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DIREITO CIVIL

LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO


São fontes do direito: lei, doutrina e jurisprudência. São formas de interpretação das normas:
legislativa (legislador), sistemática (todo), gramatical (etimologia e gramática), jurisprudencial (tribunais),
lógica/racional (sentido), histórica (passado) ou teleológica (finalidade).

A vigência da lei tem como regra começar 45 dias da publicação, salvo quando a própria lei prever
expressamente. O lapso temporal entre a publicação e vigência é chamado vacatio legis (adaptação), se nesse
período houver correção o prazo é iniciado novamente. Em regra, se não houver prazo de vigência, a lei vigerá até
que seja modificada ou revogada. A revogação expressa (consta no texto) ou tácita (incompatibilidade), seja ela
total (ab-rogação) ou parcial (derrogação), causa cessação de efeitos e retira a obrigatoriedade, ocorrendo por meio
de outra lei que não seja hierarquicamente inferior. A lei veda ainda, a repristinação (lei A que revogou a lei B, não
trará a lei C de volta, salvo expressamente).

A partir de sua vigência, ela se torna obrigatória e não se pode alegar desconhecimento.

A integração das normas é feita quando há lacunas que precisam ser supridas e o fundamento pode ser
tirado (nessa ordem): da analogia (semelhança entre legislação), costumes (prática reiterada e convicção jurídica e
social), princípios gerais do direito (base legal e comportamental) e equidade (adaptar ao caso).

A legislação não atingirá o ato jurídico perfeito (já consumou à luz da norma vigente), o direito adquirido
(concreto e incorporado ao sujeito) e a coisa julgada (decisão judicial que não comporta mais recursos – imutável e
indiscutível), tudo isso constitui a irretroatividade da lei.

Em caso de conflito de leis no que toca a sucessão (morte – domicílio, bens – em favor do cônjuge e dos
filhos, capacidade para suceder – domicílio); aos bens (qualificação e regulação – onde se situar, móveis –
domicílio do proprietário, penhor – domicilio do possuidor; às obrigações (criação – onde foram constituídas,
contrato – domicilio do proponente, sociedade ou fundação estrangeira – leis do país de origem).

PARTE GERAL
DAS PESSOAS

Personalidade jurídica: quando a pessoa física nasce com vida1 (respira) e jurídica registra atos
constitutivos.

Pessoa física: nesse sentido, temos que tratar da capacidade, que pode ser de direito ou de gozo (todo
mundo tem – ligada a personalidade jurídica e aquisição de direitos), de exercício ou de ação (de fato ou
legitimação). A capacidade de fato se divide em três classes: absolutamente incapazes (atos nulos – capacidade de
gozo, com limitações para os atos da vida civil – menores de 16 anos); relativamente capazes (atos anuláveis se não
forem assistidos pelos responsáveis – podem excepcionalmente praticar certos atos da vida civil, são eles: os
maiores de 16 e menores de 18; os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os pródigos – nos atos relativos ao
patrimônio; os índios2 – tratado em lei especial; os excepcionais e com desenvolvimento mental incompleto e os

1
Resguardados os direitos à personalidade do nascituro (expectativa de direito desde a concepção) e do natimorto.
2
O índio alcança maioridade civil aos 21, devendo a FUNAI chancelar todos os anos, que serão nulos – salvo se não
prejudiciais.

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que por causa transitória ou permanente não puderem exprimir sua vontade) e capazes (extinção do poder familiar
– alcançado aos 18 ou por emancipação3; ou ainda por cessação do motivo causador da incapacidade).

Os direitos da personalidade são garantidos na CF, são direitos inerentes à pessoa humana e a ela
ligados de forma permanente. São direitos: irrenunciáveis (indisponíveis), intransmissíveis (inalienáveis – salvo
exceções previstas em lei), imprescritíveis (não se extingue ou limita), impenhoráveis, vitalícios (do nascimento até
a morte – às vezes além desta). Protege principalmente (violação dá ensejo ao dever de reparar): nome (prenome e
sobrenome/apelido de família/patronímico e ainda agnomes – júnior e cognomes – Xuxa; a imutabilidade do
prenome comporta exceções em casos de substituição, inclusão de apelidos ou coação de testemunhas) e a imagem
(expressão exterior sensível da individualidade humana, seja ela externa ou interna – reputação; é inclusive direito
do morto ou ausente, onde os herdeiros necessários e o companheiro podem pleitear).

A extinção da personalidade da pessoa natural ocorre com a morte, que poderá ser real ou física
(cessação das atividades cerebrais – deve ter atestado de óbito, portanto pressupõe um cadáver ou parte dele) ou
presumida ou ficta (autorização legal para sucessão definitiva – dispensa a existência de corpo. A extinção
presumida ou ficta poderá ocorrer sem a declaração de ausência (quando extremamente provável a morte de quem
estava em perigo de vida ou desaparecido em até dois anos após o término da guerra aquele em campanha ou feito
prisioneiro, nesse caso caberá ao juiz por sentença estabelecer o término provável da extinção da personalidade
jurídica – decisão que substituirá o atestado de óbito) ou com a declaração de ausência (quando a pessoa
desaparece, sem deixar mandatário, não se pode presumir sua morte sem uma declaração de ausência).

O procedimento da declaração de ausência para que a morte possa ser presumida, é dividido em duas
fases. Na primeira que começa requerimento formulado por qualquer interessado ou pelo MP, há a nomeação de
um curador por um ano, arrecadando-se todos os bens do ausente e publicando-se bimestralmente editais
convocando o ausente. Já na segunda, após o ano – um ano sem mandatário e três anos com – da publicação do
primeiro edital, poderão os interessados requererem a abertura da sucessão provisória (que se tornará definitiva a
qualquer tempo se houver a certeza da morte e toma-se por base a data da abertura da sucessão provisória) – já que
os bens serão entregues condicionalmente a haver uma garantia de restituição, em razão da incerteza da morte, mas
a condição da entrega de caução não atinge os herdeiros necessários, que também não precisarão restituir os frutos,
diferentemente dos demais herdeiros. A sentença declaratória da sucessão provisória, só produzirá efeitos 180 dias
após a publicação e após a certificação do trânsito, os interessados podem requerer a abertura do
testamento/inventário e realização da partilha. O pedido da abertura da sucessão definitiva poderá ocorrer: após 10
anos após o trânsito da sentença que declarou aberta a sucessão provisória ou quando o ausente contar com 80 anos
de idade e datarem 5 anos ou mais das últimas notícias de seu paradeiro; nessa fase o ausente é considerado
presumidamente morto – bens transferidos definitivamente. O retorno do ausente possui reflexos distintos em casa
fase: na arrecadação e curadoria (sem prejuízo), na sucessão provisória (se injustificado perderá os frutos de
herdeiros em potencial) e na sucessão definitiva (receberá no estado em que se encontrarem). O casamento, pode
acabar tacitamente (10 anos – em razão da morte presumida, nesse caso não há necessidade de decretar o divórcio,
visto que o cônjuge estará viúvo) ou expressamente (em ação de divórcio especifica).

A comoriência ocorre quando duas ou mais pessoas morrem concomitantemente e não há como definir a
forma de quem morreu primeiro (não há necessidade de estar no mesmo local). A presunção é relativa juris tantum,
ligada somente ao momento da morte e apenas é relevante se os envolvidos mantiverem relação parental.

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Forma de aquisição antecipada da capacidade civil irrevogável com efeitos eminentemente civis e ocorre entre 16 e 18 anos –
pode ser voluntária (feita por instrumento público e inexistência de conflito de interesses entre os pais – salvo se morto,
ausente ou sem poder familiar); judicial (com conflito de interesse entre os pais ou no caso de menor sob tutela, a sentença
deve ser levada a registro); legal ou automática (casamento – mesmo que tenha menos de 16 anos, sendo que o divórcio e a
anulação de casamento de boa-fé não revoga a emancipação; exercício de emprego público efetivo e permanente – difícil, pois
ter 18 anos é requisito mínimo do funcionalismo público conforme lei infraconstitucional; colação de grau em curso de ensino
superior e autonomia financeira orienta de emprego ou estabelecimento comercial).

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Pessoa jurídica: é ente que possui reconhecimento legal e pode ser formada pela reunião de pessoas
físicas ou de bens com finalidade altruística ou lucrativa. Para que adquira personalidade jurídica é indispensável
que seus atos constitutivos sejam registrados no órgão competente – sendo ainda necessário em alguns casos a
autorização do poder executivo. Possui personalidade própria e podem ser de direito público (interno ou externo,
são entidades estatais com autonomia reconhecida pela CF ou por lei) ou privado.

São pessoas jurídicas de direito privado: sociedades (reunião de pessoas com objetivo de obter lucro,
onde reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços; podem ser simples ou empresárias que
possuem como diferença é o propósito do exercício da atividade de empresário e a sujeição à registro), associações
(AASP, Sindicatos, Cooperativas – constituídas por pessoas com propósito não lucrativo, gerida pelos associados,
onde se cobra um valor a título de contribuição associativa – que deverá ser unicamente revertido em prol da PJ,
não há, diferentemente das sociedades deveres e obrigações recíprocos), fundações (podem ser privadas ou
públicas, mas no caso das privadas caracterizam-se pela afetação de patrimônio, é uma reunião de bens livres e
reservados por seu instituidor por meio de escritura pública ou testamento, não possui proprietário/sócio/titular,
apenas curadores para gerir os bens que não possuem como fim a obtenção de lucro, apenas a finalidade cultural,
religiosa, moral ou assistencial, recaindo ao MP o dever de fiscalizá-la); partidos políticos (objetivo da propagação
política, é uma reunião de pessoas) e organizações religiosas (reunião de pessoas, sem objetivo de lucro, apenas a
propagação da fé – mesma natureza e suporte das associações, mas não se adequam ao CC).

A desconsideração da personalidade jurídica ocorre nos casos em que há abuso por parte dos
empresários no uso da personalidade da PJ, oriundo de desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Nesse caso, o
magistrado a requerimento da parte ou do MP menosprezar a existência da PJ e direcionar os atos ao patrimônio
dos sócios e administradores, atingindo apenas as partes (sócios que tenham praticado o ato abusivo) e as
obrigações motivadoras da desconsideração.

A extinção da PJ se dá pelo fim de seu prazo de duração, distrato ou deliberação da maioria absoluta dos
sócios (em virtude da privação de pluralidade de sócios não restabelecida em 180 dias) e pelo fim da autorização de
funcionamento. Deverá ocorrer a baixa do registro constitutivo no órgão competente – com o remate do
procedimento de liquidação.

DOMICÍLIO

Lugar em que a pessoa se estabelece permanentemente, destinado à moradia ou exercício de atividade


profissional. Difere de moradia (temporário) e residência (se mora, mas com períodos temporários de ausência). A
nossa legislação adota o sistema de pluralidade de domicílios – a pessoa pode manter mais de um domicílio
concomitantemente.

O domicílio da pessoa natural poderá ser voluntário (para moradia ou deriva da vontade da pessoa sem
imposição legal, podendo alterá-lo a qualquer tempo), legal ou necessário (em razão do cargo ou condição –
incapaz no mesmo lugar do seu representante ou assistente; servidor público, inclusive militar do exército, onde
exercer suas funções de forma permanente; militares da Marinha e Aeronáutica na sede do comando onde são
subordinados; marítimo onde sua embarcação for matriculada; o preso definitivamente condenado no
estabelecimento prisional em que cumpre pena; o agente diplomático citado no estrangeiro, que alegar
extraterritorialidade, poderá ser demandado no DF ou no último ponto do território brasileiro onde esteve se não
designar seu domicílio), e especial (troca do domicílio do réu por um foro de eleição).

A pessoa jurídica também poderá ter domicílio voluntário, escolhido em seu ato constitutivo e, caso não
o seja aplica-se a regra geral onde será considerado o local em que funcionar sua administração ou diretoria, ou,
ainda, se muitas filiais, será considerado o local da filial onde o ato foi praticado. O domicílio dos entes federativos
e suas autarquias no local onde funcionar a administração municipal ou sua respectiva diretoria.
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DOS BENS

DOS BENS

Bens são objetos de direitos, coisas dotadas de valor econômico que integram as relações jurídicas, desde
que tenham condições de apropriação. Bens são espécie do gênero coisa (tudo aquilo que existe), que podem ser
tanto materiais, quanto imateriais e integram uma relação jurídica real ou obrigacional. Patrimônio é o conjunto de
bens pertencentes a um mesmo titular, restringindo-se aos bens avaliáveis em dinheiro de forma positiva (bens) ou
negativa (dívidas).

Os bens classificam-se em: corpóreos e incorpóreos (materialização/corpo – existência física ou não do


bem, a alienação é diferente – compra e venda x cessão); considerados em si mesmos (móveis4 e imóveis5 –
possibilidade de transporte do bem, especialmente se isso lhe causa perecimento, perda de substância ou destinação
econômica; fungíveis e infungíveis6 – substituição por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade que não
podem ser imóveis que são infungíveis por expressa previsão legal; consumíveis7 e inconsumíveis – quando a
utilização provoca o esgotamento – não se considera o perecimento natural, nesse caso; divisíveis e indivisíveis –
trata do fracionamento de modo que a divisibilidade não acarreta prejuízo na perda de sua função, substância ou
valor – pode decorrer de sua própria natureza, da legislação ou de vontade entre as partes; singulares8 e coletivos -
individualidade ou pluralidade do bem, ex.: carro é singular, mas uma frota de carros é coletivo, pois é junção de
vários bens singulares); reciprocamente considerados (análise de reciprocidade/autonomia, podem ser principais ou
acessórios9); públicos10 ou particulares (titularidade privada ou pública); fora do comércio (não podem integrar
relações negociais, por conta de obstáculo natural, ex.: ar, atmosfera, mar; legal, ex.: bens públicos; ou
manifestação volitiva, ex.: bens gravados); de família (destinado à moradia familiar e protegido pela
impenhorabilidade).

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Classificação móveis: por sua própria natureza (que não sofrem alterações ao se mover, por vontade própria – semoventes,
ex.: animais – ou não, ex.: escada); por antecipação (incorporados ao solo, mas que possuem futuro de comercialização, ex.:
árvores); por determinação legal (bens incorpóreos, ex.: quotas sociais; energias dotadas de valor econômico; direitos reais e
ações a eles concernentes e direitos pessoais de cunho patrimonial oriundo do direito obrigacional.
5
Classificação imóveis: por sua própria natureza (tudo aquilo naturalmente incorporado ao solo, subsolo e espaço aéreo
correspondente, ex.: árvores não destinadas a corte, assim como seus frutos por acessão natural); acessões artificiais
(acréscimos feitos pelo homem e incorporados ao solo, ex.: prédios); por determinação legal (direitos reais e as ações que os
assegurem e o espólio enquanto não ultimada a partilha).
6
Infungíveis: Os bens podem ser considerados infungíveis por convenção entre as partes.
7
Consumíveis: O consumo pode ser de fato, ex.: alimentos; ou jurídico, ex.: roupa. E também pode ser estipulado entre as
partes.
8
Singulares: Os singulares ainda se dividem em simples (partes que o compõe são ligadas naturalmente) ou composto (bens
formados pelo ser humano mediante a junção de outros bens).
9
Classificação acessórios: frutos (naturais, industriais/produzidos ou civis/rendimentos, nesse caso utilização não implica seu
esgotamento quando retirado do principal; eles podem estar pendentes – unidos ao bem de que advém, percebidos – destacados
do bem, estantes – colhidos e armazenados para alienação, percipiendos – poderiam ter sido colhidos, mas não foram,
consumidos – colhidos e aniquilados pelo uso); produtos (cujo consumo implica em esgotamento quando retirado do
principal); pertenças (móveis que pela destinação dada pelo titular serão utilizados de modo duradouro para melhorar o
principal, mas não são partes integrantes do principal, portanto, não o seguem); benfeitorias (obras feitas no bem ou despesas
que o melhoraram, podem ser úteis, necessárias ou voluptuárias, sendo respectivamente: facilidade/melhora, conservação e
prazer).
10
Classificação públicos: uso comum (podem ser utilizados por qualquer pessoa sem formalidades, são inalienáveis); uso
especial (utilizados exclusivamente pelo Poder Público para sede ou prestação de serviço público e também são inalienáveis);
dominiais (patrimônio privado do ente público decorrente de direito pessoal ou real, são alienáveis desde que desafetados).

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FATO E ATO JURÍDICO

Fato (sentido amplo) é todo acontecimento que faz nascer, modificar, subsistir ou extinguir direitos,
decorrente de uma relação jurídica e previsto em norma de direito. Se subdividem em: fato natural ou stricto
sensu (todo acontecimento que independe da vontade humana, classifica-se em ordinário que são acontecimentos
da vida, ex.: morte ou extraordinário que são fortuitos ou de força maior, ex.: tempestade); ou fato jurídico
humano ou lato sensu (manifestação de vontade, ligado à ação humana, classifica-se em voluntário quando os
efeitos produzidos são desejados, lícitos e desejados ou involuntários que são efeitos ilícitos e independem da
vontade).

O ato ilícito é aquele praticado (ação ou omissão voluntária – dolo ou culpa) em desacordo com a ordem
jurídica e viola direitos e cause prejuízo, nesse caso, surge o dever de reparar danos proporcionalmente entre a
conduta e dano (desde que demonstrado a ocorrência da conduta, o nexo causal e o dano); para sua caracterização é
necessário: dolo – intenção de causar dano, ou culpa – assumir riscos com imprudência (fazer), negligência (não
fazer) ou imperícia (atividade profissional); por outro lado quando praticado em exercício regular de direito (abuso
não se encaixa), legítima defesa ou estado de necessidade, há excludente de ilicitude e de responsabilidade. Os atos
lícitos são voluntários e seus eventos são esperados pelo agente, se classificam em: ato jurídico em sentido estrito
ou meramente lícito (não há acordo de vontade),, ato-fato jurídico (não decorre da vontade do agente, levando em
consideração a consequência, ex.: tornar-se dono de um tesouro ao achá-lo) ou negócio jurídico.

NEGÓCIO JURÍDICO

Caracteriza-se pelo ato de expressa vontade humana que produz os efeitos jurídicos desejados pelas
partes, sendo fruto da autonomia da vontade.

Classifica-se em: quanto a manifestação da vontade (unilaterais11 – apenas uma, ou


bilaterais/plurilaterais12 – vontade de duas ou mais pessoas em sentidos opostos – no mesmo sentido se chama
mútuo consentimento); quanto às vontades patrimoniais (gratuitos – sacrifício de uma das partes; onerosos –
sacrifício e contraprestações recíprocas); quanto à forma (formais/solenes/especial – a lei exige uma forma
específica para sua validade; não formais/não solenes/livre – não há exigências legais; contratual – feita por meio
de contrato entre as partes); quanto aos efeitos (inter vivos – produzem efeitos entre as partes ainda em vida; causa
mortis – produzidos após a morte de uma das partes); quanto à existência (principais – existem por si mesmos;
acessórios – precisam da existência de um negócio principal).
A prova é o conjunto de meios empregados para demonstrar a existência de um ato jurídico (para isso
que serve o formalismo, já que a forma prescrita em lei serve para dar autenticidade ao ato). O ônus da prova é
dividido entre as partes (autor – constitutivos; réu – impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor) –
carga estática da prova, mas ainda há a possibilidade da inversão do ônus da prova (carga dinâmica da prova). São
meios de prova: confissão (admite judicial ou extrajudicial), documentos (escrito ou ilustrado, público ou
particular), testemunhas (verdade em palavras – instrumentárias ou judiciárias), presunção (dedução de fato
conhecido), perícia (especialista técnico de determinada área que dá seu parecer).

Nesse sentido, pode surgir em torno da vontade defeitos do negócio jurídico, já que se faz essencial que
ela seja manifestada de forma livre/espontânea. Defeitos nada mais são do que vícios que trazem prejuízo e tornam
o negócio jurídico anulável, eles se dividem em vícios consentimento ou vícios sociais que são cometidos por uma
das partes em relação à outra e atinge terceiros.

11
Classificação unilaterais: receptícios (quando a manifestação da vontade somente produz efeitos a partir do momento em
que se torna conhecida pelo destinatário) ou não receptícios (independe do conhecimento de outras partes).
12
Classificação bilaterais: simples (vantagem de uma das partes); sinalagmáticos (reciprocidade entre vantagens e ônus).

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PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO E SEUS ELEMENTOS


EXISTÊNCIA Declaração de vontade Idoneidade do objeto Finalidade negocial:
(essencial, sob pena (e. subjetivo): (e. objetivo): Propósito de adquirir,
de nulidade – Expressada e manifestada de A vontade deve estar de um conservar, modificar ou
inexistência) forma livre/consciente. objeto apto/idôneo. extinguir direitos.
Agente capaz (e. subjetivo): Objeto lícito, possível, Forma prescrita ou não
VALIDADE
Aptidão (capacidade de fato) de determinado ou determinável defesa em lei:
(essencial, sob pena
manifestar a vontade de forma (e. objetivo): Regra: forma é livre – verbal
de nulidade absoluta
livre e consciente obs.: L não ser proibido pelo direito; ou escrito, particular ou
ou relativa13 –
absolutamente – nulidade, P existência física ou jurídica; público, (formalismo é
inválido)
relativamente – anulável. D individualização do objeto. exceção prevista em lei).
Condição15: Termo: Encargo:
EFICÁCIA Subordina o efeito do pacto a um Subordina a eficácia a um fato Cláusula acessória que
(depende da vontade acontecimento futuro e incerto, futuro e certo, determina o dia determina um ônus aquele
das partes – por meio elementos: incerteza e futuridade do início e fim da eficácia – que foi contemplado por
de cláusulas (evento) e voluntariedade prazo exclui-se o primeiro dia e determinado ato (obrigação
acessórias que podem (exceções – herança). inclui-se o último (termo a mais além da natureza do
acarretar ineficácia14) Obs.: Não é usualmente inicial/dies a quo, termo NJ), pode ser estipulado
admitido em família e sucessões. final/dies ad quem). inter vivos ou causa mortis

Os vícios no consentimento são: erro16 (falsa representação da realidade onde o agente se engana sozinho
quanto ao objeto, natureza do negócio ou pessoa e deve ser substancial ou essencial, já que não haveria negócio se
o agente soubesse, prazo de 4 anos para reclamação), dolo (quando uma das partes induz a outra para tirar proveito
grave de modo que determine a vontade, pode ser dividido em principal – induz o próprio negócio danoso;
acidental – induz as condições do negócio, nesse caso não há anulação e sim perdas e danos; bônus – apenas para
seduzir e não constitui vício; negativo – silêncio quando há o dever de informar; de terceiro – quando há
contribuição externo e a parte que se aproveitou tinha conhecimento), coação (toda ameaça ou pressão injusta,
desde que grave, que determine que o agente praticar o ato sem a sua vontade por temor de dano/prejuízo iminente
à sua pessoa, família ou bens, o terceiro é discutível; se causado por terceiro, depende também do conhecimento da
outra parte; a coação pode ser absoluta ou física - constrangimento corporal, considera-se nulo o negócio, ou moral
ou relativa – atua sobre a vontade, é psicológica), estado de perigo (pessoa que efetivamente celebra negócio sem
pensar nos efeitos danosos, assumindo uma obrigação desproporcional perante um perigo iminente e grave à sua
pessoa ou sua família; nesse caso ainda o risco de dano deve ser causa do negócio e a outra parte deve conhecer o
perigo; não é absoluto é anulável apenas o excesso), e lesão (quando uma parte, por inexperiência ou necessidade
assume NJ desproporcional, nesse caso não exige-se uma atitude maliciosa do outro contratante e, caso ele aceite
reequilibrar a relação contratual não se faz necessário anular).

13
Nulidade: absoluta (não observância de elementos essenciais, não produz efeitos, já que nem chegou a existir, ofende
princípios de ordem pública e não poderá ser aproveitado ou ratificado, declarado ex officio, com efeitos ex tunc – retroage à
data da celebração do negócio); relativa (ato anulável e produz efeitos até que declarado para o juiz, as partes podem ou não
deixar como está, produz efeitos ex nunc, menos grave, portanto depende de uma das partes pleitear sua anulação ou
convalidado e ratificado).
14
Ineficácia: absoluta (não produz efeitos nem entre as partes); relativa (não produz efeitos perante terceiros).
15
Classificação das condições: casual (força maior – acaso, independe das partes) ou potestativa (depende da vontade das
partes, e divide-se em meramente potestativa – dependem da prática de um ato ou ocorrência ou puramente potestativa –
depende de mero arbítrio, nesse caso é vedada pelo Código Civil; suspensiva (efeitos após o implemento da condição) ou
resolutiva (antes mesmo da ocorrência do fato, mas se a condição não for implementada os efeitos do negócio se findam).
16
O erro material não atinge a vontade, uma vez que pode ser retificável, portanto não há anulação.

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DIREITO CIVIL

Os vícios sociais são: fraude contra credores (prática maliciosa pelo devedor de atos que desfalcam seu
patrimônio para que não haja execução de dívidas de direitos creditórios alheios – cabe ao credor que não goze de
crédito privilegiado à época da fraude, a propositura de ação pauliana que tem natureza desconstitutiva do NJ para
anulá-lo) e simulação (que, diferente dos outros torna o NJ nulo, já que é produto de conluio entre as partes,
decorrente de uma declaração enganosa de vontade, é uma “aparência” de praticar um NJ que não é desejado,
poderá ser absoluta se não houver a intenção de realizar qualquer NJ, ou relativa também chamado de dissimulado,
nesse caso usualmente serve para prejudicar terceiros esperando que o NJ realizado tenha efeitos diferentes).

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Diretamente na ação que protege o direito. Diretamente o direito e extingue a ação.
Interfere na capacidade de defesa do direito Interfere no direito, e não tem sequer o direito
INCIDÊNCIA
violado (pressuposto) em virtude da inércia do de propor a ação.
titular, mas o direito permanece.
CRITÉRIO Ações de natureza condenatória – pretende a Extinção da pretensão à prestação devida
CIENTÍFICO imposição ao cumprimento de uma prestação (obrigação civil se torna moral)
Pelo próprio titular ou prejudicado, MP e o juiz em qualquer fase processual, pois é matéria de
EXERCÍCIO
ordem pública.
DIREITOS
Não abrange. Abrange (principal objeto).
POTESTATIVOS
Regulados em lei (taxativos). Todos os demais, nos artigos.
PRAZO Necessário uma violação. Começa a fluir assim que o direito nasce.
Não pode ser alterado por acordo. Pode ser alterado por acordo inicial.
ORIGEM Legal. Lei, contrato ou testamento.
NÃO OCORRE Incapazes, ausentes ou não do país a serviço.
DIREITO E
Direito e direito de ação não nascem juntos. Direito e direito de ação nascem juntos.
DIREITO DE AÇÃO
Condicionados a um comportamento ativo do
INSTITUTOS credor: Suspende – volta a contar de onde Não há nenhuma, salvo exceções legais.
estava, interrompe17 - conta do início e impede.
RENÚNCIA Pode renunciar. Somente pelo titular, salvo decadência legal.
MATÉRIA Patrimonial e processual. Caráter pessoal/material, não patrimonial.

PARTE ESPECIAL
OBRIGAÇÕES

Obrigação é uma relação transitória de cunho pecuniário unindo duas ou mais pessoas. Conjunto de
normas jurídicas reguladoras das relações patrimoniais. As fontes das obrigações são: lei (disposição legal, ex.:
alimentos); negócio jurídico (origina-se da vontade das partes, ex.: contrato); ato ilícito (reparação de dano).

São elementos da obrigação: partes (subjetivo – sujeito ativo – credor que possui o direito de exigir o
crédito do objeto e receberá a coisa certa, o fazer ou não fazer; e passivo – devedor que deverá cumprir alguma
prestação, sob pena de responder com o seu patrimônio); objeto (objetivo – prestação que deverá ser cumprida e
poderá ser exigida, divide-se em três tipos: dar, fazer ou não fazer – desde que lícita, física ou juridicamente
possível, apreciável economicamente e determinada ou determinável); vínculo jurídico (liame entre os dois
sujeitos, formado por uma dívida ou débito – obrigação de cumprir, e a responsabilidade – poder de exigir o
cumprimento).

17
Não é interrompida pela morte – o tempo restante é passado aos sucessores.

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DIREITO CIVIL

CLASSIFICAÇÃO: QUANTO AO OBJETO DA OBRIGAÇÃO


OBRIGA-
CONCEITO ESPÉCIES DESCUMPRIMENTO
ÇÃO
Entrega: entregar coisa Perda18 Deterioração
determinada e individualizada em A obrigação se Pode ou não aceitar no

COISA CERTA
gênero, qualidade e quantidade, resolve. estado em que se encontra.
aplicando-se as melhorias que a Devedor sofre o prejuízo, pois ainda é dono da
torne mais útil ou valiosa. coisa (se perdeu antes da tradição).
A obrigação se Pode ou não aceitar no
Restituição: devolver resolve. estado em que se encontra.
determinado bem para seu Sem culpa do devedor: Quem sofre o prejuízo é
Entrega ou
verdadeiro dono. o dono (credor). Com culpa do devedor:
restituição de
DAR Responde pelo equivalente + perdas e danos.
uma coisa a
alguém. Definida apenas em gênero e Não existe alteração pelo
COISA INCERTA

quantidade. Nesse caso, o devedor Antes da opção: O gênero/qualidade, pois o


(salvo acordo em contrário) devedor continuará este ainda não existe. Mas
poderá escolher a coisa incerta, obrigado a entregar deverá ser aplicado o
caso seja notificado e não escolha, mesmo sem culpa. princípio meridiano
a opção será do credor. Com a Depois da opção: quando houver mais de 2
escolha a outra parte será ilidem o devedor da opções (não pode entregar
notificada e poderá aceitar ou responsabilidade. a pior, mas não se obriga a
impugnar a escolha feita. entregar a melhor).
PERSONALÍSSIMA OU
Análise se ocorreu a impossibilidade por fato
INFUNGÍVEL: O devedor deverá
alheio (extinção da obrigação) ou não
Prestação cumprir pessoalmente, não sendo
(indenização por parte do devedor).
positiva – permitida a delegação.
FAZER realização de NÃO PERSONALISSÍMA OU Caso tenha interesse no objeto: o credor poderá
uma atividade FUNGÍVEL: Não precisa ser pedir que terceira pessoa a cumpra no lugar do
pelo devedor. realizada pelo devedor, pois depende devedor (arcará com o ônus).
das qualidades pessoais de quem vaie Caso não tenha interesse: poderá o credor pedir
executá-la – pode ser delegada. a conversão da obrigação em perdas e danos.
Obrigação Quando o devedor executa ou faz aquilo que
negativa, que prometeu não fazer (poderá converter em perdas e
NÃO exige uma danos), o credor poderá exigir que seja desfeito,
-
FAZER omissão pedir a outra pessoa que desfaça (se urgente,
(dever de não mesmo sem autorização judicial). Se fato alheio a
agir). vontade do devedor a obrigação será extinta.

A classificação pode ainda ser: quanto ao resultado (obrigação de meio – deve empregar todos os
esforços para um resultado, mas não se responsabiliza por ele; obrigação de resultado – deve alcançar o resultado e
salvo caso fortuito ou força maior se responsabilizará pela falha); quanto à liquidez do objeto (obrigação líquida –
possui existência, objeto, espécie, quantidade e qualidade determinados; obrigação ilíquida – incerta e se torna
certa pela liquidação – ato de fixar o valor da prestação para que o credor possa cobrar seu crédito); quanto aos
elementos acidentais (obrigação condicional – contém clausula que condiciona o efeito da obrigação a um
acontecimento futuro e incerto; obrigação modal – contém encargo que o contemplado deve cumprir para que
surjam os efeitos; obrigação a termo – efeitos subordinados a um acontecimento futuro e certo); quanto à
pluralidade dos sujeitos (obrigações divisíveis – se o objeto pode ser dividido em tantas obrigações iguais e
distintas, quantos forem os credores ou devedores; obrigações indivisíveis – quando só puderem ser cumpridas em
sua integralidade, não poderá ser cumprida em partes em razão de sua natureza, poderá ser exigido de um dos
devedores o pagamento único e integral; obrigações solidárias – é a pluralidade de partes, que poderá ser ativa,
onde cada credor tem direito à totalidade da prestação, ou passiva, onde cada devedor estiver obrigado por todo o
débito, aqui a indivisibilidade não decorre da natureza da prestação, mas sim da lei ou da vontade das partes,
cabendo posterior ajuste de valores entre a pluralidade de partes).

18
Enquanto não ocorrer a tradição – entrega da coisa do devedor para o credor – a regra é que a coisa perecerá para o dono.

8
DIREITO CIVIL

As obrigações podem ser transmitidas por: cessão de crédito (NJ que o credor/cedente transfere direito a
terceiro/cedido/devedor usualmente em troca de pagamento, poderá ser convencional – acordo, judicial – por conta
de decisão, ou legal – quando a lei determina); assunção de dívida (transmissão de dívida – débitos presentes ou
futuros – do devedor a um terceiro e se faz necessária a anuência do credor porque é necessário a garantia do
recebimento); cessão de contrato (é a cessão de posição contratual, ativa ou passiva, do conjunto de direitos e
obrigações que uma pessoa é titular, desde que já ultimado, mas sua execução não tenha sido concluída).

O adimplemento causa a extinção do contrato, e ela pode se dar por meio do pagamento que é quando o
credor (ou seu representante – se pagar à pessoa errada, pagará duas vezes, salvo exceções de credor putativo, ex.:
herdeiro aparente) recebe do devedor (se outra pessoa pagar estará sub-rogado nos direitos de credor) a prestação
decorrente do vínculo obrigacional, ou seja, é a satisfação da obrigação de dar, fazer ou não fazer e tem como
consequência a extinção e a quitação (prova que o pagamento foi realizado, ex.: nota, recibo, comprovante); além
disso, salvo nos casos previstos em lei, não é admitida a exigência do pagamento antes da data convencionada, o
pagamento deve ser feito no lugar estipulado que, em regra é no domicilio do devedor (quérable), mas pode ser
convencionada no domicílio do credor (portable).

Já o pagamento indireto também extingue a obrigação por meio do adimplemento, mas a obrigação
nesse caso é satisfeita de outra maneira: pagamento em consignação (depósito em banco/extrajudicial ou em
juízo/judicial do valor integral da obrigação vencida com juros e frutos, pelo próprio devedor ou seu representante,
direcionada ao credor, em casos que esteja impedido de pagar, ex.: o credor não recebe, é incapaz, não se sabe
quem o é, ou se pender litígio sob o objeto); pagamento em sub-rogação (substituição do elemento subjetivo ou
objetivo da obrigação; poderá ser pessoal – quando substituído o credor ou o devedor, ou objetiva – quando
substituído o objeto; decorrendo da vontade das partes ex.: quando o credor recebe o pagamento de outrem ou
quando mutuante empresta a exata quantia e se sub-roga nos direitos de credor – é liberatória e translativa, pois
exonera o devedor e transmite os direitos a terceiro; ou da lei, ex.: credor que paga a dívida de devedor comum,
adquirente que paga hipoteca do imóvel, terceiro interessado que paga dívida que poderia ou está obrigado – o sub-
rogado só poderá exercer direitos e ações no limite que desembolsou); imputação ao pagamento (devedor que tem
dois ou mais débitos vencidos e da mesma natureza em relação ao mesmo credor, escolher qual deles foi satisfeito,
caso não escolha passará ao credor e caso este não escolha, ocorre a hipótese de imputação legal, dando-se por
quitada a mais antiga ou a mais onerosa); dação em pagamento (pacto voluntário, onde o credor aceita prestação
diferente da que foi anteriormente acordada no lugar da dívida vencida – caso ocorra perda da coisa que não
pertencia ao devedor, a quitação torna-se sem efeito); novação (constitui-se nova obrigação no lugar da original,
que será extinta; poderá ser objetiva ou real – troca do objeto; subjetiva ou pessoal – que poderá ser passiva19 ou
ativa dependendo de qual polo estará sendo substituído); compensação (quando há reciprocidade de débitos e
dividas, compensando-se até o limite, pode ser legal – decorre da lei, desde que as dívidas sejam líquidas e
vencidas homogêneas e da mesma natureza; convencional – acordo; ou judicial – ocorre no transcurso do
processo); remissão (ato em que o credor libera o devedor, livrando-o da prestação);
confusão (quando a mesma pessoa é credora e devedora, pode ocorrer inter vivos ou causa mortis, sendo total ou
própria, quando opera sobre todo o crédito e débito, e ainda parcial ou imprópria quando atingir só parte.

O inadimplemento, que, caso seja voluntário gera responsabilidade civil (dever de indenizar), pode ser:
absoluto (quando a obrigação não foi cumprida e nem poderá sê-la de forma útil ao credor, se dividindo ainda em
total ou parcial se apenas uma parte dos objetos foram entregues) ou relativo/mora (quando não foi cumprida em
tempo, lugar e forma devidos, mas ainda há possibilidade de sê-lo, quando se dá a mora).

A constituição da mora se dá de diversas formas: liquida e positiva (quando há uma data de vencimento
previamente definida), líquida e positiva sem termo (quando há a interpelação judicial ou extrajudicial de uma
obrigação sem termo), líquida e negativa (quando há uma obrigação de não fazer o devedor executa o ato proibido),

19
Pode se dar por delegação – onde o devedor participa com o terceiro, ou expromissão – se dá apenas entre o credor e o
terceiro.

9
DIREITO CIVIL

proveniente de ato ilícito (quando é provocado um dano, nesse caso há a possibilidade de neutralizá-lo, desde que a
obrigação for proveitosa para o credor, podendo ser purgada pelo devedor – que deverá incluir os prejuízos, ou pelo
credor – que se sujeitará aos efeitos da mora); divide-se, ainda, em: mora solvendi ou mora do devedor (quando o
devedor não cumpre por própria culpa a prestação na data, local ou modo convencionados); mora accipiendi ou
mora do credor (injusta recusa do credor em aceitar o pagamento no tempo determinado).

Juros legais representam o valor que deve ser pago pelo uso do capital alheio, podem ser compensatórios
ou remuneratórios (pagos pela utilização e previstos em contrato); moratórios (em razão de descumprimento ou
atraso na obrigação e são devidos mesmo se o credor não tiver prejuízo); convencionais (que podem ser qualquer
um dos últimos dois, ajustados pelas partes); ou legais (proveniente da lei).

A cláusula penal (multa) tem característica de obrigação acessória, condicional, compulsória e


subsidiária, estipulada para coibir o atraso ou a inexecução, fixando perdas e danos e limitada ao valor da
obrigação. Não há necessidade prova do dano, apenas do atraso. São espécies: compensatória (descumprimento
total da obrigação) ou moratória (assegurar o cumprimento de outra cláusula ou para evitar o atraso da obrigação
constituída em mora). Perdas e danos20 é a indenização imposta ao devedor que está em mora ou não cumpriu a
obrigação de modo total ou parcial, podem ser divididos em dois aspectos: dano emergente (prejuízo – o que
deixou de ganhar) e lucro cessante (esperado – o que poderia ter ganho).

CONTRATOS

É negócio jurídico por excelência decorrido de acordo de vontade a respeito de objeto permitido pelo
direito, que tem por finalidade adquirir, modificar ou extinguir direitos e obrigações.

Os princípios fundamentais dos contratos são: autonomia da vontade (as pessoas são livres para
estabelecer as diretrizes e, inclusive criarem novos contratos21, desde que não haja impedimento legal); supremacia
da ordem pública (freio da autonomia – não pode violar norma cogente de ordem pública/interesse coletivo,
deliberar sobre assuntos da sociedade – dirigismo contratual, ou negociar um objeto que contrarie a moral, ordem
pública e os bons costumes); obrigatoriedade dos contratos (o contrato gera um vínculo e obrigatoriedade – pacta
sunt servanda, que gera responsabilidade para o inadimplente, salvo exceções legais para restaurar o equilíbrio
econômico); consensualismo (o contrato de forma pelo mero consentimento, basta o acordo para a constituição
deste, exceções: contratos reais – empréstimo, a formação se dá apenas com a efetiva entrega da coisa); relatividade
dos efeitos do contrato (o contrato deve atingir apenas as partes signatárias, diferente dos efeitos reais que são
oponíveis a todos, exceções: estipulações em favor de terceiro ou promessa de pessoa a declarar); função social do
contrato (não poderá o contrato atender apenas aqueles que o estipulam, mas estar em harmonia com o interesse
social); boa-fé (desde as tratativas até a conclusão, as partes devem observar a estrita boa-fé – agindo com
honestidade e lealdade); equilíbrio econômico (conhecimento dos ganhos/gastos desde o início – comutatividade, e
caso por motivos alheios isso seja modificado tornando o contrato prejudicial, a parte prejudicada pode pedir a
revisão ou a resolução do contrato).

A formação se dá com elementos imprescindíveis que correspondem ao plano de validade e existência. A


vontade de realizar o negócio será observada no plano interno – elemento psíquico que seja realizar o pacto e
externo – declaração de vontade/consentimento e basta este para que o contrato se forme; poderá ser exteriorizada
de forma expressa ou tácita, embora o silêncio não implique consentimento, salvo o silêncio qualificado – quando a
lei determina e há uma relação jurídica entre as partes de forma habitual ou se assim convencionarem. Considera-se
lugar do contrato onde este foi proposto, se entre ausentes será considerado o lugar em que a oferta ou a
contraproposta foi feita (já que o oblato toma o lugar de proponente, nesse caso).

20
Calculadas juntamente com a correção monetária, sem prejuízo da pena convencional, juros, honorários e custas processuais.
21
São chamados de inominados, já que os estabelecidos na lei são chamados de nominados.

10
DIREITO CIVIL

As fases são: negociações preliminares (tratativas iniciais, não é obrigatório, dando origem à minuta –
esboço de um contrato futuro, que não obriga as partes, mas pode ser prova do rompimento injustificado caso haja
criado expectativa ou gerado algum custo para as partes – indenização); oferta (primeira fase obrigatória, conhecida
por proposta, oblação ou policitação – declaração unilateral de vontade do proponente dirigida a uma pessoa, que o
vincula, salvo a negativa do oblato ou decorrido o prazo estipulado na oblação); aceitação22 (quando o oblato aceita
a proposta feita, podendo ser com prazo ou imediato); desistência (o proponente poderá desistir da oferta se a
retratação chegar ao oblato pelo menos junto com a proposta).

Os contratos classificam-se em: quanto a prestação (unilaterais – obrigação apenas para uma parte;
bilaterais23 ou sinalagmáticos – obrigações para ambas as partes – reciprocidade de prestações); quanto ao ônus
(gratuito – apenas uma parte obtém benefício, enquanto a outra tem prestações, onerosos – ambos possuem
vantagens e sacrifícios); quanto ao risco (comutativos – prestações determinadas e certas desde a formação do
contrato, aleatórios – incerteza da exatidão das prestações dependendo de um acontecimento futuro e não
previsível, ex.: jogo, aposta e seguro); quanto ao estabelecimento de cláusulas (paritário – clausulas estipuladas
livremente, de adesão – clausulas já estabelecidas e não há possibilidade de alteração, se houver cláusulas
ambíguas ou contraditórias, estas serão interpretadas de maneira mais favorável ao aderente); quanto à execução
(instantâneo – formação e execução ocorrem no mesmo momento, sucessivo – execução se prolonga no tempo e
sua formação é posterior); quanto à pessoa (personalíssimos ou intuitu personae – parte individualizada em razão
de características pessoas, impessoais – contratos que podem ser executadas por qualquer pessoa); quanto à
solenidade (solenes – formais, não solenes – informais que a lei deixa sua celebração livre); quanto ao
consentimento (consensuais – formam-se pelo acordo de vontades; reais – formadas quando há a entrega da coisa
negociada); quanto à determinação (definitivos – já tem todo o seu conteúdo estabelecido desde sua formação,
preliminares – tem como finalidade um contrato futuro gerando obrigação de celebrar um contrato definitivo);
quanto à previsão normativa (nominados – previstos em lei, ou inominados – não previstos em lei e criados pelas
partes); quanto à importância (principais – existência própria não dependendo de outro, acessórios – tem sua
existência condicionada a um contrato principal); quanto à matéria de direito aplicável (civis – relações entre
particulares regidos pelo CC, de relações de consumo – celebrados entre fornecedor e consumidor regidos pelo
CDC).

Quanto aos defeitos podemos elencar: vícios redibitórios (vício grave e oculto desconhecido pelo
adquirente em uma coisa que a torna imprestável para sua utilidade ou que cause depreciação em seu apreço
financeiro – se aplica aos contratos bilaterais, onerosos e comutativos; possui prazo – que poderá ser modificada –
de 30 dias para bens móveis e 1 ano para bens imóveis, enseja rescisão por ação redibitória ou revisão por meio de
ação estimatória); evicção (defeito de titularidade, é a perda total ou parcial da coisa – posse ou propriedade – para
seu legitimo dono/evictor, fundada em motivo jurídico anterior, não denunciado oportunamente no contrato, o
evicto tem direito de pleitear reparação do alienante – ocorre mesmo que em hasta pública).

Quanto aos contratos com efeitos a terceiros: estipulação em favor de terceiro (estipulante e o promitente
certa vantagem patrimonial em proveito do beneficiário – que não participa); promessa de fato de terceiro (uma das
partes se compromete a obter prestação de fato de um terceiro não participante); com pessoa a declarar (o
contratante reservando o direito de nomear terceiro em seu lugar – deve consentir e concretizar o contrato em cinco
dias, salvo estipulado em contrário e caso não ocorra o estipulante se responsabiliza pela execução do contrato).

A extinção normal do contrato ocorre por meio do adimplemento. Além disso, existem razões anteriores
à sua celebração: nulidade (defeito em sua forma, que pode ser absoluta – que não produz efeitos, ou relativa –
que produz efeitos até a sua anulação); cláusula resolutiva (a parte pode pedir resolução do contrato por não
cumprimento, se estiver expressa é de pleno direito, caso o contrário pede por meio judicial); direito de

22
O contrato poderá ser entre presentes (proposta e aceitação ocorrem diretamente entre as partes ou quem as represente) ou
entre ausentes (manifestação intermediada por alguma forma de correspondência – considera-se o momento da aceitação o
momento em que a manifestação é expedida de volta ao proponente.
23
Não confundir com NJ bilateral, já que todos os contratos são negócios jurídicos bilaterais, porque há duas vontades.

11
DIREITO CIVIL

arrependimento (cláusula onde pode-se desistir, normalmente mediante pagamento de multa); arras ou sinal
(quantia entregue para confirmar o negócio e adiantar o pagamento, podem ser confirmatórias – o contrato se torna
obrigatório e não pode haver arrependimento, ou penitenciais – função de pena convencional, caso haja
arrependimento e serve de compensação).

Já as razões posteriores à sua formação são: a resolução (por inadimplemento voluntário – ligada à ideia
de culpa que gera responsabilidade e dever de indenização, por inadimplemento involuntário – sem culpa, causado
por caso fortuito ou força maior e só haverá perdas e danos se constituído em mora, ou por onerosidade excessiva –
quando o contrato se torna extremamente oneroso por conta de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis) ou
resilição (forma de extinção por vontade, pode ser unilateral – comunicado dirigido a outra parte, em casos que a
lei permita, bilateral ou distrato – resolvem terminar de comum acordo; pela morte – resolve o contrato se for
personalíssimo, já que as obrigações não se transmite aos herdeiros se não houver um título executivo constituído).

Compra e venda: contrato bilateral, oneroso e comutativo no qual uma das partes transfere a propriedade a
outra mediante recebimento de valor monetário (preço), possui como elementos, o consentimento, objeto, preço
(fixado pelas partes, terceiro ou sofrer variação em mercado de câmbio). Se dá pela tradição (bem móvel), ou por
Registro no Cartório de Imóveis (imóvel). Limitações: venda de ascendente ao descendente; condomínio para a
venda de bem indivisível antes de ofertar aos condôminos; compra do bem por aqueles que são encarregados de sua
guarda; servidor público não pode comprar bens públicos confiados de forma direta indireta à sua administração;
venda do imóvel locado sem prévia oferta ao locatário; venda de imóvel sem anuência do cônjuge nos regimes de
comunhão universal e parcial de bens. São figuras especiais: venda ad mensuram (imóvel pela exata área descrita
no contrato); venda ad corpus (venda do corpo certo do objeto, em que a exatidão da área não é demasiadamente
importante). São cláusulas especiais: retrovenda (vendedor se reserva o direito de exigir em um prazo máximo de
três anos o imóvel alienado, devendo ressarcir o comprador com despesas e benfeitorias, além de ter que pagar o
preço do bem. O direito de resgate é intransmissível, não sendo suscetível de cessão por ato inter vivos, mas passa a
seus herdeiros); venda a contento (o comprador reserva-se o direito de rejeitar a coisa se não lhe aprouver,
dependendo de sua exclusiva apreciação – direito potestativo, que não necessita justificar); perempção ou
preferência (o comprador de alguma coisa, caso queira vendê-la, terá o dever de oferecer primeiramente ao
vendedor, nas mesmas condições da primeira venda, prazo para manifestação: 60 dias, prorrogável por 2 anos –
imóvel, e 3 dias, 180 dias – móvel); venda com reserva de domínio (o comprador somente adquire a propriedade do
bem quando o valor for pago totalmente, somente para bens móveis que são transferidos pela tradição – contrato
escrito e registrado em cartório, caso descumprimento há revogação e reintegração de posse); venda sobre
documentos (a tradição da coisa é substituída pela de seu título representativo e de outros documentos exigidos
pelo contrato, ou, na sua omissão, pelos usos e costumes).

Doação: Por liberalidade o doador transfere seu patrimônio para o donatário, que os aceita. Pode ser objeto
qualquer bem corpóreo – móvel ou imóvel. Exige forma escrita para ser perfeitamente celebrada, salvo bem móvel
de pequeno valor. Não há possibilidade de reclamar sobre vícios redibitórios e nem constituição em mora. São
espécies: pura (contrato unilateral em que a formação se dá sem nenhuma contraprestação do donatário; gravada (o
doador estipula um dever a ser cumprido pelo donatário, mas uma prestação para que o negócio surta efeitos);
remuneratória (donatário presta algum serviço para o doador sem antes ter sido pactuado que o doador teria algum
dever de remunerar o donatário com um bem); condicional (efeitos estão subordinados a um acontecimento futuro e
incerto). Limitações: impossibilidade de doação da totalidade dos bens (doador não pode doar a integralidade de
seu patrimônio, devendo pelo menos manter rendas suficientes para sua sobrevivência, sob pena de nulidade);
doação de ascendente para descendente (somente se pode dar na proporção da legítima, serve como adiantamento
proporcional da herança; caso ocorra doação inoficiosa, que é proibida, será nula no que exceder a metade do
patrimônio doado); perda de eficácia (se a condição ou termo não se realizou, ex.: caducidade, cláusula de retorno –
reintegração da coisa doada se antes morrer o donatário, revogação da doação por ingratidão – atentar contra a vida,
a integridade física ou a honra do doador ou de sua família).

Seguro: O segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do


segurado, relativo à pessoa ou à coisa, contra riscos predeterminados, devendo pagar a quantia estipulada, para o
12
DIREITO CIVIL

caso de ocorrer o risco previsto. Tem natureza bilateral, consensual, de adesão, oneroso e aleatório (finalidade). O
instrumento do contrato é a apólice – que contém os riscos e os limites, sua validade, o valor a ser pago pelo
segurador em caso de sinistro e o prêmio pago pelo segurado – se estiver em mora, não tem direito à indenização.

Troca ou permuta: As partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiro, é contrato
bilateral, oneroso, comutativo, translativo de propriedade no sentido de servir como titulus adquirendi, gerando a
obrigação de transferir domínio – excepcionalmente solene.

Estimatório: Contrato pelo qual o consignante entra para o consignatário um bem móvel para vender,
ficando este com a alternativa de pagar ou restitui-la no tempo adequado. Não há transferência de domínio,
receberá de novo o bem ou o valor que receberia pela venda do bem. É em regra oneroso, mas poderá ser gratuito.

Mandato: Contrato em que alguém recebe de outrem poderes para em seu nome praticar atos ou
administrar interesses. É consensual, gratuito, não solene e personalíssimo. O mandante deve ser: pessoa capaz por
instrumento particular, o relativamente incapaz assistido é absolutamente incapaz representado desde que por
instrumento público. Para ser mandatário a pessoa deve ser capaz ou maior que 16 anos e menor que 18 anos, caso
em que o mandante não poderá se opor caso o mandato não seja executado. A procuração é o instrumento do
contrato de mandato, poderá ser oral ou escrita, particular ou pública, qualificando as partes, com a natureza é o
alcance dos poderes. Substabelecimento é o instrumento pelo qual se transfere os poderes recebidos, poderá ser
com reserva de poderes – continua com os poderes ou sem reserva de poderes – perde todos os poderes para o
substabelecido; o mandatário responderá pelo substabelecimento feito sem a permissão do mandante, inclusive os
decorrentes de caso fortuito ou força maior se o mandante expressamente não permitiu. Obrigações: do mandante
(restituir ao mandatário as custas da execução do contrato; cumprir as obrigações assumidas dentro dos poderes
contemplados ao mandatário); do mandatário (representar o mandante sem cometer abuso dos poderes conferidos;
prestar contas ao mandante; apresentar a procuração a quem for necessário para negociar em nome do mandante;
diligência na conclusão do negócio. Extinção: resilição unilateral do mandante; renúncia do mandatário; morte,
interdição ou mudança de estado que inabilite uma das duas partes a continuar com a execução do contrato;
extinção do prazo ou conclusão do negócio.

Transporte: Contrato em que uma pessoa (transportador/condutor) mediante retribuição, se obriga a


transportar de um lugar para o outro pessoas (passageiro) ou coisas (remetente ou expedidor) até o destinatário ou
consignatário. Tem natureza bilateral, consensual e normalmente oneroso, já que de realizado de forma gratuita
não gera obrigação contratual e os danos são respondidos de forma extracontratual. No transporte de coisas a
contraprestação é chamada de frete e quando o transportador recebe o bem, ele que responderá pela perda ou
depreciação, salvo fatos jurídicos extraordinários, e a partir da data de entrega o expedidor ou destinatário pode
reclamar de qualquer avaria ou perda num prazo de 10 dias. No transporte de pessoas a contraprestação é a
passagem, pode ser tanto individual quanto coletivo, e ainda pode ser por via aérea, marítima ou terrestre e em caso
de acidente o transportador que reparará o dano causado – com possibilidade de ação regressiva contra terceiros.

Fiança: Contrato pelo qual uma pessoa (fiador que será substituído caso se torne insolvente e deve ter
autorização do cônjuge caso casado – exceto separação total de bens) se obriga para com o credor de outra pessoa a
satisfazer a obrigação (assegurar o crédito), caso esta não a cumpra. Poderá ser convencional, legal ou judicial,
sendo comum no mútuo bancário. Tem natureza unilateral – só o fiador tem obrigações, gratuito, solene,
personalíssimo e acessório. O benefício de ordem consiste no direito de o fiador exigir do credor que acione o
devedor inicialmente, para que só responda pela dívida após a execução deste, não poderá ser invocado se houver
cláusula de renúncia, ou o devedor for insolvente, ou o fiador seja devedor solidário. Quando a dívida for paga, o
fiador sub-roga-se nos direitos de credor. Sua extinção ocorre com a morte do fiador ou pelo aceite de dação em
pagamento feita pelo devedor.

Comissão: Contrato no qual o comissário assume obrigação de praticar atos negociais em nome próprio,
mas em conta da outra parte – comitente que suporta o risco do negócio, salvo conduta culposa ou previsão
expressa no contrato (cláusula del credere – determina responsabilidade solidária).

13
DIREITO CIVIL

Constituição de renda: Entrega de capital – em dinheiro ou bens – para que outra pessoa pague renda.

Locação: Contrato pelo qual o locador mediante remuneração (aluguel – que pode ser parcialmente em
dinheiro, sendo proibida sua vinculação ao salário mínimo ou variação cambial) do locatário se compromete a
fornecer durante determinado tempo o uso r godo de coisa infringível. Previsão legal: imóveis urbanos e locações
residenciais (lei específica), bens móveis, imóveis rurais e urbanos no que tange a espaços de publicidade, unidade
em hotel, vagas em garagens e arrendamento mercantil (código civil). Tem natureza bilateral, consensual, oneroso,
impessoal, comutativo e de duração diferida no tempo. Tem por objeto qualquer bem não fungível, móveis ou
imóveis. São obrigações: do locador (entregar o bem ao locatário e garantir seu uso de forma pacífica para a
finalidade destinada; realizar os reparos necessários na coisa sempre que possível, mantendo sua condição de uso;
responder pelos vícios ocultos da coisa anteriores à locação); e do locatário ( pagar o aluguel na data estipulada;
usar o bem conforme estipulação contratual; restituir a coisa no final do contrato no estado em que recebeu; pagar
as despesas decorrentes da coisa, como contas de água e luz, condomínio, assim como manutenção da limpeza).
São direitos: do locador (receber o pagamento do aluguel; de cobrar antecipadamente o aluguel; mover ação de
despejo, exigir as garantias constantes do art. 37 da Lei n. 8.245/91; reaver a coisa locada ou o prédio alugado, após
o vencimento da locação; autorizar, por escrito, a cessão de locação, a sublocação e o empréstimo do prédio; pedir
a revisão judicial do aluguel ou a atualização dos aluguéis das locações; e ser comunicado de sub-rogação na
locação); do locatário (exigir, do locador, relação escrita do estado do prédio; reter o prédio alugado no caso de
benfeitorias necessárias ou úteis, feitas com o consentimento escrito do locador; ter preferência para a aquisição, no
caso de alienação do imóvel locado; purgar a mora para evitar a rescisão da locação; ser despejado mediante
denúncia vazia ou cheia; sublocar, ceder ou emprestar o bem, com consentimento prévio e expresso do locador).

Agência: Uma das partes (agente) promove negócios à conta da outra parte (proponente). É oneroso e
embora tenha caráter habitual, não pode ter vínculo de dependência financeira, jurídica ou hierárquica.

Jogo e aposta: Únicos contratos que carecem do elemento responsabilidade em seu vínculo jurídico, já que
ambos geram dívida, mas o devedor não está obrigado ao pagamento ao credor. No jogo duas ou mais pessoas
comprometem-se a pagar certa soma àquele que lograr resultado favorável em acontecimento incerto. E aposta é o
ajuste em que duas ou mais pessoas concordam em perder certa soma em favor daquela cuja opinião se verificar
verdadeira. Como o seguro, são únicos contratos classificados como aleatórios, já que é de resultado imprevisível.

Empréstimo: Entrega de uma coisa à outra pessoa com o intuito de recebe-la, na mesma espécie, gênero e
quantidade. O empréstimo se subdivide em duas espécies: comodato (cessão gratuita de posse de uma coisa para
seu uso, se perfaz com a entrega do bem e com estipulação que será devolvida em sua individualidade, após um
tempo – gratuito, temporário, personalíssimo, unilateral – somente há obrigações para o comodatário de restituir o
bem, e não fungibilidade da coisa; são obrigações do comodatário – usar a coisa de acordo com sua natureza e
conservá-la, restituir ao dono quando solicitado por este, salvo se houver prazo estipulado); mútuo (empréstimo,
gratuito ou oneroso, de coisas fungíveis, onde a parte fica obrigada a restituir a coisa da mesma espécie, qualidade e
quantidade – real, unilateral, não solene e gratuito ou oneroso/feneratício; há a transferência de propriedade da
coisa, já que o mutuário tem intenção de consumir o bem e devolver outro ao mutuante; tem como prazo legal 30
dias se empréstimo em dinheiro ou até a colheita seguinte se produto agrícola – podendo ser convencionado).

Depósito: É o contrato pelo qual o depositário recebe um objeto móvel do depositante com finalidade de
guardar até que o depositante o reclame. Tem natureza unilateral, gratuito (pode ser oneroso – se tornando
bilateral, nesse caso) e personalíssimo. É contrato real com formação efetiva com a entrega da coisa, tem o
depositário o dever de restituir a coisa no estado em que se encontra (respondendo caso se perca ou sofra
deterioração). Para fazer uso da coisa, se faz necessário o expresso consentimento do depositante que possui como
espécies: voluntário (acordo), obrigatório (por imposição da lei, dividido em legal – lei, miserável – casos de
calamidade pública). O depositário tem como obrigações: guardar e conservar a coisa, restituir a coisa. E tem
como direito: reter a coisa caso o depositante não pague os custos que aquele teve com a manutenção do bem. Não
cabe mais prisão civil para o depositário infiel (aquele que descumpriu o contrato e não restituiu a coisa ao
depositante por culpa ou dolo), mesmo que esteja previsto na CF, CC e CPC.

14
DIREITO CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL

O ato ilícito se caracteriza quando alguém age em desacordo com a lei e viola o direito subjetivo individual
de outrem, causando prejuízo – que deverá ser reparado. Existem ainda situações que mesmo não havendo ato em
desacordo com a lei, a parte terá o dever de reparação, surgindo a chamada responsabilidade civil – obrigação
derivada, dever jurídico sucessivo, de assumir consequências jurídicas de um fato – que podem ser reparação de
danos ou punição pessoal do agente de acordo com os interesses lesados por conta da diminuição do patrimônio do
lesado – material ou extrapatrimonial/moral. O CC acolhe a teoria dualista que divide a responsabilidade em
responsabilidade contratual – inadimplemento de uma obrigação de um NJ; e responsabilidade extrapatrimonial ou
extracontratual – também conhecida como aquiliana, decorrente dos ilícitos que sejam, no mínimo culposos.

Os elementos de caracterização da responsabilidade subjetiva são: ação (omissiva ou comissiva), dano


(que causou prejuízo), nexo de causalidade (entre a ação e o dano que é a correlação entre a ação e o dano), e dolo
ou culpa (já que a vítima deverá comprovar para caracterização da responsabilidade).

Por outro lado, pode ocorrer a responsabilidade independente da demonstração de culpa, quando há
responsabilidade objetiva que ocorre em razão da teoria do risco criado pela qual o dever de reparar o dano
surge da atividade normalmente exercida pelo agente, que cria risco a direito ou interesses alheios, basta a
ocorrência de dano ligado causalmente a uma atividade geradora de risco, normalmente exercida pelo agente, além
disso possuem responsabilidade objetiva do fornecedor (salvo profissionais liberais), o fabricante e o Estado.

A responsabilidade civil pelo ato ou fato de terceiros (solidária – salvo pais e tutores/curadores; e direito
de regresso – salvo o produto de crime): os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia (há necessidade da autoridade; a companhia há divergência doutrinária – basta ser criado por;
companhia física, salvo ato de negligência; elo entre o processo de criação/dano; além disso, pais separados só
quando houver companhia e no caso de emancipação vale apenas a legal); tutor/curador pelos pupilos e curatelados
(mesma coisa dos filhos); empregador por seus empregados no exercício do trabalho ou em razão dele (tem
presunção absoluta, empregado é aquele que possui vínculo); donos de hotéis, hospedarias, casas ou
estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, por seus hospedes (inclusive
hospital, é risco da atividade); os que gratuitamente houverem participado nos produtos de crime (princípio da
repetição do indevido – deverá devolver o objeto ou o valor deste, sem indenização – quem paga é quem furtou).

A responsabilidade pelo fato da coisa (qualquer objeto ou ser vivo que não seja um ser humano), nesse
caso será respondido pelo titular do direito quando seu dono ou guardião não teve intervenção direta no ato (ou
seria responsabilidade da própria pessoa) e caso não prove culpa da vítima ou força maior. É responsabilidade
objetiva e são hipóteses (não taxativas): o dono quando não está com o cão (responde o guardião, adestrador,
veterinário, salvo passeador porque é relação de emprego); no caso de edifício de sua ruína (tudo que pode cair e
machucar – se houver falta de reparo, pouco importando se o proprietário sabe); coisas que caem do prédio ou
lançadas de lugar indevido (quem paga é o habitante, quando não se sabe de onde caiu há responsabilidade
coletiva); empresários e empresas quanto ao produto defeituoso colocado em circulação e em caso de arrendamento
mercantil, ou leasing (responsabilidade será do arrendatário – exceção à regra que o dono da coisa responderá).

A indenização é a reparação em valor monetário que busca compensar a vítima pelo dano para que volte
ao status quo antes de sofrer o dano. O dano material é suscetível de ressarcimento, já o dano moral deverá ser
indenizado como forma de amenizar a dor interior da vítima. É necessária proporcionalidade entre o dano e o
quantum indenizatório para que não haja enriquecimento sem causa do lesado. Nesse sentido, o dano pode ser
patrimonial (atinge o patrimônio da vítima que sofreu perda, suscetível de valoração pecuniária, podendo ser em
forma de indenização – perda total, ou ressarcimento – se deterioração parcial; classificando-se em dano emergente
– prejuízo efetivo ao patrimônio, ou lucro cessante – o que a vítima deixou de lucrar em razão do dano e ainda, a
perda de uma chance – se retira a chance de uma expectativa ou probabilidade em razão de omissão, negligência
ou imprudência); ou moral (direito de personalidade e interesses não patrimoniais, tem caráter compensatório como
forma de amenizar a dor sofrida sem o enriquecer e tenha caráter de educação e sanção para o causador).

15
DIREITO CIVIL

COISAS

A posse é a visibilidade do domínio/direito de propriedade, é a situação de fato por meio da qual uma
pessoa exerce sobre determinada coisa poderes aparentes, externados, ainda que não haja por parte do possuidor o
intuito de incorporar a coisa.

O detentor (fâmulo da posse), é sujeito que exerce poderes inerentes a quem é possuidor, mas a mando
deste – portanto não é possuidor, mas mero mandatário do exercício da posse.

As teorias sobre a posse se dividem em: subjetiva (a posse se caracteriza pelo corpus – ter o bem ou nele
estar e o animus – vontade de ter e cuidar da coisa como se fosse sua, locatário deveria querer ter a coisa como se
fosse sua, ou seria mero detentor), e objetiva (basta a existência do corpus – externas conduta de dono, mesmo que
não tenha contato físico com a coisa; adotada pelo CC – considera-se possuidor aquele que exerce algum dos
poderes que concernem ao direito de propriedade.

A posse tem como objeto os direitos reais vinculados aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação (ex.:
usufruto, uso, habitação, penhor e anticrese). A doutrina moderna não limita o exercício da posse aos bens
corpóreos, partindo do pressuposto que os incorpóreos também se sujeitam ao domínio.

A posse classifica-se em: direta (quem está com a coisa ou está na coisa) ou indireta (o proprietário que
transferiu a posse direta de seu bem a terceiro, reservando consigo a posse indireta) – ambos podem lançar mão de
interditos visando a defesa da posse; nova (período inferior a ano e dia) ou velha (período maior que um ano e dia)
– contagem da data de aquisição da posse, sem o primeiro dia e incluindo o último; de boa-fé (exerce a posse
desconhecendo qualquer vício ou empecilho, inclusive presume-se a boa-fé daquele que porta justo título) ou má-fé
(aquele que conhece o vício; além disso a transição da posse de boa para de má-fé ocorre no exato momento do
conhecimento, inclusive configurando a citação como válida em processo que reclame a posse do bem); injusta
(aquela revista de violência, clandestinidade, ou precariedade24 – critérios exemplificativos) ou justa (aquela que
não for injusta – isenta de vícios infamantes, adquirida nos moldes legais); composse (quando mais de uma pessoa
exerce a posse direta ou indireta concomitante e relativamente ao mesmo bem); pro diviso (quando é possível
discernir parte certa e determinada do bem compossuído, de modo que hajam posses autônomas) ou pro indiviso
(não há possibilidade de divisão); posse ad interdicta (guarnecida pelos interditos possessórios que não conduz o
possuidor à aquisição da propriedade pelo usucapião) ou ad usucapionem (também chancela o ajuizamento dos
interditos possessórios, é aquela que enseja a aquisição da propriedade por meio da usucapião, se porta como se
dona fosse com o fito de incorporar a posse a seu acervo patrimonial).

São efeitos da posse: percepção de frutos (normalmente pertencem ao titular de domínio, já que seguem o
principal, mas enquanto a posse de boa-fé durar o possuidor tem direito aos frutos percebidos; o possuidor de má-fé
responderá pelos frutos percebidos e colhidos, assim como os que se perderam em razão da não oportuna colheita,
possuindo somente o direito de amortização das despesas); indenização por benfeitorias e direito de retenção
(indenização desde que necessárias e úteis, podendo levantar as benfeitorias voluptuárias caso não cause maleficio
ao bem – existe ainda a possibilidade do reivindicante preferir mantê-la incorporada ao bem, onde deverá pagar
indenização por esta; há direito de retenção para o possuidor de boa-fé – manter-se como possuidor do bem, caso
não haja esse pagamento); indenização por perda ou deterioração da coisa (não haverá se o possuidor de boa-fé não
agiu com culpa ou dolo; já o de má-fé sempre deverá indenizar porque há presunção relativa juris tantum da culpa.

24 REVESTIMENTO CONCEITO APERFEIÇOAMENTO DETENÇÃO


Física ou moral pelo agente ou a Enquanto exercidas de forma oculta, são considerados
VIOLÊNCIA
seu mando, contra o possuidor. Com a aquisição da meros detentores e será convalescida (detenção > posse
posse. injusta) no momento em que o espoliante não fizer
CLANDESTINIDADE Sem que a pessoa saiba/perceba. questão de ocultar.
Posse do sujeito que recebeu a Não há convolação, já que era possuidor justo e se torna
PRECARIEDADE coisa de forma lícita e se nega a Com a negativa. injusto, não passando pela detenção. Não autoriza prazo
restituir após findo o prazo. para prescrição aquisitiva.

16
DIREITO CIVIL

A aquisição da posse pode se dar de forma: originária (adquirida libera das impurezas que a
contaminavam, o possuidor não está herdando, já que adquire contra a vontade do antigo possuidor, não há um
liame entre essa posse e a anterior, sem transmissão, sendo ela unilateral e são modalidades: apreensão da coisa –
coisas sem dono/abandonadas ou as que ninguém pertencem e ainda, no caso de posse injusta; exercício de um
direito – quando alguém passa a poder exercer direito sobre um bem certo, ex.: servidão, uso; e disposição da coisa
– já que haverá na outra extremidade alguém adquirindo a coisa que foi disposta) ou derivada (onde há a
transmissibilidade, havendo elo indissolúvel entre a primeira e a segunda posse – mantém eventuais vícios, são
modalidades: tradição25 – forma de aquisição bilateral, é a entrega da coisa ao adquirente em razão de negócio
gratuito ou oneroso, e sucessão).

A perda da posse se dá com a supressão do contato físico com a coisa ou a impossibilidade do exercício de
atos de posse ou poderes inerentes ao direito de propriedade.

A posse, nos mesmos moldes que é exercida, pode ser transmitida aos herdeiros legítimos (a título
universal) e testamentários (poderá ser a título universal – todo ou singular – bem certo e individualizado – legado,
que poderá renunciar à posse do antecessor e adquirir como posse originária) do morto; assim como entre pessoas
vivas, de modo que o cessionário receberá com os mesmos contornos ou abandonar o prazo pretérito dando início a
nova contagem.

A defesa da posse pode ser exercida visando evitar a prática de turbação ou esbulho por meio de: legítima
defesa (casos de turbação, consiste na adoção de atos moderados destinados a coibir a perpetração da moléstia);
desforço imediato (casos de esbulho – agir imediata e moderadamente com o fito de ser reintegrado por sua própria
força na posse do bem).

Além disso, como defesa da posse, há as ações possessórias (interditos possessórios) que se dividem em:
reintegração de posse (repelir esbulho – quando o agente perde sua posse para terceiro); manutenção de posse
(rechaçar a turbação – quando o possuidor direto ou indireto estiver sofrendo transtornos que incomodem o
exercício da posse) e interdito proibitório (para obstaculizar o esbulho ou a turbação – quando está na iminência de
perder a posse ou passar por transtorno, visa-se evitar por meio da expedição do mandado proibitório, que terá
fixado multa pecuniária). As ações possessórias possuem natureza dúplice (o sujeito do polo passivo poderá
formular pedido na própria contestação em seu favor – próximo a reconvenção e ao pedido contraposto, mas não
exige peça autônoma; poderá inclusive pedir a expedição de mandado de manutenção de posse contra o autor e,
ainda, arguir a exceção de usucapião – alegação de prescrição aquisitiva) e fungível (permite que o magistrado
receba uma pretensão no lugar de outra, expedindo o pertinente mandado se estiverem presentes os requisitos; e,
além disso, que o magistrado adapte a sentença ao momento em que ela estiver sendo prolatada – exceção ao
princípio da adstrição; aplica-se somente às ações possessórias de procedimento especial ou comum, não
aplicando-se às petitórias). É importante nesse caso saber se trata-se de ação de força nova ou velha, já que o
marco inicial para contagem de prazo muda: caso seja posse nova baseando-se na data do esbulho ou turbação, já
que o marco inicial para contagem de prazo muda: posse nova (procedimento especial que contempla medida
liminar, será iniciado com a data da aquisição de posse), e no caso de posse velha (procedimento comum, sem
possibilidade de liminar, da data em que ocorreu a força espoliativa).

Preliminarmente, o único direito real exercido sobre coisa própria é a propriedade, todos os outros são
exercícios sobre coisa alheia. Diferentemente do direito obrigacional (relação entre pessoas), os direitos reais
regulam relação entre a pessoa e o bem.

25
Modalidades de tradição: real (quando há a efetiva transmissão da coisa), simbólica (quando um gesto menos significativo
for praticado com o propósito de cumprir obrigação maior, ex.: entrega de chaves ao comprador) ou ficta (que se divide em
constituto possessório – transmissão da posse indireta, ex.: locação, e traditio brevi manus – é a transferência da posse direta
para o possuidor indireto).

17
DIREITO CIVIL

São direitos reais de gozo e fruição: propriedade, superfície, servidão, usufruto, uso e habitação, além
disso, concessão de uso especial para fins de moradia e o de concessão de direito real de uso; o único direito real
aquisitivo é o direito real do promitente comprador; são direitos reais de garantia: o penhor, a hipoteca e
anticrese. O rol é taxativo – só existem direitos reais que estejam previstos em lei.

Os direitos reais incidem sobre coisas móveis ou imóveis, dotadas de valor econômico e comercializáveis
e, diante da oponibilidade erga omnes, poderá insurgir-se contra qualquer pessoa que pretenda molestar o exercício
de tais direitos. Alem disso, o direito real aderirá ao bem e o acompanhará independentemente de para quem e para
onde vá (direito de sequela ou jus persequendi). Para se aperfeiçoar em bens móveis deve ocorrer a tradição e em
bens imóveis o respectivo registro.

DIREITOS REAIS DE GOZO E FRUIÇÃO

Propriedade: O mais amplo e único exercido sobre coisa própria, o direito de propriedade – de forma
plena, é representado por quatro fatores (se faltar algum é limitada): usar (jus utendi - usar o bem extraindo apenas
os frutos indispensáveis à sobrevivência), gozar ou usufruir (jus fruendi – extrair frutos), dispor (jus abutendi –
transferir a coisa [gratuita ou onerosamente, inter vivos ou causa mortis] ou gravá-la com ônus real) e reivindicar
ou reaver (rei vindicatio – reivindicar o bem de quem quer que o injustamente possua ou detenha, ação de natureza
petitória). É direito perpétuo – não perece pelo mal uso, salvo se houver posse desse direito, onde haverá
usucapião; não é irrestrito, pois sofre limitações. Descoberta: ao descobridor recairá o dever, se apanhar a coisa, de
empreender esforços com o objetivo de encontrar o dono é então, entregar às autoridades e, restituindo a coisa, fará
o descobridor jus ao valor correspondente 4 a 5% sobre o importe do bem encontrado, recompensa denominada
achádego. A propriedade poderá ser adquirida de forma originária (sem a vontade do titular, isenta de vícios) ou
derivada (transmissão, por meio do registro ou tradição, a título singular ou universal, onde acompanha os vícios).

Direito de vizinhança regulamentação de convivência visando a utilização e moderada da propriedade, já


que uso anormal da propriedade caracteriza ato ilícito – ultraje à segurança, ao sossego e à saúde). Tem como
institutos: árvores limítrofes (se na linha divisória, pertencem a ambos os proprietários e dão origem à condomínio
necessário, onde ambos zelam, com igualdade de condições entre os frutos; os galhos e folhas do vizinho que
transcendam a linha limítrofe podem ser cortados sem autorização; os frutos pertencem ao solo em que caírem – se
em via pública pertencem ao dono); passagem forçada (não se confunde com servidão, é o encravamento de um
prédio que não disponibiliza acesso à via pública, nascente ou porto); passagem de cabos e tubulações (tolerância
do proprietário para com cabos e tubulações atreladas a utilidade pública, o proprietário será indenizado em danos
emergentes e/ou lucros cessantes desde que demonstrados); das águas (o titular do domínio de nível mais baixo é
obrigado a permitir que as aguas de prédio situado em nível superior por ele passem sem objetos, salvo se este foi
construído a posteriori – o proprietário deve minorar o impacto e, caso decorra de circunstancia artificial, deverá
indenizar ou desviar a corrente); limites entre prédios e direito de tapagem (o proprietário tem o direito de murar ou
demarcar as fronteiras, repartindo entre os interessados as despesas – ação demarcatória em casos de discussão);
direito de construir (salvo as regras esparsas, os proprietários podem construir, salvo, ainda, a construção que
provoca direcionamento de águas e janelas a menos de um metro e meio, essa última com prazo decadencial de um
ano e um dia para a ação demolitória).

Formas de aquisição da propriedade móvel26: a título originário (usucapião – posse mansa e pacífica
pode ser: ordinária por 3 anos + título e boa-fé, e extraordinária por 5 anos sem título e boa-fé; ocupação –
apropriação de coisas sem dono; especificação – obtenção de nova espécie que tem valor consideravelmente
superior à matéria prima alheia, desde que de boa-fé não possa voltar à forma anterior; comistão, confusão e
adjunção – respectivamente, mistura de coisas sólidas, mistura de coisas liquidas e justaposição de coisas – 1º
tentar separar ou estabelecer condomínio sobre uma coisa nova conforme o quinhão de cada um, caso uma seja

26
Aplicam-se as regras de soma da posse: na contagem do tempo exigido incluir à sua posse a dos seus antecessores.

18
DIREITO CIVIL

considerada principal, o dono da maior parte pagará uma indenização, além disso, se uma das partes estiver de má-
fé, a outra escolherá indenizar ou ser indenizado; achado de tesouro – pertencerá em partes iguais aquele que achou
e ao dono do imóvel onde encontrou, salvo se não tinha autorização ou estava procurando a mando dele) ou a título
derivado (tradição –transmissibilidade).

Formas de aquisição da propriedade imóvel27: Sucessão (derivada, lei ou vontade);

JUSTO TÍTULO E
USUCAPIÃO28 PRAZO PARTICULARIDADES
BOA-FÉ
Redução: 10 anos – se estabelecido domicilio ou realizado
EXTRAORDINÁRIA 15 anos Independente
investimentos de caráter produtivo (função social).
Redução do prazo: 5 anos – aquisição onerosa, registro do
ORDINÁRIA 10 anos Necessário título, posterior cancelamento do registro ou da matrícula e
fixação de moradia ou investimento.
ESPECIAL Requisitos: o imóvel deve ter até 250m² se urbano, ou 50ha se
5 anos Independente
URBANA rural, com moradia fixa e não pode ser titular de outro imóvel.
Requisitos: áreas urbanas com mais de 250m² ocupadas por
COLETIVA população de baixa renda para sua moradia, onde não for
5 anos
URBANA possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor,
- desde que não sejam proprietários de outro imóvel.
Requisito: áreas urbanas de no máximo 250m², fixou seu
DE FAMÍLIA 2 anos domicilio e não é titular de outro imóvel (aquisição da meação
que pertencia ao companheiro que abandonou o lar),

ACESSÕES
29 FORMA CONCEITO REGRAS
Acúmulo de dejetos, terra ou
Formação de
areia, cascalho e congêneres,
– Leito do rio é dividido ao meio para que se constate de
Ilhasou ainda em decorrência do
que lado surgiu a ilha; – Serão proprietários ribeirinhos
rebaixamento de água.
aqueles em que a ilha se situe ao lado da sua propriedade
Leito no curso de água – local
Álveo (se apenas um dos lados, apenas um proprietário)
NATURAIS por onde as aguas deixam de
Abandonado
OU passar (estiagem ou desvio).
FÍSICAS Fenômeno natural violento – O titular da área acrescentada poderá indenizar ou tolerar
Avulsão (correnteza) que destaca área de a remoção do acréscimo pelo titular da área reduzida. –
um imóvel que adere a outro. Reclamação com prazo decadencial de 1 ano.
Acréscimo imperceptível de – Pertencerá ao titular do bem – O acréscimo pode ser
Aluvião detritos a um terreno paulatino e sucessivo (aluvião própria) ou por conta de
ribeirinho. desvio, afastamento ou rebaixamento das águas (imprópria).
Construções Imóvel próprio com matéria-prima alheia: adquire e indeniza
INDUSTRI- o proprietário; caso de má-fé também perdas e danos.
AIS Construir, semear ou plantar Imóvel alheio com matéria-prima própria: indenização se
OU30 Plantações em imóvel. estiver de boa-fé; caso o valor supere o terreno o titular da
ARTIFICIAIS matéria adquire o terreno mediante indenização; caso os
dois de má-fé o proprietário adquire mediante indenização.

A perda da propriedade ocorrerá por vontade do titular do domínio (alienação – disposição, depende de
registro e contrato; renúncia – ato em que por meio de registro de instrumento público abdica de seu direito ou
quando o herdeiro renúncia à herança; abandono – ato unilateral se perfaz pela mera conduta em não conservar de
forma, ex.: deixar de pagar tributos) ou por força da lei (perecimento – assolamento da coisa, quando esta já não
existe mais, ex.: incêndio; usucapião; desapropriação – quando o Poder Público despoja alguém por necessidade).

27
Para aquisição é necessário que se registre (tanto os translativos, quanto os que versem sobre direitos reais) o documento
(público ou particular) para que surta efeitos. Esse registro poderá ser retificado em caso de equívocos.
28
Usucapião (prescrição aquisitiva): originária, ocorre quando pessoa exerce sobre determinado bem (suscetível de usucapião
– não pode ser público) posse mansa, pacífica e ininterrupta por certo prazo, com animus domini e atendendo os requisitos.
29
Acessões: Deriva – aumento – que se incorpora a um imóvel por vontade humana ou força natural, pertence ao proprietário.
30
Presunção relativa de que as construções e plantações foram feitas por seu proprietário.

19
DIREITO CIVIL

Condomínio é uma espécie de compropriedade (mais de um titular no assento imobiliário) poderá ser
criado por vontade, por lei ou via eventual (doação/testamento). Divido em: voluntário (contratos onerosos, caso
este não diga o quinhão entende-se é igualitário – alienação é necessário consentimento de todos; direitos e
deveres: não dar destinação diversa sem aprovação, defesa e conservação da posse, pagar tributos, receber frutos,
dividir despesas observando o quinhão e dando a devida indenização; administração e extinção: conflitos podem
ser terceirizados, cada um dos proprietários pode dispor – alienar ou gravar com ônus real – de seus quinhões de
forma gratuita ou onerosa, ressalvado o direito de prelação/preferência, caso ainda assim se recusem, o condomínio
poderá ser dividido ou extinto31 – ação de extinção); necessário (em imóveis confinantes, condôminos por força da
lei das paredes, cercas divisórias e as despesas por parte de ambos); edilício32 (existência de partes exclusivas sobre
o mesmo limite territorial; deverá ter ato de instituição – cria, convenção condominial e regulamento interno – fixa
regras e preceitos; deve ser registrado no CRI – oponível a terceiros; administração pelo síndico, não precisa ser
titular, eleito pela assembleia com mandato de dois anos com reeleição, poderá ser destituído por maioria absoluta
em assembleia extraordinária, além dele há o conselho fiscal, integrado por três membros com mandato de dois
anos; a extinção pode ser por destruição, demolição, desapropriação ou confusão – tudo de uma pessoa; direitos e
deveres: Contribuir, respeitar a segurança e a forma do condomínio, dar unidade, sob pena de multa prevista na
convenção – máximo 5x taxa condominial, sem prejuízo de perdas e danos, problemas de convivência podem ser
cobrados 10x o valor da taxa.

Superfície: Sobre bem imóvel (urbano ou rural) alheio, onde o proprietário transfere ao superficiário
(posse direta) o direito de uso e gozo do bem para que este construa ou plante e obtenha frutos pelo prazo certo do
negócio, não é direito personalíssimo. Constitui-se por instrumento público ou testamento, desde que sujeito à
registro, sendo lícita a cessão por prazo determinado a título gratuito ou oneroso (em parcela única ou periódica –
conon/solarium). Fica o superficiário responsável pelos tributos e encargos de conservação, e assim como o
proprietário, possui direito à transmissão inter vivos ou causa mortis de seu direito real – com recíproco direito de
preempção (oponibilidade erga omnes e direito se sequela – que assistem ao não alienante). Extinção: destinação
diversa do pactuado; desapropriação – pagamento ao proprietário e ao superficiário; ou no prazo estipulado, e salvo
disposição expressa em contrário, o superficiário perderá em favor do proprietário do terreno tudo aquilo que
plantou ou construiu sem a indenização.

Servidões: Vontade das partes, relação entre um prédio (dominante) e recai sobre imóvel alheio (serviente)
– prédios contíguos, onde o serviente tolerará por prazo indeterminado certos atos ou se abster da prática de outros
para viabilizar a utilização de seu prédio pelo dominante (prestação de serviços ao prédio e não ao titular).
Classifica-se: positiva (direito de passagem, ex.: aqueduto); negativa (implica abstenção ao titular do prédio
serviente, ex.: proibição de construir para não prejudicar a vista); aparente (visível, deixa marcas, ex.: passagem do
gado); não aparente (não visíveis, não podem ensejar a usucapião, não é possível evidenciar o fato da posse).
Constitui-se quando devidamente registrado, já que não se presume, são formas: NJ inter vivos (manifestação de
vontade em instrumento público ou particular, de forma onerosa ou gratuita – o titular do serviente deverá ter
capacidade plena de alienação); sucessão causa mortis (testamento, desde que seja titular do prédio serviente, com
a condição de que preveja o prédio que será beneficiado e a natureza da servidão); por sentença (decisão de ação de
divisão); usucapião das servidões (ordinária: o exercício incontestado e contínuo de uma servidão aparente, por
dez anos, autoriza o registro em seu nome, valendo como título a sentença que julgar consumada a usucapião,
levando em conta que a não aparente não goza de visibilidade, poderá tal direito ser usucapido mediante justo título
e boa-fé se for exercida a servidão por dez anos; extraordinária: que dispensa o justo título e a boa-fé, mas que,
mas exige o exercício da servidão aparente por vinte anos). Em casos de prédios pertencentes ao mesmo dono não
haverá servidão, apenas serventia, que se converterá em servidão se o proprietário alienar um dos prédios. A

31
Se possível, o bem pode ser dividido, salvo disposição contrária – prazo prorrogável de 5 anos, salvo se por
doação/testamento.
32
Instituído por ato inter vivos ou causa mortis. O registro deve conter a discriminação das unidades e sua finalidade. Deve ter
assinatura de dois terços dos titulares (percentual de propriedade). O possuidor não é condômino. Ler o 1.335 do CC.

20
DIREITO CIVIL

extinção ocorre por confusão (mesmo dono), cessação da utilidade, convenção, renúncia (do titular do prédio
dominante), não uso (pelo superficiário por 10 anos contínuos).

Usufruto: Direito real de gozo ou fruição exercível sobre coisa alheia (móveis infungíveis, imóveis ou
pratimônio), caracteriza-se pela transferência dos direitos de usar e gozar de uma pessoa para outra (física ou
jurídica), podendo esta última extrair os frutos e utilidades que do bem advierem, de forma gratuita ou onerosa. É
direito temporário; personalíssimo e inalienável – a lei veda a transferência gratuita ou onerosa do exercício como
extensão do direito de gozar, desse modo não está o direito sujeito à constrição judicial (penhora ou arresto), apenas
o exercício – o usufrutário será privado do direito de retirada de frutos (mas o direito do nu proprietário pode ser
alvo de constrição, sobretudo porque ele conserva consigo o direito de disposição e no caso de penhora e
arrematação ou alienação os direitos de uso e gozo subsistirão). Sujeitos: proprietário (poderá usar o bem, dele
gozar e dispor e, por fim, reivindicá-lo de quem quer que injustamente o possua) usufrutuário (usar, gozar e reaver
– para quem foi transferido dois dos poderes inerentes ao seu direito – uso e gozo, e ficando despido de tais direitos
– desmembramento da propriedade) e nu proprietário (é o proprietário que depois de transferir os poderes fica
apenas com o de dispor e reaver). Constituição: ato de vontade, determinação legal ou usucapião –
móveis/tradição, imóveis/registro. Direitos e deveres: o usufrutuário tem a posse direta (uso e gozo) e adquire com
o estabelecimento o direito de administrar o bem e perceber frutos; deve antes de entrar na posse realizar inventário
dos bens e zelar como se seu fosse, e pagando tributos. Espécies: impróprio (recai sobre coisa consumível e
fungível, é um quase usufruto, onde deverá ser restituído coisa de mesmo gênero, quantidade e qualidade ou seu
valor equivalente); rebanho (é outorgado o direito a extração dos frutos e as crias dos animais pertencerão ao
usufrutuário, salvo em caso de perda que será usado para substituir); títulos de crédito (obtenção dos frutos, poderá
cobrar do devedor o cumprimento da obrigação; ao final restituirá o título caso não tenha recebido o crédito e se
recebeu devolver novos títulos da mesma espécie com atualização monetária); florestas ou minas (jazidas, minas e
florestas, extraindo frutos). Extinção: personalíssima (morte do usufrutuário – mesmo que sejam dois e um só
tenha morrido, salvo disposição contrária); renúncia; termo de sua duração; extinção da PJ (ou pelo decurso de 30
anos); cessação do motivo que se origina (ex.: alcance da maioridade); destruição da coisa; consolidação (o
usufrutuário se torna proprietário); culpa do usufrutuário (quando arruína os bens); pelo não uso da coisa.

Uso: Consiste na possibilidade de utilização de um bem por prazo certo ou vitaliciamente (não é perpétuo,
já que a morte do usuário gera a extinção), o usuário poderá retirar do bem apenas os frutos necessários à sua
sobrevivência, não ostentando o direito fruição. Não se sujeita à cessão e que é, também, indivisível (inadmissível o
estabelecimento a certa fração do bem), recai ao usuário os deveres de arcar com os tributos. Constitui-se apenas
pela vontade das partes – o constituinte (proprietário) cederá ao usuário a parte ou um dos direitos de quem é
proprietário; pode ser feito por instrumento público ou particular, ato inter vivos ou causa mortis, de forma gratuita
ou onerosa; se recair sobre bem móvel, a tradição será suficiente para que se constitua, sendo desnecessária a
instrumentalização, embora recomendável (para eficácia erga omnes), em imóveis é indispensável. Tem por objeto
bens móveis (infungíveis e inconsumíveis) ou imóveis. Extingue-se como o usufruto.

Habitação: É direito personalíssimo e temporário do habitador de morar com sua família em imóvel em
que não exerça a propriedade, subsiste até sua morte e deve ser gratuito – arcando apenas com impostos, mas não
podendo alugar, ceder ou tirar qualquer proveito. Deve ser registrado para que goze de oponibilidade erga omnes e
direito de sequela, em caso de alienação os adquirentes terão de manter com os mesmos caracteres o direito do
habitador anteriormente estabelecido. Constitui-se por vontade das partes por instrumento a ser registrado na
matrícula do bem, possui prazo certo e gratuidade, podendo estabelecer causas extintivas além das legais, bem
como termo ou condição; sua constituição também pode ser legal assegurado ao cônjuge ou companheiro
sobrevivente independente do regime de bens; é possível que seja conferido a mais de uma pessoa – que não poderá
limitar o exercício da outra, salvo acordo de vontades e caso um deles morra, não exclui o direito do outro.
Extingue-se em razão da morte, caso case novamente ou adquira outro bem que possa estabelecer sua moradia,
além das hipóteses de usufruto.

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DIREITO CIVIL

DIREITO REAL AQUISITIVO

Promitente comprador: Por meio de tal irretratável instrumento, uma das partes (o promitente comprador)
se compromete a pagar o preço avençado da forma e nas datas aprazadas (sob pena de sofrer ação de resolução
contratual e reaquisição de posse), remanescendo nas mãos da outra parte (o promitente vendedor) o dever de, por
ocasião do cumprimento integral da contraprestação do outro contraente, outorgar-lhe a escritura definitiva; a
recusa imotivada autoriza o manejo da pretensão adjudicatória (ação de procedimento sumário que constitui pela
sentença título hábil para o deslocamento do domínio mediante registro. O registro não impede a pretensão
adjudicatória compulsória já que o registro terá por fito apenas desmotivar a aquisição do bem por terceiros.

DIREITOS REAIS DE GARANTIA

Características gerais: acessória (é a gravação sobre um bem móvel ou imóvel, de titularidade do


devedor, que servirá de garantia para satisfação do crédito em obrigação primária, logo, a extinção da obrigação
implicará o levantamento da garantia); aptidão para alienação (para que seja possível dar um bem em garantia o
devedor, além de ser detentor de capacidade de fato, deverá gozar de aptidão para alienação, sendo certo que
somente os bens comercializáveis são passíveis de garantir dívida real); especialização (que consiste em detalhar o
bem dado em garantia, bem como prever taxa de juros, prazo de pagamento e o valor do crédito); publicidade
(registro no Oficial Imobiliário – HAPR ou no Cartório de Registro de Títulos e Documentos – Penhor
convencional; a carência de registro não tornará o negócio inexistente ou nulo, mas apenas ineficaz em relação a
terceiros; preferência ou prelação – ordem que beneficia o credor real, salvo o credor anticrético; direito de
sequela - exercido onde quer que se encontre a coisa e independentemente de com quem ela esteja);
indivisibilidade (o pagamento parcial dos débitos hipotecário e pignoratício não importará em levantamento
correspondente da garantia, ainda que mais de um bem garanta o crédito, salvo previsão expressa em sentido
oposto); direito de excussão (conduzir o bem à hasta pública com o fito de utilizar o produto da alienação para a
satisfação de seu crédito, assistindo tal direito aos credores hipotecário e pignoratício).

Hipoteca: Recai sobre bens imóveis de titularidade do devedor ou de terceiros; é indivisível e se constitui
mediante registro no órgão competente; o titular goza de preferência em relação aos demais devedores; é acessório,
pois visa a garantia de pagamento de outra obrigação; deve haver especialização e publicidade; abrange todas as
acessões no bem hipotecado; é nula a cláusula que impeça o jus disponendi, ou seja, que não deixe o devedor
vender ou dispor, mesmo que condicionada à autorização – já que não poderá obstaculizar o principal direito real
que é a propriedade, sobretudo porque em razão do direito de sequela e da oponibilidade erga omnes, já que a
execução tomará o bem de quem quer que com ele esteja, mas é lícita a cláusula que importa o vencimento
antecipado das prestações, na exata medida em que por ocasião da alienação impor-se-á, sob pena de execução
hipotecária, a quitação da prestação principal. Objetos hipotecáveis: bens imóveis e acessórios, domínio útil e
direto (do senhorio e do enfiteuta), estradas de ferro e recursos naturais (direito concedido pelo governo), navios e
aeronaves, e a concessão de uso especial para fins de moradia e o direito real de uso. Espécies: convencional (se
constitui pela vontade das partes e estabelecem como garantia acessória a hipoteca); legal (pessoas beneficiadas
pela lei; PJ de direito público interno – aos seus imóveis pertencentes aos seus funcionários, ex.: tesoureiro,
administrador, coletor; filhos – em relação ao bem dos pais que fundaram relacionamento e pretendem dar início a
uma nova relação, até a partilha do patrimônio comum; ofendido e seus herdeiros – sobre o bem do ofensor no
ressarcimento dos prejuízos; coerdeiro – no patrimônio adjudicado por outro; credor - garantia incidente sobre o
imóvel arrematado, até que haja a quitação integral da dívida); judicial (derivada de sentença, que é título hábil para
registro; é pouco usual). Pluralidade de hipotecas: é possível, desde que se origine do novo título, a menos que o
anterior obstaculize; nesse caso há preferência por anterioridade do registro. Remição: resgate da hipoteca pelo
devedor que oferta o valor igual ao da avaliação ou igual ao do maior lance. Execução: pelo procedimento de
execução por quantia certa do devedor solvente ou execução extrajudicial autorizada. Extinção: desaparecimento
da obrigação principal; perecimento da coisa; resolução do domínio; renúncia do credor; pela remição; pela
adjudicação ou arrematação.
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DIREITO CIVIL

Penhor: Recai sobre bens móveis. Determinado bem é avaliado é dado em garantia em troca do valor
estipulado na avaliação, se comprometendo a pagar o preço da forma acordada. Objetos e forma: sujeitam-se ao
empenho os bens móveis do devedor, sejam eles singulares/coletivos, corpóreos/incorpóreos, fungíveis/infungíveis,
de existência imediata/mediata, constituindo-se por instrumento público ou particular registrado no CRTD.
Direitos e obrigações do credor pignoratício: o credor normal (exceções: rural, industrial, mercantil e de
veículos) tem a posse direta do bem, sendo defesa sua utilização, salvo disposição contrária; há direito de retenção
até que seja indenizado por sua conservação; se a coisa portar vícios, haverá ressarcimento dos prejuízos provados;
é lícito alienar a coisa no caso de descumprimento da obrigação – apenas com autorização judicial, caso contrário
deverá promover a execução e indicar bem a penhora, conforme regras processuais; tem como deveres custodiar –
impedir sua perda e deterioração, ressarcir o titular caso a obrigação se extinga, defender a posse do bem e
amortizar do valor da dívida os frutos que se apropriar. Penhor rural: poderá ser agrícola – onera cultura ou bens,
inclusive safra – prazo de 3 anos; ou pecuário – gado em geral – prazo de 4 anos; ambos devem ser feitos por
instrumento que deverá ser registrado na localidade que se situarem os bens, sendo lícita a emissão de cédula rural
pignoratícia se a obrigação se pagar em dinheiro e que dependerá de endosso em preto para circular; nesse caso a
posse dos bens subsiste nas mãos do devedor; como no penhor de veículos, há prazos e que podem ser prorrogados
por igual período. Penhor industrial e mercantil: também permanecem com o devedor, que deverá zelar pelo bem
e é impedido de alienar – salvo previsão em contrário, afiança relação obrigacional de negócio empresarial. Penhor
de direitos e títulos de crédito: empenham-se os próprios direitos suscetíveis de cessão ou sobre os próprios
títulos; os documentos são entregues ao credor que deverá zelar por eles; no empenho do título de crédito, o credor
original do título dará a cártula em empenho ao credor pignoratício, oportunidade em que assumirá a posição de
devedor pignoratício – o devedor original deverá ser notificado para que não pague a pessoa errada, sob pena de
assumir solidariamente o dever de reparar os prejuízos do credor com garantia real; o credor poderá receber o valor
constante do título e, caso seja solvida a obrigação pelo devedor pignoratício, caberá ao credor o ônus de restituir o
título. Penhor de veículos: O veículo serve de garantia – deve ser feito o registro não somente no cartório, mas no
certificado de propriedade; o bem permanece com o devedor e assume a posição de depositário fiel mediante a
subscrição de cédula de crédito pignoratício (caso se convencione pagamento em dinheiro), sujeito, portanto, às
consequências daí oriundas, devendo o automotor, em cumprimento ao princípio da especialidade, ser discriminado
(modelo, cor, marca, chassi, motor etc.) e segurado contra furto, avaria e perecimento; prazo do contrato não
poderá transcender a dois anos, prazo prorrogável uma única vez por igual período. Penhor legal: provenientes da
lei e prescindem do descumprimento de um contrato, ex.: hospede – bens; deve ser submetido à homologação
judicial caso mesmo após a posse dos bens o devedor ainda se mantenha inerte – se não houver homologação,
deverá ser devolvido; com o trânsito, é possível dar início à ação de cobrança, e na fase de cumprimento indicar à
penhora os bens empenhados. Extinção: perda da coisa, renúncia (aqui a dívida ainda permanece, pois deverá
haver renúncia desta em expresso), confusão – quando o bem for adquirido inter vivos ou causa mortis pelo credor;
pela adjudicação, remição, ou alienação por concordância das partes.

Anticrese: recai sobre imóvel do devedor, onde este transfere a posse ao credor que, durante certo prazo,
poderá usar o bem e dele extrair todos os frutos e rendimentos com o escopo de amortizar paulatinamente a dívida
entre eles existente, é lícito estabelecer que os frutos e rendimentos serão utilizados para quitação dos juros, sob a
condição de que o valor dos frutos não transcenda à taxa máxima de juros permitida por lei, que se ultrapassar será
utilizado na amortização do principal. O instrumento deverá ser levado a registro, podendo ainda ser constituído
por testamento. Direitos e deveres do credor: o credor poderá ter a posse e extrair frutos, arrendar o bem imóvel a
terceiros para maximizar os rendimentos (desde que não esteja vedado no contrato); poderá exercer o direito de
retenção, e de defender sua posse por meio dos interditos possessórias; deverá zelar por sua conservação, evitando
sua deterioração e de prestar contas anualmente ao devedor anticrético que, discordando do balanço, poderá
impugná-lo ou requerer a convolação da anticrese em arrendamento. Extinção: pela quitação da dívida; renuncia;
perecimento do bem; caducidade do prazo de 15 anos – credor.

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DIREITO CIVIL

Concessão de uso especial para fins de moradia: recai apenas sobre bens imóveis pertencentes à União,
será concedido (por meio administrativo) àquele que possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, até 250 m2 de imóvel público situado em área urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não
seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel (mesmos requisitos da usucapião urbana);
por ato inter vivos ou causa mortis, podendo ser hipotecado; se a administração negar o pedido deverá o possuidor
cumprir requisitos no poder judiciário. Extinção: se o concessionário der destinação diversa ou se adquirir
propriedade.

Concessão de direito real de uso: não se limita à moradia, pode ser concedidos forma gratuita ou onerosa
em caráter resolúvel para que este o explore de forma a exteriorizar o interesse social, transferível a terceiros por
ato inter vivos ou por sucessão legítima ou testamentária; também deverá ser levado a registro na localidade do
bem.

FAMÍLIA

São entidades familiares: família monoparental (um só dos pais e seus descendentes subsiste até que se
finde o poder familiar, pois com a superveniência da capacidade civil plena – ainda que por emancipação, passa a
haver entre eles o que a doutrina chama de família natural33); união estável (pacto sólido firmado entre duas
pessoas não impedidas de casar, que deve ser pública, contínua e duradoura, sendo indispensável que haja entre os
companheiros o ânimo de constituir família); casamento (NJ público e complexo por meio do qual duas pessoas
não impedidas de casar constituem família mediante manifestação volitiva externada em ritual solene reconhecido
pelo Estado).

CASAMENTO

Negócio revestido de publicidade e solenidade mediante o qual duas pessoas, contra as quais não militem
obstáculos matrimoniais, manifestam conscientemente sua vontade de constituir família. Sua celebração ser feita de
modo gratuito (a gratuidade contempla as pessoas juridicamente pobres, englobando a habilitação, o registro no
livro próprio e a expedição da primeira certidão). O matrimônio será conduzido por autoridade investida de poder,
a quem será incumbido o ônus de declarar realizado o casamento.

Habilitação: promovida perante o Oficial de Registro Civil do domicílio de qualquer dos nubentes e
deverão apresentar os seguintes documentos: que comprovem a capacidade (certidão de nascimento ou casamento –
anterior e extinto); autorização por escrito dos pais ou, o alvará proveniente de ação de suprimento (caso menores);
declaração de duas ou quatro – se um dos nubentes não souber escrever – testemunhas (que conheçam os nubentes
e atestem a inexistência de impedimento); declaração de estado civil, domicílio (seus e de seus pais); certidão de
óbito, sentença declaratória de nulidade ou anulação ou certidão de casamento com averbação de divórcio (se for o
caso). Recepcionada, é extraído o edital de proclamas que será afixado por quinze dias Oficial de Registro Civil do
domicílio de ambos os nubentes (se distintos) e publicado em jornais de grande circulação; opostos impedimentos,
aos nubentes será concedido prazo para prova negativa; transcendida a quinzena, ou superado o embaraço, será
expedida certidão de habilitação (documento público que declara a aptidão dos nubentes para o casamento e que
terá validade de 90 dias improrrogáveis – terão que se submeter a novo processo de habilitação). Por fim, ressalte-
se que, em caso de urgência (enfermidade, realização de parto, viagem inadiável etc.) na celebração do casamento,
poderá ser preterida a publicação dos editais de proclamas, caso em que a autoridade, após a oitiva de representante
do Ministério Público, determinará a imediata expedição da certidão de habilitação.

33
Os netos que moram com os avós, os tios e sobrinhos, também formam uma família natural.

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DIREITO CIVIL

Capacidade: homens ou mulheres a partir dos 16 anos (idade núbil – necessário o consentimento de ambos
os pais). Absolutamente incapazes: mediante a expedição de alvará judicial oriundo de ação de suprimento de
idade, em caso de gravidez ou para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal (antes de 2005).
Relativamente incapazes sem o consentimento dos pais: a recusa deverá ser justificada, é caso não haja
plausibilidade o menor poderá outorgar poderes ao advogado para ajuizar ação visando suprir o consentimento,
cabendo ao juiz decidir.

Celebração do casamento: Formalidades – no dia, hora e local previamente designados, na sede do


Oficial de Registro Civil ou em qualquer outro prédio público (duas testemunhas) ou particular (quatro
testemunhas), desde que com portas abertas (publicidade). Configura-se no exato momento em que os nubentes
manifestarem de forma livre e consciente o intuito de casar (que é irretratável) e o juiz de casamentos, mediante o
pronunciamento de texto legal, os declarar casados. Suspensão da cerimônia: quando um dos nubentes se recusar,
ficar inerte, mostrar-se arrependido ou dizer que aquela não é sua vontade – mesmo que de brincadeira, sob pena dá
autoridade suspender o ato e o casamento não poderá ser celebrado no mesmo dia, até porque se o for será
considerado inexistente ante a carência de manifestação de vontade.

Espécies de casamento: entre ausentes – por procuração (obrigatoriamente confeccionado por Tabelião de
Notas e conterá poderes específicos e pormenorizados, tendo prazo de validade de noventa dias; ambos podem se
casar por procuração é o mandatário pode ser de qualquer sexo; se a procuração tiver sido revogada antes da
celebração e não houver ulterior coabitação, o casamento será anulável e tendo sido extinto por conta da morte do
mandante anterior ao casamento, será este inexistente); religioso e religioso com efeitos civis (o primeiro não goza
de efeitos civis, servindo no máximo como indício de união estável; o segundo, celebrado por autoridade
eclesiástica ou religiosa deverá observar as mesmas formalidades do casamento puramente civil – habilitação,
testemunhas, portas abertas e depois ser registrado no prazo máximo de 90 dias, possuindo efeitos ex tunc –
retroativo à data da celebração religiosa); putativo (é o nulo ou anulável que foi concebido de boa-fé por ambos ou
um dos cônjuges, aos que estavam de boa-fé se aproveita os efeitos que persistirão até o trânsito em julgado da
sentença declaratória de anulação ou nulidade; no caso de má-fé ambos serão prejudicados – aspecto patrimonial,
aproveitando-se apenas os filhos que jamais serão prejudicados); nuncupativo (realizado em extrema urgência – um
está na iminência de morrer e não há tempo do comparecimento do juiz; é indispensável a presença de seis
testemunhas que não podem ser ascendentes, descendentes ou irmãos dos noivos; em até dez dias as testemunhas
irão a uma autoridade judicial para ratificar o ato e o estado de um dos noivos; com a sentença, mandará o juiz
registrar o casamento, assento retroativo à data da celebração; o sujeito que corria risco e se salvou poderá ele
mesmo ratificar o ato sem necessidade); moléstia grave (um dos noivos não poderá se deslocar até o Registro Civil,
nesse caso o juiz do casamento se dirigirá ao local para celebrá-lo, desde que presentes duas testemunhas – quatro
se o nubente não puder assinar; será assentado pelo oficial ou pelo ad hoc e levado a registro em 5 dias; há a
necessidade de habilitação prévia, dispensando os proclamas).

Requisitos de existência: sequer foram alcançados os planos de validade e eficácia, é um nada jurídico.
Manifestação de vontade: diferentemente da viciada, é quando não há vontade alguma. Celebração: por pessoa que
não goza de autorização para tanto (os particulares destituídos de poder), ante a incompetência ratione materiae,
contudo, o casamento for celebrado por autoridade incompetente ratione loci (local da celebração) ou ratione
personae (em função do domicílio dos nubentes), possível será a anulação do negócio, bem como a falta de
habilitação enseja a declaração de inexistência. Falta de discernimento: se a pessoa é absolutamente incapaz, já que
se for relativamente será apenas passível de anulação.

Eficácia do casamento: efeitos jurídicos (estabelecimento de regras sociais, morais e jurídicas que
atingirão a ambos os cônjuges, os quais assumirão a obrigação recíproca de zelar pela família, com respeito e
confiança; além dos efeitos patrimoniais na vida das partes e da prole; além da possibilidade de adotar o nome do
outro); deveres (fidelidade recíproca – caráter monogâmico, exclusividade das relações sexuais; vida em comum,
no domicílio conjugal – coabitação, morar sob o mesmo teto, regra que comporta exceções; dever conjugal –
satisfação sexual reciproco; mútua assistência – patrimonial, moral, espiritual; sustento, guarda e educação dos
filhos – divisão de responsabilidades, a guarda será sempre compartilhada e as decisões tomadas em conjunto;
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DIREITO CIVIL

respeito e consideração mútuo – comunhão plena da vida com base na igualdade de direitos e deveres, não
expondo o outro a situações vexatórias). A existência do casamento é provada pelo registro no Cartório de Registro
Civil e pela expedição de certidão, sendo admitidas provas suplentes caso não haja certidão. A posse do estado de
casados deve ser provada pela utilização do sobrenome de um cônjuge pelo outro, pela exteriorização da affectio
maritalis mediante a apresentação para a sociedade como casados e pelo impacto que tal apresentação gera na
sociedade (como esta vê os cônjuges).

Impedimentos e causas suspensivas: Não podem (ascendentes/descendentes, afins em linha reta, irmãos e
demais colaterais até o terceiro grau34, pessoas legalmente casadas, cônjuge sobrevivente com o condenado no
mínimo em primeiro grau, por homicídio ou tentativa de homicídio doloso contra seu consorte – inclusive os
efeitos poderão retroagir nesse caso; podem ser opostos por qualquer pessoa maior e capaz que prove o fato
alegado e é obrigatório que seja oposto pelo oficial do cartório, juiz corregedor e quem presidir o casamento, tem
prazo até a celebração do casamento; pessoas sem discernimento). Não devem (viúvx que tiver filhos do cônjuge
falecido até fazer inventário dos bens que pertenciam ao casal e der a partilha – pena de separação total e hipoteca
legal em favor dos filhos; a viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução – tem pena do regime de separação total de bens; o
divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida à partilha dos bens do casal – pena de separação
total de bens; o tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa
tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas –
pena de separação total de bens; são dispensados de pena se provarem que não há prejuízo ou no caso de dez meses
que a mulher não está grávida; pode ser oposto pelos parentes em linha reta e colaterais até segundo grau, bem
como o marido em até 15 dias após o casamento).

Casamento anulável: idade (180 dias da data que completou 16 para o menor e da data do casamento para
os ascendentes e descendentes; após os 16 poderá convalidar com a anuência dos pais); carência de autorização
(180 dias da data que o menor completou 18 para o menor e da data do casamento para o seus representantes, ou
ainda da data da morte para os herdeiros necessários); vicio de vontade – erro sobre a pessoa (sobre a identidade,
honra e boa fama – prazo de 3 anos; ignorância de crime anterior ao casamento – inclusive a condenação, não
inclui contravenção, prazo de 3 anos; defeito físico anterior35 – irremediável apto a impedir a pratica de ato sexual,
também de 3 anos; ignorância de moléstia grave e transmissível, doença mental grave – 3 anos; coação – fundado
no temos de mal considerável, à saúde ou à honra dos nubentes – 4 anos; realizado por mandatário sem poderes –
180 dias assim que teve conhecimento e a coabitação poderá convalidar o ato; incompetência da autoridade
celerante – 2 anos; incapacidade de manifestação do consentimento – 180 dias).

Formas de dissolução da sociedade conjugal (deveres do casamento e regime de bens): termina pela
morte, pelo divórcio, pela nulidade ou anulação (vide impedimentos, defeitos, etc.) e pela separação (termo aos
deveres de fidelidade, coabitação e sustento, fim do regime patrimonial e sucessório; pode ser de fato – quando os
casais não buscam o judiciário e se separam por mais de dois anos; convencional – requer consentimento mutuo
perante o juiz ou escritura pública registrada, caso não haja filhos; ou litigiosa – que poderá ser sanção, remédio ou
falência36).

34
D.D: decreto que permite entre tios/sobrinhos, mas exige 2 atestados que comprove que o casamento não fará mal à prole.
35
Impotências: que anulam (couendi – impotência instrumental que provoca a inabilitação para a prática de sexo); que não
anulam (impotência generandi (incapacidade para fecundação; ou concepiendi – incapacidade para concepção).
36
Espécies: sanção (por conta de adultério, tentativa de morte, maus-tratos corporais ou injúria grave, abandono do lar durante
um ano contínuo, condenação por crime infamante, conduta desonrosa ou outros fatos que o juiz constate a impossibilidade da
vida em comum); falência (ruptura da vida em comum há mais de um ano e impossibilidade de reconciliação – pode ser
proposta por aquele que deu causa); remédio (quando um tiver acometido de grave doença mental, manifestada após p
casamento e torne a vida em comum insuportável, e que após dois anos de duração a doença seja considerada de cura
improvável).

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DIREITO CIVIL

Formas de extinção do casamento válido (vínculo matrimonial que é liame sólido): pela morte ou
divórcio (independe de prévia separação ou de comprovação de prazos; com consentimento, poderá ser
extrajudicial que necessita de ausência de interesse de incapazes, presença de advogados e consentimento, caso não
haja consenso deverá ser proposta ação de divórcio litigioso, estando restrita a matéria de defesa à alegação de
nulidade ou anulação de casamento em sede de reconvenção; não se admite discussão sobre guarda, alimentos e
visitas das proles; sendo admissível, mas não obrigatória, a partilha; caso os cônjuges optem pela decretação do
divórcio, menosprezando a separação, obviamente o divórcio causará concomitantemente o fim da sociedade
conjugal e do vínculo matrimonial). A ação cautelar para afastamento de um dos cônjuges do lar comum continua
existindo, afigurando-se agora como procedimento que precede a ação de divórcio.

REGIME DE BENS

Pacto antenupcial: instrumento público por meio do qual os noivos elegem regime diverso do oficial
(comunhão parcial) e do obrigatório (separação obrigatória), deliberando sobre o e deve ser levado a registro no
Cartório de Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.

Comunhão parcial de bens: É o regime oficial ou legal porque será adotado no silêncio (falta de pacto
antenupcial). Nesse regime fará parte da comunhão os bens adquiridos a título oneroso na constância da união e o
que cada cônjuge possuía antes de casar continua a lhes pertencer exclusivamente (bens particulares). Além disso,
são considerados bens particulares os adquiridos a título gratuito, mesmo que após o casamento e os onerosos
adquiridos em sub-rogação aos particulares alienados. Comunicam-se: bens onerosos, adquiridos por fato eventual
(loteria), doação ou legado em favor do casal, benfeitoria em bens particulares, frutos dos bens comuns ou
particulares. Não se comunicam: obrigações anteriores ao casamento ou proveniente de ilícito, bens de uso pessoal,
livros e instrumentos atrelados à promissão, remuneração oriunda do trabalho, pensões e assemelhados.

Comunhão universal de bens: Há ilimitada reunião patrimonial, todos os bens se comunicam,


constituindo uma massa única indivisa, tendo cada um direito a metade ideal desse patrimônio, salvo os doados ou
herdados com cláusula de inalienabilidade e os sub-rogados em seus lugares, bem como os gravados de
fideicomisso enquanto não implementada a condição suspensiva, as dívidas anteriores ao casamento e as doações
antenupciais feitas com cláusula de incomunicabilidade, bem como livros, os bens de uso pessoal e os instrumentos
atrelados à profissão; os proventos do trabalho e as pensões, meios-soldos ou montepios.

Participação final de aquestos: é o regime híbrido ou misto, por meio do qual na vigência do casamento
as regras são as da separação total (cada cônjuge administra isoladamente seus bens) e após o termino serão levadas
em conta as regras do regime de comunhão parcial na medida em que a partilha será feita nos bens adquiridos na
constância do casamento a título oneroso.

Separação de bens: pode ser convencional (por maio de pacto que poderá estabelecer determinadas regras
à alguns regimes) ou obrigatória (pessoas que incidem nas causas suspensivas, maiores de 70 anos, todos que
dependem de suprimento judicial para casar) e em ambos os casos não há comunicação, de forma que o patrimônio
é exclusivo de cada cônjuge, independente de data ou forma de aquisição. O STF entendeu que se comunicam bens
na constância do casamento no caso de separação obrigatória, desde que seja comprovado o esforço comum.

Outorga e alienação de bens: a outorga conjugal consiste autorização ou consentimento do cônjuge para
atos de alienação ou incidência de gravame real sobre imóveis; será imprescindível na comunhão universal e na
comunhão parcial (mesmo em bens particulares); será prescindível no regime de participação final nós aquestos, no
caso de alienação de bens imóveis particulares desde que os cônjuges tenham previsto expressamente tal
desnecessidade no pacto antenupcial. A negativa de consentimento poderá ser suprida pelo juiz quando não houver
justo motivo de recusa, e a falta desta torna o negócio anulável por dois anos após o término da sociedade conjugal.

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DIREITO CIVIL

Requisitos para alteração de regime de bens: consenso dos cônjuges; motivação do pedido; autorização
judicial; e inexistência de prejuízos a terceiros. Com relação à separação obrigatória, importa afirmar que a única
imposição de tal regime que não autoriza a alteração está ligada à idade dos nubentes, nos demais, superada a causa
de imposição, será lícita a alteração.

RELAÇÃO DE PARENTESCO

Classes: linha reta (ascendentes – pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós, pentavós, hexavós etc.;
descendentes - filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos, pentanetos, hexanetos etc.); linha
colateral/transversal/oblíqua (2º grau – irmãos; 3º grau – tios e sobrinhos; 4º grau – tios-avós, primos e sobrinhos-
netos); linha de afinidade (ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou companheiro).

Linha reta: leva-se para a contagem de grau o número de gerações, de tal sorte que os pais e os filhos são
parentes em primeiro grau, os avós e os netos em segundo, e assim por diante, em contagem é infinita.

Linha colateral: para alcançar o grau de parentesco existente com os colaterais é necessário que
encontremos na linha reta ascendente o parente de quem descendem tanto a pessoa que serve de base da árvore
parental quanto o colateral, ex.: para se chegar à conclusão de que os tios são parentes em terceiro grau, deve
chegar até o avô.

Linha de afinidade: afins são os parentes consanguíneos ou civis do cônjuge ou companheiro que, em
razão do casamento, da união estável ou da união homoafetiva, passam a ser nossos parentes. Mantemos com tais
pessoas os mesmos graus de parentesco que o cônjuge ou companheiro com eles mantêm. O limite da relação
parental colateral por afinidade está no segundo grau (cunhados), significando dizer que os tios, sobrinhos, tios-
avós, primos e sobrinhos-netos do cônjuge ou companheiro não são nossos parentes.

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DIREITO CIVIL

União estável: é a entidade familiar mantida entre pessoas não impedidas de se casar; podem os
companheiros firmar contrato de convivência para instrumentalizar as obrigações de cada convivente, embora não
seja obrigatório; não há um estado civil para aquele que vive em união estável; requisitos: convivência pública,
continua (paralisações decorrentes de falta de harmonia não descaracterizam) e duradoura (não há prazo), além do
affectio maritalis (critério intrínseco vinculado à vontade de constituir família, mas não há necessidade de
coabitação). Aplicam-se à união estável e à união homoafetiva as regras do regime da comunhão parcial de bens,
desde que os companheiros não elejam por meio de contrato escrito as regras inerentes a outros regimes de bens.
Será imposto por analogia à união estável e à união homoafetiva o regramento do regime da separação obrigatória
quando: um (ou ambos) dos companheiros tive r(em) 70 anos ou mais; ou caso de suprimento judicial de idade ou
consentimento.

Concubinato: quando há relação não casual entre duas pessoas impedidas de casar (ou mesmo ter união
estável). As pessoas casadas só poderão formar união estável se estiverem separadas (de fato ou judicialmente).

Convocação em casamento: a lei deverá facilitar a conversão da união estável em casamento; os


interessados poderão endereçar ao juiz (de família e sucessões) requerimento de convolação, devendo ser feito
assentamento posterior no Registro Civil. Como a lei não menciona quem é o juiz; a conversão não terá efeitos
retroativos, havendo, portanto, menosprezo ao período de convivência. Os efeitos da conversão serão ex nunc,
servindo o processo apenas para obter decisão de convolação para tornar incontroverso e ao mesmo tempo
instrumentalizado o tempo de união estável. A união homoafetiva não poderá ser convertida em casamento.

Filiação: relação parental que se forma entre duas pessoas, uma delas ocupando o posto de filho e a outra o
de ascendente em primeiro grau. O vínculo estabelecido com o pai denomina-se paternidade. Com a mãe,
maternidade. Essa relação pode provir da consanguinidade, de relação civil (adoação), de inseminação artificial ou
até mesmo de vínculo socioafetivo (não podendo haver diferenciação entre elas). A prova da filiação é feita pela
certidão de nascimento registrada no Oficial de Registro Civil do local do nascimento ou domicílio dos pais,
cabendo a declaração ao pai, e, na ausência ou impedimento, à mãe, parentes mais próximos etc., e só sera alterada
por vias judiciais.

O reconhecimento dos filhos poderá ser: voluntário (o pai voluntariamente declara a paternidade no
Registro Civil e inclui seu nome dos avós no assento de nascimento ou o faz por escritura que deverá ser registrada,
ou ainda, por testamento ou declaração judicial; se o filho for maior há necessidade de consentimento; o menor
pode impugnar no prazo de 4 anos, após o alcance da capacidade); judicial (o filho poderá promover contra o
suposto pai ação de investigação de paternidade – imprescritível, que se julgada procedente será averbado, nesse
caso é necessária perícia que se for recusada dará ensejo a presunção de paternidade; nessa mesma ação é possível
que se faça o pedido de alimentos que serão fixados e retroagirão à data da citação). É possível ainda a propositura
de ação denegatória de paternidade ou maternidade, onde o homem (único legitimado), diante da suspeita de não
ser o pai, propõe contra o filho ação visando a desconstituição do vínculo, é imprescritível, podendo ser manejada a
qualquer tempo, com decisão com efeitos retroativos (ex tunc), fazendo com que os nomes que constavam da
certidão sejam subtraídos; no caso da maternidade, ocorre por erro de registro; para que de certo, é necessário que
além de provar a falta de inexistência de consanguinidade, será necessária a demonstração pelo autor de que nunca
tenha sido constituído o estado de filiação (relação socioafetiva consolidada pela convivência familiar).

Presunção de paternidade: inseminação artificial homóloga: cuida-se de modo artificial para fecundação
representado pela fertilização in vitro (proveta) de material genético do homem (sêmen ou esperma) e da mulher
(óvulos), ou ainda pela introdução artificial do gameta masculino no corpo feminino (permitindo que a natureza
aja), ambas motivadas pela impossibilidade de fecundação natural decorrente da prática de sexo. Inseminação
artificial heteróloga: utilização de esperma de terceiro para fecundação do óvulo, o filho, neste caso, não carregará
o material genético do seu futuro pai, que deverá fazer autorização (irrevogável, mesmo que verbal), sob pena de
não ter presunção de paternidade. Inseminação post mortem: condicionada à existência de embriões excedentários
pertencentes ao morto (inseminação homóloga), ou seja, que são os não utilizados e devidamente armazenados e
preservados em clínicas de reprodução assistida, esse filho não fará jus à herança.

29
DIREITO CIVIL

Adoção: é procedimento solene, excepcional e irrevogável que depende de sentença judicial e tem
característica institucional. Adoção por estrangeiro: só poderão adotar se houverem se habilitado previamente
(habilitação valerá por um ano), devendo conviver por no mínimo 30 dias. Há preferência de adoção por sua
família biológica e para que irmãos permaneçam juntos. Competência: Vara da infância quando o adotado for
menor e o Juízo de Família e Sucessões caso seja maior. Adoção à brasileira/simulada: registro inadvertido de filho
recém-nascido alheio em nome próprio – não há nenhuma chancela legal. Adotante: somente maiores de 18 anos, e
não pode ser por procuração; se conjunto deve ser comprovado o vínculo; poderá ser feito por tutor ou curador,
estando condicionada à prestação de contas; poderá adotar quantos puder ou quiser, inclusive simultaneamente,
desde que reúna condições de zelar por todos; não poderão adotar os ascendentes, irmãos ou casados. Adotado:
menores ou maiores, devendo ser no mínimo 16 anos mais novo que o adotante, possuindo com a adoção direito à
alimentos e à sucessão (e vice-versa). Com a adoção, cria-se relação irrevogável de parentesco entre o adotado e os
familiares do adotante, bem como o a criação do poder familiar, direito à utilização do sobrenome – igual ao dos
outros filhos, possibilitando a mudança de prenome (se o adotado tiver mais de 12 anos terá que consentir); antes
da adoção deverá ser promovido a extinção do poder familiar, devendo findar-se em 120 dias após
encaminhamento do requerimento ao juiz.

Alimentos: abrangem tudo quanto for necessário para a satisfação das necessidades básicas (sociais e
essenciais) do ser humano, incluindo-se, destarte, os gastos com alimentação, vestuário, higiene, educação, saúde,
segurança, lazer, habitação etc. Espécies: naturais – necessidades básicas da vida, civis ou côngruos – necessidades
de menor importância, ex.: lazer. Características: condicionalidade – condição resolutiva, devidos enquanto se
mantiver a necessidade e a possibilidade; reciprocidade – todos possuem concomitantemente a posição de credor e
devedor; volubilidade – a sentença que fixa não faz coisa julgada material e pode ser alterada sempre que
necessário; transmissibilidade – a obrigação transmite aos herdeiros; complementariedade – vedado o pedido
diretamente à um parente mais distante, se possível que pague o mais próximo; irrenunciáveis – não é possível
abdicar; personalíssimos – direito pessoal e a morte do alimentando extingue a obrigação; não transacionáveis –
não podem ser objeto de acordo; incessíveis – não admite cessão gratuita ou onerosa; impenhoráveis – os créditos
não se sujeitam à constrição judicial; incompensáveis – não é possível abater o valor gastos em outras coisas;
irrepetíveis ou irrestituíveis – provisórios, provisionais ou definitivos, seja qual for sua natureza, não serão
restituídos, mesmo se a sentença for de improcedência; imprescritíveis – não há prazo prescricional para o direito,
mas os alimentos fixados e não pagos prescrevem em dois anos. Espécies: provisórios – fixados em ação de
alimentos e vigentes até a sentença; provisionais – fixados em ação cautelar e vigentes até a sentença; gravídicos –
fixados no período de gravidez de pagos à gestante que deverá demonstrar a existência de relação sexual com o
suposto pai que será o único legitimado, incabível perícia e persistirá até o nascimento da criança, onde se
convolará em definitivos, cabe indenização se a gestante utilizar de má-fé. Obrigação e direito: é necessário que o
pretendente demonstre falta de condições e necessidade, recaindo o ônus da prova ao alimentante. Quem pode pedir
e quem deve pagar: é dever recíproco entre ascendentes, descendentes, indo dos parentes mais próximos aos mais
distantes; devendo ainda aos cônjuges e companheiros; não há dever entre os afins. Fixação e revisão: fixados
mediante a observação da necessidade e possibilidade, podendo ainda com o passar do tempo pugnar pelo aumento
ou redução. Exoneração: o alcance da maioridade não provoca extinção automática, devendo ser promovida a ação
pertinente e esta só ocorrerá com o trânsito em julgado ou ainda, no caso do cônjuge ou companheiro quando este
constituir novo casamento ou união estável.

Bem de família: parte do acervo patrimonial que não se sujeita à excussão. Bem de família é o imóvel e
seus acessórios destinado à moradia do devedor e de sua família, tal bem possui cláusula de impenhorabilidade,
impeditiva da sua constrição judicial prévia à alienação. Direito constitucional de moradia x direito creditício do
credor. Constituição: voluntária – constituído por escritura pública, testamento ou em razão de liberalidade de
terceiro (doação), possível destacar até 1/3 do patrimônio e fazer sobre ele incidir a cláusula de inalienabilidade,
poderão incidir na cláusula de impenhorabilidade outros bens que constituam patrimônio, não havendo limitação ao
imóvel, pode ser constituído pelos cônjuges ou pelo chefe da família, por meio de instrumento público que deverá
ser levado a registro no Oficial Imobiliário para anotação do gravame e publicidade; legal – conduzido pela lei, que
é o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo

30
DIREITO CIVIL

de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou
filhos que sejam seus proprietários e nele residam, dispensa qualquer ato.

Tutela: é quando há a impossibilidade de exercício do poder familiar pelos pais (mortos, declarados
ausentes ou despidos do poder familiar), que provoca a necessidade de nomeação de terceiro que se encarregará de
zelar pelo menor não emancipado e por seu patrimônio, bem como representá-lo ou assisti-lo nos atos da vida civil.
Trata-se de múnus público imposto pelo Estado para atender interesse público. Espécies: testamentária – nomeação
será feita conjuntamente pelos pais (em testamento ou outro documento autêntico); legítima – munus aos parentes
consanguíneos; dativa – o juiz nomeará tutor idôneo. Os irmãos órfãos serão representados por um único tutor.
Exercício: ao tutor incumbirá o dever de zelar pelo patrimônio do menor (impedindo a depreciação e a perda),
dirigir a vida do menor direcionando o olhar para questões, como saúde, educação, lazer, bem-estar, segurança,
assumindo as responsabilidades que recairiam aos pais. Escusa dos tutores: mulheres casadas; maiores de sessenta
anos; tiverem sob sua autoridade mais de três filhos; impossibilitados por enfermidade; habitarem longe do lugar
onde se haja de exercer a tutela; aqueles que já exercerem tutela ou curatela; militares em serviço.
Responsabilidade: por danos morais e materiais causados ao pupilo, independentemente de ter agido culposa ou
dolosamente. Remuneração: será ressarcido dos gastos que tiver para o exercício do encargo e poderá ser fixada
pelo juiz uma remuneração proporcional ao patrimônio administrado. Prestação de contas: de sua administração em
juízo, regra geral, a cada biênio, podendo o magistrado exigir que sejam prestadas em menor prazo; apresentados
balanços contábeis dando conta das receitas e despesas. Cessação: com o retorno do menor ao exercício do poder
familiar ou capacidade civil plena.

Curatela: recai sobre pessoas maiores que por algum motivo não gozam de plena aptidão para o exercício
dos atos da vida civil. Indicação: eleito pelo juiz, tem conotação assistencial e não receberá nenhum valor; para sua
nomeação é necessária a ação de interdição. Legitimados para requerer: pais ou tutores, cônjuge ou companheiro,
parentes sucessíveis, salvo os afins e o MP (em caso de doença mental grave ou supletivamente – incapacidade ou
omissão dos legitimados). Processo de interdição: deverá ser realizada perícia para convencimento do juiz; da
sentença de interdição cabe apelação e seus efeitos não se condicionam ao trânsito em julgado, será expedido
mandado para averbação da interdição no assento de nascimento do interditado. Interditandos: enfermos ou
deficientes mentais sem nenhuma condição de gerir a própria vida; aqueles que por causa duradoura não podem
exprimir sua vontade; deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxico (o uso esporádico de drogas e
álcool não autorizam a interdição; os excepcionais sem completo desenvolvimento mental e os pródigos.
Levantamento da curatela: caso sobrevenha a convalidação do curatelado será levantada a interdição (deve ser feita
nova perícia).

SUCESSÕES
Terminologias: De cujus vem de cuja a sucessão; sucessão é transmissão de direitos e/ou encargos;
herança37 é o conjunto de direitos e obrigações que serão transmitidos, é uma universalidade de bens, o patrimônio
do falecido (débitos e créditos), sendo um bem imóvel por expressa previsão legal; herdeiro38 é aquele que será
beneficiado por uma herança, ele poderá ser legitimo (disposto em lei e é subsidiário) ou testamentário (disposto
em testamento); o herdeiro testamentário ainda poderá ser herdeiro (título universal – totalidade da herança,
porcentagem, sub-rogado do falecido) e legatário (título singular, recebe bens determinados).

37
Entende-se que a herança é indivisível até a sentença de partilha, portanto, qualquer herdeiro pode reclamar ou ceder uma
parte da alíquota de seu quinhão por meio de escritura pública, mas não poderá ceder bem certo, sem prévia autorização, caso
o faça, o outro coerdeiro poderá haver para si a quota cedida a estranho.
38 Responsabilidade dos herdeiros: respondem pelas dívidas e obrigações contraídas pelo morto até o limite do acervo que
receberem (não se sub-rogam na posição de devedor que o de cujus ocupava), sendo vedada a espoliação do patrimônio dos
herdeiros; nas obrigações de fazer personalíssimas, considerar-se-á infungibilidade da prestação.

31
DIREITO CIVIL

A abertura da sucessão se dá imediatamente no momento da morte, que precisa ser comprovado no plano
biológico, antes disso há apenas a expectativa de direito, já que não existe herança de pessoa viva e, inclusive, o
pacto sucessório é vedado, já que não poderá ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (pacta corvina).

O lugar da abertura da sucessão pode ser: o último domicilio do falecido; havendo mais, aquele que
requerer o processamento primeiro; se não houver domicílio certo, local onde os imóveis estiverem; se forem
vários imóveis, foro do falecimento desde que no Brasil; se morreu no estrangeiro, o último domicílio do de cujos.

O princípio da Saisine se traduz na transmissão imediata de bens, desde aberta a sucessão, cuja
propriedade (domínio) e posse passam diretamente da pessoa do morto aos seus herdeiros legítimos e
testamentários, sendo uma transmissão que ocorre automaticamente com a morte, efetivando-se ipso iure para os
herdeiros (independentemente de procedimento especial – inventário), por outro lado, o mesmo não ocorre aos
legatários, pois a estes somente é transferido o direito, cabendo aos herdeiros entregar a posse dos bens legados. A
posse transmitida será sempre a mesma, ex.: se era indireta, continuará sendo indireta. Ainda assim, é necessário
que se vá até o fim do inventário, para que a transmissão seja concretizada (sentença homologatória ou escritura
pública).

Considerando que a transmissão da herança é automática, ainda assim falamos em aceitação que é o ato
pelo qual o herdeiro faz tal declaração, podendo ser: expresso (declaração escrita), tácita (atos compatíveis com a
condição de herdeiro), e presumida (quando é requerido ao juiz depois de um tempo, o silêncio é presumido como
aceitação). Características: unilateral, integral (não há possibilidade de fazê-la parcialmente – devendo aceitar os
créditos e débitos; mas há a possibilidade de rejeitar o legado e aceitar a herança, por exemplo), irretratável.
Anulação: quando se constata a legitimação de herdeiro necessário que prefira o colateral.

A renúncia é o ato solene (instrumento público ou termo judicial, sob pena de nulidade já que o direito a
sucessão aberta é considerado direito real) de declarar que não aceita a herança, é um ato grave, pois abdica de um
direito garantido pela constituição. A renúncia pode ser translativa quando ocorre em favor de outrem, nesse caso
há aceitação e transmissão (onde incide ITBI e ITCMD se for onerosa e ITCMD duas vezes se for gratuita), ou
ainda abdicativa que ocorre no caso de cessão gratuita, pura e simples, ficando para quem a lei determinar, nesse
caso não há incidência de tributo. Restrições são: depende do consentimento do consorte; poderão os credores
aceitarem em nome do renunciante desde que provem que não sobrava recurso para saldar as dívidas – prevalece a
renúncia ao que remanescer. Efeitos são: o renunciante é considerado como se não tivesse existido e o quinhão
volta para o monte mor partilhável (por isso não há direito a representação pelo filho – só poderá herdar em direito
próprio se não houver outros nessa classe; se casado, dependendo do regime, deverá ter outorga do cônjuge, sob
pena de anulação; ); essa parte acrescerá a dos outros da mesma classe na legítima; deixa caduca a deixa na
testamentária a menos que haja substituto ou direito de acrescer; não influi na aceitação do legado; é irretratável,
mas anulável.

A herança pode ser jacente que é aquela cujos herdeiros não são conhecidos ainda, nesse caso o Estado
arrecada os bens para preservá-los, ocorre quando não houver ou não souber de herdeiros necessários, ou ainda, os
chamados renunciarem à herança; outras hipóteses (onde fica a cuidado de um curador) quando o herdeiro é
nascituro (já concebido e ainda não nascido), aguarda a constituição de pessoa jurídica da qual se atribuíram bens,
ou a realização de condição suspensiva pelo herdeiro. A herança vacante que é aquela que não foi disputada com
êxito por qualquer herdeiro e que judicialmente foi proclamada de ninguém, ocorre quando depois de editais
procurando herdeiros da herança jacente, ela se torna vacante por meio de sentença, que afasta a sucessão legítima
aos colaterais que não são notoriamente conhecidos e fixa o prazo de cinco anos onde os bens passam ao Município
ou DF.

32
DIREITO CIVIL

LEGÍTIMA

Legítima é a espécie de sucessão que se opera obedecendo à ordem expressa em lei, usada quando não há
testamento ou este é julgado nulo, ineficaz, parcial ou versar sobre questões pessoais. Há a possibilidade da
ocorrência das duas simultaneamente. A legítima obedece a ordem de vocação hereditária, é a preferência
presumida em lei, de pessoas que são chamadas a suceder, consideram-se legitimados os concebidos e os nascidos
falamos de premoriência (pré-morto), no caso é necessário fazer a sucessão de quem morreu primeiro. Dentro de
uma mesma classe de herdeiros, o grau mais próximo, exclui o mais remoto, ex.: descendente, exclui ascendente.

Herdeiros: são necessários os descendentes, ascendentes e o cônjuge e legítimos os descendentes,


ascendentes, cônjuge e os colaterais. Necessários são aqueles que necessariamente receberão parte de herança e
dela não poderão ser privados senão por renúncia, indignidade ou deserdação. Isso impõe limitação inclusive ao
testamento já que o testador que tiver herdeiro necessário somente poderá testar até a metade do seu patrimônio
(parte disponível). O patrimônio é dividido em duas partes: a legítima ou indisponível, reservada aos herdeiros
necessários, e a disponível (que o testador destina a quem quiser, inclusive pessoas jurídicas).

É possível perceber a herança em razão de direito próprio (por cabeça) ou por representação (por estirpe).
A representação ocorre quando alguns parentes sucedem o falecido em todos os direitos que ele sucederia se
vivesse, ocorre apenas na sucessão legítima. Ocorre apenas na linha reta de descendente, e excepcionalmente na
colateral (filhos do irmão). Nesse caso o mais próximo exclui o mais remoto, respeitando os requisitos: não se pode
saltar graus, pois não há representação de pessoa viva; o representado deve falecer antes do de cujos (salvo morte
civil), descender o representante do representado; o representante deve descender do representado e ter
legitimidade para herdar no momento da abertura (o indigno não poderia representar, apenas ser representado), e
não há problema se este tiver renunciado a herança do representado. A representação não ocorre apenas com pré-
mortos, porque no caso de morte civil (indignidade ou herdeiro deserdado), ocorre que mesmo que esse herdeiro
tivesse a possibilidade em uma oportunidade reflexa de ter os bens (como usufruir, administrar ou suceder por
herança) ainda assim ele estaria excluído. Se houver mais de um representante, o quinhão do representado será
dividido em partes iguais entre eles.

Sucessão dos descendentes se não houver cônjuge: Duas situações são possíveis nesse caso, a
possibilidade de herdar por cabeça (direito próprio), quando estiverem no mesmo grau, ou por representação,
apenas quando houver um herdeiro vivo em grau mais próximo ao falecido, ex¹: dois filhos herdeiros, um já está
morto, seus filhos poderão representa-lo, recebendo seu quinhão em seu lugar; ex²: na situação em que só há netos,
não há representação, todos herdam por cabeça, independente dos seus pais, já que netos guardam todos o mesmo
grau de parentesco.

Sucessão dos ascendentes se não houver cônjuge: Não há representação nesse caso, apenas direito
próprio. Nesse caso divide-se por linha (materna e paterna) e dentro da linha por cabeça, ex¹: se há uma mãe e
quatro avós, a herança irá toda para a mãe; ex²: só ascendentes de 2º grau, será dividido ao meio dentro da linha
materna e paterna e dentro dessa linha por cabeça – avô e avó materna dividirão a metade entre si e avô paterno
ficará com a outra metade.

Sucessão do cônjuge: Será afastado se separado judicialmente ou de fato há mais de dois anos, exceto
prova de que a convivência se tornou impossível sem culpa do sobrevivente. Qualquer que seja o regime de bens,
possui direito real de habitação do imóvel, desde que seja o único daquela natureza. Não se pode confundir meação
com sucessão, meação é a primeira parte da herança e a sucessão é a herança propriamente dita, a meação
desrespeito ao regime de bens. Portanto, o cônjuge é herdeiro necessário, e salvo exceções, sempre receberá a
herança mesmo que em regime de separação total de bens. Sucessão do cônjuge concorrendo com os ascendentes:
Recebe independente de regime de bens, quando concorrendo com o pai/mãe receberá 1/3 e os pais 2/3; quando
com um só ascendente ou mais de outro grau metade da herança. Só ocorrerá essa hipótese se não houver
ascendentes. Sucessão do cônjuge concorrendo com colaterais: cônjuge prefere ao colateral em qualquer regime.

33
DIREITO CIVIL

Sucessão do cônjuge concorrendo com descendentes: Este caso está condicionado ao regime de bens
(tabela abaixo). Nos casos em que o cônjuge sobrevivente tiver regime de bens que o permita fazer parte da
sucessão (comunhão parcial com bens particulares, participação final nos aquestos e separação convencional de
bens), caberá a este quinhão igual (sucedendo por cabeça), salvo se houverem mais de 4 filhos (próprios) onde o
cônjuge recebe 25% e divide-se os 75% tantos quantos forem os filhos. Quando não for ascendente dos herdeiros,
ou houver filiação híbrida não terá uma cota obrigatória, dividindo-se de forma igual.

HERDEIRO
MEEIRO
(Receberá ou não em DIREITO REAL DE HABITAÇÃO
(Receberá ou não em casos que o cônjuge
concorrência com (em casos que o cônjuge morre)
morra ou se divorcie)
descendente)
- Separação convencional de bens
Separação obrigatória sem direito a bens
Separação obrigatória.
particulares (entendimento do STF)
-
Comunhão total de bens Comunhão total de bens
Comunhão parcial sem bens particulares Comunhão parcial sem bens particulares
Comunhão parcial de bens com bens particulares (concorre apenas sobre os bens particulares quando herdeiro, pois já
recebeu sua quota parte de bem comum na meação – há divergência)
Participação final nos aquestos (apenas sobre os bens particulares quando herdeiro, pois já recebeu o bem comum na
meação)

Sucessão do companheiro: é uma discussão feita até os dias de hoje, pois alguns acreditam que a união
estável não deveria ter a mesma proteção do casamento, já que a norma de herdeiros necessários (cônjuge,
ascendente e descendente) limita a autonomia do testador, não poderia ser interpretada por analogia; outros já
entendem que a norma de proteção à família de uma forma especial e não poderá haver exceção ou discriminação.
Caso o regime de bens escolhido seja o de comunhão parcial de bens, o companheiro receberá os bens adquiridos
pelo de cujos relativamente aos bens adquiridos na constância da união a título oneroso. Sucessão do companheiro
concorrendo com outros parentes sucessíveis: Nesse caso, quando não houver descendentes, receberá um terço da
herança e não havendo parentes sucessíveis (inclusive os colaterais até quarto grau), receberá a totalidade.

Sucessão do companheiro concorrendo com ascendentes: filhos comuns – receberá a quota equivalente
a que por lei foi atribuída aos filhos; nesse caso, teria direito a meação do bem comum, não teria direito ao bem
particular e ainda teria direito a divisão do bem comum com filhos dividindo a quota parte igualmente. Com
descendentes só no autor: No caso de filhos fora do casamento, terá direito à metade do que couber a cada um
deles. Ex.: dois filhos de um casamento anterior e um patrimônio de 600 mil na constância da união estável – a
companheira terá direito a 300 da meação, cada um dos filhos terá direito a 120 mil (2x a quota) e a companheira
direito a 60 mil.

COMUNHÃO CASAMENTO (COM


UNIÃO ESTÁVEL COM DESCENDENTES
PARCIAL DESCENDENTES)
Sim – Terá direito (se aplica a união estável o regime de
MEAÇÃO Sim – terá direito à meação.
comunhão parcial), já que o regime de bens é o mesmo.
COMUM Não tem direito a herança do bem comum. Sim – Terá direito a herança do bem comum.
BEM PARTICULAR Sim – Terá direito (entendimento do STJ). Não terá direito a herança do bem particular.

Sucessão dos colaterais: Nessa situação o sobrinho sempre se dá bem. Os colaterais só entram na soma
por último, entende-se que os mais próximos excluem os mais remotos, o único caso de representação na linha
colateral é o sobrinho (apenas este e não seu filho) quando há um irmão pré-morto do de cujos. A ordem seria (e o
próximo só recebe se o anterior estiver morto): irmãos (bilaterais e unilaterais divergem no que aos últimos cabe
apenas metade do que couber aos primeiros – essa regra também será aplicada aos sobrinhos), sobrinho (porque
tem preferência quando concorre com o tio), tio e a divisão em quarto grau ocorre por cabeça, por quantos
estiverem vivos (sobrinhos-netos, tio avô e primos).

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DIREITO CIVIL

TESTAMENTÁRIA

Testamentária é a espécie de sucessão que decorre da manifestação de última vontade expressa no


testamento, sendo essa a principal, tendo a legítima como sua subsidiaria. A disposição é limitada pelas regras
impostas pelo legislador, como a parte da legítima que cabe aos herdeiros necessário.

Espécies: é negócio jurídico, solene, personalíssimo (se afasta a interferência de procurador) e revogável
(alterado a qualquer tempo), gratuito, unilateral pelo qual alguém, de conformidade com a lei, dispõe, no todo ou
em parte, de seu patrimônio, para depois de sua morte, podendo ainda, fazer disposições de caráter não patrimonial.

A capacidade para testar (legitimação sucessória) só não abrange o incapaz e aquele que não tem
discernimento no momento de fazer o testamento. O testamento do relativamente incapaz (maiores de 16 e menores
de 18 – inclusive sem a assistência do representante legal, pois o testamento é ato personalíssimo, ébrios habituais –
viciados em tóxicos, pessoas que transitoriamente não podem expressar sua vontade) e do pródigo é válido. A
incapacidade ou capacidade superveniente não invalida/valida o testamento.

A capacidade sucessória é a aptidão genérica para suceder (filhos, cônjuge, ascendente, companheiro e
colaterais até o quarto grau que são: segundo (irmão – igual); terceiro (tio e sobrinho – desigual); quarto (tio avô,
sobrinho neto – desigual e primo – igual). E no caso do testamento todos aqueles já nascidos – premoriência – ou
concebidos no momento da abertura da sucessão).

A legitimidade sucessória é a aptidão específica para suceder (quem, no momento em que a pessoa morrer
vai estar apta para receber a herança, ex.: filho que tinha a aptidão genérica morre, não tem aptidão específica, se
morreu antes). O credor possui legitimidade para pedir a abertura da sucessão, com prazo prescricional de 10 anos.
Se após o testamento o herdeiro ou legatário morrer antes do testador a cláusula ficará caduca e ineficaz, já que a
deixa é intuitu personae e apenas uma deixa subsidiaria supriria. Há a possibilidade de ser chamados a suceder: os
filhos ainda não concebidos de pessoas já vivas indicadas pelo testador (não se inclui o filho adotivo – divergência,
com prazo de concepção de até dois anos); as pessoas jurídicas (que deverão ser constituídas e passará para esta no
momento do registro). Podem figurar como herdeiros PF, PJ, nascituro e prole eventual.

Algumas pessoas não possuem legitimação para suceder por testamento: aquele que faz o testamento
pelo analfabeto (nem seu cônjuge/companheiro, ascendente ou irmão, o código não fala sobre descendente); as
testemunhas do testamento; o concubino do testador casado – salvo se tiver se separado do cônjuge a mais de cinco
anos sem culpa sua; o tabelião, civil ou militar, perante quem se fizer aprovar o testamento.

As testemunhas testamentárias são aquelas pessoas capazes para assegurar a veracidade do ato que se
quer provar. Não podendo ser admitidos como testemunhas: os menores de dezesseis; aqueles sem discernimento
para prática dos atos da vida civil; os cegos e surdos; o interessado no litigio, amigo íntimo ou inimigo de capital
das partes (testador, herdeiros e legatários); analfabeto; cônjuge, ascendente, descendente, colaterais até o terceiro
grau de alguma das partes por consanguinidade ou afinidade. Vale lembrar que são nulas as disposições feitas em
favor de qualquer testemunha do ato.

Legado: disposição testamentária a título singular por meio do qual alguém, por testamento ou codicilo,
endereça a certa pessoa, parente, cônjuge ou até mesmo a estranhos à relação sucessória bem individualizado ou
certa quantia em dinheiro. O testador somente poderá legar coisas que ao tempo da abertura da sucessão
constituíam seu patrimônio, sendo vedada a legação de coisa alheia, ante a carência do jus disponendi. Espécies: de
coisa comum – pertence ao testador e a terceiro, ditando respeito somente à parte do morto; de coisa singularizada
– bem apenas do testador; coisa localizada – bens que guarnecem a residência; de crédito – títulos de crédito;
quitação de dívida – perdão do testador a seu devedor, o legatário; de alimentos – valor de alimentos que deverá ser
feito pelo juiz; de usufruto – benefício de usar o bem e dele extrair frutos, transmitindo-se nesse caso a nua-
propriedade para os herdeiros legítimos ou testamentários; de imóvel. Aberta a sucessão o herdeiro legatário passa

35
DIREITO CIVIL

automaticamente a ser titular do legado, sendo dele seus frutos. Caducidade: causa ulterior à confecção do
testamento, são elas – se o testador modificar a coisa legada de não possuir mais a mesma forma ou denominação;
se alienar no todo ou em parte (ficando a outra parte da coisa legada), ou ainda; se a coisa perecer o ou for evicta;
se o legatário for excluído da sucessão ou falecer antes do testador. O direito de acrescer também favorece aos
coerdeiros ou colegatários e tem aplicabilidade quando um dos coerdeiros ou colegatários não possam ou não
queiram receber a testamentária ou o legado, caso em que os demais, desde que beneficiados no mesmo
instrumento, adquirirão imediatamente e de pleno direito o quinhão preterido, somente se aplica na sucessão
testamentária, tendo em vista que para a legítima há regras próprias.

GÊNE TESTEMUNHA
ESPÉCIES INSTRUMENTO FORMA
RO
Instrumento Tem fé-pública, estará no cartório por toda a vida, o tabelião de
Público39
ORDINÁRIOS

público. notas deverá ser o instrumento em voz alta.


2 testemunhas
Instrumento Fica registrado e ninguém tem acesso ao conteúdo porque fica
Cerrado40
público cerrado/lacrado, se o lacre estiver violado, perderá a eficácia.
Três41 ou Ninguém terá acesso ao conteúdo (sem fé pública), por isso
Instrumento
Particular nenhuma precisa de 3 testemunhas. Se digitado não poderá haver rasuras
particular
(nuncupativo) ou lacunas. Submetido a procedimento judicial para confirmar.
Quando a pessoa sair dessa
ESPECIAIS

Marítimo Público ou Autoridade: capitão do navio


2 testemunhas situação, ele deverá ser
cerrado lavrado
Aeronáutico (ou três se não Autoridade: capitão do avião transformado em ordinário,
pela autoridade
souber assinar). com eficácia apenas por 90
Militar competente. Autoridade: capitão do quartel dias se a pessoa não morrer.
Instrumento particular que assiste às pessoas capazes de produzir testamento (maiores de dezesseis
anos com pleno discernimento); é ato de disposição de última vontade por meio do qual alguém faz
disposições especiais sobre seu funeral e sobre seus bens móveis de valor inexpressivo (joias, roupas,
CODICILO
aparelhos eletrônicos, móveis etc.), indicando quem serão seus beneficiários, podendo inclusive ser
direcionados a certa coletividade de pessoas de menor poder aquisitivo. Se tiver sido lacrado, deverá
ser observada a mesma regra para a abertura atinente ao testamento cerrado.

Substituições: instituto aproximado das representações, por meio do qual o testador poderá prever no
instrumento testamentário a substituição de um herdeiro por outro, permitindo a disposição de sucessores
substitutos, para o caso de um deles não aceitar a herança ou legado. Espécies: substituição vulgar ou ordinária
(que pode ainda ser singular/simples – quando nomear um substituto assumirá o lugar; ou plural/coletiva é aquela
em que o testador nomeia um ou mais de um assumirá o lugar dos substituídos); recíproca (em favor de várias
pessoas, umas substitutas das outras); fideicomissária42 (com a morte daqueles, com o implemento da condição
prefixada ou do termo final, a herança será endereçada a outra pessoa igualmente indicada pelo próprio testador.

39
Testamento público: Se porventura o testador não souber (o analfabeto pode testar) ou não puder assinar, ao tabelião recairá
o ônus de inserir tal informação no bojo da escritura, caso em que deverá colher a assinatura a rogo de uma das testemunhas
instrumentárias. As pessoas completamente surdas poderão testar seu patrimônio pela forma pública; se souberem ler, o farão,
caso não saibam, outra pessoa pelo surdo designada fará a leitura, sendo certo que em ambos os casos todo o ritual deverá ser
acompanhado pelas duas testemunhas instrumentárias. Por fim, o deficiente visual também poderá dispor de seu patrimônio em
testamento, O fará exclusivamente por meio de escritura pública; o instrumento público confeccionado de acordo com a
vontade do deficiente será lido em voz alta por duas vezes (tabelião e uma das testemunhas), devendo todo o ato constar do
instrumento.
40
Testamento cerrado: o tabelião deverá dar início à confecção do autor imediatamente após a última palavra do testamento,
visando a evitar espaços em branco que possam fraudulentamente ser preenchidos. Feito o auto, o tabelião o lerá (apenas o
auto de aprovação, não as declarações; único ordinário em que o tabelião não lerá) em voz alta na presença das testemunhas,
colhendo-se a assinatura de todos os presentes na solenidade. O deficiente auditivo poderá testar por essa via, sendo vedada ao
analfabeto ou pessoa que transitoriamente não possa ler a forma cerrada.
41
Testamento privado: Uma das testemunhas deve estar viva para confirmá-lo. Logo, se por ocasião da morte do testador as
testemunhas já haviam morrido, o testamento será ineficaz e a vontade do testador não será cumprida. Excepcionalmente,
havendo provas da licitude e veracidade da disposição de última vontade, poderá o juiz ordenar seu cumprimento.
42
Fideicomissivo: fideicomitente (o testador); o fiduciário (herdeiro ou legatário que será substituído); e o fideicomissário (o
substituidor, não concebido). Forma de substituição em que se almeja a proteção de prole futura, ou seja, de filhos não

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DIREITO CIVIL

Redução: das disposições testamentárias (se porventura o testador transcender o limite legal, impor-se-á a
redução das disposições do testamento para que o quinhão legítimo – reservado aos necessários, não seja atingido
pela liberalidade; dessa forma, determinará o juiz a redução para equilíbrio, excutindo em primeiro lugar os
quinhões dos testamentários e, caso não bastem, os legados); das doações inoficiosas (o código prevê que a doação
feita ao cônjuge e descendentes será considerada adiantamento de seus quinhões hereditários, sendo nula a parte da
doação que ultrapassar os quinhões hereditários e deverá ser feita a necessária redução para igualar os quinhões);
do legado de bem imóvel (caso o legado tenha por objeto bem imóvel indivisível, se o valor da incidência do
legado na legítima for maior do que 1/4 do valor do bem, perderá o legatário o bem para os herdeiros necessários,
remanescendo em suas mãos o direito de cobrar os herdeiros legais o valor que superar a parte indisponível;
recaindo o legado sobre bem imóvel divisível, admitindo-se, pois, o fracionamento sem que se cause perda de sua
substância, redução significativa de seu valor ou prejuízo ao fim a que se destina, será feita a divisão proporcional
visando ao equilíbrio entre a legítima e a testamentária). Ação de redução: possui legitimidade para propositura os
herdeiros necessários prejudicados, o efeito da sentença será inter partes, não aproveitando, pois, aos demais
herdeiros necessários que se mantiveram silentes, partindo-se do pressuposto de que estes respeitaram a vontade do
testador.

Inexecução do testamento: revogação (o testador deve fazer por escrito, não precisando ser da mesma
forma que foi feito; pode ser ainda total ou parcial – novo testamento; podendo ainda haver dois testamentos –
quando no testamento novo não há cláusula expressa de revogação, desde que os dois não se contradigam e não
atinjam a legítima; poderá ser expressa – cláusula ou tácita – incompatibilidade ou violação do cerrado; o codicilo
não provoca a revogação – mas o testamento pode revogar o codicilo; a revogação do testamento revocatório não
provoca a revalidação do testamento revogado, salvo disposição expressa no testamento revocatório); rompimento
do testamento (independe da vontade do testador, ocorre em fato ulterior à confecção do testamento, ex.: surge um
descendente ou o testador ignorou a existência de um herdeiro necessário); caducidade (quando o eleito renunciar,
for considerado incapaz ou for excluído; ou ainda se for especial depois de 90 dias).

Nulidade: quando confeccionado por pessoa sem nenhum discernimento; não respeitar a forma solene; de
menor de 16 anos; bem como os simultâneos ou recíprocos. E ainda sob a condição de disposição, em relação à
pessoa incerta (mesmo que cometa sua identidade à terceiro); arbítrio de outrem; favoreça aqueles que não podem
ser herdeiros. Outras hipóteses: interposição de pessoas (ocorre quando o testador não pode beneficiar alguém por
meio do testamento – incapacidade ou ilegitimidade, e nesse caso utiliza terceiro para conseguir o feito –
ascendentes, descendentes, irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado; nesse caso dispensa-se a prova
da interposição, a exceção é o filho do concubino quando também o for do testador); e a simulação de negócio
oneroso (ocorre quando também não podendo deixar, simula um negócio oneroso para que se transmita
gratuitamente); captação de vontade (quando a pessoa usa de mecanismo fraudulento para conquistar a confiança
de alguém e obter vantagens para si ou terceiros, para que se configure deve haver dolo/fraude e a atitude deve dar
causa ao ato). Prazo: 5 anos para impugnar, da data do registro. Anuláveis: erro, dolo e coação – quatro anos da
data que tiver conhecimento do vício.

Testamenteiro: pessoa incumbida do dever de proporcionar o cumprimento do testamento, pessoa esta


indicada pelo testador em testamento ou codicilo. Será possível a nomeação de mais de um testamenteiro, conjunta
ou separadamente (caso que um testamenteiro substituirá o outro). Espécies: pode ser pelo testador ou nomeado
pelo juiz – denominado dativo; caso não haja herdeiros necessários, o testador poderá nomear testamenteiro que
cumprirá o testamento, possuirá e administrará a herança – figura do testamenteiro universal. Nomeação: por
testamento, codicilo ou judicialmente de qualquer pessoa física absolutamente capaz, não é transmissível (a morte
extingue o encargo). Aceitação do encargo: não é obrigado a aceitar, já que é múnus privatum, podendo recusar o
exercício da tarefa sem justificar; mas desde que aceito, só pode renunciar com motivo. Responsabilidade: deverá

concebidos ao tempo da abertura da sucessão do fideicomitente. Se porventura no instante da morte o fideicomissário já tiver
nascido com vida, receberá ele diretamente a herança ou o legado, convolando-se a propriedade resolúvel ou fiduciária em
usufruto.

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DIREITO CIVIL

zelar pelo cumprimento da vontade do morto e subsistirá essa responsabilidade até o cumprimento integral do
testamento. Remuneração: se não for herdeiro ou legatário poderá perceber um prêmio denominado vintena (fixado
pelo testador ou magistrado no silêncio – 1 e 5% sobre a herança líquida, que é aquela com as dívidas pagas).

Cessão dos direitos hereditários: poderá o herdeiro se divorciar da herança por meio da cessão do direito
à sucessão (enquanto não aberto o inventário ou não aceita formalmente a herança) e cessão dos direitos
hereditários (caso tenha havido formal aceitação – expressa, tácita ou presumida). É negócio jurídico, bilateral,
inter vivos. Somente pode ser celebrado após a morte do autor da herança. Presta-se a cessão à transmissão do
quinhão hereditário a que o cedente faria jus, gratuita (assemelhada à doação) ou onerosamente (equiparada à
compra e venda). Forma e objeto: deverá impreterivelmente ser feita por meio de escritura pública, sendo
igualmente necessária a outorga conjugal (dependendo do regime de bens). Direito de preferência: terão os
coerdeiros direito de preferência na aquisição das quotas que os demais herdeiros pretenderem ceder, desde que
respeitado o valor e a mesma forma de pagamento; a preempção não assiste ao coerdeiro se a cessão for gratuita. O
coerdeiro preterido poderá, no prazo decadencial de cento e oitenta dias contados da data em que tomou
conhecimento da cessão, promover a pertinente ação, ocasião em que, depositando o preço do negócio, haverá para
si o quinhão cedido.

EXCLUSÃO DA SUCESSÃO

A primeira forma de exclusão da herança é a deserdação, nesse caso há o ato de afastamento de um


herdeiro necessário pelo testador, deve ser expresso (com motivação) em testamento, tem como requisitos
testamento válido, ação declaratória e ter causa expressa em lei. São hipóteses: todas as causas de indignidade,
ofensa física, injúria grave, relação ilícita com a madrasta ou padrasto, com o cônjuge ou companheiro do
descendente, desamparo de ascendente ou descendente com deficiência ou grave enfermidade. É legitimado para
propor a ação o herdeiro beneficiado e a ele cabe a prova da veracidade da causa alegada, esse direito extingue-se
em quatro anos e o deserdado poderá impugnar a deserdação. antes do transito em julgado será nomeado um
depositário para que fique com a herança sob custódia; a pena e a representação cabem nos mesmos moldes da
indignidade. Será ineficaz se houver disposição testamentária em contrário. A sentença declaratória que ratificar a
manifestação do testador terá efeito retroativo (ex tunc) à data da abertura da sucessão.

Já a indignidade é uma pena civil para pessoas que cometem certos atos previstos em lei possam ser
afastadas da herança por não serem dignas de recebê-la, atinge inclusive os necessários, legítimos e testamentários,
nesse caso é feita a pedido de um dos herdeiros beneficiários. Hipóteses contra o autor da herança, seu cônjuge ou
companheiro: participação em homicídio doloso (nesse caso inclusive contra ascendente ou descendente, dispensa
condenação, mas é necessária prova irrefutável); incorrer em crime consumado contra sua honra (há necessidade de
condenação); por violência ou meio fraudulento tentar impedir a disposição de vontade (liberdade de testar). Será
declarada por sentença, o direito de demandar a exclusão extingue-se em quatro anos contados da abertura da
sucessão. Efeitos: deve restituir aquilo que recebeu (reembolso das despesas realizadas), atos de disposição serão
respeitados desde que de boa-fé e onerosos, pois a título gratuito não terá validade; considerado como se morto
fosse e cabe representação. A ação declaratória deverá ser proposta por qualquer herdeiro interessado (leia-se
beneficiado com o afastamento – se o morto deixou descendentes, seus sobrinhos, herdeiros em potencial, não têm
legitimidade, pois não serão beneficiados com a exclusão do indigno em razão da existência de descendentes) no
prazo de quatro anos contados da data da abertura da sucessão. Importa dizer, ademais, considerando inclusive a
natureza declaratória da ação, que haverá retroação dos efeitos da sentença até a abertura da sucessão, impondo-se
ao indigno a restituição dos frutos.

O perdão pode ocorrer na deserdação e na indignidade por ato autêntico (escritura pública) ou testamento,
não será considerado indigno aquele contemplado depois do ato e ciência do testador (mas se dará apenas no limite
do testamento). É irrevogável e a pessoa poderá ser considerada deserdada ou indigna apenas por outro motivo. O
perdão poderá ser expresso (quando adita o testamento) ou tácito (no próprio testamento).
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DIREITO CIVIL

INSTITUTOS DESERDAÇÃO INDIGNIDADE RENÚNCIA


Pena civil – afastamento por não
Afastamento de
Ato solene e próprio, feito por
MOMENTO herdeiro necessárioser digno de receber por
instrumento público ou termo judicial
pelo testador. herdeiro.
Restituir os atos de disposição
Provado em juízo pelo Volta para o monte mor partilhável,
EFEITOS são respeitados desde que de
herdeiro beneficiado acrescentando a dos outros herdeiros
boa-fé
Considerados como se mortos fossem (morte civil),
Considerado como se não existisse,
REPRESENTAÇÃO portanto cabe representação por parte de seus descendentes
portanto, não cabe representação
já nascidos ou concebidos à época da sucessão.
Com o perdão (ato irrevogável) por ato autêntico do
RETROATIVIDADE É irretratável
testador

INVENTÁRIO

Inventariante: pessoa encarregada de representar o espólio judicial e extrajudicialmente. Competirá ao


inventariante, dentre outras obrigações, administrar o espólio, prestar as primeiras e últimas declarações, carrear
aos autos certidão de testamento (oriunda de processo de abertura, registro e cumprimento de testamento),
colacionar e alienar bens, pagar dívidas do espólio etc. Natureza jurídica: exerce múnus público, sujeito,
evidentemente, ao controle do Estado por meio do Poder Judiciário, considerando que ele administrará o espólio
sob regras. Remoção: no caso de descaso, caso em que quem requereu a remoção, ocupará o lugar do removido.

Inventário e partilha extrajudiciais: autorizado a partir de 2007, passou-se a admitir que tais atos
pudessem ser instrumentalizados por escritura pública emanada por Tabelião de Notas (qualquer tabelião será
competente, não há competência especifica). Requisitos: inexistência de interesse de incapazes e de testamento,
bem como consenso entre as partes e presença de advogado.

Inventário judicial e partilha: Prazo – em até dois meses da abertura da sucessão, por meio de PI
endereçada ao juízo competente com a qualificação do morto, dos herdeiros, bem como a informação da existência
de testamento e de bens a partilhar e a data do óbito (com certidão); legitimados – pessoas que estiverem na posse e
encarregadas da administração do espólio e ainda o cônjuge, o herdeiro, legatário, testamenteiro, cessionário,
credor ou síndico da falência de algum destes, o MP – se houver incapazes, e a Fazenda Pública – quando houver
interesse. Termo de inventariança e primeiras declarações: o inventariante subscreverá o termo de compromisso de
zelar pelo múnus; em até 20 dias, sob pena de remoção, deverá prestar as primeiras declarações (apontando a
qualificação do morto e dos herdeiros, apontando inclusive o parentesco e o regime de bens em caso de casamento;
e ainda todos os bens a serem inventariados; tal declaração no prazo de 15 dias, após esse prazo será nomeado
perito para avaliação dos bens, que será dispensado no caso as partes e a Fazenda Pública concordem com o valor
atribuído nas primeiras declarações). Declarações finais: espelharão a realidade do inventário, de tal modo que ao
chegar nessa fase todas as discussões sobre quinhões, dívidas e direitos em geral terão sido rematadas, definindo-
se, pois, quem serão os herdeiros e o quinhão que cada um deles receberá. Recolhimento de impostos: será feito o
cálculo do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações), concordando as partes e o Fisco com o
cálculo, será feito o recolhimento em prol da Fazenda Estadual. Arrolamentos sumário e comum (formar rol):
sumário – quando todos os herdeiros forem maiores e capazes e consentirem na realização de partilha amistosa,
qualquer que seja o valor do patrimônio a inventariar (há consenso e é feita a partilha em instrumento público,
particular ou termo nos autos e deverá ser submetida ao crivo do Poder Judiciário para homologação, sendo lícito
seu manejo ainda quando haja único herdeiro); comum – ligado ao valor do patrimônio hereditário, e não às
pessoas, havendo consenso, mesmo que haja interesse de incapazes, poderá ser homologada a partilha quando o
valor dos bens não transcender a 1.000 salários mínimos.

Inventário negativo: Não previsto em lei; tem o propósito de documentar a inexistência de bens a
inventariar. Necessário ao cônjuge que quer contrair novo casamento. Sentenciado o feito, será expedida certidão
que deverá ser inserta no processo de habilitação para que o regime da separação obrigatória seja afastado.

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DIREITO CIVIL

Sonegados: há casos em que o inventariante ou outro herdeiro omitem propositalmente bens com o escopo
de esquivá-los da partilha e extrair deles frutos ou até mesmo deles se apropriarem, caracteriza o instituto da
sonegação, que se configura pela ocultação dolosa de patrimônio. O sonegador será punido com a remoção da
inventariança (caso seja ele o inventariante) e, pior ainda, com a perda do direito hereditário relativamente aos bens
sonegados. A ação de sonegados (procedimento comum ordinário), ajuizada por qualquer herdeiro ou pelos
credores no juízo do inventário, sendo certo que os efeitos da sentença oriunda desta ação irradiarão em prol de
todos os herdeiros.

Colação: Colacionar significa levar para a herança visando a ela se somar os bens recebidos em vida pelos
descendentes e pelo cônjuge por meio de doação. Será promovido o retorno dos bens ao monte partível com o fito
de igualar o quinhão de cada um destes. O donatário, sob pena de sonegação, deverá conduzir o bem que recebeu
ao inventário, até porque a doação feita aos descendentes e ao cônjuge importará adiantamento da legítima, salvo se
prever na escritura pública de doação que os bens direcionados aos descendentes ou ascendentes foram “retirados”
de sua parte disponível, tal como se estivesse produzindo testamento. Nesse caso não será necessária a colação. Se
porventura a doação feita aos descendentes ou ao cônjuge ultrapassar o limite de que podia dispor o morto em
testamento (até 50%, considerando a existência de herdeiros necessários), necessária será, a redução da doação,
cabendo ao donatário a entrega de importe correspondente ao excesso.

Pagamento de dívidas: Os credores do morto não poderão ser prejudicados por sua morte. Por isso poderá
requerer no inventário reserva de bens, os quais serão destinados ao pagamento de seus créditos, tendo em vista que
a herança responde pelas dívidas do de cujus. Ultimada a partilha, responderão os herdeiros, cada qual de acordo
com os limites de seus quinhões, pois seus patrimônios alheios à herança não poderão ser excutidos para satisfazer
os débitos.

Partilha e sobrepartilha: É a divisão da herança feita pelos herdeiros do morto, recebendo cada qual seu
quinhão. Não necessariamente precisará ser feita em inventário, sendo lícita a sua confecção por instrumento
particular (petição, em regra), desde que as partes sejam maiores, capazes e concordes. A sobrepartilha consiste em
ulterior partilha em que será feito o fracionamento de bens que por motivos diversos não puderam ser divididos
entre os herdeiros em momento anterior. Se a partilha se revestir de vícios (incapacidades, erro, dolo, coação,
estado de perigo, lesão ou fraude), poderá, no prazo decadencial de um ano, ser requerida a sua anulação.

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