria dos bens do ausente:

Nessa fase, o legislador se preocupa com a proteção dos bens do ausente,


para a hipótese do seu retorno.

A curadoria tem, em regra, duração de 1 ano. Caso o ausente tenha


deixado procurador, o prazo passa a ser de 3 anos.

Essa fase se encerra: a) pela confirmação da morte do ausente;


b) pelo retorno do ausente;
c) pela abertura da sucessão provisória.
2ª FASE - Sucessão provisória:

Nessa fase, o legislador passa a se preocupar com os interesses dos


sucessores. Os herdeiros podem assumir a posse dos bens do ausente, desde
que prestem garantia da restituição, em caso de retorno do ausente.

A sucessão provisória, durará, em regra, 10 anos (contados do trânsito em


julgado da decisão que abre a sucessão provisória). O prazo se reduz para 5
anos, se o ausente tiver mais de 80 anos e de mais de 5 anos datarem suas
últimas notícias.

Essa fase se encerra: a) pela confirmação de morte do ausente;


b) pelo retorno do ausente;
c) pela abertura da sucessão definitiva.
3ª FASE - Sucessão definitiva:

Última fase. Os herdeiros podem solicitar o levantamento das garantias


prestadas, adquirindo assim, o domínio dos bens deixados.

Se o ausente retornar no prazo de 10 anos, contados da abertura da


sucessão definitiva, terá seus bens de volta no estado em que se encontrarem.

Após este período, perde qualquer direito aos bens (1 + 10 + 10).


FASES DA DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA

Curadoria Sucessão Sucessão


dos bens provisória definitiva
/---------------------/----------------------------------------/---------------------------------/
1 ano (sem procurador) 10 anos
10 anos
3 anos (com procurador)
5 anos (ausente com mais
de 80 anos e se mais de 5
anos datarem suas últimas
notícias)
EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL (art. 6º - 8º CC)

A existência da pessoa natural termina com a morte, que poderá ser do tipo
REAL ou PRESUMIDA:

- COM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA (art. 22-39 CC): nos casos em que é


aberto o processo para declaração de ausência.

- SEM DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA (art. 7º CC):


a) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida
(queda de avião, incêndio, naufrágio);
b) se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Jurisprudência: declaração de ausência e morte presumida (material de apoio no portal)

Ementa: APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. REGISTROS PÚBLICOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE MORTE


PRESUMIDA. DESCABIMENTO NAS CIRCUNSTÂNCIAS POSTAS NOS AUTOS. 1. A abertura da sucessão
se dá com a morte, fenômeno em decorrência do qual termina a existência da pessoa natural. 2. Como
nem toda morte fica comprovada e havendo necessidade de contornar o grave problema da ausência
de uma pessoa, o sistema jurídico concebe a morte presumida, mas em circunstâncias excepcionais
que não a descrita nos autos, onde é imprescindível a prévia declaração de ausência. 3.
Desaparecendo alguém por largo período, ficando desprotegido o seu patrimônio e havendo
provocação de pessoa interessada ou do Ministério Público, é possível declarar a sua ausência, fato
que produz efeitos jurídicos, ensejando a nomeação de um curador para administrar os bens do
ausente. 4. Se a parte autora aditou a petição inicial e afirmou que não pretende a declaração de
ausência, mas a declaração de morte presumida, e inexistindo justificativa para tal declaração sem a
anterior declaração de ausência, pois não se trata de pessoa que estivesse em perigo e vida (doença
grave ou envolvido em acidente ou guerra) correta está sentença que julgou improcedente o pedido.
Recurso desprovido. (Apelação Cível, Nº 70081859050, Sétima Câmara Cível, TJRS, Relator: Sérgio
Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em: 31-07-2019)
COMORIÊNCIA OU MORTE SIMULTÂNEA (art. 8º CC)

Ocorre quando dois ou mais indivíduos falecem na mesma ocasião, em


condições que não é possível averiguar qual deles morreu primeiro (não precisa
ser no mesmo lugar).

O efeito da comoriência/morte simultânea é que um comoriente não herdará


do outro, pois se presume que a morte foi simultânea.

Este tipo de situação tem importância jurídica apenas para questões


sucessórias, ou seja, somente interessa saber qual morreu primeiro se um for
herdeiro do outro.
Ex. marido e mulher sem filhos nem ascendentes, herança para colaterais.
Direito Civil - Parte Geral

Professora: Carla Froener


E-mail: carlafroener@gmail.com

Você também pode gostar